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FACULDADE FAVENI

PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

EZEQUIEL PIRES DA SILVA

EMPREGO DE CÃES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

NOVO HAMBURGO - RS
2021
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar e justificar a utilização e o


emprego de cães nas diversas atividade correlacionadas aos policiais penais no
âmbito do sistema penitenciário. Apresentando o emprego do cão de faro como
uma inovação na gestão da segurança pública.

O atual cenário do sistema penitenciário é catastrófico, tendo em vista a


falta de investimentos e recursos, o baixo efetivo de servidores, o elevado
número de pessoas recolhidas no sistema penitenciário, a falta de vagas que
acaba gerando uma superlotação e as estruturas dos estabelecimentos
prisionais frágeis e antigas.

Visualizando o cenário e exercendo a atividade de policial penal dentro do


sistema penitenciário, considero que o emprego de cães de trabalho dentro do
sistema penitenciário a curto prazo poderá gerar economicidade ao Estado,
suplementação ao efetivo funcional, agilidade e desempenho acentuados nas
atividades rotineiras, aumento nas apreensões e um enfraquecimento das
organizações criminosas dentro do sistema penitenciário.

Também objetivamos exemplificar a utilização de cães dentro do sistema


penitenciário, através de ações rotineiras atreladas a segurança prisional e
especificamente as ações de repressão a entrada de ilícitos nas unidades
prisionais.

O emprego de cães na segurança pública vem sendo amplamente


utilizada em escala mundialmente. A aplicabilidade de cães afim de encontrar
um odor específico seja ele ilícito, difícil acesso, ou em busca de pessoa em fuga
ou perdida, somente poderá ocorrer atentarmos para os parâmetros de
treinamentos com embasamentos técnicos e científicos afim de dirimir lacunas e
auxiliar a sociedade no decréscimo das organizações criminosas.

As referências adotadas neste trabalho incluem meu ponto de vista na


atividade de policial penal exercida dentro de estabelecimentos penais, bem
como minha formação como cinotécnico, condutor e formador de cães de
trabalho.
Sistema Penitenciário

A Polícia Penal do Estado do Rio Grande do Sul, tem por finalidade


executar a seguridade dos estabelecimentos penais, bem como a seguridade
dos apenados e demais pessoas que circundam os estabelecimentos penais,
bem como garantir que pessoas privadas de liberdade se mantenham
segregadas da sociedade.

No sistema penitenciário gaúcho observa-se a discrepância entre o


número de vagas e o número de apenados, fato este que gera uma superlotação
nos estabelecimentos penais, causando falta de controle da população
carcerária e dificuldade de ações de repressão ao tráfico de drogas e ao combate
as organizações criminosas.

Mapa Prisional do Rio Grande do Sul


População carcerária 42.634 (apenados)
Capacidade de Engenharia 26.293 (vagas)
Fonte: SUSEPE (2021)

A crise no sistema penitenciário agravou-se de tal maneira que já chama


a atenção de magistrados, conforme carta divulgada no site do tribunal de justiça
do Rio Grande do Sul, os magistrados da execução criminal deste estado,
reunidos em 14 de março de 2017 em Porto Alegre, divulgaram uma carta
externando sua preocupação com a grave crise que assola o sistema prisional
gaúcho, em especial por afetar diretamente a segurança pública e a vida em
sociedade.

“Os presídios do Estado, em maioria, estão superlotados, com taxas


de ocupação de presos muito acima da capacidade de engenharia.
Os efeitos da superlotação, somados à ineficiência do Estado,
implicam não somente a violação de direitos da pessoa privada da
liberdade, mas também o fortalecimento das facções e o aumento da
criminalidade e da violência”.( Carlo Velho Masi, 2017 )

Hoje em atividade temos 5.261 Policiais penais para um total de 42.634


apenados distribuídos nos estabelecimentos penais do estado, entretanto
verifica-se que nem todos os policiais penais ficam diretamente ligados a
vigilância dos apenados, tendo estes diversas outras funções, afim de dirimir
as necessidades dos estabelecimentos penais, outrossim os policiais penais
cumprem regime de plantão, assim dividindo este quantitativo.

O emprego dos cães no sistema penitenciário tem como principal


objetivo antecipar a entrada de ilícitos nos estabelecimentos penais, assim
diminuindo possíveis ocorrências, aumentando o controle da massa carcerária,
enfraquecendo as organizações criminosas e otimizando eventuais revistas.

O Emprego dos cães no sistema penitenciário

Dentre as necessidades as quais verifico o emprego de cães, sustento a


utilização nos pontos críticos, onde poderá haver a entrada de ilícitos onde há a
fragilidade por falta de policiais penais e onde o cão rapidamente poderá resolver
a revista sem prejuízo do tempo, agregando agilidade e confiabilidade na
execução da revista.

Dentre os pontos críticos posso citar a entrada de veículos, mercadorias


em geral, visitantes, sacolas a serem entregues aos apenados, revistas
rotineiras no ambiente celular e no pátio de sol, rondas externas.

O emprego do cão não tem por objetivo suprimir a função do policial penal,
pelo contrário, a partir do emprego do cão, a dupla passa a chamar-se binômio,
ou seja, o cão passa a ser utilizado como uma ferramenta investigativa a qual
precisa da expertise humana. Tampouco o cão tem por objetivo cessar a
utilização de equipamento como o Raio-x, tendo em vista que demais itens, que
podem ser visualizados facilmente pelo aparelho de Raio-x a exemplo: serra de
cortar ferro, celulares, armas entre outros. O cão poderá ser utilizado como uma
ferramenta de extensão às fiscalizações e nas revistas rotineiras.

A maior parte dos ilícitos que adentram os estabelecimentos penais,


acabam passando despercebidos aos olhos e ao olfato humano, devido a
perspicácia das organizações criminosas em ocultar os ilícitos, abaixo algumas
fotos ilustram a engenhosidade utilizada pelos criminosos (Fotos 1, 2, 3, 4).
Foto 1 - DROGA ESCONDIDA EM MAÇOS DE CIGARROS

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo - Escola da Administração


Penitenciária: MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE ILÍCITOS EM ESTABELECIMENTOS
PRISIONAIS. São Paulo: 2018

Foto 2 - BEBIDA ALCÓOLICA OCULTA EM FRASCOS DE SORO

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo - Escola da Administração


Penitenciária: MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE ILÍCITOS EM ESTABELECIMENTOS
PRISIONAIS. São Paulo: 2018
Foto 3 - DROGA OCULTA EM ROLO DE PAPEL HIGIÊNICO

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo - Escola da Administração


Penitenciária: MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE ILÍCITOS EM ESTABELECIMENTOS
PRISIONAIS. São Paulo: 2018

Foto 4 – DROGA EM EMBALAGEM DE SUCO

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo - Escola da Administração


Penitenciária: MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE ILÍCITOS EM ESTABELECIMENTOS
PRISIONAIS. São Paulo: 2018
O cão poderá ser treinado para localizar todo e qualquer material ilícito no
âmbito do sistema penitenciário e conforme necessidade de cada
estabelecimento penal, sendo este material de difícil localização, fácil
mascaramento, entretanto observa-se que o cão deverá passar pelo correto
treinamento, e assim apresentando o odor especifico ao cão, o qual deverá
encontrar.

Os Cães

A capacidade olfativa dos cães é muito superior a dos humanos. Os


cães tem uma capacidade de até 100 mil vezes superior a do ser
humano. Enquanto que o cérebro de um cão é apenas uma décima parte do
tamanho de um cérebro humano, a área que controla o odor é 40 vezes maior
do que nos humanos.

Em uma comparação entre o ser humano e o cão, podemos dizer que


nós possuímos uma média de 5 milhões de receptores olfativos, enquanto os
cães, dependendo da raça, têm entre 125 e 250 bilhões de glândulas
odoríferas. Por exemplo, os cães de raça Bloodhound têm 300 milhões
receptores de odor.

Desde os primórdios da humanidade, há registros da utilização dos


cães nas mais diversas atividades desenvolvidas pelo ser humano. Isso se
deu pelo vínculo entre os seres humanos e os cães, pelo mesmo apreço em
conviver em matilha, pela vontade do cão exercer determinadas tarefas.

O emprego do cão em qualquer atividade deverá passar por um


detalhado processo de seleção, esse processo deverá ocorrer com os
seguintes critérios: escolha da raça, arvore genealógica, impulso ou drives
do indivíduo, capacidade de superar problemas, vontade de trabalhar, entre
outros.

Outra parte crucial para um bom desempenho, é o treinamento


adequado e direcionado à atividade que o cão desenvolverá, como já
mencionei anteriormente, fator importantíssimo para a seleção do cão é
escolher o indivíduo através da sua genética, mas é de suma importância o
manejo e treinamento adequado dentre eles podemos citar: imprint,
ambientação e generalização, hipertrofia e canalização dos drives,
direcionamento, obediência.

O cenário prisional e o emprego do cão.

Diante de um baixo efetivo funcional de policiais penais, um assombroso


número de apenados reclusos, as estruturas precárias e as mazelas do sistema
penitenciário frente a sociedade, relato possíveis utilizações dos cães no sistema
prisional.

O pórtico, local de entrada e saída de todos os veículos que ingressam


nos estabelecimentos penais. Neste local poderá ser utilizado o cão afim de
verificar a entrada de drogas e demais ilícitos, de forma a realizar a revista
externa dos veículos.

No recebimento de mercadorias, o cão também poderá ser utilizado na


recepção dos mais diversos itens que ingressarem no estabelecimento penal,
bem como nos equipamentos dos prestadores de serviço. Poderá o cão executar
a tarefa, fiscalizando os objetos de forma em paletes, em linha e bagagem ou
até mesmo a carga de um caminhão.

Sala de revista, assunto delicado dentro do sistema prisional, mas de


elevada importância. Na sala de revista o cão, este poderá exercer a função de
fiscalização tanto de sacolas quanto de visitas. O cão poderá executar a sua
tarefa tanto na linha de bagagens, nas pessoas em fila e/ou individualmente.
Necessariamente o cão não necessita tocar ou vasculhar as sacolas ou os
visitantes. Com a seleção ideal do indivíduo e correto treinamento do cão poderá
indicar sem tocar a possível localização o ilícito, a exemplo do modo de operação
em aeroportos e abordagens a ônibus da PRF (Policia Rodoviária Federal).

Nas revistas estruturais e rondas, o cão poderá executar as suas tarefas


de buscas, com as devidas precauções de segurança, no interior de celas, no
pátio de sol, em revistas rotineiras e pontuais e até mesmo em rondas externas
ao estabelecimento penal.
Conclusão

O objetivo do emprego de cães no sistema prisional, não tem por propósito


suprimir a utilização de meios já existentes, ou ferramentas já utilizadas, tão
pouco substituir os postos dos Policiais Penais. A ideia com esta ferramenta é
agregar, sendo mais uma opção de utilização no combate e repressão as
organizações criminosas.

A utilização dos cães nos setores citados poderá gerar agilidade nas
atividades exercidas pelos Policiais Penais, gerando foco e suplementação nas
demais atividades de segurança dos estabelecimentos penais.

Consequentemente poderá gerar mais ergonomia e segurança aos


policiais penais ao executarem suas atividades laborais, bem como uma
exatidão no item ou local a ser revistado.

Aumento nos níveis de segurança, além de um acréscimo nos números


de apreensões. A atividade dos cães irá gerar uma inibição por parte dos
infratores.
Bibliografia

Gerritse, Resi – Ruud Haak. K9 Drug Detection. A Manual for Traning


and Operations, Rotterdam: Dog Training Press, 2017

CABRERA, Roberto (Coord.). Cães de Detecção K9. Rio Grande do Sul


- Uruguaiana: 2008.

SUSEPE, Superintendência dos Serviços Penitenciários. Porto Alegre,


Disponível em: <http://www.intrasusepe.rs.gov.br/conteudo/9379/?Ano_2021>,
Acesso em: 03 de março de 2021, 11:00h.

Carlo Velho Masi, Canal Ciências Criminais, disponível em:<


https://canalcienciascriminais.com.br/crise-sistema-penitenciario-gaucho/>
Acesso em: 20 fev. 2021.
SAP, Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo - Escola da
Administração Penitenciária: MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE ILÍCITOS EM
ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS. São Paulo: 2018.

Horowitz, Alexandra, A cabeça do cachorro, New York, Editora Best


Seiler Ltda., 2010.
Rugaas, Turid. A LINGUAGEM DOS CÃES: OS SINAIS DE CALMA,
Noruega, Kns Ediciones S.C., 2011.
Meus Animais, Blog sobre conselhos, cuidados e tudo relacionado ao
mundo animal <https://meusanimais.com.br/>, Acesso em: 17 jan. 2021.

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