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NOVA CULTURA

Charles Guimarães Filho


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INTRODUÇÃO

Nova Cultura

São roteiros literários de filmes propostos a exibir


cinematograficamente a Cultura Paradisíaca baseada em parte
na vida do Messias e principalmente na sua obra, isso tudo na
maior parte em aspectos ficcionais como teosóficos.
Ela compreende cinco roteiros:
I) Um Ponto na Medicina
II) Religião
III) Messias
IV) Filosofia e Colunas
V) Poderes e Bens

Messias

Seu nome religioso é Meishu-Sama e o seu nome civil é


Mokiti Okada. Este nasceu e viveu inteiramente no Japão entre
1882 e 1955, tendo se dedicado a proporcionar aos seres
humanos os instrumentos culturais para o estabelecimento de
uma vida repleta de saúde, prosperidade e paz, plena de
verdade, bem e belo. Em outras palavras, se empenhado em
propiciar uma nova cultura com o objetivo de edificar cidades
destituídas de doença, pobreza e conflito, desprovidas de
falsidade, maldade e fealdade, a fim de construir o paraíso
terrestre.

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Autor do Trabalho

É um seguidor do Messias, que tem se esforçado no


sentido de reunir a vida e obra deste e ordená-la
sistematicamente, visando contribuir para uma iniciação ao
acesso à cultura do século XXI.

Cultura Paradisíaca

É a coleção, elaborada por este seguidor em 2003,


compreendendo três volumes:
1º) Religião, que permite o aprofundamento nas
mensagens divinas relacionadas ao paraíso terrestre,
destacadamente o envio do messias;
2º) Messias, que possibilita o reconhecimento do salvador
que veio à Terra para concretizar o plano divino fundando uma
ultra-religião;
3º) Ultra-Religião, que desvenda a filosofia religiosa do
messias assinalando as três colunas da salvação (Johrei,
Agricultura Natural e Belo), os três poderes (Governo, Economia
e Ideologia) e os três grandes bens (Saúde, Prosperidade e Paz).
Isso sem falar nos três fins (felicidade, cidade e paraíso).

Roteiros de Filmes

Um ano depois, em 2004, ele redigiu todos os roteiros


iniciando com “I) Um Ponto na Medicina” devido ao
ensinamento do Messias intitulado “Século XXI” que diz:
“Quando entrei estavam passando um filme, e era muito
interessante. (...) O filme japonês narrava a vida de luta de um
personagem que pode ser considerado cientista religioso, que
revolucionou a medicina e resolveu todas as doenças.”
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Sinopses dos Roteiros

Um Ponto na Medicina

História de Mokiti Okada (1882-1955) enquanto um


cientista religioso que revolucionou a medicina enfrentando
médicos e segurança pública, bem como sua continuação
ficcional por um período de sessenta e sete anos após a sua
morte (1955-2012).
Seu conteúdo para ser compreendido é necessário, antes
de mais nada, percebê-lo como a narração de um filme dentro
de um filme que por sua vez está dentro de outro filme.
O filme mais abrangente - aquele que vai desde a
primeira cena até a última (isto é, da cena 1 até a cena 120)
contado por um narrador que relata a existência do espírito de
Mokiti Okada, um pouco antes mesmo de seu nascimento, até
muito depois de sua morte. Isso pode ser bem percebido para
aqueles que se colocarem na posição deste cientista religioso e
prestarem atenção na primeira e última cena.
O filme menos abrangente - aquele que vai desde a cena
2 até a 116 (com exceção de algumas cenas) – é a exibição
cinematográfica realizada no século XXI, que mostra a vida e
obra de Mokiti Okada enquanto aquele cientista religioso que
revolucionou a medicina. Mas, uma exibição cinematográfica
narrada por Mary (um personagem que fez parte daquela
história) através do narrador.
O filme intermediário - aquele que vai desde a cena 2 até
a cena 119 (sem nenhuma exceção de cenas) – é o filme que
mostra a projeção do filme menos abrangente, inclusive os
expectadores que assistem tal exibição cinematográfica, com
algumas de suas recordações e de suas ações depois de
terminada a sessão. Entre os expectadores, além de Mokiti
Okada, tem-se, nitidamente na cena 95, o Doutor Tatsukiti com
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suas recordações (cena 106) e saída após a exibição (cenas 117,
118 e 119). Obviamente que é descrito pelo narrador.
Seis personagens deste primeiro livro estão envolvidos
nos demais roteiros literários: Mokiti Okada (livro 2 e parte do
livro 3), Dr. Tatsukiti, Agri e Bel (parte do livro 4), Dr. Peter e O
Servidor (parte do livro 5).

Religião

História que vai de 1955 a 2012. Inicia no céu com o


Messias ensinando sobre religião, mas, que diante de um apelo,
vai ao inferno para salvar, acompanhado de um espírito novo.
Chegando a este plano inferior se depara com revelações,
enfrentamentos e encaminhamentos, fazendo esse espírito novo
encarnar, pois aquele a quem procuravam salvar já estava
encarnado no Mundo Material. Encontrando-o e querendo
voltar ao plano superior acompanhado deste, só que pela trilha
evolutiva mais rápida, eles se aprofundam na visão dos
mensageiros divinos que anunciam o plano divino relacionado
com estabelecer o paraíso terrestre e, principalmente, com o de
enviar o messias. Mais precisamente, eles o fazem buscando as
verdades nas religiões existentes.
Dois personagens deste segundo livro estão envolvidos
nos dois últimos roteiros, em linhas gerais: o espírito novo (parte
do livro 4) e aquele a quem procuravam salvar chamado de
Dono (parte do livro 5). Espírito novo é tetraneto do “Dr. Peter”,
bisneto de Dr. Tatsukiti e pai de Agri;enquanto Dono é avô do
“Servidor” e bisavô de Bel (ela sobrinha do “Servidor”).

Messias

História que vai de 1882 a 1955. Inicia com o nascimento


de Mokiti Okada e termina um pouco depois de sua ascensão,
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acompanhado nestes dois momentos pela Grande Confraria
Branca. Na vida terrena ele encara os obstáculos postos por
Satanás por meio da imprensa e sacerdócio, mas que consegue
ser reconhecido como o Salvador do Mundo e o ultra religioso
alicerçado na cultura com suas colunas de salvação, poderes,
bens e fins voltada para a missão de concretizar o Paraíso
Terrestre.
Um personagem deste terceiro livro está envolvido no
último roteiro: a jornalista diabólica Gaara (na parte final). Gaara
reencarna como Arashi.

Filosofia e Colunas

História que vai de 1968 até 2012. O espírito novo


expande a ultra-religião com a explanação da cultura, filosofia,
juntamente com seu bisavô desenvolvendo a ciência, a energia,
o Johrei, com seu filho a agronomia, a agricultura natural, e com
sua nora, a arte, o belo. Eles fazem essa difusão confrontando a
submissão, a perdição, a desaparição e a destruição
provenientes de diversas manifestações de Satã em solos
comunistas e capitalistas.

Poderes e Bens

História que vai de 1952 até 2021. Aquele que terminou


sendo salvo mais o seu filho e o seu neto (educador e presidente
mundial) dão um passo decisivo para a nação e o governo
universais, o nascimento do novo mundo, da nova civilização, da
grande arte de Deus. Isso sem contar com a reencarnação de
Peter. Para isso travaram combate de idéias com Judiciário,
Mercado Financeiro e Sistema Educacional.

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Observações

1ª) Cada um destes cinco livros (sempre com 36


personagens, incluindo o narrador) possui 130 páginas com a
mesma estrutura: ter 120 cenas subdivididas em quatro partes
iguais de 30 páginas denominadas e distribuídas assim: 1ª) Início
(1-30), 2ª) Meio 1 (31-60), 3ª) Meio 2 (61-90) e 4ª) Final (91-
120);

2ª) Até o presente estes roteiros não foram temas de


nenhum filme, apenas foram realizados duas leituras
dramatizadas com “I) Um Ponto na Medicina” e “II) Religião”,
apresentadas respectivamente em dezembro de 2005 e junho de
2006 no auditório da Área Rio de Janeiro da Igreja Messiânica
Mundial do Brasil;

3ª) Como foi mencionado nem tudo é verdade e


realidade, mas sim uma narração com imaginação e invenção em
termos dos personagens e fatos como: O Servidor é uma junção
de personalidades que conviveram com Meishu-Sama, qual seja
Shingiro Okaniwa + Motokiti Inoue + Keijiro Takeuti + Reverendo
Sossai Shibui (faleceu três meses após a ascensão de Mokiti, aos
69 anos de idade); nomes não revelados, Reverendo da Oomoto
= Unissaburo Deguti; nomes trocados, Doutor Peter = Dr. Shota
Matsumoto, Nicholas = Thoams, Chefe da Mitsukoshi = Kogiro
Matsuda; quem estava no lago Biwa era o Onissaburo Deguti e
não Mokiti Okada. Teruko Horiuti conheceu Mokiti em Julho de
1940 e não depois da Guerra, bem como ela faleceu aos 80 anos
no dia 01/01/1980 e não estava viva em 2012;

4ª) Por os nomes verdadeiros não quer dizer que não se


teria problemas com os fatos (como não foi Dr. Shota
Matsumoto que assistiu Mokiti Okada dizer “Cortaram-me um
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dos meus braços”, mas sim a sobrinha de Taka) ou com o enredo
(Dr. Shota Matsumoto não nasceu e nem foi para os Estados
Unidos mais tarde). Bem como: Gerente da Loja Okada = Takashi
Nagashima (só depois de 1923); Hikoitiro, falece em 1920 e não
se torna um sessentão responsável pela edição do jornal
“Hikari”. Fora por se ter realizado o primeiro filme em 2004,
quando se estava em 2006, trocou-se 2007 que seria o ano que
viria, para 2012, logo se passou de 1907 para 1912, o que
provocou um erro: Tori faleceu em 1912 e não há cinco anos
atrás que seria em 1907. E agora que se está praticamente em
2012, como passar para anos mais tarde sem aumentar os
erros?;

5ª) Caso realmente medindo esforço para entender os


filmes e não conseguir, se oferece na página seguinte dados
sobre os personagens. Mas, evite-os consultá-los para poder
desfrutar o decifrar de enigmas.

Encerra-se com gratidão à Deus, o Messias e aos meus


antepassados pela permissão e proteção de realizar estes
roteiros de filmes. Agradecendo a Igreja Messiânica Mundial
pela aprendizagem que me proporcionou condições a elaborar
tais redações. E finalmente, ao Presidente desta Igreja, o
Reverendíssimo Tetsuo Watanabe, pelo seu pioneirismo no
Brasil com suas experiências que foram inseridas neste trabalho.

Rio de janeiro, 23 de dezembro de 2011

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Geração 1 2 3 4 5

Dr. Tatsukiti Agricultora Menino Silêncio Deus Agri


Emiko
Yamazi Yana Yeshua Bel
Dono “Servidor”
Gaara Arashi

1916 44 4
1916 4
1916 0

1936 64 24
1936 24

1939 67 27 0
1939 27 3

1950 78 38 11
1950 38 14

1955 83 43 16 0
1955 43 (+/Inferno) 19

1959 87 47 20 4
1959 Hibr. (Cão) 23

1961 89 49 22 (+) 6
1961 Cão (Enc.) 25 0
1961 45 (+)

1968 96 56 13 (Aprimoramento.)
1968 56 (gente) 32 7

1991 119 79 36 (+) 0


1991 79 55 30 0
1991 0

2007 135 95 16
2007 95 (+) 71 46 16

2012 140 (+) 100 21


2012 76 51 (Cand. Pres.) 21

2016 104 (+) 25


2016 80 (+) 55 (Presid.) 25

2021 30
2021 60 (P. Mund.) 30
2021 30 (Se.M.)

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Atenção: Caso seja mesmo um bisbilhoteiro, aviso que
existem mais mistérios como: Quem é o Messias? Como foi sua
vida e obra no século XX? Alguma vez ele foi irmão de Buda
Sakyamuni, Doutor Peter, O Servidor e a jornalista diabólica
Gaara? Ao começar o primeiro volume logo vai se deparar com
um mistério ao ler: “O globo terrestre está iluminado... do espaço
escuro é observado... por um imperceptível ser revelado ... que
expressa o que lhe é tão aguardado.”

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NOVA CULTURA

I
UM PONTO
NA MEDICINA

Charles Guimarães Filho


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14
INÍCIO

15
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001. EXT. TERRA - DIA

O globo terrestre está iluminado... do espaço escuro é observado... por


um imperceptível ser revelado ... que expressa o que lhe é tão
aguardado.

MOKITI OKADA
(apenas a voz, narrando)
Eu estou prestes a renascer neste mundo.

O ser audível se manifesta visível como um PONTO MAGENTA


LUMINOSO que se põe EM MOVIMENTO. Navegando pelo espaço
escuro na direção do planeta Terra até entrar no seu firmamento.

MOKITI OKADA
(apenas a voz, narrando)
Finalmente, renasci no planeta Terra em 1882, com o nome de Mokiti
Okada.

CORTA PARA

002. FIRMAMENTO - ENTARDECER

CÉU. Surge a legenda “ANO DE 2012”.


OUVIMOS, 130 anos depois, uma VOZ secular, sem que se veja a
fonte que a produz, porém de nome conhecido, uma denominação
popular e de grande reputação: MARY.

MARY
(off)
Meu nome é Mary, sou norte-americana, minha profissão é repórter.
Esqueci de dizer meu estado civil, faz muito que sou viúva.
A minha finalidade nesse filme é exibir um personagem chamado
Mokiti Okada que nasceu em 1882, mas realizou sua obra no século
XX. Ele foi o que poderíamos chamar de um cientista religioso do
Oriente, que revolucionou a medicina e teve uma vida de lutas
incessantes buscando solução para o problema da doença.
Uma das minhas funções nessa fita cinematográfica é iniciar a sua
apresentação. A voz de centenária talvez não ajude muito, mas creio
que possa ser compensada pela razão, sentimento e vontade
empreendida.

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A forma que escolhi... bom isso vocês vão olhar, escutar, se
emocionar, pensar, e, sobretudo, se espiritualizar. Se vão ver, ouvir,
impressionar, refletir, entusiasmar de maneira elevada isso é questão
de nível espiritual, inclusive do próprio filme.

A anciã faz uma boa pausa e começa a narrar o que se passou há ...

MARY
(off)
... cem anos atrás eu nasci nos Estados Unidos. Nessa mesma época,
num país distante...

CORTA PARA

003. EXT. HOSPITAL DO DOUTOR TATSUKITI - AMANHECER

Legenda: “JAPÃO – 1912”. MOKITI OKADA, muito doente, encontra-se


numa maca que está sendo empurrada apressadamente por um
enfermeiro, seu quadro parece ser grave. Agitada está sua esposa
TAKA acompanhando esta correria.

MARY
(off)
... lá está nosso personagem deitado naquela maca, ao seu lado está
sua esposa Taka Okada. Eles estão atravessando uma rua para entrar
no hospital e ela como se pode notar é alegre e tranqüila, mas a visão
de Mokiti é de tristeza e medo porque ele está olhando e pensando...

MOKITI
Ah! Do jeito que estou com esse tifo intestinal poderia temer ser esta a
última vez que eu vejo gente e caminho. É claro que não consigo
deixar de ter visões de cemitério e já cheguei até externar meus
últimos desejos.

MARY
(off)
Quando de repente a sua percepção e imaginação se alteram, a sua
compreensão muda.

MOKITI
Mas isso tudo é bobagem. Estou indo num dos melhores hospitais do
mundo, do famoso médico doutor Tatsukiti, do meu particular amigo.
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Ele certamente irá me tratar e em poucos dias estarei de volta,
trabalhando na minha próspera empresa.

MARY
(off)
Sua mente paralisa, porém seu corpo desperta ao ver na entrada do
hospital aquele idoso tão querido, o doutor Tatsukiti.

DOUTOR TATSUKITI correndo na direção da maca. Ainda longe grita.

DOUTOR TATSUKITI
Aqui não enfermeiro, pode voltar.

Já próximo e olhando para Mokiti.

DOUTOR TATSUKITI
Mokiti seja compreensivo. No estado em que você se encontra, não há
esperança de cura. Caso eu interne, uma pessoa que sei estar
condenada, meu hospital perderá a confiança de que desfruta, por isso
não posso interná-lo. Vá com Deus, meu amigo.

FADE OUT

004. SÉRIE DE PLANOS DA NATUREZA – AMANHECER

FADE IN

Quatro anos se passam, estamos nos inícios de 1916.

MARY
(explanação, ainda em off)
Num lindo CÉU, magnífico SOL desponta, e, com ele, ambiente
ignorado vai sendo iluminado, aquecido e magnetizado. Do alto, esta
estrela apresenta admiráveis aprumados louros que, no baixo, se
percebem serem imponentes MONTANHAS banhadas de luz. Em
seguida, ao lado destas cordilheiras raios solares mostram um
formidável nivelado azul que, no mudar de lateralidade, vê-se tratar da
imensidão de um MAR elevado pelo calor. De perto, refletido nas
águas, o astro do dia exibe fascinante coloração verde, como se fosse
uma mistura de matizes dos áureos maciços e águas oceânicas, que,
ao longe, constata-se como uma FLORESTA de exuberante alta
vegetação enraizada em profunda imantação.
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(pequena pausa, a narrativa se altera)
Neste panorama paradisíaco, onde as rochas e o silêncio são
penetrados pelos assovios dos ventos e cantos de cigarras, ecoa um
som. Aparentemente, as pedras se fragmentam, a calmaria se inquieta
e a canção se interrompe. No entanto, isso representa apenas um
susto para a natureza circundante, pois ela rapidamente parece
pressentir que o ruído não lhe é próprio e nem estranho, mais do que
isso ela já tem certeza de que a sonoridade provém de um forasteiro
conhecido APITO.

005. EXT. TREM - DIA

O ritmo da narrativa aumenta um pouco como querendo abreviar o


chegar num local e época, ou seja, a situar o espectador no lugar e
tempo.

MARY
(off)
Apitando, adentra nesta bela paisagem, compartilhando de sua
claridade, ardência e sedução, um comboio de via férrea numa bela
movimentação sinuosa, faz irromper onde e quando se está há um
século atrás.

006. INT. VAGÃO DE TREM - DIA

Sentados em poltronas contíguas, o casal Okada, muito bem trajados.


Na poltrona em frente está o doutor Tatsukiti. Os homens conversam.

MOKITI
Eu fui criado na pobreza, mas sem conflito. Na juventude, quando
pensei em ser pintor, tive problemas na vista, e parei. Por isso essa
minha vista direita é assim, meio fechada.

Olhando para a face do médico.

MOKITI
Essas duas verrugas no seu rosto trouxeram incômodo, doutor
Tatsukiti?

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DOUTOR TATSUKITI
(desconversando)
Meu nome não era para ser Tatsukiti, era para ser Lucas. Meu pai era
um japonês cristão e queria a toda força que um de seus filhos fosse
médico que nem o seu avô Simão.

MOKITI
(entrando no assunto com sua problemática)
Acredita que, com esses trinta anos de idade, eu nunca entrei num
templo?

DOUTOR TATSUKITI
(perplexo)
Num país de budistas e xintoístas, isso é inacreditável! Mas por quê?

MOKITI
É que eu acho tolice adorar ou rezar. Para mim Kannon e Amida só
existem na imaginação do homem.

DOUTOR TATSUKITI
Mas, Buda? Cristo?

MOKITI
Não importa, se a divindade tenha existido ou se é fruto de fantasia
humana. Para mim, adorar é como se não passasse de uma idolatria; o
rezar, de uma covardia. Note doutor que nações possuidoras de muitos
templos estão em declínio.

DOUTOR TATSUKITI
A senhora Taka concorda com a opinião de seu esposo?

TAKA
(não omite opinião, procura apenas favorecer seu marido)
Mokiti, embora ateu, sempre foi muito altruísta. Mensalmente contribui
para o Exército da Salvação, onde o sacerdote sempre lhe pergunta:

(imitando voz de homem)


“Por que o senhor contribui, se não é cristão?”.

(rindo, vira-se para o marido)


Aliás, com essa pergunta, o semblante de meu marido se transforma,
parecendo até que vai ter que rezar um rosário. O engraçado é que ele
sempre responde ao sacerdote com a mesma explicação.
21
MOKITI
(ele sabe de cor)
“O Exército da Salvação trabalha para a recuperação de ex-
presidiários. Se não existisse, talvez um deles tivesse me roubado.
Portanto, por ele estar impedindo que isso aconteça, é natural que eu
contribua”.

Todos três rindo.

DOUTOR TATSUKITI
Francamente, nunca conheci uma pessoa assim. Um empresário
comunista, um solitário de Deus acompanhado pelos homens.

MOKITI
O doutor está enganado, eu não sou comunista e nem ateu. Mas
admito que como empresário pense enriquecer em prol da causa
socialista. Confesso também que ajo no sentido de empobrecer o
interesse das pessoas que têm fé em Deus. Talvez não devesse julgá-
las tolas, no entanto, é algo que foge ao meu controle.

DOUTOR TATSUKITI
Não precisa se desculpar. Eu, que sou mais velho, médico famoso e
religioso dedicado, também vejo as pessoas fúteis, superficiais e
vazias. O mundo e a cultura estão ocos.

MOKITI
Principalmente na sua área de trabalho, não é verdade?

DOUTOR TATSUKITI
(assustado e curioso)
Epa! O que acha que está faltando na medicina?

O olhar atento da esposa já não está na conversa, mas sim para fora
da janela do trem.

TAKA
(interrompendo)
Senhores, nós estamos chegando.

DOUTOR TATSUKITI
(suspirando de prazer)
Vocês vão gostar muito desse local de veraneio. Suas águas termais
revigoram, a gente volta com mais riqueza e sem precisar trabalhar
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para isso, sabem?

Novamente todos três riem. Eles se abraçam já com saudade.

007. INT. ESTAÇÃO DE TREM - DIA

O casal Okada desembarca do trem e pela janela deste se despedem


do médico que prosseguirá viagem. Os dois caminham em direção à
saída da estação de trem, passando por pessoas distribuindo folhetos
indicadores de hotéis e passeios. Nesse ínterim, Mokiti e Taka se
deparam com uma ESMOLEIRA grávida estendendo a mão
suplicando: “Pelo amor de Deus, ajude uma tuberculosa.” Eles param
diante da suplicante, com atitudes diferentes. Mokiti remexe nos bolsos
para ofertar-lhe uma quantia, enquanto Taka parece cavoucar nos
seus próprios sentimentos para oferecer-se angústia. Ela está
atentamente observando aquele ventre dilatado e rosto adoecido,
quando se descontrola, fica com receio.

TAKA
(balbucia)
Vida e morte.

Mokiti ao presenciar aquele descontrole, rapidamente procura afastá-la


daquela situação aflitiva.

MOKITI
(tentando acalmá-la)
Taka, meu bem, gravidez é vida, mas doença não quer dizer morte.
Lembra?

Por instantes, a feição de sua esposa afigura não entender bem


aquelas palavras. No entanto, com brevidade sua fisionomia dá sinais
de lembrar de algo e ela põe sua cabeça no ombro do marido
expressando um significativo agradecimento. Ele acaricia os cabelos
de Taka, porém sem deixar de lembrar do diálogo que acabara de ter
com doutor Tatsukiti.

MOKITI
(descontente, falando para si)
Como não! Doença tem levado a morte. Isso porque a medicina está
vazia... escura e gélida. Se tivesse tido tempo de responder a pergunta
do doutor Tatsukiti eu lhe diria o que falta na medicina.
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(pausa)
Falta é inspiração. Essência no seu centro, algo como um sinal
luminoso, aquecido e magnético capaz de preenchê-la com
esplendorosos raios magentas.

INÍCIO DOS CRÉDITOS. TÍTULO DO FILME: UM PONTO NA MEDICINA.

008. EXT. JINRIKISHA - DIA

ENQUANTO SE DESENROLAM OS CRÉDITOS, eles se aproximam de um


JINRIKISHA - um transporte de passageiro com duas rodas, puxado por
uma pessoa. Ao subirem no transporte, o condutor segura as barras
firmemente, coloca o corpo na posição correta de modo a manter o
equilíbrio. EM MOVIMENTO o jinrikisha corre pelo meio da rua só
parando diante da porta de um hotel. O casal desce. Mokiti
abruptamente leva as mãos ao nariz, mas não consegue conter um
forte ESPIRRO. Ele mexe os dedos expressando desconforto com o
fato ocorrido, e, sozinho, passa a andar rápido na direção do hotel,
demonstrando necessidade de ter as mãos lavadas. Taka a tudo
aprecia pacientemente como se a ação ocorrida lhe fosse algo muito
característico.

FIM DOS CRÉDITOS.

009. INT. HOTEL - DIA

A porta de dentro do hotel é aberta, Mokiti avança pelo interior da


hotelaria com olhar expressivo de procura, que só é saciada ao
encontrar o letreiro indicando “TOALETE”. Assim a locomoção se finda
diante da porta do lavatório. Ele aciona a entrada.

010. TOALETE DO HOTEL

Mokiti entra e vai direto para a pia lavar as mãos. Ao ver um homem
enxugando as mãos na toalha, ele abana as suas para secá-las. Tira
seu lenço do bolso, coloca-o no meio da mão, abrindo a porta. Com
essas cuidadosas proteções, deixa claro o seu zelo com a higiene por
temor ao contágio.

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011. RECEPÇÃO DO HOTEL

Ao sair do banheiro, Mokiti avista sua esposa na recepção


conversando com a RECEPCIONISTA DO HOTEL. Ele vem às pressas,
ainda preocupado com aquele espirro.

MOKITI
Nessas termas existem médicos?

RECEPCIONISTA DO HOTEL
Sim senhor, há um médico recém chegado dos Estados Unidos da
América do Norte.

MOKITI
É um médico comum ou um médico cientista?

RECEPCIONISTA DO HOTEL
Ouvi dizer que se formou este ano.

Virando-se para sua esposa revela pelo semblante seu nítido


descontentamento. Retoma seu olhar para a funcionária.

MOKITI
(apreensivo)
O que se há de fazer? Por acaso, hoje tem consulta? Ou melhor,
agora, nesse instante, tem consulta?

RECEPCIONISTA DO HOTEL
Está encerrando, provavelmente, agora só amanhã.

MOKITI
(ansioso)
Onde fica esse consultório?

RECEPCIONISTA DO HOTEL
Fica ali próximo ao Parque.

Deixando suas malas no saguão, segurando o braço de sua esposa,


sai rápido pela porta do hotel sem mesmo dizer obrigado, de tanta
preocupação.

CORTA PARA

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012. INT. CONSULTÓRIO DO DOUTOR PETER - DIA

Uma pessoa, de feições ocidentais, aparentando menos idade que


Mokiti, trajando um jaleco branco, escrito na altura do peito o seu
nome. INSERT: “DOUTOR PETER”. Ele está começando a retirar aquela
roupa alva, dando indício evidente de que está encerrando o
expediente para ir embora. OUVIMOS um barulho de BATER NA PORTA,
esta se abre, e o casal Okada se põe em foco.

MOKITI
(ofegante)
Ainda há tempo para uma consulta?

DOUTOR PETER
(gentil)
A qualquer instante. Mesmo durante a noite, basta um simples
telefonema. Por favor, sentem-se.

Doutor Peter veste novamente seu jaleco. Segura em suas mãos um


prontuário para começar o preenchimento de praxe.

DOUTOR PETER
Seus pais gozam de boa saúde?

MOKITI
Eles são falecidos.

DOUTOR PETER
Mas de que doença?

MOKITI
Meu pai morreu muito cedo, para combater uma prisão de ventre, ele
tomou um remédio durante trinta anos sem falhar um só dia, acabou
ficando doente do coração. Minha mãe há meses atrás, relativamente
jovem, proveniente de uma nefrite.

DOUTOR PETER
Irmãos?

MOKITI
De três, só resta um. Minha irmã mais velha faleceu um ano antes do
meu nascimento. A minha outra irmã, aos 29 anos de idade.

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DOUTOR PETER
De que?

Dando conta de que não está diante de médico cientista e questiona.

MOKITI
Mas doutor só se morre de doença?

DOUTOR PETER
(acha absurdo)
Claro que não!

MOKITI
(questiona)
Então, por que não consegue fazer um diagnóstico preciso baseado
apenas no meu corpo?

DOUTOR PETER
(ignora)
O senhor teve muitas doenças?

MOKITI
(sorri)
Desde sempre. Quando criança era fraco, vivia tomando remédios. No
alistamento militar disseram que meu corpo era um lixo e fui
classificado em categoria próxima à dos inválidos. Aos 22 anos, sofri
uma grave isquemia. Enfim, tive todas as doenças, exceto as de
senhora.

DOUTOR PETER
(ri)
Mas não vai me dizer que já foi desenganado?

MOKITI
(continua sorrindo)
Duas vezes, uma com uma tuberculose e outra recentemente com um
tifo intestinal.

DOUTOR PETER
(continua rindo)
Como se curou? Só falta dizer que foi através de religião.

27
MOKITI
(com muita alegria)
O senhor me perguntou se eu fui desenganado ou enganado?

Todos três riram. E Mokiti continua.

MOKITI
A tuberculose foi por meio de uma dieta vegetariana que eu mesmo me
prescrevi. Já o tifo intestinal foi na pura sorte. A medicina foi omissa
nos dois casos.

DOUTOR PETER
O senhor então, pelo que estou percebendo, é ateu e cientista?

MOKITI
Digamos que sou um agnóstico na trilha científica da medicina.

Taka interrompe procurando enaltecer seu marido.

TAKA
Eu quando tive tuberculose, essa doença incurável, meu marido
considerando ser a atitude que um casal deva ter, cuidou de mim, com
a mesma dieta vegetariana que lhe havia curado.

O médico desinteressado nesse assunto continua sua consulta.

DOUTOR PETER
Mas, afinal de contas, o que o senhor tem?

MOKITI
Como eu espirrei e ninguém sabe quando será acometido por alguma
enfermidade, não é verdade? Pode ser uma gripe, que ela se agrave
em pneumonia, seja o início de uma tuberculose. É possível que
estejamos contraindo uma moléstia infecto-contagiosa. Afinal de
contas, doença não quer dizer morte, mas se não tratada...

DOUTOR PETER
(irônico)
Permita-me uma brincadeira.

MOKITI
Certamente! Já o considero meu parente. Quando nascer meu primeiro
filho sinta-se convidado para ser seu padrinho.

28
DOUTOR PETER
Com muito orgulho. Mas posso dar meu diagnóstico?

MOKITI
(brincando)
Até que enfim!

DOUTOR PETER
(rindo)
Que tal! Um neurótico por doença em via de declarar o absoluto
acessível aos investigadores em medicina?

Mokiti abre um longo sorriso, acompanhado pelo o da esposa.

CORTA PARA.

013. EXT. PARQUE DE ÁGUAS TERMAIS - DIA

Num aprazível jardim, recostados confortavelmente num banco do


bosque, em trajes informais, numa conversa bem coloquial, estão, não
mais um cliente e um doutor, mas, simplesmente, Mokiti e Doutor
Peter, os futuros compadres.

MOKITI
Peter, doença é uma tremenda perdição pessoal e inferno social. Ela é
uma das situações da atualidade mais dramáticas na vida das pessoas
e da sociedade em geral. Ela é a maior responsável pelas causas de
óbitos no mundo, bem como causadora de invalidez, pobreza e
conflito. Desse modo, solucionar o problema da doença para alcançar
a saúde, é algo essencial à humanidade.

DOUTOR PETER
Óbito e invalidez eu consigo entender, já pobreza e conflito.

MOKITI
Como assim! Basta ver quando eu tive esse tifo intestinal. As despesas
advindas e o prejuízo que se tem por não poder trabalhar terminam
consumindo até os bens da família. O doente aflito toma emprestado
tudo que lhe for possível, com parentes, amigos e até da firma onde
trabalha.

29
DOUTOR PETER
Está bem, você me convenceu de que solucionar o problema da
doença para alcançar a saúde, é algo essencial à humanidade. Mas
aquele que disser que está pretendendo encontrar tal solução será
considerado, na melhor das hipóteses, um louco varrido.

MOKITI
Ora! Eu estou buscando a solução para o problema doença.

DOUTOR PETER
(querendo rir)
Você sabe que não levo nada muito a sério. A minha descrença nos
“ismos” é geral, nada de humanismo, comunismo, cientificismo, teísmo
e muito menos utopismo.

MOKITI
(interrompendo)
Tudo bem, se é assim prometo, ao retornar a Tóquio, pesquisar e
relatar por carta os resultados que obtiver. Ao amigo só caberá apenas
ler ou rasgar, apreciar ou zombar, comprometer-se ou desobrigar-se,
porém, contudo, nunca, jamais a decisão de diminuir ou estacionar a
afeição que nos envolve.

Peter com seus dedos toca as mãos de Mokiti em pleno sinal de


concordância.

FADE OUT

014. INT. RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

FADE IN

INSERT num calendário marcando DEZEMBRO DE 1916. Na sala de


visita, Mokiti termina de escrever uma CARTA. Ele a segura para ler.

MOKITI
(lendo)
“Caro Peter. Descobri a nocividade dos remédios. Imagine você, quatro
dentes doendo ao mesmo tempo, todos os dias. Minha escolha
restringia-se entre ficar louco ou me suicidar. Nessa situação, ouvi do
meu dentista: „Já usei todos os remédios que conheço‟. Desesperado,
experimentei um tratamento espiritual que um sacerdote me
30
aconselhou e comecei a me sentir melhor. Repentinamente, ocorreu-
me uma idéia: a causa da dor de dente não seriam os remédios que
deixei de usar? Pensando assim, parei de ir ao dentista e também
nunca mais fui à casa do sacerdote. Resta-me agora responder a difícil
pergunta: ‟se os medicamentos não curam, o que irá curar?‟.”

015. INT. RESIDÊNCIA DOS OKADA - NOITE

INSERT naquele mesmo calendário só que marcando DEZEMBRO DE


1919, indicando se terem passado três anos. Estamos no mesmo
interior da residência dos Okada e na mesma sala de visita, três
pessoas estão sentadas. Só que uma é YOSHI, uma mulher jovem
acariciando intimamente a cabeça prematuramente branca de Mokiti.

DOUTOR PETER
(para Yoshi)
Yoshi, eu continuo querendo ser padrinho do primeiro filho, que me foi
prometido.

YOSHI
Certamente Peter! Mas, como se acabamos de casar? Aproveitando o
ensejo, muito obrigado por ter sido padrinho do nosso casamento.

Ela sorri e se curva, como se pedisse permissão para se retirar, e sai


delicadamente.

DOUTOR PETER
(consternado)
Como deve ter sido difícil para Taka, em toda gravidez perder os três
filhos. Ela terminou ficando muito enfraquecida e doente. No seu
funeral, Mokiti, você estava muito deprimido. Fiquei muito preocupado
quando você murmurava: “Vida e morte. Cortaram um dos meus
braços”.

MOKITI
(ressentido)
Eu murmurava isso porque quando fomos veranear lá onde você mora,
Taka ao ver uma grávida e enferma, disse “vida e morte”. Ela
possivelmente estava pressentindo que isso é o que ia lhe acontecer.
Mas, no fundo, essa tragédia pessoal me motivou mais ainda a
continuar no sentido de saber o que é a doença, suas causas e
soluções. Continuo discordando que a morte por doença seja algo
31
natural, continuo achando ser possível tratar qualquer doença. Com
remédio é que não está sendo possível? Deve existir aí uma enorme
falha que a ciência e a religião desconhecem.

(brincando)
Aliás, o que você acha de uma amizade com um cientista religioso?

DOUTOR PETER
(travesso)
Vou fazer o que? Tenho de agüentar. Não suportei aquele neurótico
em doença que se foi? Não suporto o utópico cientista em medicina
que permanece constante? Acho que o companheirismo suportará
mais essa ainda, a chegada do beato fanático.

MOKITI
(rindo)
Que bom que você não muda no essencial.

DOUTOR PETER
(surpreso)
Você acha que não!

MOKITI
Não, porque na minha dor e alegria você sempre está presente. Não,
porque os meus escritos nunca foram rasgados e muito menos motivo
de zombaria. Não, porque acredito que algum dia você irá se
comprometer não apenas comigo, este ser tão insignificante, mas sim
com o mundo tão expressivo. Enfim seu nome é „Peter‟, não é? E ele
quer dizer „pedra‟.

Naquela sala de visita, evitando emoção, eles já não se vêem porque


estão olhando para uma mesma direção, no mesmo sentido.

CORTA PARA

016. EXT. DIVERSOS TEMPLOS RELIGIOSOS - DIA

Mokiti entra e sai de vários grandiosos templos xintoísta, budista e


cristão. Ao que tudo indica, a sua idéia de procurar na religião resposta
sobre o problema doença, está sendo posta em prática.
CORTA PARA

32
017. INT. TEMPLO DA OOMOTO - DIA

No alto de uma parede um retrato. INSERT: FOTOGRAFIA DE NAO


DEGUCH, a fundadora da Oomoto. Logo abaixo está Mokiti, absorto
numa leitura. Na porta um Dirigente da Oomoto que se curva para o
REVERENDO, que chega. Este se aproxima de Mokiti, que não percebe
sua presença.

REVERENDO
(para Mokiti)
Apreciando a coletânea de textos psicografados pela nossa
fundadora?

Mokiti levanta a cabeça para quem lhe faz a pergunta, mas não o
reverencia, deixando claro que está a pouco tempo na Oomoto e assim
desconhecer a honorabilidade daquela personalidade. Ele contempla o
retrato da fundadora da Oomoto e expressa o seu sentimento.

MOKITI
Sinto-me atraído: Às vezes até um pouco assustado.

REVERENDO
Que bom!

Não querendo perturbar aquele momento sublime, o religioso se


afasta. Mokiti, não querendo profanar seu precioso tempo,
prontamente, volta sua atenção para aquele interessante livro,
retomando sua leitura. ENQUADRAMOS o rosto de Mokiti lendo, quando
um trecho lhe traz espanto, deixando-o abismado.

MOKITI
(lendo como se estivesse rezando)
Deus está triste! O povo, por ignorância, deixou-se contaminar pelos
remédios que não curam, só envenenam o corpo.

018. INT. TEMPLO DA OOMOTO - ENTARDECER

Com o rosto de Mokiti ainda em foco, parte-se para PLANO MAIS


ABERTO incluindo Mokiti e aquele Reverendo no mesmo lugar que
conversaram. Só que eles estão com roupas diferentes e posturas
diferentes, pois meses se passaram. Ali está Mokiti saudando com

33
cabeça baixa aquele sacerdote. O Dirigente entra com dois copos de
água, deposita cada um deles diante de cada pessoa, e sai.

MOKITI
(para Reverendo)
Inicialmente gostaria de expressar minha imensa gratidão à Oomoto,
pois minha entrada nesta religião, meses atrás, representou o meu
segundo nascimento.

REVERENDO
Certo!

MOKITI
O motivo dessa entrevista é que durante três meses, estive em transe
recebendo revelações. Preenchi quatrocentas folhas de um conteúdo
perigoso, por isso coloquei as folhas dentro de uma lata e a enterrei no
quintal. Pelo fato de ser inimaginável, o chamei de “Será?”. E fiquei me
indagando: “Será que essa missão grandiosa demais, nunca vista até
então, não é muito pesada para um ser comum como eu?”. E será isso
e será aquilo.

REVERENDO
Muito bem!

MOKITI
No entanto algo muito grandioso me maneja, fazendo com que eu não
possa recusar tal missão.

REVERENDO
Ótimo!

MOKITI
Antes que o Reverendo diga “excelente!”, peço sua orientação.

REVERENDO
Excelente!

MOKITI
(em off, pensa)
Será que esse Reverendo está brincando numa hora desta?

O Reverendo acena com as mãos, chamando TAKEI. Este prontamente


vem ao seu encontro.

34
REVERENDO
Senhor Takei, ainda está se sentindo mal?

TAKEI
(expressando sofrimento)
Muito, Reverendo.

REVERENDO
(referindo-se a Mokiti)
Ele vai lhe curar agora.

Mokiti leva um susto com aquela responsabilidade inesperada. Ele se


vendo em apuros pega seu copo com água e oferece à pessoa em
agonia. A água é tomada. A fisionomia aos poucos é transformada, e o
corpo se curva não pela dor, mas sim pelo agradecimento.

REVERENDO
(orienta)
Viu Okada. Daqui para frente, se você se dedicar à cura de doenças,
poderá curá-las quanto quiser. Faça-o mais possível. Até água se
transformará em remédio, sabia? Ou para você a resposta não é “sei”,
mas sim um “será?”.

MOKITI
(em off, se indaga)
Será que eu sei como tratar as pessoas? Será que sempre com copo
de água? Será qualquer doença?

REVERENDO
(como adivinhando aquelas dúvidas de Mokiti)
Vamos sair, vamos tirar suas inquietações na Associação de Futi.

Os dois se levantam, abrem a porta e saem.

CORTE DE CONTINUIDADE

019. INT. LOJA OKADA - NOITE

Enquanto isso em outro lugar também acontece mudanças. Na


empresa de Mokiti, pelas janelas já se vê que é noite. O GERENTE DA
LOJA inicia uma reunião com os funcionários desta firma.

35
GERENTE DA LOJA
(dirigindo-se a todos)
Senhores, a reunião não vai poder contar com a direção costumeira do
patrão. Ele enviou sua esposa em seu lugar.

(para Yoshi)
Senhora Yoshi, por gentileza, suas palavras.

YOSHI
Boa noite, os senhores estão se sentindo bem. Pois bem, como os
senhores sabem, meu marido percebeu sua missão espiritual e a fim
de dedicar-se a ela, pediu-me para comunicar que está deixando a
parte administrativa da Loja Okada e passando a ocupar apenas a
posição de conselheiro.

GERENTE DA LOJA
(externando pensamento coletivo)
Perdoe-me senhora, mas estamos vivendo uma surpresa mista, entre
o orgulho e a preocupação. Como será ...

RETOMANDO CONTINUIDADE DA CENA 018

020. INT. ASSOCIAÇÃO DE FUTI - NOITE

Mokiti e o Reverendo chegam numa associação de futi, entram e


apreciam. Em cima de uma mesa, uma BANDEJA rasa, quadrada,
formada de areia prateada. Nas laterais, DUAS PESSOAS segurando
uma VARA com formato de T. A ponta da vara se move
automaticamente, traçando letras. As palavras fluem com muita
rapidez, sendo impossível que as duas pessoas se consultem. E assim
é que os interessados vão recebendo suas mensagens.

MOKITI
(falando baixinho para seu Reverendo)
O senhor me trouxe aqui na Associação de Futi porque eu tenho poder
de curar, mas não sei como tratar da humanidade?

REVERENDO
Sim. Os grandes religiosos como Sakyamuni, Jesus Cristo, Nitiren e
outros que também alcançaram o Estado de Suprema Iluminação
Espiritual, praticaram futi para tirar suas dúvidas.
36
É a vez de Mokiti. Como resultado ele ganha uma folha de papel que
no meio da qual está escrita, em letra bem grande, a palavra
“PURIFICAÇÃO”.

CORTA PARA

021. INT. RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

Mokiti está redigindo uma CARTA. INSERT no meio da carta, onde se


lêem os letreiros.

(legenda)
(...) purificação. E foi assim que formulamos um método espiritualista
para curar doenças: o método de purificação. Ele consiste em serenar
a alma, estender a palma da mão em direção do enfermo, pressionar a
região debilitada com os dedos e soprar o local. Outro modo é
escrever, no ar, com o próprio dedo: “Que esse interior seja purificado”.
Ou, então, falar: “Dor de cabeça, deixe esta criatura”. Só com minha
esposa foram duas experiências de cura: uma inclusive de tuberculose.
Uma outra coisa que descobri foi que todo problema surge porque
existe uma causa; nada acontece sem motivo.
O problema da doença surge por causa, além dos remédios, dos
encostos. Recentemente quando eu dava assistência à filha de Takei,
uma jovem de dezenove anos com doença muito grave. A mãe da
jovem, esposa de Takei, que estava ao lado observando.

ESFUMAÇAR a carta que se dissolve na cor branca.

022. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

A ESPOSA DE TAKEI, de repente se levanta, fica meio inclinada, com


fisionomia triste e, parecendo querer agredir Mokiti que aplicava o
método de purificação.

ESPOSA DE TAKEI
(voz de homem)
Você quase me destruiu. Quando eu já ia conseguindo matar essa
moça, você interferiu e salvou-a.

37
MOKITI
(off)
Como era voz de homem, fiquei deveras surpreso e perguntei:

MOKITI
Mas quem é você? Fique calmo!

MOKITI
(off)
Quando consegui acalmá-lo, ele sentou-se pesadamente e declarou:

ESPOSA DE TAKEI
(voz de homem)
Sou irmão mais novo da quarta geração dos ancestrais dessa família.

MOKITI
Mas por que se tornou encosto dessa jovem e tentou matá-la?

ESPOSA DE TAKEI
(voz de homem)
Eu abandonei meu lar e morri fora de casa. Por estar de relações
cortadas com meus familiares, ninguém se importou comigo. Fiquei
muito injuriado, por isso vou matar essa moça.

MOKITI
(off)
Apresentando-lhe vários argumentos, acabei convencendo-o.
Finalmente fui compreendido, ele decidiu colaborar comigo na cura da
moça. Concluindo. Peter meu amigo. Prepare-se, pois grandes
mudanças estão por vir.

FADE OUT

023. TOPO DO MONTE NOKOGUIRI - AMANHECENDO

FADE IN

Mokiti acompanhado de vinte homens, entre os quais dois fotógrafos, e


oito mulheres, entre elas Yoshi, chega ao topo de uma nobre serra
semelhante a um serrote. O Sol se levanta, ele apaga a lanterna e em
voz alta entoa a oração „Amatsu-Norito‟. Quando termina, próximo dele
está Takei.

38
MOKITI
(sussurrando)
Algo misterioso ocorreu nesse maravilhoso dia 15 de junho de 1931,
abriram-se as portas do Céu.

TAKEI
Mestre, eu não tenho condição de penetrar profundamente nesse
acontecimento, mas sinto-o com emoção e alegria inigualáveis.

MOKITI
É que acabou de ocorrer no Mundo Espiritual a Transição da Era da
Noite para a Era do Dia. Algo muito, muito significativo.

CORTA PARA

024. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

Os amuletos sagrados de proteção estão sendo confeccionados por


Mokiti. Um aglomerado de pessoas aguarda para receber tratamento.
Muitos discípulos, inclusive Takei. Mokiti levanta alguns amuletos.

MOKITI
Após o que ocorreu misteriosamente naquele dia 15 de junho, talvez
se deva, além de confeccionar mais amuletos sagrados de proteção,
formar discípulos para tratar das doenças. Estou muito contente
porque a Oomoto pode prosperar muito com isso e a humanidade ser
salva da doença. Por essa razão, Takei, hoje eu vou permitir que
aplique uma vez o tratamento através do espírito da palavra,
experimente. Aplique em Hida que está ali sofrendo com muita dor.

TAKEI
(surpreso, mas radiante)
Senhor Hida, por gentileza, deite-se aí.

Obedecendo, Hida se deita; sem deixar de se contorcer com uma forte


dor no seu ventre.

TAKEI
Dor... deixe o senhor Hida.

(espera um pouco)
Como está?
39
O senhor Hida fica bastante surpreso ao constatar que a dor que
sentia, ainda há poucos instantes, passara sem deixar o menor
vestígio, e Takei muito mais ainda. Nesse momento de grande
contentamento pessoas adentram a passos largos desarmonizando
aquele recinto. Reconhece-se ser aquele DIRIGENTE DA OOMOTO com
seus coordenados.

MOKITI
(reverenciando)
Que honra em receber o responsável pelo templo da Oomoto e seus
assessores neste modesto centro terapêutico.

DIRIGENTE DA OOMOTO
(admoestando)
Senhor Okada, é muito bom curar doenças. Mas não é bom que faça
apenas isso. Gostaria que o senhor se empenhasse nas campanhas
ideológicas da Oomoto, pois como sabe o Japão vai caminhando para
a guerra e a democracia está sofrendo opressões.

MOKITI
(justificando)
Senhor Dirigente, eu sei disso, considero isso muito importante. Mas é
que recebo pedido de vários lugares e por ora não tenho tido tempo
para campanhas.

O Dirigente se aproxima dos amuletos confeccionados por Mokiti, pega


e queima-os no braseiro. Naquele momento, os fiéis, vendo-o passar
tanto desilusão e vergonha, sentem muita pena dele. Todavia, a tudo
isso, ele agüenta quieto, sem dizer uma só palavra. E quando menos
se esperava Dirigente finca uma faca no chão.

DIRIGENTE DA OOMOTO
(irado)
Você vai ou não vai parar com isso? Se não parar, vou acabar com sua
vida!

Ao dizer isso ele começa a gemer, Mokiti parte em seu socorro.

MOKITI
(sensibilizado)
O que foi Dirigente? O que está sentindo?

40
DIRIGENTE DA OOMOTO
(sofrendo)
Estou com uma dor insuportável na barriga.

Mokiti sem pensar realiza o método de purificação. Em pouco tempo a


dor passa. Mas, o ambiente ficou ainda mais confuso.

DIRIGENTE DA OOMOTO
(desconcertado)
Vamos Okada. Vamos juntos pedir orientação do nosso Reverendo.

CORTA PARA

025. INT. TEMPLO DA OOMOTO - DIA

O Reverendo, diante daquela comitiva, está com uma pipa na mão,


talvez uma prova de que estava se divertindo. No entanto, seu
momento de descontração havia sido suspenso. Ele percebe estar
numa encruzilhada entre a sua obediência à Oomoto e o nível
espiritual de Okada.

REVERENDO
Okada, isso não pode ser feito por um fiel. Eu mesmo não posso fazer,
a tarefa é do terceiro líder da Oomoto. Entretanto, agindo com mais
discrição, não há problema. Abertamente, quem terá problemas serei
eu, todos irão me censurar. Se as pessoas pedirem, pode aplicar
tratamento, mas aja de forma muito discreta.

DOLLY SHOT, aproxima-se e afasta-se da pipa.

CORTA PARA

026. EXT. RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

A pipa do Reverendo está sendo empinada por Mokiti. Na frente da


sua formosa casa, seus familiares e servidores observam seu
contentamento e destreza. Quando, do seu corpo começa a irradiar
RAIOS DE LUZ VIOLETA para todos os lados, num raio de mais ou
menos dois metros, o cordão e a pipa também ficam iluminados, ele
não parece nem um pouco se incomodar com o fato. Ao se aproximar
de um discípulo chamado O SERVIDOR - um homem de cerca de
41
cinqüenta anos de idade, cabelo curto, usando avental - e entregá-lo o
cordão do papagaio, a luz da pipa se apaga instantaneamente.

MOKITI
(sussurrando para O Servidor)
Seria capaz de iluminá-los?

O SERVIDOR
(sussurrando para Mokiti)
Meu avental diz tudo.

MOKITI
(rindo e falando baixinho)
O servir com humildade pode levá-lo a Governar o Mundo.

O SERVIDOR
(rindo e falando baixinho)
Se esta for a sua vontade.

Movido por alguma necessidade, entra na casa, cria-se uma


expectativa nas pessoas do que irá acontecer quando ele sair,
retomando a pipa. O Servidor que o aguarda com o papagaio, quando
o avista, corre em sua direção.

O SERVIDOR
(entrega o cordão da pipa)
Aqui mestre!

Ao retomar o cordão, novamente a luz se expande no céu. Mokiti


percebe a admiração dos outros com aquele fato. Para ele nada
misterioso e que tudo indica nada também para aquele de avental que
acha tudo muito natural.

CORTA PARA

027. INT. CONSULTÓRIO DO DOUTOR PETER - DIA

Peter, já não está tão novo, pois algum tempo se havia passado. Ele lê
uma carta do seu velho amigo, como se ouvindo a voz daquele que lhe
é tão afeiçoado.

42
MOKITI
(off)
Parabéns para nós. Hoje completamos vinte anos que nos
conhecemos, pelo menos nesse século.
Ao mesmo tempo em que nasce meu sétimo filho, chegam seguidos
doentes, mesmo antes que eu possa abrir os olhos. Estou ficando
muito atarefado, meu corpo e minha mente estão exaustos. Meu
resfriado ainda não passou. Como sofro indo dar assistência nas noites
de frio.

(médico vira a folha da carta)


Mas quando vejo uma pessoa sofrendo por doença, tenho vontade de
curá-la a qualquer custo. Gasto tempo e dinheiro, e, no final,
desaponto os familiares do doente. Muitas vezes, chego até mesmo a
ser odiado.
Desse jeito, se eu continuar com esse hobby de prática altruísta e
voluntarista, ou viro inimigo público número um ou acabo sendo vítima
de sua predição, isto é, ganho uma vaga cativa no hospício. Não acha?

Peter rindo.
CORTA PARA

028. EXT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

As folhas caem de uma árvore demonstrando ser outono. Há uma


discussão entre os integrantes de dois grupos da Oomoto, um
favorável à Mokiti e outro favorável à direção. Frente a frente estão,
como sempre de avental, o Servidor, e o Dirigente, nas suas costas
seus liderados.

O SERVIDOR
Senhor Dirigente, nosso mestre instalou esse centro terapêutico
almejando alcançar o objetivo de salvar o mundo da doença. O
Tratamento Espiritual no Estilo Okada ...

DIRIGENTE DA OOMOTO
(interrompendo)
Esta tarefa já foi dita que é do terceiro líder da Oomoto. A nossa tarefa
é distribuir jornal para instaurar democracia. Lembro que o senhor
Okada, a quem chamam de mestre, só começou a conseguir seu
intento após ter entrado para a Oomoto.

43
O SERVIDOR
Mas ele, com toda luz que possui nunca negou isso.

DIRIGENTE DA OOMOTO
É verdade. Mas também é verdade que ele forma discípulos como os
senhores que não cumprem as determinações da Oomoto. Portanto,
só nos resta comunicar aos nossos superiores essa situação.

O grupo da direção da Oomoto vai embora, O Servidor abanando seu


avental, preocupado fala aos seus liderados.

O SERVIDOR
Acho que estamos indispondo nosso mestre com os Dirigentes da
nossa religião, temos que pedir perdão ao mestre Okada por essa
discordância.

CORTA PARA

029. MONTANHA - DIA

Mokiti caminha solitariamente entre os montes altos em aclive,


acompanhado pelas vegetações baixas em queda, afinal está próximo
do ocaso das estações.

MOKITI
(refletindo)
Meus discípulos me pediram perdão ... a direção da Oomoto não está
me cobrando responsabilidade por aquela discordância ... a Oomoto é
a minha mãe espiritual por ter gerado meu segundo nascimento ... No
entanto, muitas e muitas coisas têm acontecido. Isso quer dizer alguma
coisa ... pedir afastamento? Nem pensar!

Ansiosamente, leva as suas mãos em prece para o céu.

MOKITI
(orando)
Seja feita a Vossa Vontade.

44
030. INT. LOJA OKADA - DIA

OUVIMOS TROVOADAS. VEMOS através das janelas da empresa Okada


RELÂMPAGOS e uma forte CHUVA caindo. Mokiti e sua esposa chegam
molhados, fechando seus guarda-chuvas. Ele se senta na cabeceira
para presidir a reunião.

MOKITI
Inicialmente gostaria de comunicar que a partir de hoje não faço mais
parte da Oomoto e passo a viver exclusivamente para a Obra Divina.
Desta forma, estou dividindo minha loja entre vocês.

GERENTE DA LOJA
(preocupado com a situação econômica de seu patrão)
Mas patrão como ficará sua família? O que podemos fazer?

YOSHI
(brincando, para descontrair o ambiente)
Eu estou feliz com o meu futuro. Em breve, estarei pedindo quantos
vestidos quiser, pois Mokiti levou toda a minha roupa para casa de
penhores, e disse-me: “Daqui a algum tempo, comprarei tantas roupas
quantas você quiser, mas no momento, ofereça tudo para a Obra
Divina”.

MOKITI
Não se atormentem, tenho reservas para dois meses. Vou fundar uma
religião.

GERENTE DA LOJA
(agoniado)
Patrão! O senhor já tinha problema na fé, como incompreensão,
impedimento, censura, humilhação, ódio, agressividade, desilusão. Já
está tendo na família, com essas dificuldades financeiras, está
vendendo até roupas particulares. Agora, trocando uma empresa por
uma igreja, o emprego pela confissão, o certo pelo duvidoso. Vai ser
problema na fé, na família e no trabalho, e pelo que estou sabendo
problema até no problema... no problema da doença que vem
pesquisando.

45
MOKITI
(enfrentando o que está sendo dito a respeito do problema da doença)
Eu tenho convicção de que a doença não é um processo mórbido
causado por microorganismos. A tuberculose foi um grande exemplo
na minha vida e de minhas esposas.

GERENTE DA LOJA
(interrompendo)
Entretanto, desde os gabaritados como os profissionais em medicina
até os comuns como os pacientes são contrários a essa sua convicção
e não as tolerarão. Eu mesmo, que lhe aprecio, não acredito no que o
senhor está afirmando.

MOKITI
É verdade o que meu amigo está dizendo. Os médicos se consideram
acima dos homens, são arrogantes. As pessoas são oprimidas e
também lhes consideram seres superiores e vêem a sua profissão
sagrada ou mesmo filantrópica.

GERENTE DA LOJA
(penoso)
Não obstante isso é um ponto de virada em termos de fé, família e
trabalho, bem como na sua pesquisa sobre o problema da doença.
Isso muda tudo, muda tudo senhor Okada.

MOKITI
Sim, trata-se de um ponto de mutação, mas não simplesmente na fé
dos Okada, na família Okada ou na empresa Okada. É questão de um
ponto de transformação no mundo, uma marca essencial na cultura,
um sinal capaz de preencher a natureza, os indivíduos e as
sociedades, a humanidade e os Estados. Mas trata-se principalmente
de um ponto de mutação na particular medicina. Ou simplesmente, um
ponto na medicina.

ENQUADRAMOS uma pequena árvore num enorme vaso com as folhas


caindo de seus galhos certificando de que a Terra permanece na
estação de sua decadência.

FADE OUT

46
MEIO - 1

47
48
031. EXT. ASSOCIAÇÃO KANNON DO JAPÃO - DIA

FADE IN

Verdejantes folhas fixas numa árvore mostram que é verão. Os raios


solares assinalam que o astro rei está explodindo luzes de felicidade.
INSERT numa placa: “ASSOCIAÇÃO KANNON DO JAPÃO”.

032. INT. ASSOCIAÇÃO KANNON DO JAPÃO - DIA

O Servidor está ministrando uma aula.

O SERVIDOR
(encerrando)
Para terminar a aula de hoje, gostaria de dizer que há seis meses, o
Mestre Mokiti Okada fundou esta Associação Kannon do Japão. De lá
para cá, ele só tem permitido a aplicação do método da purificação aos
seus diretores. Hoje, o Fundador resolveu estendê-la aos fiéis, desde
que formados nesse método.

Takei entra na sala com uma vassoura na mão de modo sorrateiro


para não atrapalhar a aula. Ele fica aguardando o término da mesma
para limpar aquele recinto, enquanto isso presta atenção no que está
sendo dito.

O SERVIDOR
(continuando)
Para isso Mokiti Okada abriu esse Curso de Terapia Japonesa com o
objetivo de eliminar por completo a doença. No tratamento estilo
Okada manifesta-se o poder de perfeita união Deus-Homem, através
do corpo espiritual de Kannon e do corpo material do Fundador.

Takei não se conteve com o que ouviu e se manifesta de maneira


inconveniente.

TAKEI
Cuidado! Isso pode dar impressão que o Fundador está acima dos
homens e lhe acarretar a imagem de um homem arrogante.

O SERVIDOR
(fingindo ignorar)
Bom regresso ao lar e até amanhã.
49
033. EXT. ASSOCIAÇÃO KANNON DO JAPÃO - DIA

Os alunos estão saindo, no portão, Mokiti despede-se deles.


Discutindo vem o Takei e o Servidor. Eles se aproximam do fundador,
o Servidor sossega suas mãos e o avental, já o com vassoura na mão
gesticula com ela e fala.

TAKEI
Mestre, este aqui está muito descuidado. Ele desconhece que muito
desses seus cursistas até dizem por de trás que não gostam de ficar
escutando seus ensinamentos para poder ministrar o método de
purificação. Eu estou ouvindo falar que têm muitos doentes que
também não gostam e ...

MOKITI
(interrompendo gargalhando)
Qual é o problema se eles não gostam de meus ensinamentos? O que
importa é que fiquem aliviados de seus sofrimentos e, por isso, deixe
falar o que quiserem e aplique-lhes o nosso método de purificação. De
nada adianta alguém me tratar como Deus se ele não for salvo.

O SERVIDOR
(pensando, maravilhado)
Que palavras grandiosas e gratificantes. Ele só pensa em salvar as
pessoas através do seu método de tratamento. Mas...

(falando aflito)
...Mestre. Um cursista ouviu que os melhores jornais de Tóquio estão
noticiando o debate de amanhã na rádio sobre “Religiões Novas”. Só
que as manchetes estão depreciando a nossa associação e a sua
personalidade. Na primeira página eles estão dizendo: “O surto de
religiões parecidas”, “O astro de sucesso atualmente”, “Kannon-Okada
a dupla da mistificação”.

MOKITI
O Servidor, a nossa associação está se tornando a maior de todas as
religiões novas. Nessa época, onde a religião do Estado é o xintoísmo,
basta uma religião crescer para sofrer pressão e perseguição. Não há
meios para reagir, portanto, preparem-se todos, pois passaremos sério
perigo, vamos padecer bastante. Mas não fiquem apegados à
preocupação, sejam homens do presente. Eu, por exemplo, estou
completamente tranqüilo, pois destaquei o senhor – o futuro Presidente
Mundial - para amanhã falar em nome da nossa religião.
50
O Servidor leva um susto com aquela, para ele, brincadeira do futuro,
porém fica muito mais aflito com aquela seriedade do amanhã.

CORTA PARA

034. INT. AUDITÓRIO DE RÁDIO

A platéia é numerosa e todos estão prestando atenção nas palavras de


um ORADOR que está ao microfone.

ORADOR
(ridicularizando)
Como me disseram que aquele era o local onde atuava o novo „deus‟
de tanto sucesso ultimamente, eu, como jornalista, experimentei ir até
lá. No alto estava afixado o preço do tratamento. Parece que o „deus‟
também dá consultas domiciliares e é bem mais careiro que os
médicos da cidade. Apesar de ter iniciado esse tratamento
recentemente, ele recebe cinqüenta doentes por dia, contando com
mais de dez filiais. Imaginem o sucesso dessa divindade. Nada mais
preciso declarar para que impeçam esse comércio da Associação
Kannon do Japão, não permitindo que continuem fazendo propaganda
de tratamento não comprovado pela medicina.

Parte do público bate suas mãos em APLAUSOS, outros as levam a


boca em APUPOS, uns ficam indiferentes. O orador entrega o
microfone ao apresentador do debate, este o passa para o Servidor,
com o seu avental habitual, que é o próximo orador a se pronunciar a
respeito.

O SERVIDOR
(indignado e exaltado)
Quem me antecedeu, iniciou dizendo “Como me disseram que”. O
tratamento Okada jamais é divulgado através dos meios de
comunicação, não se faz propaganda. Somente por intermédio de
pessoas gratas, que tiveram suas vidas salvas, é que se conhece esse
tratamento. Provavelmente, este orador soube por jornalistas leigos em
medicina, meros calculadores financeiros, como ele.

(procurando se acalmar)
Vou relatar aos senhores como conheci Mokiti Okada. Em 1907,
formei-me em medicina. Defendi tese de doutorado. Fiz cursos em
outros países, e depois passei a dirigir um hospital.
51
Entretanto, em 1928, repentinamente, sofri um derrame cerebral. Fui
examinado por vários médicos categorizados e todos diagnosticaram:
„Paralisia total - impossibilidade de recuperação‟. Foi aí que conheci a
Associação Kannon do Japão e logo me recuperei. O Mestre Okada
formava um grande número de „terapeutas‟. Eu, diariamente, como seu
aprendiz, acompanhava de perto. Posso, pois, afirmar, que o método
de tratamento de doenças no estilo Okada possui o poder de salvar os
sofrimentos da humanidade causados pela doença. Se hoje ando com
esse avental é para nunca esquecer que estou aqui para servir ao meu
mestre, meu salvador.

PALMAS e VAIAS ao mesmo tempo.

CORTA PARA

035. EXT. BANCA DE JORNAL - DIA

Aglomeram-se pessoas em volta dos jornais expostos. As expressões


inquietas são a de quem procura se informar sobre algo grave que está
acontecendo. INSERT na manchete que é destacada com a legenda :
“1936, FIRMADO O „ACORDO DE MÚTUA DEFESA‟ ENTRE O JAPÃO E A
ALEMANHA DE HITLER, O MILITARISMO AVANÇA E O CONTROLE
IDEOLÓGICO VAI SE TORNAR MAIS RIGOROSO. AOS LIDERES
RELIGIOSOS SÓ RESTARÁ A PENA DE MORTE OU TRABALHOS
FORÇADOS POR TEMPO INDETERMINADO”.

CORTA PARA

036. EXT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE SAÚDE - DIA

INSERT na placa que está escrita ASSOCIAÇÃO KANNON DO JAPÃO.


Um associado está retirando-a e colocando outra em seu lugar:
INSERT na outra placa: ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE SAÚDE.

CORTA PARA

037. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE SAÚDE - NOITE

Várias pessoas ouvem atentamente o Fundador.

52
MOKITI
Após três interrogatórios na delegacia, o delegado conhecido pelo
apelido de Torturador, durante várias horas nos interrogou brutalmente
e fomos forçados a dissolver a Associação Kannon do Japão. Criamos,
então, esta outra – a Associação Japonesa de Saúde – com a
finalidade de dissociar a religião e a fé de algo como a técnica
medicinal e tratamento.
Porém, em menos de dois meses baixou-se a „ordem de proibição da
prática de tratamentos‟. Dessa forma, nesse momento, também
estamos sendo forçados a dissolver essa nova associação.

Ouve-se um CLAMOR.

CORTA PARA

038. INT. SALA DO DELEGADO - DIA

De novo na delegacia, diante novamente do DELEGADO acompanhado


de um INVESTIGADOR, está Mokiti, sendo interrogado sob a vigia de
policiais.

DELEGADO
(gritando)
É a quarta vez que eu lhe interrogo em menos de dois meses. Você
não pode continuar mentindo para mim. Eu sou uma autoridade.

MOKITI
Mas já lhe disse que é verdade. Nesta fábrica com mais de mil
operárias, elas ficaram curadas através do nosso tratamento.

DELEGADO
(indignado)
Não interessa. Isso contraria a Lei da Medicina.

O torturador agride Mokiti, ameaçando furar seu olho com uma espada
de bambu. Nesse instante, o delegado repentinamente leva as mãos à
cabeça, numa dor tão forte que o obriga a sair da sala.
Instantes depois a porta abre-se vigorosamente, provocando
ansiedade pelo possível retorno daquele Delegado. No entanto, entra
um homem fardado, um GENERAL que faz o investigador e o policial se
perfilarem em respeito.

53
INVESTIGADOR
Pois não, General.

GENERAL
(indignado)
Isso é absurdo. Vocês mandarem minha esposa fazer relatório por
escrito. Fiquem sabendo: se ela foi a casa dessa pessoa que estão
interrogando, foi porque eu mandei. Minha filha ficou curada.

(para Mokiti)
Vamos senhor Okada. Eu lhe levo para sua casa na viatura do Exército
que está ali fora.

CORTA PARA

039. INT. VIATURA DO EXÉRCITO - DIA

O General e Mokiti sentados na viatura do Exército que se põe em


movimento, o homem fardado atento ao que está ouvindo de Mokiti.

MOKITI
General, proclamei uma nova teoria relacionada com a Medicina. Sabe
que bastou publicar o livro e este ser apreendido. Isso aconteceu três
vezes, desisti.

GENERAL
Mas qual o motivo apregoado pela apreensão?

MOKITI
Minha tese ser contrária aos princípios da Medicina atual.

GENERAL
(ensinando)
Mas, para isso, mostre dados de cura, aponte o que aconteceu com
minha filha.

MOKITI
(explicando)
General eu comprovei cientificamente que o nosso tratamento é dez
vezes mais eficaz, e que a cura não é temporária, mas definitiva. No
prefácio do livro, até escrevi: “Estou pronto para comprová-lo a
qualquer hora”.

54
GENERAL
E as autoridades e os especialistas não deram a mínima atenção?

MOKITI
Nada. Por isso terminei o livro dizendo: “No momento, porém, nada
nos resta fazer, senão orar: „Deus, Todo-Poderoso! Fazei, por favor,
com que a Medicina abra os olhos, o quanto antes, para as suas falhas
e, assim, torne saudáveis todos os homens!‟.”

O General se mostra contrariado com esta cegueira dominante.

CORTA PARA

040. INT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

Num cômodo de uma casa modesta congestionado de pacientes


aguardando sua vez para receber o tratamento. Mokiti está
sobrecarregado no atendimento. O primeiro da fila é um senhor que
cochicha no ouvido de uma senhora ao seu lado, dizendo: “- Ah! Então
foi por isso que o Fundador teve que mudar para essa moradia mais
simples?”. Ela respondeu sussurrando: “- Sim, foi por proibição,
perseguição, enfim, incompreensão. Eu mesmo quando vim aqui pela
primeira vez, vim com o propósito de desmascarar esse falso método
de tratamento. Depois do que assisti aqui, não bobeei, abaixei a
cabeça para o Mestre e me tornei membro.”
Um paciente já foi atendido, porém, alguém é chamado urgentemente.
Na vez agora está uma menina abatida e carregada no colo por seu
pai que olha para o Fundador, como se estivesse enxergando a sua
grandiosa aura, e comunica: “- Mestre, o médico me disse “É cárie no
fêmur. Se ela fizer o menor movimento com a perna, será preciso
amputá-la a partir do tronco”. O Fundador aproxima a palma de sua
mão na perna da criança, por pouco tempo, e assegura: “- Pronto, ela
já está curada; não precisa vir aqui outra vez”. A menina, que viera
carregada por não poder pisar no chão de tanta dor, sai correndo. Os
pais maravilhados se emocionam e os pacientes que a tudo assistem
ficam boquiabertos.
NOVO ÂNGULO. Nesse instante, desrespeitando a fila, uma mãe
desesperada entra carregando uma criança, sua filha de três anos, na
direção do Fundador. PONTO DE VISTA do Fundador vendo a mãe
vindo em sua direção. Ela dizendo: “- Meu Deus, ela está em coma por
cólera infantil.” PONTO DE VISTA da mãe vendo o Fundador dizer: “-
Não é aqui que deveria trazê-la.” O Fundador observa a mãe parada
55
diante de si,soluçando: “- Eu trouxe porque quando o senhor salvou
meu filho de uma meningite, o senhor me falou que quando estivesse
em apuros viesse a qualquer hora.” O Fundador observa a mãe
colocando a filha diante dele. A mãe olha o Fundador não se fazendo
de rogado, iniciando aplicação. ENQUADRAMENTO da criança
abrindo os olhos devagarzinho ... foi abrindo ... até que ... fala: “-
Mamãe, mamãe.” PLANO MAIS ABERTO, mãe segura-a no colo e
começa a chorar, boa parte do público também.
Sem tempo para respirar, na sua frente, o próximo da fila. Uma tia
jovem com seu sobrinho. ENQUADRAMENTO de um menino de cinco
anos trajando calças curtas com pernas envoltas em bandagem. Ela
diz o que ele tem: “- A parte inferior do corpo está completamente
coberta de eczema”. O Fundador sinaliza pedindo que tirem a roupa do
garoto. Faz aplicação e assim que termina ... “- Pronto, acabou”. A
criança dirige-se à sua tia que lhe ajuda a vestir-se. Quando vestia a
calça, a bandagem de sua perna esquerda se solta. E ele exclama: “-
Tia, a minha perna está curada!. Aí, ele observa a sua perna direita,
que também está curada. O garoto senta-se no assoalho e coça a
cabeça mostrando nada compreender. A expressão sorridente de
Mokiti, plena de amor, era tão marcante que extasia os espectadores.
Um deles era o do obeso que não via chegar sua hora de ser atendido.

CORTA PARA

041. INT. SALA DO DELEGADO - DIA

Mais uma vez Mokiti está sendo interrogado e novamente pelo seu
algoz.

DELEGADO
(berrando)
Você infringiu novamente as leis da medicina, não foi?

Delegado dá um SOCO na mesa.

DELEGADO
(continuando, berrando mais ainda)
Vai me dizer que você não se lembra de ter falado a um doente que ele
ficaria curado sem precisar ir a um médico. Lembra ou não lembra?

(aguardando resposta)

56
Suas palavras e seu silêncio mostram uma total infração às leis da
Medicina. Aos pequenos infratores perdoamos, mas aqueles, como
você, que agem abertamente, nós consideramos elementos nocivos à
sociedade e não podemos deixar que continuem prejudicando-a.
Quando eu reunir as provas, nenhum General vai conseguir lhe soltar.
Por enquanto, saia da minha frente.

CORTA PARA

042. EXT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA -ENTARDECER

A entrada principal da casa está repleta de sapatos de madeira dos


pacientes, dificilmente encontra-se um lugar para dar um passo. O Sol
está declinando.

CORTA PARA

043. INT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA - MADRUGADA

De dentro da casa, constata-se pela janela que apenas o Sol


adormeceu. Já é tarde e ainda há vários acordados, são os pacientes
calçados lá fora e os descalços ali dentro aguardando sua vez para
serem atendidos. Mokiti estafado com aquele dia extenuante fica
terrivelmente pálido e sofre uma crise anêmica como se fosse
desmaiar. Yoshi e o Servidor correm em seu socorro.

YOSHI
(falando para seu marido)
O que está sentindo? Fale, fale.

Ele começa a se sentir melhor.

YOSHI
Mokiti, embora você tenha assistentes e auxiliares, esse ritmo de suas
tarefas está muito pesado. Freqüentemente você fica sem almoçar e
todos nós estamos preocupados com você.

O SERVIDOR
(corroborando)
Além disso, ouvimos comentários de que a prática terapêutica poderia
ser proibida. Talvez seja bom desistir dela. Não só pela preservação de
57
sua saúde, mas também pelo futuro de sua missão.

YOSHI
(rindo)
E será uma grande surpresa para a polícia, principalmente para aquele
torturador.

MOKITI
(analisando o acontecimento)
Está certo. Espiritualmente, isso significa que eu subi mais um degrau,
e por isso, fico contente. Em verdade, até então o meu trabalho estava
limitado ao tratamento e não à felicidade, limitado à religião e não à
ultra-religião; em outros termos, era trabalho corporal de um soldado
na frente de batalha e não de um general comemorando a vitória.

Eles que estavam plenos de certeza ficam em dúvida, não entendem


bem o que está sendo dito.

CORTA PARA

044. EXT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

Passado algum tempo. Na entrada principal da casa agora, deserta,


estão poucos sapatos abandonados. Yoshi está com seus garotos.

YOSHI
Filhos, vocês não terão mais doces como antes. Portanto, agora se
comportem, pois é hora da paciência.

Chega uma mulher bem apessoada com vestimentas imponentes. Ela


é conhecida.

YOSHI
Olá! A senhora é mesmo corajosa. Continuar se tratando aqui, isso
pode lhe causar problema.

Ela sorri e nada fala, apressadamente entra para receber assistência.


As crianças brincam nos balanços, seus corpos sentados naquelas
cadeiras se alçam nas alturas.

58
045. EXT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

Os balanços encontram-se imóveis. Agora Yoshi e as crianças não


estão presentes. A mulher sai, ao que tudo indica, após receber
terapia. Um homem escondido está espionando-a. O espião a segue, e
ele inesperadamente é HIDA, aquele que havia sido tratado por Takei.

046. EXT. MANSÃO - DIA

A mulher entra num palacete, onde havia um guarda na entrada.

HIDA
(pensa)
Ah! Não há dúvidas, até a sua casa está sendo vigiada.

Hida se aproxima do guarda e se surpreende.

HIDA
Takei, não sabia que éramos colegas. Quem é a mulher que acabou
de entrar nesta casa?

Ao que Takei respondeu, com um olhar indignado.

TAKEI
Hida veja lá como você fala! Saiba que é a esposa do Ministro.

Assustado, Hida pediu mil desculpas e foi embora de mansinho, muito


temeroso, contudo intrigado.

HIDA
(off)
Mas o que fazia ela na residência de Okada? Vou até lá investigar isso
pessoalmente.

CORTA PARA

047. INT. NOVA RESIDÊNCIA DOS OKADA - DIA

O Fundador e Hida encontram-se naquele cômodo da casa que outrora


era repleto de pacientes. Mokiti sentado à moda japonesa e ele em pé,

59
com as mãos para trás e queixo para frente, observa com autoridade a
imagem de Kannon pendurada na parede.

HIDA
(disciplinando)
Na sua casa, curam-se doenças, mas saiba que não é Kannon quem
as cura. Elas são curadas graças ao grande poder do Imperador, por
isso, vocês deveriam agradecer a ele.

MOKITI
(sutil)
Hida, as pessoas curadas devem mesmo ir agradecer lá no Palácio
Imperial, é?

Hida não entende a sutileza, aponta para a imagem.

HIDA
(advertindo)
Fundador! Cuidado!

MOKITI
Não, não se trata de religião.

HIDA
(questionador)
Então, porque pendura a Imagem de Kannon nesse lugar?

MOKITI
(gracejando)
É que na hora de aplicar a terapia, há casos em que a pessoa fica nua.
Portanto, como o homem tende a ter maus pensamentos, penduramos
na parede a imagem de Kannon, para que isso não aconteça.

CORTA PARA

048. INT. BATALHÃO DE AVIADORES - DIA

O Servidor, com o seu avental, atravessa uma intensa movimentação


de elementos fardados, para se apresentar ao comandante do batalhão
que é médico da aeronáutica, de origem italiana, chamado DOUTOR
PAOLO.

60
O SERVIDOR
Senhor comandante, meu Mestre Okada, atendendo ao seu pedido
determinou que eu viesse até aqui.

O doutor fica olhando para o avental, de modo muito surpreso.

DOUTOR PAOLO
Ah, sim! Pelo visto o senhor é uma pessoa importante de Okada? Pode
sentar.

Olhando para uns papéis.

DOUTOR PAOLO
Estou chamando-os para que cooperem nesta Segunda Guerra
Mundial. Exatamente na solução do problema de haver muitas pessoas
portadoras de tuberculose no grupo de aviação. Do jeito que vai, uma
contagiando a outra, vamos acabar todos com este mal incurável.

O SERVIDOR
Mas, comandante, a tuberculose não é contagiosa.

DOUTOR PAOLO
(furioso)
Como não?

O SERVIDOR
(informando)
Não, não é bem assim.

DOUTOR PAOLO
(furioso)
Já vi que se permitir a entrada de fanáticos na tropa, em breve a
tuberculose se alastrará pelo batalhão inteiro. Acabaremos até
perdendo a guerra.

O SERVIDOR
(informando)
O Mestre tem acolhido tuberculosos na sua casa. Eles são tratados
como se fossem da família, fazendo as refeições juntos com seus
filhos sem que se desinfetem pratos e talheres. Alguns faleceram em
sua casa, de modo que se pode ver que todos são doentes graves.
Contudo, nenhum de seus seis filhos contraiu a doença.

61
DOUTOR PAOLO
(incrédulo)
Isso é ridículo.

O SERVIDOR
(retrucando)
Mestre Okada tem proposto que façam testes a qualquer hora, para
isso serviremos de cobaias com muito prazer.

DOUTOR PAOLO
(grosseiramente)
O assunto está encerrado. Pode se retirar.

O Servidor sem mais nada a fazer, retira-se abatido.

CORTA PARA

049. INT. RESTAURANTE - DIA

Noutra ocasião vê-se o Servidor mais envelhecido, agora cabeludo,


sinalizando que o tempo havia passado. Porém, ele já não está mais
acabrunhado, está comemorando com outros fiéis.

O SERVIDOR
(levantando a taça)
Vamos ao brinde de sempre, o famoso “pela Guerra que terminou”. E o
brinde especial de hoje, o importante “pela publicação do livro
Evangelho do Paraíso”.

HIDA
Esta publicação foi um grande passo, não foi? Ela tem relação com
aquele outro livro que foi proibido: “Medicina do Futuro”, não tem?

O SERVIDOR
(cauteloso)
Sim, Hida. Porém não podemos esquecer a advertência do Mestre.

HIDA
Eu não tenho muita certeza do que está falando?

62
O SERVIDOR
(recitando de cor)
Como diz o nosso Mestre, prestem atenção senhores: “Tenho, porém,
sofrimentos que as pessoas desconhecem. Passarei a escrever sobre
o maior deles. É justamente o que se referem à medicina moderna,
cujos erros durante muito tempo eu vim apontando através da palavra
escrita e oral. Entretanto, para dizer a verdade, até agora não pude
colocar a questão a nu. Sempre procuro ter o cuidado de abrandar ao
máximo as minhas palavras, a fim de evitar choques, pois receava que,
se expusesse toda a verdade, o resultado fosse desastroso. Além
disso, mesmo que eu quisesse falar abertamente, havia uma
terminante proibição de Deus nesse sentido, obrigando-me a esperar
até o momento certo. Deus me fez profundas revelações sobre a
saúde e a doença do homem. Entretanto, analisando a situação em
que esta se encontra, devo dizer que é demasiado trágica. E eu, que
vejo tal situação, sofro de maneira quase insuportável, porque Deus
ainda não me permitiu divulgar a verdadeira solução do problema. É
como se me encontrasse prensado entre duas tábuas”.

HIDA
Os seus escritos têm muitos pontos opostos à posição da medicina
contemporânea, é difícil defendê-los perante o público. Como acha que
devemos proceder?

O SERVIDOR
Acho que devemos estar atento para o que o Mestre acha. Eu observo
que ele chega até a dizer que, como terapeutas, podemos dar margem
à interpretação de prática ilegal da Medicina. Por isso é que ele tem
orientado para que seus discípulos conscientizem-se de que esta
apostila deve servir apenas como uma referência.

Degusta-se a bebida e o brinde seguiu todo o ritual.

CORTA PARA

050. EXT. PROTÓTIPO DO PARAÍSO - DIA

Na campestre esquina que leva à entrada do solo sagrado, que está


sendo edificado, o Mestre e o Servidor aguardam em pé.

63
O SERVIDOR
Mestre, como é bonito ver o protótipo do Paraíso Terrestre sendo
realizado pelos fiéis em termos de dinheiro e labor. Mais lindo ainda é
a idealização e a direção desse modelo que o senhor vem orientando.

(mas, lembrando do propósito de estarem ali)


Mas, cadê os jovens para caminharem pela construção desse
paradigma de paraíso, para verem a beleza de seus recantos e do
trabalho dos dedicantes?

MOKITI
(rindo)
Isso é sempre assim. Mesmo numa simples caminhada eu preciso
controlar meus passos. Eles dizem: “O senhor é rápido, nós não
conseguimos acompanhá-lo”. Então, lhes respondo: “Isso é por causa
da idade”.

O Servidor ri muito, e mais ainda, quando avista os jovens tão


aguardados para a caminhada matinal. Eles são pura alegria por
desfrutar da companhia do Mestre, só que não transparecem dar a
mínima atenção de que estão atrasados. Dois jovens mais próximos de
Mokiti, um JOVEM DESINIBIDO e uma JOVEM TÍMIDA.

JOVEM DESINIBIDO
(olhando para Mokiti)
E aí vai agüentar?

MOKITI
(sorrindo)
Se vou agüentar? Já estou agüentando há muito tempo. As minhas
pernas estão cansadas de tanto ficar em pé e já costurei diversas
vezes o saco da paciência.

Ela sem olhar para o Mestre.

JOVEM TÍMIDA
Desculpe pelo atraso. Por que será que sempre somos impontuais,
sem firmeza nos compromissos? Isso o senhor diz que é falta de
sinceridade, não é?

O Mestre acena positivamente com a cabeça.


MOVIMENTO deles caminhando em direção a entrada do solo sagrado,
que está sendo construído.
64
JOVEM TÍMIDA
(continuando)
Como fazer então para melhorar?

MOKITI
Basta preservar a saúde. Tenho um método próprio para manter a
saúde, mas ele é justamente o contrário do método que se adota
normalmente. Recomendo a prática de excessos, como repousar
pouco, mastigar rápido, usar demasiadamente a cabeça, caminhar
pelo menos uma vez por dia faça chuva ou ventania, porque dessa
maneira mais saúde terá.

(pausa)
Entenderam o meu método de saúde? Qualquer pessoa que venha a
praticá-lo terá a saúde garantida; jamais se tornará o tipo intelectual de
rosto pálido.

051. INT. PROTÓTIPO DE PARAÍSO TERRESTRE

Ao entrarem no solo sagrado um jovem que dedicava prende a mão


entre duas rochas e o sangue imediatamente começa a escorrer. Tão
logo o Servidor vê o que está acontecendo, tira seu avental em
menção de querer fazer um torniquete com ele. Mas nota que o Mestre
levanta sua mão do lugar onde se encontra, a uns três metros de
distância do rapaz. O sangue, que saía em grande quantidade, estanca
de pronto. Vendo isso, o Fundador deixa o local como se nada tivesse
acontecido, mas as pessoas que ali estavam ficam maravilhadas,
sentindo-se tomadas por uma sensação de milagre. Abismadas,
permanecem estáticas, entreolhando-se e olhando para aquele homem
milagroso se afastar. O Servidor recompõe apressadamente seu
avental para poder acompanhar o Mestre.

CORTA PARA

052. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

Um homem curvado REUMÁTICO vem receber tratamento do Fundador


diante de vários pacientes que aguardam na fila de espera.

65
REUMÁTICO
(desafiando Fundador)
Eu acreditarei no que o senhor ensina se me curar desse reumatismo
que me consome.

O SERVIDOR
(advertindo)
Vê lá como você fala!

Mokiti Okada sem se sentir ofendido o ajuda a sentar-se na cadeira e


como se não tivesse dado importância àquele desafio se distancia,
indo ajeitar umas flores. Até que...

MOKITI
Muito bem, vou lhe aplicar o tratamento agora mesmo e você vai
conseguir estender o tronco.

REUMÁTICO
Se vier a acontecer, então acreditarei.

O Mestre ergue a mão, aquela que não está ornamentando um vaso


com flores, de uma distância de mais ou menos dois metros, durante
pouco tempo.

MOKITI
(indaga)
Como se sente? Acho que pode curvar agora. Experimente.

Meio receoso, o reumático faz uma tentativa e, para espanto seu,


verificou que podia estender o tronco.

MOKITI
(agora o desafiando)
Você pode flexionar mais.

Tentou outra vez e certificou-se de que podia se movimentar ainda


mais. Diante dos olhares dos pacientes, aquele homem se levanta e
permanece firme e ereto como um poste.

REUMÁTICO
(off)
Deve ter sido só uma espécie de magia ou mágica. O encantamento
desaparecerá com o passar do tempo.
66
Desconfiado, caminha até a porta de saída deste centro e fica
abismado.

REUMÁTICO
(eufórico)
Extraordinário! O encantamento ainda está funcionando.

CORTA PARA

053. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - ANOITECENDO

Num outro dia, o Fundador aplica o tratamento na esposa de Takei.

MOKITI
Takei, mesmo que sua esposa esteja para morrer, estou ministrando
bastante tempo nela.

O Servidor entra com um doce para o Fundador, este em vez de comê-


lo oferece para a enferma. Ela, apesar de respirar com grande
dificuldade, consegue comer tudo com bastante satisfação a ponto de
externar ...

ESPOSA DE TAKEI
Que delícia!

MOKITI
(fala baixinho para Takei)
Takei não se iluda. Já foi purificado tudo que era necessário, não
existe mais nada a purificar. Assim sendo, não tenho mais nada a
fazer.

ESPOSA DE TAKEI
(falecendo)
Não há no mundo, ninguém, tão feliz quanto eu.

Takei verte lágrimas copiosamente sem se conformar com o que


acabara de acontecer. Sua esposa faleceu.

TAKEI
Não entendo, por que o tratamento não deu certo?

67
O Servidor olha para o Fundador que sofre de maneira insuportável,
sem nada poder fazer ou, quem sabe, poder revelar.

CORTA PARA

054. EXT. ORLA DO LAGO - DIA

Próximo aos limites de uma estonteante água arredondada, Mokiti


ensina seus discípulos sob atenção e curiosidade de um investigador
das tropas de ocupação americana, um negro chamado THOMAS. O
Fundador coloca algumas pessoas de pé à beira do lago e pede que o
Servidor ministre o tratamento naquela direção, e assim obedecendo
todos começam a tossir e a bocejar.

THOMAS
(interrompendo)
Estou sabendo de sua pretensão em instituir uma igreja. Gostaria até
ajudá-lo, mas acho que seu tratamento é simplesmente auto-sugestão
e não complexa luz espiritual saindo da palma da mão.

Mokiti desafia-o a provar. O investigador, suspeitando que tudo tivesse


sido combinado manda que aquelas pessoas fiquem de costas e que
só levantem a mão quando ele der o sinal. O resultado foi o mesmo e
as suspeitas se desfizeram por completo. O Fundador assistiu a tudo
achando muita graça. Thomas está muito impressionado.

THOMAS
Pode acreditar. Diante do que assisti, prometo trabalhar para preparar
sem tropeços a Igreja Kannon do Japão.

Eles se cumprimentam como que selando a tal promessa.

CORTA PARA

055. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

TERUKO, uma pessoa de prestígio da alta sociedade, está com o


Fundador. Ela usa objetos valiosos e tem postura visivelmente altiva e
questionadora. Mokiti inflexível no seu modo de pensar ...

68
MOKITI
(incisivo)
Por mais elevada que seja a posição de uma pessoa que venha me
pedir para lhe ministrar tratamento, eu não o faço. Entretanto, se a
pessoa for útil à Obra Divina farei tudo para salvá-la.

TERUKO
(argumentando)
Mas, eu estou fraca.

MOKITI
Como fraca? Você, com seus vinte anos de idade, parece ser muito
forte, pois continua viva. Recuso-me a tratar-lhe, pois você tem
bastante saúde.

TERUKO
(revoltada)
Como o senhor diz que estou cheia de saúde se os médicos disseram
que só tenho este ano de vida?

MOKITI
Da mesma forma que esta xícara está cheia de café, seu corpo está
cheio de toxinas. Se eu colocar mais gotas na xícara, esta
transbordará ameaçando a existência do que está bem-feito e a toalha
perderá a limpeza. Se eu lhe ministrar tratamento, as toxinas sairão do
seu organismo mesmo contra a sua vontade. E, se elas saírem, seu
corpo não vai resistir.

TERUKO
(suplicando)
Pelo amor de Deus, o senhor trata de desenganados como eu e se
recusa a cuidar de mim?

MOKITI
Teruko, trato deles, porque sendo do povo, não nos trarão nenhum
problema. Se, por acaso, a senhora vier a falecer, será motivo para
noticiário nos jornais. Para salvar apenas uma vida, vou ter de arriscar
a vida de dezenas de pessoas. Por isso volto a afirmar minha recusa.

69
TERUKO
(compreendendo)
Não há perigo nenhum não. Porque além de fazer testamento eu
comuniquei a todos os meus familiares e amigos que o único bem que
quero desta vida é ...

(chorando)
... é servir na Obra Divina.

Mokiti também fica emocionado com aquela determinação.

MOKITI
Nesse caso, querida Teruko, comprometo-me mais do que em
restabelecer sua saúde. Aceito formá-la como minha discípula.

A felicidade invade sua alma, ela se conscientiza que naquele


momento, lugar e acontecido, o tempo é divino, o espaço é sagrado e
o homem é superior quando iniciado por um Mestre.

MOKITI
(continuando)
Dessa maneira, está na hora de fechar esse centro e abrir uma igreja
para Kannon. Teruko, por gentileza, assuma esta missão.

Ela não se contém e atira-se aos pés do Fundador, como prova de


gratidão. Por outro lado, ele feliz curva-se acariciando os cabelos de
sua mais que filha.

CORTA PARA

056. EXT. IGREJA KANNON - DIA

Templo típico japonês com uma placa escrita: “IGREJA KANNON DO


JAPÃO”, Teruko, visivelmente grávida, recebendo queixas de um grupo
de pessoas que se sentem ludibriadas, entre elas está Takei.

TAKEI
Fui enganado. Centro Terapêutico passou a ser chamado de Igreja;
tratamento passou a ser chamado de pu-ri-fi-ca-ção. Minha esposa
faleceu fazendo terapia. Vou me afastar.

70
TERUKO
(harmonizadora)
Takei, os poemas do Fundador expandem a nossa visão, eles retratam
essa mudança.

TAKEI
(desafiando)
Recite um deles para nos convencer.

TERUKO
(recitando)
Sendo a doença
Algo que purifica
O corpo e o espírito,
Ela é uma infinita
Benção de Deus.

Um ELEMENTO DO GRUPO DO TAKEI empurra seus companheiros para


poder ficar próximo a Teruko.

ELEMENTO DO GRUPO DO TAKEI


(discorda com sarcasmo)
Faz-me rir. Todos sabem que a doença é uma maldição, dizer que é
salvação. Ora Teruko, pior do que estar desenganada é estar ou ser
enganada, por acaso acha que sua tuberculose intestinal é uma
benção divina?

TAKEI
(debochando mais ainda)
Dizer que o tratamento, ou melhor, a purificação é uma oração em
ação! Isso até que rima, mas não atina. É como acreditar nesse
poema: “Morte que sempre apegada ronda o exterior. Descuida-se da
vida que abriga no interior”.

Teruko se entristece com o que acabara de ouvir, uma clara afirmação


de desconfiança de que seu filho não viria ao mundo. As discordâncias
das pessoas se sobrepõem, algo é atirado em Teruko ferindo seu
rosto. Ela sangra por fora e por dentro na sua alma.

CORTA PARA

71
057. INT. IGREJA KANNON - NOITE

Mokiti medita, atrás dele e acima de sua cabeça, uma imagem de


Kannon. Uma agitação quebra o silêncio e afasta a paz. Um grupo de
pessoas, liderado por Takei, entra na Igreja Kannon para manifestar
seu descontentamento com os rumos que as coisas estavam tomando.
Eles começam esbravejando. Okada escutando... Vão se acalmando.
Mokiti ouvindo... Takei cochilando. Fundador sorrindo.

MOKITI
Uma das qualificações para evoluir é tornar-se um homem
verdadeiramente sadio, e não apenas na aparência. E para se tornar
verdadeiramente sadio é necessário ser um espírito sem máculas num
corpo sem toxinas. E quando houver manchas espirituais ou venenos
materiais, ali está a doença para agir eliminando as máculas e toxinas.

Takei, despertado por aquelas palavras introdutórias, acorda seu


espírito de busca e está maravilhado.

TAKEI
Doença seria um mal necessário? Maldição porque sua existência
implica em mazela, sua conseqüência em perdição pessoal, morte,
impedimento da construção do Paraíso na Terra. Por outro lado,
doença é essencial, uma dádiva porque seu processo purifica.

MOKITI
(contente)
Logo o objetivo do tratamento não é ... curar doenças, mas sim
purificar o espírito do homem para que a saúde seja verdadeira e
assim não seja necessário... ficar doente.

TAKEI
(eufórico)
Por isso é que o senhor em vez de chamar tratamento passou a
chamar de purificação? Mas isso vale para pobreza, conflito?

MOKITI
(entusiasmado)
Isso! O objetivo do tratamento não é sanar doenças, pobrezas e
conflitos, mas sim purificar o espírito do homem para que a saúde, a
prosperidade e a paz sejam verdadeiras e assim não sejam
necessários estes males: doença, pobreza e conflito.

72
TAKEI
(abismado)
Então o tratamento é um método de criar felicidade, de acabar com
todos os sofrimentos do ser humano?

ELEMENTO DO GRUPO DO TAKEI


Mas em que consiste esse método? Por que ninguém o descobriu
antes?

MOKITI
Vocês sabem que tudo é constituído pelos elementos fogo, água e
terra, inclusive as pessoas os possuem em determinada quantidade?
Se sim, eu posso responder.
O método consiste em irradiar, pela palma da mão, uma espécie de
ondas luminosas espirituais, raios misteriosos, que têm como agente
principal o elemento fogo.
E o principal motivo que me levou a descobri-lo foi o conhecimento,
registrado por mim em 15 de junho de 1931. Pois, na Transição da Era
da Noite para a Era do Dia, aumentou o número de partículas do
elemento fogo em quantidades suficientes para queimar as máculas.
Da mesma forma, como no caso das lâmpadas elétrica, quanto mais
intensa é a luz, maior é a quantidade de elemento fogo e calor emitido.

TAKEI
Mas Mestre, antes na Era da Noite o que acontecia?

MOKITI
A Luz era formada pela união do elemento fogo e do elemento água,
mas faltava o elemento terra. Como havia apenas dois elementos, a
força era insuficiente. A força da terra é o elemento da matéria e
correspondente ao corpo humano.
As coisas não podiam ser enxergadas nitidamente porque a
intensidade da luz da Lua é sessenta vezes menor que a luz do Sol. A
Era da Noite, com base na predominância do elemento água sobre o
elemento fogo, promovia o tratamento solidificador, congelador, daí a
“eficácia” do remédio.

ELEMENTO DO GRUPO DO TAKEI


Mas com essa dificuldade, como Cristo e outros conseguiram realizar
milagres na Era da Noite?

73
MOKITI
(explicando)
A irradiação do corpo humano é a mais poderosa, porém a diferença
que há de umas para outras pessoas, está além da imaginação. O
segredo é aumentar a força da irradiação.

TAKEI
Como faz para aumentar a sua e consegue fazer com que nós a
tenhamos também?

MOKITI
A Luz ao passar pelo meu corpo é acrescida do elemento terra e daí
nasce a força da trilogia, ou seja, o Poder Kannon. Explicando melhor,
a Luz emitida por Kannon passando pelo meu corpo, através do corpo
dos meus discípulos, torna-se força purificadora.
Eu passo esse poder outorgando às pessoas um papel escrito por mim
com a palavra “Luz”. Os efeitos se manifestam quando esse papel é
usado no peito, pendurado ao pescoço. Isso acontece porque da
palavra “Luz” se irradiam poderosas ondas espirituais, as quais são
transmitidas através do corpo, do braço e da palma da mão do fiel que
ministra a “Purificação pelo Espírito”.

TAKEI
(não gosta do que está entendendo)
Mas, dessa maneira essa força de irradiação depende do senhor? A
solução para o problema da doença que tanto busca está em sua
pessoa, o senhor é a solução, ou melhor, o problema? Uma pessoa é o
que faz não o que diz! Minha esposa faleceu, lembra?

MOKITI
A escada da salvação tem de ser pendurada do Céu até o Inferno.
Todos nós temos de evoluir subindo os degraus dessa escada. Perdão
por não ter conseguido subir tantos degraus e estender as mãos para
puxar qualquer semelhante, degrau por degrau. Mas... viver ou morrer,
ser feliz ou sofrer, se salvar ou atrasar também depende do outro, de
seu acervo espiritual.

Um clima de desencanto voltou a se fazer presente e muitos se


ausentaram dando as costas e indo embora, entre eles Takei.

CORTA PARA

74
058. SONHO

O Servidor está sonhando. Nesse sonho, ele e Peter conversam com


Mokiti.

MOKITI
(para Servidor)
Sabe o que Peter teve a coragem de me dizer: “Você sabe que não
levo nada muito a sério. A minha descrença nos “ismos” é geral, nada
de humanismo, comunismo, cientificismo, teísmo e muito menos
utopismo.”

DOUTOR PETER
(rindo e falando)
Mas, isso foi no passado. Atualmente, eu só me lembro dessa: “Não,
porque acredito que algum dia você irá se comprometer não apenas
comigo, este ser tão insignificante, mas sim com o mundo tão
expressivo. Enfim seu nome é „Peter‟, não é? E ele quer dizer „pedra‟.”

Servidor está rindo muito.

MOKITI
E esse aí que está rindo, me respondeu que o seu avental diz tudo.

O SERVIDOR
(rindo e falando)
Mas Mestre, isso já foi há muito tempo. Hoje eu, estou que nem o
Peter, só consigo me lembrar de ouvi-lo dizer que o servir com
humildade poderia me levar a ...

De repente, o riso deixa o ambiente dando lugar a dúvidas.

O SERVIDOR
... a Governar o Mundo!

DOUTOR PETER
E eu! Sustentáculo de Igreja! Como se nem convertido a ela sou?
Como se nem dinheiro possuo? Algo tão necessário nesse tempo
contemporâneo.

MOKITI
Ó espíritos de Sussanao-no-Mikoto e Amaterassu-Tenoo, esqueceram
que no tempo dos deuses na Terra vocês foram meus irmãos?
75
Os considerados “irmãos” sorriem por aquela brincadeira, no entanto,
voltam a ficarem apreensivos com aquelas atribuições pesadas lhes
dada pelo Mestre.

O SERVIDOR
Eu também gostaria de saber como serei governador do mundo, se
nem postulante a tal cargo existe? Como ser algo que nem vontade eu
tenho?

MOKITI
Mas, nessa idade contemporânea, você mesmo não me disse que se
esta fosse a minha vontade tudo poderia ser? Afinal, não precisa ser
nessa reencarnação. Ou precisa de tanta pressa?

O rosto de quem está sonhando mostra-se apreensivo. O Servidor


acorda todo suado.

CORTA PARA

059. INT. SALA DO DELEGADO - DIA

Muitas pessoas conspiram, entre elas, o delegado, o doutor Paolo e


um dono de hospital chamado DOUTOR KIMURA.

DOUTOR KIMURA
(esbraveja)
É inaceitável! Igreja Kannon estar se expandindo à custa de
tratamentos que infringem as leis da Medicina. Temos de destruí-la.

DOUTOR PAOLO
(tendo idéia)
O seu fundador tem tido uma existência de duelo ininterrupto com
quase toda a sociedade, desde a elite com sua imprensa, sua religião
oficial e as suas forças civis e militares, até a ralé com suas opiniões e
crendices. Ele tem tido enfrentamento seguido até com os próprios
membros da sua Igreja. Por que não dividir mais ainda sua energia, a
fim de enfraquecê-lo para dominá-lo? Vamos indispô-lo também com o
exército estrangeiro, vamos fazer com que esse “Papa da falsa
medicina” seja interrogado no quartel da tropa de ocupação.

Todos demonstram em suas faces muito apreço por essa idéia.

76
DOUTOR PAOLO
(acrescentando)
E a fim de desmascará-lo vamos autorizar a livre entrada no quartel.
Vamos deixar que os membros dessa igreja assistam para entender
onde e com quem estão metidos.

Delegado dirigindo seu olhar para o doutor Paolo.

DELEGADO
Nessa tropa de ocupação tem um comandante médico intransigente
com os incultos que nem o senhor. Ele é americano, seu nome é
Mathew. Ótimo para compor a banca de interrogação.

Agora olhando, para o outro ao lado, para o doutor Kimura.

DELEGADO
Como doutor Kimura é famoso, certamente será chamado para compor
essa banca.

DOUTOR KIMURA
(embaraçado)
Eu não! Já tive problemas desagradáveis com esse Okada, que não
quero nem tocar no assunto. Tomara que a tropa nem cogite nisso.

CORTA PARA

060. MANCHETE DOS JORNAIS

INSERT na primeira página de um jornal. Legenda: “TROPA DE


OCUPAÇÃO IRÁ DESMASCARAR O FUNDADOR DA IGREJA KANNON”.
“EM APUROS, O INTROMETIDO EM SAÚDE E DOENÇA”, “UM BASTA AO
CHARLATÃO „DEUS‟ CURANDEIRO”.

CORTA PARA

77
78
MEIO - 2

79
80
061. INT. AUDITÓRIO DO QUARTEL - MANHÃ

PANORÂMICA. Anfiteatro com grande público.


ENQUADRAMENTOS. Uma banca interrogatória composta por três
pessoas: uma delas nada à vontade - aquele doutor Kimura que não
queria fazer parte da banca -; outro o oposto, embora de aspecto
fechado, ar de poucos amigos; o terceiro, com aparência moderada, o
conhecido Thomas.
O de expressão taciturna levanta-se, caminha e fica na frente de Mokiti
que se encontra sentado. Ele faz isso para intimidá-lo. Próximo, na
platéia, o delegado cutuca o Doutor Paolo apontando para aquele
interrogador em pé, há cochichos e contentamentos, pois se trata do
DOUTOR MATHEW. Este médico volta a sentar-se.

DOUTOR MATHEW
(tramando)
Sou doutor Mathew. Presidirei o inquérito sobre falso tratamento de
medicina executado pelo senhor Okada. O inquérito será feito dentro
da democracia que estamos ajudando a instaurar neste país. Portanto,
todos têm direito mais do que se defender, tem o dever de sustentar
sua opinião a respeito das coisas. Dito isto, convoco o senhor Okada a
apresentar, num tempo razoável, sua defesa.

Mokiti se levanta com um livro na mão.

MOKITI
(olhando para a banca)
Bom dia! Agradeço essa oportunidade inédita que nos foi oferecida.

(abre o livro e olha para o público)


Eis o que dizem os livros de Medicina: “Desde os tempos antigos, está
determinado que a doença deva ser curada pelos médicos, por
aqueles diplomados em Medicina, e pelos remédios.”
Mas infelizmente a medicina não tem apenas uma única face, ela tem
duas: a face famosa, predominante, que é materialista; e a outra face,
a oculta, próxima da ilegalidade, que é espiritualista.
Conseqüentemente, a doença, por um lado, é definida pela medicina
convencional, dominante na sociedade; por outro lado, é definida pela
clínica natural, libertadora, que não é aceita pelas autoridades.
Assim, desde a importância da doença, seu significado, os seus
estágios que vão das causas aos sintomas, até os seus tratamentos,
podem ser vistos por duas posições conflitantes.
Sendo didático, vamos começar pela importância da doença.
81
Impedindo que ele seja didático para possibilitar que o considerem
confuso.

DOUTOR MATHEW
(crítico)
Isso não está dentro da lógica. Se o senhor acha que a medicina não é
única, então, deve começar por “elas”.

(sarcástico)
Sendo mais rigoroso, fale sua opinião sobre as medicinas. Obviamente
que de maneira clara, sintética e objetiva.

MOKITI
A medicina predominante é anticientífica, anti-saúde, antiprosperidade,
antipaz, em fim, é contrária à concretização do paraíso terrestre. Por
outro lado, a medicina tida como secundária, alternativa, e muitas
vezes chamada de embusteira, é a terapia do Sol baseada no coração,
neste órgão que capta o elemento fogo, e no terapeuta preparado
espiritualmente.

DOUTOR MATHEW
(intolerante)
Elemento fogo captado pelo coração, uma terapia do Sol. Isso não
passa de afirmações vazias desprovidas de conteúdo. Como dizer que
a medicina é anticientífica, se todos sabem que ela é a ciência das
doenças?

MOKITI
(contesta)
Vossa Excelência está errado! Medicina é a ciência da saúde. Por essa
razão, os médicos da medicina das doenças são doentes, não
esbanjam mais saúde do que as outras pessoas. Eles já estão
começando a desconfiar do poder de sua medicina, estão com medo
de receitar certos medicamentos, e até de cuidar de seus familiares.

O Fundador pára, pois ele vê no anfiteatro um exemplo vivo: ESPOSA


DO DOTOR KIMURA. Sente-se confiante para citá-lo.

MOKITI
(apontando)
Aquela senhora ali. Não a vemos desde que ficou recuperada com
nosso tratamento, é um bom exemplo. Ela ia ter que amputar sua

82
perna e o seu marido, pelo que ela nos falou, é dono de um famoso
hospital. Não é verdade?

DOUTOR KIMURA
(ocultando)
Como o senhor se atreve! Essa é minha esposa. Se ela tivesse um
problema de saúde nós teríamos resolvido no nosso conceituado
hospital.

ESPOSA DO DOUTOR KIMURA


(coagida)
Meu marido tem razão, certamente o senhor me confundiu com outra
pessoa.

Pressentindo o que estava acontecendo.

MOKITI
Eu só não me engano é que a medicina convencional mantém
pomposa aparência, como salas de cirurgia em grandes hospitais,
inúmeros medicamentos, aparelhos e pesquisas científicas. Não é,
pois, de admirar que se acredite que, um dia, todas as doenças
possam ser debeladas.

DOUTOR MATHEW
(interrompendo com ironia)
Cuidado! As estatísticas comprovam que a duração média da vida
humana tem aumentado.

MOKITI
Cuidado também porque a percentagem de homens que atinge uma
idade avançada pode estar diminuindo cada vez mais. Três pessoas
todas com 50 anos de idade a média é 50, já três com 70, 66 e 11
anos, tem 49 de média. Não é?
Outro cuidado! A qualidade de vida também conta, não só a
prorrogação da mesma.

(retomando)
Mas eu estava falando que essa pomposa aparência como salas de
cirurgia, hospitais, inúmeros medicamentos, aparelhos e pesquisas
científicas, iludem donos de hospitais, médicos, pesquisadores,
farmacêuticos e também o próprio povo. É uma superstição que
precisa ser destruída por completo. Entretanto, a eliminação total
desse erro só vai ser concretizada quando, pelo aumento da
83
intensidade do espírito do fogo, esse engano ficar evidente. O que está
atualmente acontecendo no mundo já é assustador, mas nada poderá
ser comparado às ocorrências futuras.

DOUTOR MATHEW
(contesta)
Isso é bobagem! Os laudos médicos estão evoluindo e assim podemos
tratar as doenças prematuramente.

MOKITI
(desmente)
Isso é crendice! No caso de uma doença mais grave, os laudos
médicos sempre diferem. Um exemplo gritante foi a morte daquela
autoridade em oncologia; ele e seus colegas, médicos famosos,
haviam diagnosticado câncer pulmonar. Feita autópsia, verificou-se
que a doença se originara no intestino. Lembram o que no final de sua
vida ele dizia?

(citando-o)
“Embora eu ache que não fará nenhum efeito, tomo, por obrigação, o
remédio que fiz as pessoas tomar.”

DOUTOR MATHEW
(tenta retomar o controle)
Com essas idéias estapafúrdias, o senhor não está provando nada.
Por que a medicina é anticientífica?

MOKITI
Uma outra razão dela ser anticientífica é a de se colocar no reino
animal. Ela utiliza, como único método, a pesquisa em cobaias e aplica
os resultados dessa pesquisa aos seres humanos. Analisando sob
diversos aspectos o homem e os animais diferem quase radicalmente.

DOUTOR MATHEW
(interrompendo)
Mas o homem é um animal. Logo...

MOKITI
(rindo)
Diga a um homem que ele está tuberculoso para seu sistema nervoso
ser imediatamente abalado, seu estado piorar e até a morte ser
apressada. Compare! Diga a um boi que ele está tuberculoso, isso em

84
nada o influencia. Fazendo pesquisas com ratos brancos, aplicando-as
no homem, jamais se pode atingir a bons resultados.

DOUTOR MATHEW
(irônico)
O senhor que se apregoa um revolucionário na medicina, como é essa
sua verdadeira medicina? Esse seu médico autêntico?

MOKITI
A verdadeira medicina é aquela que, iniciada a purificação, promove a
dissolução da toxina mais rapidamente, e também faz com que maior
quantidade seja expulsa para fora do corpo. No que se refere ao
tratamento, ele não deve causar sofrimento algum, como as dores
causadas pelas injeções e cirurgias; muito pelo contrário, deve até
proporcionar uma sensação agradável. Entre outras condições, é
essencial que a cura seja rápida, que a doença não reapareça nem
mesmo depois de muitos anos, e que a pessoa tenha ainda mais
saúde que antes de ficar doente.

DOUTOR MATHEW
(ainda irônico)
Que confusão hein, senhor Okada. E a falsa medicina?

MOKITI
O ponto em que a medicina está mais errada é considerar os seres
humanos como bonecos. Isto porque o corpo humano é uma unidade
completa, e não um corpo que foi formado com a junção de membros e
dorso. O fato de surgir uma doença numa das partes significa que ela
não se relaciona apenas com essa, mas com todas as partes do corpo.
Por exemplo, os dentes são fracos porque o corpo todo é fraco. Por
isso, deixar o corpo fraco e tornar os dentes fortes é uma coisa
completamente inviável.

DOUTOR MATHEW
(revoltado)
Que petulância! Querer ensinar medicina aos formados em
universidades de medicina. Como a sua Igreja Kannon forma, se é que
podemos usar essa palavra, os seus médicos?

MOKITI
Certamente, de modo mais eficaz no curar e mais econômica no custo
em tempo e dinheiro. Os nossos médicos são esclarecidos sobre o que
é a doença. Em segundo lugar, são conscientes de que a função do
85
médico é fazer o bem e não ficar bem. E terceiro, se esforçam para
serem personalidades exemplares na sociedade, pois só uma pessoa
portadora de alma mais limpa que a alma do doente conseguirá atingir
o objetivo de curá-lo.

Ouvem-se GRITOS, a platéia se interessa pelo que está ocorrendo lá


fora. O interrogatório é paralisado.

062. EXT. AUDITÓRIO DO QUARTEL - MANHÃ

O Servidor segura firmemente seu avental branco rodeado por


enfurecidos estudantes de medicina com seus uniformes alvos.

O SERVIDOR
(esbravejando)
Está para nascer aquele que vai me tirar o avental. Não me interessa
se acham algo ridículo ou se acham que só médico ou estudante de
medicina pode usar branco.

Os soldados intercedem, tudo se acalma e as pessoas entram


novamente no auditório.

063. INT. AUDITÓRIO DO QUARTEL - MANHÃ

DOUTOR MATHEW
Depois dessa breve parada “militar” promovida por um soldado seu
uniformizado com avental, vamos deixar de lado este assunto
medicina, afinal o senhor foi aqui convocado para falar sobre seu
tratamento de doença.

(pausa)
Antes fico imaginando o que é a doença para si? Pela sua necessidade
de ser diferente para aparecer, a doença, para o senhor,
provavelmente não deve ser causada por um agente específico como
bactérias, vírus e parasitas, algo como tuberculose pelo Bacilo de
Koch, certo?

MOKITI
Certo. No organismo existe toda flora microbiana, todo tipo de vírus em
estado latente, só que o êxito microbiano e virótico depende da
condição mórbida que o próprio espírito cria no corpo. Em termos
86
espirituais, as causas das doenças são os encostos e os pecados
nossos e de nossos antepassados, como os produzidos pelo que
pensamos, isto é, pelo que raciocinamos, sentimos e agimos. Já em
termos materiais, as causas das doenças são as químicas, como os
agrotóxicos, e principalmente os remédios.

Nesse momento, o Fundador vai de encontro à incompreensão das


tropas de ocupação, pois esta tem origem na superstição da cega
crença do poder dos remédios e agrotóxicos e na ignorância dos
malefícios de suas toxicidades.

THOMAS
(achando absurdo)
O senhor estava indo bem. Mas afirmar que os remédios que curam os
corpos e os agrotóxicos que fertilizam a terra, ao mesmo tempo são
responsáveis pelas doenças, daqui a pouco até são responsáveis
pelas pragas, isso é demais.

MOKITI
Demais é afirmar que os remédios é que curam, e que os agrotóxicos é
que fertilizam.

THOMAS
(achando desaforo)
Saiba o senhor que a urgência de curar os doentes e aumentar a
produção de alimentos causados pela guerra só foi atendida graças
aos remédios e aos fertilizantes.

MOKITI
Em vez de curar e alimentar, não seria melhor dizer que faz retomar o
trabalho de emprego e evitar o ronco de fome?

DOUTOR MATHEW
(ardiloso)
Pois bem, não levando em conta o seu insulto ao nobre colega, vou
entrar na sua maneira de ver as coisas. Se o medicamento não cura,
ele faz o que?

MOKITI
Além de causar doença? Apenas, e simplesmente apenas, estanca,
congela as máculas e toxinas, não deixando doer, aí se pensa que
está curado.

87
Este interrogador a fim de evitar demora na exposição do Fundador e
querendo retomar controle.

DOUTOR MATHEW
(determinando)
Responda-me, em poucas palavras, cada uma das perguntas que vou
lhe fazer.

(sabatinando)
As formas clínicas aguda, subaguda e crônica são o quê para o
senhor?

MOKITI
Caracterizações de saudável, saudável aparente e doente.

Sente que não vai conseguir nenhum ponto fraco por ali, passa
rapidamente para outra pergunta.

DOUTOR MATHEW
(urdindo)
Como, para o senhor, a doença não depende da existência de
germens, os sintomas dela não podem ser apresentados de acordo
com bactérias, vírus e parasitas, não é verdade? E aí como fazer?

MOKITI
Basta localizar as toxinas e máculas espirituais. Aí é que os sintomas
se apresentam. Por exemplo, onde está quente tem que se prestar
atenção.

DOUTOR MATHEW
Mas, pelo menos, o tratamento é agir de acordo com a doença, se
bactérias, vírus ou parasitas, não?

MOKITI
O tratamento mesmo é agir no doente e não na doença. Ele depende
muito da elevação espiritual do doente, não só para evitar; como
também da sua compreensão dentro da purificação que está se
processando. Se não for dessa maneira, até o nosso método de
tratamento pode proporcionar alívio temporário, mas será difícil
proporcionar a verdadeira saúde.

88
ENQUADRAMENTO do delegado e do Doutor Paolo que estão aturdidos
com o que estão presenciando. Eles confabulam rapidamente entre
eles.

DOUTOR PAOLO
(para delegado)
Com esses interrogadores e público estamos sendo humilhados,
precisamos de profissionais em medicina. Temos de intervir antes que
seja tarde.

DELEGADO
Antes da presença dessa tropa, isso não seria assim.

Doutor Paolo dirige-se à banca, levantando sua mão como que


pedindo autorização para poder falar.

DOUTOR PAOLO
Com licença! Devido ao fator tempo e para poder contar com a
participação de mais médicos na platéia, não seria melhor transferir
esse interrogatório para à tarde, na famosa clínica do doutor integrante
dessa honorável banca?

Os interrogadores se entreolham. Até que Thomas acena com a


cabeça para os lados demonstrando não concordar. Doutor Mathew
põe seu polegar para cima, apoiando tal sugestão. Doutor Kimura está
apreensivo.

DOUTOR MATHEW
(veemente)
Como chefe da banca, eu declaro que prosseguiremos à tarde naquele
hospital do doutor Kimura.

A platéia levanta-se contente e vai deixando o recinto sob o suspirar de


alívio do delegado torturador e do doutor Paolo, destes fascistas
japonês e italiano.

CORTA PARA

89
064. RESIDÊNCIA DE TERUKO - TARDE

Teruko debate-se para se soltar dos braços de dois enfermeiros que a


agarram para impedir que seu recém nascido seja tirado do berço pelo
doutor Kimura.

DOUTOR KIMURA
(revoltado)
A que ponto levou o seu fanatismo por seguir esse Okada. Eu só estou
aqui devido à solicitação da sua ilustre família. Isso é uma vergonha, a
senhora uma pessoa da alta roda, culta, inteligente, resistindo que
salvemos o seu filho. Seu filho tem apendicite aguda, ele tem de ser
operado com a maior urgência, visto que seu estado é tão grave que a
probabilidade dele morrer é muito grande. Vamos logo para o hospital.

Doutor Kimura às pressas sai com o recém nascido chorando e Teruko


agarrada vai junto.

CORTA PARA

065. INT. SALA DE CIRURGIA DO HOSPITAL DO DOUTOR KIMURA -


TARDE

Mokiti violentamente adentra onde está doutor Kimura com sua equipe
cirúrgica, Teruko segura por duas enfermeiras e seu filho para ser
operado.

MOKITI
(com autoridade)
Pode parar com essa derrocada da medicina.

DOUTOR KIMURA
(procurando contradizer)
Mas o senhor também é contra o progresso da cirurgia?

MOKITI
Esse mesmo é que é um desastre total. A cirurgia é um método de
extrair o órgão afetado pela doença, e não um método de extrair a
doença em si.

90
DOUTOR KIMURA
(revoltado)
O troglodita fique sabendo que os cirurgiões e tudo aqui nessa sala
têm salvado muitas vidas.

MOKITI
Uma vez, se por acaso foi o cirurgião que curou o doente, este deve
colocar sua fotografia no Altar e reverenciá-lo; se salvo por uma
operação, deve considerar o bisturi, a pinça, os desinfetantes e outros
objetos como tesouros perpétuos da família e transmiti-los de geração
em geração.

DOUTOR KIMURA
(indignado)
Um atraso terrível é o que vocês são. Nem vacinaram essa criança.
Será que também tem explicação para tal procedimento? Diga lá, se
isso é possível.

MOKITI
Vacina impede a saída das toxinas hereditárias e, portanto, atrapalham
a formação de um corpo físico verdadeiramente saudável. Como
resultado disso, ela se torna fonte de várias doenças, especialmente
aquelas que afetam os órgãos nervosos que mais são utilizados.
Quando inevitável, é preciso aplicá-la, mas a sua purificação deverá
ocorrer futuramente.

(pausa)
Por favor, parem de ser ignorantes e supersticiosos, a coqueluche e a
varicela, por exemplo, são causadas pelas toxinas hereditárias
recebidas dos pais; são purificações naturais que ocorrem nas crianças
no processo de desenvolvimento do seu corpo físico, expandindo toda
sua força corporal; não são doenças.
À medida que a Medicina avança no combate aos sintomas, às
doenças agudas, principalmente as infantis, como sarampo, rubéola,
paralisia infantil, podem não ocasionar mortalidade, mas por outro lado,
aumentarão assustadoramente as doenças crônicas: prisão de ventre,
aneurisma cerebral, enfarte, câncer, etc.

DOUTOR KIMURA
Por que dessa insana afirmação?

MOKITI
Simplesmente porque se mantiveram os venenos mortíferos.
91
DOUTOR KIMURA
(querendo mostrar que eles não são abertos a nada que existe)
A homeopatia também está nesse caso?

MOKITI
Curar uma doença por fármaco em doses infinitesimais que produza no
indivíduo sadio efeitos semelhantes aos do processo patológico que se
quer combater, no fundo é deter veneno através de outro veneno.

DOUTOR KIMURA
E se na operação houver necessidade de transfusão de sangue?

MOKITI
Não haverá tal questão porque não haverá extração cirúrgica nenhuma
nessa criança. Mas em termos genéricos, eu responderia com uma
pergunta: “bebendo ou injetando sangue ele continua sendo sangue?”
Isso seria imaginar o ser humano apenas como um simples vasilhame
ou o sangue apenas como glóbulos brancos e vermelhos. O ser
humano é constituído por fogo, água e terra que são, respectivamente,
espírito, sangue e demais coisas como ossos e músculos. O sangue é
a materialização do espírito, reciprocamente, o espírito é a
espiritualizarão do sangue, dá para entender que o sangue tem parte
material e parte espiritual? Incompatibilidade ou compatibilidade
sangüínea se deve à primazia de qual das suas partes? Ou elas são
iguais, seguem a probabilidade ou ditadas pelo acaso?

(pausa)
Mas os senhores já não devem estar entendendo mais nada e além do
mais está na hora do interrogatório. Teruko, leve sua filha. Doutor
Kimura, por favor, vamos juntos para o interrogatório. Nós estamos
sendo aguardados.

Todos acatam porque cada um segue uma direção.

CORTA PARA

066. INT. AUDITÓRIO DO HOSPITAL DO DOUTOR KIMURA - TARDE

PANORÂMICA. Naquele santuário dos médicos, com muito maior


audiência do que no auditório militar, a predominância da cor das
roupas é branca, mas a das vestes espirituais é escura.

92
Logo que Mokiti aparece na porta se iniciam as vaias. À medida que
vai entrando os apupos vão aumentando em intensidade. Objetos são
atirados em sua direção. No entanto, ele está em paz e senta-se.

THOMAS
(veemente)
Enquanto doutor Mathew não chega, estou no comando dessa
investigação. Sei que isso não é um quartel, mas não vejo razão para
que vocês tenham tal procedimento. Não admitirei desordem.

THOMAS
(olhando para Mokiti)
Senhor Okada, tendo em vista que na sessão desta manhã
atrapalhamos sua exposição, pedimos que o senhor conclua sua visão
sobre doença.

PASSAGEM DE TEMPO: CLOSE-UP num relógio marcando 14h10,


DESFOCAR RELÓGIO e ENQUADRAR em Doutor Kimura que olha no
relógio, INSERT neste que marca 16h10.

DOUTOR KIMURA
(passa mão na cabeça mostrando agonia)
Senhores, como eu tenho de fazer algo útil, pois tenho uma operação
marcada para um paciente e ainda estamos em doença, gostaria de
saber sua visão sobre a saúde. Talvez apenas a definição e valor da
saúde. De acordo?

MOKITI
Pois não. A saúde, como a doença, também tem duas faces e isso
decorre de haver duas medicinas. A medicina predominante é anti-
saúde...

A platéia de branco vaia.

DOUTOR KIMURA
(inconformado)
Do jeito que o senhor fala parece que no nosso hospital só tem coisa
ruim.

MOKITI
Obviamente que não. A medicina exercida no seu hospital tem ramos
muito úteis, como a bacteriologia, uma parte da higiene, a cirurgia no
tempo de guerra, a odontologia, as clínicas de fraturas, a explicação
93
minuciosa do funcionamento do organismo obtida graças à análise e
dissecação.

(pausa)
Mas como eu estava dizendo. A medicina predominante é anti-saúde,
enquanto a medicina tida como secundária, alternativa, e muitas vezes
chamada de embusteira, define a saúde como equilíbrio rítmico
natural.
No que se referem à saúde, os homens se dividem em três tipos. O
primeiro tipo tem um físico saudável e não possui toxinas;
conseqüentemente não purifica, ou melhor, não contrai doenças.
Pessoas assim são extremamente raras. O segundo tipo é portador de
toxinas e tem muito vigor físico; em decorrência disso, a ação
purificadora desencadeia-se em pequenas e grandes doenças. O
terceiro tipo, embora também seja portador de toxinas, tem pouco vigor
físico, razão pela qual a ação purificadora não consegue se
desencadear; mesmo que ocorra, é fraca. Tais indivíduos só purificam
quando se tornam mais vigorosos, através de exercícios ou de outros
meios.

DOUTOR KIMURA
(apressando)
Mas que importância tem a saúde para um cientista espiritualista como
o senhor?

MOKITI
Que felicidade pode haver quando não se tem saúde? A ciência ou a
religião sejam elas quais forem que não tiverem força para resolver o
problema da doença, são desprovidas de validade, pois a solução da
morte antinatural, da invalidez, da pobreza e do conflito só será
possível com a solução da doença. Certamente não houve até agora
nenhuma ciência ou religião que fizessem uma proposição tão ousada
como a de nossa Igreja. Se, por ventura, proclamássemos um
empreendimento de tal grandeza sem estarmos absolutamente certos
de poder realizá-lo, nos equipararíamos aos grandes farsantes ou,
então, seríamos loucos varridos.

O público está dividido. Apupos e aplausos ensurdecem o ambiente.


Doutor Paolo não se contendo, levanta e caminha até o Doutor Kimura
falando em seu ouvido.

94
DOUTOR PAOLO
(transtornado)
Por atenção ao seu colega de clinica e de farda há mais de 20 anos,
embora aliados na Segunda Guerra Mundial, desejo fazer uma única
pergunta ao interrogado. Posso?

Doutor Kimura confabula com Thomas. A platéia não entendendo


aquela intromissão, paralisa sua manifestação. Aguarda-se em silêncio
alguma decisão, doutor Kimura faz um gesto com as mãos indicando
que ele poderia fazer uso da palavra.

DOUTOR PAOLO
(para Mokiti)
Eu exijo saber se, para você, a responsabilidade pela saúde cabe aos
médicos ou não.

MOKITI
Os médicos só têm tratado da doença, eles não cuidam da saúde.

DOUTOR PAOLO
(gritando)
Mas é deles ou não?

MOKITI
Não.

DOUTOR PAOLO
(ridicularizando)
Então a saúde é da competência de quem? Deus? Kannon? Ou quem
sabe de um leigo que nem o senhor?
Pode ser que seja das divindades e o senhor se ache uma delas. Vai
ver que a força do seu método de tratamento depende do senhor? E se
tudo isso for verdade o senhor se tornará um imortal, não?

(provocando)
Responda se for capaz?

MOKITI
Sobre isso ainda não tenho permissão ...

95
DOUTOR PAOLO
(sentindo-se vencedor, interrompe)
Depois disso, nada mais me interessa ouvir. Só aguardar essa
“autorização oculta do além”.

Silêncio.

DOUTOR KIMURA
(ardilosamente)
Por este fato, por mim está encerrado o interrogatório.

THOMAS
(mostrando já ter opinião a respeito, concorda)
Amanhã publicaremos nos jornais nossas conclusões a respeito.

O público sai devagar, Doutor Kimura apressadamente e Doutor Paolo


e o delegado se cumprimentam.

CORTA PARA

067. MANCHETE DOS JORNAIS

Diante da capa de um jornal, INSERT destacando um trecho


apresentado pelo correr da legenda: “A IGREJA KANNON DO JAPÃO ERA
OBJETO DAS NOSSAS INVESTIGAÇÕES DESDE JANEIRO, DEVIDO A
PROBLEMAS RELATIVOS À SONEGAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA.
HAVIA, TAMBÉM, CONTRA ELA, DIFAMAÇÕES PROVENIENTES DE
OUTRAS ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS, MAS FICOU ESCLARECIDO QUE
O CASO NÃO ERA NADA DAQUILO QUE SE ALARDEAVA, COMO NÃO SE
COLHERAM PROVAS SUFICIENTES, AS INVESTIGAÇÕES FORAM
ENCERRADAS. O TRATAMENTO ATRAVÉS DO MÉTODO DE
PURIFICAÇÃO E DO CULTIVO SEM FERTILIZANTES TALVEZ POSSA
CONSTITUIR UM PROBLEMA, PELO SEU CARÁTER ANTI-SOCIAL; COMO,
PORÉM, ISSO NÃO É DA NOSSA ALÇADA, NÃO PODEMOS CONSIDERÁ-
LOS COMO PROBLEMA, DESDE QUE OS FIÉIS TENHAM UMA
COMPREENSÃO ELEVADA SOBRE ISSO”.

CORTA PARA

96
068. INT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

Solenidade de fundação de uma nova Igreja, num templo moderno,


sem características japonesas. O Servidor é o oficiante de abertura da
cerimônia.

O SERVIDOR
Caros missionários, a Igreja Kannon do Japão e a Igreja Miroku do
Japão estão sendo dissolvidas espontaneamente, e, com a união de
ambas, sob um novo plano, está sendo criada, nessa solenidade, a
entidade religiosa denominada Igreja da Ultra-Religião.
O Fundador, senhor Mokiti Okada, passa a ocupar a posição de Líder
Espiritual e a usar o nome religioso de Meishu-Sama que quer dizer
“Senhor da Luz”.
Pedimos então ao “Senhor da Luz” suas palavras neste dia tão
significativo.

MOKITI
O Paraíso na Terra será construído com a libertação do homem,
totalmente, da angústia da doença. Mas no âmbito das religiões, o que
elas pensam, falam, escrevem e agem a respeito da doença?
A maioria dos budistas da atualidade não mostra nenhum interesse
pelo assunto, pois considera que “a doença não é curada com o poder
de Buda”. Por conseguinte, a praxe é: “se a pessoa ficar doente, deve
consultar um médico”.
No xintoísmo, a maioria vê a doença como conseqüência dos pecados
e impurezas. Fazendo boa reflexão, descobre-se o erro e corrigi-lo é
ficar curado.
No Seicho-no-ie, diz-se que a doença é uma “ação do pensamento”.
Porém, por mais que se pense que “a doença não existe”, não se
melhora, trata-se de um tratamento de auto-ilusão momentânea.
Devemos tomar cuidado com a teoria pregada pela Igreja Tenrikyo: “a
causa da doença é um acúmulo de bens materiais pelo ser humano,
devolvendo tudo a Deus a pessoa fica curada”.

ENQUADRAMOS várias faces mostram-se em desacordo com o que


estão ouvindo, afinal as religiões citadas são tradicionais e muitos ali
presentes foram educados nelas.

97
MOKITI
(off)
Os adeptos da seita Nitiren e outros dizem que “a doença é um caso
de encosto”. Para que “esse encosto” se afaste maltratam o corpo, o
espírito não sente, de modo que o corpo é que sai prejudicado.
Os cristãos não têm muitos interesses em relação à doença. Na Bíblia
consta que “Jesus exorcizou o demônio que estava encostado nas
pessoas”. Entretanto, “exorcizar o espírito e curar” é uma medida
temporária, porque, mesmo retirando o espírito, se ele continuar como
está, pode se encostar-se a outras pessoas, de modo que a doença
reaparecerá em alguém.

PLANO SOBRE O OMBRO do “Senhor da Luz”. Da parte de trás de sua


cabeça que está no primeiro plano do quadro ele vê no fundo do
quadro os que lhe escutam e os que não lhe permanecem tão crentes.

MOKITI
(Continuando em off)
Diante de semelhante quadro, quem ouvir falar pela primeira vez sobre
o aparecimento de uma religião capaz de libertar o homem, totalmente,
da angústia da doença, dirá: „Como pode haver tamanha tolice neste
mundo? A cabeça da pessoa que diz isso não deve estar funcionando
bem‟. Provavelmente essa pessoa seria considerada como estando a
um passo da loucura. Mas, creiam, apareceu uma religião com o poder
que dissemos.

ENQUADRAMOS rosto do “Senhor da Luz”.

MOKITI
(de maneira épica)
A Igreja que ora estamos fundando, não é uma simples religião. É uma
Ultra-Religião. Kannon, que estava atuando para a salvação restrita ao
Oriente dá um grande salto, passando a ser de âmbito mundial - salvar
toda a humanidade - e a Igreja da Ultra-Religião é a manifestação de
tudo isso.

CORTA PARA

069. INT. QUARTO DOS OKADA - MADRUGADA

No meio da noite. “Senhor da Luz” e sua esposa Yoshi estão dormindo.


Quando algo acontece.
98
O SERVIDOR
(nervoso)
Mestre! Chegaram muitos policiais e estão dizendo que eles vieram
fazer investigações.

Entram o investigador e vários policiais pela porta do quarto.

INVESTIGADOR
Não é necessário levantar-se. Continue deitado.

Sem nada a dizer o que ali investigavam, passaram a revistar o quarto


em busca de algo que lhes era valioso. Nada encontrando, seguram
com firmeza os braços do Servidor e o levam.

CORTA PARA

070. INT. SALA DO DELEGADO - MADRUGADA

Diante do torturador e policiais estava o Servidor, bem maltratado. O


delegado percebe que ele suporta tudo para que o “Senhor da Luz”
não seja molestado.

DELEGADO
(ameaçando)
Se você não confessar, vou mandar trazer Okada.

O Servidor disposto a proteger o Mestre admite tal acusação


infundada.

O SERVIDOR
Realmente fui eu.

Esse pronunciamento estampa no rosto do delegado um pretexto que


lhe fundamenta dar uma ordem de prisão.

DELEGADO
(dirigindo-se a um policial ali presente)
Tragam-no.

CORTA PARA

99
071. INT. QUARTO DOS OKADA - ALVORADA

O “Senhor da Luz” é acordado por policiais, sendo arrastado por estes.

CORTA PARA

072. INT. CELA DO SERVIDOR - DIA

O Servidor, preso e preocupado, pergunta ao investigador.

O SERVIDOR
Como está o Mestre?

INVESTIGADOR
Ele está muito bem e assim que chegou aqui, pediu-nos que o
interrogasse intensamente, mesmo que passasse noites em claro, para
que se resolva o problema o mais rápido possível, pois queria que o
seu discípulo predileto estivesse livre o quanto antes.

O Servidor aprisionado fica muito emocionado. Mas, lá fora tudo é duro


e seco.

CORTA PARA

073. VENDA DE JORNAIS - DIA

Pedestres transitam em meio a jornaleiros alardeando as notícias dos


jornais que estão vendendo.

VOZ DE JORNALEIRO
(gritando)
“EXTRA! EXTRA! FUNDADOR OKADA É PRESO”.

CORTA PARA

074. INT. DELEGACIA - DIA

Um jornalista escrevendo num papel as informações que aquele


policial fornecia.

100
INVESTIGADOR
(impressionado)
Ele é uma pessoa „fora de série', realmente admirável. De manhã, ele
acorda sempre antes do horário estabelecido e, sem falta, faz a
limpeza da cela. Sem dúvida, ele é fundador de uma religião.

Um policial aflito se aproxima do investigador e fala algo baixo em seu


ouvido. O que o faz se retirar às pressas.

075. INT. CELA DE MOKITI - DIA

O investigador chega à cela e vê o “Senhor da Luz” se movimentando


de um lado para outro, fica confuso e pergunta.

INVESTIGADOR
Que aconteceu professor? O policial apreensivo me ...

MOKITI
Nada. O que está acontecendo é que estou andando porque preciso
fazer exercício. Aqui é um bom lugar para isso, uma vez que não
posso ir lá para fora.

INVESTIGADOR
(rindo)
Isso é uma verdade.

(sério)
O policial apreensivo me comunicou que o delegado está lhe
chamando para interrogá-lo.

CORTA PARA

076. INT. SALA DO DELEGADO - DIA

O “Senhor da Luz” está sendo brutalizado pelo delegado perante


policiais que o ajudam.

DELEGADO
Não há razão para que não saiba. Se tentar fingir ou mentir, não lhe
perdoaremos.

101
MOKITI
Por mais que eu pense, acho que eu é que estou certo.

DELEGADO
Imagine se você não vai se lembrar de um problema tão evidente!
Seria tão fácil se falasse com franqueza! O negócio demora porque
você tenta distorcer as coisas!

Ele desmaia. Um policial joga água fazendo-o recobrar os sentidos.

DELEGADO
(empurrando-o)
Vamos, comece a lembrar!

MOKITI
(desestabilizado)
Isso é uma tortura cerebral

E a tortura cerebral e física continua pelo dia inteiro.

CORTA PARA

077. INT. CELA DE MOKITI - MADRUGADA

O “Senhor da Luz” vê as estrelas olhando para o céu através de


pequenas grades no alto da parede.

MOKITI:
(dramático)
Deus, eu renuncio à própria vida se preciso for, mas não à missão.
Como irei salvar o mundo da doença, se eu mesmo não tenho força
para salvar-me dessa tortura?

De repente, começa a sentir na barriga uma impressionante dor, a qual


foi se intensificando e, torna-se insuportável. Ministra a purificação pelo
espírito em si mesmo e a dor ameniza um pouco. Foi quando percebeu
uma voz divina falando em seu interior: “Isso se deve à grande
providência e não pode ser evitado, portanto agüente um pouco.” A dor
passa e ele compreende.

102
MOKITI
Algo misterioso, inédito, grandioso e poderoso ocorreu, finalmente já
estou preparado.

As estrelas ficam mais brilhosas.

CORTA PARA

078. EXT. DELEGACIA - DIA

Saindo da delegacia, o “Senhor da Luz” está sendo libertado.


Discípulos o esperam com um carro. Logo que entrou no veículo falou
para o motorista, que nada mais era que o Gerente da Loja Okada.

MOKITI
O pessoal está bem? Será que os fiéis não estão vacilantes com esses
vinte e dois dias de interrogatórios? O meu sofrimento é imposto por
Deus e por isso não é nada de mais. Mas eles não sabem e devem
estar preocupados ou fazendo confusão.

GERENTE DA LOJA
(hesitante)
É o que está ocorrendo. Uma situação muito desagradável com o
Servidor. As pessoas o acusam, dizendo: “Aquele caso ocorreu por
sua culpa, por você ter confessado, portanto não deve ficar junto do
„Senhor da Luz‟. Procure alguma casa e mude-se”.

MOKITI
Coitado!

E o carro se põe em movimento.

CORTA PARA

079. EXT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

O veículo está chegando ao Templo, uma pequena multidão aguarda o


“Senhor da Luz”. Ele sai do carro e começa a andar pelas pessoas,
cumprimentando-as, por meio do tirar e retirar da sua cabeça o
chapéu. No meio daquele aglomerado, alguma coisa lhe chama
atenção fazendo-o ficar imóvel, só que por alguns segundos.
103
Caminhando na direção das pessoas, elas vão saindo da frente, vai se
formando uma passagem, até que esta se finda numa pessoa tão
curvada que nem se vê o rosto. O “Senhor da Luz” então lhe dirige a
palavra.

MOKITI
Coitado! Você está passando por grandes dificuldades, por isso, venha
comigo. Vou levá-lo sempre nas minhas saídas.

(pensando)
Mas, afinal, quem tem grande missão maior é a purificação.

O rosto já aparece, trata-se de o Servidor. O motorista admirado


cochichou no ouvido de um que estava ao seu lado.

GERENTE DA LOJA
(sussurrando)
Quão grandioso é o “Senhor da Luz”.

Esta pessoa é o investigador que estava na delegacia, só que


nitidamente não estava prestando atenção naquele acontecimento. Ele
estava com a mão na parte superior da cabeça, indicando estar
sofrendo com uma forte dor naquele lugar.

INVESTIGADOR
(off)
Quando puder vou pedir ajuda ao “Senhor da Luz”.

É quando o “Senhor da Luz” passa pelo motorista, sorri em


agradecimento, puxa o investigador para perto e, pondo a sua mão
esquerda na região occipital, ministra-lhe a “Purificação pelo Espírito”
com a mão direita, justamente na parte superior da cabeça. Como foi
algo muito certeiro.

INVESTIGADOR
(espantado)
Passou! Como o senhor sabia?

MOKITI
(falando para investigador)
Através do seu pensamento, Deus fica sabendo de tudo com
antecedência.
CORTA PARA
104
080. INT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

Mais tarde. Um culto significativo está sendo realizado, com maciça


presença de membros da Igreja. O “Senhor da Luz” está orando, ao
seu lado, em posição destacada está o Servidor. Encerrada a oração
ele se dirige aos membros.

MOKITI
(ensinando)
Quero falar a respeito da misteriosa ação divina ocorrida quando eu
estava preso. Naquela oportunidade, desapareceu por completo a
distância que havia entre Deus e o ser humano, e eu atingi o estado de
união com Ele. A partir de então, já não preciso perguntar as coisas a
Deus, basta que eu aja de acordo com a minha própria vontade.

Inicia-se um burburinho. Até que um murmurante, por demais


conhecido, explicitou aquele ruído.

TAKEI
Vai me desculpar, mas isso nem grandes personalidades religiosas
como Buda, Cristo e Maomé disseram ter conseguido.

Sem dar conta daquele aparte continua.

MOKITI
Fui investido do poder de executar aquilo que esses mensageiros
divinos não puderam realizar. Ou seja, a força para que se instaure a
saúde. Mas, mais do que isso, o poder de outorgar essa força para os
outros, formando pessoas capazes de livrar as pessoas da doença:

O público em expectativa, aguardando mais dados para compreender,


e assim acreditar, no que está sendo revelado.

MOKITI
(continuando)
O que ocorreu foi a introdução de um ponto no centro de uma
circunferência esvaziada, o que equivale à expressão “colocar
espírito”. Até então o mundo era superficial, agora ele tem alma.
Isso se evidencia em todos os setores da cultura. No caso da
medicina, baixar a febre com gelo até cortar a purificação tomando
remédios, era apenas “colocar matéria”, adiando a cura.

CORTA PARA
105
081. INT. RÁDIO - DIA

LOCUTOR DE RÁDIO no microfone da emissora.

LOCUTOR DE RÁDIO
Incrível! Uma pessoa que não enxergava há oito anos, com apenas
dois minutos, Mokiti Okada, fez com que ele voltasse a enxergar. Ainda
houve um outro caso, em que a pessoa não conseguia ficar de pé há
treze anos, e com apenas vinte minutos de tratamento, levantou, e no
dia seguinte começou a andar. Este homem milagreiro chegou a dizer:
“Na Bíblia está exposto que Jesus curava cegueira e fazia inválido
andar, mas isto, os meus discípulos estão fazendo agora”. Ouvintes, o
que pensar de tudo isso?

CORTA PARA

082. INT. CENTRO TERAPÊUTICO - DIA

Naquele dia, num caso, não se notava o efeito do tratamento e a


pessoa falece. Os discípulos não sabem o que fazer. O Servidor olha
para o Mestre, como que pedindo orientação. Mas, o “Senhor da Luz”
não se alarma e continua com a mão levantada calmamente. Os fiéis
não entendendo o que estava se passando, ficam preocupados e
perturbados. Em dado momento, a tida como falecida abre os olhos.
Todos suspiraram de alívio, parecendo exclamar entusiasmados:
Reviveu! Reviveu!

CORTA PARA

083. EXT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

Tempo depois, na igreja da ultra-religião, o “Senhor da Luz” enquanto


organizava as obras de arte que colecionava, sente-se mal
repentinamente e cai com sintomas de derrame cerebral. O Servidor
corre para acudi-lo. Uma atmosfera espiritual de surpresa e dúvida se
faz presente.

CORTA PARA

106
084. EXT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - NOITE

Á noite, o Servidor e fiéis preocupados com o estado de saúde do


“Senhor da Luz” dirigem-se ao Templo. De repente, no centro deste,
um pouco acima do seu telhado, uma Luz bem forte cujos raios,
formando como que uma coluna, alcançam o céu, brilhando a ponto de
ofuscar. Todos assistem ao fenômeno que dura apenas instante, ficam
realmente impressionados. O aspecto majestoso daquela Coluna de
Luz era algo não só emocionante como também irresistível, e faz com
que todos se curvem em reverência.

CORTA PARA

085. INT. SETOR DE METEOROLOGIA - NOITE

Os profissionais estão assustados com os registros observados nos


barômetros. Afobado, um METEOROLOGISTA se comunica ao telefone,
informando o que estava acontecendo.

METEOROLOGISTA
(nervoso)
Atenção. Urgente. Mudanças na pressão atmosférica. Estrondos não
identificados.

CORTA PARA

086. EXT. TÚMULO - DIA

O sepultamento do “Senhor da Luz” foi num primoroso lugar. Takei


amargo e pesaroso fala para Yoshi.

TAKEI
Todos nós estamos desapontados, pensávamos que o “Senhor da Luz”
viveria mais tempo, até uma idade bem avançada; mas, em vez disso,
teve uma vida curta de setenta e dois anos. Como acreditar que o
mundo vai se tornar paradisíaco, as pessoas saudáveis e duradouras,
se o próprio concretizador adoece e morre prematuramente?

Novamente a voz de Mary, aquela repórter americana do início do


filme, narrando o que Yoshi está fazendo.

107
MARY
(off)
Yoshi, ao levantar a cabeça e olhar para aquela penosa tristeza ...

CORTA PARA

087. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

VEMOS Yoshi fitando Takei para PLANO MAIS ABERTO, que agora inclui
o que está acerca deles. Surpreendentemente, não é algo relativo ao
sepultamento, percebe-se ou relembra-se que isso que se está
presenciando está ocorrendo numa tela de cinema, tudo não passa de
uma cena de filme, o que até agora visto está sendo projetado numa
sala de cinema.
Nessa sala destacam-se três pessoas: um ancião, de idade nunca
alcançada pelos homens atuais, e um casal de jovens, pelos anéis nos
dedos sabemos serem casados. O idoso parece ser uma pessoa
conhecida, mas lhe faltam algumas peculiaridades, por enquanto ele
será chamado de Ancião. Já o casal pelos apelidos de Agri e Bel.
Eles quando vêem Takei com aquelas dúvidas, balançam a cabeça
numa clara discordância. Durante o sepultamento do “Senhor da Luz”,
as mãos deles se tocam familiarmente, as cabeças oscilam
positivamente, com o ancião traçando uma circunferência com um
ponto no centro sob a concordância dos dois íntimos.

088. EXT. TÚMULO - DIA

A cena do filme prossegue.

YOSHI
(respondendo carinhosamente)
O senhor tem razão, ele viveu menos anos do que a maioria das
pessoas esperava, mas, mesmo assim, deixou atrás de si, um número
imenso de feitos relevantes, como: a revelação da transição da Era das
Trevas para a Era da Luz; a instauração da purificação pelo espírito,
agricultura natural e belo celestial; a concretização do Paraíso na Terra
com construções de protótipos; a elaboração dos ensinamentos e
preparação de discípulos; a fundação de igreja com expansão mundial.
O senhor não acredita que tudo isso vale por uma vida bastante longa?
E saudável também?

108
TAKEI
(inconformado)
Cristo disse que de nada adianta o homem ganhar o mundo se vier a
perder a vida. Assim, as religiões e os líderes religiosos que não
possuem força para eliminar as doenças, têm valor limitado.

CORTA PARA

089. ROSTO DE MARY COM QUARENTA E CINCO ANOS

Uma mulher com quarenta e cinco anos de idade com vários


microfones na altura de sua boca, segurados por orientais. PLANO
PRÓXIMO da mulher e aquela narrativa prossegue.

MARY
(off)
Aí estou eu, Mary com quarenta e cinco anos de idade. Era, na
ocasião, uma das repórteres mais importantes nos Estados Unidos da
América do Norte. Naquele momento, uma repórter estrangeira dando
entrevista a representantes de grandes jornais japoneses.

090. INT. SALA DE ENTREVISTA - DIA

PLANO MAIS ABERTO Mary novamente está com seus colegas


repórteres orientais naquela entrevista dada em 1957.

MARY
(com quarenta e cinco anos)
Os protótipos do Paraíso Terrestre tornar-se-ão futuramente locais
mundialmente famosos. Tenho tido contato com diversas pessoas
importantes do Japão, mas acho que o senhor Mokiti Okada é o mais
magnânimo de todas. Por que vocês não escrevem isso em seus
jornais?

Um JORNALISTA faz uma careta de “não sei não”.

JORNALISTA
Ali há algo que não é muito bom.

109
MARY
(com quarenta e cinco anos)
Como assim? Quando se inicia uma grande obra, sempre se cometem
falhas, e às vezes, até se infringem as leis. Ao invés de nos atermos a
esses detalhes, devemos pensar nos propósitos do senhor Okada. Ele
declarou que vai construir o Paraíso Terrestre, isento de doença,
miséria e conflito. Existe obra tão grandiosa como essa?

JORNALISTA
Mas ele morreu, não? Como vai ser agora após a sua morte? Paraíso
ou inferno? Saúde ou doença? Longevidade ou fugacidade?

MARY
(com quarenta e cinco anos)
É só ver para crer. Vocês não têm espírito de busca?

Jornalista torna a fazer uma careta de “não sei não”.

JORNALISTA
(torna a repetir)
Ali há algo que não é muito bom.

MARY
(com quarenta e cinco anos)
Se quiserem, promovam um grande evento na Associação Japonesa
de Imprensa que eu prometo trazer furos jornalísticos inimagináveis.

Ela se aproxima do jornalista careteiro. Olhando nos seus olhos fala.

MARY
(com quarenta e cinco anos)
Se não quiserem, aqui é que não há algo muito bom.

CORTA PARA

110
FINAL

111
112
091. INT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

Num ambiente onde a luz do sol adentra, estão sentadas em torno de


uma mesa Yoshi e Mary com quarenta e cinco anos. Elas estão
comovidas e carinhosas.

YOSHI
Como sinto falta do seu marido, ele foi a mais antiga amizade de meu
esposo.
Pode contar comigo, vou ajudá-la a mostrar o “Senhor da Luz” para o
mundo, e quem sabe, a iniciar o Messias. Para começar, anote esse
fato que me marcou muito. Foi quando ele contou-me confidentemente
seus planos e aspirações.

(narrando)
“Espere e verá: eu vou construir um Museu de Arte”. Eu sabia que
nenhuma coleção individual encheria um Museu de Arte e embora eu
tivesse dito: “Isso é ótimo”, realmente eu não acreditava que isso
pudesse ser concretizado. Imagine a minha surpresa! Em menos de
dez anos, o sonho tornou-se realidade!

MARY
(com quarenta e cinco anos, estupefata)
Acho que me meti em algo muito mais grandioso do que imaginava.

YOSHI
É que os furos jornalísticos inimagináveis estão sendo notícias dadas
em primeira mão no seu ser, não acha? O paraíso está sendo
construído dentro de você.

(pausa, continuando)
Guarde bem o que vou lhe dizer. Um dia alguém disse para o “Senhor
da Luz”: “Quero ser salvo, ir para o paraíso. O que devo fazer?”. Ele
deu risada e respondeu: “Eu não penso assim. Tenho o desejo de
possibilitar que o maior número possível de pessoas vá para o paraíso,
não me importando se eu tiver que ir até o inferno”.

MARY
(com quarenta e cinco anos)
Eu entendo que Cristo deu a vida para redimir os pecados do mundo e
o “Senhor da Luz” morreu no mundo material da Terra para possibilitar
que o maior número possível de pessoas alcance alto nível no mundo
espiritual desse planeta. Guardei bem?
113
YOSHI
(rindo)
Até nos seus sonhos Mokiti concretizava seus desejos. Bem pouco
antes de morrer, há dois anos atrás, ele teve uma grande missão de
resgatar alguém no inferno.

MARY
(com quarenta e cinco anos)
Alguém importante para o mundo?

YOSHI
Sim e digamos que alguém por demais próximo ao Servidor e de certa
forma ... ao seu falecido marido.

Yoshi apanha um livro que está em cima da mesa.

YOSHI
Este livro escrito pelo “Senhor da Luz” contém um ensinamento seu
intitulado “Minha História”, leia atentamente este trecho aqui nesta
página.

MARY
(com quarenta e cinco anos, lendo em voz alta)
“Parece-me estranho que aqueles três grandes religiosos - Cristo,
Maomé e Sakyamuni - nada tenham falado a respeito de si mesmos.
Quanto a mim, acontece justamente o contrário. Desejo escrever tudo
a meu respeito, com todos os detalhes. Os mistérios que me envolvem
são tantos, que nem mesmo minha esposa parece entender-me muito
bem”.

ENCADEADO, uma fusão da Mary centenária sobrepondo-se a de Mary


com quarenta e cinco anos de idade.

092. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

O majestoso auditório da Associação Japonesa de Imprensa está


repleto de ouvintes, no seu palco está a repórter mais antiga em
exercício no mundo, com papel na mão, fazendo a abertura do evento.

MARY
Cinqüenta e cinco anos se passaram e vocês jornalistas conseguiram
cumprir a sua parte promovendo este evento aqui – na Associação
114
Japonesa de Imprensa. E eu vou cumprir a minha parte prometida que
é a de exibir furos jornalísticos inimagináveis. Faço esta abertura
citando as palavras do “Senhor da Luz”, para outros mais esclarecidos,
as palavras do Messias, que é tema deste evento:

(lendo o que está escrito no papel)


“Aqueles que me conhecem, cientes da grande obra de salvação por
mim realizada, naturalmente gostariam de saber tudo o que for
possível a meu respeito, no futuro será incalculável o número de
pessoas, no mundo inteiro, que terão o mesmo desejo. Assim, como
criador do princípio do Mundo Paradisíaco, pretendo deixar para as
gerações vindouras a imagem mais fiel de minha pessoa”.

FREEZE. A imagem da repórter é congelada.

CORTE DE CONTINUIDADE

093. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

Aquele ancião que se pensa conhecer de algum lugar, surge


novamente com Agri e Bel como que confirmando que isso está
ocorrendo numa tela, tudo não passa de um filme que está sendo
projetado num cinema. Só que estranhamente ele começa a recordar
como um filme dentro de um filme.
ESFUMAR. A imagem do ancião dissolve-se na cor branca.

094. INT. IGREJA DA ULTRA-RELIGIÃO - DIA

Volta-se à cena (80) do filme, para aquele momento em que “Senhor


da Luz” está revelando que entrou em Estado de União com Deus. Um
silêncio sepulcral está presente.

MOKITI
Hoje estou muito feliz porque o Criador está falando. Isso é algo tão
inédito que como marco nós vamos criar uma palavra para “Purificação
pelo Espírito”, doravante vamos chamá-la de Johrei. “Joh”, quer dizer
“Purificação”, e “Rei” quer dizer “Espírito”. É certo que, muitas pessoas
começarão a morrer repentinamente, sem que os médicos tenham
condições de diagnosticar a causa. O próprio médico vai desistir de
tratar de determinadas enfermidades. Quando, por exemplo, aplicar
uma injeção e esta causar a morte repentina do paciente. As pessoas
115
começarão a duvidar da eficiência da medicina convencional. Será o
momento em que uma grande quantidade de doentes buscará o Johrei
como o único meio de salvação e as religiões se unirão num grande
ato ecumênico para isso.

Com uma palma da mão levantando para os presentes, estava dando


por encerrado as palavras. Os fiéis com as mãos em prece pedem
permissão para receberem a “Purificação pelo Espírito”, agora
chamado de Johrei, só que nesse caso... um Johrei coletivo.
A mão aberta, esbanjando luz de maneira pródiga, percorre lentamente
cada ser. Todos estão de cabeça baixa, recebendo essa oração em
ação, exceto uma pessoa que não se reconhece devido aos seus mais
de cem anos, que segue a mão do “Senhor da Luz” com os seus olhos.
Continua nessa atitude aparentemente atrevida, mesmo quando a
palma focaliza o lugar onde estava. Depois de terminado o Johrei, o
idoso como algo habitual, sem nenhuma intenção especial, coloca a
sua mão no rosto e parecendo não encontrar algo que sempre sentia
sob os dedos, fica surpreso, coloca a mão novamente para novamente
nada encontrar. Fica intrigado, emocionado. O idoso se põe a andar, e
à medida que o faz, caminha para o presente ...
ENCADEADO. A fusão das imagens do idoso do milagre no rosto e do
ancião, a deste sobrepondo-se à daquele.

095. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

Ancião deixa de recordar, ele está no presente, com os olhos


lacrimejando, passando a mão no rosto. OUVIMOS a voz do doutor
Tatsukiti saindo dos lábios do idoso.

DOUTOR TATSUKITI
(embargado)
As minhas duas verrugas estão desaparecidas até hoje.

Com isso deixa claro que o ancião não só era o idoso do milagre no
rosto, mas também, inacreditavelmente, o doutor Tatsukiti.

DOUTOR TATSUKITI
(voltando a recordar algo)
Porém estas foram as palavras do “Senhor da Luz”: “Não esqueça que
a Luz do Deus-homem é instantânea. Em caso de extrema urgência,
basta me chamar dizendo „Grande Mestre, peço-lhe proteção‟”.
RETOMANDO CENA 092
116
096. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

A imagem da repórter que ficou congelada põe-se em movimento de


continuidade.

MARY
A pesquisa que fiz sobre o “Senhor da Luz” procurou atendê-lo nesse
anseio, assim, os depoimentos que os senhores presenciarão hoje, se
esforçam em retratar a sua imagem mais real.
Para iniciar os depoimentos, convidamos uma “jovem” de pouco mais
de oitenta anos para fazer dois testemunhos, um seu e outro,
infelizmente, muito infelizmente mesmo, de uma especial pessoa
falecida.

APLAUSOS.

TERUKO
Obrigada. O “Senhor da Luz” dizia, rindo, que se eu fosse ocidental
que nem Peter deveria chamar-me Joan ou Joana. Hoje entendo que
fui a sua discípula amada, assim como João foi o de Cristo. Tal como
Peter foi...

(se emociona e chora, recobrando-se, continua)


O fato que vou narrar para os senhores reporta-se ao período após o
Japão ter perdido a guerra.

ESFUMAR. A imagem de Teruko, muito nova.

CORTE DE CONTINUIDADE

097. EXT. EMBARQUE EM NAVIO - DIA

O navio no cais está prestes a partir, e o “Senhor da Luz” é uma das


pessoas que veio se despedir.

TERUKO
(em off, narrando)
Naquela ocasião o “Senhor da Luz” escreveu, em inglês, o livro com o
título chamativo “Salvação da América”. Ele chamou um recém
convertido de cerca de 60 anos e deu-lhe a missão de salvar os
Estados Unidos.

117
MOKITI
(falando para o missionário que não se vê)
Se não tornar celestial os Estados Unidos, a Igreja da Ultra-Religião
não se tornará mundial. Por trás do esplendor da mais rica civilização
material do mundo, o número de pessoas acometidas de câncer e
doenças do coração é cada vez maior.
Levando-se ao conhecimento os malefícios e efeitos colaterais
causados pelos medicamentos e tóxicos contidos nos remédios, a
América será salva, sabe?
Também escrevi para você levar, a prevenção das diversas causas
das doenças existentes neste país e a sua cura. Não deixem esquecer
que essa cura só será possível pela força do meu espírito.
O representante da cultura materialista é o Estados Unidos; o
representante da cultura espiritualista é o Japão. A união é que dará
origem à verdadeira cultura. Assim sendo, a tarefa mais importante é
unir a cultura americana e a japonesa. E você é a pessoa mais
indicada para dar início a esta missão. Na próxima reencarnação,
como grande empresário, ganhando muito dinheiro, você a conclui.
Boa viagem!

DOUTOR PETER
(off)
Obrigado Mestre, pela permissão de retornar ao meu país com essa
grandiosa missão que me foi confiada nessa e na próxima vida aqui na
Terra.

CORTA PARA

098. EXT. PARQUE EM NOVA YORK - DIA

De um parque em Nova York, avistando o símbolo americano da


Estátua da Liberdade, Peter lê uma carta com os olhos cheios de
lágrimas, abraçado com Mary, só que esta com pouco mais de trinta
anos de idade.

MOKITI
(off)
Missionário Peter, passado um mês de sua partida para América eu
confesso estar com saudades suas. Embora, hoje na Terra eu seja
para você o Mestre “Senhor da Luz” e você para mim meu discípulo
“pedra”, no sistema circulatório da amizade continuo sendo o fogo e
você o coração. No fundo, somos singelas almas amigas em contínua
118
perfeição. Você servindo pelo espiritual solar e eu em Deus pelo
mental cósmico.

RETOMANDO CENA 096

099. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

Teruko está saindo do palco, APLAUSOS.

MARY
Como nós vimos uma que estava desenganada, está viva, este é o seu
testemunho, a prova viva; e o outro que estava “enganado”, está
morto, é o outro testemunho, a declaração pelo falecido.

(risos)
Que saudades eu sinto de você, meu querido marido, meu Peter.

Silêncio emocionante sabe-se que Mary foi esposa de Peter.

MARY
(continuando)
O que vocês acham que está sendo após a morte do “Senhor da Luz”:
paraíso ou inferno, saúde ou doença, longevidade ou fugacidade?
O próximo depoimento também vai contribuir para responder a essa
pergunta. Ele é o contrário do depoimento anterior, convidamos duas
pessoas vivas, mais antigas que o “Senhor da Luz”, que não eram
discípulos, para fazerem um único testemunho.

VEMOS a platéia surpresa com a entrada dos depoentes, mas estes


não estão sendo vistos. Porém, a voz de um deles está sendo ouvida
com certa dificuldade, é a do delegado, que está com idade bem
avançada, numa cadeira de rodas, feições tomadas pelas rugas. O
outro é o doutor Paolo, com a face da conversão. O delegado inicia
seu testemunho... lembrando ...

DELEGADO
(off)
Uma vez quando o interrogava brutalmente, provocando-o perguntei-
lhe.

CORTE DE CONTINUIDADE

119
100. INT. SALA DO DELEGADO - NOITE

É noite e mais uma vez Mokiti sofre interrogatório do delegado e, pela


primeira vez, doutor Paolo participa.

DELEGADO
(ironizando)
Apenas o senhor possui essa bola de luz?

MOKITI
(em paz)
Exatamente.

DELEGADO
(depreciando)
Sendo assim, quando morrer ela passará a não existir?

MOKITI
(ensinando)
Pelo contrário. Eu irradiarei a Luz do Mundo Espiritual. Quando o corpo
já não se move é que se pode fazer um grande trabalho.

RETOMANDO CENA 099

101. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

DELEGADO
(voz baixa)
E continuando ele explicou que a Luz do Deus-homem é instantânea,
intensa e difusa:

DOUTOR PAOLO
Disse que o que irradiava dele era uma granada de Luz. Ainda brincou
dizendo “obviamente, a diferença entre a minha granada e a granada
comum é que esta mata, e a minha vivifica as pessoas, a comum é
limitada, e a minha, ilimitada”.

Enquanto as lágrimas correm abaixo por entre as rugas daquele


outrora torturador como um rio através de percursos sinuosos em
direção ao mar, para o outro, as labaredas espirituais deslocam acima
por entre o coronário daquele outrora perseguidor estrangeiro como
uma chama em direção ao céu.

120
DOUTOR PAOLO
A partir daí minha vida mudou. Aquela granada especial atingiu minha
alma. Quando ele estava morrendo, naquele dia...

CORTE PARA

102. INT. QUARTO DE “SENHOR DA LUZ” - NOITE

É noite e o doutor Paolo se aproxima do “Senhor da Luz”. Este está


deitado, em quase coma.

DOUTOR PAOLO
(soluçando)
Eu sempre estive lhe ameaçando aqui neste mundo, só agora é que
lhe entendi, perdão pela minha ignorância.

MOKITI
(em tom bastante comovido)
Eu exigi muito de você, não foi? Só faltou dizer “Paolo, Paolo, por que
me persegues?”.

CORTE PARA

103. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

O ancião doutor Tatsukiti e Agri e Bel que assistem ao filme do “Senhor


da Luz” se mostram atônitos com o que estão vendo agora na tela.

CORTE DE CONTINUIDADE

104. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

O ancião doutor Tatsukiti é um dos depoentes apresentados pela


repórter. Ele começa a dar seu testemunho.

CORTE DE CONTINUIDADE

121
105. INT. HOSPITAL DO DOUTOR TATSUKITI - DIA

Doutor Tatsukiti entra desesperado no seu hospital com seu bisneto


recém-nascido, no colo, todo roxo. Os médicos mais especializados
que ele tinha colocaram-no na maca apressadamente e começaram a
examiná-lo imediatamente. Eles balançam a cabeça em sinal de que
não podem fazer mais nada por aquele recém-nascido na maca.
Doutor Tatsukiti, o idoso do milagre no rosto, suplica aos doutores,
mas estes imóveis não podem atendê-lo. De repente, parece lembrar
de algo esperançoso, retoma seu bisneto no colo e sai rápido.

CORTA PARA

106. INT. QUARTO DE “SENHOR DA LUZ” - NOITE

Ao entrar no recinto com seu bisneto desfalecido em seus braços vê o


doutor Paolo comovido porque “Senhor da Luz” acabara de falecer.
Caminha em silêncio até o Mestre imóvel na cama e põe
delicadamente seu familiar nela, junto dele.

DOUTOR TATSUKITI
(idoso do milagre no rosto)
Os corpos já não se movem. Assim mesmo, rogo ao Grande Mestre
proteção para meu bisneto.

RETOMANDO CENA 103

107. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

Agri chora compulsivamente por ser o filho daquele recém-nascido. O


ancião doutor Tatsukiti aconchega aquela cabeça viçosa do tataraneto
entre os seus braços envelhecidos. Bel participa com afagos.

RETOMANDO CENA 104

122
108. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

DOUTOR TATSUKITI
(ancião)
Eu conheci Mokiti Okada no início do século XX, antes dele se tornar o
“Senhor da Luz”, ou melhor, o meu mestre, o meu salvador, ou mais
precisamente, o Messias. Tornamos-nos amigos, de um freqüentar a
casa do outro.

(envergonhado)
Há cem anos atrás, ele entrou no meu hospital e eu recusei interná-lo,
não tratei dele e ele acabou inacreditavelmente ficando bom. Tempos
mais tarde... eu é que fui desenganado até ele... e ele me internou em
sua casa.

(chorando e rindo)
Ao sair de lá curado, ele disse que viver até os 120 anos de idade não
é nenhuma fábula. Naquela época, confesso que no íntimo, debochei,
hoje verifico que é uma verdade. Sou uma testemunha viva que o
“Senhor da Luz” encontrou a solução para o problema da doença.

RISOS E OVAÇÕES, ele sai cumprimentado pela repórter.


VEMOS Agora, ao lado de Mary, bem envelhecido está o doutor
Mathew.

MARY
(para doutor Mathew)
Este próximo depoente me confidenciou estar mais vexado com o que
fizera com “Senhor da Luz”, que o doutor Tatsukiti. Não é verdade,
doutor Mathew?

DOUTOR MATHEW
Não só hoje.

(revelando algo do passado)


Naquela tarde eu estava envergonhado pelo que acontecera pela
manhã. Quando abri a porta para entrar ...

CORTE DE CONTINUIDADE

123
109. INT. AUDITÓRIO DO HOSPITAL - TARDE

FLASH BACK início da cena 66.


PONTO DE VISTA de doutor Mathew.

DOUTOR MATHEW
(contando)
... vi Mokiti Okada entrando pela outra porta, recebendo vaias e objetos
e sentando-se como se nada daquilo o abalasse, perdi a coragem de
enfrentar a paz. Fiquei atrás da porta, vendo pelas suas frestas e
ouvindo, o que doutor Thomas dizia ...

FLASH BACK e PONTO DE VISTA de doutor Mathew compatíveis com o


que está sendo dito na cena 66.

DOUTOR MATHEW
(continuando)
“Enquanto doutor Mathew não chega”
“Senhor Okada tendo em vista que na sessão pela manhã
atrapalhamos sua exposição, pedimos concluir sua visão sobre
doença”.

Doutor Mathew contemplando o que vira, conta.

DOUTOR MATHEW
(off)
Mirando de fora o interrogatório é que pude perceber a grandeza
daquele homem, de suas respostas. Ele começou definindo o que é a
doença.

MOKITI
A doença é o processo purificador do sangue, e algo imprescindível
para a conservação da saúde e pode-se dizer que é a maior de todas
as graças de Deus. Entretanto, como estou anunciando que vou
construir um mundo sem doenças, pode parecer contraditório, mas é
que existe uma diferença fundamental. Isto porque, quando o homem
ficar sem toxinas, tornar-se-á desnecessário o processo purificador, e a
doença deixará de existir.

Acostumado a ser argüido quase que ininterruptamente, ele pára


esperando aqueles atos inoportunos. Mas, contrariamente, todos estão
aguardando que a exposição prossiga.

124
MOKITI
(continuando)
Normalmente a causa da doença, ou sua origem, não se encontra no
local onde se manifesta o sintoma. Ao contrário, é semelhante ao que
ocorre num teatro. A apresentação, no palco, é o efeito de tudo o que
foi preparado no camarim. Dentro desse esquema, a doença equivale
ao palco, a encenação, mas a causa está no camarim, onde o
problema deve ser resolvido para que haja a cura radical.

Ainda achando estranho, mais uma vez fica esperando as


inconveniências. Mas elas não vêem.

(pausa)
As causas das doenças não são contágios de bactérias, vírus e
parasitas. Se fosse assim, em salas fechadas ou na condução, quando
uma pessoa doente espirrasse os vírus se espalhariam como nevoeiro,
e os presentes seriam inevitavelmente contagiados. Se fosse assim o
homem teria de cortar todos os laços com a sociedade e a fórmula
ideal seria morar numa casa isolada nas matas ou a bordo de um navio
em alto-mar.
No entanto, mais perigoso que o contágio através do ar seria,
obviamente, o contato manual com as barras de conduções, as
maçanetas das portas, os cumprimentos, e principalmente com o
dinheiro, por ele passar pelas mãos de um grande número de pessoas,
sendo um verdadeiro ninho de bactérias.

O interrogador levanta o dedo e o fundador interrompe.

THOMAS
Se há um verdadeiro ninho de bactérias, porque não há contágio?

MOKITI
A palavra “contágio” deveria ser substituída por “aparecimento”. Os
contaminadores, como o pernilongo e outros insetos, que as pessoas
abominam, aparecem porque há sangue sujo. Eles são faxineiros,
limpadores de sangue. No futuro, quando houver um grande número
de pessoas de sangue puro, os insetos não contaminarão, ou melhor,
desaparecerão.

125
THOMAS
(assombrado)
Interessante. Então, para solucionar o problema de contágio basta
adquirir um corpo sadio, que não adoeça, nem mesmo que seja
penetrado por bactérias.

O interrogado diante do que está constatando, é só contentamento.

MOKITI
As causas das doenças como os pecados são os atos errôneos que
levam o culpado a se desviar dos olhos dos outros, muitas vezes são
purificados por meio de distúrbio de visão. As palavras penosas de
serem ouvidas através de distúrbios auditivos ou de linguagem. Os
atos que ocasionam dores de cabeça aos outros podem provocar
dores de cabeça naquele que as causou. O pecado de trabalhar
somente para si pode dar origem à purificação por meio de doença na
mão ou no braço.

THOMAS
(participando)
Por outro lado, a virtude de trabalhar para benefício dos outros pode
salvar?

MOKITI
Certamente! O Sr. Yamamoto encontrou-se com um sacerdote budista,
o qual lhe disse: “Sua face está marcada pelo estigma da morte. Será
difícil o senhor viver mais de um ano”. Conformado, ele doou todos os
seus bens para ordens filantrópicas, entrou num templo budista e ficou
aguardando. Passaram-se dois anos, nada aconteceu. Ele estava
muito zangado e, tendo casualmente encontrado o mesmo sacerdote,
pensou em repreendê-lo. Entretanto, foi o religioso quem falou: “Que
coisa estranha... O estigma da morte que havia em sua face quando eu
o encontrei naquele dia, desapareceu completamente. Deve haver
alguma razão profunda para isso”. Então Yamamoto contou o que
fizera, ao que o sacerdote budista disse: “O ato de caridade que o
senhor praticou transformou sua morte em vida”.

THOMAS
(em dúvida)
Mas o que eu não entendo direito é o seu entendimento sobre os
medicamentos.

126
MOKITI
Os remédios... Ora, se os remédios possibilitassem a cura das
doenças, estas deveriam diminuir gradualmente. Por que, então,
ocorre justamente o inverso? Não há contradição maior. Se alguém,
por exemplo, tem três doenças, deveria ficar com duas, depois com
uma e sarar completamente. A seqüência dos fatos, no entanto, é
justamente o contrário: uma doença acarreta duas, três doenças, em
total desacordo com a lógica. E é estranho que nem os médicos nem
os doentes tenham a menor desconfiança. Isso nos faz ver o quanto as
pessoas confiam na medicina, já chegando a ser uma espécie de
superstição.

THOMAS
O senhor tem demonstrado que os remédios não curam, mas até
agora, não sei se é impressão minha, não disse o porquê deles serem
responsáveis pelas doenças.

MOKITI
Os alimentos consumidos são agradáveis, são digeridos, mas tudo
aquilo que não é alimento, não é nem agradável e nem assimilado,
permanecendo no organismo. Os remédios são desagradáveis, a
expressão “tirar da boca o gosto de remédio” ilustra bem o fato. Eles
são substâncias estranhas ao organismo, não são digeridos nem
assimilados e, ao envelhecerem dentro do organismo, transformam-se
em toxinas. Como a doença é um processo de expulsão dessas
toxinas, o catarro, a coriza, o suor, o pus, o sangue impuro, etc. são
formas transformadas desses tóxicos.

THOMAS
No fundo, o segredo é a vitalidade. Quanto maior a vitalidade das
pessoas menos facilmente ocorre a doença, não é isso?

MOKITI
Pelo contrário. Para impedir a doença, basta enfraquecer a vitalidade.
Daí a utilização do veneno denominado remédio que obstrui no corpo a
saída das toxinas existentes, acrescenta a entrada de mais venenos no
organismo e retira o vigor até do espírito.

DOUTOR MATHEW
(continuando a narrar)
De repente, Kimura parecendo ter recebido minha incorporação pela
manhã, levanta-se e toma a palavra.

127
DOUTOR KIMURA
(incomodado)
Palavras, palavras, palavras... tem experiência própria que a origem
das doenças são os remédios?

MOKITI
O número de doentes assistidos por mim, num período de mais de
vinte anos, chega aproximadamente à casa dos dez mil. O uso de
remédios vai enfraquecendo o corpo e tornando a vida mais curta, de
modo que não é absurdo dizer: „Intelectuais, o termo que melhor os
define é imbecis‟.

DOUTOR KIMURA
(esbravejando)
Chega! Quem é o senhor para ridicularizar o trabalho dos médicos?

MOKITI
(impassível)
Ainda que se consiga curar a doença através da oração a Deus, não
se deve menosprezar o trabalho dos médicos. Mesmo para
estabelecer uma comprovação das maravilhas do Johrei, são
necessários os especialistas da área médica. Os médicos não têm
nenhuma culpa. Isto porque eles acreditam no que estudaram e vêem
que não há outra forma para salvar os doentes e essa crença é
motivada pelo senso de prática do bem. Porém, quando têm contato
com a Igreja da Ultra-Religião e acreditam nos seus ensinamentos,
precisam se esforçar para corrigirem os erros ou os conceitos errôneos
sobre a saúde e a doença. Para isso, devem esclarecer o Johrei do
ponto de vista médico e publicar nos anais médicos, esforçando-se
para a instituição da nova Medicina.

DOUTOR KIMURA
(acuando)
Mas o senhor não pode dizer que não nos chamou de imbecis.

MOKITI
Afirmar que os médicos têm se mostrado pouco inteligentes, isso não é
contra-senso nenhum. Eles não têm notado que, comparada aos
remédios, a guerra e a fome são insignificantes. A medicina vem
praticando crimes contínuos há milhares de anos.

128
DOUTOR KIMURA
(pilheriando)
Além de burro, somos criminosos. Mas eu agüento ouvir mais um
absurdo deste “cientista religioso”. Diga lá, “revolucionário da medicina”
o que apenas descobriu a respeito do que é o remédio? Faça essa
grande revelação.

MOKITI
A história de Adão e Eva no Éden é, logicamente, uma metáfora, mas
encerra um profundo mistério. Segundo o que todos sabem, o Mal
surgiu ao ser ingerido o fruto da árvore proibida. O que é esse fruto da
árvore proibida? Esse fruto da árvore é nada mais nada menos que o
próprio remédio. Pelo remédio foi criada a doença e pela doença surgiu
o Mal.

DOUTOR KIMURA
(indignado)
Mas que absurdo!

MOKITI
(incisivo)
Desde que a medicina e suas terapias deixem de existir, viver mais de
cem anos de idade não será nenhuma fábula. Se lançarmos todos os
remédios no fundo do mar se concretizaria o mundo sem doenças.
Outro dia li num jornal o comentário de um médico dizendo que “os
remédios podem impedir momentaneamente o desenvolvimento de
uma doença, mas o que vem depois é muito pior”.

THOMAS
(interessado)
Mas porque se começou a usar os remédios que se tornou a causa
das doenças?

MOKITI
Deixando de lado a época inicial da espécie humana, à medida que
houve o aumento da população a alimentação começou a escassear.
Aí, o homem começou a procurar alimentos, comendo tudo o que se
encontrava a esmo, mas sem saber distinguir entre bons e os maus
alimentos: apenas se preocupavam em saciar a fome, e ficavam
intoxicados. À dor e sofrimentos decorrentes, convencionou-se chamar
„doença‟. Aí, nas tentativas para fugir, a todo o custo, dessas dores, o
homem experimentou raízes de plantas e cascas de árvores, e
casualmente havia, entre elas, algumas que minoravam as dores, às
129
quais, agradecidos, chamaram de „remédios‟. Entretanto, a realidade é
que o alívio dos sofrimentos e a cura das doenças são duas coisas
fundamentalmente diferentes, porque em outras palavras, o primeiro é
momentâneo e o segundo é permanente. Surge daí a ilusão da cura e,
como resultado, em qualquer sensação de mal-estar, as pessoas
voltam a usar o mesmo remédio. Cria-se assim uma dependência
viciosa semelhante à causada por qualquer outra espécie de droga.

THOMAS
(atento)
E os fertilizantes?

MOKITI
Promete não ficar zangado, como ficou pela manhã?

Não só Thomas ri, a platéia também.

MOKITI
(continuando)
Vou falar através dos acidentes de trânsito. No momento, como a
verdadeira causa dos acidentes é totalmente desconhecida, só resta
proibir o excesso de velocidade e aprovar a atenção para evitá-los.
Segundo interpretamos, os acidentes ocorrem quando o sistema
nervoso de quem dirige não trabalha de forma adequada. O menor
atraso no procedimento a ser tomado num instante de perigo pode
tornar-se causa direta de um acidente. Qual é, portanto, a causa da
lentidão de reflexos do homem moderno? É que ele, além de recorrer
aos remédios por qualquer coisa, come produtos agrícolas, devido à
utilização de adubos e inseticidas, carregados de venenos.

(pausa)
Daí talvez os senhores possam compreender por que afirmo que as
três colunas da salvação são o Johrei, a Agricultura Natural e o Belo
Celestial. Pois elas salvam, respectivamente, dos remédios,
fertilizantes e pecados.

CORTE DE CONTINUIDADE

110. ROSTO DO DOUTOR MATHEW

Apenas se vê do nariz para cima do rosto do doutor Mathew e esta


parte está surpresa com o que está vendo.
130
DOUTOR MATHEW
(murmurando)
Não acredito! Seus olhos atingem meus olhos, ele me descobre. E isso
está sendo profundo no meu ser. Suas palavras estão queimando
minha alma.

VOZ DE MOKITI
Se por acaso os que agissem assim estivessem cheios de vigor. No
entanto, a situação é cômica e, ao mesmo tempo, trágica. São tantas
as doenças que até cansaria citá-las.

Já se vê todo seu rosto e este parece ainda mais sem controle.

DOUTOR MATHEW
(continua falando consigo mesmo)
... eu estou acuado, minha debilidade está sendo desvendada. Ele
sabe que estou vivendo um inferno. Sofro com essa grave doença,
incurável.

Agora é visto todo o seu corpo, sua mão quer abrir a porta, seu
coração quer abrir o segredo.

DOUTOR MATHEW
(ainda falando consigo mesmo)
Quando ia abrindo a porta devido ao meu arrebatamento, me contive
pela intervenção do doutor Kimura.

RETOMANDO CENA 109

111. INT. AUDITÓRIO DO HOSPITAL DO DOUTOR KIMURA - TARDE

DOUTOR KIMURA
(maquiavélico para Mokiti)
O senhor, fala, fala, mas não apresenta solução. Afinal, quais são suas
formas de tratamento?

MOKITI
O processo natural, a fé correta e o Johrei.
Sobre o processo natural. Quando a pessoa adoece, logo se inicia uma
grande atividade destinada a eliminar a doença. É como se houvesse,
no corpo humano, um grande laboratório farmacêutico e um professor
em Medicina. Se comermos algo nocivo, a farmácia existente dentro do
131
corpo imediatamente produz um laxante para provocar a diarréia e
eliminá-lo.
O ponto mais grave da medicina é o seu absoluto desprezo à
capacidade de recuperação natural do organismo, inerente a todo ser
humano. Os médicos acreditam que, se deixarmos uma doença sem
tratamento, ela se agravará cada vez mais.

DOUTOR MATHEW
(em off, dizendo o que ele estava fazendo)
Eu não resisti ao entusiasmo, à esperança, ao privilégio, abri a porta e
tudo parou, as pessoas para me observar e eu para contemplar o
“Senhor da Luz”. Dos seus olhos partem atraentes raios de luzes e eu
vou para ele.

PLANO EM MOVIMENTO, doutor Mathew corre para o “Senhor da Luz”


lançando-se aos seus pés, suplicando.

DOUTOR MATHEW
Salve-me. Salve-me.

Thomas ajoelha-se e as vestes brancas que assistem participam, se


abaixando.
ENQUADRAMENTO. Doutor Paolo e o delegado em pé, humilhados,
assistem a tudo.

DOUTOR PAOLO
(resmungando)
Com esses interrogadores e essa platéia ...

DELEGADO
(com saudosismo)
Naquela época, isso não seria assim.

RETOMANDO CENA 108

112. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

DOUTOR MATHEW
(imensamente grato)
Fui salvo e agradeço profundamente aquele que algum dia deu risada
quando lhe pediram aquela orientação “Quero ser salvo, quero ir para
o paraíso. O que devo fazer?”.
132
PALMAS, cumprimentado pela repórter, ele sai.

MARY
O que vocês acham que está sendo após a morte do “Senhor da Luz”:
paraíso ou inferno, saúde ou doença, longevidade ou fugacidade?

O casal Agri-Bel interrompe querendo dar seu depoimento. A situação


fica um pouco indefinida, mas há consentimento.

AGRI
Incrível eu ter que dizer, em pleno século XXI, para o meu sogro, que é
médico, e já pediu e obteve graça, praticamente o mesmo que ontem
Teruko nos contou ter dito há mais de cinqüenta anos atrás para o
doutor Kimura, quando queria operar seu filho de apendicite.

BEL
Eu estava na minha casa tratando da apendicite da minha filha com
Johrei, quando meu pai entrou pela porta dizendo que não agüentava
mais o que eu estava fazendo com sua neta, disse que ia me
processar caso eu não deixasse levá-la para extrair o apêndice da
pobre coitada. Eu virei uma fera ...

CORTE DE CONTINUIDADE

113. INT. RESIDÊNCIA DA PESSOA DA PLATÉIA - DIA

PAI DE BEL intranqüilo, Bel com sua filha no colo e Agri a tudo observa.

BEL
(mais revoltada que o pai)
O senhor não tem o direito de invadir minha casa e querer levar minha
filha para extrair um órgão precioso do seu corpo, tornando-a deficiente
físico interna.

PAI DE BEL
(pasmado)
Quanta ignorância, meu Deus! O apêndice não exerce nenhuma
função fisiológica no organismo humano e, mesmo que se extraia, a
parte do intestino a ele associado pode funcionar a toda a normalidade.
Esse órgão, sua ignorante, só foi útil no passado mais remoto da

133
humanidade, quando os homens ingeriam abundantes quantidades de
celulose.

BEL
(mais espantada ainda)
Ignorante é o senhor que desconhece que o apêndice tem uma função
muito importante. As toxinas acumuladas em toda a parte das costas
do ser humano vão, de uma só vez, para o rim direito e se solidificam.
Depois, aos poucos, vão se transportando sabe para onde? Para o
apêndice. É ali que elas vão se solidificando. Quando atingem certo
grau de solidez, ocorre uma repentina purificação, com febre, dores,
etc. E as toxinas dissolvidas são eliminadas através da diarréia. Com
isso advém a cura.

(pausa, entorpecida)
Entretanto, o engraçado é que nessa hora, os médicos falam em
operar o quanto antes, para que não seja tarde demais. Jamais há
esse perigo. Ao invés de ser tarde demais, as possibilidades de
melhoria são maiores. O Mestre agiu assim no caso de várias pessoas
e não houve um só caso que falhasse.

PAI DE BEL
(assombrado)
Então, só basta esperar?

BEL
Vocês médicos não esperam na hepatite? Quanto aprenderia se
soubesse profundamente por que têm de fazê-lo!
Mas no caso da inflamação do apêndice, não! Assim que a apendicite
se declara, a solução indicada pelos médicos é a operação. Deixem a
natureza agir, em pouco tempo a pessoa melhora. A dor violenta dura
cerca de um dia; a partir do quarto dia só dói quando a pessoa anda. A
cura se completa em uma semana mais ou menos, não havendo
qualquer possibilidade de reincidência do problema.

PAI DE BEL
Se for a natureza que trata, por que vocês criaram o Johrei? Não vale
a pena ministrar Johrei na região, três a seis centímetros um pouco
abaixo, à direita do umbigo?

AGRI
Meu sogro. Se ministrarmos Johrei apenas na região do apêndice à
dor não cessa por completo porque a causa está num lugar mais
134
profundo, Em caso de apendicite, se procurar com os dedos encontra-
se uma solidificação no rim direito e, apertando-o, haverá dor. Ministrar
Johrei nesse lugar é o correto, pois a dor cessará e haverá a cura por
completo. Quando rápida, ela cessa em dez a vinte minutos, e no mais
tardar, em trinta a quarenta minutos. Logo haverá a diarréia, e com
isso o processo natural estará terminado. Se isso é verdade, este não
é um maravilhoso método de cura? O processo natural, a fé correta e o
Johrei, como uma santíssima trindade.

PAI DE BEL
E as complicações?

BEL
(desvirtuando de propósito para que ele remova preconceitos)
A complicação de vocês não é nada pequena. Os sofrimentos com a
operação, os gastos para tanto, a ocorrência de peritonite, o
enfraquecimento do abdômen, a diminuição da resistência física e do
apetite sexual, as complicações nos rins, na bexiga, no diafragma,
estômago e intestino. No caso de senhoras, a desregularização da
menstruação, as causa das dores de cabeça, o enrijecimento dos
ombros, a decadência da força vital de todo o corpo.

PAI DE BEL
(frisando energicamente)
Eu estou falando da complicação de formação de abscesso na zona do
apêndice.

AGRI
Uma vez eu peguei um caso desse e disse “esta doença é coisa muito
séria. Eu não posso responsabilizar-me”. Naquele momento, cheguei a
ficar com raiva daquela senhora, porque sempre trazia pessoas muito
adoentadas, confiando que elas seriam curadas graças ao nosso
tratamento. No entanto, ela retrucou-me com firmeza: “O senhor não
se preocupe, quanto pior estiver o apêndice, mais fácil de ser curado
pelo método Okada”. Apesar da quase total falta de confiança, não é
que tudo sumiu como num passe de mágica?

PAI DE BEL
Chega de tanta conversa inútil, vamos operar sua filha antes que seja
tarde.

135
BEL
Eu também acho, vamos deixar sua neta aqui, quieta e logo. Eu só lhe
desculpo porque você faz isso tudo por amor, mas eu só lhe enfrento
porque o pior dos males é aquele que se faz pensando fazer o bem.

(pausa, carinhosamente)
Pai não esqueça que uma vez o senhor após escutar “Mas, o doutor
veio procurar um colega para ressuscitar sua filha?”, o seu irmão
Yeshua respondeu: “Nós viemos em busca de um messiânico médico
para que a arte de Deus a salve”. E eu estou aqui, viva até hoje.

Pai de Bel recorda e acorda. Despertando, sua inflexibilidade balança,


se curva vertendo lágrimas.

RETOMANDO CENA 112

114. INT. ASSOCIAÇÃO JAPONESA DE IMPRENSA - DIA

Bel saindo ACLAMADA.

MARY
Se eu fosse sua mãe eu lhe diria apenas isto: “Filha desejo que sua
filha seja assim”.

Aprovação. Aumenta a intensidade do SOM DAS PALMAS.

MARY
(continuando)
O último depoimento reporta-se ao período após Mokiti Okada ter
alcançado o Estado de Suprema Iluminação Espiritual, mais
exatamente, quando ele foi até o Templo da Oomoto.

A platéia surpreendida com a entrada daquele Reverendo do Oomoto,


mais um com seus mais de cem anos.

REVERENDO
Naquele entardecer eu estava em apuros.

115. INT. TEMPLO DA OOMOTO - ENTARDECER

FLASH BACK da cena 018 desenrolando e o sacerdote contando.

136
REVERENDO
(off)
Pasmem! Uma pessoa que tinha acabado de alcançar este nível tão
elevado, com humildade que só pessoas como essas conseguem ter,
me pedindo orientação! Eu não sou bobo, imediatamente transferi
aquele pedido para Deus. Nervoso, eu só sabia dizer certo, muito bem,
ótimo, excelente. Mas foi logo depois de sentir-me autorizado por
Deus, é que lhe dei orientação e atrevidamente brinquei com ele:

FLASH BACK do final da cena 018.

REVERENDO
Ou para você a resposta não é “sei”, mas sim um “será?”.

REVERENDO
(off)
Foi aí que me surpreendi. Ele disse que esteve no século XXI e
começou a me contar o que presenciou naquele dia que estava
acontecendo no futuro:

MOKITI
(contando)
Refletindo sobre o que vira nesse dia, concluí que realmente o sonho
da humanidade havia sido concretizado. Reverendo, fiquei bastante
comovido, achando que era a Utopia há tanto tempo idealizada, e meu
espírito de pesquisa aumentou de forma irrefreável, pois eu sentia
necessidade de conhecer todos os aspectos da cultura da Nova Era.
Quando entrei no cinema, estava havendo uma exibição
cinematográfica curiosíssima. Exibia-se um filme, mostrando um
personagem que poderíamos chamar de cientista religioso, o qual
revolucionou a medicina e teve uma vida de lutas incessantes,
buscando solução para o problema da doença.

CORTE PARA

116. TELA DE CINEMA / SALA DE CINEMA

Na tela aparece a palavra “FIM”. A luz se acende e o público aplaude


de pé. Depois de muito aplaudir aquele espetáculo as pessoas vão
saindo emocionadas. No entanto, uma pessoa apenas uma única
pessoa permanece no recinto, como se quisesse repetir o filme. Ele

137
está de costas. No entanto, ele também vai embora, quando ele se vira
para sair, vê-se que é o “Senhor da Luz”.

117. INT. CINEMA - DIA

Doutor Tatsukiti e seu tataraneto Agri com sua esposa Bel estão vendo
os espectadores rodeando alguém, sentem curiosidade. Mais próximo
eles vêem no centro a personalidade, uma idosa, que reconhecem ser
a jornalista, sendo cumprimentada e elogiada.

VOZES DIVERSAS
“Lindo, muito lindo Mary!”. “Parabéns por esse filme sobre o maior dos
bens que encaminha ao paraíso na Terra”. “Como deve ter sido difícil
escrevê-lo, produzi-lo e dirigi-lo?”. “Por favor, faça outros filmes que
leve aos outros dois grandes bens”. “Na saúde foi um ponto na
medicina, mas na prosperidade e na paz onde será o ponto?”. “Na
educação, acho eu”. “Talvez na política”. Não acham que basta um
título como “PODERES E BENS.”?

Doutor Tatsukiti, Agri e Bel acham muita graça.

DOUTOR TATSUKITI
Se eu disser que para isso eles devem se preparar para receber um
Dono de animal que virou um Criado de Deus.

AGRI
A minoria lhe achará um prodigioso de mistério, a maioria certamente
um parcimonioso de mente.

BEL
Pior que isso é que eles desconhecendo que Poderes e Bens são as
finalizações de um processo de iniciação, o senhor dissesse que antes
eles devem nos conhecer e saber que desenvolvemos as colunas de
salvação.

AGRI
Já pensou dizer que devem conhecer meu pai que começou o
desenvolvimento da ultra-religião com cultura e filosofia?

DOUTOR TATSUKITI
Conhecer o meu bisneto amado: o Silêncio de Deus.

138
BEL
Se soubessem disso talvez estivessem dizendo em vez de apenas
“não acham que basta um título como „PODERES E BENS‟.”, estariam
também expressando “falta um título como „FILOSOFIA E COLUNAS.”

AGRI
Agora, se soubessem mesmo da existência do processo de iniciação
solicitariam que fosse feito antes um filme sobre o Messias.

DOUTOR TATSUKITI
Porém, depois do “Ponto na Medicina” que acabamos de assistir, se
soubessem mesmo, eles iriam querer logo como próximo filme
“RELIGIÃO”.

Quando os três olhavam entre si e seus rostos eram sós sorrisos eles
ficam admirados ao escutar da centenária afirmando para aquele
público que a cerca.

MARY
Está bem, está bem. Vou atender a vocês. Mesmo com os meus cem
anos de idade vou fazer estes filmes. O próximo será “ RELIGIÃO”.
Depois “MESSIAS”, a seguir “FILOSOFIA E COLUNAS” e finalmente
“PODERES E BENS”.

Os três estão com a fisionomia expressando “Impossível! Será que ela


nos ouviu?”. E se põem a sair.

118. EXT. CINEMA - DIA

Do lado de fora do cinema, percebem outro aglomerado de pessoas


comprando algo. Vão para aquele local a fim de saber o que tanto está
vendendo. Próximos, suas fisionomias indicam que é algo que já
possuem, eles estão vendo um livro e na capa está um CIRCULO COM
UM PONTO NO CENTRO com os seguintes dizeres: “CRIAÇÃO DA
CIVILIZAÇÃO POR MOKITI OKADA. PRÊMIO NOBEL DE MEDICINA EM
2012”.

119. PLANOS DE LUGARES CELESTIAIS – DIA

Os três passeiam por um bosque repleto de bambus.

139
Passam pela Praça da Paz e agora estão subindo um caminho belo e
sinuoso, rodeado por árvores frondosas e lindas flores. É o Caminho
do Paraíso. Com suas sombras em frente, seus espíritos estão sendo
aquecidos pelo Sol.
Eles param na Praça do Amor, atravessam um espelho de água, que
banha suas almas, e encontram uma grande escadaria.
Observam ao seu redor: a Praça da Esperança e a Praça da
Harmonia, tendo, ao fundo, uma represa que parece falar “boas
vindas”.
Pode-se ver também, ao longe, a Praça da Felicidade.
Então, sobem a Escadaria do Arco-Íris, que possui sete floreiras em
cada lado, cujas cores são as do arco-íris.
Finalmente, chegam a um enorme templo...
O teto do templo é o céu e suas paredes são a própria natureza. Nele
CLICA há representantes de diversas religiões ministrando Johrei em pessoas
de todas as raças. Uns de maneira convencional; outros com as duas
mãos, uma para cada pessoa; alguns coletivamente; outros sem
emprego das mãos.
Da Praça da Amizade, ao longe, vê-se uma cascata desembocando
suas águas num lago com lindos peixes.
Doutor Tatsukiti cutuca Agri e Bel apontando para que estes
prestassem atenção em outro fato. Eles parecem reconhecer pessoas,
provavelmente grandes amigos. Mas o número grandioso de pessoas
atrapalha, elas são escondidas involuntariamente pela multidão. De
repente, abre-se um clarão naquele apinhado, andando e conversando
Yoshi e Taka. Caminhando alegres Peter e o Servidor, para outros,
apenas um rosto jovem e uma face madura, para alguns outros, um
empresário rico e um candidato a presidente, este último sem avental,
eles estão olhando para trás, observando alguém fazer uma
brincadeira. Já se pode ver... é o “Senhor da Luz”, rindo com o avental
do Servidor nas mãos.
FIXAMOS o rosto de “Senhor da Luz”.

MOKITI
(lembrando a frase do Servidor)
Está para nascer aquele que vai me tirar o avental.

DIMINUIMOS PAULATINAMENTE seu rosto até ele se tornar UM PONTO


MAGENTA LUMINOSO.

140
120. DIVERSAS DE NATUREZA - AMANHECER

MOVIMENTO do ponto magenta luminoso entrando naquele TREM da


cena 006, passando em ordem contrária os elementos apresentados
nas cenas 05 e 01, isto é, pela FLORESTA, depois MAR, a seguir
MONTANHAS, vem o FIRMAMENTO, finalmente o globo terrestre está
iluminado... do espaço escuro é observado... por um imperceptível ser
revelado ... que expressa o que lhe é tão aguardado.

VOZ DE MOKITI
(narrando)
Prestes a renascer neste mundo com o nome de Mokiti Okada... meu
nome religioso será “Senhor da Luz”. Serei o Messias e concretizarei o
Paraíso na Terra. Para isso construirei uma nova cultura,
principalmente no que diz respeito à energia, agricultura e beleza.
Enfim, colocarei alma numa civilização vazia, em particular um ponto
na medicina.

(pausa)
A propósito esse será um título de um filme produzido em 2012 e
vocês estarão lá assistindo... alguns talvez com desdém... outros com
muito entusiasmo...

Legenda: “FIM”.

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