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Immanuel Kant era, tal como já pudemos perceber, um filósofo prussiano da Era Moderna.

A sua vida consistiu,


maioritariamente, na dedicação tranquila e disciplinada ao conhecimento, tanto no ensino como na investigação.

Kant nasceu em 1724 na cidade prussiana de Königsberg. Os seus pais eram bastante pobres, luteranos, tinham
hábitos muitos rígidos e seguiam o pietismo, que é um movimento protestante que consiste em desvalorizar a
dimensão pública ou cerimonial da religião, bem como a insistência em dogmas teológicos ( é a parte da teologia
cristã que trata, sistematicamente, do conjunto das verdades reveladas por Deus ). O pastor pietista da família de
Kant, apercebeu-se do seu talento e fê-lo entrar no colégio que dirigia, Fridericianum. Kant estudou nessa escola
desde os oito aos dezasseis anos, tendo encontrado um currículo exigente que incluía Matemática, Geografia,
História e diversas línguas entre as quais apreciou especialmente o latim. Porém, o ambiente opressivo de
Fridericianum fez com que Kant não guardasse memórias felizes deste período da sua vida, piorando ainda o cenário
por causa da morte da mãe. Aos 16 anos, Kant matriculou-se na universidade de Königsberg devido à influência do
seu professor preferido, Martin Knutzen. Mesmo após a morte do seu pai, que lhe trouxe problemas financeiros,
Kant nunca se afastou da sua cidade natal, e após muito esforço, tornou-se Professor de Lógica e Metafísica na
Universidade de Königsberg, alcançando desta forma a segurança financeira desejável para desenvolver a sua
investigação. Em 1781, publicou a sua obra Crítica da Razão Pura, uma das mais conhecidas. Embora Kant tivesse já
cinquenta e sete anos, as duas décadas seguintes foram as mais produtivas da sua atividade de escrita filosófica,
principalmente no âmbito da ética, além da Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), sobressaem a
Crítica da Razão Prática (1788) e a Metafísica dos Costumes (1797). Kant morreu de causas naturais em 1804, cerca
de sete anos após se ter reformado, ficou conhecido pessoalmente como alguém disciplinado e por manter uma
rotina quase inquebrável, mas também pelas suas qualidades como professor e pelo seu espírito sociável.

Há agora uma pergunta bastante pertinente que pode ser feita: “Se Kant não acredita na Metafísica, como é que
justifica saber os fundamentos de uma “metafísica dos costumes”, de onde se pode ler o título do seu livro
Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Mas a verdade é que o que Kant rejeita é a metafísica tradicional que é
apresentada como um corpo de conhecimento a priori sobre objetos que ultrapassam a experiência. No entanto e
contrariamente a esta, a Metafísica dos Costumes não abrange um objeto transcendente uma vez que consiste no
conhecimento sintético a priori sobre a moralidade, ou seja, sobre o que devemos fazer. Através da experiência,
nunca podemos conhecer nada rigorosamente universal; ou seja, que se apliquem forçosamente a todos nós em
todas as circunstâncias. Mas podemos, sim, dizer que só é possível encontrar o princípio supremo da moralidade
com a razão e nada para além da razão. Kant defende que todos os seres humanos devem agir de acordo com
princípios morais. A esta conotação foi chamada de imperativo categórico. Existem dois imperativos, o imperativo
hipotético, onde os indivíduos agem com o objetivo de receber algo em troca ou por obrigação. Já o imperativo
categórico, que acabámos de referir, pode ser dividido em dois princípios, o da Universalidade, o qual engloba um
pensamento universal, e o princípio da Humanidade, que defende que os seres humanos devem ser respeitados, e
por isso, não devem ser usados como um meio, mas sim como um fim. No seu livro Fundamentação da Metafísica
dos Costumes, Kant exprime este conceito através de variadas fórmulas. Admitindo-se que as fórmulas exprimem o
mesmo princípio moral fundamental, que perspetiva ética poderia decorrer deste princípio? Uma possibilidade
fundada por John Stuart Mill é que o imperativo categórico leva ao utilitarismo dos atos.

críticas

No entanto e a favor de Kant, esta crítica neglicencia a segunda versão do imperativo categórico. Na nova versão do
imperativo categórico, Kant propõe um Princípio da Humanidade: «Age de tal maneira que uses a tua humanidade,
tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca como meio.»
Nela, o deontologista transmite-nos a ideia que não devemos instrumentalizar as pessoas, ou seja, que devemos
respeitá-las pelo que elas são e não pelo que elas nos permitem obter. Ou seja, esta crítica é apenas válida para a
versão original do imperativo categórico, ignorando a segunda.

Mas mais uma vez, esta objeção é apenas válida quando a segunda versão do imperativo categórico não é tida em
conta. Pois o que esta nos faz acreditar é que devemos respeitar os outros indivíduos acima de tudo e maltratar os
outros é objetivamente o contrário de respeitá-los, é tratá-los como um meio e não como um fim, o que é o que
Kant contraria neste Princípio da Humanidade.

No entanto, tendo em conta as alterações que as teorias deontológicas foram sofrendo, há deveres que são
prioritários e que têm mais peso do que outros, os deveres prima facie. Objetivamente, o dever de impedir que os
nossos filhos sejam mortos, que são pessoas inocentes, sobrepõe-se ao dever de mentir, entregando-os ao tal
assassino que matá-los-ia.

Claramente, quando Aristides foi confrontado com o dever de seguir as ordens que lhe foram dadas e com o dever
de fazer o que pensava ser o correto, percebeu que há, de facto, uns mais importantes do que outros. Ou seja, há
deveres prima facie. Neste caso, Aristides chegou à conclusão que era prioritário salvar milhares de refugiados do
que obedecer às ordens de alguém que olha para as pessoas como meios e não como fins.

O dever prima facie é um conceito proposto por David Ross e defende que não há nem pode haver regras sem
exceção. Ou seja, um dever prima facie é um dever que se deve cumprir apenas quando não entra em conflito com
outro dever de igual ou maior peso. Por exemplo, afirmar que há um dever prima facie de não mentir é afirmar que
há sempre uma razão moral para não mentir, que a mentira contribui para algo negativo. No entanto, alguns
deontologistas acreditam que em algumas circunstâncias (assumamos o exemplo presente no livro «Fundamentação
da Metafísica dos Costumes» que se não mentirmos, uma pessoa será assassinada), neste caso, o dever de mentir
será submergido por outros, por exemplo, a pessoa viver, justificando a mentira e tornando-a eticamente correta.

Mas Kant não compadece com esta deontologia. Ele entende que o imperativo categórico faz-nos acreditar que
temos determinados deveres absolutos. Temos, por exemplo, o dever absoluto de não mentir, o que nos transporta
para a ideia que será sempre errado mentir independentemente do quão catastróficas seriam as consequências de
não o fazermos.

Assim, Kant desvanece a tese 1 defendida pelos utilitaristas (que defende que se pode fazer tudo o que for
necessário para promover a felicidade geral).

E agora, considerando a tese 2 que afirma que devemos fazer tudo ao nosso alcance para promover a felicidade
geral, por mais sacrifício pessoal que isso envolva. Os deontologistas não acreditam que devamos fazer sempre
aquilo que contribua para a felicidade geral, pois a ética não é tão exigente. Ou seja, temos a opção de não sermos
sempre o altruísta ideal que está disposto a sacrificar a sua vida pessoal de forma a resultar no bem-estar coletivo.
Assim, o deontologista afirma que não só não temos a obrigação escrita de ajudar ou beneficiar alguém, como caso o
façamos, é um puro gesto louvável de auxílio.

Desta forma, as duas teses imprescindíveis no que toca à moralidade são (1) identificar o dever e (2) querer
realmente cumpri-lo, de forma genuína.

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