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PORTO VELHO
2018
MARINA DEL CÁRMEN RODRIGUES DE OLIVEIRA
PORTO VELHO
2018
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BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Sou grata a todas as pessoas que se encontram por meio da arte; e aos meus encontros
proporcionados pelo universo.
Ao encontro com Pritama, que proporcionou auxílio, companhia e extrema
generosidade ao me guiar neste trabalho que nasceu das minhas entranhas e transformou-se em
algo visceral em definitivo.
Aos professores Luiz Lerro e Edison Arcanjo, por terem aceitado contribuir com esta
produção, compondo a banca examinadora.
A todos os professores do Curso de Artes Visuais, pela imensa colaboração para a
consolidação da minha carreira acadêmica. Em especial ao encontro com os professores André
Luiz Rigatti, pela paternidade com a qual adotou este trabalho; e Felipe Martins Paros, por seu
olhar e coração tão poéticos.
Aos grandes amigos de jornada Bruna Marini e Sigrid Gouvêa, que me auxiliaram no
processo de encontro introspectivo; Éricles, Adriana e Marllon, por me ajudarem a tecer o
encontro com o eu artista.
Ao meu encontro de amor, Aline Amaral (Lih), parceira apaixonada em todos os
momentos.
À minha família pelo auxílio na construção poética do meu eu, em especial ao Fábio,
“paidrasto”, suporte inigualável.
Ao encontro maternal com Marasella del Cármen, sem a qual eu não estaria aqui. Por
todo o seu incentivo educacional, pela criação ética e moral e por ser a melhor mulher que se
dispõe a ser. Aqui encontro meu lar!
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Tive de me esforçar para contar o caso: contar histórias é uma arte menor. Coisa para
velhas, andarilhos, rapsodos cegos, criadas, crianças – gente com tempo a perder.
Antigamente, as pessoas ririam se eu bancasse o menestrel – não há nada mais ridículo do
que uma aristocrata que se mete a artista -, mas a esta altura não me importo mais com a
opinião pública. A opinião de quem está aqui: das sombras, dos ecos. Portanto, vou tecer
minha própria narrativa.
(ATWOOD, 2005, p. 17)
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RESUMO
Pretendeu-se com este trabalho discutir acerca do processo criativo como forma de
compreender o meu papel na condição de artista pesquisadora, por meio da análise
metodológica da pesquisa em arte da performance, proposta por Sandra Rey (2002). Partiu-se
da performance autoral Vísceras, por meio da qual julga-se imprescindível refletir sobre a
questão elementar que precede o movimento criador, sendo esta a relação poética do encontro
inerente à minha obra de arte. Propus-me a investigar minuciosamente o meu próprio processo
de construção artística para compreender então como se concebe Vísceras. Iniciou-se pelo
estudo da construção da linguagem da arte performática no intuito de auxiliar a compreensão
no entendimento da performance autoral. Traçou-se um apanhado histórico acerca da arte
performática até a chamada Estética Relacional, nomeado por Nicholas Bourriaud (2009) e está
presente tanto no que delineia arte performática como no conceito estético do presente trabalho.
Contextualiza-se a metodologia como instrumento essencial deste processo, sendo apenas
possível por meio desta a análise da presente obra de arte. Acredita-se que a metodologia de
pesquisa em arte transforma-se em instrumento poético, uma vez que é apenas através desta
que se torna possível conhecer e compreender ambas, subjetividade e teoria de arte, presentes
em Vísceras. Esboça-se a análise da performance Vísceras para então unificar os conceitos
elucidados na busca por reaver as referências significantes à performance e ao processo de
concepção prática desta, onde entrelaçaram-se história da performance, estética e poética no
intuito de explanar o movimento criativo referente a construção do trabalho visceral desta
performance.
Palavras-chave: Estética Relacional. Poética. Estética. Performance.
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ABSTRACT
By this work it was intended to discuss the creative process as a way to understand my role in
the condition of researcher artist, through methodological analysis of research in art, proposed
by Sandra Rey (2002). Through copyright performance Visceras, by means of which it is
essential to reflect the question that precedes the creator motion, being this the poetic
relationship date inherent in my work of art. I set myself to investigate thoroughly my own
artistic construction process to understand so as it is conceived Visceras. It was began the study
of the construction of the language of performance art in order to aid the comprehension in the
understanding of performance. Traced a history about the performance art caught up to the so-
called Relational Aesthetics, named by Nicholas Bourriaud (2009) and is present in both as in
what outlines performance art as in the aesthetic concept of the present work. Contextualizing
the methodology as a key instrument of this process, being possible only by this the analysis of
this work of art. It is believed that the art research methodology in art becomes a poetic
instrument, since it is only through this it is possible to know and understand both, subjectivity
and art theory, present in guts. Outlines the performance analysis to unify Visceras concepts
elucidated in the search in order to get significant references to the performance and the design
process of this practice, where intertwined history of performance, aesthetics and poetics to
explain the creative movement for the construction of the visceral work of this performance.
Keywords: Relational Aesthetics. Poetics. Aesthetics. Performance.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
CAPÍTULO 1 – DA PERFORMANCE ATÉ A ESTÉTICA RELACIONAL ................. 13
1.1 A ESTÉTICA RELACIONAL ........................................................................................... 15
CAPÍTULO 2 – POÉTICA, ESTÉTICA E MÉTODO: O MOVIMENTO CRIADOR .. 17
CAPÍTULO 3 – O TEAR DE UM ENCONTRO VISCERAL ........................................... 21
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 27
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29
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INTRODUÇÃO
Pretendo por fim, no último capítulo, tear a construção da performance autoral Vísceras,
criando uma base para discutir o encontro como cerne da obra, analisando poética e estética,
trazendo os conceitos discutidos em capítulos anteriores, como a estética relacional e a poética
do encontro e ainda as referências de artistas como Marina Abramović (2010), José Leonilson
(1992), Ana Teixeira (2005-2013) e Karin Lambrecht (2006).
Portanto, é a partir de um movimento dialético, na tentativa de repensar analogias
impostas por valores econômicos e políticos, que rompem com as relações no instante-presente,
em função da proximidade global e em detrimento dos vínculos diretos; e também do resgate
do sentimento de afeto, através de ações aproximadoras, que nos convido a permear a
estética/poética do encontro consigo e com o outro, em oposição à frieza da modernidade.
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“Desejamos a ação performativa como sendo uma ilha de desordem no imenso oceano da
arte de consumo, ‘agradável’ ou ‘exótica’. Nos interessa tentar provocar o espanto, o
atravessamento estético da vida cotidiana, a revelação radical das presenças”.
(DENNY; BULHÕES, 2014, p. 6)
artes plásticas, dança e/ou música, entre outras linguagens e por isso é chamada de hibrida.
Assim sendo, “[...] a performance proporciona uma maneira de expandir o sentido de ‘obra de
arte total’ gerado na Bauhaus” (GOLDBERG, 2007, p. 150). Após a Bauhaus, a performance
segue seu caminho como linguagem independente e só então é possível atribuir conceito à
experimentação que a envolve. Desta maneira, em consequência da II Guerra Mundial, a escola
fecha as portas e o circuito artístico refaz-se nos Estados Unidos.
Em termos conceituais Cohen (2002) diz que a performance é uma função do espaço
pelo tempo. Essa função surge como correlação entre esferas micro e macro espaço-temporais;
no sentido micro, o espaço é aquele onde acontece a performance e o tempo é a duração de
determinado espetáculo, já no sentido macro é o contexto histórico cultural ao qual a obra se
refere, interpretando, portanto, que a performance surge como uma linguagem que propõe a
vivência de espaço e tempo enquanto possibilidade estética.
Introduzida a história da performance, trilho o caminho no sentido da Estética
Relacional, conceito apresentado por Nicolas Bourriaud no livro de mesmo título para
posteriormente refletir sobre este conceito em minha performance autoral.
A possibilidade de uma arte relacional (uma arte que toma como horizonte
teórico a esfera das interações humanas e seu contexto social mais do que a
afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado) atesta uma inversão
radical dos objetivos estéticos, culturais e políticos postulados pela arte
moderna. Em termos sociológicos gerais, essa evolução deriva sobretudo do
nascimento de uma cultura urbana mundial e da aplicação desse modelo
citadino a praticamente todos os fenômenos culturais. (BOURRIAUD, 2009,
p. 12).
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Cabe ainda dedicar-me a esclarecer possíveis diferenças entre poética e estética, não as
dissociando, mas entendendo que tais conceitos são complementares. A poética diz respeito ao
que inicia a produção artística, à criatividade que inspira o fazer artístico, enquanto estética é o
estudo consciente e conceitual desta que se torna elemento ativo na produção de significados
(SANDRA REY, 2002, p. 129,). Assim, poética é a presença universal da obra de arte e estética,
a individualidade teórica imposta à obra.
Neste mesmo sentido, Sandra Rey (2002, p. 127) acredita que a produção da obra de
arte permeia simultaneamente os dois conceitos elucidados, pois
Por fim, é importante esclarecer que o movimento criador não segue convenções
cronológicas, posto que cada uma de suas etapas se funde durante o processo criativo a ponto
de confundirem-se entre si, e ainda relembrar que não existe fim neste movimento, pois o
pertencimento intelectual da obra de arte não é individual do artista, mas se constrói mediante
às possíveis interpretações estéticas de cada um dos indivíduos que se permitem encontrar com
e na obra de arte.
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De acordo com Frange (2006, p. 7), a representação dos ateliês temporários “[...] muda
o modo como o artista pensa o seu espaço de produção, pois muitas vezes para concretizar a
obra, é necessário lançar mão de procedimentos que o ateliê não comporta”.
FIGURA 1 – SEM TÍTULO (2002)
Neste sentido, recordo-me da antiga lenda grega de Pénelope. Esta história relata sobre
a esposa do rei Odisseu que, ao ser convocado para a guerra de Tróia, parte e retorna após 20
anos longe de Ítaca. Durante a ausência de Odisseu, Penélope governa o reino sozinha e após
diversos anos, e aparente morte de seu marido, homens competem pela mão de Penélope e,
consequentemente, pelo reino de Ítaca. A rainha, ainda esperançosa pelo retorno de Odisseu e
na tentativa de adiar um futuro e iminente casamento, promete tecer uma mortalha em
homenagem ao seu sogro, que deverá ser finda após a morte do homem e apenas, então, aceitará
casar-se novamente. Concomitantemente, pede às suas escravas que convivam com seus futuros
pretendentes em busca de segredos e tramas que possam lhe ajudar a adiar, ainda mais, o
casamento. Assim, durante o dia, Penélope tece aos olhos do povo e ao anoitecer, une-se as
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escravas para desfazer o trabalho, postergando o fim do tear, enquanto ouve os relatos reunidos
pelas mulheres. (ATWOOD, 2005).
O mito de Penélope agrega ao movimento criativo ambos os atos de construção e
desconstrução, são regidas palavras com dúbio significado, remetendo não apenas uma ação
manual, mas, como no mito, a construção e desconstrução de diálogos.
A partir deste ponto, tornava-se claro que a linguagem a ser executada seria a
performance, pois compreendi que a busca poética havia se transformado no desejo de me
encontrar e encontrar outros indivíduos, de dialogar e transformarmo-nos por meio destes
encontros.
Sendo assim, ao conversar com o professor regente da disciplina de Cultura Visual,
deparei-me com o trabalho de Ana Teixeira, artista performática que vai a espaços públicos
disponibilizando uma cadeira e anuncia que escuta histórias de amor, prática que dá título à
obra, conforme Figura 3, enquanto fabrica um enorme cachecol, teado pelas histórias que
escuta.
FIGURA 3 – ESCUTO HISTÓRIAS DE AMOR
Ainda na busca por referências no âmbito da arte performática, vejo na obra “A Artista
está Presente” de Marina Abramović (NASCIMENTO, 2018) a certeza do encontro, enquanto
poética artística da performance Vísceras. Nesta performance, Marina propõe-se a olhar o outro
pelo tempo que for necessário, assim, a artista se conecta com o outro por meio do olhar, de
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É esse conhecimento adquirido quando nos aproximamos da Mulher Selvagem. Quando La Loba canta,
ela está cantando a partir do saber contido nos ovários, um conhecimento que vem das profundezas do
corpo, do fundo da mente, do fundo da alma. Os símbolos da semente e dos ossos são muito
semelhantes. Se tivermos o rizoma, a base, a parte original, se tivermos o trigo para semear, qualquer
dano poderá ser reparado, qualquer devastação poderá ser corrigida com outra semeadura, os campos
podem ficar em pousio, as sementes duras podem ser postas de molho para que amaciem, para ajudá-
las a abrir e brotar.
Dispor da semente significa ter acesso à vida. Conhecer os ciclos da semente significa dançar com a
vida, dançar com a morte, dançar de volta à vida. A natureza da Mulher Selvagem nas mulheres é a da
mãe da vida e da morte em sua forma mais antiga. Como gira nesses ciclos constantes, eu a chamo de
mãe da vida-morte-vida. (ESTÉS, 1994, p. 51).
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CONCLUSÃO
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A performance foi apresentada durante o IV Festival UNIR Arte e Cultura no período de 5 a 9 de
Novembro de 2018, juntamente ao grupo de pesquisa e extensão do qual faço parte “Espaço para
Cri(ações) Poéticas”.
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REFERÊNCIAS
CASTRO, Bruna. As janelas de Ana Teixeira. Abra as janelas.com.br. 2014. Disponível em:
http://www.abrajanela.com.br/tag/ana-teixeira/. Acesso em: 07 nov. 2018.
ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que corre com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da
mulher selvagem. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Instituto Arte na Escola: Karin Lambrecht: de corpo e alma.
São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2006. (DVDteca Arte na Escola – Material educativo para
professor-propositor; 90).
NASCIMENTO, Valter. Marina Abramović: A artista está presente. Sobre a ausência. 2018.
Disponível em: https://valternascimento.com.br/sobreausenciamoderna-5f29563fb977. Acesso
em: 07 nov. 2018.
PAREYSON, Luigi. Os problemas da Estética. Tradução de Maria Helena Nery Garcez. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
REY, Sandra. Por uma abordagem metodológica da pesquisa em Artes Visuais. In: BRITES,
Blanca; TESSLER, Elida. (Org.). O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes
plásticas. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. (Coleção visualidade, 4). P. 123-140.
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo:
FAPESP: Annablume, 1998.
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WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Tradução de Maria de Lurdes Sousa Ruivo. Abril
Controljornal, 2000. Ebook. Disponível em: http://bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br/services/e-books/Oscar%20Wilde-5.pdf. Acesso em: 19 nov. 2018.