Você está na página 1de 2

Comentário sintético e introdutório sobre a Metafísica de Aristóteles

Cicero Rodrigo Alves Dias

De antemão, só em olhar o título dado ao primeiro capítulo da obra, A sapiência é o


conhecimento das causas, podemos constatar que Aristóteles defenderá que a sabedoria está
intrinsicamente ligada ao conhecimento das causas, entretanto, como ele apontará mais
diretamente à frente, não quaisquer causas, mas as causas primeiras das coisas; sendo essa
preocupação denominada metafísica.

Segundo Aristóteles, a tendência ao saber é algo inerente à natureza humana. Ele


justifica isso dizendo que um dos sintomas que sustenta tal afirmação é o apreço pelas
sensações. Subtende-se que ele não tenha pretendido afirmar que o saber (se tratarmos aqui
como sinônimo de sapiência/sabedoria) está à mercê unilateralmente dos sentidos, pode-se
considerar mais confortável que ele esteja afirmando que a vontade de conhecer, de descobrir,
é algo típico do ser humano, e os sentidos se tornam umas das principais vias as quais
tomamos para tal ato. Prossegue Aristóteles e diz o sentido ao qual nos mais damos privilegio
é a visão, uma vez que para ele a visão “nos torna manifesta numerosas diferenças entre as
coisas” (METAFÍSICA, 980ª25). Aristóteles não exemplifica quais seriam essas diferenças,
mas podemos deduzir como cor, espessura, tamanho, volume e etc.

As sensações não são algo exclusivo dos seres humanos, considera Aristóteles, uma
vez que as percepções através dos sentidos são algo comum à natureza animal. Entretanto,
apenas em alguns animais da percepção sensorial brota a memória, assim sendo, denota ele,
são mais inteligentes e mais aptos a aprender os animais em que o processo descrito
anteriormente ocorre.

Percebemos que Aristóteles traça uma correlação entre “ser inteligente” e “ter
memória” e entre “aptidão à aprendizagem” e “ter memória”. Parecem casos distintos, mas
semanticamente podemos julgar como processos semelhantes e/ou complementares. Podemos
considerar que, para Aristóteles, o fato de possuir memória caracteriza a possibilidade de
aprendizagem, de apreensão, que gera consequentemente a faculdade de recordação. Sendo
assim, é oportuno denotar que “ser inteligente” para Aristóteles é aquele capaz de apreender
algo e subsequentemente poder recordar esse algo. Outro sentido apontado por Aristóteles
como condição necessária à aprendizagem é a audição, que segundo Reale possibilita o
entendimento da diversidade de emissões sonoras.

Aristóteles, ainda no primeiro capítulo, argumentará e apontará quais as perspectivas


metafísicas frente o empirismo. Diz ele, “Os empíricos conhecem o puro dado de fato, mas
não seu porquê” (METAFÍSICA, 981ª25), ao passo que apresenta a metafísica como uma
investigação em busca das causas primeiras das coisas, isto é, a razão, o porquê de cada coisa
ser o que é.

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Geovanni Reale. Edições Loyala: São Paulo, 2002.

Você também pode gostar