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Frei Luís de Sousa

ATO II
Análise das cenas VIII, IX e X

Sara Mateus, Nº.18


11º.C1
Cena VIII
MADALENA (seguindo com os olhos a filha, e respondendo a Manuel de Sousa) - Cuidados!... eu não
tenho já cuidados. Tenho este medo, este horror de ficar só de vir a achar-me só no mundo... ...
MANUEL-Madalena!
repreensão
MADALENA- Que queres? não está na minha mão. - Mas tu tens razão de te enfadar com as minhas
impertinências. Não falemos mais nisso. Vai. Adeus! - Outro abraço. Adeus!
MANUEL- Oh querida mulher minha, parece que vou eu agora embarcar num galeão para a Índia...Ora
vamos: ao anoitecer, antes da noite, aqui estou. - E Jesus!... Olha a
condessa de Vimioso, esta Joana de Castro que a nossa Maria tanto deseja conhecer ... «olha se ela faria
esses prantos quando disse o último adeus ao marido.
MADALENA - Bendita ela seja! Deu-lhe Deus muita força, muita virtude. Mas não lha invejo, não sou
capaz de chegar a essas perfeições.
Cena VIII
JORGE - E perfeição verdadeira; é a do Evangelho: «Deixa tudo e segue-me».
MADALENA- Vivos ambos... sem ofensa um do outro, querendo-se, estimando-se... e separar-se cada um
para sua cova! Verem-se com a mortalha já vestida - ... vivos, são... depois de tantos anos de amor... e
convivência…. condenarem-se a morrer longe um do outro - sós, sós! E quem sabe nessa tremenda hora ...Espanto e a
arrependidos! indignação
por parte de
JORGE - Não o permitirá Deus assim ... oh, não. Que horrível coisa seria! D. Madalena
MANUEL- Não permite, não. Mas não pensemos mais neles: estão entregues a Deus... (Pausa). E que
temos nós com isso? A nossa situação é tão diferente... (Pausa). Em todas nos pode Ele abençoar. Adeus,
Madalena, adeus! Até logo. Maria já lá vai no cais a esta hora... adeus! - Jorge, não a deixes.
(Abraçam-se; Madalena vai até fora da porta com ele.)
 
Cena IX

JORGE, só - Eu faço por estar alegre, e queria vê-los contentes a eles... mas não sei já que diga do
estado em que vejo minha cunhada, a filha... até meu irmão o desconheço! A todos parece que o
coração lhes adivinha desgraça... E eu quase que também já se me pega o mal. Deus seja connosco!

A aflição em que está por


causa de Madalena, de Maria
e de seu próprio irmão.
Cena X
MADALENA (falando ao bastidor)- Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o
bergantim, e quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Ver para a cena)
Não há vento, e o dia está lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta... quem
sabe? o tempo muda tão depressa...
mudança
JORGE. - Não, hoje não tem perigo.
MADALENA- Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado.... que ainda
temo que não acabe sem muito grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que...
Madalena
que casei a primeira vez faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião e faz anos também que... vi revela a Frei
Jorge a razão
pela primeira vez a Manuel de Sousa.
da origem dos
JORGE - Pois contais essa entre as infelicidades da vossa vida? seus medos
Cena X
MADALENA- Conto. Este amor que hoje está santificado e bendito no Céu, porque
Manuel de Sousa é meu marido começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... D. Madalena
e quando o vi, hoje, hoje... foi em tal dia como hoje! - D. João de Portugal ainda era vivo! O considera-se uma
pecadora
pecado estava-me no coração; a boca não o disse... os olhos não sei o que fizeram; mas
dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava? a meu
marido, a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher
bem nascida quase que mais deve a si do que ao esposo. Permitiu Deus... quem sabe se para
me tentar?... que naquela funesta batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João.

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