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PROVA PARCIAL
Matrícula: 724523
Outro recurso que o autor nos propõe para contornar a dualidade cérebro-mente
reside na causalidade de processos e não de entidades. O cérebro e a consciência não são
entidades separadas; pelo contrário, possuem uma relação de causa e efeito. Porém, não
se trata de uma relação de causa e efeito entre coisas distintas, já que a consciência, por
se apresentar como propriedade intrínseca do cérebro, faz com que não se trate de uma
realidade dual, mas sim unificada.
Segundo Seatle, embora a consciência seja inseparável da atividade cerebral,
reduzi-la apenas ao cérebro é insuficiente para uma compreensão completa desse
fenômeno. Nessa perspectiva, a consciência não pode ser explicada de maneira
satisfatória apenas pelos processos neurais, mas precisa ser analisada em um nível mais
amplo que inclua uma ótica biológica e experimental:
Uma terceira dificuldade em nossa atual situação intelectual é que não temos
qualquer ideia de como os processos cerebrais, que são fenômenos objetivos
publicamente observáveis, poderiam causar algo tão peculiar quanto estados
internos qualitativos de ciência e sensibilidade, estados que são em um certo
sentido “particulares” àquele que os possui (Searle, 1998, p. 35).
Mas, sabemos, por experiência própria, que a mente consiste em algo mais do
que a mera manipulação de símbolos formais. A mente tem conteúdos. (...) A
mente não poderia ser apenas um programa de computador, já que os símbolos
formais do programa de computador, tomados isoladamente, não são
suficientes para garantir a presença do conteúdo semântico que ocorre na
mente (Searle, 1998, p. 37-38).
Por fim, para sustentar sua posição, Searle traz O Argumento do Quarto Chinês a
fim de refutar a tese de que “a mente é apenas um programa de computador” (nominada
pelo autor como “Inteligência Artificial Forte” – IA Forte). Nessa perspectiva, a sintaxe,
isto é, o conjunto de símbolos, não é intrínseca à física do sistema computacional, mas é
relativa ao observador ou usuário: “você jamais poderia descobrir processos
computacionais na natureza sem a interpretação humana, pois qualquer processo físico
que você encontrasse seria computacional apenas em relação a alguma intepretação
(Searle, 1998, p. 43)”. Desse modo, a semântica não é inerente à sintaxe, já que esse
último não é inerente à física: “os impulsos elétricos são independentes do observador;
mas, a interpretação computacional é relativa aos observadores, usuários, programadores,
etc” (Searle, 1998, p. 43).
2) Para Popper o paralelismo linguístico é defensável? Justifique.
Segundo essa teoria, existem duas linguagens ou dois modos de falar sobre a
realidade. Entende-se aqui o mundo e realidade como unos. As duas maneiras de falar
sobre essa realidade é trata-la como física e mental. Em outras palavras, essa teoria
postula que os aspectos formais e estruturais da linguagem são paralelos aos aspectos
formais e estruturais da realidade.
Popper acredita que essa teoria está muito ligada ao monismo neutro. Nessa
perspectiva, os monistas neutros afirmam que há uma só realidade, negando a existência
da separação corpo-mente. O ponto principal dessa abordagem é o de que
3) Analise a passagem do Fédon na qual Sócrates diz o motivo pelo qual encontra-se
na prisão à luz do paralelismo linguístico.
Nesta passagem de Fédon (98e – 99a), Sócrates faz afirmações acerca da mente,
as razões e as ações de seu corpo no espaço-temporal [na ocasião a prisão], relacionando
a razão ou inteligência e as causas do que realizara. O trecho é considerado uma
explicação causal do Mundo 1 (termos de causas físicas) em termos de explicações das
intenções, fins, motivos, razões e valores a serem realizados (envolvimento do Mundo 2
com o Mundo 3). No trecho em destaque, Sócrates possuía o desejo de não violar as leis
de Atenas (que o havia condenado a morte), considerando que as explicações de uma ação
responsável ou proposital seria irrelevante:
Assim como o caminho que Sócrates faz para encontrar a relação do mundo físico
com o mundo mental, Popper desenvolve seu pensamento em cima do paralelismo
linguístico, e apresenta três versões sobre ele: numa primeira versão (com duas
linguagens) existiriam dois diferentes tipos de vocabulários, usados na mesma linguagem,
mas não obstante, pode-se claramente distinguir duas classes de palavras (físicas ou
mentais); numa segunda versão existem dois vocabulários, porém dois conjuntos de
conceitos que possui significados quando nos respectivos contextos teóricos; e na terceira
versão duas linguagens são consideradas como metáfora para indicar que se um homem
fala sobre corpos, e um outro fala sobre mentes, não poderão comunicar-se entre si.
A partir dessa relação dos mundos, vemos que, para o paralelismo linguístico,
existe apenas um mundo e uma realidade. Contudo, existem duas maneiras de falar sobre
esta realidade única: tratá-la como física e a outra como mental, ou seja, dois sistemas de
linguagens para falar da mesma realidade. Na passagem do Fédon, vemos que há essa
relação física e mentalista, só que cada uma compreende um mundo para o entendimento
do “eu”.
A partir dessa mistura de linguagens, podem surgir pseudo-problemas, ou seja,
pode-se não alcançar uma outra linguagem desejada ou até afirmações que não respondem
aos questionamentos propostos. Isso se relaciona com o pensamento que Sócrates trouxe
na passagem descrita acima, no qual, a partir dessa mistura, não se pode dizer que ele foi
preso, pois as suas pernas não o desviaram desse caminho – não o desviaram para fora
dela.