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BRASÍLIA/DF
2021
1. INTRODUÇÃO
Tanto a Ética quanto o Direito dizem respeito ao comportamento humano. A Ética,
contudo, antecede o Direito, servindo-lhe como fundamento de existência e de validade.
Através do exercício intelectivo proposto por Emmanuel Kant1, qual seja o de partir do
conhecimento vulgar rumo ao conhecimento filosófico, é possível chegar a um imperativo
categórico, universalmente aceito, portanto, e que funciona como fundamento para os Direitos
Humanos, que compõem a área de conhecimento do Direito que mais se aproxima da Ética.
2. DESCRIÇÃO DO ASSUNTO
O objeto de estudo da Filosofia não pode ser definido com exatidão, pois são diversos
os problemas com que o ser humano se depara: à mente atenta, há a todo instante a admiração
com a enorme quantidade de fenômenos, muitos dos quais são incompreendidos pelo homem2.
A reflexão filosófica, portanto, tem como objeto todo e qualquer tema, sendo o objeto
da Filosofia a totalidade do real.
Inobstante tal amplitude, é possível citar as principais áreas de interesse da cadeira: a
Epistemologia, que estuda o conhecimento; a Estética, que estuda o belo; a Ontologia, que
estuda a metafísica; a Filosofia Analítica, que estuda a linguagem; e, por fim, e o que nos
interessa, a Ética, que estuda o comportamento humano3.
A palavra ética vem do grego ethos, que quer dizer “modo de ser”, “caráter”. Grande
parte da confusão entre ética e moral vem da tradução da palavra para o latim, onde os romanos
a denominaram como sendo mos (ou mores no plural (que quer dizer “costume”, donde então
deriva a palavra moral4.
Todavia, ética não se confunde com moral: enquanto a moral é o conjunto de normas
derivadas dos costumes, sendo, portanto, o conjunto de valores que norteiam o comportamento
do indivíduo no seu grupo social, a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência
do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as
1
KANT, Emmanuel. Fundamento da Metafísica dos Costumes. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica, 1967.
2
LICEU, Filosofia no. Objecto e Método da Filosofia. Disponível em
<https://filosofianoliceu.blogs.sapo.pt/5829.html>. Acesso em 26/02/2021.
3
In Por que estudar Filosofia?. Disponível em <https://www.philosophy.pro.br/porque_filosofia.htm>. Acesso
em 26/02/2021.
4
In Enciclopédia Digital de Direitos Humanos II. Moral e Ética – O que é Ética. Disponível em
<https://eticapublica.furg.br/moral-e-
etica?id=26#:~:text=A%20origem%20da%20palavra%20%C3%A9tica,onde%20vem%20a%20palavra%20moral.>.
Acesso em 26/02/2021.
morais de uma sociedade. Grosso modo, enquanto a moral é normativa, local e temporal, a ética
é filosófica, científica, geral e atemporal5.
No contexto histórico da filosofia ocidental, duas obras de Emmanuel Kant foram o
divisor de águas do tema: Fundamento da Metafísica dos Costumes, escrita em 1785, e Crítica
da Razão Prática, escrita em 1788, sendo a primeira uma espécie de proêmio da segunda.
Em tais obras, Kant disseca o estudo do comportamento humano, partindo do
pressuposto de existência do mandato da razão, que nada mais seria que a representação de
um princípio objetivo, enquanto constritivo (limitador) para uma vontade. Ou seja, a força ideal
capaz de refrear uma vontade humana é um mandato da razão, e a fórmula deste mandato é
denominada, por ele, imperativo6.
Os imperativos são de duas qualidades: hipotéticos e categóricos. Os hipotéticos
representam a necessidade prática de uma ação possível, com a finalidade de se conseguir
algo que se queira, ou que é possível que se queira. Já os categóricos são aqueles que
representam uma ação por si mesma, sem referência a nenhum outro fim; algo
objetivamente necessário, posto que ligado diretamente com a razão, com o princípio da
vontade, com aquilo que Kant denomina de princípios apodítico-práticos7.
Evidente, portanto, que os imperativos hipotéticos relacionam-se à moral, ou seja, aos
costumes referentes a dada sociedade, em dado tempo, ao passo que os imperativos categóricos
relacionam-se à ética, ou seja, à substância de toda e qualquer forma de regramento moral.
Kant, contudo, foi além: segundo ele, há um imperativo que, por si só, é capaz de balizar
todo o comportamento humano, e, pela via da consequência, justificar a existência de todo o
Direito:
“Age de tal modo que possas usar a humanidade tanto em tua pessoa como na
pessoa de qualquer outro, sempre com um fim ao mesmo tempo e nunca
somente como um meio”8
Este princípio seria, para o autor, a condição suprema limitativa da liberdade das ações
de todo homem, pois não deriva da experiência, mas sim da razão pura. E, exatamente por isso,
é um imperativo que representa toda a humanidade metafisicamente, portanto de modo
atemporal e independente de localidade e de costumes específicos, pois não tem finalidade
5
Idem.
6
DUARTE, César M. Kant e os imperativos: uma reflexão sobre o caminho da virtude no Direito. Disponível em
< https://cesarmduarte.jusbrasil.com.br/artigos/1170821849/kant-e-os-imperativos>. Acesso em 26/02/2021.
7
Idem.
8
KANT, op. cit., p. 92.
subjetiva (o indivíduo), senão objetiva (a humanidade). E, exatamente por isso, faz surgir, ao
mesmo tempo, os direitos subjetivos.
É esse imperativo categórico, portanto, que fundamenta toda a legislação prática,
funcionando como verdadeira fundamentação a priori dos direitos humanos.
9
In Uma breve história dos direitos humanos: a Carta Magna (1215). Disponível em <
https://www.unidosparaosdireitoshumanos.com.pt/what-are-human-rights/brief-history/magna-carta.html>.
Acesso em 26/02/2021.
uma premissa fundamental e intangível por trás dos regramentos e costumes. Se tal premissa
fundante for desprezada, os direitos do homem estarão entregues à álea, com o risco constante
de serem desprezados com maior facilidade por uma sociedade ou por um grupo detentor do
poder.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Uma breve história dos direitos humanos: a Carta Magna (1215). Disponível em
<https://www.unidosparaosdireitoshumanos.com.pt/what-are-human-rights/brief-
history/magna-carta.html>. Acesso em 26/02/2021.