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Há muito, muito tempo, um lenhador atravessava a floresta de

Arnsbourg, entre Niederbronn e Mühltal, na Alsácia, França.

O calor estava insuportável e a seca ia longe, fazendo o pobre


homem sofrer terrivelmente de sede.

Para a infelicidade do corajoso homem não havia córrego algum


para dessedentá-lo.

Passando perto das ruínas de um antigo castelo, ele julgou sentir


um bom odor de vinho, e pensou:

“Se houvesse pelo menos alguém que pudesse dar-me um pouco


de vinho!”

Nessa hora, apareceu subitamente no meio das ruínas um


homenzinho de longa barba branca, com um avental de couro e
um maço de chaves no cinto, que lhe fez sinais amistosos e
convidou-o a acompanhá-lo.

O lenhador decidiu seguir a mesma direção do tanoeiro sem fazer


perguntas, e juntos pularam cada vez mais açodadamente de
degrau a outro, em boa parte derruídos e cobertos de musgo.
Escadaria nas atuais ruínas do castelo de Arnsbourg
Era essa a descida para o inferno?

O lenhador desconfiou, mas queria vinho. Sim, o vinho cujo


perfume embriagante ele tinha farejado.

E quanto mais se afundava por essa escadaria desconhecida,


mais crescia nele o desejo devorador de sorver o líquido da
perdição.
De repente, o misterioso tanoeiro se deteve diante de uma
imensa e sólida porta, e pegando uma gigantesca chave
enferrujada que estava em seu maço, abriu-a.

Eles entraram numa grande adega com o teto em arcos, muito


fresca e com um pequeno odor inebriante, forte e suave: o vinho!
Ruínas atuais do castelo de Arnsbourg.
O velho tanoeiro encheu com um líquido de maravilhosa cor
sangue um copo de cristal finamente trabalhado, e oferecendo-o
ao lenhador, disse:

– “Pega, bebe, é o mesmo vinho que bebia o senhor de


Arnsbourg e que eu só podia lhe servir nos dias de festa. Eu fui
seu tanoeiro, mas fui condenado a ficar aqui durante mais
duzentos anos, sem poder gozar da paz eterna, porque quando
estava vivo eu punha água no vinho dos servidores”.

O lenhador bebeu com grandes goles. Jamais havia provado um


vinho tão bom. Nunca ficara com tanta energia, juventude e
alegria.

E após agradecer ao tanoeiro com um sorriso, voltou para casa


animado e com novas forças.

De volta à aldeia, ele contou toda a história, que se espalhou pela


região.

Mas ninguém acreditou, pois as pessoas percebiam que ele tinha


perdido o juízo.

Passou-se o tempo e muitos “pais da vida” e beberrões quiseram


visitar as ruínas do castelo de Arnsbourg.

Mas o tanoeiro nunca mais voltou a aparecer.

Desde aquela época, em determinados anos, durante a floração


dos vinhedos, os vinhateiros afirmam que um perfume agradável
e subtil sai do chão e envolve todas as ruínas do castelo.

A tradição popular diz que nesses anos “haverá abundantes


colheitas de uva na Alsácia, e que no outono as adegas se
encherão de um vinho generoso”.
Mas, em são juízo, ninguém quer saber mais sobre o misterioso
tanoeiro que enche os outros de vinho, mas lhes tira a razão.

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