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1 – 45.

E: Através de qual órgão você conheceu a prática reflexiva (“grupo de


homens”)?
A: Através do fórum, por determinação judicial.
E: Como foi o processo e quando aconteceu a ocorrência que levou a
determinação?
A: Olha. Data, assim de mente, “nem tenho”, né. Mas faz mais de anos já, pois
já estamos separados há dois anos e meio já, então. Até coloquei até para as
“gurias” que acompanharam meu caso, né, que eu participei como homem
agressor; como elas também, perguntei pra elas se a mulher também vai
participar disso, e aí vai ter participação delas, falando também a versão delas,
pra não ficar: “ah só o homem vai falar a versão dele”. A gente vê que como
hoje a lei tá mais assim pro lado da mulher por causa, né, da violência
doméstica e mortes também que os cara vêm fazendo. Até aqui na nossa
região até que ainda quase não “vi” ainda falar né: “ah, homem separou, a
mulher arrumou outro e foi lá e matou, ou “faqueou”, ou deu um tiro”, né; mas a
gente sabe que acontece. E hoje como tenho a experiência, né. Porque o
homem, como, a gente mesmo, chega nesse ponto por causa da companheira,
né. Porque até a mulher também tem bastante mulher que são agressiva
assim como tem homem também né. Isso é normal. Não é só o homem que é o
agressor, né. A mulher também. Por que o homem vira o agressor da sua
companheira, ou sua colega, ou esposa, por que? Porque vem a primeira
agressão verbal da mulher né. Que nem eu não fui um marido pra ela que
trabalhasse chegasse em casa, ou não chegasse em casa. Fosse pra um
botequinho, ou pro bolicho ou pra balada, ou pra uma casa de prostituição
fazer algo que fosse acarregar até chegar nesse momento (agressão). Minha
rotina sempre é sair de casa, trabalhar e do serviço pra casa. E mercado, até
deixava ela junto porque ela era bastante desconfiada, né. Era uma mulher
mais nova do que eu. E dai tipo. Ia pra uma oficina de carro e demorava, eu
tinha que ter a “tal hora” que eu chegava, e se não chegava já tava pronta a
folia. E não era só verbal que ela me agredia, com física também. E daí “o
homem” tu não vai deixar né a mulher (te bater). E a gente dela “são” bastante
gente agressiva e não tem, não são pessoas pacientes que tem a calma e o
cara vai se defender né. Só que a mulher né, que nem a lei, né. A mulher
sempre vai tar mais virada pra lei que nem eu comentei pra ti sobre essas
questões. E eu e ela, ela era mais do que eu e que nem no grupo, até as
vezes; não precisava muito mas as vezes os colega meu não falava, né. Diz
“ah, tô participando do grupo é que pra mim falar o acontecido mesmo né”.
Porque não adianta eu vir aqui né no grupo me fingir de santo ou que “ela foi a
santinha da relação”, né. Sempre fui meu objetivo falar o que era e realmente o
que acontecia em casa né. Claro, a gente também tem um pouco de culpa
porque a gente tinha que ter, no grupo aprendi, que nem diz o ditado: “se a
pessoa vim bater no teu rosto tu não vai pegar e fazer o mesmo? Tu vai virar a
cara pra ela bater que tu não faça o mesmo pra ela, que tu não venha revidar
com as mesmas coisa a situação”, né. Ter calma, sair de perto da pessoa.
Tentar acalmar a pessoa, pra ti sentar, conversar, né. E na relação tem disso.

E: Quantos anos o senhor tinha quando conheceu ela e quanto tempo vocês
ficaram juntos?
A: Eu tô com 45 anos e conheci ela com 33 pra 34 anos mais ou menos, mas
junto fiquemo três anos de vai e volta. Voltei as vez até por ela e pela mãe às
vezes, que ne ela dizia sempre que “ah não tenho ninguém” e agora pra juíza
ela falou o contrário, só que eu tenho provas no meu telefone agora que nem
eu comentei pra juíza que vou provar minha situação toda, a maioria. Que nem
“ai porque arrumei uma outra pessoa melhor do que eu”. Disse: “sim, então se
a mulher arruma uma pessoa melhor que a pessoa que ela conviveu, ou
namorou, ou teve um caso, por que que ela volta atrás procurar a mesma
pessoa?”. Porque ela tinha vontade de voltar e eu não tinha, porque ela sabe
bem, e até a própria lei hoje sabe um pouco das coisas que eu fiz pra ela.
Quando conheci, ela tava estudando, não tinha uma casa ou lugar fixo, né. E a
alimentação dela, ela se queixou muito pra mim e quando a gente começou a
namorar e levei ela no mercado junto comigo, comprei Danoninho essas
coisas, aquele potinho que vem encima flocos, ela não conhecia o que era isso.
Até nos aniversários dela, até ela comentando (sobre) pra mim, só que eu sei
por mim também né, a pessoa na hora da raiva, a pessoa fala as coisas, mas o
sentimento da pessoa. Claro, a pessoa tá separada, né. Tem um motivo porque
a outra pessoa não quis mais. A situação dela, que nem a juíza colocou ali; ela
tá com a saudade do filho, não tá pagando a pensão, por exemplo. Tá com dois
anos e meio já, em junho, e a guarda tá comigo. Na época a gente nem se
separou porque a gente dela, primas dela, até inclusive uma dava encima de
mim, né e eu não quis. Eu fui criado, me criei na colônia e a gente com
ensinamento da moda antiga e já tive outra mulher...sem (uma) “estrutura
familiar”, né.
E: E com relação a essa outra esposa, houve algum episódio de agressão?
A: Houve, houve também. A gente acaba ficando irritado, apesar, né, dos
imprevisto, tu chega em casa. Que nem eu trabalho nessa lida de corte de
lenha faz vinte e poucos anos né, e o cansaço, e daí tu chega em casa né, as
mesmas coisa todo dia. Tu, vai, sai pro serviço e: “ah, hoje passei por esse
‘episódio’ com a minha mulher, amanhã ela vai tá mais calma, ela vai entender
o porque o motivo dela tá nessa situação, né, tipo de desconfiança e briga e
coisa e tal. Por isso não tem um casal, né, rico, pobre, médio que não tenha
esse tipo de coisa. E daí já vinha de tempo, ela bastante ciumenta, que nem eu
meu serviço, daí eu tinha que trabalhar pra cidade, eu ficava acampado, né.
Nas outras cidades que era mais longe eu não podia “transtornar” todo dia pro
serviço e as mulher hoje em dia não entende, né, a maioria não entende, que o
home tá lá trabalhando acha que o home tá em festa. E aquilo chegava em
casa ela nem me dizia um oi, vinha dar um abraço ou perguntar: “como é que
foi teu dia”, coisa e tal. Era primeira coisa gritar ou “ir pular”. E daí a gente não
vai ficar de mãos atada, tu vai cruzar os braço e deixar a muié te espanca. Tem
que defender. As vez, claro o home perde um pouco do sentido também, tu
acaba, né, também (pensando) que tivesse alguém que ir nos vizinhos né, tipo
um quebra cabeça né. Será que ela falou a verdade? Será que ele, né? Porque
tipo assim, que nem, né, a pessoa; todo casal tem filhos, acho que um pouco
do conselho (conselho tutelar) também, acho que seria um pouco a parte do
conselho, que antigamente, da primeira relação minha, a maioria dos casos o
conselho tava presente, né. Tipo eu chegava em casa ela começava comigo de
berro e gritaria querendo me espancar, eu ligava pro conselho e o conselho
vinha atrás, hoje, coisas, que o conselho não faz esse tipo de coisa. Até
comentei com o pessoal do conselho, acho que é da jurisdição deles, né, ir
atrás quando né, ainda mais quando se tem uma criança, né. No lar.
E: O senhor se sente injustiçado pelo que aconteceu?
A: E bastante, só que assim, a gente... Tu vai provar!? Né. Até tu provar,
demora, né. A vida vai indo e tu fica com esse trauma também, né. Ah, a justiça
só tá a favor da mulher. E do homem, né!? Não vou dizer que eu sou um anjo,
né. Mas sou uma pessoa trabalhadora, uma pessoa honesta, não sou um
“qualquer um”, né. Eu acho que também merecia um pouco do olhar da justiça,
né, em sentido sobre isso, né.
E: Quais foram as dificuldades ao entrar no grupo?
A: A primeira dificuldade minha foi por causa do trabalho, né. Porque até um
dia que eu tive era longe e não consegui chegar porque eu tinha que, né. E era
obrigatório participar, e não participando, eu taria também negando e
mostrando também pra própria justiça que eu era essa pessoa mesmo; que
eles tão me condenando. Mas não tive tanta dificuldade assim. Claro a gente
fica naquele anseio: “ah, o que que eu vou falar, o que eu não vou? Será que
isso vai ter consequências do que que eu vou falar a verdade?”. Que nem eu
comentei pra juíza: “Ó, eu sou hoje uma pessoa de quarenta e cinco anos. Não
sou um “piá bagaceira”, não sou qualquer um e não tenho esse costume de me
apresentar para justiça, também como um santo e também como uma pessoa
que, né, imprestável, né, uma pessoa que não presta.
E: E com relação aos assuntos abordados, houve dificuldades durante as
abordagens?
A: Teve um pouquinho, mas depois eu pensei assim: “não adianta eu vim aqui
mentir, né.”. Se aconteceu, aconteceu, né. Um dia, né, a própria justiça vai ter
que correr atrás de provas concreta, né. Porque não é porque a lei é a lei, vai
te acusar, vai te ferrar, vai te botar num “poço” lá e te trancar lá, e pronto, sem
ter provas né. Porque hoje em dia precisa de provas, pra chegar, né. Não é tipo
assim ó eu chegar ali (e) dizer: “ah, porque o fulano disse que é traficante e
tal”, como a prima dela me falou do atual dela...mas olha, pra mim, claro
referente a minha pessoa, tu sabe como que tu tem que ser na vida, né. Mas
eu aprendi (no grupo) coisas que já sabia, né. Eu comecei dai, pôr em prática
também, porque as vez tem muitas coisas que tu sabe como que tu tem que
ser e coloca em prática. Tu fica ali: “ah, porque o homem é homem, o
homem que manda na casa e pronto”. Só que hoje em dia, não é ponto de
vista do homem e coisa, tem lei pra isso, já pra evitar do homem ser
machista, né, e coisa e tal, que a mulher hoje em dia é independente e
coisa e tal. E aprendi, claro eu sabia depois, mas a gente não botava em
prática. E com uma pessoa, melhorou a vida da pessoa, tudo, né. Hoje pra
pessoa ser desvalorizado, sabe e isso que coloca mais, não sei se pra justiça é
esse ponto de vista, mas pra gente, hoje, eu como, né, homem hoje tenho filho
e sustento. Assim, é triste pro homem porque que nem eu falei a lei ainda tá
mais a favor da mulher, dos “atos”. A mulher tando certa ou não tando a lei
sempre vai favorecer a mulher e não o homem, e eu fiquei triste nesse ponto
de vista, né. Aprendi também que não é só eu que me passei. Que eu, no meu
ponto de vista: “ah, era só eu que tava passando por isso” né. E no grupo eu vi
que não era só eu que tava passando pelo mesmo ponto de vista, né...eu falei
até pra os que tavam vindo no psicólogo, tudo né. Disse assim, ó “o casal,
muitos diz que ‘ah, porque a mulher se queixa, o homem tem que chegar em
casa, tem que dar amor, tem que dar isso, tem dar aquilo.”...disse: “’tu’ tá
cansado. De repente o teu serviço, tu tá cansado, exausto. E a mulher quer,
né. Porque ela quer se sentir que tu é dela e que se tu não chegar e não
agradar, tu não mostrar o agrado pra ela: “ah, porque tu tava camangueando”,
e a briga, tudo isso; e o que acontecia comigo, nas minhas duas relações o que
mais aconteceu foi isso, né.

B
E: Através de qual órgão você conheceu a prática reflexiva (“grupo de
homens”)?
B: Eu fui acusado, daí teve uma separação. Daí eu fui buscar minhas crianças,
né, na casa. E daí ela foi lá e fez um registro de que eu tinha agredido ela, mas
não aconteceu. Ela fez um registro, né, que eu tinha agredido, ter invadido a
casa agredindo ela, e daí entrou uma medida protetiva, né. E daí eu fiquei
noventa dias sem poder chegar cem metro, uns três mês. Daí teve uma
audiência, né. E daí na audiência eu esclareci tudo; que não tinha batido,
porque eu tinha vídeo tudo, quando eu fui entregar as crianças eu filmei tudo,
né, não teve agressão, não desci do carro momento algum. E daí isso na
audiência encerrou e daí caiu (a) medida, eu voltei com as visitas, normal.
E: Foi a primeira vez que houve essa medida entre vocês?
Sim. Eu não lembro se teve mais alguma, eu acho que teve mais alguma,
assim só que não foi comprida assim, tanto tempo, né. Daí essa entrou pra eu
ficar, por que tipo assim, ó. Eu cheguei na casa dela. Eu vou contar desde o
começo. Eu cheguei na casa, né, pra pegar as crianças. E daí eu cheguei lá na
casa e ela começou a filmar, ela e o esposo dela. Com quem ela tá agora...daí
quando eu coloquei as crianças no carro, eu fui pra entrar no carro e ele disse
pra mim assim, ó, porque faltava uns cinco dias pra mim depositar a pensão,
né: “ah, tu podia depositar o dinheiro da pensão pra eu sair hoje de noite com
ela”. E daí, sabe, isso me deixou bem (irado). Daí eu peguei, coloquei as
criança pra dentro do carro, saí e ela tava me filmando no portão. Eu passei por
ela, fui lá, dei um tapa no telefone dele e disse assim: “tá, mas escuta, a
pensão é pra quem? É pra ti ou pras criança?”. Daí tá, né. Demos uma
discutida e daí eu voltei pro carro, levei as criança lá pro meu pai onde elas
ficavam, saí de lá, fui na delegacia pra registrar o fato que tinha acontecido. Tá,
daí cheguei lá e daí eu tava conversando com o “brigadiano”; dai ela chegou,
também. Daí conversei, conversei. E um brigadiano conversou comigo e um
com ela. Daí eles apazaguaram, apaziguaram; ninguém registrou nada, sabe.
Daí ficou por isso dali. Daí eu fui embora e dai de tardezinha eu fui levar as
crianças de volta. E daí eu tinha uma companheira também comigo e daí eu
disse: “ó, eu vô indo entregar as criança, tu pega e filma tudo a entrega das
criança pra não dar problema pra mim”. Como uma prova. Tá, daí a gente
passou lá, peguemo um espetinho pras criança, cheguemo na casa, ela saiu.
Eu nem desci do carro, só abri uma porta pras crianças descer e me despedi
deles, e daí ela disse umas coisa lá, que até tá esse vídeo tá com a juíza, né. E
daí ela disse umas coisas, eu nem desci do carro, eles desceram e eu segui.
Vim embora, daí ela não se deu por satisfeita, daí ela pegou, saiu dali foi lá em
outra cidade registrar a ocorrência. Porque aqui não quiseram registrar de
novo, daí ela pegou saiu daqui e foi lá e registrou lá. Daí outra juíza que não
tava a par de nada, né. E na hora entrou medida protetiva pra ela e pras
criança, daí, noventa dias. Daí quando chegou ali; passou um pouquinho dos
noventa dia aí chegou a audiência. E aí a juíza tirou a “medida” das criança.
Dela também, não quis mais renovar pra ela a medida, né, porque foi tudo
explicado. Porque ela pediu pra renovar e daí a juíza não (quis), porque eu
tinha um vídeo que não houve agressão não houve nada, né. E daí ela tirou e
seguiu as visitas. Só que daí, na audiência, a juíza estipulou, tipo três sessão
pra mim aqui.
E: Então após isto você foi encaminhado ao grupo como pena?
B: Sim, (para) os dois e daí ela (juíza) disse: “três sessão pra mim. Três sessão
pra ela.”.
E: Como você enxergou a abordagem com relação ao grupo?
B: Pra mim serviu bastante, sabe. Tipo, outra coisa que eu era meio assim,
como é que eu vou explicar; eu era meio machista, sabe. E o grupo ali fez eu
pensar bastante coisa diferente. Um exemplo assim ó; até dei no grupo
também. Eu ia buscar minha pequena na escolinha, e daí tem um casal de
mulher, sabe. Duas mulheres. E elas são casadas e tem um filho, sabe. E daí
eu vi as duas sair de mão dada com aquela criança, sabe, pra mim eu achava,
tipo, pra mim: “ah, mas isso na frente da minha filha, né”. E daí eu faço
acompanhamento psicológico nove meses, mas eu já fazia acompanhamento
de psiquiatra, já dois anos. Eu tive uma depressão muito forte e tenho algumas
semanas que fico bem pra baixo, fico mal. Mas eu tô tomando os remédio tudo.
E daí tipo no grupo como eu era machista, daí no grupo entrou assim os
negócio de machismo, sabe. Daí minha opinião mudou bastante. E outra
também do grupo ter que, quando a gente tá discutindo, que nem, a (exemplo),
tava discutindo pega e tentar sair, dar um tempo, conversar num outro dia ou
na outra semana, sabe. Isso é uma das coisas que foi conversado ali que
serviu. Deixar as vez de falar, tipo, se ela tá com raiva, tu tá com raiva também,
né. Não ter aquele atrito de frente ali na hora, né.
E: Quais foram as dificuldades sentidas, se houveram, com relação ao grupo?
B: Eu acho que não tive assim, só eu me sentia; eu pensava assim que eu tava
injustiçado ali por vir num negócio que foi estipulado por causa da medida, mas
eu nem poderia ter levado esta medida, mas eu gostei de vir no grupo. Tipo
assim, é uma coisa que somou pra mim, mas assim, eu ainda acho uma
injustiça com o que aconteceu, né. De eu ficar os noventa dias sem ver as
criança, eu tive que aumentar a dose de remédio no último mês alí, e até vim
conversar com as gurias assim, vim pedir se tinha como fazer alguma coisa,
sabe, mas não tem, tipo, é uma determinação na juíza não tem o que (fazer)
[...] eu acho que esse grupo tá trazendo eu e ela mais perto, sabe, assim, tipo,
pra (voltar) dialogar. Sem ser na frente de uma juíza [...] e no grupo quando vê
tem um ali mais injustiçado que tu.

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