GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolíticas: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes,
1996.
O conceito de cultura é profundamente reacionário. uma maneira de separar atividades
semióticas (atividades de orientação no mundo social e cósmico) em esferas, as quais os homens são remetidos. Tais atividades, assim isoladas, são padronizadas, instituídas potencial ou realmente e capitalizadas para o modo de semiotização dominante - ou seja, simplesmente cortadas de suas realidades políticas. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,15.) 1ºNota: As categorias antropológicas que determinam o sentido de cultura e suas determinadas valorativas, separaram e padronizam os sujeitos, por causa das atividades semióticas distintas e isoladas. As nomenclaturas como cultura negra e cultura popular, frente ao capitalismo mundial integrado e a subjetividade dominante da elite capitalística são esvaziadas do sentido político destes modos de expressão. O que caracteriza os modos de produção capitalísticos é que eles não funcionam unicamente no registro dos valores de troca, valores que são da ordem do capital, das semióticas monetárias ou dos modos de financiamento. Eles funcionam também através de um modo de controle das subjetivações, que eu chamaria de “cultura de equivalência” ou de “sistemas de equivalência na esfera da cultura”. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,15-16) 2ª Nota: os modos de produção capitalísticos de acordo com Guattari trabalham em duplo sentido nas semióticas monetárias do âmbito econômico e em simbiose com um controle de subjetivação que trabalham nas justificativas e estruturação do meio social. a cultura de massa como elemento fundamental da produção de subjetividade capitalística. Essa cultura de massa produz, exatamente, indivíduos; indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,16) 3ºNota: a cultura de massa produzida para atingir a grande parte da população, é essencialmente fabricada para moldar indivíduos normalizados e articulá-los para a manutenção do status quo da elite capitalística, por isso a cultura de massa é este grande modo de produção de subjetividade enquadrada para sistemas hierárquicos, valores e submissão. O que há é simplesmente uma produção de subjetividade. Não somente uma produção de subjetividade individuada – subjetividade de indivíduos - mas uma produção de subjetividade social, uma produção de subjetividade que se pode encontrar em todos os níveis da produção e do consumo. E mais ainda: uma produção de subjetividade inconsciente. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,16) 4ºNota: a existência de uma subjetividade social é inerente ao sistema do capitalismo mundial integrado, reproduzindo no inconsciente estruturas de dominação e submissão nas camadas sociais - modela os níveis de relação entre sujeito e objeto. Busca uma hierarquia composta a partir dos conceitos de masculinidade e feminilidade, consequentemente, este modo de subjetivação capitalística objetifica e monetiza as relações com o outro. A essa máquina de produção de subjetividade eu *Guattari* oporia à ideia de que é possível desenvolver modos de subjetivação singulares, aquilo que poderias chamar de “processos de singularização”: uma maneira de recusar todos esses modos de encodificação preestabelecidos, todos esses modos de manipulação e de telecomando, recusá-los para construir, de certa forma, modos de sensibilidades, modos de relação com o outro, modos de produção, modos de criatividade que produzam uma subjetividade singular. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,16-17) 5ºNota: os processos de singularização para Guattari é a forma de combater a subjetividade capitalística, na qual consiste em fomentar processos de ruptura no campo da produção do desejo através de afirmações de outras maneiras de ser, outras sensibilidades e percepções de mundo. Se trata de uma singularização ou re- singularização que articula um agenciamento de enunciação com a subjetividade social, por exemplo: a insurgência do movimento feminista contra a estrutura falocêntrica da sociedade burguesa, o movimento LGBT+ e as questões posta do que é a estrutura familiar e o debate sobre construção de gênero e a violência contra pessoas trans e travestis na sociedade. A cultura de massa e eu *Guattari* o chamaria de “cultura-mercadoria”. Aí já não há julgamento de valor, nem territórios coletivos da cultura mais ou menos secretos. A cultura são todos os bens: todos os equipamentos (casas de cultura, etc.), todas as pessoas (especialistas que trabalham nesse tipo de equipamento), todas as referências teóricas e ideológicas relativas a esse funcionamento, enfim, tudo que contribui para a produção de objetos semióticos (livros, filmes, etc.), difundidos num mercado determinado de circulação monetária ou estatal. Difunde-se cultura exatamente como Coca-Cola, cigarros “de quem sabe o que quer”, carros ou qualquer coisa. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,17) 6ºNota: a cultura torna-se tudo o que é possível comercializar, é esperado neste modelo social que as produções de todos os tipos estejam a serviço do desenvolvimento da infraestrutura, por esta razão, a dita cultura de massa é a produção semiótica em larga escala e serializada. A produção dos meios de comunicação de massa, a produção da subjetividade capitalística gera uma cultura com vocação universal. Essa é uma dimensão essencial na confecção da força de trabalho coletiva de trabalho, e na confecção daquilo que eu chamo de força coletiva de controle social. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p 19) 7ºNota: A cultura de massa acopla os meios de comunicação para produzir uma dimensão de subjetividade específica, ou seja, uma subjetividade dominante que ativamente trabalhe como modo de controle social nas camadas marginalizadas dos centros e das periferias do capitalismo. Independentemente desses dois grandes objetivos, ela está disposta a tolerar territórios subjetivos, que escapam relativamente a essa cultura geral. É preciso, para isso, tolerar margens, setores de culturas minoritária - subjetividades em que possamos nos reconhecer, nos recuperar entre nós numa orientação alheia à do Capitalismo Mundial Integrado. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,19) 8ºNota: no momento em que acontece a implosão de subjetividade de determinada camada da margem (LGBTs, negros, indígenas), a tendência, de acordo com Guattari é que aconteça a tolerância deste território alheio a produção subjetiva capitalística para que os sujeitos possam se reconhecer, ter uma identidade acoplada a uma determinada dinâmica social fabricada e os setores de culturas minoritária ficam objetificados pela cultura massa. Essa produção capitalística se empenhou, ela própria, em produzir suas margens, e de algum modo equipou novos territórios subjetivos: os indivíduos, as famílias, os grupos sociais, as minorias, etc. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p 19) 9ºNota: a subjetividade capitalística projeta um ideal a ser alcançado e quando este não se cristaliza surgem as margens criando novos territórios e margens é a criação das suas próprias contradições. Colocar em prática um tipo de processo de subjetivação diferente do capitalístico, com seu duplo registro de produção de valores universais por um lado, e de “reterritorialização” em pequenos guetos subjetivos, por outro lado. Colocar em prática a produção de uma subjetividade que vai ser capaz de gerir a realidade das sociedades desenvolvidas e, ao mesmo tempo, gerir processos de singularização subjetiva. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p 22) 10ºNota: os guetos, as minorias precisam encontrar novos modos de subjetivação que permita o descolamento da hierarquia produzida pela do capitalismo mundial integrado, uma nova reterritorialização os territórios subjetivos que estão acoplados ao modelo estratificado. Como agenciar outros modos de produção semiótica, de maneira a possibilitar a construção de uma sociedade que simplesmente consiga manter-se de pé. Modos de produção semiótica que permitam assegurar uma divisão social da produção, sem por isso fechar os indivíduos em sistemas de segregação opressora ou categorizar suas produções semióticas em esperas distintas da cultura. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,22) 11ºNota: A solução é produzir uma nova subjetividade superando os sistemas de segregação da subjetividade capitalística, as dicotomias, sistemas de submissão de corpos e subjetividades aos sistemas dominantes, sem a separação, é procurar novas semióticas que trabalhem em conexões, portanto, agenciar novas sensibilidades, cosmogonias e diferentes entendimentos de sexualidades. Assim como o capital é um modo de semiotização que permite ter um equivalente geral para as produções econômicas e sócias, a cultura é o equivalente geral para as produções de poder. As classes dominantes sempre buscam essa dupla mais-valia: a mais-valia econômica, através do dinheiro, e a mais-valia do poder, através da cultura-valor. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,24) 12ºNota: As classes dominantes detentoras do capital pressupõem sempre uma dupla mais valia; uma liga as semióticas econômicas e monetária e acumulação de capital, a mais-valia econômica produzida pelas camadas marginalizadas e a mais-valia de poder com a valoração do status quo das elites dominantes. O Sujeito, segundo toda uma tradição da filosofia e das ciências humanas, é algo que encontramos como um “être-là”, algo do domínio de uma suposta natureza humana. Proponho *Guattari*, ao contrário, à ideia de uma subjetividade de natureza industrial, maquínica, ou seja, essencialmente fabricada, modelada, consumida. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,25) 13ºNota: A suposta natureza humana é fabricada, modelada e consumida. Ou seja, a subjetivação é um devir frente as condições materiais e sociais que é apresentado aos sujeitos em sociedade. É essencialmente por meio de estudos históricos-antropológicos que se entende que a leitura de temporalização e espaço para as comunidades indígenas é diferente das sociedades modernas capitalísticas. As máquinas de produção da subjetividade variam. Em sistemas tradicionais, por exemplo, a subjetividade é fabricada por máquinas mais territorializadas, na escala de uma etnia, de uma corporação profissional, de uma casta. Já no sistema capitalístico, a produção é industrial e se dá em escala internacional. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,25) 14ºNota: A subjetividade em sistemas tradicionais é territorial na índia que ditam a vida religiosa e social, com isso definindo a subjetividade dos sujeitos pela casta na qual ele nasceu e os indígenas produzem as semióticas e sua leitura da realidade de acordo com sua etnia. No sistema capitalístico a subjetivação é produzida de forma industrial (horários, escalas, metas, hierarquias e coerção) ampliadas pela globalização. Injeta-se representações nas mães, nas crianças - como parte do processo de produção subjetiva. São requiridos muitos pais, mães, édipos e triangulações para recompor uma estrutura de família restrita. (GUATTARI, ROLNIK, 1996. P, 25) 15ºNota: a representações subjetivas do que é família - pai, mãe e filho - sempre são articulados para uma estrutura de família que mantém o sistema hierárquico, em momentos de crise e quebra da triangulação é nessa estrutura que o sistema se apoia. A partir do momento em que não mais consideramos a produção de subjetividade como sendo apenas um caso superestrutura, depende das estruturas pesadas de produção das relações sócias. A partir do momento em que consideramos a produção de subjetividade como sendo a matéria- prima da evolução das forças produtivas em suas formas mais desenvolvidas. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,26) 16ºNota: Com o desenvolvimento das forças produtivas, ou seja, das novas tecnologias que modificam o cotidiano dos sujeitos em sociedade há uma produção específica de subjetividade que gera a culpabilização e a infantilização. É essa subjetividade que sustenta as estruturas capitalísticas fabricada para massas e não feita por elas, o que resulta na estagnação territorial de determinadas camadas sociais. Não contraponho as relações de produção econômica às relações de produção subjetiva. A meu ver, ao menos nos ramos mais modernos, mais avançados da indústria, desenvolve-se na produção um tipo de trabalho ao mesmo tempo material e semiótico. Mas essa produção de competência no domínio semiótico depende de sua confecção pelo campo social como um todo. (...) estar em todo ambiente maquínico. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,27) 17ºNota: a produção de semiótica de acordo com Guattari é depende da sociabilidade dos sujeitos e como se desenvolve as relações e as percepções de mundo, o que se desenvolve no ambiente doméstico, no ambiente escolar, no trabalho. Em suma, é nestes ambientes maquínicos que se desenvolve a subjetivação. Aquilo que chamei de produção de subjetividade do CMI não consiste unicamente numa produção de poder para controlar as relações sociais e as relações de produção. A produção de subjetividade constitui matéria-prima de toda e qualquer produção. (GUATTARI, ROLNIK, 1996. P,27-28) 18ºNota: A produção de subjetividade não é exclusiva para forjar a estruturas de poder e controles sociais, ela constitui a matéria-prima para as demais produções sendo assim a produção de subjetividade é o ponto segundo Guattari no qual os sujeitos partem para as produções de desejos, semióticas, produções de novas sensibilidades e a produção material. A noção de ideologia não nos permite compreender essa função literalmente produtiva de subjetividade. A ideologia permanece na esfera da representação, quando a produção essencial do CMI não é apenas a da representação, mas a de uma modelização que diz respeito aos comportamentos, à sensibilidade, à percepção, à memória, às relações sociais, às relações sexuais, aos fantasmas do imaginário, etc. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,28) 19ºNota: A potencial do capitalismo é agir numa formação de subjetividade para estratificar as percepções do consciente e do inconsciente aplicamos modelos de relações sociais e sexuais com interferência na categoria semiótica pelo meio de comunicação, telenovelas, novas tecnologias (aplicativos) afetando a subjetividade dos indivíduos e tornando-os alheios a realidade. Aquilo que se convencionou chamar de “trabalhador social – Jornalistas, psicológicos de todo tipo, assistentes sociais, educadores, animadores, gente que desenvolve qualquer tipo de trabalho pedagógico ou cultural em comunidades de periferias, em conjuntos habitacionais, etc. - atua de alguma maneira na produção de subjetividade. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,29) 20ºNota: O trabalho social é a forma de produção de subjetividade que tanto pode existir de maneira a reforças estruturas capitalísticas de subjetivação ou provocar resigungularizações, os agentes sociais possuem o potencial de provocar linhas de fuga, mas também, é utilizado para manter os modelos de submissão do capitalismo. Devemos interpelar todos aqueles que ocupam uma posição de ensino nas ciências sociais e psicológicas, ou no campo de trabalho social (...) ou vão fazer o jogo dessa reprodução de modelos que não nos permitem criar saídas para os processos de singularização, ou, ao contrário, vão estar trabalhando para o funcionamento desses processos na medida de suas possibilidades e dos agenciamentos que consigam pôr para funcionar. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,29) 21ºNota: justamente pelo fato de o trabalho social ter essa potencialidade micropolítica de ação é necessário articular métodos para que o trabalho com as margens não afete de formação que bloque os processos de singularização encaixando e determinando funções, e assim limitando s cartografias de novas relações sociais, sexuais e familiares. A garantia de uma micropolítica processual, aquela que constrói novos modos de subjetividade, que singulariza, não se encontra nesse tipo de ensino, A garantia de uma micropolítica processual só pode – e deve – ser encontrada a cada passo, a partir dos agenciamentos que a constituem, na inversão de modos de referência, de modos de práxis. Invenção que permita, ao mesmo tempo, elucidar um campo de subjetivação e intervir efetivamente nesse campo, tanto em seu interior como em suas relações com o exterior. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,30) 22ºNota: A micropolítica só é efetiva quando é negado os modelos de referências impostos para a criação de uma nova práxis que permita avançar em novos processos de singularização que implicam repensar a masculinidade, a feminilidade, como também, a reflexão sobre as sociedades radicalizadas é preciso uma elucidação sobre os agenciamentos antirracistas, antitranfobicos. Trabalhando a perceptiva de uma revolução subjetiva e a horizontalidade das relações sociais. A subjetividade é produzida por agenciamentos de enunciação. Os processos de subjetivação, de semiotização - ou seja, toda a produção de sentido, de eficiência semiótica - não são centrados em agentes individuais (no funcionamento das instâncias intrapsíquicas, egóicas, microssociais), nem em agentes grupais. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p 31) 23ºNota: Os processos de subjetividades são constituídos não por indivíduos ou grupos, mas sim uma própria estética semiótica que produz agenciamentos de enunciação coletivas, todo o movimento de subjetivação e singularização é realizado diante da sociabilidade dos sujeitos em sua formação social. Implicam o funcionamento de máquinas de expressão que podem ser tanto de natureza extrapessoal, extra-individual (sistemas maquínicos, econômicos, sociais, tecnológicos, icônicos, ecológicos, etológicos, de mídia, enfim sistemas que não são mais imediatamente antropológicos), quanto de natureza infra-humana, infrapsíquica, infrapessoal (sistemas de percepção, sensibilidade, de afeto, de desejo, de representação, de imagens, de valor, modos de memorização e de produção idéica, sistemas de inibição e de automatismo, sistemas corporais, orgânicos, biológicos, fisiológicos, etc. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,31) 24ºNota: os agenciamentos procuram modificar tanto aquilo que é externo ao homem como ele articula a relação homem-natureza e o âmbito infrahumano do aquilo na área psíquica a relação com desejos e sensibilidades a mudanças de referenciais e as negações das estruturas acontece em duplo sentido nas duas áreas. Modificando o funcionamento maquínico do campo social. A subjetividade não é passível de totalização ou de centralização no indivíduo. Uma coisa é a individualização do corpo. Outra é a multiplicidade dos agenciamentos da subjetivação: a subjetividade é essencialmente fabricada e modelada no registro do social. (GUATTARI, ROLNIK, 1996. p, 31) 25ºNota: A subjetividade é forjada de acordo com o modelo de sociabilidade, por exemplo, na idade média o campo social é dominada por uma percepção e entendimento de mundo que se fazia necessário a explicação do suprassensível e todo a relações e processos cognitivos não descartavam um ser maior e a igreja a partir disto criava dogmas que interferia na subjetivação e fabricava todo um imaginário. E com a idade moderna e os processos de avanço de industrialização do capitalismo não foi diferente, os tempos modernos fabricaram uma subjetividade de individualidade, ambição e competitividade. Fundar, em outras bases, uma micropolítica de transformação molecular passa por um questionamento radical dessas noções de individuo, como referente geral dos processos de subjetivação. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p 32) 26ºNota: trabalhar com uma micropolítica para Guattari e Rolnik é uma transformação nas noções de indivíduo procurar entender a individualidade e refazer o conceito postulado, é procurar novas confecções e o buscar o desfavelamento das noções do que é o sujeito ou o que venha a ser o sujeito. O lucro Capitalista é, fundamentalmente, produção de poder subjetivo. Isso não implica uma visão idealista da realidade social: a subjetividade não situa no campo individual, seu campo é o de todos os processos de produção social e material. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 32) 27ºNota: A subjetividade aborda em Guattari não é apenas a do campo individual, mas é um processo de produção das esferas social das relações humanas e as trocas de experiência em conjunto, mas também da perspectiva do desenvolvimento material. É uma produção que anda em simbiose. Um indivíduo sempre existe, mas apenas enquanto terminal; esse terminal individual se encontra na posição de consumidor de subjetividade. Ele consome sistemas de representação, de sensibilidade, etc. – sistema que não têm nada a ver com categorias naturais universais. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 32) 28ºNota: O indivíduo é um consumidor desta subjetividade moldada, com formas de representação, de regras de comportamento social, de todas as estratificações que compõem a sociedade capitalística, assim a representações de gênero esperam um papel preestabelecido para homens (dominantes, objetivos e fortes) e mulheres (submissa, frágil, sentimental). Parto da ideia de uma economia coletiva, de agenciamentos coletivos de subjetividades, que, em algumas circunstâncias, em alguns contextos sociais, podem se individuar. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 33) 29ºNota: Os agenciamentos coletivos de subjetividade são produzidos por circunstâncias sociais da atual fase do capitalismo composto por elementos heterogêneos como as relações sociais, as máquinas tecnológicas (computadores, smartphones, inteligência artificial), máquinas incorporais (Música e Arte), as esferas econômicas e políticas. A subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares. O modo pelo qual os indivíduos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e de criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um processo que eu chamaria de singularização. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 33) 30ºNota: Como a teoria Guattariana afirma a subjetividade é um produto do meio social que transpassa os indivíduos e existe duas relações que podem ser estabelecidas com ela, a primeira a relação de alienação e opressão, ou seja aceitar a subjetividade assim como é apresentada ou estabelecer uma relação com a potencialidade de criação e singularização dos modelos apresentados no conjunto social. Seria conveniente definir de outro modo a noção de subjetividade, renunciando totalmente à ideia de que a sociedade, os fenômenos de expressão social são a resultante de um simples aglomerado, de uma simples somatória de subjetividades individuas. Penso, ao contrário, que é a subjetividade individual que resulta de um entrecruzamento de determinações coletivas de várias espécies, não só sociais, mas econômicas, tecnológicas, mídia, etc. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 34) 31ºNota: voltar a 29ºnota Quando falo em “processo de subjetivação”, de “singularização”, isso não tem nada a ver com indivíduo. A meu ver, não existe unidade evidente da pessoa: o indivíduo, o ego, ou, poderíamos dizer, a política do ego, a política da individualização da subjetividade é correlativa de sistemas de identificação que são modelizantes. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 38) 32ºNota: O processo de subjetivação através da singularização é a recodificação dos modelos de semióticas capitalísticas que são aplicadas na sociedade contemporaneidade, seria como a negação da subjetividade produzida e a criação de percepção de realidade e sensibilidades para fazer rupturas no tecido social e quebra as funções da sociedade hierarquizada. A subjetividade como produção, e considera que uma das principais características dessa produção nas sociedades “capitalísticas” seria, precisamente, a tendência a bloquear processos de singularização e instaurar processos de individualização. Os homens, reduzidos à condição de suporte de valor, assistem, atônicos, ao desmanchamento de seus modos de vida. Passam então a se organizar segundo padrões universais, que os serializam e os individualizam. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 38) 33ºNota: Nas sociedades capitalísticas no momento que acontece os processos de singularização, a subjetividade tende a retornar as antigas estruturas dominantes de representações, que individualiza e aliena o sujeito do devir que possui a potencialidade de ruptura com os antigos padrões universais da branquitude falocêntrica. A impressa enquanto produtora de cultura de massa, alimenta-se de fluxos de singularidades para produzir, dia a dia, individualidade serializadas. Democraticamente, ela “amassa” os processos de vida social, em sua riqueza e diferenciação e, com isso, produz, a cada fornada, indivíduos iguais e processos empobrecidos. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 39) 34ºNota: Os Canais de comunicação alimentam-se das singularidades para modelar a subjetividade tornando os processos de singularização empobrecidos de seu sentido micropolítico, a procura de normalizar e enquadrá-los em determinadas posições totalizantes criando polarizações. O CMI afirma-se, em modalidades que variam de acordo com o país ou com a camada social, através de uma dupla opressão. Primeiro pala representação direta no plano econômico e social – o controle da produção de bens e das relações sociais através de meios de coerção material externa e sugestão de conteúdos de significação. A segunda opressão, de igual ou mais intensidade que a primeira, consiste em o CMI instalar-se na produção de subjetividade: uma imensa máquina produtiva de uma subjetividade industrializada e nivelada em escala mundial tornou-se dado de base na formação de força coletiva de trabalho e da força de controle social coletivo. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 39) 35ºNota: O Capitalismo mundial integrado procura agir tanto no plano econômico social; na esfera material ao delimitar o acesso dos bens que proporcione condições mínimas de vida com dignidade para as camadas sociais marginalizadas e produzindo sugestões de significações através da cultura de massa, e consequentemente, produz o consumo de uma subjetividade que determina o controle social coletivo. As máquinas ganham uma importância cada vez maior nos processos de produção. As relações de inteligência, de controle e de organização social estão cada vez mais adjacentes aos processos maquínicos. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 39) 36ºNota: os computadores, smartphone, câmeras de vigilância, inteligências artificiais organizam na contemporaneidade todo uma nova percepção das relações em sociedade novas articulações de controle social na justificativa de mais segurança, o estabelecimento de uma nova tecnologia que tem potencial de ajudar ou atrapalhar o processo cognitivo. A produção da subjetividade pelo CMI é serializada, normalizada, centralizada em torno de uma imagem, de um consenso subjetivo referido e sobrecodificado por uma lei transcendental. Esse esquadrinhamento da subjetividade é o que permite que ela se propague, a nível da produção das relações sociais, em todos os meios (intelectual, agrario, fabril, etc.) (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 40) 37ºNota: A subjetividade capitalística parte de um centro em termos Deleziano- Guattariano ela parte de um pivô e a partir deste ponto principal ela modela e cria quadros para atingir o meio social inibindo a originalidade das multiplicidades e seus devires. Sujeitando os indivíduos a uma normalidade e propagada em serie igual nos modelos fordistas de produção, uma representação ideal e universal do ser. Os indivíduos são reduzidos a nada mais do que engrenagens concentradas sobre o valor de seus atos, valor que corresponde ao mercado capitalista e seus equivalentes gerais. São espécies de robôs, solitários e angustiados, deixando-se fascinar cada vez mais pela promoção. E cada degrau de promoção lhes proporciona um certo tipo de moradia, um certo tipo de relação social e de prestígio. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 40) 38°Nota: Os indivíduos são programados para atender à exigência dos sistemas do capitalismo mundial integrado que as suas atitudes e atos entram em modelos de valoração, algum comum em relação ao trabalho e a possível promoção que modificara aspectos da vida material e social. A culpabilização é uma função da subjetividade capitalística. A raiz das tecnologias capitalísticas de culpabilização consiste em propor sempre uma imagem de referência a partir da qual colocam-se questões tais como: “quem é você?”, “Você que ousa ter uma opinião, você fala em nome de quê?”, “o que você vale na escala de valores reconhecidos enquanto tais na sociedade?”, “a que corresponde sua fala?”, “que etiqueta poderia classificar você?” E somos obrigados a assumir a singularidade de nossa própria posição com o máximo de consistência (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 41) 39ºNota: A culpabilização é a função da subjetividade capitalística que gera uma violência simbólica, pois no plano do sistema de hierarquias os indivíduos precisam estar nas esferas privilegiadas e responsabilizar os indivíduos por suas circunstâncias independente das estruturas sócios e econômicas. A segregação é uma função da economia subjetiva capitalística diretamente vinculada à culpabilização. Ambas pressupõem a identificação de qualquer processo com quadros de referência imaginários, o que propícia toda espécie de manipulação. É como se a ordem social para se manter tivesse que instaurar, ainda que de maneira mais artificial possível, sistemas de hierarquia inconsciente, sistemas de escala de valor e sistemas de disciplinarização. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 41) 40ºNota: A segregação no estágio pós-industrial do capitalismo procura classificar os indivíduos em território pré-definidos que instigam a submissão dos corpos com sistemas de valoração. Função da econômica subjetiva capitalística, talvez a mais importante de todas, é a infantilização. Pensam por nós, organizam por nós a produção e a vida social (...) A infantilizalização (...) consiste em que tudo o que se faz, se pensa ou se possa vir a fazer ou pensar seja mediado pelo estado. Qualquer tipo de troca econômica, qualquer tipo de produção cultural ou social tende a passar pela mediação do estado. Essa relação de dependência do estado é um dos elementos essenciais da subjetividade capitalística. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 41-42) 41ºNota: A infantilização assume o pressuposto que as massas precisam se espelhar em um líder para provocar suas rupturas criando relações de dependência. A ordem capitalistica é projetada na realidade do mundo e na realidade psíquica. Ela incide nos esquenas de conduta, de ação, de gestos, de pensamento, de sentido, de afeto, etc. Ela incide nas montagens da percepção, da memorização, ela incide na modelização das instâncias intra- subjetivas - instâncias que a psicanálise reifica nas categorias de Ego, Superego, e Ideal do Ego. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 42) 42ºNota: a ordem de controle no sistema capitalista é formada para moldar tanto o mundo material com desenvolvimento das forças de trabalho e os melhoramentos tecnológicos quanto as áreas intrassubjetivas do ego, superego e Ideal de ego, por isso que as singularizações precisam acontecer tanto no mundo tangível quanto no da psique. A ordem capitalística produz os modos das relações humanas até em suas representações inconscientes: os modos como se trabalha, como se é ensinado, como se ama, como se trepa, como se fala, etc.(...) em suma, ela fabrica a relação do homem com o mundo e consigo mesmo. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p,42) 43ºNota: acontece no sistema capitalístico a modulação dos desejos humanos que se torna um desejo pela falta e o querer ter algo- eu desejo o que eu não posso ter - este esquema é produzido nas relações sexuais, na qual objetifica o outro. Tudo o que é do domínio da ruptura, da surpresa e da angústia, mas também do desejo, da vontade de amar e de criar deve se encaixar de algum jeito nos registros de referências dominantes. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 43) 44ºNota: Tudo o que busca escapar ao sistema de subjetivação capitalístico é acoplado a ele e encaixado nos sistemas dominantes, isso é bem perceptível quando no mês que celebra à rebelião de Stonewall as organizações de comércio, as campanhas de publicidade e de marketing. Monetizam as semióticas que refecem a população marginalizada por diferentes formas de construir suas relações e esvazia o sentido político do movimento. O que faz a força da subjetividade capitalística é que ela se produz tanto ao nível dos opressores, quanto dos oprimidos (...) estabelece-se uma espécie de relação de complementaridade e de dependência entre diferentes categorias sociais, o que acaba desmontando as alianças de classe, as alianças sociais. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 41-42) 45ºNota: Como a subjetividade capitalística é produzida para afetar em larga escala os socious e manter a hierarquia conservadora, ela fabricada tanto para quem dissemina opressão quanto para os oprimidos que procuram reaplicar a hierarquia em suas relações. Desenvolvimento da subjetividade capitalística traz imensas possibilidades de desvio e de reapropriação. Isso desde que reconheça que a luta não mais se restringe ao plano de economia política, mas abrange também o da economia subjetiva. Os afrontamentos sociais não são mais de ordem econômica. Eles se dão também entre diferentes maneiras pelas quais os indivíduos e grupos entendem viver sua existência. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 44-45) 46ºNota: O plano de ação de acordo com a teoria Guattariana precisa acontecer no pela via da subjetividade e a rupturas que ocorrem a partir dela. Abrindo as possibilidades de entendimento para outras maneiras de viver em sociedade que não seja a de um sistema hierárquico. A tentativa de controle social, através da produção da subjetividade em escala planétaria, se choca com fatores de resistência consideráveis, processos de diferenciação permanente que eu chamaria de revoluções moleculares. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 45) 47ºNota: as revoluções moleculares é a chance para fazer resistência diante da subjetividade capitalística, as revoluções moleculares entram em combate com os modos molares subjetivos fabricados, pré-definidos ao criar novas possibilidade de os sujeitos enxergarem a realidade. O que caracteriza os novos movimentos sociais não é somente uma resistência contra esses processos geral de serialização da subjetividade, mas também a tentativa de produzir modos de subjetividade originais e singulares, procesos de singularização subjetiva. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 45) 48ºNota: os novos movimentos sociais além de resistirem aos processos da subjetividade em grande escala que modela a percepção e possibilidades de existência, eles potencializam a autonomia e os processos de singularização subjetivas. A função de autonomização num grupo corresponde à capacidade de operar seu próprio trabalho de semiotização, cartografia, de se inserir em níveis de relações de força local, de fazer e desfazer alianças, etc.(GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 46) 49ºNota: Os movimentos sociais têm a possibilidade operar novas cartografias criando novas alianças fazendo revoluções moleculares e criar semióticas para que surge outras formas de relação entre sujeito e sujeito, sujeito e natureza. O que vai caracterizar um processo de singularização (...) é que ele seja automodelar. Isto é, que ele capte os elementos da situação, que construa seus próprios tipos de referências práticas e teóricas, sem ficar nessa posição constante de dependência em relação ao poder global, a nível econômico, a nível do saber, a nível técnico, a nível das segregações, dos tipos de prestígio que são difundidos. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 46) 50ºNota: a especificidade do processo de singularização está na sua capacidade independente dos modelos globais, ele se automodela cria seus referencias teóricos para promover uma práxis no cotidiano rompendo com as tradições. A revolução molecular consiste em produzir as condições não só de uma vida coletiva, mas também de encarnação da vida para si próprio, tanto no campo material, quanto no campo subjetivo. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 46) 51ºNota: A revolução molecular opera tanto a nível social, ou seja, modifica as relações no cerne da sociabilidade modifica as relações de poder e modifica a nível do eu e como ela quebra com os padrões e as regras O traço comum entre os diferentes processos de singularização é um devir diferencial que recusa a subjetivação capitalística. Isso se sente por um calor nas relações, por determinada maneira de desejar, por uma afirmação positiva de criatividade, por uma vontade de amar, por uma vontade simplesmente de viver ou sobreviver, pela multiplicidade dessas vontades. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 46) 52ºNota: a possibilidade de recusa a subjetivação capitalística é algo que perpassa todos os processos de singularização negação da submissão, a recusa da culpabilização, o desmanche nos modos segregacionistas que nos separam em territórios e a chance de dizer não a infantilização. É necessário criar condições para a produção de um novo tipo de subjetividade, que se singulariza e que encontra as vias de sua especificação. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 49) 53ºNota: é necessário fazer rupturas na subjetividade capitalística para produzir uma nova subjetividade aberta aos devires sociais e subjetivos. Uma subjetividade que abra a sensibilidade e a percepção de mundo dos indivíduos para trabalhar em conjuntos com as mulheres, os negros, os homossexuais e população transsexual e travestis. Enquanto os movimentos que pretendem desembocar numa transformação social combaterem, com práticas e referências arcaicas que veiculam uma visão maniqueísta, a onipotência da produção de subjetividade capitalística, eles estarão deixando o campo totalmente livre para essa produção. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 49) 54ºNota: na filosofia Guattariana é construído uma crítica imanente as formas arcaicas dos referencias políticos que os movimentos em sua organização política acabam tento, para o filosofo é necessário romper com essa hierarquia e modelos maniqueístas de organização para a construção subjetiva. Todos os devires singulares, todas as maneiras de existir de modo autêntico chocam-se contra o muro da subjetividade capitalística. Ora os devires são absorvidos por esse muro, ora sofrem verdadeiro fenômenos de implosão. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 50) 55ºNota: As estruturas subjetivas propagadas pelo capitalismo pós-industrial entram em colapso quando os novos devires surgem e busca agir de maneira que absorva esses devires para as relações monetária e em casos extraordinários esses devires provocam mudanças no campo cognitivo e social para o repensar os indivíduos em sociedade. Qualquer emergência de singularidade provoca dois tipos de resposta micropolítica: a resposta normalizadora ou, ao contrário, a resposta que busca direcionar a singularidade para a construção de um processo que posso mudar a situação, e talvez não só o local. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 50-51) 56ºNota: a resposta micropolítica pode aparecer cem duas possibilidades a primeira normalizadora tende a fazer mudanças significativas nos agenciamentos maquínicos das subjetivações capitalística resultando em microfascismos, ou seja, repulsa ao que destoa os elementos constitutivos da subjetividade dominante) e a segundo é a possibilidade criadora de potencializar os processos de singularização modificando radicalmente a subjetividade capitalística ao criar linhas de fuga. Os pontos de singularidade, os processos de singularização são as próprias raízes produtivas da subjetividade em sua pluralidade. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 52) 57ºNota: Os processos de singularização para Guarrati é o desejo de produzir uma subjetividade em plena pluralidade com os agenciamentos de enunciação coletivas que se formam a partir do devir mulher, devir homossexual e do devir negro. A autonomia é uma função. A “função da autonomia” pode se encarnar efetivamente em grupos feministas, negros, ecologistas, homossexuais, etc. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 54) 58ºNota: autonomia segundo o filosofo e psicanalista envolve os processos de subjetivação das novas formas de ser e de como nos relacionamos com o mundo, ou seja, como os grupos feministas, negros, homossexuais e os ecologistas constroem diferentes relações e formas de ser. O objetivo da produção de subjetividade capitalística é reduzir tudo a uma tábua rasa. Mas isso nem sempre é possível, mesmo nos países capitalistas desenvolvidos. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 56) 59ºNota: O objetivo da produção da subjetividade capitalística é reduzir e esvaziar de sentido toda a pluralidade do campo social, suprimindo a dimensão heterogenia dos processos que perpassa o sujeito. A maneira de evitar o risco de acumulação de microfascismo, o risco de desenvolvimento de cânceres fascistas, não consiste, evidentemente, em criar sistemas de controle e de sobrecodificações. Consiste, sim, em instaurar dispositivos que articulem os modos de expressão dissidentes aos modos de expressão dominantes, dando-lhes um certo poder nas reais relações de força. Ao invés de uma espécie de rolo compressor fascista, teríamos assim a criação de modos de conexão e de articulação rizomática. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 66) 60ºNota: a teoria guattariana aposta na criação de um processo de subjetividade que não se torne a subjetividade dominante, para o filosofo é importante que se articule diferentes modos de expressão contra a expressão capitalística, sem abrir espaços pra microfacismos, por exemplo, grupos feministas que não consideram mulheres trans mulheres ou homossexuais que em seu processo de singularização tente se aproximar ao máximo do conceito de masculinidade falocêntrica e assim nega ao devir feminino. A maneira como o ego, os indivíduos, os grupos sociais são modelados pelos sistemas capitalísticos contemporâneos é muito mais portadora de desordem e de entropia do que os sistemas de sensibilidade (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 66-67) 61ºNota: os indivíduos e os grupos sociais que são modelados pelo capitalismo mundial integrado são isolados e limitados na medida que os moldes do sistema enquadrem os processos espontâneos. o que é produzido pela subjetividade capitalística, o que nos chega através da mídia, da família, enfim, de todos os equipamentos que nos rodeiam, não são apenas ideias; não são transmissão de significações através de enunciados significantes; nem são modelos de identidade ou identificações com pólos maternos, paternos, etc. São, mais essencialmente, sistemas de conexão direta, entre, de um lado, as grandes máquinas produtoras e de controle social e, de outro, as instancias psíquicas, a maneira de perceber o mundo. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 67) 62ºNota: a subjetividade capitalística produz em massa sistemas de conexões, agenciamentos maquinicos, que torna a nossa percepção psicossocial maniqueísta, dicotômica e arranjos de controle social pelos comunicação de massas, pelas teorias e práticas que geralmente produzem um cotidiano maniqueísta robótico A reivenção de grupos de minorias não é só a do reconhecimento de sua identidade. A diferença dos atuais grupos homossexuais, por exemplo, em relação aos da belle époque é que sua questão não é setorial. Eles trabalham para que seu processo, seu devir homossexual se introduza no conjunto da sociedade pois, de fato, todas as relações são trabalhadas pelo devir homossexual. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 73) 63ºNota: as lutas sociais não se limitam a um reconhecimento identitário nas esferas macropolíticas, elas trabalham em processos de singularização das categorias postas, é trabalham um devir mulher no cotidiano doméstico, social e romper com os padrões dito masculinos. É a formação de uma nova subjetividade tanto individual como social. Porque é afetendo o meio social que esses devires se tornam rupturas. O feminismo também tem isso: ele não coloca só o problema do reconhecimento dos direitos da mulher em tal ou qual contexto profissional ou doméstico. Ele é portador de um devir feminino que diz respeito não só a todos os homens e às crianças mas, no fundo, a todas às engrenagens da sociedade (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 73) 64ºNota: O feminismo é esse agenciamento de enunciação que toma proporções de revoluções moleculares, como o filosofo afirma não é só sobre o reconhecimento de direitos que provoca uma singularização social para a sensibilidade e percepções de mundo do ponto de vista de um devir feminino. A ideia de “devir” está ligada à possibilidade ou não de um processo se singularizar. Singularidades femininas, poéticas, homossexuais, negras, etc., podem entrar em ruptura com as estratificações dominantes. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 74) 65ºNota: a característica principal dos devires é que eles podem fazer rupturas na subjetividade capitalística e gerar a possibilidade de singularização. A homossexualidade que os homossexuais constroem não é algo que os especifique em sua essência, mas sim algo que diz respeito diretamente a relação com o corpo, à relação com o desejo do conjunto das pessoas que estão em torno dos homossexuais. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 75) 66ºNota: a homossexualidade de acordo com o filosofo tem a especificidade de criar um processo subjetivo diferente com o corpo e as relações de desejo, outras formas de pensar o relacionamento amoroso e os tabus construído pelo Heteronormatividade e a monogamia. A micropolítica é, exatamente, tentar agenciar as coisas para evitar que aconteça(...) um processo de singularização de um grupo de homossexuais acarretar, em algumas circunstâncias, a reificação de um devir homosexxual individual. (...) A micropolítica consiste em criar um agenciamento que permita, ao contrário, que esses processos se apoiem uns aos outros, de modo a intensificar-se (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 79) 67ºNota: A micropolítica é a forma pela qual os grupos de feministas, homossexuais, negros podem agenciar a formas de desejos para fazer rupturas no tecido social capitalístico interferindo no modo de subjetivação. Se ficamos com essa ideia de processos de singularização diferenciais, é cabível pensar que, numa sociedade completamente falocrática, talvez a primeira ruptura – antes de um devir poeta, por exemplo, antes também de um devir homossexual – seja a ruptura desse primeiro nível de qualificação molar ... romper com essa máquina de produção de pessoas individualizadas, e divisão binaria dos sexos. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 81) 68ºNota: de acordo com o filosofo em uma sociedade onde o ideal do imaginario é o homem branco e heterossexual que procura reafirmar o conceito de masculidade mediante aos fatores biológicos, o devir feminino é a ruptura com esta estratificação hierárquica, a partir deste devir podem se modificar a relação com o outro, rompendo com a binaridade e a individualização das pessoas. A forma mais transformadora seria a existência de várias revoluções moleculares, ou seja, uma multiplicidade de grupos feministas, lésbico-feministas, grupos de negros e outros que questionam as estruturas patriarcais, ou fálicas (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 88) 69ºNota: O questionamento que se faz por meio das estruturas patriarcais das elites capitalística é de o que poderá mover as revoluções moleculares. A questão micropolitica – ou seja, a questão de uma analítica das formações do desejo no campo social – diz respeito ao modo como se cruza o nível das diferenças sociais mais amplas (que eu chamei de “molar”), com aquele que chamei de molecular. (...) as lutas sociais são, ao mesmo tempo, molares e moleculares. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 127) 70ºNota: A compreensão micropolítica procura analisar as formações do desejo no campo social e o cruzamento das diferentes lutas sociais feito pelos agenciamentos. A questão micropolítica é a de como reproduzimos (ou não) os modos de subjetividade dominante. (GUATTARI, F; ROLNIK, S, 1996. p, 133) 71ºNota: Voltar à 56ºnota