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Psicologia E Trabalho Humano
Psicologia E Trabalho Humano
APOSTILA 1
PSICOLOGIA E TRABALHO HUMANO
Autores: Milton Athayde*, Wladimir Ferreira de Souza* e Vladimir Athayde**1
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* Docentes do Departamento de Psicologia Social e Institucional do IP/UERJ e membros do Grupo de
Pesquisa Actividade UERJ/CNPq, responsáveis pela disciplina CHO –IP/FAF/UERJ, em 2014/2.
** Docente da FAETEC-RJ, membro do Gr Pesq Actividade.
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organização, em que vende seu conhecimento, sua força de trabalho em troca de uma
remuneração, um SALÁRIO. Ou seja, trata-se neste caso do regime de salariato, uma
relação empregatícia juridicamente estabelecida entre um trabalhador e aquele que o
contrata (seu patrão). No Brasil, só no século XX, esta relação virou Lei, o que se chama
vulgarmente de “carteira assinada” – a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) – leis
criadas e consolidadas no período de governo de Getúlio Vargas. Estar empregado
representa mais que a sobrevivência, é um modo de estar socializado, de ter
reconhecimento social, de ter prestígio intra e extra grupal.
Como já se pode perceber, não foi sempre assim na vida da espécie humana, nos
diferentes tempos históricos, nas diferentes sociedades. E mesmo hoje esta dificuldade de
entendimento continua presente, sendo mais evidente quando se trata de trabalho
doméstico. Só mais recentemente é que foi assegurado que o serviço prestado por alguém
na casa de outro também é trabalho e deve ser juridicamente considerado emprego. Não
obstante, o trabalho realizado por mães e esposas no âmbito doméstico quase nunca é
considerado trabalho. Ele é naturalizado como uma atividade inerente às mulheres. No
caso do Brasil, esta determinação de gênero se cruza com a cultura escravista.
TRABALHO NÃO É SINÔNIMO DE EMPREGO!
A TROCA – SEMPRE DESIGUAL – ENTRE TRABALHO REALIZADO E
SALÁRIO PAGO FOI INVENTADA EM UM DETERMINADO MOMENTO DA
HISTÓRIA HUMANA
Claro, toda poesia permite várias interpretações, vamos ter a ousadia de considerar
que ele está falando muito mais de ter um emprego. A vivência de felicidade,
tranquilidade, não pode ser comprada no mercado, ela é inventada, construída,
experimentada, especialmente no plano psicológico, nas relações humanas e sociais.
Na sociedade em que vivemos, sem emprego não somos nada?!... Pior: sobreviver
na situação de desemprego dá muuuuito trabalho! Além de preocupar-se
permanentemente com o perigo de não entrar ou retornar ao mercado de trabalho (assim
como o risco do desemprego é o pesadelo dos que estão empregados). Que contradição!
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Trata-se, por um lado, de desumanização, quando se impede que um humano exercite esta
experiência decisiva para sua própria humanidade. Por outro lado, há que subsistir... e
para isso pessoas são submetidas a experiências que destoam das conquistas societárias.
Estamos convivendo também com a tendencial ampliação da “informalidade”
(como dizem economistas, sociólogos e juristas). Em outras palavras, o que está sendo
imposto, na verdade, é a precarização do trabalho, sua degradação. Se no capitalismo que
se instituiu nos países do norte, com a regulação societária fordista, o emprego assalariado
formal tornou-se a modalidade de trabalho dominante, a tendência vem sendo o desmonte
do que foi sendo estabelecido no pós-Segunda Guerra.
Quando ele nos canta que não nasceu “pra trabalho”, pois não nasceu “pra sofrer”,
na verdade ele está se referindo a uma dada forma de trabalhar que se caracteriza como
pura exploração, dominação, trabalho nocivo a ser mesmo recusado.
O TRABALHO NÃO É SEMPRE ESCRAVIDÃO, ELE TEM UMA DUPLA
FACE:
PODE SER POSITIVO PARA A SAÚDE, PARA VIVER MELHOR
PODE SER NOCIVO, GERAR SOFRIMENTO ADOECEDOR
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Reformulação doutrinal iniciada na Alemanha por Lutero, no século XVI, desenvolvendo-se
inicialmente pela Europa do norte. Principal discípulo: Calvino (Calvinismo).
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Retomando o que dissemos, encontra-se em muitos textos uma visão estreita desta
história. Diz-se que a palavra trabalho, em latim, tem a mesma base da palavra tortura:
TRIPALIUM. Trata-se um instrumento de três pontas, usado na agricultura e na
veterinária, seja para ferrar ou tratar um animal de maior porte, seja para ajudar em
tratamentos de humanos e partos difíceis. Ok, também usado para o castigo, a tortura.
Enfim, esta última foi uma das possíveis utilizações desta ferramenta. Ela foi usada
também para partos difíceis, impossíveis mesmo, caso não se usasse o tripalium... Assim
como se poderia perguntar: no Paraíso, ao cuidar de si e da mãe terra, Adão e Eva já não
trabalhavam?
Só a partir de um determinado momento histórico se configurou um quadro em que
um único vocábulo passou a designar um complexo e amplo conjunto de atividades. No
caso do Brasil, o trabalho não chegou com a invasão europeia, quando se tentou escravizar
os naturais brasileiros (os índios se recusaram e num genocídio foram dizimados, neste
processo cometendo-se também o etnocídio) e em seguida povos da África (os “escravos
negros”). Ora, os índios já viviam no Brasil há muito tempo e... trabalhavam. Assim sendo
não se pode dizer que trabalho, em todos os tempos e em todos os lugares, pode ser
percebido e experimentado como tortura.
CONCLUINDO:
Ao buscar um curso universitário, cada um/a de vocês está querendo sobreviver
nesta sociedade, conseguindo um emprego em troca de um salário, ou outras formas de
“ganhar dinheiro”. O que mais pode estar em jogo no esforço de vocês? Qual sentido
pode estar contido na busca deste curso, qual sentido pode vir a ter a profissionalização
universitária de vocês?
Todo cuidado sim, pois o horizonte aponta para o melhor, mas pode acontecer o
pior. Enfim, é preciso cuidar da vida, da natureza, do trabalho, de si mesmo e dos outros.
Registramos também que o trabalho não é necessariamente adoecedor, mas pode se
tornar; então muito cuidado! Trouxemos para a conversa algumas músicas, como a Vamos
dançar, cantada pelo Ed Mota - “eu não nasci pra trabalho, eu não nasci pra sofrer”. Nesta
música se chama atenção para um tipo de trabalho indesejável, que só se suporta porque,
na sociedade em que vivemos, se precisa de dinheiro para viver. Mas esse dinheiro pode
não pagar a conta, cobrada através de um tipo de sofrimento adoecedor, que tira a saúde,
a paz e o amor. Na língua que falamos, a gíria é uma curiosa invenção, ela tem como
riqueza uma amplitude de significados presentes em cada palavra. Então na gíria podemos
dizer que neste tipo de trabalho – nocivo – a vida “dançou”, tornando impossível “dançar
pra valer”, como se deseja.
Mas é preciso não despejar no ralo o bebê junto com a água, após o banho!
A experiência-trabalho tem se apresentado na história humana de forma complexa, tendo
ao menos uma dupla face: estruturante ou desestruturante. O convite, nesta disciplina do
curso, é para melhor compreender tudo isso e poder colaborar para a “festa” do trabalho.
Mais uma vez usando a música, lembremos aquela de Chico Buarque e Milton
Nascimento, o “Cio da Terra”:
Debulhar o trigo Decepar a cana
Recolher cada bago do trigo Recolher a garapa da cana
Forjar no trigo o milagre do pão roubar da cana a doçura do mel
E se fartar de pão Se lambuzar de mel
Enfim:
É PRECISO CUIDAR DA VIDA
DA NATUREZA, DE SI E DOS OUTROS,
É PRECISO CUIDAR DO TRABALHO!
Bom estudo, até o próximo texto!