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Dedico para aquela

Que por anos que se passassem


Que a tenha machucado
Por algum motivo na qual desconheço
Ainda me perdoa.
Aonde eu estou? Finalmente percebo a existência do tempo, e não estou apenas existindo perante
o espaço. Sinto-me desesperado, e pequenas lágrimas em meus olhos que molham e escorrem por meu
rosto. Fico me perguntando para onde eu vou, será se eu vou para o céu ou inferno? Por quê eu estaria
pensando em algo desse tipo? Eu nem mesmo acredito em Deus. E se for um sinal de que na verdade ele
existe sim? E que deveria começar a acreditar nele. Por quê eu existo? Eu não sirvo pra muita coisa, eu
apenas estou aqui na terra, e em nenhum momento pedi para nascer, então tecnicamente não é culpa
minha... né? Na verdade não sei de nada.
Acho que eu devo terminar logo o meu trabalho e ir para casa. E então prontamente seco as
lágrimas que escorreram dos meus olhos e termino de digitar miúdas palavras chatas em um documento
em branco no computador. Envio por e-mail o documento para minha chefe. E acaba de dar seis horas da
tarde, já posso voltar para casa. Arrumo minhas coisas e desligo o computador, e ando em direção ao
elevador do prédio, pressiono o botão para descer e novamente fico entupido de diversos pensamentos,
alguns estranhos outros simplesmente fico pensando... e se – Ei por favor pode segurar o elevador para
mim? – antes que pudesse completar o que estava a pensar sou interrompido. Uma mulher atrás de mim
que possui os cabelos pretos longos, e levemente ondulado nas pontas, pele clara, olhos castanhos claros e
vestindo uma roupa de escritório comum, saia preta e terno preto.
- Tá – Respondo de forma curta e grossa. Eu certamente estou com muito sono pra
responder de forma mais educada.
Ela então volta para sua mesa e pega sua bolsa, marrom de couro. Aparentemente ela ganha muito
bem. Quer dizer, geralmente esses tipos de bolsa costumam ser caras. O elevador chega, e entro nele. E
como pediu-me para segurar a porta. Seguro. E logo ao fundo do escritório. Ela vem correndo em direção
a mim. Quero dizer, em direção ao elevador.
- Me desculpe por ter feito você segurar a porta.
- Não tem problema. Térreo? – Pergunto com o dedo indicador apontando para o painel
de botões do elevador.
- Sim, obrigada – Ela me responde com um sorriso no rosto.
E agora acontece a coisa que eu mais odeio no mundo. Silêncio constrangedor, não sou só eu que
odeio isso né? Fora isso me pergunto, que tipo de gente fica sorrindo às seis horas da tarde tendo acabado
de trabalhar mais de dez horas. Tenho quase certeza que foi apenas um daqueles tipos de sorriso que a
gente só dá para não parecer mal educado. Nossa eu acho que tenho que parar de ser tão ignorante e
ranzinza. Será que acontece alguma coisa na nossa cabeça quando completa trinta anos? Não faço ideia.
Por quê esse elevador não chega logo?
- Com licença, seu nome é Gabriel Valente, certo? – e pronto acontece a segunda pior coisa
na minha vida, é quando tentam puxar assunto justamente quando eu não aparento querer conversar.
- Ah? Sim é o meu nome por quê? E como você sabe meu nome? – questiono sobre. E na
minha cabeça claramente infantil, se passa aqueles tipos de filmes de espião onde acontece tipo: “ Gabriel
Valente, certo?” – aí a resposta: “Ah? Sim sou eu. Como você sabe meu nome?” então a última fala: “
Precisamos de você para uma missão super secreta, e apenas você pode concluí-la”.
- Eu fui contratada há dois dias, e me disseram que você é o meu chefe, antes da Verônica,
claro – e toda minha fantasia sobre filme de espião. Foi jogada no lixo. Não que eu tivesse achado que
realmente seria isso que aconteceria, e só que seria bem legal. E também poucas pessoas chamam-me de
chefe. Com certeza não sou o tipo de pessoa muito responsável, e, muito menos um cara de olhar a
primeira vista e dizer “ nossa olha aquele cara ali, ele deve ser muito bem sucedido onde trabalha”.
- Ah! Sim desculpa não ter lembrado de você, eu não sou responsável por contratação – na
verdade eu acho que deve ter sido eu que a contratou, mas eu não podia falar que eu não lembrava dela.
- Não! Tudo bem, prazer. Meu nome é Gabriella Portuz – Diz isso enquanto estende a
mão direita para mim em forma de comprimento.
- Prazer. Meu nome é... bom, você já sabe na verdade – Por algum motivo enquanto eu a
respondo e comprimento a mão dela, fico um pouco envergonhado, passando a minha mão esquerda
pelos meus cabelos cacheados como se estivesse tentando me esconder... dela? Por quê? Geralmente eu
não tenho medo nem vergonha de falar com mulheres. Não que eu fale com muitas na verdade, eu não
namoro, muito menos sou casado. Mas enfim. Eu ainda não sei porquê fiquei com vergonha.
O elevador então chega. Finalmente. Ela toma a frente e sai de dentro do elevador. Anda
sutilmente calma e sem pressa. Dá uma última olhada dessa vez de fato para mim, e, acena com a mão em
minha direção como gesto de despedida. Logo aceno de volta, e me pergunto quem é esse mulher? Que
tipo de pessoa hoje em dia é assim tão educado, formal e gentil. Para mim em específico é bem estranho,
visto que eu não sou o cara mais simpático do mundo. Entretido no que estava a pensar, quase perco o
tempo do elevador, e por poucos segundos não fecha na minha cara.
Saio do prédio e peço um carro, em um aplicativo para ir de volta para casa e tentar relaxar um
pouco. Aquela mulher (minha chefe) quase chega a me torturar de tanto trabalhar. Eu sou uma pessoa
importante dentro do trabalho mas não adianta muita coisa ter um cargo, se não tenho o devido respeito.
Ao menos por tanto trabalho. E ter algo que algo que as pessoas chamam de “poder hierárquico” que por
mais que a parte hierárquica não seja muito respeitada. Ganho cerca de uns 12 mil por mês. Bastante só
para mim. Muito na verdade, eu não moro em uma casa muito chique nem nada do tipo. Moro em uma
casa não muito grande com dois quartos, cozinha, um banheiro e uma sala. Para mim com toda certeza é
mais que o suficiente. Para alguém que quando criança morava praticamente no meio do mato com minha
mãe, avó, avô e minha irmã tendo apenas dois quartos dentro da casa e a cozinha era literalmente colada
na sala. E o banheiro? Ué. Mato. É muita coisa o que tenho hoje em dia.
Fazia um bom tempo em que não pensava em minha família principalmente a minha irmã, que de
toda minha família é a que está viva. Talvez algum dia irei visitar ela, talvez também a minha mãe,
infelizmente não pessoalmente.
O carro do aplicativo chega. Antes de entrar como de costume pergunta-me se sou o Gabriel. Na
qual ele viu no aplicativo. Respondo que sim, entro no carro, e vou até a minha casa. Após alguns minutos
depois do motorista dirigir chego à minha casa. Surpreendentemente ao longo do caminho não tenho
pensamentos tortos, apenas olho para o céu. E a sua imensidão, só o universo e como é extremamente
grande, e aquela ideia em minha cabeça de que não sou ninguém vem a tona novamente. Antes de descer
do carro, pago o motorista que ao longo da viagem não falou absolutamente nada. É exatamente esse tipo
gente que eu gosto.
Desço então do carro e vou em direção à minha humilde casa, feito como qualquer outra casa por
aí que seja brasileira. Não aquelas casas feitas de madeira que os americanos constroem. De fato eu não
entendo aquilo. Entro em minha casa, tiro a minha roupa e vou direto tomar um banho. Entro no
banheiro e ligo o chuveiro, controlo o calor dele para muito gelado. Começo a tomar banho, passando
lentamente as mãos pelos meus cabelos e coloco um shampoo extremamente barato que foi a primeira
escolha mais barata que achei na farmácia. Fico à passar o sabonete pelo meu corpo. E após alguns
minutos. Termino de tomar banho. Saio do box do banheiro, e, vou para o meu quarto pego algumas
roupas, jeans preta, moletom de zíper preta, tênis também preto, e, para finalizar pego uma máscara de
tristeza do teatro, e a deixo sobre o meu sofá. Ligo minha televisão. Nela está passando uma notícia no
jornal sobre uma série de assassinatos que ocorrem todo sábado da última semana de todo mês. Os
policiais ainda não conseguiram ligar o assassino a ninguém, a única coisa que se sabe é de que ele com
toda certeza é um serial killer. Responda sozinho para a televisão. Nossa como pode esse tipo de gente
existir, pelo mundo? Que coisa terrível. A matéria continua e a apresentadora do jornal diz que
aparentemente, esse serial killer mata apenas por pura diversão visto que nenhuma das vítimas tem alguma
ligação entre elas. Uma vez vi em um jornal que serial killers fazem o que fazem por um motivo, talvez a
polícia só não tenha achado nada ainda. Mas acho que todos tem uma razão para tal ato, mesmo que
extremamente bizarro.
Bom eu sou apenas um civil, na qual não possui poder algum para ajudar em algo. Desligo a
televisão, e, então pego a máscara de tristeza, a coloco em cima de minha cabeça, e desço as escadas [...]

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