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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Química
Departamento de Química Orgânica
QUI 02237: Conteúdos de química para o Ensino Médio II

Yonarhan Costa Vargas


Jóice Maria Scheibel

Oficina temática: Aromas

Porto alegre, fevereiro de 2023


1. Objetivo

O presente trabalho visa contemplar as funções orgânicas através do


estudo dos aromas (odores, agradáveis ou desagradáveis), e como a
aplicação desses aromas influencia social e economicamente no mundo
moderno, pois estão presentes em diversos tipos de produtos e também
foram fatores que mudaram a história de alguma forma, além de tratar
sobre o descarte muitas vezes irresponsáveis dos mesmos.

2. Plano de aulas

Momento pedagógico Planejamento Duração


(horas/aula)

1. Problematização Experimento demonstrativo onde 2 horas/aula


do tema os alunos irão ser apresentados a
diversos tipos de aromas, através
de óleos essenciais e outros
materiais

2. Organização do Aprofundamento na teoria 2 horas/aula


conhecimento envolvida nos aromas, além de
apresentar e refletir sobre como os
aromas estão inseridos na vida
cotidiana, apresentando alguns
benefícios que podem ser
apresentados.

3. Aplicação do Experimento de caráter 4 horas/aula


conhecimento investigativo onde os alunos irão
extrair o óleo essencial de cravo,
laranja, etc.

1. Problematização do tema (1º momento pedagógico)


Experimento demonstrativo para a introdução da problematização do
tema ‘’aromas’’.

‘’Degustação’’ de diversos aromas.


O experimento tem como objetivo demonstrar para os alunos a
complexidade dos aromas, e como alguns deles possuem alguns efeitos
que podem ser sentidos fisicamente de maneira além apenas do olfato.
Materiais necessários:
- Qualquer tipo de material que possua um cheiro característico
(naftalina, cravo, vela, cânfora, gasolina, óleo diesel, banana madura,
laranja, álcool, mentol (Halls), essência de rosas, canela, essência de
baunilha, café e erva-doce)
- Óleos Essenciais medicinais.
- Material para relato dos resultados.
Desenvolvimento:
Dispor em uma bancada todos os materiais escolhidos para
serem sentidos pelos alunos, e no final deles dispor os óleos
essenciais de escolha em sequência de escolha pelo propositor da
experiência. É importante que durante a experiência de sentir os
óleos essenciais esteja estabelecido um ambiente calmo e propício
para o relaxamento.
Muito cuidado para que os aromas não sejam agressivos para o
olfato dos estudantes.
Após a atividade anterior os estudantes devem descrever
quaisquer tipos de sensação que tiveram após sentir algum aroma
específico, se gostou ou não do cheiro, sentiu algo fisicamente? Os
estudantes também devem tentar identificar o cheiro característico
dos materiais e dos óleos. Em seguida, abra uma discussão com os
alunos para relatarem e compartilhar suas experiências uns com os
outros.
Roda de Conversas
Questões a serem discutidas:
 Qual a relação entre o olfato e o paladar?
 Qual a propriedade química que confere esses aromas
diferentes aos alimentos, óleos e ervas, por exemplo?
 Você acredita que as funções orgânicas estão envolvidas
com o aroma desses materiais?

 Os aromas têm uma importância significativa na sociedade


por várias razões, algumas delas são:

 Comunicação: Aromas são usados para comunicar uma


mensagem, como por exemplo, a fragrância de um
perfume pode ser usada para expressar personalidade ou
atrair outras pessoas.

 Memória e emoção: Aromas estão fortemente ligados a


memórias e emoções. O cheiro de algo pode evocar
memórias profundas e trazer de volta emoções antigas.

 Indústria alimentícia e de bebidas: Aromas são usados


para melhorar o sabor e aroma de alimentos e bebidas,
tornando-os mais atraentes para o consumidor.

 Saúde e bem-estar: Aromaterapia é uma forma alternativa


de tratamento que utiliza aromas para ajudar a aliviar o
estresse, a ansiedade e outros problemas de saúde
mental.

 Indústria de cosméticos e de limpeza: Aromas são usados


em produtos de cuidado pessoal e de limpeza para
melhorar a sua aparência e aroma, tornando-os mais
agradáveis de usar.

Ao final desta etapa, os alunos deverão entender a complexidade


inimaginável que os aromas possuem, para que futuramente
compreender que esses particulares cheiros resultam da interação de
vários compostos químicos diferentes, que podem variar em número,
concentração e estrutura molecular. Os aromas podem ser descritos
como complexos pois:
 Número de compostos: Muitos aromas são compostos por
dezenas, centenas ou até milhares de compostos químicos
diferentes. Esses compostos podem incluir aldeídos,
álcoois, cetonas, ésteres, terpenos e muitos outros. Cada
composto contribui para o aroma final de maneira única.
 Interdependência dos compostos: Os compostos que
contribuem para o aroma podem interagir entre si de
maneiras complexas, influenciando a percepção do aroma
final. Alguns compostos podem mascarar outros, enquanto
outros podem reforçar ou potencializar determinados
aromas.
 Sensibilidade individual: Cada pessoa tem uma percepção
olfativa única e sensível, e pode perceber os aromas de
maneiras diferentes. Isso pode ser influenciado por fatores
como idade, sexo, cultura e exposição prévia a
determinados aromas.
 Influência do ambiente: O aroma de um produto pode ser
influenciado pelo ambiente em que é produzido ou
armazenado. Fatores como temperatura, umidade, luz e
oxigênio podem afetar a estabilidade dos compostos que
contribuem para o aroma, alterando sua intensidade,
qualidade ou caráter.

2. Organização do conhecimento (2º momento pedagógico)

Nesse momento, foram apresentados alguns tópicos necessários


para o entendimento da temática aromas no ensino de Química.
Explanou-se como ocorre a sensação do olfato no organismo de uma
maneira simplificada, levando-os a compreender que são moléculas
orgânicas as responsáveis pela maioria dos aromas conhecidos. O
olfato detecta os aromas que são vários compostos químicos e esses
compostos químicos fazem parte das funções orgânicas. A partir
destes princípios, iniciou-se a aula sobre funções orgânicas
correlacionando exemplos de aromas com as funções
correspondentes. Esta etapa contou com o auxílio da projeção dos
seguintes slides (os alunos receberão o material impresso para
acompanhar e anotar informações extras):
Contextualizando
O aroma do vinho é um exemplo perfeito para relacionar as
moléculas orgânicas com o seu aroma. Essas moléculas são
produzidas durante a fermentação e envelhecimento do vinho, e são
influenciadas pelo tipo de uva, terror, método de produção e
envelhecimento, entre outros fatores.
Entre as moléculas responsáveis pelos aromas do vinho, podemos
destacar:
Ésteres: são formados pela reação de ácidos orgânicos com
álcoois durante a fermentação. Podem contribuir com notas frutadas,
florais e herbais no aroma do vinho.
Aldeídos: são produzidos pela oxidação de álcoois durante o
envelhecimento do vinho em barricas de carvalho. Podem contribuir
com notas de nozes, baunilha e especiarias.
Cetonas: são formadas pela oxidação de álcoois e ácidos durante
a fermentação e envelhecimento do vinho. Podem contribuir com
notas frutadas, florais e herbais.
Álcoois: são formados durante a fermentação. Podem contribuir
com notas frutadas, florais e herbais no aroma do vinho.
Ácidos carboxílicos: são produzidos durante a fermentação e
envelhecimento do vinho. Podem contribuir com notas de maçã verde,
limão e outros aromas ácidos.

Exemplo da descrição de um vinho.


Além disso será proposto aos alunos a leitura de um material de apoio
que apresenta uma discussão sobre a química nos perfumes
(Perfumes, uma química inesquecível)

Óleos essenciais
Os óleos essenciais são misturas complexas de compostos
orgânicos voláteis extraídos de plantas aromáticas. Eles são
produzidos pelas plantas como mecanismo de defesa contra
predadores e também para atrair polinizadores. A composição
química dos óleos essenciais pode variar muito entre as plantas,
mesmo que sejam da mesma espécie. Isso ocorre porque fatores
como o clima, o solo e a época de colheita podem afetar a produção e
a concentração dos compostos.
3. Aplicação do conhecimento (3º momento pedagógico)
A aplicação do conhecimento ocorreu através de uma atividade
experimental de caráter investigativo

Extração de óleos essenciais a partir de plantas aromáticas


A extração de óleos essenciais é uma técnica antiga que consiste
em separar os componentes voláteis de plantas para obter os óleos
essenciais. Estes óleos são usados em perfumaria, aromaterapia,
culinária e outros fins.
A aromaterapia é uma forma alternativa de tratamento que utiliza
óleos essenciais e outros aromas para ajudar a aliviar o estresse, a
ansiedade e outros problemas de saúde mental e física. É baseada
na crença de que os aromas diferentes têm propriedades curativas e
que podem ser usados para tratar uma ampla gama de condições,
incluindo dor, insônia, fadiga, tensão e ansiedade, a aromaterapia
pode ser realizada de várias maneiras, incluindo inalação, massagem
com óleos essenciais, banhos aromáticos e difusão de óleos
essenciais. Os óleos essenciais são extraídos de plantas e ervas e
são considerados altamente concentrados e poderosos.
Nessa atividade os alunos terão irão produzir seu próprio óleo
essencial através da técnica destilação por arraste de vapor. Após a
produção terão a oportunidade de testar as propriedades do seu óleo
produzido, e de seus colegas também. No final todos compartilharam
as sensações que tiveram na testagem dos óleos produzidos pela
turma.

Materiais necessários:

 - 1 balão de destilação de 500 mL;


- 1 condensador de vidro de tubo reto;
- 1 kitassato de 500 mL;
- 1 becher de 250 mL;
- 1 tubo de vidro para conectar o kitassato ao balão de
destilação;
- 1 tubo de vidro para ser empregado como tubo de segurança;
- 1 bico de Bunsen;
- Almofariz e pistilo;
- 3 suportes universais;
- 5 garras; - mangueiras para conexões;
- Rolhas; - 2 telas de amianto;
- 20 a 40 gramas do vegetal a ser destilado (cravo da índia, casca de
limão, canela em pau, etc.)
- 380 mL de água.

Montagem da aparelhagem e preparação para extração:

1- O calor da chapa de aquecimento, ou do bico de Bunsen, faz com que


a água contida no balão A seja transformada em vapor;
2- O vapor de água formado no balão A desloca-se para o balão B,
através da conexão.
3- Ao entrar no balão B, o vapor transfere parte de seu calor para a
mistura contida no interior desse recipiente;
4- O calor faz com que um ou mais componentes voláteis da mistura
contida no balão B seja(m) transformado(s) em vapor(es);
5- Os vapores contidos no interior do balão B deslocam-se para o
condensador através da conexão de borracha;
6- Ao entrarem no condensador, todos os vapores são convertidos em
líquido, ou seja, sofrem condensação;

Ao fim da atividade, após terem preparados seus próprios óleos, os


alunos deverão experimentar as sensações específicas que seus produtos
passam. Todos deverão experimentar os de seus colegas também, para que
seja feita uma discussão com objetivo de compartilhar as experiências que
cada um teve com cada óleo específico produzido.
Outras duas possibilidades de execução de aula experimental (com
materiais alternativos) para relacionar com a temática aromas são
apresentadas nos seguintes vídeos:

https://youtu.be/mpQaD53sCkw - Experimento caseiro de extração do


óleo essencial da casca da laranja (2º sem 2020)

https://youtu.be/sX0mR7MPzsc - Ensino de química orgânica:


Experimento de baixo custo para extração de óleos essenciais.

Avaliações possíveis:
1. Relatório da parte experimental
2. Atividade de correlação das funções orgânicas e aromas estudados:
Conclusão
Esta oficina temática é uma alternativa de inserção de temas do cotidiano,
como os aromas, no ensino de funções orgânicas de forma a contribuir
significativamente na formação de alunos com senso crítico, porém sem deixar
de lado a preocupação com conceitos fundamentais presentes nos currículos.
Ademais, a oficina temática proposta corrobora com a aproximação entre a
prática e a teoria, que em muitas vezes é um empecilho para os estudantes
que não conseguem encontrar relação dos assuntos abordados nas disciplinas
de Química com seu cotidiano. Uma perspectiva pautada em discussões,
questionamentos e experimentos de caráter investigativo vêm a contribuir com
a construção do conhecimento, tornando o professor um mediador e em
contrapartida, forma alunos com habilidades de posicionar-se criticamente e
lidar com problemas reais.

Referências
Clarke, R. J., & Bakker, J. (2004). Wine Flavour Chemistry. John Wiley & Sons.
The Emperor of Scent: A Story of Perfume, Obsession, and the Last Mystery of
the Senses. Random House, 2004.
Kazmierczak, Elton, et al. "Aromas e odores: ensino de funções orgânicas em
sequência de ensino-aprendizagem." ACTIO: Docência em Ciências 3.2 (2018):
214-236.
Oliveira, Fernando Vasconcelos de. "Aromas: contextualizando o ensino de
química através do olfato e paladar." (2014).
https://brasilescola.uol.com.br/quimica/funcoes-organicas.htm
https://www.todamateria.com.br/funcoes-organicas/
https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/funcoes-organicas.htm
https://www.infoescola.com/quimica-organica/hidrocarbonetos/
https://www.manualdaquimica.com/quimica-organica/alcoois.htm

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