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Resumo
A democratização do acesso às tecnologias da informação e da comunicação estabeleceu uma
nova estrutura social organizada em redes interconectadas globalmente, caracterizadas
principalmente pela colaboração e participação na produção de conteúdo. O avanço das redes
sociais virtuais mudou radicalmente a comunicação publicitária, favorecendo as redes de
influência em detrimento do discurso de massa. Soma-se a isso uma nova geração de
consumidores familiarizada com a linguagem digital, consciente do seu papel na cadeia
produtiva e com aptidão para a cocriação e coinovação. Em razão disso, esse artigo visa
conhecer os hábitos e comportamentos dos millennials e compreender o papel que as redes de
influência exercem nas decisões de compra dessa geração.
1 Trabalho apresentado no IJ 2 – Publicidade e Propaganda XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste,
realizado de 29 de junho a 1 de julho de 2017.
2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Estácio do Ceará, email:
erikacirqueiragomes@hotmail.com
3 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Estácio do Ceará, email:
evanferg@gmail.com
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XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Fortaleza - CE – 29/06 a 01/07/2017
Dentro desse contexto, nasce uma geração imersa no ambiente digital, com mentalidade
mais flexível e aptidão para a colaboração e coinovação. Os Millennials, também designados
como Geração Y, Nativos Digitais, Geração Net, entre outras nomenclaturas, são
caracterizados, conforme Tapscott (1999 apud Carvalho) como imediatistas, exigentes, bem
informados, multitarefa, com uma cultura povoada por nichos e que buscam se relacionar com
o mundo através da interatividade propiciada pela internet.
Nascidos entre a década de 1980 e início dos anos 2000, período de grandes
transformações socioculturais e prosperidade econômica, os millennials, também conhecidos
com Geração Y, foram a primeira geração a crescer na sociedade da informação, qualificando-
os como descendentes das Gerações X e Baby Boomer. Marc Presky (2001) descreve os
millennials como Nativos Digitais, uma vez que estão acostumados a linguagem digital desde
que nasceram. Para o educador e pesquisador, os Nativos Digitais estão familiarizados a obter
informações rapidamente e processar várias coisas de uma vez, o que caracteriza o pensamento
desses jovens como não-linear e hipertextual.
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A propagação das redes sociais virtuais é uma recorrente ilustração da Web 2.0. Recuero
(2009 apud Carvalho, 2010) afirma que as redes sociais são constituídas pelas representações
dos atores sociais e suas conexões. A interação entre os atores no ciberespaço possibilita a
criação de laços sociais e a construção de relações sociais. Na comunicação mercadológica, o
estabelecimento de laços sociais no meio online potencializa a troca de informações e
conhecimento entre consumidores e marcas. Carvalho (2010) atesta que é preciso pensar em
estratégias publicitárias que ofereça oportunidades de interação entre esses atores sociais.
5 O termo Web 2.0 surgiu em 2004 durante uma conferência de tecnologia da informação realizada pela O’Reilly Media.
Segundo O’Reilly, indica a segunda fase da internet, fundamentada pela incorporação de funcionalidades e conteúdo, de forma
a promover a interação entre usuários.
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Devido a isso, Longo (2014) enuncia que vivemos na era pós-digital, dado que a
tecnologia passou a fazer parte do cotidiano dos indivíduos. Conforme o autor, a dualidade
entre fascínio e medo causado pelas ferramentas digitais deixaram de existir, convertendo o que
era novidade em corriqueiro e o surpreendente em esperado. Nesse cenário, o digital transpõe-
se em commodity, assim com a eletricidade e o ar. As empresas no mundo pós-digital devem
ter uma alma digital, entranhada na gestão do negócio.
De acordo com a pesquisa Digital Adspending6 realizada pela IAB Brasil (Interactive
Advertising Bureau) em parceria com o comSCORE, a publicidade online movimentou R$ 9,3
bilhões em 2015, com projeção de aumento de 12% em 2016. Para os próximos anos, a
tendência é de crescimento da publicidade nas redes sociais, impulsionado principalmente pelo
acesso mobile. O relatório “O Brasil Digital do Futuro”7 realizado pelo comScore em 2016,
reitera que o Brasil detém a maior audiência nas redes sociais, com 85,9 milhões de usuários.
Ainda conforme a pesquisa, Facebook, Snapchat, Instagram e Twitter são respectivamente as
redes sociais com maior engajamento e audiência entre os millennials.
Para se destacar nesse cenário de concorrência global, as marcas devem despertar desejo
de consumo por meio da criação de sensações e experiência inéditas. Bauman (1999) afirma
que o consumidor pós-moderno é inquieto, volátil e está em constante busca pela satisfação de
seus desejos e necessidades. As mudanças comportamentais e culturais junto com as novas
mídias estão transformando os hábitos desse novo consumidor.
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grande número de seguidores e com alto poder de influência nos hábitos e comportamentos
desses consumidores. Dessa forma, o marketing de influência ou influencer marketing é "a
maneira pela qual as empresas recompensam celebridades e estrelas das mídias sociais para
criar conteúdos em prol das marcas, gerando endosso – e, assim, influenciando pessoas".
(VIEIRA, 2016, n.p.)
A opinião do influente é levada em conta por aqueles que o seguem, quando estes
fazem suas escolhas mediante recomendações partidas do mesmo. No mais,
indivíduos adotam certos comportamentos dos influentes, ainda que não haja
recomendações por parte desses últimos, o que representa uma forma de influência
por contágio. (Zanette, 2015, p. 20)
O engajamento de audiências cada vez maiores tem atraído a atenção das marcas para
os creators. Bia Granja, cofundadora do Youpix, afirma no minidocumentário que a parceria
uma vez que a segmentação tem se tornado economicamente atrativa para as empresas em razão
dos avanços tecnológicos na cadeia produtiva.
Os quatro criadores de conteúdo observados possuem estilos de vida diferentes entre si,
mas apresentam como ponto em comum o desejo de seus fãs por consumir e vivenciar as
mesmas experiências que seus ídolos. A partir de uma análise comparativa entre os quatro
objetos de estudo, Hugo Gloss e Thássia Naves são os influencers com o estilo de vida mais
admirado pelos millennials. O brasiliense Hugo Gloss surgiu no Twitter em 2006 comentando
sobre a vida das celebridades. Com suas postagens bem-humoradas conseguiu atingir a fama
em 2015 após publicar em seus perfis no Facebook e Instagram, além do seu blog, os resumos
da novela da Rede Globo Verdades Secretas. O seu estilo único de escrever sobre o mundo dos
famosos atrai milhões de acessos mensal em seu blog e nas suas redes sociais. O influencer
afirma ter mais de 30 milhões de acesso por mês.12 Os seguidores de Hugo Gloss o admiram
por ser bem relacionado no meio artístico e frequentar lugares que apenas celebridades tem
acesso, além de ser amigo de muitas dessas personalidades.
Assim com Hugo Gloss, Thássia Naves é inspiração para milhares de jovens mulheres.
Natural de Uberlândia, Thássia Naves começou na internet em 2009 escrevendo sobre moda
em um blog pessoal. Em 2015, o site especializado na indústria da moda Business of Fashion,
elegeu Thássia uma das 500 pessoas mais importantes do mundo da moda atualmente. A
influencer é descrita como “uma das maiores blogueiras de moda do Brasil, tendo marcas
internacionais com Farfetch e Sephora como algumas das que usam do seu poder de
influenciadora. ” (REVISTA L’OFFICIEL BRASIL, 2015)
A Pantene, marca de produtos para cabelo, promoveu em maio de 2016 o Pantene Talks,
uma ação em formato de talk show, para discutir sobre beleza com a presença das influencers
de moda Thássia Naves, Lelê Saddi, Camila Coutinho e a italiana Chiara Ferragni. Thássia,
assim como todas as participantes do evento, é embaixadora da marca na América Latina. O
bate-papo foi mediado por Hugo Gloss, que já havia participado do Pantene Summer Tour com
a atriz Camila Queiroz. O evento foi transmitido ao vivo através da página da marca no
Facebook, além das redes sociais dos influenciadores. Hugo também integrou uma das ações
de lançamento do Fiat Mobi nas redes sociais com a participação da maranhense Thaynara OG.
Podemos observar que o poder dos influenciadores digitais tem se provado determinante
para atingir o consumidor da Geração Y no mercado publicitário. De acordo com dados da
pesquisa Youtube Insights de maio de 2016, 68% das consumidoras de conteúdo de moda e
beleza da plataforma possuem idade entre 18 e 34 anos. Os novos influentes conseguem
compreender esse novo grupo de consumidores exigentes porque assim como seus seguidores,
são millennials e possuem interesses e anseios em comum.
Considerações finais
Segundo Vieira (2016, n.p.) os influenciadores digitais têm potencial de mudar a lógica
dos investimentos em publicidade, podendo ser uma possível solução para a crise de modelo de
negócio que a indústria da comunicação vivencia. Eles conseguem de forma permissiva e sutil
quebrar o bloqueio que os novos consumidores têm em relação à publicidade tradicional. É
notório que o sucesso dos influencers tem seduzido as plataformas tradicionalmente offline.
Grandes veículos de comunicação estão apostando nas personalidades da web para atrair
audiência. A MTV Brasil estreou em junho de 2016 o programa “Rídiculos” que conta com
Hugo Gloss entre os seus apresentadores. O programa se baseia em vídeos engraçados da
internet. Além da televisão, o mercado editorial está investindo nessa nova vertente como forma
de conquistar o interesse dos jovens. Felipe Colbert, editor da Nova Conceito, em entrevista ao
jornal O Povo em agosto de 2016, disse que a migração dos influenciadores para a literatura é
uma realidade e é prova de que os canais físico e digital podem e devem andar juntos.
Por fim, pode-se perceber que a abrangência dos influenciadores digitais tem crescido
na mesma proporção em que se compartilha conteúdo na web. Eles são hoje poderosos
expositores de marcas e produtos, além de propulsores eficazes de vendas. A visibilidade
oferecida pelas plataformas sociais, junto com a produção de conteúdo para seguidores
motivados pela experimentação, converte essas personalidades em canal de marketing. As
marcas mais do que nunca devem estar atentas ao que acontece na internet. No mundo pós-
digital, Longo (2014) reflete que saímos de um mundo de mídia e espectadores para um
universo de infinitas conexões entre marcas e pessoas. Para se manter sustentável nesse cenário
é necessário reciclar ideias e não aceitar verdades prontas. A era pós- digital inverteu as regras,
razão pela qual os influenciadores digitais analisados no presente artigo têm apresentado
resultados positivos para as marcas que representam junto a geração millennial cada vez mais
conectada às novidades do mercado.
Referências bibliográficas
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em:<http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2014/03/minha-relacao-com-moda-
comecou-cedo-diz-blogueira-thassia-naves.html>. Acesso em: 15 out. 2016.
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