Você está na página 1de 2

E então, mesmo que não fosse sabido por mim, naquele momento começava a

minha jornada. O dia era frio e nublado como aquele homem havia me dito a tempos que
seria, lembro-me que ele falava que as tempestades tinham um gosto especial pelo poder, que
elas eram atraídas pelo poder e sempre estavam a presenciar atos de força. A névoa havia
descido para perto dos caminhos que eu tliraria aquele dia, eu a via abraçando a serra que me
cercava, aquela que por vezes me convidava, me queria sempre perto e junto a ela. Eu tinha
que me despir, me libertar de meus pensamentos, e por incrível que fosse, foi a parte mais
fácil em minha caminhada, aliás, não existiram dificuldades, fui magistralmente guiado por
uma força, um poder além de qualquer compreensão.

Acima do carro, a medida que subia aquela serra e penetrava mais


profundamente na densa neblina que a abraçava, eu sentia que uma grande coruja batia as
suas fortes asas. Penetrando na densidade e nos mistérios guardados por aquele portal que
era a neblina. Um outro mundo se abriria, um novo mundo de percepção. Os olhos faiscantes
da coruja guiavam aquele caminho, abria e penetrava nos segredos mais profundos dos
mistérios da natureza que me cercava. As árvores começaram a ter um brilho especial, um
verde que parecia fosforescente, brilhante, algumas árvores tinha esse especial brilho. Os
pássaros emitiam seu grito como se cumprimentassem a amiga ave, uma gigantesca coruja
branca que pairava sobre o carro, era a jornada, ali eu penetrava mais densamente nos
mistérios daquele poder, daquela força que desvelava-me os mistérios da impenetrante
neblina. Então quis sentir as suas azas, sentir o vento acariciando as penas, passando por entre
os dedos, queria sentir a neblina, se era doce no bico da coruja, se era gelada, como era sentí-
la, já que a visão ela havia me permitido. Então abri as janelas do carro, e depois de uma curva
finalmente vi uma parede de névoa, a mais próxima e densa que havia, e eu passaria por ela.
Meus braços esticados para fora do carro sentiram acariciar o vento, e o vento corou em
resposta a doce carícia. Senti o frio, mas ele não me gelava, me aquecia, me mostrava, me
guiava para aquele paredão, ali eu passaria pelo limiar, ali eu transporia a barreira que me
separava de meus animais, cada um deles, e em breve eles me visitariam em uma roda de
poder. Então que eu senti um sabor doce em minha boca, senti um ar penetrar em minhas
narinas como metal frio, líquido, como menta e eucalipto. Senti prazer e quis sorrir. A névoa
me aceitava em seu meio, me mostrava a sua leveza, me tranformava de coruja na própria
névoa, enquanto eu via cada pena de minha amiga se desfazer, se mesclar com aquela barreira
e ficar como parte dela, como parte de tudo, como parte da Terra e do outro mundo.

Coruja da névoa, me revele os seus mistérios,


abra o véu e me dê a chave das portas do outro mundo,
me deixe leve como a névoa,
com as suas garras despedace todos os obstáculos que se puserem
em meu caminho,
me faça fluir, ser leve, ter a frieza do vento
ser tua parte, a parte de tudo, a parte da terra e de outros mundos.

Ao chegar em minha casa, como que se fosse inevitável, a revelação trazida pela
barreira que foi transposta com o espírito da coruja se mostrou. Senti os meus animais
chegando, cada qual em sua direção, cada qual com o seu poder. Quem me trouxe foi o meu
amigo e guia do outro mundo, Ele me disse que seriam esses os aspectos do poder que me
ajudariam em minha passagem por esta Terra, aspectos de minha energia, da energia dessa
Terra, que poderiam ser usados para uma ligação com a mãe Terra, mas que um dia seriam
deixados como tudo mais para a passagem. Vi então que eu estava deitado em uma pedra,
uma grande pedra no chão, ali pairava uma grande roda em minha barriga, uma roda de luz e
energia. Naquela roda a grande coruja pairava na direção leste, observando e guardando
aquela posição, então que eu via uma grande serpente vigiando e espreitando o norte, da
mesma forma havia um morcego na direção do oeste, bem como um jaguar na posição sul,
enquanto isso eu observava um urso caminhar para o meu lado, contudo ele emergia do meio
do círculo, no meio do caminho as coisas mudavam, eu me tornava ele, eu era ele na verdade
não havia me tornado.

Então eu estava em um lugar onde haviam algumas cachoeiras, eu era o urso,


marrom, andando sobre duas patas, em meu ombro, no nascente a coruja estava, a minha
frente, no poente esta o morcego a voar, como me guiando, do meu lado caminhava o jaguar e
no outro uma sepente caminhava, estávamos em uma perfeita união. A coruja com seu grito
mostrava-me o que me estava oculto, a cobra me lembrava que a morte era apenas parte da
renovação, o morcego me guiava aos segredos mágicos, o jaguar negro era meu batedor, ele
corria no meio da mata e me trazia as mensagens que me eram destinadas.

Cada qual com o seu papel, a visão se fez, e como mágica se desfez, em breves
instantes se mostraram os poderes que me cabem em minha jornada terrena e logo me foi
explicado: “Os poderes, em tempos imemoriáveis, nos tempos dos antigos, foram classificados
de acordo com a predileção de cada raça de animal, não são espíritos ligados diretamente as
raças, mas poderes da Terra que exibem semelhanças a estas, que incorporam a estas, e são
inerentes, em suas mais diferentes combinações a facilidades de poder para a manipulação
por cada tipo de pessoa.” Assim o compreendi.

Além disso, na jornada que fiz, me foi mostrado um amuleto de poder. Consistia
na pata da coruja no topo de um bastão, na parte contrária um cristal, ela era ornada por
algumas penas de coruja, na verdade três penas. (Não gostei da mutilação, mas relato o que eu
vi)

Você também pode gostar