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Análise Do Poema “O Quinto Império”

Triste de quem vive em casa,


Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!


Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida sepultura.

Eras sobre eras se somem


No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro


Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,


Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Análise de cada estrofe

1ª Estrofe

Na 1.ª estrofe, o sujeito poético lamenta a sorte daqueles que vivem felizes.
O poema inicia com uma antítese em relação às palavras“triste” /
“contente”. Na perspetiva do sujeito poético, a alegria do conformista é
triste para ele mesmo, visto que ignora o prazer que a aventura lhe pode
dar em termos pessoais, e é triste para a sociedade de que faz parte, pois
sem ideais e sonhos e sem a coragem de os tentar concretizar, a sociedade
não evolui, estagna e torna-se decadente.
2ª Estrofe
Na segunda estrofe revive-se a ideia que inicia o poema, agora através de
uma frase exclamativa que expressa o desdém do eu lírico face à aceitação
da rotina, como se tratasse de uma atitude positiva; deste modo, o sujeito
poético desmistifica o conceito de “felicidade” aceite pela sociedade em
geral e que assenta na valorização da vida ao nível mais básico - a vida
instintiva ou «a lição da raiz». A lição que podemos tirar da raiz é simples:
quem vive apenas por viver, sem sonhos e ideais (“porque a vida dura” v. 7)
é semelhante a uma raiz: vive como se estivesse sepultado. Os nomes “raiz”
e “sepultura” associam-se ao imobilismo e à ausência de vida e de sonho.
Por outro lado, a forma verbal “dura” (v. 7) remete para a existência
enquanto mero passar do tempo. Assim, quem “Vive porque a vida dura”
não a aproveita e limita-se a existir, a sobreviver. Esta aceitação da vida
segundo os instintos conduz à morte do indivíduo, porque a vida digna de
ser vivida é a que é orientada pelos mitos, pelo sonho, pela loucura de sinal
positivo, pela partida em direção a horizontes desconhecidos.

3ª Estrofe
Na terceira estrofe o autor mostra que o tempo vai passando e que as
coisas vão mudando, mas que o descontentamento do homem nunca muda e
isso é o que o faz ser homem. E diz-nos também que as nossas forças estão
na alma e nos nossos sonhos.
Nos dois versos finais desta estrofe, o sujeito poético deseja que a
grandeza de alma domine e cale as “forças cegas” ou forças da natureza,
fazendo com que o homem se liberte da prisão terrena e vá em busca da
plenitude existencial.

4ª Estrofe
Na quarta estrofe, o sujeito poético menciona os quatro impérios do “ser
que sonhou” (Grécia, Roma, Cristandade, Europa), o qual assistirá ao
renascimento da humanidade, que regressará a um tempo de pureza e de
imortalidade, que a chegada do Quinto Império vai proporcionar. Assim, “A
terra será teatro / Do dia claro, que no atro / Da erma noite começou” (vv.
18 a 20), isto é, das trevas da noite deserta e esta escuridão, dará lugar à luz
do Quinto Império, que resplandecerá de paz e harmonia.

5ª Estrofe
Nesta estrofe os quatro impérios anteriores morreram. Agora, é tempo de
perseguir o sonho de construção futura do Quinto Império, o império
espiritual que nascerá da procura da verdade. É neste contexto que o
sujeito poético interroga: “Quem vem viver a verdade / Que morreu D.
Sebastião?”. Esta interrogação anuncia o Quinto Império que, sucedendo-se
aos quatro anteriores, deles diferirá pela natureza: será o
império da verdade, nascida com a morte de D. Sebastião.

Análise externa:
O poema é constituído por 5 quintilhas, sendo o 5 um símbolo associado à
união, número da harmonia e do equilíbrio e também refere-se ao quinto
império.
rima: interpolada e cruzada.

Análise interna:

1.ª parte (estrofes 1 e 2) - O sujeito poético lamenta a sorte daqueles que


vivem felizes com a mediocridade e faz a apologia do sonho como única
forma de aceder a grandes feitos.

2.ª parte (estrofe 3) - Reflexão sobre a passagem do tempo e sobre a


condição indispensável para ser homem - a insatisfação.

3.ª parte (estrofes 4 e 5) - O sujeito poético anuncia, profeticamente, a


chegada do Quinto Império

Ser feliz é uma infelicidade porque se vive


“maquinalmente” e não para o sonho
Mesmo campo
Triste de quem vive em casa, lexical
Antítese
Contente com o seu lar, reforça a ideia de
Sem que um sonho, no erguer de asa, aconchego de quem
Faça até mais rubra a brasa vive acomodado e
“contente” com a
Da lareira a abandonar! sua vida sem um
O eu poético
“sonho”
considera triste a
Antítese Triste de quem é feliz! felicidade de viver
Vive porque a vida dura. pela sua existência e
Nada na alma lhe diz duração
Na própria essência material do
Mais que a lição da raiz-
Homem está, desde a sua origem,
Ter por vida sepultura. inevitabilidade da morte

Eras sobre eras se somem Verso central


Repetição No tempo que em eras vem. remete para uma
Ser descontente é ser homem. condição inerente
Personificaç ao próprio homem:
Que as forças cegas se domem
ão ”O
Pela visão que a alma tem!
descontentamento”

O mundo presenciará a chegada do


Quinto Império, que terá Portugal como
Centro
Conector
conclusivo
Referência ao sonho do rei
MetáforaE assim, passados os quatro Nabucodonosor
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Antítese Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,


Enumeração
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda idade. Morte, fim, envelhecimento
Quem vem viver a verdade
Interrogação retórica
Que morreu D. Sebastião?

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