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Introdução

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO

A palavra verbo é derivada do latim verbum, que significa palavra. É o elemento essencial da oração.
A força do verbo se reflete no fato de ser ele o responsável pela “expressão do mais numeroso e complexo
conjunto de conteúdos gramaticais reunidos em uma só espécie de palavra: tempo, modo, aspecto, número e
pessoa” (AZEREDO, 2012, p. 13), que podem ser assim sintetizados:

Tempo: presente, passado e futuro;


Modo: indicativo (expressão de certeza), subjuntivo (expressão de dúvida) e imperativo
(expressão de ordem);
Aspecto: em desenvolvimento ou habitual, concluído ou pontual, frequente ou persistente;
Número: singular e plural; e
Pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoas.

Os verbos podem ser classificados


como regulares, irregulares, anômalos, abundantese defectivos, devem ser reconhecidas também suas
formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio), bem como as questões relacionadas
à concordância, regência, voz, transitividade.

Não esqueça de acessar o tópico Fontes complementares de estudo deste módulo.


Lá você encontrará indicações de vários vídeos e artigos para complementar seus estudos.

Acerca da temática, destacam-se os pontos a seguir apresentados.


1. Modos verbais
Modos verbais

Os modos verbais são determinados conforme a posição do falante relativamente à ação verbal e a seu
agente. Eles são apresentados da seguinte forma (BECHARA, 2014, p. 59):

INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO

Processos e fatos objetivos; Desejos, incertezas, Ordem, comando, apelo (intime,


fatos verossímeis ou tidos referência a fatos cumpra, anote, registre –
como tal (julgo, intimo, incertos (propuser, exemplos para verbos na 3ª
declarei, lavrei) mantiver). pessoa do singular).

Vamos, nas seções a seguir, recordar aspectos do uso dos modos subjuntivo e imperativo.
1.1 O senhor indicativo

Evitamos o uso de notas de rodapé neste curso para facilitar a leitura. Assim, ao longo do material, você verá
algumas expressões destacadas com uma lupa ao lado, assim: Teste de link para caixa . Basta clicar sobre
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O senhor indicativo

O indicativo é o modo da realidade, da certeza, da exposição objetiva, que se realiza em relação


ao tempo presente, ao passado ou ao futuro. Embora seja o modo básico do período simples e da
oração principal, o indicativo é também identificado em orações subordinadas dependentes de verbos
que denotam a ideia de afirmação, certeza, convicção (KURY, 2012).

Período Simples
É o formado por apenas uma oração. Exemplo:
A noite está agradável.

Período Composto
É o formado por duas ou mais orações. Exemplo:
Não sabia que você havia comprado o livro.

Sobre orações subordinadas, veja:


- Período composto por subordinação - Site Português.com.br
- Vídeo do canal Língua Minha: Dica rápida: oração subordinada

Observe os exemplos:

Acredito que ele merece a vaga.


Márcio assegurou que a missão é complexa.
João comprovou que preenche os requisitos.

No exemplos acima, contudo, se os verbos das orações principais estiverem modificados por uma
negação, o verbo da subordinada passa para o subjuntivo (KURY, 2012):

Não acredito que ele mereça a vaga.


Márcio não assegurou que a missão seja complexa.
João não comprovou que preencha os requisitos.
O presente, o pretérito imperfeito, o pretérito perfeito simples, o pretérito imperfeito composto, o mais
que mais-que-perfeito, futuro simples, futuro do presente composto, o futuro do pretérito simples, o futuro do
pretérito composto são os tempos do modo indicativo.

Para este curso, o presente do indicativo e o pretérito mais-que-perfeito serão rememorados.

Presente do indicativo

Emprego básico: Manifesta o fato, a ação e o modo de ser que se revelam e se mantêm no momento
em que se fala (KURY, 2012).

Empregos particulares: O presente do indicativo se revela, ainda, em outras particularidades (KURY,


2012):

casos que denotam habitualidade, repetição ou a regularidade com que um fato é verificado.
- Exemplo: "Ele acorda sempre às sete da manhã."
leis, “verdades permanentes” e dogmas.
- Exemplo: "O Sol é o centro de nosso sistema solar."
indicação da validade perene do que se afirma (provérbios).
presente histórico, reconhecido como a forma de reviver o passado por meio do presente,
conferindo-se vivacidade à narrativa.

Fonte da imagem: site InfoEscola.


O mais-que-perfeito do indicativo

Sobre o mais-que-perfeito, reproduz-se a análise de Adriano da Gama Kury (2012, p. 109-110) acerca
desse tempo verbal do indicativo:

“O português se dá ao luxo de possuir três formas diferentes para o mais-que-perfeito com o mesmo valor: uma
simples, reconhecida pela característica -ra-, e duas compostas, uma com o auxiliar ter, outra com haver no
imperfeito do indicativo seguidos do particípio do verbo principal: chegara, tinha chegado (a mais
usada), havia chegado, esta última quase que exclusivamente literária.
Qualquer dessas formas indica um fato passado anterior a outro já passado: ‘Era uma noite de lua cheia, e
a lua já atravessara grande parte do céu quando saímos para pescar.’
[...]

O bom escritor tira partido dessa tríplice possibilidade para variar o estilo. Veja como procede Graciliano
Ramos, mestre do romance brasileiro, na primeira página de Vidas Secas [...]: ‘Os infelizes tinham caminhado o
dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas’.
[...]

A forma simples do mais-que-perfeito está em desuso entre o povo, que prefere a forma composta com o
auxiliar ter.
[...]

O povo usa esta forma em frases exclamativas fixas, estereotipadas, como ‘Quem me
dera!’, ‘Pudera!’, ‘Prouvera a Deus’.” (grifos acrescidos).
1.2 O esquecido subjuntivo

O esquecido subjuntivo
O subjuntivo demonstra incerteza, desejo, vontade, suposição, condição. Na prática, alguns equívocos
são cometidos ao se desconsiderar o modo subjuntivo.

Atente-se para as seguintes orações:

Suponho que ele foi intimado pelo oficial de Justiça. (inadequada)


Deduzo que ele compareceu à audiência. (inadequada)

Observe que os exemplos apresentados trazem a ideia de incerteza, de suposição. Diante disso, os
verbos no modo indicativo foram usados de forma indevida, uma vez que o adequado seria a construção da
subordinada com o uso do modo subjuntivo. Com base nisso, os exemplos anteriormente apresentados devem
ser assim ajustados:

Suponho que ele tenha sido intimado pelo oficial de Justiça. (adequada)
Deduzo que ele tenha comparecido à audiência. (adequada)
Obs. Verbo ter: tenha – no presente do subjuntivo.

Em síntese, o subjuntivo denota:

desejo: "que a justiça esteja conosco";


dúvida: "talvez eles sejam localizados até a audiência";
ordem: "Que desocupem o imóvel o quanto antes".

O subjuntivo é identificado nos seguintes períodos:

Esperamos que eles sejam intimados.


A Prefeitura proibiu que ele fizesse novas obras.
Ela acreditava que ele fosse o autor dos fatos.
Espero que ele fale árabe.
Em tese, as penas são aplicadas para que sirvam de exemplo.
Caso não apresente a peça de defesa, a ré será declarada revel.

Muito cuidado com o emprego do futuro e do futuro do pretérito do indicativo em vez do subjuntivo
em orações que expressem hipótese, suspeita ou dúvida, entre outras características. Observe os exemplos:
Suspeita-se que os recursos estariam destinados a um suposto esquema de
lavagem de dinheiro. (inadequada)
O governador estima que não haverá/terá recursos para os hospitais.
(inadequada)

Uma vez reconhecida a incerteza, a regra é o uso do subjuntivo na subordinada. Dessa forma, os
exemplos acima deveriam ser redigidos da seguinte maneira:

Suspeita-se que os recursos estivessem destinados a um suposto esquema de


lavagem de dinheiro (adequada).
O governador estima que não haja/tenha recursos para os hospitais
(adequada).

Por outro lado, na oração principal, quando demonstrada uma impossibilidade ou mesmo uma
incerteza, o futuro do pretérito do modo indicativo deverá ser utilizado.

Ela seria notificada se o autor tivesse informado corretamente o endereço da


testemunha.
- Seria = futuro do pretérito do modo indicativo (oração principal, incerteza)
- Tivesse = pretérito imperfeito do modo subjuntivo (oração subordinada,
condição)

Como se pode observar, o subjuntivo requer atenção. Em síntese, para o uso correto desse modo
verbal, observe a presença da ideia de dúvida, condição, incerteza ou suspeita na oração independente ou
subordinada.

Em caso de dúvida, faça uso de dicionários que apresentem a ferramenta de


conjugação de verbos.
Conheça esta ferramenta disponível na Internet: http://www.conjuga-me.net.

Atente-se para o futuro do subjuntivo:

- "Se o juiz mantiver a ordem, iniciaremos a demolição."


- "Começaremos a reunião apenas quando você estiver presente."
- "Quando você o vir, informe-o das alterações regimentais." (Vir é o futuro
do subjuntivo do verbo ver da 3ª pessoa do singular).
- "Ficaremos felizes se vocês vierem à cerimônia." (Vierem é o futuro do
subjuntivo do verbo vir da 3ª pessoa do singular).

Quer expressar um desejo? Faça uso do presente do subjuntivo:

- "Desejo que você seja feliz!"


- "Desejamos que você tenha êxito nos estudos."
- "Que siga eterno!"

"embora + gerúndio
Conjunção (embora) não combina com gerúndio. Por isso, usa-se o verbo no
subjuntivo:
- 'Embora vivesse no Brasil, ela não era brasileira.' (E não: 'Embora
“vivendo” no Brasil, ela não era brasileira.')
- 'Embora coma bastante, não engorda.' (E não: 'Embora “comendo”
bastante, não engorda.') [...]

O gerúndio se usa com mesmo, palavra denotativa:


- 'Mesmo vivendo no Brasil, ela não era brasileira.'
- 'Mesmo comendo bastante, não engorda' [...]."

(SACCONI, 2018, p. 192-193).


1.3 A formação do imperativo
A formação do imperativo

No âmbito do Poder Judiciário, a prática forense se vincula ao uso do modo imperativo, porquanto a
atividade jurisdicional envolve mandamentos, comandos, determinações e decretos.

O modo imperativo tem origem no presente do indicativo e no presente do subjuntivo, sendo sua formação
estabelecida pelo seguinte sistema padronizado de derivação:

A título de exemplo, segue a formação do imperativo do verbo determinar:

Indicativo presente Subjuntivo presente Imperativo afirmativo Imperativo negativo

determino determine - -

determinas determines determina não determines

determina determine determine não determine

determinamos determinemos determinemos não determinemos

determinais determineis determinai não determineis

determinam determinem determinem não determinem

Atente-se para a mistura da segunda e terceira pessoas do singular no discurso: tu e ele (você).

Opte por uma delas e não a abandone no meio do caminho. Se utilizar o tu, com ele você deverá permanecer até o fim,
inclusive na hora de utilizar o imperativo. Isso se denomina uniformidade de tratamento. No presente curso,
dialoga-se com “você”, e não com “tu”. Por isso, observe no texto deste curso se todos os verbos no modo imperativo
foram utilizados de forma correta.
2. Formas nominais do verbo
Formas nominais dos verbos

O infinitivo, o particípio e o gerúndio podem vir a desempenhar a função de nomes, por isso são
classificados como formas nominais do verbo. Observe o quadro (BECHARA, 2014, p. 60):

INFINITIVO PARTICÍPIO GERÚNDIO

Poderá desempenhar a Poderá desempenhar a Poderá desempenhar a função de


função de substantivo função de adjetivo advérbio ou adjetivo

Tema + vogal
Tema + vogal Tema + vogal
temática +desinência
temática + desinência “r” temática +desinência “ndo”
“do”

Ex.: lavra-r Ex.: lavra-do Ex.: lavra-ndo

Sobre o tema formas nominais, foram selecionados os seguintes pontos para este curso:

2.1 Flexão do infinitivo;


2.2 O (bom) uso do gerúndio;
2.3 O particípio.
2.1 Flexão do infinitivo

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Flexão do infinitivo

Tema difícil é o da flexão do infinitivo. Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que o infinitivo
pode ser identificado como pessoal ou impessoal.

É pessoal o infinitivo ao qual se atribua sujeito, ele poderá ser flexionado ou não. Por outro lado,
quando o infinitivo for impessoal, ou seja, quando não se referir a nenhum sujeito, não poderá ser flexionado.
Em síntese, a “flexão de um infinitivo depende de que a ele seja atribuído sujeito próprio”. (AZEREDO,
2014, p. 342).

Infinitivo impessoal

A impessoalidade do infinitivo é colhida quando o verbo:

não se referir a nenhum sujeito:

Esquecer é melhor que odiar


É bom ter um trabalho.
Amar é bom.

tiver valor de imperativo:

Calar!
Esquecer!

estiver precedido da preposição de e servir de complemento nominal a adjetivos:

Era um caso difícil de julgar.


Apresentava questões fáceis de resolver.

em locuções com os verbos estar, andar, ficar, viver, for regido pela preposição a e equivaler
ao gerúndio:
Vivem a fazer bondade.

Não esqueça: o infinitivo impessoal não se flexiona.

A flexão do infinitivo pessoal

A flexão do infinitivo pessoal não se apresenta como tarefa simples. Os gramáticos não resolvem a
questão de maneira uniforme. Não há propriamente regras, mas tendências, que se vinculam ao estilo, ao ato
de conferir ênfase ao agente da ação ou mesmo à eufonia.

José Carlos de Azeredo (2014, p. 342) apresenta um exemplo no qual a flexão do infinitivo foi
realizada para o fim de conferir maior clareza ao sujeito nós: “Inútil querermos destruir a ordem natural.”

Mesmo não havendo uniformidade entre os estudiosos da língua, é possível estabelecer


algumas diretrizes sobre o tema :

Estrutura espelhada nas diretrizes estabelecidas no material de apoio do Curso de Gramática para Revisores e
Preparadores de Texto da Editora UNESP, que foi ministrado pela professora Ibraíma Dafonte Tavares.

Nos períodos em que houver o mesmo sujeito nas duas orações, a flexão é facultativa:

Trabalhamos bastante para conseguir o resultado.


Trabalhamos bastante para conseguirmos o resultado.

Observe, contudo, que o sujeito está oculto. Se ele estivesse demonstrado, por outro lado, a flexão
seria obrigatória:

Trabalhamos bastante para nós conseguirmos o resultado.

Nos períodos em que houver sujeitos diferentes nas duas orações, a flexão será obrigatória:

Cantamos para os pássaros voltarem.

Quando o infinitivo depender dos auxiliares causativos (deixar, mandar, fazer e sinônimos)
ou sensitivos (ver, ouvir e sinônimos) e vier separado deles pelo sujeito, expresso por um
pronome oblíquo, a flexão é proibida:

Mandei-os entrar.
Deixe-as cantar.
Com o pronome oblíquo, portanto, não haverá flexão do infinitivo. Por outro lado, se no lugar do
pronome oblíquo átono houver um substantivo, a flexão do infinitivo é recomendada:

Para Sérgio Nogueira Duarte da Silva, no caso apresentado, se o sujeito do infinitivo não for pronome oblíquo, a
flexão é optativa (2004, p. 163).

Mandei os cavalheiros entrarem.


Deixe as moças cantarem.

Na hipótese de o substantivo estar posposto ao verbo, a flexão é facultativa:

Senti tremer as carnes.


Senti tremerem as carnes.

Se o infinitivo for o verbo principal de locução verbal, ele não deve ser flexionado:

Queremos ir ao banheiro.

Sobre o tema, José Maria da Costa identifica um erro muito comum na flexão do infinitivo nos
casos em que há locução verbal , sobretudo quando existem outras palavras entre o verbo auxiliar e o
verbo principal. O autor exemplifica:

"a) “Os magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os segmentos envolvidos, fazerem o
trabalho de administrar a justiça” (errado);
b) “Os magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os segmentos envolvidos, fazer o
trabalho de administrar a justiça” (correto).
[…] “As certidões deverão, sob pena de invalidade do ato e impedimento para o registro, acompanharem o
traslado da escritura” (errado, corrija-se para: deverão… acompanhar)."

Quando vier depois de substantivo ou adjetivo e precedido de preposição, o infinitivo não


precisa ser flexionado:

Há minutas por fazer.


Pensou nas contas a pagar.

Contudo, flexiona-se o infinitivo quando ele estiver apassivado (verbo ser +particípio) ou o
referido verbo for pronominal ou reflexivo:

Há minutas a serem feitas.


Pensou, com tristeza, nas contas a serem pagas.

Artur de Almeida Torres (citado por José Maria da Costa) ensina que “o infinitivo poderá
variar ou não, a critério da eufonia, se vier precedido das preposições sem, de, a, para ou em“:

Intimem-se os autores para emendar ou para emendarem a inicial.


Eles não gostam de ser ou de serem interrompidos.

O tema é denso, e cada gramática resolve a questão de uma forma particular. As regras não devem ser
engessadas. Cada caso precisará ser analisado de forma individual. A solução, muitas vezes, estará na
ênfase a ser conferida a algum elemento específico da oração. Em outras, haverá a necessidade de flexionar o
infinitivo para afastar possíveis ambiguidades na construção. Além disso, devem ser reconhecidos os casos em
que a flexão é proibida, a exemplo do infinitivo impessoal e das locuções verbais em que o infinitivo for o
verbo principal.

"ESTÁ NA HORA DE A ONÇA BEBER ÁGUA" OU "ESTÁ NA HORA DA ONÇA BEBER ÁGUA"?
Atente-se para o que dispõe o Acordo Ortográfico:

- “Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com
quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em
construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata,
escrevendo-se estas duas separadamente: a fim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os
nossos pais serem bondosos; o facto de o conhecer; por causa de aqui estares (Base XVIII, 2º, b, Obs.)”.

No exemplo apresentado no título, onça é o sujeito do verbo beber. Com base na gramática normativa e no
Acordo Ortográfico de 2009, não é possível a contração da preposição de com o artigo a, porquanto o sujeito
não deve ser preposicionado. Portanto, a forma correta é "Está na hora de a onça beber água".

Em síntese, as seguintes fórmulas frasais impedem a contração da preposição com a forma imediata:

- preposição DE + artigo o/a + substantivo + INFINITIVO


- DE + ele/ela + INFINITIVO

Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-detail.php?id=685

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2.2 O (bom) uso do gerúndio
O (bom) uso do gerúndio

O gerúndio apresenta a ideia de uma ação em curso, de algo em processo de execução (PASQUALE,
2011, p. 27). Ele também se combina aos verbos estar, andar, ir e vir para marcar a ideia de ação duradoura.
Em outras palavras, o gerúndio é utilizado para os casos em que se quer transmitir a ideia de movimento,
progressão, duração, continuidade. O gerúndio também é usado para expressar ação simultânea ou progressão
indefinida (PIACENTINI, 2012, p. 153).

O bom uso dessa forma nominal pode ser observado nestes exemplos:

Em virtude de problemas no sistema, estaremos recebendo as propostas até o dia 30 de dezembro de 2017.
Poderemos marcar uma reunião no final de semana? Não, pois estarei trabalhando no período.
O juiz deve estar interrogando o réu neste momento.

Quanto ao uso do gerúndio, identifica-se um fenômeno linguístico denominado pelos estudiosos da


língua de gerundismo. Sobre o tema, Maria Tereza Piacentini traz a seguinte explicação (2012, p. 153):

"[...] o gerundismo é atribuído à influência do idioma inglês no Brasil. Seria uma tradução malfeita do “I am
going to do something” (literalmente: estou indo fazer algo), ou então a tradução ao pé da letra de um futuro
muito usado pelos americanos: We will be senting you the catalog soon”, que se traduziria literalmente por
“Nós estaremos lhe enviando um catálogo em breve”. Em Português temos a opção de dizer: “Nós lhe
enviaremos” ou “Nós vamos lhe enviar o catálogo”, sem necessidade da fórmula *Nós vamos estar lhe
enviando."

Fonte da imagem: site Inglês na Rede

Apresentam-se, a seguir, casos em que o gerúndio foi mal-empregado (gerundismo) :

Palavra ainda não incorporada ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.


Na reunião, precisamos estar conversando sobre os termos da minuta de sentença (não aconselhável, melhor
seria: precisamos conversar).
Os peritos vão estar atendendo apenas na próxima semana (não aconselhável, melhor seria: atenderão).
Vou estar encaminhando à senhora cópia do ofício por e-mail (não aconselhável, melhor
seria: Encaminharei à senhora cópia do ofício por e-mail).

Além dos casos de gerundismo, Sérgio Nogueira Duarte da Silva (2004, p. 280) destaca outras
situações em que o gerúndio deve ser evitado, sendo elas:

as ações expressas pelos dois verbos, gerúndio e verbo principal, não forem simultâneas:

Roberta nasceu em Belo Horizonte, casando-se com seu primeiro namorado


(o adequado seria: Roberta nasceu em Belo Horizonte e casou-se com seu primeiro namorado).

a ação expressa pelo gerúndio for posterior à do verbo principal:

O homem sumiu, sendo encontrado horas depois


(o adequado seria: O homem sumiu e foi encontrado horas depois).

o gerúndio tiver valor puramente adjetivo:

Vi uma sala contendo móveis


(o adequado seria: Vi uma sala que continha móveis ou mesmo Vi uma sala mobiliada).

O autor, assim, aborda a impropriedade do gerúndio nos casos em que ele se aproxima da função
adjetiva (qualidades e estados) e naqueles em que puder ser identificada maior distância entre o tempo da
ação expressa pelo gerúndio e o tempo da ação do verbo principal (SILVA, 2004, p. 280). Contudo,
destaca que o pior uso do gerúndio é o que gera ambiguidade.

Veja os exemplos que o professor apresenta:

“A mãe encontrou o filho chorando. (Quem estava chorando? A mãe ou o filho?)


Ônibus atropela criança subindo a calçada. (O ônibus subiu a calçada e atropelou a criança ou o ônibus
atropelou a criança no momento em que ela subia a calçada?)”. (SILVA, 2004, p. 281).

Você sabia que o uso abusivo ou pouco vernáculo do gerúndio é denominado por alguns estudiosos da língua
como endorreia ? Sobre isso, acompanhe a brincadeira:
Fonte: site Português no Ponto

Ressalvadas as situações destacadas neste capítulo, é preciso reconhecer que o gerúndio tem
funções bem definidas na língua. Por isso, não o condene, apenas saiba usá-lo.
2.3 O particípio
O particípio

O particípio apresenta uma ação finalizada ou relacionada com o passado e se caracteriza pela
terminação -ado e -ido. Além disso, possibilita a formação de tempos verbais compostos. O particípio pode
também desempenhar a função de adjetivo.

O particípio pode ser regular ou irregular. Na tabela a seguir, veja os principais verbos com particípios
irregulares:

INFINITIVO PARTICÍPIO

Dizer Dito

Pôr Posto

Escrever Escrito

Cobrir Coberto

Abrir Aberto

Vir Visto

Pagar Pago

Aceitar Aceito

Ver Visto

Gastar Gasto

Fazer Feito

Além disso, destacam-se alguns verbos que possuem mais de uma forma de particípio
(BECHARA, 2016, p. 217):

Denominados verbos abundantes.

INFINITIVO PARTICÍPIOS

Aceitar aceitado/aceito

Acender acendido/aceso

Entregar entregado/entregue

Ganhar ganhado/ganho

Gastar gastado/gasto

Imprimir imprimido/impresso

Inserir inserido/inserto
Matar matado/morto

Pagar pagado/pago

Prender prendido/preso

Salvar salvado/salvo

Soltar soltado/solto

Suspender suspendido/suspenso

Com relação aos exemplos acima, a dúvida que surge alude à forma correta do uso do particípio
abundante: "Eu havia imprimido" ou "eu havia impresso"?

Em resposta, apresentam-se as seguintes soluções:

A forma terminada em ado ou ido é regular e, em regra, é empregada com os verbos ter e haver:

Eu havia imprimido.
Ele tinha aceitado.
Ela havia entregado.

A fórmula irregular do particípio – a que não termina em ado ou ido - em regra é empregada com
os verbos ser e estar:

Os termos do acordo foram aceitos pelas litigantes.


A pensão foi paga pelo INSS.

Alguns gramáticos defendem que os verbos pagar, pegar, ganhar e gastar podem ter seus particípios
combinados com qualquer verbo (ser, estar, haver, ter). Celso Cunha, em sua gramática do português
contemporâneo, destaca que, na linguagem atual, se tem dado preferência às formas irregulares dos verbos
ganhar, gastar e pagar, para os quais se admitiam os dois particípios, ou seja, ganho, gasto e pago, sendo que a
última substituiu completamente o antigo pagado (2017, p. 270).

Vale ressaltar que a maioria dos verbos possui apenas um particípio. O particípio único é identificado,
por exemplo, nos verbos abrir, chegar, escrever, fazer, trazer. Portanto, não existem abrido, chego, escrevido,
fazido e trago.

Se você tiver curiosidade sobre os verbos protocolizar e protocolar, cujos particípios são protocolizado e
protocolado, respectivamente, leia a coluna escrita pelo professor José Maria da Costa, especialmente dedicada
ao tema:

https://www.migalhas.com.br/Gramatigalhas/10,MI14485,71043-Protocolar+ou+protocolizar+
Considerações finais
Considerações finais

O domínio dos conceitos apresentados poderá auxiliá-lo no momento da produção textual. Isso tudo o
auxiliará na tarefa de eliminar da comunicação oral e escrita construções como:

Eles manteram os termos do contrato (errada).


Os autores reaveram o imóvel (errada).
Os alunos proporam questões ao professor (errada).
O professor não interviu na briga (errada).
Se você manter a calma, conseguirá terminar a prova (errada).

Com o auxílio de um dicionário, por meio da ferramenta de conjugação de verbos, teremos as orações
devidamente construídas da seguinte forma:

Eles mantiveram os termos do contrato (verbo manter na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do modo
indicativo).
Os autores reouveram o imóvel (verbo reaver na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do modo indicativo).
Os alunos propuseram questões ao professor (verbo propor na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do
modo indicativo).
O professor não interveio na briga (verbo intervir na 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito).
Se você mantiver a calma, conseguirá terminar a prova (verbo manter na 3ª pessoa do singular do futuro do
subjuntivo).

Além da ferramenta de conjugação de verbo, compreenda a dinâmica dos verbos primitivos e dos que
deles se derivam. Veja o quadro exemplificativo:

VIR TER VER PÔR

Intervir Conter Antever Compor

Convir Deter Prever Dispor

Provir Entreter Rever Propor

Manter Expor

O verbo precaver, sinônimo de acautelar, advertir, precatar e prevenir, não se deriva do verbo ver, nem do
verbo vir. Trata-se de verbo defectivo, porquanto não conjugado em todas as pessoas ou tempos verbais
(SABBAG, 2011). O verbo precaver não é conjugado na 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo, por
exemplo. Em razão disso, não existem precavejo e precavenho.
O verbo precaver não apresenta nenhuma forma conjugada no presente do subjuntivo. Além disso, o imperativo
afirmativo só se realiza na 2ª pessoa do plural (vós).
Dúvidas? Acesse: http://www.conjuga-me.net/verbo-precaver

A regra é simples, os verbos derivados seguem a conjugação do verbo primitivo:

Quando eu puser – quando eu dispuser


Eles vieram – eles intervieram
Eles tiveram – eles mantiveram

LEMBRE-SE TAMBÉM DE QUE:


- O futuro do subjuntivo do verbo ver é vir: Quando você o vir, avise-o sobre a reunião.
- Vimos é o presente do indicativo do verbo vir na primeira pessoa do plural: Vimos solicitar a liberação da
mercadoria imediatamente.
- Viemos é o pretérito perfeito do verbo vir na primeira pessoa do plural: Ontem nós viemos à feira.
- Veem é o presente do indicativo do verbo ver na terceira pessoa do plural. A partir da vigência do Acordo
Ortográfico de 2009, que ocorreu em 2016, o acento circunflexo não deve ser empregado nos verbos terminados
em “eem” quando estes estiverem conjugados na terceira pessoa do plural.
- Mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar são irregulares: Ele incendeia o debate. / A juíza medeia
os conflitos entre as partes.
- O verbo falir é defectivo e não é conjugado nas pessoas do singular do presente do indicativo.
- O verbo reaver é derivado do verbo haver. Ele é defectivo, pois não é conjugado nas pessoas do singular do
presente do indicativo. É um verbo peculiar, vale a consulta ao conjuga-me antes fazer uso dele em seu texto.

Conhece a Regra do Mário?


https://www.vestibular.com.br/dica/verbos-terminados-em-iar-e-a-maravilhosa-regra-do-mario/

Não deixe de analisar todos os verbos presentes em seus textos. Observe se eles estão corretamente
conjugados, se concordam com o sujeito, se estão regidos corretamente. O verbo é o cerne do texto. Use e
abuse de bons dicionários.

O curso prossegue com temas relacionados à concordância, regência, crase.

Faça os exercícios propostos e bons estudos!

Quer rir um pouco? Assista ao vídeo a seguir:


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seus estudos. Clique e acesse!

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