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FACULDADE SANTA MARCELINA

MEDICINA

ALICE SAYURI SUMIKAWA DAIKUZONO

DÉBORA BRITO DA SILVA

EVELLYN EDUARDA DE OLIVEIRA DIAS PINTO

FREDE MICAEL DA SILVA

IVANA ANTUNES

JOÃO VICTOR MASCARIN BEZERRA DE LIMA

LAURA ELIANA CEZÁRIO DE CARVALHO

LEONARDO GOMES MOTA

REBECA DE CASTRO SALES

LEI SECA: ÁLCOOL E TRÂNSITO

SÃO PAULO

2023

1
SUMÁRIO

1. REFLEXÃO ACERCA DO CONSUMO DE ÁLCOOL NA HISTÓRIA .................................. 4


1.1. A LEI SECA NOS ESTADOS UNIDOS E O TRÁFICO DE BEBIDAS ......................... 5
1.1.1. Antecedentes ................................................................................................................ 5
1.1.2. Impacto causado pela lei na sociedade .................................................................... 5
1.2. A ERA JK: O BOOM DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL ............................. 6
1.3. CONTEXTO DE CRIAÇÃO DA LEI SECA ....................................................................... 7
2. ESTATÍSTICA SOBRE A OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
RELACIONADOS AO CONSUMO E ÁLCOOL ............................................................................... 8
3. PREJUÍZOS DA OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO POR CONSUMO DE
ÁLCOOL............................................................................................................................................... 14
4. EVOLUÇÃO DA LEI: MODIFICAÇÕES DA LEI SECA AO LONGO DO TEMPO ........... 15
5. LEI SECA ..................................................................................................................................... 17
6. LEGISLAÇÃO E CURIOSIDADES SOBRE O USO DE BEBIDA ALCOÓLICA E
DIREÇÃO EM OUTROS PAÍSES .................................................................................................... 19
6.1. ESTADOS UNIDOS ........................................................................................................... 20
6.2. CANADÁ .............................................................................................................................. 20
6.3. CHINA .................................................................................................................................. 21
6.4. JAPÃO .................................................................................................................................. 21
6.5. SUÉCIA ................................................................................................................................ 21
7. POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS PARA DESENCORAJAR O CONSUMO DE BEBIDA
ALCOÓLICA AO VOLANTE: PLANO NACIONAL SOBRE O ÁLCOOL.................................... 22
8. PROPOSTAS DE MODIFICAÇÃO DA LEI ATUAL .............................................................. 25
9. FISIOLOGIA DO ÁLCOOL E SEUS EFEITOS NO ORGANISMO ..................................... 26
9.1. FASES DO METABOLISMO DO ÁLCOOL EM ADULTOS ......................................... 27
9.1.1. Primeira fase: Absorção ............................................................................................ 27
9.1.2. Segunda fase: Distribuição ....................................................................................... 27
9.1.3. Terceira fase: Metabolismo ....................................................................................... 27
9.1.4. Quarta fase: Eliminação ............................................................................................ 27
9.2. FASES DA EMBRIAGUEZ................................................................................................ 28
9.2.1. Fase da excitação ...................................................................................................... 28
9.2.2. Fase de confusão e agitação.................................................................................... 28
9.2.3. Fase do sono............................................................................................................... 29
9.3. TOLERÂNCIA ..................................................................................................................... 29
9.4. PESQUISA BIOQUÍMICA DO ÁLCOOL ......................................................................... 29
9.5. DOSAGEM DE ÁLCOOL NO CADÁVER ....................................................................... 29
10. MEDICINA LEGAL ................................................................................................................. 29

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11. CASOS ..................................................................................................................................... 31
11.1. CASO 1 ............................................................................................................................ 31
11.2. CASO 2 ............................................................................................................................ 31
11.3. CASO 3 ............................................................................................................................ 32
11.4. CASO 4 ............................................................................................................................ 33
11.5. CASO 5 ............................................................................................................................ 34
11.6. CASO 6 ............................................................................................................................ 35
12. CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 35
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 37

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1. REFLEXÃO ACERCA DO CONSUMO DE ÁLCOOL NA HISTÓRIA

O olhar para a História é um fator importante para o estudo de fenômenos


atuais, como alcoolismo e a Lei Seca. O que um dia era somente prazer, também já
foi motivo de mortes, perseguições e proibições, e, hoje, é visto como um problema
de saúde pública. A partir disso, compreender e entender a história do álcool é
essencial para que possamos entender os próximos passos no controle do
alcoolismo.
Quando olhamos para a cultura, desde os tempos mais antigos, a
humanidade sempre possuiu uma ligação com o álcool e o consumo de drogas, já
que a busca pelo prazer é inerente à espécie. Relatos históricos já mostram que os
homens da Pré-História utilizavam frutas fermentadas como forma de relaxamento e
prazer. Esse comportamento foi adquirido a partir da observação de animais, já que
percebiam que, ao consumirem essas frutas, os mesmos ficavam em um estado
alterado, e, a partir disso, começaram a fazer o suco de frutos fermentados, que
possuíam certo teor alcoólico.
Os consumos de vinho e cerveja possuem relatos de períodos muito
anteriores na História, sendo que em 2200 a.C, a cerveja já foi recomendação de
tônico para mulheres que estavam no período da amamentação, enquanto o vinho
possui referências até mesmo no Antigo Testamento da Bíblia. Na Grécia, o
consumo destas bebidas estava muito atrelado ao uso terapêutico e, junto de outras
drogas, utilizadas em períodos cerimoniais.
Na Idade Média, no auge da Igreja Católica como órgão político e detentor de
poder, o vinho passa apenas a ser bebido pelo sacerdote no ritual católico, sendo
que o consumo indiscriminado de drogas (incluindo o álcool), era visto como heresia,
já que, para a Igreja, as indulgências e santos vendidos pela mesma eram muito
mais eficazes que o uso de drogas. Além disso, o consumo de álcool também foi
motivo e atrelado à ‘’perseguição às bruxas’’.
Já na Idade Moderna, e com o desenvolvimento das revoluções industriais, o
álcool passou a ser produzido em grande escala, o que ocasionou um grande
aumento do seu comércio. Junto disso, o início do hábito de beber ‘’socialmente’’
começa a introduzir o consumo de álcool como um fator do cotidiano na vida de um
ser humano, e, a partir disso, começa-se a criar tolerância à bebida e, por fim, o
início do problema: o alcoolismo.
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A reflexão sobre o álcool no decorrer da História é importante para
entendermos como o alcoolismo evoluiu no decorrer da História, sendo a
industrialização o responsável pelo grande aumento de consumo. Olhando para o
Brasil, o abuso de álcool e drogas possui indicadores extremamente preocupantes: o
Brasil é o maior produtor de destilados do mundo; é o quarto maior mercado de
produção de cerveja, sendo que 90% da produção são para o mercado interno.

1.1. A LEI SECA NOS ESTADOS UNIDOS E O TRÁFICO DE BEBIDAS

No ano de 1920, o Congresso dos Estados Unidos promulgava a ‘’Lei Seca’’,


que proibia a fabricação, transporte e comercialização de bebidas alcoólicas no país.
Inicialmente, houve um grande apoio popular, mas, com o passar do tempo, o
comércio e uso ilegal das bebidas alcoólicas cresceram exponencialmente, o que
resultou em um período muito violento da história dos Estados Unidos da América
(EUA).

1.1.1. Antecedentes

Essa campanha para proibir o álcool nos EUA começa no final do século XIX,
muito atrelada às Igrejas (Metodista, Batista e Luterana) e, a partir disso, alguns
partidos políticos foram fundados, como o Partido da Proibição (“Prohibition Party”).
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a luta pela proibição do álcool
aproveitou-se da aversão popular à Alemanha, para jogar a culpa aos imigrantes
alemães pela disseminação de bares.
Em 17 de janeiro de 1920, entra em vigor a Lei Seca, que coloca como ilegal
a produção, transporte e venda de bebidas alcoólicas, apesar de não proibir o
consumo de álcool. A lei colocou como bebida alcoólica qualquer bebida que
possuísse mais de 0,5% de álcool.

1.1.2. Impacto causado pela lei na sociedade

No dia em que a lei entrou em vigor, houve um enorme roubo de carga de


uísque medicinal, que estava sendo transportado via ferroviário, ocorrências assim
tornaram-se comuns no decorrer dos anos nos quais a lei estava vigente. Quadrilhas
criminosas começaram a aparecer e a ter controle do tráfico, produção e comércio

5
das bebidas alcoólicas. Junto disso, a violência aumentou exponencialmente,
principalmente por conta de conflitos entre as ‘’gangues’’ em busca do domínio do
tráfico.
A impunidade também era extremamente elevada, já que quando eram
detidos, os ‘’gangsters’’ usavam o dinheiro do tráfico para contratar os melhores
advogados do país, e, além disso, intimidavam juízes e promotores. Sendo assim, a
promulgação da Lei Seca nos EUA criou um monstro com o qual o Estado não
conseguia lidar, criando uma grande oposição à Lei Seca, que foi revogada no ano
de 1933.

1.2. A ERA JK: O BOOM DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

As indústrias automotivas estavam presentes no Brasil no de 1920, mas foi


com o desenvolvimentismo proposto por Juscelino Kubitchek que a frota de carros
passou a aumentar exponencialmente.
No ano de 1956, foi criado o Grupo Executivo da Indústria Automobilística
(GEIA), com o objetivo de incentivar a produção de automóveis nacionais, dando
uma série de incentivos às indústrias locais. Tudo isso fazia parte da promessa de
JK ‘’50 anos em 5’’, que via a indústria e o transporte como os grandes pilares do
desenvolvimento do país; o objetivo era criar um parque industrial autossuficiente,
que ia desde a produção de peças até a linha de montagem dos carros. A partir
disso, com os grandes incentivos à produção local, indústrias como a Volkswagen e
a Mercedes trouxeram suas fábricas para o Brasil.
No momento atual, o Brasil possui 65 fábricas, que têm uma capacidade de
produção de aproximadamente cinco milhões de veículos por ano, sendo que
apenas 22% são destinados à importação. Dessa forma, por conta de todos esses
fatores históricos do estímulo à indústria automotiva, o Brasil é um país que possui
como seu grande modal de transporte o carro, seja no meio urbano, ou para o
transporte entre os estados.

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1.3. CONTEXTO DE CRIAÇÃO DA LEI SECA

As primeiras proibições quanto ao uso de substâncias estiveram presentes


em diversos períodos da História brasileira: no Código Penal de 1851 (quanto ao uso
e venda de medicamentos); no Código Republicano de 1890 (que impunha multa a
quem vendesse ou administrasse substâncias venenosas sem prescrição).
Já no século XX, momento no qual o consumo e tráfico de drogas
expandiram-se a níveis mundiais, novas leis, mais severas, foram criadas: no ano de
1924, decretava-se prisão para quem vendesse ópio ou derivados da cocaína e
também, no ano de 1971, o Brasil aderiu a ‘’guerra às drogas", que continha uma
série de medidas propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU), como
forma de combate ao tráfico de drogas. Entretanto, foi somente no ano de 2005 que
medidas específicas foram tomadas quanto ao álcool, com a criação da Câmara
Especial de Políticas sobre o Álcool, que criou uma política ‘’realista’’, que buscou
entender o alcoolismo como um problema social, buscando compreender seus
dados epidemiológicos. O Brasil, também em 2005, foi sede para a primeira
Conferência Pan-Americana de políticas públicas sobre o álcool.
A partir de todas essas discussões, o Brasil passa a ter, em 2007, a Política
Nacional sobre o Álcool, que buscava promover ações que promovessem a redução
de danos causados pelo álcool e pelo alcoolismo, englobando: tratamento e
reinserção social dos dependentes alcoólicos, realização de campanhas de
conscientização, capacitação de profissionais da saúde e educação, entre outras
medidas.
Posteriormente a isso, algumas leis foram criadas, principalmente
relacionadas à relação álcool-trânsito, já que o índice de morbidade e mortalidade
ligados ao consumo de álcool ao volante eram elevadíssimos. A partir disso, no ano
de 2008, foi criada a lei nº 11.705, conhecida como Lei Seca, que tornou mais
severas as punições para o motorista que dirigisse alcoolizado, que estaria sujeito a
pagamento de multa, apreensão do veículo e suspensão da CNH por 12 meses.

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2. ESTATÍSTICA SOBRE A OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
RELACIONADOS AO CONSUMO E ÁLCOOL

No ano de 2016, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, emitiu a notícia


"Álcool X Direção: Uma Mistura Fatal”, na qual consta que dirigir alcoolizado está
entre os cinco principais fatores de risco para a mortalidade no trânsito. De acordo
com os dados da Polícia Rodoviária Federal, o número de acidentes fatais por
embriaguez vem aumentando, assim como o número de condutores flagrados e
multados, que também sofreu um aumento gradativo. Vide gráficos abaixo.

Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública

Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública

8
A Organização Pan Americana de Saúde exibe o álcool como um fator de
risco importante nos óbitos e lesões geradas no trânsito. Globalmente, no ano de
2016, aproximadamente 1,35 milhões de pessoas foram a óbito devido a acidentes
de trânsito e 27% desses acidentes foram associados ao consumo de álcool,
correspondendo a um valor de 370.000 mortes associadas à ingestão de álcool em
acidentes de trânsito por todo o mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o trânsito brasileiro como o
quarto mais violento do continente americano. São Paulo, no ano de 2017, foi o
estado com maior número de óbitos no trânsito, sendo a segunda maior causa
desses acidentes a direção alcoolizada, segundo o “Jornal da USP”, publicado em
15 de Março de 2018.
A ação do Ministério da Saúde VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), no ano de 2019,
apresentou dados a respeito da condução de veículos motorizados após o consumo
de bebidas alcoólicas. A frequência de adultos que alegaram dirigir veículos
motorizados após o consumo de qualquer dose de bebida alcoólica variou de 1,6%,
em Recife, a 14,4%, em Palmas. As maiores frequências encontradas entre os
homens foram observadas em Boa Vista (20%), Palmas (19,4%) e Teresina (17,8%),
já as menores frequências, entre os homens, ocorreram em Recife (2,8%), em
Vitória (4,6%) e no Rio de Janeiro (4,9%). As maiores frequências encontradas entre
as mulheres foram observadas em Palmas (9,9%), Florianópolis (5,4%) e Campo
Grande (5,1%), já as menores frequências, entre as mulheres, ocorreram em Maceió
(0,4%), Recife e Porto Alegre (0,7%) e Natal (1%), informações contidas na tabela e
figuras abaixo.

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Fonte: VIGITEL 2019

10
Fonte: VIGITEL 2019

Fonte: VIGITEL 2019

O VIGITEL 2019 expõe que, no conjunto das 27 cidades, 5,6% dos indivíduos
disseram dirigir veículos motorizados após a ingestão de bebidas alcoólicas, sendo a
proporção maior em homens (9,7%) do que em mulheres (2,1%). É observada a
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diminuição da frequência da condução de veículos após a ingestão de álcool a partir
dos 35 anos de idade, em mulheres, e a partir dos 45 anos, em homens. Conforme o
nível de escolaridade é descrito, é possível notar mudanças na frequência da
condição da direção após consumo de álcool. Dados presentes na tabela a seguir.

Fonte: VIGITEL 2019

Com os dados do VIGITEL 2019, é possível identificar a presença do


consumo de álcool relacionada à direção de veículos motorizados. Desta forma,
manchetes como “Estudo do Detran indica álcool em 37% dos condutores mortos
em acidentes em 2019”, publicada pelo “Jornal Correio do Povo”, apontam para as
consequências fatais do conjunto álcool e direção. Segundo a matéria, o Detran RS
cruzou dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a respeito de morte em
acidentes de trânsito em 2019, tendo como base o resultado dos testes de
alcoolemia (bafômetro), realizados pelo Instituto-Geral de Perícia (IGP) e a
12
conclusão foi que 37% das vítimas que foram a óbitos nesses acidentes
encontravam-se na condução do veículo e possuíam álcool no sangue. Segundo a
reportagem, a análise foi feita com 624 condutores (incluindo veículos de quatro
rodas e motocicletas) que foram a óbito em acidentes, sendo que, desse total, 232
condutores possuíam álcool no sangue. Ademais, foi observado o predomínio de
condutores homens mortos com a presença de álcool no sangue, 97% (225) do total
(232), e os jovens entre 21 e 39 anos apresentam um maior percentual entre os
óbitos em acidentes por ingestão de álcool.
O Detran do estado de São Paulo apresentou uma redução de 31,3% do total
de óbito por suspeita de embriaguez ao volante, quando comparados os anos de
2019 e 2021, por todo o território paulista. A quantidade de mortes por suspeita de
consumo de álcool passou de 396 para 272, ou seja, 124 óbitos suspeitos a menos
em todo estado paulista. Segue gráfico abaixo.

Fonte: Detran SP

No ano de 2022, o Registro Nacional de Acidentes e Estatística de Trânsito


publicou que o número de acidentes registrados no período foi de 852.420, tendo
1.177.902 veículos envolvidos, 1.288.731 feridos/ilesos e 16.645 óbitos.
O percentual de motoristas com suspeita de álcool exibe que 0,84% indica o
uso suspeito de álcool, 62,78% não informado, 0,01% não aplicável e 36,12%
desconhecido.

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Fonte: Ministério da Infraestrutura

3. PREJUÍZOS DA OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO POR


CONSUMO DE ÁLCOOL
Os acidentes de trânsito são uma realidade e constituem um grande problema
de saúde pública. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), os acidentes de trânsito causam cerca de 45 mil mortes, além de causar o
prejuízo de 50 bilhões de reais.
Ademais, sabe-se que muitos acidentes de trânsito ocorrem por causa da
ingestão de bebidas alcoólicas. De acordo com dados do Grupo de Socorro
Emergencial (GSE) do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, quase 31% dos
motoristas que precisaram de assistência estavam com sinais que demonstravam
que eles tinham consumido bebidas alcoólicas. A partir disso, nota-se que muitos
acidentes poderiam ser evitados caso os motoristas apresentassem um
comportamento mais responsável.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em 2008, ao verificar
quais seriam as principais causas de acidentes de trânsito, foi verificado que 93%
das causas são em decorrência de fatores humanos, como em situação de direção
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perigosa após o consumo de álcool, uso de alta velocidade, problemas de
visibilidade e outros.
De acordo com dados da OMS, os acidentes de trânsito representam 2,3% do
número total de mortes, tornando-se a décima causa de mortalidade no mundo. Sob
esse viés, é possível ter uma dimensão dos prejuízos trazidos pelos acidentes de
trânsito e das diversas esferas que ele acomete. É na área da saúde que os piores
prejuízos concentram-se, tendo em vista que muitas pessoas envolvidas nesses
acidentes possuem sua vida colocada em risco, o que pode gerar danos
irreversíveis à saúde da vítima ou até mesmo a morte. Além disso, como a maior
parte das vítimas são jovens, muitos prejuízos sociais também são observados,
tendo em vista que essas pessoas fazem parte da população economicamente ativa
do país e que elas podem apresentar uma saúde debilitada após os acidentes,
necessitando, assim, do serviço de previdência e de cuidados hospitalares por um
longo período.
Desse modo, fica claro que diversos prejuízos são trazidos pela combinação
de álcool e direção. Cabe ao Estado, através de fiscalizações e campanhas de
conscientização, reduzir esses números de acidentes de trânsito, como forma de
reduzir os prejuízos trazidos às vidas das pessoas envolvidas nessas tragédias.

4. EVOLUÇÃO DA LEI: MODIFICAÇÕES DA LEI SECA AO LONGO DO


TEMPO
No Brasil, a Lei Seca teve origem relacionada à proibição do comércio de
bebidas alcoólicas em dias de eleição, adotada na década de 1960.
Atualmente, esse termo é usado para referir-se a álcool e condução de
veículos, tornando famosa a expressão: “se beber não dirija”.
A lei nº 11.705, de 2008, não foi a primeira a modificar o que diz o Código de
Transito Brasileiro (CTB) sobre álcool e direção. Antes dela, a lei nº 11.275, de 2006,
alterou os artigos 165 e 277.
Em 2006, através da alteração do artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro,
surgiu o limite zero de tolerância ao álcool para quem conduz veículos
automotores, porém não houve aplicabilidade, pois não foi alterado também o artigo
276 das medidas administrativas, que tinha como redação original dizendo que

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aquele que fosse encontrado com concentração de álcool superior a seis
decigramas/litro de sangue achava-se impedido de dirigir veículo automotor.
Desse modo, ao longo de dois anos praticamente houve um enfrentamento
entre o artigo 165 do limite zero e o artigo 276, no qual dizia da concentração de
álcool superior a seis decigramas/litro de sangue.
Ademais, só em 2008 ocorreu a lei nº 11.705, que ficou conhecida como a Lei
Seca, veio para tratar de forma mais rígida as questões da alcoolemia e ela tratou
até algumas questões de forma mais rigorosa, mas foi a parte do crime do artigo 306
que foi o grande pecado e que precisou de um reparo que só foi ocorrer em
2012; em 2008, com a Lei Seca, fixou-se a penalidade da infração de trânsito do
artigo 165 em 12 meses, já em relação ao limite etílico, foi alterado em 2008 o artigo
276 para dizer que quem conduzisse por qualquer concentração de álcool por litro
de sangue estaria sujeito às sanções previstas no artigo 165, e isso deu
aplicabilidade ao que já estava previsto nas normas ainda em 2006, por isso, em
2018, a Câmara dos Deputados fez uma homenagem aos dez anos do limite zero,
quando, na verdade, o limite zero completaria dez anos em 2016, se não fosse a
demora para alterar o artigo 276, ocorrendo só em 2008 e ele melhorou a
redação no ano de 2012.
Algumas pessoas chamam de Segunda Lei Seca a lei nº 12.760, de 2012,
onde sua principal novidade foi o aumento da multa: o fator multiplicador passou de
cinco para dez vezes, além de dobrar também esse valor em caso de reincidência
em até 12 meses, além do artigo 306, na seara criminal, onde se a pessoa não
soprar o etilômetro ela não produziria prova contra si e ela não seria presa, altera
também o artigo 277 e ela insere no parágrafo a alteração da capacidade
psicomotora, da forma com que o agente pode produzir aquela prova, ou seja,
através de filmagens, de fotos, de vídeos, de prova testemunhal e, agora, também,
através da capacidade psicomotora, onde o agente vai preencher alguns dos 18
quesitos para que aquela pessoa esteja sob influência de álcool ou outra substância
psicoativa, para que tenhamos a caracterização da infração do artigo 165.
A lei nº 13.281, de 2016, é a lei que mais alterou nosso Código de Trânsito
Brasileiro, ela alterou 33 artigos do código e acrescentou quatro novos artigos e
dentre esses quatro surgiu o artigo 165-A, que se destina para aquela pessoa que
se nega a ser submetida ao exame com etilômetro, mas que tenha mais de uma

16
situação de alteração da capacidade psicomotora, a infração dela será do artigo 165.
Segue a redação do artigo 165-A.

“Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277:
Infração – gravíssima;
Penalidade – multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze)
meses;
Medida administrativa – recolhimento do documento de habilitação e retenção do
veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270.
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de
reincidência no período de até 12 (doze) meses”

Ao analisar o artigo 165-A, percebe-se que a natureza da infração, as


penalidades e as medidas administrativas são exatamente as mesmas impostas aos
condutores flagrados dirigindo sob a influência de álcool. No entanto, caso você
recuse-se a soprar o bafômetro e seja multado, é possível recorrer à multa.

5. LEI SECA

“Lei Seca” é a denominação popular para a lei nº 11.705, de 19 de junho de


2008, que reúne as disposições sobre a ingestão de bebida alcoólica por condutor
de veículo automotor – presentes na lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que
estabeleceu o Código de Trânsito Brasileiro – e as condições de venda e
propaganda de produtos que contenham álcool – apresentadas na lei nº 9.294, de
15 de julho de 1996, na seção quarta do artigo 220 da Constituição Federal. Essa lei
também alterou parte das disposições, com o objetivo de reduzir a alcoolemia
aceitável no trânsito a zero e de impor penalidades mais severas para o condutor
que dirigir após o consumo alcoólico, outras finalidades das alterações são restringir
o uso e propaganda de bebidas alcoólicas e obrigar os estabelecimentos de venda a
estampar aviso de que dirigir sob a influência de álcool é crime.

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Considerando a versão mais atual da lei nº 11.705, o artigo 165 determina
que a presença de qualquer quantidade de álcool por litro de sangue será
considerada condução de veículo sob a influência de álcool. Contanto que a
concentração seja inferior a seis decigramas, será caracterizada infração de trânsito,
de natureza gravíssima – atribuindo-se, portanto, sete pontos à carteira nacional de
habilitação –, que resultará em multa, cujo fator multiplicador será dez (assim, o
valor será de 2.934 reais e 70 centavos), suspensão do direito de dirigir por até 12
meses, com recolhimento do documento de habilitação, além de retenção do veículo
até apresentação de condutor em condições adequadas. Em caso de reincidência
dentro de 12 meses, a penalidade aumentará, com a multa sendo aplicada em
dobro.
Segundo o artigo 277, o condutor de veículo envolvido em acidente de
trânsito poderá ser submetido a procedimentos que permitam constatar a influência
de álcool e, ainda no artigo 165, destaca-se que o condutor que se recusar a ser
submetido a esses procedimentos será considerado infrator, recebendo sete pontos
na carteira de nacional de habilitação, multa, de fator multiplicador dez, suspensão
do direito de dirigir por até 12 meses, com recolhimento do documento de
habilitação, e retenção do veículo. Em caso de reincidência dentro de 12 meses, a
penalidade igualmente aumentará, com a multa sendo aplicada em dobro. Ressalta-
se que infrações previstas poderão ser caracterizadas, através de imagem, vídeo ou
sinais que denotem alteração da capacidade psicomotora, bem como por testes,
exame clínico, perícia ou outros procedimentos técnicos.
No artigo 306, determina-se que quantidade igual ou superior a 0,3 miligrama
de álcool por litro de ar alveolar ou seis decigramas de álcool por litro de sangue ou,
ainda, presença de sinais que indiquem alteração da capacidade psicomotora
caracterizarão crime de trânsito, cuja pena será de detenção, de seis meses a três
anos, multa e suspensão do direito de dirigir. A verificação das condições poderá ser
realizada através de teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia,
vídeo, prova testemunhal ou outros meios. Para este caso, vale lembrar que,
conforme o artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro, a suspensão do direito de
dirigir somente se iniciará quando o sentenciado já estiver em liberdade, após o
cumprimento do período de detenção.

18
Ainda, o artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro refere que permitir ou
entregar a direção de veículo a pessoa que não esteja em condições de conduzi-lo
com segurança, por exemplo, por embriaguez, é crime e o resultará em detenção,
de seis meses a um ano, ou multa.
É importante pontuar que a condução de veículo automotor após o consumo
de bebidas alcoólicas frequentemente está associada a circunstâncias que agravam
as penalidades dos crimes de trânsito, especificadas no artigo 298 do Código de
Trânsito, como potencial dano a duas ou mais pessoas ou grande risco de grave
dano patrimonial, conforme descrito no inciso I, ou sobre faixa de trânsito destinada
a pedestres, conforme o inciso VII. Além dessas situações, o artigo 291 também
destaca o caráter de gravidade desse crime de trânsito, quando considera que, se
ocorrido com o agente alcoolizado, não se tratará de lesão corporal culposa, mas
dolosa, em que o agente assumiu os riscos dos potenciais resultados; neste caso, a
pena será determinada com base no Código Penal e o juiz dará especial atenção
aos critérios de culpabilidade do agente e circunstâncias e consequências do crime.
Ademais, são descritas restrições à venda e a propagandas de bebidas
alcoólicas. No artigo segundo, proíbe-se a venda ou oferecimento de bebida com
álcool na faixa de domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos com acesso
à faixa de domínio, em que a violação da disposição implica multa de 1.500 reais;
em caso de reincidência dentro de 12 meses, a multa será dobrada e a autorização
de acesso à rodovia, suspenso. No artigo quarto, atribui-se à Polícia Rodoviária
Federal a fiscalização e a aplicação dessas multas, podendo-se firmar convênio com
Estados e Municípios para compartilhamento dessas responsabilidades. No artigo
sétimo, determina-se que deve haver, afixado na parte interna do estabelecimento
em que se vende bebida alcoólica, a advertência de que é crime dirigir sob a
influência de álcool, inclusive podendo resultar em detenção.

6. LEGISLAÇÃO E CURIOSIDADES SOBRE O USO DE BEBIDA ALCOÓLICA


E DIREÇÃO EM OUTROS PAÍSES

Ainda que as leis relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas e ao ato


concomitante de dirigir não sejam iguais em todos os países perante a um nível
mínimo sérico de álcool, existe um consenso que quase todas as federações estão
19
de acordo, que é a tipificação como crime ou infração do ato de dirigir alcoolizado,
dependendo da permissividade legislativa do consumo de álcool paralelo à direção.
Adiante comentaremos brevemente sobre as legislações e curiosidades de
alguns países sobre dirigir sob efeito de bebidas alcoólicas.

6.1. ESTADOS UNIDOS

No Brasil, a Lei Seca é definida pelo governo federal, nos EUA, os estados
podem definir suas próprias regras. Sendo assim, as penalidades aplicadas variam,
porém, dirigir com nível superior a 8% (0,8 g/L) é ilegal em quaisquer circunstâncias,
em todos os estados. Ademais, enquadra-se também como regra para todos os
estados motoristas menores de 21 anos que dirijam com qualquer quantia de álcool
detectada têm a habilitação suspensa em todos os estados.
Em relação a quantidades séricas menores de 0,8 g/L de álcool, as
penalidades variam de estado para estado, podendo assemelhar-se aos motoristas
com nível superior a 8%.
Já em casos mais graves, em que há feridos ou morte, a pena para quem
mata alguém ao dirigir embriagado vai de cinco a 15 anos de prisão. O acusado tem
de 24 a 48 horas para se apresentar à justiça. E o veredito costuma sair em seis
meses, no máximo, um ano.

6.2. CANADÁ

No Canadá, para os motoristas alcoolizados há duas condutas principais que


estão sujeitas a penalidades.
A primeira chama-se de “impaired driving” (“condução debilitada”), que pode
resultar em suspensão da habilitação, entre outras penalidades, de acordo com os
danos causados e com o código criminal do país. Assim, os testes de coordenação
são observados nesta situação. Mas o motorista só é punido por ela caso ele mostre
indícios de que está embriagado à autoridade policial, como cometer uma infração
ou pela sua atitude.
A segunda conduta é penalizada pelas leis canadenses quando há
comprovação de mais de 0,8 g/L de sangue.

20
E para casos de motoristas reincidentes aplica-se também o chamado
“balloune” ou “BAC”, que se refere à instalação de medidor de álcool no ar
expirado, como em um bafômetro, e, se for detectado uma quantia indevida, o
carro não liga.

6.3. CHINA

O limite permitido na China de teor alcoólico é de 0,2 a 0,8 g/L, que resulta
em penalidades como multa e seis meses de suspensão da habilitação, e acima de
0,8 g/L, o resultado é três anos de prisão e cinco anos de suspensão da habilitação.
Caso o motorista tenha causado acidente com sérios ferimentos ou morte, a
habilitação pode ser suspensa para sempre, ainda mais, se ocorrer um acidente com
vítima fatal provocado por um condutor alcoolizado, o motorista poderá receber pena
de morte.

6.4. JAPÃO

No que se refere ao Japão, é conhecido por ser um país com regras rígidas.
E essas regras também se repetem com relação ao trânsito.
O Japão não é um país que proíbe completamente dirigir bêbado. As
penalidades acontecem somente quando a pessoa faz o bafômetro e o nível de
álcool de 0,15 mg por litro de ar. Dessa maneira, é só assim que o condutor é
considerado como dirigindo sob influência de álcool.
As penalidades aplicadas neste caso são de três anos de trabalho e multa de
até 500.000 ienes. Dirigir embriagado também é punível com prisão com trabalho
por até cinco anos e multa de até um milhão de ienes.

6.5. SUÉCIA

A Suécia foi um dos primeiros países do mundo a regulamentar a relação


entre o uso de bebidas alcoólicas e a direção de veículos. A primeira lei a definir os
limites de níveis alcoólicos surgiu na Noruega, em 1936, sendo seguida pela Suécia,
em 1941.

21
Dirigir sob efeito de álcool é considerado um crime sério na Suécia, sujeito a
multas ou penas de até seis anos de prisão.
Na Suécia o limite máximo é de 0,02% de nível de álcool no sangue para
motoristas.
Implantam barreiras eletrônicas, parecidas com as cancelas dos pedágios
brasileiros e, caso detecte o motorista alcoolizado, a barreira permanece fechada até
a chegada das autoridades policiais.
Também cabe ressaltar que motoristas reincidentes são obrigados a adaptar
ao painel uma trava de bafômetro de um a dois anos dependendo da severidade da
infração cometida.

7. POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS PARA DESENCORAJAR O CONSUMO DE


BEBIDA ALCOÓLICA AO VOLANTE: PLANO NACIONAL SOBRE O
ÁLCOOL

A Política Nacional sobre o Álcool contém princípios fundamentais à


sustentação de estratégias para o enfrentamento coletivo dos problemas
relacionados ao consumo de álcool, contemplando a intersetorialidade e a
integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à vida,
causados pelo consumo desta substância, bem como das situações de violência e
criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população
brasileira.
A Política Nacional sobre o Álcool dispõe:

1. Diagnóstico sobre o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil;


2. Propaganda de bebidas alcoólicas:
2.1. Incentivar a regulamentação, o monitoramento e a fiscalização da
propaganda e publicidade de bebidas alcoólicas, de modo a proteger
segmentos populacionais vulneráveis à estimulação para o consumo de
álcool;
3. Tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de álcool;

22
4. Realização de campanhas de informação, sensibilização e mobilização da
opinião pública quanto às consequências do uso indevido e do abuso de
bebidas alcoólicas;
5. Redução da demanda de álcool por populações vulneráveis;
6. Segurança pública;
7. Referente à associação álcool e trânsito:
7.1. Difundir a alteração promovida no Código de Trânsito Brasileiro pela lei no
11.275, de sete de fevereiro de 2006, quanto à comprovação de estado de
embriaguez;
7.2. Recomendar a inclusão no curso de reciclagem, previsto no artigo 268 do
Código de Trânsito Brasileiro, de conteúdo referente às técnicas de
intervenção breve para usuários de álcool;
7.3. Recomendar a revisão dos conteúdos sobre uso de álcool e trânsito nos
cursos de formação de condutores e para a renovação da carteira de
habilitação;
7.4. Recomendar a inclusão do tema álcool e trânsito na grade curricular da
Escola Pública de Trânsito;
7.5. Elaborar medidas para a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas
faixas de domínio das rodovias federais;
8. Referente à capacitação de profissionais e agentes multiplicadores de
informações sobre temas relacionados à saúde, educação, trabalho e
segurança pública;
9. Estabelecimento de parceria com os municípios para a recomendação de
ações municipais:
9.2. Apoiar os Municípios na implementação de medidas de proibição da
venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina;
9.3. Incentivar o estabelecimento de parcerias com sindicatos, associações
profissionais e comerciais para a adoção de medidas de redução dos
riscos e danos associados ao uso indevido e ao abuso de bebidas
alcoólicas.

23
Seguem exemplos de campanhas de conscientização.

Fonte: Infocarro

Fonte: Polícia Padrão

24
A lei nº 11.705, de 2008, artigo segundo, veda a venda varejista ou o
oferecimento de bebidas alcoólicas para consumo em locais situados na faixa de
domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos à faixa de domínio com acesso
direto à rodovia. Ficam fora desta restrição, os estabelecimentos localizados em
área urbana, de acordo com a delimitação dada pela legislação de cada município
ou do Distrito Federal.

8. PROPOSTAS DE MODIFICAÇÃO DA LEI ATUAL


Há diversas propostas para aumentar a eficácia da Lei Seca e proporcionar
maior segurança aos motoristas e pedestres.
Entre elas têm-se:
 Regulação do preço e das taxas que incidem sobre as bebidas alcoólicas, a
fim de dificultar o acesso abusivo e indiscriminado;
 Proibição de venda de bebidas alcoólicas em todos os postos de gasolina,
com o intuito de evitar a compra impulsiva do motorista e o seu consumo
imediato ao volante;
 Regulamentação de dias e horários de vendas de bebidas alcoólicas, com a
redução de pontos de vendas de bebidas alcoólicas durante a madrugada;

25
 Restrição de vendas para quem já se encontra embriagado, sendo que essa é
uma lei que já existe, mas atualmente não há punição ao estabelecimento,
assim, a proposta é instituir punição e fiscalização.

9. FISIOLOGIA DO ÁLCOOL E SEUS EFEITOS NO ORGANISMO


Desde a ingestão até a eliminação, o álcool etílico passa por muitas etapas de
metabolização dentro do organismo humano.
O etanol é uma molécula relativamente pequena, cuja absorção ocorre de
forma bastante lenta pelo estômago e rápida pelo intestino. Devido à sua
solubilidade em água, essa substância chega rapidamente à circulação sanguínea –
de onde será amplamente distribuída para grande parte dos órgãos, em diversos
sistemas orgânicos.
Alguns órgãos, como o coração, os músculos e o cérebro, são submetidos às
mesmas concentrações de álcool do sangue. O fígado é a notável exceção, ficando
sujeito a concentrações maiores, pois recebe o etanol absorvido de todo o trato
gastrointestinal. O tecido hepático será, portanto, um sítio especialmente suscetível
aos danos infligidos pelo álcool, já que ele é o principal local de metabolização desta
substância.
O fígado é responsável por eliminar a maioria do álcool e em média 90% da
substância que passa por ele é eliminada; 5% são excretados sem alterações na
respiração, na urina e no suor. Primeiro, acontece a metabolização do álcool em
acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase. A enzima converterá o álcool em
acetaldeído, o qual, ainda que em concentrações mínimas, é tóxico para o
organismo. A enzima aldeído desidrogenase converterá o acetaldeído em acetato. A
maior parte do acetato produzido chega através corrente sanguínea em outras
partes do corpo, nas quais participará em outros ciclos metabólicos.
As enzimas microssomais oxidativas pertencentes à família dos citocromos
fazem parte de um sistema alternativo de metabolização do álcool. O SEMO
(Sistema Enzimático Microssomal Oxidativo) converte o álcool em acetaldeído, pela
ação do citocromo P450 2E1 ou CYP2E1, presentes nos hepatócitos.
Ademais, cabe ressaltar que vários fatores influenciam o metabolismo do
etanol, tais como: vulnerabilidade genética, idade, massa corporal e altura, estado

26
de saúde, padrão de consumo e contextos relacionados à ingestão de bebidas
alcoólicas.
Além disso, cabe frisar que o corpo da mulher apresenta baixos níveis das
enzimas envolvidas na metabolização do etanol e, dessa forma, este perdura em
seus organismos por um período mais longo. Portanto, a população feminina é mais
sensível aos efeitos do álcool em comparação à população masculina,
essencialmente em razão dos aspectos fisiológicos. Por exemplo, o álcool dilui-se
facilmente com os líquidos corporais e, como as mulheres possuem,
proporcionalmente, menos água que os homens, o álcool torna-se significativamente
mais concentrado em seu organismo, o que agrava seus efeitos.

9.1. FASES DO METABOLISMO DO ÁLCOOL EM ADULTOS

9.1.1. Primeira fase: Absorção

Na absorção, o álcool inicia seu trajeto dentro do organismo. Desde a


ingestão, por via enteral, até sua completa absorção.

9.1.2. Segunda fase: Distribuição

Na distribuição, o álcool é conduzido pelo sangue para todos os órgãos que


contêm água. As maiores concentrações de álcool encontram-se no cérebro, no
fígado, no coração, nos rins e nos músculos.

9.1.3. Terceira fase: Metabolismo

Em relação ao metabolismo, cerca de 90% do álcool ingerido é metabolizado


no fígado, por enzimas contidas nos hepatócitos. Um fígado saudável é capaz de
metabolizar o álcool a uma taxa de 15mg/100mL de sangue a cada hora. As
enzimas do fígado dividem o álcool em várias substâncias, sendo as mais
importantes o acetaldeído e o ácido acético.

9.1.4. Quarta fase: Eliminação

O álcool, em sua maioria, é eliminado pela urina, porém cerca de 5% são


eliminados por meio da respiração, transpiração e salivação. Além do mais, o álcool

27
tem a capacidade de inibir a liberação do hormônio responsável pelo controle da
reabsorção de água, provocando aumento da diurese, com maior vontade de urinar.

9.2. FASES DA EMBRIAGUEZ

9.2.1. Fase da excitação

Na primeira fase, o indivíduo aparenta satisfeito, alegre, muitas vezes exibido


e loquaz. Nesta fase inicial, o indivíduo busca a autoafirmação e confirmação e
ainda possui a capacidade cognitiva adequada o suficiente, inclusive, para inventar
histórias de atos fictícios.
É sabido que o comportamento delituoso pode acontecer em qualquer uma
das fases de embriaguez, entretanto, a medicina legal não se atenta nesta fase, uma
vez que o indivíduo se encontra, muitas vezes, inofensivo, com preocupação de ser
notado, e, para tanto, revela segredos íntimos, apresenta comportamento
egocêntrico, preocupado em demonstrar uma capacidade intelectual maior do que a
sua efetiva. O comportamento extremamente instável é o único fator que merece
certa atenção nesta fase.

9.2.2. Fase de confusão e agitação


Na segunda fase, o indivíduo apresenta alterações sensoriais, apresenta-se
agressivo, rebelde e mais suscetível a atos de ilícitos penais, sendo, por isso, a fase
de maior relevância, também chamada de fase médico-legal. Também, pode ser
citado que o embriagado pode mostrar-se violento, comportamento comum,
sobretudo no trânsito, não dando a devida atenção às sinalizações ou optando
sumariamente por ignorá-las, bem como semáforos e pedestres.
É nesse segundo estágio de embriaguez que normalmente acontecem os
casos de embriaguez preordenada, onde o agente deliberadamente embebeda-se
para a prática do delito. Na fase médico-legal, o comportamento agressivo e violento
do agente gera maior predisposição para transgressões, uma vez que as
percepções morais mostram-se debilitadas.

28
9.2.3. Fase do sono
O último estágio das fases de embriaguez, a fase do sono ou fase comatosa,
é aquela em que o estado geral do agente encontra-se completamente
comprometido. O andar cambaleante, a dificuldade de se manter em posição
ortostática sem se apoiar em quaisquer objetos, a perda da noção de higiene
pessoal, até chegar, ao estágio de sono profundo. A capacidade de entendimento e
as habilidades motoras também se encontram deficitárias, de tal forma que o
cometimento de delitos é bloqueado em uma impossibilidade física.

9.3. TOLERÂNCIA

Em relação à tolerância, há vários fatores que interferem, como peso do


indivíduo, tipo de bebida, ritmo de ingestão, vacuidade, plenitude do estômago,
hábito de beber, estado emotivo, estafa e sono.

9.4. PESQUISA BIOQUÍMICA DO ÁLCOOL

Os testes bioquímicos são diversos e a análise pode ser através de diferentes


amostras, como saliva, urina, líquido cefalorraquidiano, ar expirado, sangue e
cromatografia gasosa.

9.5. DOSAGEM DE ÁLCOOL NO CADÁVER

Os testes realizados em cadáveres são principalmente através da coleta


sanguínea da veia femoral, devido seu calibre, análise de coágulo de sangue
intracerebral, análise do líquido cefalorraquidiano e medula óssea.

10. MEDICINA LEGAL


O papel da Medicina Legal na aplicação da Lei Seca enquadra-se
principalmente quando há recusa do motorista em colaborar com o bafômetro. Dado
isso, após a recusa, o cidadão pode ser acompanhado até o Instituto Médico Legal
ou repartição equivalente para, após requisição de exame pelo Delegado de Polícia,
29
realizar a coleta de sangue para exames laboratoriais ou ser submetido a exame
clínico pelo perito médico-legal.
O Instituto Médico Legal tem uma portaria, a Portaria do Diretor Técnico de
Departamento, de cinco de outubro de 2009, que padroniza o exame na formatação
de um relatório médico-legal em um Roteiro de Exame Clínico de Embriaguez.
Tal relatório deve conter as seguintes informações:
 Hora do fato e hora do exame;
 Histórico: Identificação; histórico de doenças psíquicas ou neurológicas;
questionar sobre a sua versão dos fatos; questionar sobre o uso de drogas e
álcool; observar a velocidade da conversa, altura da voz e
outros comportamentos;
 Descrição: Hálito etílico; aparência e atitude durante o exame; atenção,
memória de fixação, de evocação e o estado de consciência; na esfera
neurológica, observaremos a coordenação motora, através da prova índex-
index e/ou índex- nariz; coordenação motora, no abotoar camisa ou escrever;
teste do calcanhar-joelho; prova de Romberg e a mesma com sensibilização
(pés alinhados e braços em abdução); pulso e a frequência cardíaca;
 Discussão: Exame toxicológico (sangue e/ou urina). Abaixo, estimativas da
concentração de etanol plasmático, a partir de sinais do exame clínico.

I - Na faixa de cinco a dez decigramas/L de etanol plasmático, os sinais


apontados são: euforia ou agressividade; diminuição da atenção; diminuição
da concentração; alteração da coordenação motora; dano às funções
sensoriais;
II - Na faixa de dez a 20 decigramas/L de etanol plasmático, temos como
sinais predominantes ao exame clínico: fala arrastada; ataxia; sonolência;
instabilidade de humor; alteração de memória; perda do juízo crítico;

 Conclusão: Item de conclusão do laudo de exame de verificação de


embriaguez;
 Resposta aos quesitos: Há sinais indicativos de que o examinado está sob
efeito de álcool etílico e/ou substâncias psicoativas? Em consequência está
ele embriagado? Datar.

30
11. CASOS

11.1. CASO 1

16 de janeiro de 2023 – 22 motoristas foram indiciados, onde quatro foram


presos pela blitz da Lei Seca. Os outros 18 casos representam as recusas, que,
quando não forem bem consolidadas, o motorista irá sofrer as mesmas
penalizações, tendo em vista que o policial poderá não aceitar a recusa, uma vez
que ele identificou a sintomatologia, onde há alguns traços de embriaguez no
condutor; mediante a esse cenário esse motorista irá preencher um questionário
que, caso haja duas divergências, já é o bastante para autuá-lo no crime da Lei
Seca.
Em uma das prisões, a motorista desacatou a polícia após envolver-se em um
acidente, sem vítimas, e acabou sendo indiciada por dois crimes e encaminhada à
Central de Flagrantes, onde as autoridades mencionaram que isso é muito comum
acontecer durante os finais de semanas.

11.2. CASO 2

20 de maio de 2021 – 39 motoristas foram presos nos primeiros quatro meses


do ano em Mato Grosso. Em 2020, houve a prisão de 136 pessoas por dirigirem o
veículo embriagado. Vale a pena ressaltar que, por conta do aumento dos casos de
coronavírus entre os agentes de fiscalização, essas operações de verificação foram
suspensas por um período. Nos primeiros cinco meses de 2021, ocorreram 693
testes de bafômetro, contra 2.567, no ano de 2020.
“A Operação Lei Seca é realizada de forma integrada e coordenada pelo
Gabinete de Gestão Integrada (GGI-E) da Secretaria de Estado de Segurança
Pública (Sesp-MT). Participam das ações, a Polícia Militar (PM-MT), Polícia
Judiciária Civil (PJC-MT), Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Polícia
Rodoviária Federal (PRF), Guarda Municipal, Secretaria Municipal de Mobilidade
Urbana e Sistema Penitenciário”.

31
11.3. CASO 3

Março de 2012 – “Thor Batista é absolvido em caso de morte de ciclista por


atropelamento”.
Desembargadores da quinta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro absolveram Thor Batista do atropelamento que resultou na morte de
Wanderson Pereira dos Santos.
Desse modo, ao final das investigações o acusado foi condenado, sendo
sentenciado a pagar um milhão de reais (para um hospital ou uma instituição de
reabilitação de pessoas que sofreram acidentes de trânsito) e a prestar durante dois
anos serviço comunitário, ele também teve o direito de dirigir suspenso por dois
anos. A sentença foi dada pela juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, no
entanto, o advogado do acusado recorreu da decisão e pediu a absolvição de seu
cliente, tendo conseguido no ano de 2015. Dois dos três magistrados votaram a
favor da absolvição. Na primeira instância, onde o infrator foi condenado, a
magistrada pede a apuração das evidências do caso. Sendo que foi investigada uma
denúncia, a pedido do Ministério Público, que alegava que o Eike e seu filho Thor,
teriam feito um acordo com o bombeiro militar, que supostamente teria recebido uma
quantia de 100 mil reais por ajuda no consolo à família.
Houve uma investigação do perito, que chegou a conclusão que a velocidade
do carro na hora da colisão era de 110 km/h. No entanto, ao reavaliar as
evidências um segundo laudo, feito por outro profissional, a velocidade registrada
era de 135 km/h.
O acidente ocorreu na noite de 17 de março de 2012, onde o acusado,
suspeito de estar embriagado, atropelou e matou um ciclista que cruzava a Rodovia
Washington Luís (BR-040), na altura de Xerém, em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense.
A vítima era um ajudante de caminhão, Wanderson Pereira dos Santos, que
foi atingido por uma Mercedes-Benz SLR.
Em maio, foi divulgado pelo Ministério Público que o acusado teria feito um
acordo com parentes da vítima de um milhão de reais. Sendo contemplado nesse
acordo, o advogado da família e um bombeiro militar, que teria ajudado no socorro.
Segundo informações após a divulgação do acordo, a família do ciclista revelou que
entraria na Justiça pedindo, agora, o pagamento de 1,5 milhão de reais. Pois,
32
segundo o advogado da vítima, o acusado não respeitou a cláusula de
confidencialidade do acordo.

11.4. CASO 4

Julho de 2022 – “Modelo e ex-namorado de Sarah Poncio atropela e mata


jovem de 16 anos no Rio”.
Nesse caso, o acusado foi indiciado por lesão corporal culposa provocada por
atropelamento, falta de habilitação e suspeita de embriaguez.
Foi instaurada uma investigação para verificar as circunstâncias do
atropelamento que resultou na morte de um jovem de 16 anos, no dia 30 julho, na
Barra da Tijuca.
Segundo a Polícia Civil, o acusado trata-se do modelo Bruno Fernandes, de
25 anos, que, até então, mantinha um relacionamento com a influenciadora Sarah
Poncio.
Inicialmente, ele foi acusado por lesão corporal culposa, mas dada a evolução
do caso, o indiciamento passará a ser por homicídio culposo na direção de veículo
automotor e, dado o decorrer da investigação, a acusação passou a ser por
homicídio doloso, quando se assume o risco de matar.
O Corpo de Bombeiros alegou que ao chegar ao local do acidente, notaram
que o estudante teve a perna esquerda amputada no local da colisão, enquanto o
acusado havia sofrido pequenas escoriações. Dado esse contexto, ambos foram
encaminhados, pela ambulância, para o hospital.
O caso tornou-se ainda mais complicado, pois, segundo um dos polícias, em
seu depoimento, constatou que o acusado não possui Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) e o local da colisão não havia sido preservado. Devido a isso, só
foi possível apreender a moto que o modelo dirigia, que foi levada à delegacia.
Após horas do acidente, o estudante foi a óbito e teve a remoção do seu
corpo do hospital para o Instituto Médico Legal (IML), para a realização da
necropsia. Depois da realização dos exames necessários, foi constatado que o
acusado dirigia uma moto a aproximadamente 150 km/h, numa via onde o limite de
velocidade era 60 km/h.

33
Foi realizada uma extensa investigação, a equipe policial descobriu que o
acusado já era reincidente na infração da Lei Seca e em outros delitos. Foi
informado aos policiais que o modelo já havia sido parado e autuado na Lei Seca
três dias antes do acidente e o mesmo haveria ironizado a situação com piadas
inoportunas, mas mediante os acontecimentos foi constatado que a blitz não teve o
efeito esperado, ademais ele também já tinha passagens policiais por estupro e
estelionato.
Segue o relato da juíza: "[...] A situação por ele vivida três dias antes, ao ser
parado em uma blitz, não foi suficiente para alertar-lhe dos riscos de direção
perigosa e em contrariedade ao que dispõe a lei e o bom-senso. Em outras palavras:
não foi o bastante que tivesse sido parado pelos agentes da Lei Seca. Ser pego na
situação já descrita não teve qualquer efeito didático. Ao contrário, adotou conduta
mais ainda letal, acabando por tirar a vida de um jovem que estava acompanhando
de sua mãe, ressaltando-se que Bruno não é um novato nas sendas do crime".

11.5. CASO 5

10 de março de 2013 – Motorista atropela ciclista e joga braço da vítima no


córrego após acidente.
Alex Kozloff Siwek foi condenado a seis anos de prisão em regime
semiaberto, além do pagamento de 60 salários-mínimos e a suspensão da Carteira
Nacional de Habilitação por cinco anos após recorrer da decisão inicial.
Em 2016, houve uma decisão judicial em que ficou definido a redução da
pena do acusado para dois anos de prisão em regime aberto, oito meses de
suspensão do direito de dirigir, pagamento de uma indenização de 50 salários-
mínimos e prestação de serviços comunitários à sociedade.
O jovem que andava de bicicleta, David Santos de Souza, teve o braço
amputado no momento do atropelamento, na Avenida Paulista, pelo estudante de
psicologia Alex Siwek. Sendo assim, o acusado foi preso pelo atropelamento no dia
do acidente, mas deixou a penitenciária 11 dias depois do ocorrido.
Após a realização de um exame clínico, foram constatados vestígios de álcool
no organismo do acusado, mas, de modo intrigante, concluiu-se que ele não estava
embriagado no momento da colisão. Outro fato importante que corrobora a

34
acusação de embriaguez foi as testemunhas que relataram que o carro andava em
zigue-zague no momento do atropelamento e já tinha derrubado alguns cones de
sinalização da ciclofaixa da via em questão.
O que trouxe ainda mais indignação para o caso, foi que o braço direito da
vítima foi decepado por estilhaços de vidro e permaneceu preso ao veículo. O
motorista, que havia fugido do local, na tentativa de se livrar das provas do crime, foi
à Avenida Doutor Ricardo Jafet e lançou o braço em um córrego e, logo em seguida,
foi à própria casa. Horas após o ocorrido, o acusado vai à delegacia prestar
esclarecimentos.
Os médicos do Hospital das Clínicas informaram que o braço da vítima
poderia ter sido reimplantado, caso fosse encontrado a tempo.

11.6. CASO 6

Fevereiro de 2023.
Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso, Leonardo
Campos, é preso em blitz da Lei Seca no Jardim Itália. O mesmo pagou uma fiança
no valor de quatro mil reais e foi liberado.
O infrator fez o teste do bafômetro, que mostrou a concentração de álcool de
0,36%, quando, atualmente, a tolerância é zero. Diante do acontecimento, ele foi
conduzido à delegacia e autuado pela Lei Seca, onde foi estipulada uma fiança para
que ele possa responder em liberdade.

12. CONCLUSÃO

No dia 19 de junho de 2008, entrou em vigor a Lei Seca, que ficou conhecida
por reduzir severamente a tolerância com motoristas que dirigem após ter ingerido
níveis elevados de álcool. Desse modo, o Brasil entrou para a lista de 32 países que
têm tolerância para motoristas que consomem qualquer nível de álcool e depois vai
dirigir. Nessa relação estão presentes Hungria, Eslováquia, Marrocos, Paraguai,
dentre outros. Esse ano, 2023, completará 15 anos desde o momento que essa lei
foi instituída.

35
Calcula-se que, desde o momento que essa legislação entrou em vigor, houve
mais de 2,5 milhões de autuações, onde cerca de 326 mil motoristas foram
encaminhados à delegacia por crime de trânsito. Esses valores devem-se a uma
ação conjunta das autoridades, que vai desde a fiscalização até a aplicação.
Desse modo, notou-se uma redução em torno de 14% de mortes por
acidentes de trânsito no país, de acordo com dados do SIM (Sistema de
Informações de Mortalidade), do Ministério da Saúde. Outro impacto importante,
segundo pesquisas da Escola Nacional de Seguros, foi que 40 mil vidas no trânsito
foram poupadas e 235 mil pessoas não ficaram inválidas devido à aplicação dessa
lei. Ademais, houve uma queda de 33% nos índices de ocupação nos serviços de
emergência, segundo a Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego).
Quando a Lei Seca entrou em vigor, foi instituído o limite de 0,06 gramas de
álcool por decilitro de sangue e o nível instituído no bafômetro é de 0,34 mg/L no ar
expelido – equivalente a uma taça de vinho, por exemplo. Atualmente a tolerância é
zero para qualquer concentração de álcool e, quando desrespeitada essa norma, o
motorista está sujeito a responder essa infração gravíssima, com penalidades
administrativas e civis, podendo ter seu direito de dirigir suspenso por um ano. É
válido mencionar que o condutor pode recusar-se a realizar o teste do etilômetro,
tendo essa conduta considerada infração, com as mesmas penalidades. Caso o
teste indique concentração igual ou maior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar
alveolar, a conduta desse infrator passará a ser considerada crime, cuja penalidade
é de detenção de seis meses a três anos, multa e suspensão da CNH ou proibição
de dirigir novamente.
Quando se trata de valores, inicialmente, o valor dessa infração era de 957
reais e 70 centavos. Atualmente, o valor é de 2.934 reais e 70 centavos, podendo
ser aplicada em dobro, em caso de reincidência em um período de 12 meses, e
suspensão do direito de dirigir. Além disso, quando se trata de penalidades
relacionadas à retenção civil, caso haja um acidente provocado pela ingestão de
álcool havendo feridos, a pena é de cinco anos e, se houver vítima fatal, a pena
pode chegar a oito anos, onde o autor do crime poderá responder por homicídio
doloso, quando ele assume o risco de matar.
Desse modo, vale a pena ressaltar que essa legislação foi muito efetiva dado
os números mencionados, com o auxílio da fiscalização de trânsito muito eficiente foi

36
possível obter de janeiro a maio de 2021, o registro 8.507 infrações no Distrito
Federal, por exemplo, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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