Você está na página 1de 68

CEI

Círculo de Estudos pela Internet

Direitos Difusos e Coletivos


na jurisprudência dos
Tribunais Superiores
50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ

www.cursocei.com

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL. Todos os direitos reservados.


Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

PROFESSORES

Júlio Camargo de Azevedo. Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade de São
Paulo (USP). Especialista em Direito Processual Civil e Bacharel pela Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Defensor Público Estadual (SP). Coordenador do
Grupo de Estudos de Direito Processual Civil da Defensoria Pública de São Paulo (GEDPC-
DPSP). Membro colaborador do Núcleo Especializado dos Direitos da Pessoa Idosa e da
Pessoa com Deficiência (NUDIPED). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual
(IBDP) e do Centro de Estudos Avançados de Processo (CEAPRO). Autor do livro “Manual
de Prática Cível para a Defensoria Pública” (Editora CEI). Vencedor do VII Prêmio “Justiça
para Todas e Todos – Josephina Bacariça” na categoria Defensor Público. Pesquisador no
Global Access to Justice Project.

Tiago Fensterseifer. Doutor e Mestre em Direito Público pela PUC/RS (Ex-Bolsista do


CNPq), com pesquisa de doutorado-sanduíche junto ao Instituto Max-Planck de Direito
Social e Política Social (MPISOC) de Munique, na Alemanha (Ex-Bolsista da CAPES).
Estudos em nível de pós-doutorado junto ao MPISOC (2018-2019). Membro do Núcleo
de Estudos e Pesquisa sobre Direitos Fundamentais da PUC/RS (CNPq). Autor das obras:
Direitos Fundamentais e Proteção do Ambiente (Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008),
Defensoria Pública, Direitos Fundamentais e Ação Civil Pública (São Paulo: Saraiva, 2015) e
Defensoria Pública na Constituição Federal (São Paulo: GEN/Forense, 2017); coautor com
Ingo W. Sarlet das obras Curso de Direito Ambiental (Rio de Janeiro: GEN/Forense, 2020),
Direito Constitucional Ecológico (6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019), Direito
Ambiental: Introdução, Fundamentos e Teoria Geral (São Paulo: Saraiva, 2014), obra
finalista do Prêmio Jabuti 2015 (Categoria Direito), e Princípios do Direito Ambiental (2.ed.
São Paulo: Saraiva, 2017); e coautor com Ingo W. Sarlet e Paulo Affonso Leme Machado da
obra Constituição e Legislação Ambiental Comentadas (São Paulo: Saraiva, 2015). Defensor
Público Estadual (SP). @tiago_fensterseifer https://t.me/direito_ambiental.

2 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

SUMÁRIO

PROFESSORES........................................................................................................................................... 2
50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ................................................................................................... 5
PROCESSO COLETIVO................................................................................................................................ 5
1.1 Princípio da indisponibilidade das demandas coletivas................................................................................ 5
2.1 Princípio do microssistema de processo coletivo.......................................................................................... 6
3.1 Princípio da ampla publicidade das demandas coletivas e novas tecnologias............................................... 6
4.1 Direitos individuais homogêneos................................................................................................................. 7
5.1 Termo de ajustamento de conduta............................................................................................................... 9
6.1 Acordo coletivo por associação privada........................................................................................................ 9
7.1 Ação civil pública que visa impedir acolhimento institucional de menor por período acima do teto legal..... 10
8.1 Controle jurisdicional de políticas públicas e superpopulação carcerária...................................................... 12
9.1 Controle jurisdicional de políticas públicas e reformas em hospital público.................................................. 13
10.1 Competência, multiconflituosidade e eleição do foro adequado.................................................................. 14
11.1 Conexão e suspensão de ações individuais................................................................................................... 16
12.1 Ministério Público........................................................................................................................................ 17
13.1 Defensoria Pública....................................................................................................................................... 19
14.1 Municípios................................................................................................................................................... 22
15.1 Associações................................................................................................................................................. 23
16.1 Representatividade adequada..................................................................................................................... 23
17.1 Despesas processuais................................................................................................................................... 25
18.1 Honorários advocatícios............................................................................................................................... 26
19.1 Coisa julgada................................................................................................................................................ 27
20.1 Prazo prescricional da execução individual................................................................................................... 28
21.1 Prescrições autônomas envolvendo obrigações de fazer e de pagar............................................................. 29
22.1 Execução individual da sentença coletiva..................................................................................................... 29
23.1 Interrupção do prazo prescricional das ações individuais............................................................................. 30
24.1 Prazo prescricional e ação de improbidade administrativa........................................................................... 31
25.1 Legitimidade para ajuizamento de mandado de segurança coletivo............................................................. 31

DIREITO AMBIENTAL............................................................................................................................... 32
26.1 Princípio hermenêutico “in dubio pro natura”.............................................................................................. 32
27.1 Proteção ecológica, princípio da solidariedade e direitos fundamentais de terceira dimensão (ou geração)..33
28.1 Dimensão ecológica do principio da dignidade da pessoa humana, princípio da solidariedade e mínimo
existencial ecológico........................................................................................................................................... 34

3 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

29.1 Função ambiental ou ecológica da propriedade, reserva legal e área de preservação permanente............... 35
30.1 Controle judicial de politicas públicas ambientais, dignidade da pessoa humana, saúde pública e proteção
ecológica............................................................................................................................................................ 36
31.1 Direitos ambientais adquiridos e irretroatividade da norma ambiental menos protetiva.............................. 37
32.1 Federalismo cooperativo ecológico ou ambiental e exercício da competência executiva ou administrativa em
matéria ambiental (art. 23 da CF/1988 e LC 140/2011)....................................................................................... 38
33.1 Competência legislativa concorrente em matéria ambiental, norma suplementar mais protetiva e hierarquia
supralegal dos tratados internacionais ambientais.............................................................................................. 38
34.1 Poder de polícia ambiental do IBAMA e autoexecutoriedade....................................................................... 42
35.1 Natureza subjetiva da responsabilidade administrativa ambiental............................................................... 43
36.1 Principio do poluidor-pagador, exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a concessão de licença
urbanístico-ambiental e responsabilidade objetiva pelo dano ecológico............................................................. 46
37.1 Responsabilidade objetiva pelo dano ecológico e princípios da reparação integral e da priorização da reparação
“in natura”.......................................................................................................................................................... 48
38.1 Responsabilidade objetiva do poluidor, adoção da “teoria do risco integral” e inadmissibilidade das
excludentes de ilicitude e................................................................................................................................... 50
39.1 Responsabilidade objetiva do Estado por omissão (responsável indireto), responsabilidade solidária e
execução subsidiária........................................................................................................................................... 53
40.1 Imprescritibilidade da pretensão de reparação do dano ambiental.............................................................. 55

DIREITO DO CONSUMIDOR..................................................................................................................... 56
41.1 Direito do consumidor, superenvididamento, dignidade da pessoa humana e mínimo existencial................ 56
42.1 Hipervulnerabilidade do consumidor, direito à informação adequada e obrigação de informação do
consumidor......................................................................................................................................................... 57
43.1 Responsabilidade civil do fornecedor pela perda do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor.......... 59
44.1 Responsabilidade objetiva do fornecedor pelo vício de quantidade e omissão ou deficiência quanto ao seu
dever de informação em relação ao consumidor................................................................................................. 60
45.1 Direito do consumidor e teoria da perda de uma chance.............................................................................. 62
46.1 Proteção pré-contratual do consumidor, vulnerabilidade e princípio da vinculação da oferta....................... 62
47.1 Propaganda enganosa, vulnerabilidade informacional e hipervulnerabilidade do consumidor...................... 63
48.1 Publicidade abusiva e anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente, às
crianças.............................................................................................................................................................. 64
49.1 Banco de dados, direitos à intimidade e à proteção da vida privada e eficácia entre particulares dos
direitos fundamentais........................................................................................................................................ 65
50.1 Bancos de dados, direitos de personalidade do consumidor e termo inicial do limite temporal de cinco anos
em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência............................................................. 66

4 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ

🏳🏳 PROCESSO COLETIVO

Princípios do Processo Coletivo


1. Princípio da indisponibilidade das demandas coletivas
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
RECONHECIMENTO DA ILEGITIMIDADE ATIVA DA ASSOCIAÇÃO. CONTINUIDADE DA AÇÃO PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. POSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO DESTA CORTE SUPERIOR. AGRAVO INTERNO DA PARTICULAR A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(...) 2. Esta Corte Superior, pautada na continuidade da Ação Civil Pública e nos princípios da indisponibilidade
da demanda coletiva e da obrigatoriedade, autoriza o Ministério Público a assumir a titularidade da ação,
se declarada ilegítima a Associação autora - a não ser que o Parquet demonstre fundamentadamente a
manifesta improcedência da ação ou que a lide é temerária. Julgados: REsp. 855.181/SC, Rel. Min. CASTRO
MEIRA, DJe 18.9.2009; REsp. 1.651.472/MG, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 21.6.2017; REsp. 1.372.593/
SP, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 17.5.2013. 3. No presente caso, tem ainda mais razão a assunção
do polo ativo pelo Ministério Público Estadual, que expressamente o requereu antes do julgamento da
Apelação, para o caso de ser reconhecida a ilegitimidade da Associação (fls. 426/429).
STJ, AgInt no REsp 1.716.078/MG, Rel. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 03/06/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: princípio da indisponibilidade da demanda coletiva; assunção de ação civil pública
pelo Ministério Público inicialmente proposta por associação após a sentença.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. ADOÇÃO DE PREMISSA INSUBSISTENTE NO ACÓRDÃO


EMBARGADO. RECONHECIMENTO. INAPLICABILIDADE DA TESE FIRMADA PELO STF NO RE N. 573.232/SC
À HIPÓTESE. VERIFICAÇÃO. REJULGAMENTO DO RECURSO. NECESSIDADE. AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO.
LEGITIMIDADE ATIVA. EXPRESSA AUTORIZAÇÃO ASSEMBLEAR. PRESCINDIBILIDADE. SUCESSÃO PROCESSUAL
NO POLO ATIVO. ADMISSÃO. PRECEDENTES DESTA CORTE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS COM
EFEITOS INFRINGENTES PARA JULGAR IMPROVIDO O RECURSO ESPECIAL DA PARTE ADVERSA.
(...) 2. Não se aplica ao caso vertente o entendimento sedimentado pelo STF no RE n. 573.232/SC e no RE
n. 612.043/PR, pois a tese firmada nos referidos precedentes vinculantes não se aplica às ações coletivas
de consumo ou quaisquer outras demandas que versem sobre direitos individuais homogêneos. Ademais, a
Suprema Corte acolheu os embargos de declaração no RE n. 612.043/PR para esclarecer que o entendimento
nele firmado alcança tão somente as ações coletivas submetidas ao rito ordinário. 3. O microssistema de
defesa dos interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão
da parte autora pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado, mormente em decorrência da
importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas. (...)

5 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

STJ, EDcl no REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, j. 10/09/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: princípio da indisponibilidade da demanda coletiva; possibilidade de assunção do


polo ativo de ação civil pública por outra associação no curso da demanda; desnecessidade de expressa
autorização dos associados; embargos de declaração com efeitos infringentes (virada jurisprudencial).

2. Princípio do microssistema de processo coletivo


PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. DECISÃO DECLINATÓRIA DA COMPETÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CABIMENTO. MICROSSISTEMA DE DIREITO COLETIVO. PRESTÍGIO.
4. A despeito de inaplicável a tese fixada pela Corte Especial, sob a sistemática de recursos representativos,
acerca da taxatividade mitigada do rol do art. 1.015 do CPC/2015 (REsps n. 1.696.396/MT e 1.704.520/MT -
DJe 19/12/2018), posto que a decisão agravada na origem é anterior à publicação daquele paradigma, o caso
guarda peculiaridade, porquanto o art. 19, § 1º, da Lei da Ação Popular traz previsão expressa de que “das
decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento.” 5. O Superior Tribunal de Justiça tem entendido
que as disposições do Código de Processo Civil aplicam-se de forma subsidiária às normas insertas nos
diplomas que compõem o microssistema de tutela dos interesses ou direitos coletivos (composto pela
Lei da Ação Popular, Lei da Ação Civil Pública, Lei de Improbidade Administrativa, Mandado de Segurança
Coletivo, Código de Defesa do Consumidor e Estatuto da Criança e do Adolescente) e, em algumas situações,
tem feito prevalecer a norma especial em detrimento da geral (REsp 1452660/ES, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 27/04/2018). 6. A norma específica inserida
no microssistema de tutela coletiva, prevendo a impugnação de decisões interlocutórias mediante agravo
de instrumento (art. 19 da Lei n. 4.717/65), não é afastada pelo rol taxativo do art. 1.015 do CPC/2015,
notadamente porque o inciso XIII daquele preceito contempla o cabimento daquele recurso em “outros
casos expressamente referidos em lei.”
STJ, AgInt no REsp 1.733.540/DF, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, j. 25/11/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: princípio do microssistema de processo coletivo; aplicação meramente subsidiária


do CPC; afastamento do rol taxativo do art. 1.015 do CPC/2015 em sede de ação popular (art. 19, § 1º, da
Lei da Ação Popular).

3. Princípio da ampla publicidade das demandas coletivas e novas tecnologias


RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA.
DEVOLUÇÃO DE VALORES. CORREÇÃO PLENA. EMBARGOS DE DECLARÇÃO. NÍTIDO PROPÓSITO PROTELATÓRIO.
INEXISTÊNCIA. SÚMULA 98/STJ. FASE DE LIQUIDAÇÃO. PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA. MEIOS. REDE MUNDIAL
DE COMPUTADORES. EFETIVIDADE E PROPORCIONALIDADE. ART. 257, II, DO CPC/15.

(...) 5. A tutela coletiva de interesses individuais homogêneos se desdobra em duas etapas, sendo que a

6 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

efetivação do direito reconhecido na fase do conhecimento ocorre na liquidação e no cumprimento de


sentença, em que são averiguadas as características individuais de cada relação jurídica particular e na qual
predomina o princípio da primazia do cumprimento individual, com a legitimação, em regra, dos efetivos
lesados pela prática ilegal reconhecida no conhecimento. 6. O juiz deve assegurar o resultado prático do
direito reconhecido na sentença, determinando todas as providências legais que entender necessárias para
a satisfação do direito dos beneficiários da demanda, entre as quais, a de prever instrumentos para que os
interessados individuais tomem ciência da sentença e providenciem a execução do julgado. Precedentes.
7. Sob a égide do CPC/15, foi estabelecida a regra de que a publicação de editais pela rede mundial
de computadores é o meio mais eficaz da informação atingir um grande número de pessoas, devendo
prevalecer, por aplicação da razoabilidade e da proporcionalidade, sobre a onerosa publicação em jornais
impressos. (...)
STJ, REsp 1.821.688/RS, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 24/09/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: princípio da ampla publicidade das demandas coletivas; novas tecnologias e
o processo coletivo; primazia do cumprimento individual da sentença de procedência relativa a direitos
individuais homogêneos; prevalência dos editais eletrônicos em detrimento dos jornais impressos; maior
eficiência do processo coletivo.

4. Direitos individuais homogêneos


CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E
COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
ARTS. 127 E 129, III, DA CF. LESÃO A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA. COMPROMETIMENTO
DE INTERESSES SOCIAIS QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA LEGITIMIDADE ATIVA.
1. Os direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e sem titular determinado, sendo, por
isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em regime de substituição processual, por iniciativa dos
órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo, entre os quais o Ministério Público, que tem, nessa
legitimação ativa, uma de suas relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os direitos individuais
homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular determinado ou
determinável e em geral são de natureza disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa do
próprio titular, em regime processual comum, ou (b) pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em
regime de substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para tanto legitimados
pelo sistema normativo. 3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da Lei 8.078/90,
aplicável subsidiariamente aos direitos individuais homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses
direitos se dá em duas distintas fases: uma, a da ação coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença
genérica a respeito dos elementos que compõem o núcleo de homogeneidade dos direitos tutelados (an
debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido na primeira fase, a da ação

7 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

de cumprimento da sentença genérica, destinada (a) a complementar a atividade cognitiva mediante juízo
específico sobre as situações individuais de cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos
direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum debeatur), bem como (b) a efetivar os
correspondentes atos executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público, entre
outras, a incumbência de defender “interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre interesses
sociais e interesses de entidades públicas, já que em relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos
agentes ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer sinonímia entre interesse social e
interesse coletivo de particulares, ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos homogêneos. Direitos
individuais disponíveis, ainda que homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela pelo
Ministério Público (CF, art. 127). 5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando visualizados em
seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses puramente
particulares, passando a representar, mais que a soma de interesses dos respectivos titulares, verdadeiros
interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas atingindo
a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também comprometendo bens,
institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em
casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a
propositura da ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa
hipótese, todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada a obter
sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais homogêneos. 6. Cumpre ao
Ministério Público, no exercício de suas funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos
individuais homogêneos compromete também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior
controle jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada legitimação
para a causa, sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo
de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º). 7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro
obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74,
alterada pela Lei 8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09), há interesse social qualificado na tutela coletiva
dos direitos individuais homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma semelhante pela
Seguradora no pagamento das correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança com outros
direitos individuais homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis,
disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o Supremo Tribunal Federal considerou que sua
tutela se revestia de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério
Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE 163.231/
SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010 AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ).
STF, RE 631.111/GO, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, j. 07/08/2014.

ÿÿ Pontos de destaque: distinção entre direitos essencialmente coletivos e acidentalmente coletivos;


fases da tutela dos direitos individuais homogêneos: a) sentença genérica (núcleo de homogeneidade);

8 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

b) liquidação e cumprimento das sentenças individuais (margem de heterogeneidade); interesse social


qualificado na tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos dos titulares do seguro obrigatório DPVAT;
legitimidade do Ministério Público.

Métodos Consensuais de Resolução de Conflitos Coletivos

5. Termo de ajustamento de conduta


ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO
QUE NÃO ADMITE RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA A TODOS OS FUNDAMENTOS
DO DECISUM. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 182/STJ. RECURSO NÃO CONHECIDO. ANÁLISE DO MÉRITO DA
INSURGÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA.
HONORÁRIOS RECURSAIS. NÃO CABIMENTO.
(...) 4. Embora não tenha sido conhecido o agravo em recurso especial, incabível a condenação do recorrente
em honorários recursais, tal como prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015. Isso porque, de acordo com a
jurisprudência deste Sodalício, não há falar em pagamento de verba honorária sucumbencial nas ações
civis públicas ou, como no caso presente, em ação de embargos à execução de Termo de Ajustamento de
Conduta - TAC. 5. Agravo interno parcialmente provido.
STJ, AgInt no AREsp 1.488.730/SP, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA, j. 17/12/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: não cabimento de honorários nos embargos à execução opostos contra termo de
ajustamento de conduta; aplicação do regime de isenção da Lei de Ação Civil Pública.

6. Acordo coletivo por associação privada


ACORDO COLETIVO. PLANOS ECONÔMICOS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. VIABILIDADE. LEGITIMADOS
COLETIVOS PRIVADOS. NATUREZA DELIBATÓRIA DA HOMOLOGAÇÃO. REQUISITOS FORMAIS PRESENTES.
REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA. PUBLICIDADE AMPLA. AMICI CURIAE. PARECER FAVORÁVEL DO
PARQUET. SALVAGUARDAS PROCESSUAIS PRESENTES. PROCESSO COLETIVO COMO INSTRUMENTO DE
DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO DE SUSPENSÃO PROCESSUAL
NO ACORDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTINGENTES DEVIDOS. REGRAS RELATIVAS AO CONTRATO
DE MANDATO. INCENTIVOS FINANCEIROS PARA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE CIVIL NA TUTELA DE DIREITOS
COLETIVOS. JUSTA REMUNERAÇÃO DOS PATRONOS DE AÇÕES COLETIVAS. APRIMORAMENTO DO PROCESSO
COLETIVO BRASILEIRO. NÃO VINCULAÇÃO DA SUPREMA CORTE ÀS TESES JURÍDICAS VEICULADAS NO
ACORDO. INCIDENTE PROCESSUAL RESOLVIDO COM A HOMOLOGAÇÃO DA AVENÇA COLETIVA.
I – Homologação de Instrumento de Acordo Coletivo que prevê o pagamento das diferenças relativas aos
Planos Econômicos Bresser, Verão e Collor II, bem como a não ressarcibilidade de diferenças referentes ao
Plano Collor I. II – Viabilidade do acordo firmado por legitimados coletivos privados, em processo de índole

9 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

objetiva, dada a existência de notável conflito intersubjetivo subjacente e a necessidade de conferir-


se efetividade à prestação jurisdicional. III – Presença das formalidades extrínsecas e das salvaguardas
necessárias para a chancela do acordo, notadamente de representatividade adequada, publicidade ampla
dos atos processuais, admissão de amici curiae e complementação da atuação das partes pela fiscalização
do Ministério Público. IV – Decisão do Supremo Tribunal Federal que assume o caráter de marco histórico
na configuração do processo coletivo brasileiro, como forma de ampliação do acesso à Justiça, diante da
disseminação das lides repetitivas no cenário jurídico nacional atual e da possibilidade de solução por meio
de processos coletivos. V – Inocorrência de previsão de suspensão das ações durante o prazo de adesão dos
poupadores. VI – Divergências entre a parte e seu advogado quanto à adesão do acordo solucionam-se por
meio das regras relativas ao contrato de mandato. VII - Adoção de um sistema de honorários advocatícios
contingentes que é de suma importância para fortalecer a posição do autor coletivo e, consequentemente,
do próprio processo coletivo. VIII - Acordo que deve ser homologado tal como proposto, de maneira a
pacificar a controvérsia espelhada nestes autos, que há décadas se arrasta irresolvida nos distintos foros do
País, possibilitando-se aos interessados aderir ou não ao ajuste, conforme a conveniência de cada um. IX –
Decisão que não implica qualquer comprometimento desta Suprema Corte com as teses jurídicas veiculadas
na avença, especialmente aquelas que pretendam, explícita ou implicitamente, vincular terceiras pessoas ou
futuras decisões do Poder Judiciário.
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, j. 1/3/2018 (Info 892).

ÿÿ Pontos de destaque: possibilidade de associações privadas firmarem transação em sede de ações


coletivas; adoção de salvaguardas processuais para validade do acordo (representatividade adequada,
publicidade ampla dos atos processuais, admissão de amici curiae e fiscalização do Ministério Público).

Processo estrutural

7. Ação civil pública que visa impedir acolhimento institucional de menor por período acima do teto legal
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE MENOR POR PERÍODO
ACIMA DO TETO LEGAL. DANOS MORAIS. JULGAMENTO DE LIMINAR IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO REPETITIVA QUE NÃO FOI OBJETO DE PRECEDENTE VINCULANTE. EXISTÊNCIA DE
INÚMERAS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NO JUÍZO ACERCA DO TEMA. IRRELEVÂNCIA. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DO JULGAMENTO PREMATURO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE ENVOLVE LITÍGIO
DE NATUREZA ESTRUTURAL. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INCOMPATIBILIDADE, EM REGRA, COM
O JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO OU COM O JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO.
PROCESSO ESTRUTURAL. NATUREZA COMPLEXA, PLURIFATORIAL E POLICÊNTRICA. INSUSCETIBILIDADE DE
RESOLUÇÃO PELO PROCESSO CIVIL ADVERSARIAL E INDIVIDUAL. INDISPENSABILIDADE DA COLABORAÇÃO
E PARTICIPAÇÃO DO ESTADO E DA SOCIEDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO DE SOLUÇÕES PARA O LITÍGIO
ESTRUTURAL, MEDIANTE AMPLO CONTRADITÓRIO E CONTRIBUIÇÃO DE TODOS OS POTENCIAIS ATINGIDOS

10 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

E BENEFICIÁRIOS DA MEDIDA ESTRUTURANTE. NECESSIDADE DE PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL


DIFERENCIADA E ADERENTE ÀS ESPECIFICIDADES DO DIREITO MATERIAL VERTIDO NA CAUSA, AINDA QUE
INEXISTENTE, NO BRASIL, REGRAS PROCEDIMENTAIS ADEQUADAS PARA A RESOLUÇÃO DOS LITÍGIOS
ESTRUTURAIS. ANULAÇÃO DO PROCESSO DESDE A CITAÇÃO, COM DETERMINAÇÃO DE INSTRUÇÃO E
REJULGAMENTO DA CAUSA, PREJUDICADO O EXAME DAS DEMAIS QUESTÕES.
1- Ação ajuizada em 25/01/2016. Recurso especial interposto em 28/05/2018. Atribuído ao gabinete em
09/12/2019. 2- O propósito recursal é definir se, em ação civil pública que versa sobre acolhimento
institucional de menor por período acima daquele fixado em lei, é admissível o julgamento de improcedência
liminar ou o julgamento antecipado do pedido, especialmente quando, a despeito da repetitividade da
matéria, não há tese jurídica fixada em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de
assunção de competência. 3- Diferentemente do tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais
se admite, no novo CPC, o julgamento de improcedência liminar do pedido com base no entendimento
firmado pelo juízo em que tramita o processo sobre a questão repetitiva, exigindo-se, ao revés, que tenha
havido a prévia pacificação da questão jurídica controvertida no âmbito dos Tribunais, materializada em
determinadas espécies de precedentes vinculantes, a saber: súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre
direito local; tese firmada em recursos repetitivos, em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
em incidente de assunção de competência. 4- Por se tratar de regra que limita o pleno exercício de direitos
fundamentais de índole processual, em especial o contraditório e a ampla defesa, as hipóteses autorizadoras
do julgamento de improcedência liminar do pedido devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo
dar a elas amplitude maior do que aquela textualmente indicado pelo legislador no art. 332 do novo CPC.
5- De igual modo, para que possa o juiz resolver o mérito liminarmente e em favor do réu, ou até mesmo
para que haja o julgamento antecipado do mérito imediatamente após a citação do réu, é indispensável
que a causa não demande ampla dilação probatória, o que não se coaduna com a ação civil pública em que
se pretende discutir a ilegalidade de acolhimento institucional de menores por período acima do máximo
legal e os eventuais danos morais que do acolhimento por longo período possam decorrer, pois se tratam
de questões litigiosas de natureza estrutural. 6- Os litígios de natureza estrutural, de que é exemplo a
ação civil pública que versa sobre acolhimento institucional de menor por período acima do teto previsto
em lei, ordinariamente revelam conflitos de natureza complexa, plurifatorial e policêntrica, insuscetíveis
de solução adequada pelo processo civil clássico e tradicional, de índole essencialmente adversarial e
individual. 7- Para a adequada resolução dos litígios estruturais, é preciso que a decisão de mérito seja
construída em ambiente colaborativo e democrático, mediante a efetiva compreensão, participação e
consideração dos fatos, argumentos, possibilidades e limitações do Estado em relação aos anseios da
sociedade civil adequadamente representada no processo, por exemplo, pelos amici curiae e pela
Defensoria Pública na função de custos vulnerabilis, permitindo-se que processos judiciais dessa natureza,
que revelam as mais profundas mazelas sociais e as mais sombrias faces dos excluídos, sejam utilizados
para a construção de caminhos, pontes e soluções que tencionem a resolução definitiva do conflito

11 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

estrutural em sentido amplo. 8- Na hipótese, conquanto não haja, no Brasil, a cultura e o arcabouço jurídico
adequado para lidar corretamente com as ações que demandam providências estruturantes e concertadas,
não se pode negar a tutela jurisdicional minimamente adequada ao litígio de natureza estrutural, sendo
inviável, em regra, que conflitos dessa magnitude social, política, jurídica e cultural, sejam resolvidos de
modo liminar ou antecipado, sem exauriente instrução e sem participação coletiva, ao simples fundamento
de que o Estado não reuniria as condições necessárias para a implementação de políticas públicas e ações
destinadas a resolução, ou ao menos à minimização, dos danos decorrentes do acolhimento institucional de
menores por período superior àquele estipulado pelo ECA. (...)
STJ, REsp 1.854.842/CE, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 02/06/2020.

ÿÿ Pontos de destaque: ação civil pública que versa sobre acolhimento institucional de menores por
período superior ao fixado em lei; inadmissibilidade do julgamento de improcedência liminar do pedido;
litígio de natureza estrutural que revela natureza complexa, plurifatorial e policêntrica; decisão estruturante
que carece de construção em ambiente colaborativo, democrático e participativo; amici curiae e Defensoria
Pública na função de custos vulnerabilis.

8. Controle jurisdicional de políticas públicas e superpopulação carcerária


PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
SUPERPOPULAÇÃO CARCERÁRIA. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. PROCESSO ESTRUTURAL
(ESTRUTURANTE). SEPARAÇÃO DE PODERES. PERDA DE OBJETO. ASTREINTES. EXORBITÂNCIA. OMISSÃO.
INSURGÊNCIA CONTRA O QUE NÃO SE DECIDIU. SÚMULAS 7, 126 e 182 DO STJ. SÚMULA 284/STF.
(...) 3. A discussão acerca da Súmula 126/STJ (“É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido
assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”) não tem nenhuma utilidade, na medida
em que a agravante não indica de que modo a lei impediria ao Judiciário o controle das políticas públicas,
ademais em hipótese de ação coletiva com caráter de processo estrutural ou estruturante (...)
STJ, AgInt no REsp 1437344/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, j. 05/03/2020.

CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO


DE PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento de preceito
fundamental considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO
NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA – VIOLAÇÃO
MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALHAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL
– CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais,
decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas
abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional
ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS –

12 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à liberação
das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA.
Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia,
viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas,
contado do momento da prisão.
STF, ADPF 347 MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. 09/09/2015.

ÿÿ Pontos de destaque: reconhecimento de um litígio estrutural envolvendo o sistema carcerários


brasileiro; estado de coisas inconstitucional; violação massiva de direitos humanos; possibilidade de controle
jurisdicional de políticas públicas.

9. Controle jurisdicional de políticas públicas e reformas em hospital público


PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REFORMA E MELHORIAS
EM HOSPITAL PÚBLICO. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. IMPOSSIBILIDADE GENÉRICA.
DESCABIMENTO. PROCESSO ESTRUTURAL. PEDIDOS DIVERSOS E COMPLEXOS. POSSIBILIDADE. APRECIAÇÃO
DE VIOLAÇÕES LEGAIS ESPECÍFICAS. OMISSÃO. NULIDADE.
1. O controle judicial de políticas públicas é possível, em tese, ainda que em circunstâncias excepcionais.
Embora deva ser observada a primazia do administrador na sua consecução, a discricionariedade cede
às opções antecipadas pelo legislador, que vinculam o executor e autorizam a apreciação judicial de sua
implementação. 2. A existência de pedidos diversos e complexos não significa automática pretensão de
substituição do administrador. Ao contrário, pressupõe cuidado do autor diante de uma atuação estruturante,
que impõe também ao Judiciário a condução diferenciada do feito. 3. Nos processos estruturais, a pretensão
deve ser considerada como de alteração do estado de coisas ensejador da violação dos direitos, em vez de
se buscar solucionar pontualmente as infringências legais, cuja judicialização reiterada pode resultar em
intervenção até mais grave na discricionariedade administrativa que se pretenderia evitar ao prestigiar as
ações individuais. 4. No caso concreto, a consideração genérica de impossibilidade de intervenção judicial
nas falhas de prestação do serviço de saúde configura efetiva omissão da instância ordinária quanto às
disposições legais invocadas que, acaso mantida, pode inviabilizar o acesso das partes às instâncias superiores.
5. Recurso especial provido, para determinar o retorno do feito à origem para afastamento do vício.
(REsp 1733412/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/09/2019, DJe
20/09/2019)

ÿÿ Pontos de destaque: reconhecimento de um litígio estrutural envolvendo reforma e melhoria em hospital


psiquiátrico; possibilidade de controle jurisdicional de políticas públicas; pretensão voltada à alteração do
estado de coisas ensejador da violação dos direitos.

13 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

10. Competência, multiconflituosidade e eleição do foro adequado


PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS AFORADAS NO JUÍZO
ESTADUAL E NA JUSTIÇA FEDERAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG. ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE
FUNDÃO EM MARIANA/MG. FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL. DANOS SOCIOAMBIENTAIS. RIO DOCE.
BEM PÚBLICO PERTENCENTE À UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. FORO COMPETENTE. SITUAÇÃO
DE MULTICONFLITUOSIDADE. IMPACTOS REGIONAIS E NACIONAL. CONEXÃO ENTRE AS AÇÕES CIVIS
PÚBLICAS OBJETO DO CONFLITO E OUTRAS QUE TRAMITAM NA 12ª VARA FEDERAL DE BELO HORIZONTE/
MG. PREVENÇÃO. APLICAÇÃO DA REGRA ESTABELECIDA NA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
1. Conflito de competência suscitado pela empresa Samarco Mineração S.A. em decorrência da tramitação
de ações civis públicas aforadas na Justiça Estadual e na Justiça Federal de Governador Valadares/MG,
com o objetivo de determinar a distribuição de água mineral à população valadarense, em virtude da
poluição do Rio Doce ocasionada com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG. (...)
FORO COMPETENTE (BELO HORIZONTE). 9. A problemática trazida nos autos deve ser analisada à luz do
microssistema do processo coletivo, notadamente no que diz respeito à tutela de interesses difusos e
metaindividuais, decorrentes todos eles de um único evento, qual seja, o desastre ambiental consistente
no rompimento da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro de 2015, ocorrido na unidade industrial de
Germano, entre os distritos de Mariana e Ouro Preto (cerca de 100 km de Belo Horizonte). 10. Nos termos do
art. 2º da Lei 7.347/85, o legislador atrelou dois critérios fixadores ou determinativos de competência, sendo
o primeiro o local do fato - que conduz à chamada competência “relativa”, prorrogável, porque fundada
no critério território, estabelecida, geralmente, em função do interesse das partes; o outro - competência
funcional - que leva à competência “absoluta”, improrrogável e inderrogável, porque firmada em razões
de ordem pública, em que se prioriza a higidez do próprio processo. 11. A questão que se coloca como
premente na hipótese, decorrente da tutela dos interesses difusos, caracterizados pela indeterminação
dos sujeitos e indivisibilidade do objeto, é como se dará a fixação do foro competente quando o dano vai
além de uma circunscrição judiciária. Outra resposta não há, senão pela prevenção. 12. Muito embora o
conflito positivo de competência aqui erigido tenha se instaurado entre o Juízo estadual e o Juízo federal
de Governador Valadares, há outras questões mais amplas a serem consideradas para que se possa
definir, com a maior precisão possível, o foro federal em que devem ser julgadas as ações em comento.
(...) 17. Dessas circunstâncias, observa-se que a 12ª Vara Federal da Secção Judiciária de Minas Gerais
possui melhores condições de dirimir as controvérsias aqui postas, decorrentes do acidente ambiental
de Mariana, pois além de ser a Capital de um dos Estados mais atingidos pela tragédia, já tem sob sua
análise processos outros, visando não só a reparação ambiental stricto sensu, mas também a distribuição
de água à população dos Municípios atingidos, entre outras providências, o que lhe propiciará, diante de
uma visão macroscópica dos danos ocasionados pelo desastre ambiental do rompimento da barragem de
Fundão e do conjunto de imposições judiciais já direcionadas à empresa Samarco, tomar medidas dotadas
de mais efetividade, que não corram o risco de ser neutralizadas por outras decisões judiciais provenientes

14 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

de juízos distintos, além de contemplar o maior número de atingidos. EXCEÇÕES À REGRA GERAL. 18. Há
que se ressalvar, no entanto, as situações que envolvam aspectos estritamente humanos e econômicos da
tragédia (tais como o ressarcimento patrimonial e moral de vítimas e familiares, combate a abuso de preços
etc) ou mesmo abastecimento de água potável que exija soluções peculiares ou locais, as quais poderão ser
objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas cada qual no foro de residência dos autores ou do dano.
Nesses casos, devem ser levadas em conta as circunstâncias particulares e individualizadas, decorrentes do
acidente ambiental, sempre com base na garantia de acesso facilitado ao Poder Judiciário e da tutela mais
ampla e irrestrita possível. Em tais situações, o foro de Belo Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria
óbice à facilitação do acesso à justiça, marco fundante do microssistema da ação civil pública. 19. Saliento
que em outras ocasiões esta Corte de Justiça, valendo-se do microssistema do processo coletivo, aplicou a
regra específica de prevenção estabelecida na Lei de Ação Civil Pública para definir o foro em que deveriam
ser julgadas as ações coletivas. Precedentes. DISPOSITIVO. (...)
STJ, CC 144.922/MG, Rel. Min. DIVA MALERBI, j. 22/06/2016.

ÿÿ Pontos de destaque: conflito de competência envolvendo ações coletivas em caso de multiconflituosidade;


rompimento da barragem de Fundão (em Mariana/MG); escolha do foro competente a partir do Juízo com
melhores condições de dirimir as controvérsias decorrentes do acidente ambiental; visão macroscópica dos
danos ocasionados pelo desastre ambiental.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DIREITO AMBIENTAL. DESASTRE DE BRUMADINHO. ROMPIMENTO


DE BARRAGEM DA EMPRESA VALE DO RIO DOCE. AÇÃO POPULAR. LEI 4.717/1965. COMPETÊNCIA PARA
JULGAR A AÇÃO POPULAR QUANDO JÁ EM ANDAMENTO AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBJETO ASSEMELHADO.
DISTINGUISHING. TEMA AMBIENTAL. FORO DO LOCAL DO FATO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI DE AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. HISTÓRICO DA DEMANDA
(...) A JURISPRUDÊNCIA DO STJ À LUZ DAS CIRCUNSTÂNCIAS PECULIARES DO CASO CONCRETO 3. Não se
desconhece a jurisprudência do STJ favorável a que, sendo igualmente competentes o juízo do domicílio
do autor popular e o do local onde houver ocorrido o dano (local do fato), a competência para examinar o
feito é daquele em que menor dificuldade haja para o exercício da Ação Popular. A propósito: CC 47.950/DF,
Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Seção, DJ 7/5/2007, p. 252; CC 107.109/RJ, Rel. Ministro Castro Meira,
Primeira Seção, DJe 18/3/2010. 4. Malgrado isso, as circunstâncias do caso concreto devem ser analisadas de
forma que se ajuste o Direito à realidade. Para tanto, mister recordar os percalços que envolveram a definição
da competência jurisdicional no desastre de Mariana/MG, o que levou o STJ a eleger um único juízo para
todas as ações, de maneira a evitar decisões conflitantes e possibilitar que a Justiça se realize de maneira mais
objetiva, célere e harmônica. 5. A hipótese dos autos apresenta inegáveis peculiaridades que a distinguem
dos casos anteriormente enfrentados pelo STJ, o que impõe adoção de solução mais consentânea com a
imprescindibilidade de se evitar tumulto processual em demanda de tamanha magnitude social, econômica
e ambiental. Assim, necessário superar, excepcionalmente, a regra geral contida nos precedentes invocados,

15 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

nos moldes do que dispõe o art. 489, § 1º, VI, do CPC/2015. De fato, a tragédia ocorrida em Brumadinho/
MG invoca solução prática diversa, a fim de entregar, da melhor forma possível, a prestação jurisdicional
à população atingida. Impõe-se, pois, ao STJ adotar saída pragmática que viabilize resposta do Poder
Judiciário aos que sofrem os efeitos da inominável tragédia. DISTINGUISHING: AÇÃO POPULAR ISOLADA
E AÇÃO POPULAR EM COMPETIÇÃO COM AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBJETO ASSEMELHADO 6. A solução
encontrada é de distinguishing à luz de peculiaridades do caso concreto e não de revogação universal do
entendimento do STJ sobre a competência para a ação popular, precedentes que devem ser mantidos, já que
lastreados em sólidos e atuais fundamentos legais e justificáveis argumentos políticos, éticos e processuais.
9. Assim, a regra geral do STJ não será aplicada aqui, porque deve ser usada quando a Ação Popular for
isolada. Contudo, na atual hipótese, tem-se que a Ação Popular estará competindo e concorrendo com
várias outras Ações Populares e Ações Civis Públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações
individuais, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do
fato. (...) COMPETÊNCIA DO LOCAL DO FATO 12. Na presente hipótese, é mais razoável determinar que o foro
competente para julgamento desta Ação Popular seja o do local do fato. Logo, como medida para assegurar
a efetividade da prestação jurisdicional e a defesa do meio ambiente, entende-se que a competência para
processamento e julgamento do presente feito é da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas
Gerais. CONCLUSÃO 13. Conflito de Competência conhecido para declarar competente o Juízo suscitante.
STJ, CC 164.362/MG, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, j. 12/06/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: conflito de competência envolvendo ações coletivas em caso de multiconflituosidade;


rompimento da barragem da empresa Vale do Rio Doce; desastre de Brumadinho; ação popular concorrendo
com várias outras ações populares e ações civis públicas; eleição do foro mais adequado à defesa do meio
ambiente; afastamento do foro do local do domicílio do autor da ação popular.

11. Conexão e suspensão de ações individuais


RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. AÇÃO INDIVIDUAL DE INDENIZAÇÃO POR
SUPOSTO DANO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE ADRIANÓPOLIS. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS. TUTELA DOS
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. EVENTO FACTUAL GERADOR COMUM. PRETENSÕES INDENIZATÓRIAS
MASSIFICADAS. EFEITOS DA COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO À REPARAÇÃO DOS DANOS
INDIVIDUAIS E AO AJUIZAMENTO DE AÇÕES INDIVIDUAIS. CONVENIÊNCIA DA SUSPENSÃO DOS FEITOS
INDIVIDUAIS. EXISTÊNCIA.
1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), é a seguinte: Até
o trânsito em julgado das Ações Civis Públicas n. 5004891-93. 2011.4004.7000 e n. 2001.70.00.019188-2,
em tramitação na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de Curitiba, atinentes à macrolide geradora
de processos multitudinários em razão de suposta exposição à contaminação ambiental decorrente
da exploração de jazida de chumbo no Município de Adrianópolis-PR, deverão ficar suspensas as ações

16 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

individuais. 2. No caso concreto, recurso especial não provido.


STJ, REsp 1.525.327/PR, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, j. 12/12/2018.

ÿÿ Pontos de destaque: reafirmação da possibilidade de suspensão das ações individuais multitudinárias


diante do ajuizamento de ação coletiva; menção à Justiça Multiportas e a tutela adequada em litígios
complexos, a qual propicia a chamada mending justice (justiça capaz de remendar o tecido social), focada
na pacificação e na continuidade de convivência dos envolvidos.

Precedentes anteriores:
• STJ, AgRg nos EAREsp n. 693.242/PR, Rel. Min. LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, j. 16/12/2015.
• STJ, REsp 1.353.801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 14/8/2013.
• STJ, REsp 1.110.549-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 28/10/2009.

Entes legitimados

12. Ministério Público


CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PRETENSÃO DESTINADA À TUTELA DE DIREITOS INDIVIDUAIS DE ELEVADA CONOTAÇÃO SOCIAL. ADOÇÃO DE
REGIME UNIFICADO OU UNIFICAÇÃO DE CONTAS DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS).
MINISTÉRIO PÚBLICO. PARTE ATIVA LEGÍTIMA. DEFESA DE INTERESSES SOCIAIS QUALIFICADOS. ARTS. 127 E
129, III, DA CF. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.
1. No julgamento do RE 631.111 (Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, DJe de 30/10/2014), sob o regime da repercussão
geral, o PLENÁRIO firmou entendimento no sentido de que certos interesses individuais, quando aferidos
em seu conjunto, de modo coletivo e impessoal, têm o condão de transcender a esfera de interesses
estritamente particulares, convolando-se em verdadeiros interesses da comunidade, emergindo daí a
legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública, com amparo no art. 127 da Constituição
Federal, o que não obsta o Poder Judiciário de sindicar e decidir acerca da adequada legitimação para a
causa, inclusive de ofício. 2. No RE 576.155 (Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 1º/2/2011), também
submetido ao rito da repercussão geral, o PLENÁRIO cuidou da questão envolvendo a vedação constante
do parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/1985, incluído pela MP 2.180-35/2001, oportunidade em que
se reconheceu a legitimidade do Ministério Público para dispor da ação civil pública com o fito de anular
acordo de natureza tributária firmado entre empresa e o Distrito Federal, pois evidente a defesa ministerial
em prol do patrimônio público. 3. A demanda intenta o resguardo de direitos individuais homogêneos cuja
amplitude possua expressiva envergadura social, sendo inafastável a legitimidade do Ministério Público
para ajuizar a correspondente ação civil pública. 4. É o que ocorre com as pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos
de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados (parágrafo único

17 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

do art. 1º da Lei 7.347/1985). 5. Na hipótese, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pautado na premissa
de que o direito em questão guarda forte conotação social, concluiu que o Ministério Público Federal detém
legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em face da Caixa Econômica Federal, uma vez que se litiga
sobre o modelo organizacional dispensado ao FGTS, máxime no que se refere à unificação das contas
fundiárias dos trabalhadores. 6. Recurso Extraordinário a que nega provimento. Tese de repercussão geral
proposta: o Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de
direitos sociais relacionados ao FGTS.
STF, RE 643.978, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, j. 09/10/2019.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SOB A SISTEMÁTICA DOS REPETITIVOS.


DEMANDAS DE SAÚDE COM BENEFICIÁRIOS INDIVIDUALIZADOS INTERPOSTAS CONTRA ENTES FEDERATIVOS.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SUPOSTA AFRONTA AOS DISPOSITIVOS DOS ARTS.
1º, V, E 21 DA LEI N. 7.347/1985, BEM COMO AO ART. 6º DO CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO À SAÚDE.
DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 1º DA LEI N. 8.625/1993 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO). APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. RECURSO JULGADO SOB A
SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015, C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO
INTERNO DO STJ.
(...)3. A fronteira para se discernir a legitimidade do órgão ministerial diz respeito à disponibilidade, ou
não, dos direitos individuais vindicados. É que, tratando-se de direitos individuais disponíveis e uma vez
não havendo uma lei específica autorizando, de forma excepcional, a atuação do Ministério Público (como
no caso da Lei n. 8.560/1992), não se pode falar em legitimidade de sua atuação. Todavia, se se tratar de
direitos ou interesses indisponíveis, a legitimidade ministerial já decorreria da redação do próprio art. 1º
da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). 4. Com efeito, a disciplina do direito à
saúde encontra na jurisprudência pátria a correspondência com o próprio direito à vida, de forma que
a característica da indisponibilidade do direito já decorreria dessa premissa firmada. 5. Assim, inexiste
violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973, uma
vez que a atuação do Ministério Público, em demandas de saúde, assim como nas relativas à dignidade
da pessoa humana, tem assento na indisponibilidade do direito individual, com fundamento no art. 1º
da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). 6. Tese jurídica firmada: O Ministério
Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas demandas de
saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). (...)
STJ, REsp 1.682.836/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, j. 25/04/2018.

O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

18 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

STJ, Súmula 601, CORTE ESPECIAL, j. 07/02/2018

LEGITIMIDADE – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO DE REMÉDIOS – MINISTÉRIO PÚBLICO – O Ministério


Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública com objetivo de compelir entes federados a
entregarem medicamentos a portadores de certa doença.
STF, RE 605.533, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. 15/08/2018.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade do Ministério Público para tutela de direitos individuais homogêneos;
pretensões envolvendo direitos sociais relacionados ao FGTS; pretensões envolvendo direitos individuais
indisponíveis nas demandas de saúde para tratamento médico ou entrega de medicamentos contra os entes
federativos; pretensões envolvendo consumidores e a prestação do serviço público.

13. Defensoria Pública


PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TUTELA DO
CONSUMIDOR IDOSO. GRATUIDADE NO TRANSPORTE PÚBLICO. DIREITO À INFORMAÇÃO. INEXISTÊNCIA
DE OFENSA AO ART. 535, II DO CPC/1973. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA PROPOR
AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM FAVOR DA POPULAÇÃO IDOSA. ACÓRDÃO PARADIGMA: ERESP 1.192.577/RS,
REL. MIN. LAURITA VAZ, DJE 13.11.2015. ALEGADA AUSÊNCIA DE DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
DA CONCESSIONÁRIA. INVERSÃO DO JULGADO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. DEVER DE INFORMAÇÃO FIXADO COM BASE EM LEI ESTADUAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
280/STF. AGRAVO INTERNO DA CONCESSIONÁRIA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(...) 4. A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para mover Ação Civil Pública em favor da população
idosa, que se enquadra na categoria de hipervulnerável, mormente diante da hipossuficiência financeira
constatada pela Corte de origem. Acórdão paradigma: EREsp. 1.192.577/RS, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJe
13.11.2015. 5. Tal conclusão encontra fundamento, também, no diálogo das fontes entre o art. 81 da Lei
10.741/2003 (o Estatuto do Idoso) e o art. 5o., II da Lei 7.347/1985, na formação de um microssistema de
tutela coletiva em proteção da população idosa. (...)
STJ, AgInt no AREsp 1.220.572/SP, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 18/03/2019.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO
CPC/1973. INEXISTÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA. INTERESSES DE CONSUMIDORES
COM RELEVÂNCIA E REPERCUSSÃO SOCIAL. SÚMULA 83 DO STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO. COBRANÇA DA TARIFA DE EMISSÃO DE BOLETO BANCÁRIO OU CARNÊ. RECURSO ESPECIAL
REPETITIVO Nº 1.251.331/RS. ABUSIVIDADE. AFERIÇÃO EM CADA CASO CONCRETO. AGRAVO INTERNO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) 2. “A Defensoria Pública possui legitimidade ativa ad causam para propor ação civil pública em
nome próprio com o objetivo de defender interesses difusos, coletivos em sentido estrito e individuais

19 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

homogêneos de consumidores lesados em razão de relações firmadas com as instituições financeiras.


Precedentes. STJ e STF” (AgRg no REsp 1.572.699/MT, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
17/05/2016, DJe 24/05/2016). 3. Em caso de direito individual homogêneo, é bastante para o manejo de
ação civil pública a constatação da relevância social do interesse em jogo. Precedentes. (...) 6. Na espécie,
considerando que se trata de ação coletiva com discussão, em caráter genérico, da taxa de emissão de
boleto, é válida a cobrança da referida tarifa nos contratos anteriores a 30.4.2008, desde que previamente
pactuada e especificada no contrato celebrado com cada consumidor, ressalvado o exame de abusividade no
caso concreto, a ser verificada em ação de cumprimento individual de sentença.
STJ, AgInt no AREsp 282.741/RS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, j. 17/12/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa da Defensoria Pública; defesa de necessitados e promoção dos
direitos humanos que não se resume aos carentes de recursos econômicos; tutela da população idosa
(hipervulneráveis); tutela de consumidores lesados em razão de relações firmadas com as instituições
financeiras.

Precedentes anteriores:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR


AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC. II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007).
TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E DIFUSOS) E INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. DEFENSORIA PÚBLICA: INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À
JUSTIÇA. NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS GARANTIDORES DA FORÇA
NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS.
XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE NORMA DE EXCLUSIVIDAD DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL
DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO
JULGADA IMPROCEDENTE.
STF, ADI 3943, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, j. 07/05/2015.

Direito Processual Civil e Constitucional. Ação civil pública. Legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar
ação civil pública em defesa de interesses difusos. Interpretação do art. 134 da Constituição Federal. Discussão
acerca da constitucionalidade do art. 5º, inciso II, da Lei nº 7.347/1985, com a redação dada pela Lei nº
11.448/07, e do art. 4º, incisos VII e VIII, da Lei Complementar nº 80/1994, com as modificações instituídas
pela Lei Complementar nº 132/09. Repercussão geral reconhecida. Mantida a decisão objurgada, visto que
comprovados os requisitos exigidos para a caracterização da legitimidade ativa. Negado provimento ao
recurso extraordinário. Assentada a tese de que a Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura
de ação civil pública que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam
titulares, em tese, pessoas necessitadas.

20 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

STF, RE 733.433, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, j. 04/11/2015.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL NOS EMBARGOS INFRINGENTES. PROCESSUAL


CIVIL. LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM
FAVOR DE IDOSOS. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM RAZÃO DA IDADE TIDO POR ABUSIVO. TUTELA DE
INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DEFESA DE NECESSITADOS, NÃO SÓ OS CARENTES DE RECURSOS
ECONÔMICOS, MAS TAMBÉM OS HIPOSSUFICIENTES JURÍDICOS. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS.
(...) 2. A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a defesa dos
necessitados econômicos, entretanto, também exerce suas atividades em auxílio a necessitados jurídicos,
não necessariamente carentes de recursos econômicos, como é o caso, por exemplo, quando exerce a
função do curador especial, previsto no art. 9.º, inciso II, do Código de Processo Civil, e do defensor dativo no
processo penal, conforme consta no art. 265 do Código de Processo Penal. 3. No caso, o direito fundamental
tutelado está entre os mais importantes, qual seja, o direito à saúde. Ademais, o grupo de consumidores
potencialmente lesado é formado por idosos, cuja condição de vulnerabilidade já é reconhecida na própria
Constituição Federal, que dispõe no seu art. 230, sob o Capítulo VII do Título VIII (“Da Família, da Criança, do
Adolescente, do Jovem e do Idoso”): “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida.” 4. “A expressão ‘necessitados’ (art. 134, caput, da Constituição), que qualifica, orienta
e enobrece a atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em sentido
amplo, de modo a incluir, ao lado dos estritamente carentes de recursos financeiros - os miseráveis e pobres -,
os hipervulneráveis (isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os idosos, as gerações
futuras), enfim todos aqueles que, como indivíduo ou classe, por conta de sua real debilidade perante
abusos ou arbítrio dos detentores de poder econômico ou político, ‘necessitem’ da mão benevolente e
solidarista do Estado para sua proteção, mesmo que contra o próprio Estado. Vê-se, então, que a partir da
ideia tradicional da instituição forma-se, no Welfare State, um novo e mais abrangente círculo de sujeitos
salvaguardados processualmente, isto é, adota-se uma compreensão de minus habentes impregnada de
significado social, organizacional e de dignificação da pessoa humana” (REsp 1.264.116/RS, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe 13/04/2012).
STJ, EREsp 1.192.577/RS, Rel. Min. LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, j. 21/10/2015.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. MUTUÁRIOS. SISTEMA FINANCEIRO HABITACIONAL.
PERTINÊNCIA SUBJETIVA. NECESSITADOS. SENTIDO AMPLO. PERSPECTIVA ECONÔMICA E ORGANIZACIONAL.
1.Cinge-se a controvérsia a saber se a Defensoria Pública da União detém legitimidade para propor ação civil
pública em defesa de direitos individuais homogêneos, a exemplo dos mutuários do SFH. 2. A Defensoria
Pública é um órgão voltado não somente à orientação jurídica dos necessitados, mas também à proteção
do regime democrático e à promoção dos direitos humanos e dos direitos individuais e coletivos.

21 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

3. A pertinência subjetiva da Defensoria Pública para intentar ação civil pública na defesa de interesses
transindividuais está atrelada à interpretação do que consiste a expressão “necessitados” (art. 134 da CF)
por “insuficiência de recursos” (art. 5º, LXXXIV, da CF). 4. Deve ser conferido ao termo “necessitados” uma
interpretação ampla no campo da ação civil pública para fins de atuação inicial da Defensoria Pública, de
modo a incluir, para além do necessitado econômico (em sentido estrito), o necessitado organizacional, ou
seja, o indivíduo ou grupo em situação especial de vulnerabilidade existencial. 5. O juízo prévio acerca da
coletividade de pessoas necessitadas deve ser feito de forma abstrata, em tese, bastando que possa haver,
para a extensão subjetiva da legitimidade, o favorecimento de grupo de indivíduos pertencentes à classe
dos hipossuficientes, mesmo que, de forma indireta e eventual, venha a alcançar outros economicamente
mais favorecidos. 6. A liquidação e a execução da sentença proferida nas ações civis públicas movidas pela
Defensoria Pública somente poderá ser feita aos que comprovarem insuficiência de recursos, pois, nessa
fase, a tutela de cada membro da coletividade ocorre de maneira individualizada. 7. Recurso especial provido.
STJ, REsp 1.449.416/SC. Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. 29/03/2016.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa ampla da Defensoria Pública; alcance de direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos; não adstrição à hipossuficiência econômica.

14. Municípios
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCÁRIO.
COBRANÇA DE TARIFA DE RENOVAÇÃO DE CADASTRO. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
LEGITIMIDADE ATIVA. MUNICÍPIO. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. REPRESENTAÇÃO ADEQUADA.
1. O propósito do presente recurso especial é determinar se o Município de Brusque tem legitimidade ad
causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas, questionando a cobrança de
tarifas bancárias de “renovação de cadastro”. (...) 7. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem recusou
legitimidade ao ente político em virtude de ter considerado que o Município estaria defendendo unicamente
os direitos do grupo de servidores públicos, por entender que a proteção de direitos individuais homogêneos
não estaria incluída em sua função constitucional e por não vislumbrar sua representatividade adequada ou
pertinência temática. 8. Ainda que tenha sido mencionada como causa de pedir e pedido a cobrança da
tarifa de “renovação de cadastro” de servidores municipais, é certo que o direito vindicado possui dimensão
que extrapola a esfera de interesses puramente particulares dos citados servidores, o que é suficiente para
o reconhecimento da legitimidade do ente político para essa primeira fase da tutela coletiva de interesses
individuais homogêneos. 9. Recurso especial conhecido e provido.
STJ, REsp 1.509.586/SC, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 15/05/2018.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa do ente municipal; tutela de direitos individuais homogêneos de
servidores públicos munícipes.

22 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

15. Associações
Legitimidade para ajuizamento de ações coletivas

REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE.


O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando
previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado
em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a
autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial.
Tese fixada (tema 82): I – A previsão estatutária genérica não é suficiente para legitimar a atuação, em
Juízo, de associações na defesa de direitos dos filiados, sendo indispensável autorização expressa, ainda
que deliberada em assembleia, nos termos do artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal; II – As balizas
subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, são definidas pela representação
no processo de conhecimento, limitada a execução aos associados apontados na inicial.
STF, RE 573.232, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, j. 14/05/2014.

EXECUÇÃO – AÇÃO COLETIVA – RITO ORDINÁRIO – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. Beneficiários do título


executivo, no caso de ação proposta por associação, são aqueles que, residentes na área compreendida na
jurisdição do órgão julgador, detinham, antes do ajuizamento, a condição de filiados e constaram da lista
apresentada com a peça inicial.
Tese fixada (Tema 499): A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito
ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados,
residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data
da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento.
STF, RE 612.043, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. 10/05/2017.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa das associações para ações coletivas depende de autorização
expressa dos associados; eficácia subjetiva da coisa julgada formada para alcançar somente os filiados
residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, até a data da propositura da demanda; execução só
pode beneficiar os associados apontados na inicial.

16. Representatividade adequada


RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ASSOCIAÇÃO DEMANDANTE QUE TEM POR OBJETO A PROTEÇÃO
DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR. AÇÃO QUE TEM POR OBJETO A CONDENAÇÃO DAS DEMANDAS
(SEGURADORAS) A INDENIZAR AS VÍTIMAS DE DANOS PESSOAIS OCORRIDOS COM VEÍCULOS AUTOMOTORES,
BENEFICIÁRIAS DO DPVAT, NOS MONTANTES FIXADOS PELO ART. 3º DA LEI N. 6.194/1974. AUSÊNCIA DE
PERTINÊNCIA TEMÁTICA. RECONHECIMENTO. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM JULGAMENTO DE MÉRITO,

23 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ANTE A AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DA ASSOCIAÇÃO AUTORA. NECESSIDADE. RECURSO


ESPECIAL PROVIDO.
1. O seguro DPVAT não tem por lastro uma relação jurídica contratual estabelecida entre o proprietário do
veículo e as seguradoras que compõem o correlato consórcio. Trata-se, pois, de um seguro obrigatório por
força de lei, que tem por escopo contemporizar os danos advindos da circulação de veículos automotores -
cujos riscos são naturalmente admitidos pela sociedade moderna -, que impactam sobremaneira, econômica
e socialmente, as pessoas envolvidas no acidente e, reflexamente, ao Estado e à sociedade como um todo,
a quem incumbe financiar a Seguridade Social. A partir de sua finalidade precípua, já se pode antever,
com segurança, que o funcionamento hígido do sistema de seguro DPVAT consubstancia interesse que,
claramente, transcende ao do beneficiário, sendo, em verdade, de titularidade de toda a sociedade,
considerada como um todo. 2. Em se tratando de uma obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte,
qualquer acordo de vontades e, principalmente, voluntariedade, entre o proprietário do veículo (a quem
compete, providenciar o pagamento do “prêmio”) e as seguradoras componentes do consórcio seguro
DPVAT (que devem efetivar o pagamento da indenização mínima pelos danos pessoais causados à vítima do
acidente automobilístico), o que, por si, evidencia, de contrato, não se cuidar. Cuida-se, a toda evidência, de
hipótese de responsabilidade legal objetiva, vinculada à teoria do risco, afigurando-se de todo desinfluente
a demonstração, por parte do beneficiário (vítima do acidente automobilístico), de culpa do causador
do acidente. 3. Diversamente do que se dá no âmbito da contratação de seguro facultativo (esta sim, de
inequívoca incidência da legislação protetiva do consumidor), a atuação das seguradoras integrantes do
consórcio do seguro DPVAT, adstrita à lei de regência, não é concorrencial, tampouco destinada à obtenção
de lucro, na medida em que a respectiva arrecadação possui destinação legal específica. 4. Tampouco seria
possível falar-se em vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e
muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do “prêmio” do seguro DPVAT -
perante a seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para efetivação do pagamento
da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos estabelecidos na lei. Aliás, a Lei n. 6.194/74,
em atendimento a sua finalidade social, é absolutamente protetiva à vítima do acidente, afigurando-se de
todo impróprio invocar, para tal escopo, também o CDC, quando ausente relação de consumo. 5. Ausente,
sequer tangencialmente, relação de consumo, não se afigura correto atribuir a uma associação, com fins
específicos de proteção ao consumidor, legitimidade para tutelar interesses diversos, como é o caso dos
que se referem ao seguro DPVAT, sob pena de desvirtuar a exigência da representatividade adequada,
própria das ações coletivas. A ausência de pertinência temática é manifesta. Em se tratando do próprio
objeto da lide, afinal, como visto, a causa de pedir encontra-se fundamentalmente lastreada na proteção do
consumidor, cuja legislação não disciplina a relação jurídica subjacente, afigura-se absolutamente infrutífera
qualquer discussão quanto à possibilidade de prosseguimento da presente ação por outros entes legitimados.
STJ, REsp 1.091.756/MG, Rel. Min. MARCO BUZZI, j. 13/12/2017.

ÿÿ Pontos de destaque: ausência de representatividade adequada; associação constituída em defesa do

24 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

consumidor e tutela de beneficiários do seguro DPVAT.

17. Despesas processuais


PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DECORRENTE DE AÇÃO COLETIVA CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA. IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA INFRACONSTITUCIONAL.
MUDANÇA NO ORDENAMENTO JURÍDICO. INOCORRÊNCIA. SÚMULA 345 DO STJ. INCIDÊNCIA.
(...) 2. Sob a égide do CPC/1973, esta Corte de Justiça pacificou a orientação de que são devidos honorários
advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas,
ainda que não embargadas (Súmula 345), afastando, portanto, a aplicação do art. 1º-D da Lei n. 9.494/1997.
3. A exegese do art. 85, § 7º, do CPC/2015, se feita sem se ponderar o contexto que ensejou a instauração
do procedimento de cumprimento de sentença, gerará as mesmas distorções então ocasionadas pela
interpretação literal do art. 1º-D da Lei n. 9.494/1997 e que somente vieram a ser corrigidas com a edição
da Súmula 345 do STJ. 4. A interpretação que deve ser dada ao referido dispositivo é a de que, nos casos
de cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública em que a relação jurídica existente entre as partes
esteja concluída desde a ação ordinária, não caberá a condenação em honorários advocatícios se não houver
a apresentação de impugnação, uma vez que o cumprimento de sentença é decorrência lógica do mesmo
processo cognitivo. 5. O procedimento de cumprimento individual de sentença coletiva, ainda que ajuizado
em litisconsórcio, quando almeja a satisfação de direito reconhecido em sentença condenatória genérica
proferida em ação coletiva, não pode receber o mesmo tratamento pertinente a um procedimento de
cumprimento comum, uma vez que traz consigo a discussão de nova relação jurídica, e a existência e
a liquidez do direito dela decorrente serão objeto de juízo de valor a ser proferido como pressuposto
para a satisfação do direito vindicado. 6. Hipótese em que o procedimento de cumprimento de sentença
pressupõe cognição exauriente - a despeito do nome a ele dado, que induz à indevida compreensão de se
estar diante de mera fase de execução -, sendo indispensável a contratação de advogado, uma vez que é
necessária a identificação da titularidade do exequente em relação ao direito pleiteado, promovendo-se a
liquidação do valor a ser pago e a individualização do crédito, o que torna induvidoso o conteúdo cognitivo
dessa execução específica. 7. Não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do
CPC/2015 reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da Lei n. 9.494/1997, em relação ao
qual o entendimento desta Corte, já consagrado, é no sentido de afastar a aplicação do aludido comando
nas execuções individuais, ainda que promovidas em litisconsórcio, do julgado proferido em sede de ação
coletiva lato sensu, ação civil pública ou ação de classe. 8. Para o fim preconizado no art. 1.039 do CPC/2015,
firma-se a seguinte tese: “O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado
na Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos individuais
de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio.” 9. Recurso especial desprovido, com majoração da verba honorária.
STJ, REsp 1.648.238/RS, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, CORTE ESPECIAL, j. 20/06/2018.

25 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ÿÿ Pontos de destaque: aplicação da Súmula 345 do STJ; especialidade do cumprimento de sentença


decorrente de ação coletiva; afastamento do art. 85, § 7º, do CPC/2015.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DISSENSO


CONFIGURADO ENTRE O ARESTO EMBARGADO E ARESTO PARADIGMA ORIUNDO DA QUARTA TURMA.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA INTENTADA PELA UNIÃO. CONDENAÇÃO DA PARTE REQUERIDA EM HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. DESCABIMENTO. ART. 18 DA LEI N. 7.347/1985. PRINCÍPIO DA
SIMETRIA. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Trata-se de recurso interposto em ação civil pública, de que é autora a União, no qual pleiteia a condenação
da parte requerida em honorários advocatícios, sob o fundamento de que a regra do art. 18 da Lei n.
7.347/1985 apenas beneficia o autor, salvo quando comprovada má-fé. 2. O acórdão embargado aplicou o
princípio da simetria, para reconhecer que o benefício do art. 18 da Lei n. 7.347/1985 se aplica, igualmente,
à parte requerida, visto que não ocorreu má-fé. Assim, o dissenso para conhecimento dos embargos de
divergência ocorre pelo confronto entre o aresto embargado e um julgado recente da eg. Quarta Turma,
proferido nos EDcl no REsp 748.242/RJ, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em
12/4/2016, DJe 25/4/2016. 3. Com efeito, o entendimento exposto pelas Turmas, que compõem a Primeira
Seção desta Corte, é no sentido de que, “em favor da simetria, a previsão do art. 18 da Lei 7.347/1985 deve ser
interpretada também em favor do requerido em ação civil pública. Assim, a impossibilidade de condenação
do Ministério Público ou da União em honorários advocatícios - salvo comprovada má-fé - impede serem
beneficiados quando vencedores na ação civil pública”. (...) 5. Dessa forma, deve-se privilegiar, no âmbito
desta Corte Especial, o entendimento dos órgãos fracionários deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido
de que, em razão da simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em
ação civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora, por força da
aplicação do art. 18 da Lei n. 7.347/1985. 6. Embargos de divergência a que se nega provimento.
STJ, EAREsp 962.250/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, CORTE ESPECIAL, j. 15/08/2018.

ÿÿ Pontos de destaque: princípio da simetria; impossibilidade de condenação da parte requerida em custas


e honorários advocatícios, salvo comprovada má-fé.

18. Honorários advocatícios


RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO. EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. CUMPRIMENTO INDIVIDUAL DE SENTENÇA COLETIVA. EFICÁCIA DA COISA JULGADA.
LIMITES GEOGRÁFICOS. VALIDADE. TERRITÓRIO NACIONAL. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. CITAÇÃO.
AÇÃO COLETIVA DE CONHECIMENTO. LIQUIDEZ DA OBRIGAÇÃO. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. CONDIÇÃO
DE BENEFICIÁRIO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. QUANTUM DEBEATUR. MEROS CÁLCULOS ARITMÉTICOS.
LIQUIDAÇÃO. DISPENSABILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. RELAÇÕES
PROCESSUAIS DISTINTAS. CABIMENTO. AGRAVO INTERNO. NECESSIDADE DE JULGAMENTO COLEGIADO.

26 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE CARÁTER PROTELATÓRIO OU MANIFESTA


IMPROCEDÊNCIA. MULTA. SANÇÃO PROCESSUAL AFASTADA.
(...) 12. Como o processo coletivo se desdobra em duas fases, uma promovendo o acertamento do núcleo
homogêneo do direito coletivo e a outra conduzindo a satisfação individual do direito, devem ser fixados
honorários advocatícios no cumprimento individual da sentença coletiva. Precedentes. (...)
STJ, REsp 1.798.280/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 28/04/2020.

ÿÿ Pontos de destaque: possibilidade de fixação de honorários advocatícios no cumprimento individual da


sentença coletiva; distinção entre a fase de condenação genérica e a fase de individualização do crédito.

19. Coisa julgada


PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EFEITOS DA SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO COLETIVA. ART.
2º-A DA LEI 9.494/97. INCIDÊNCIA DAS NORMAS DE TUTELA COLETIVA PREVISTAS NO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR (LEI 8.078/90), NA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85) E NA LEI DO MANDADO
DE SEGURANÇA (LEI 12.016/2009). INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA. LIMITAÇÃO DOS EFEITOS DA COISA
JULGADA AO TERRITÓRIO SOB JURISDIÇÃO DO ÓRGÃO PROLATOR DA SENTENÇA. IMPROPRIEDADE.
OBSERVÂNCIA AO ENTENDIMENTO FIRMADO PELA CORTE ESPECIAL NO JULGAMENTO DO RESP. 1.243.887/
PR, REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA, E PELO STF QUANTO AO ALCANCE DOS EFEITOS DA COISA JULGADA
NA TUTELA DE DIREITOS COLETIVOS.
1. Na hipótese dos autos, a quaestio iuris diz respeito ao alcance e aos efeitos de sentença deferitória de
pretensão agitada em Ação coletiva pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas
Federais de Geografia e Estatística. A controvérsia circunscreve-se, portanto, à subsunção da matéria ao
texto legal inserto no art. 2º-A da Lei 9.494/1997, que dispõe sobre os efeitos de sentença proferida em ação
coletiva. 2. A res iudicata nas ações coletivas é ampla, em razão mesmo da existência da multiplicidade de
indivíduos concretamente lesados de forma difusa e indivisível, não havendo que confundir competência
do juiz que profere a sentença com o alcance e os efeitos decorrentes da coisa julgada coletiva. 3. Limitar
os efeitos da coisa julgada coletiva seria um mitigar exdrúxulo da efetividade de decisão judicial em ação
coletiva. Mais ainda: reduzir a eficácia de tal decisão à “extensão” territorial do órgão prolator seria confusão
atécnica dos institutos que balizam os critérios de competência adotados em nossos diplomas processuais,
mormente quando - por força do normativo de regência do Mandado de Segurança (hígido neste ponto) - a
fixação do Juízo se dá (deu) em razão da pessoa que praticou o ato (ratione personae). 4. Por força do que
dispõem o Código de Defesa do Consumidor e a Lei da Ação Civil Pública sobre a tutela coletiva, sufragados
pela Lei do Mandado de Segurança (art. 22), impõe-se a interpretação sistemática do art. 2º-A da Lei 9.494/97,
de forma a prevalecer o entendimento de que a abrangência da coisa julgada é determinada pelo pedido,
pelas pessoas afetadas e de que a imutabilidade dos efeitos que uma sentença coletiva produz deriva de
seu trânsito em julgado, e não da competência do órgão jurisdicional que a proferiu. 5. Incide, in casu, o

27 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

entendimento firmado no REsp. 1.243.887/PR representativo de controvérsia, porquanto naquele julgado


já se vaticinara a interpretação a ser conferida ao art. 16 da Lei da Ação Civil Pública (alterado pelo art. 2º-A
da Lei 9.494/97), de modo a harmonizá-lo com os demais preceitos legais aplicáveis ao tema, em especial
às regras de tutela coletiva previstas no Código de Defesa do Consumidor. 6. Recurso Especial não provido.
STJ, REsp 1.614.263/RJ, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, j. 18/08/2016.

Precedente anterior: STJ, REsp 1.243.887/PR, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, j. 19/10/2011.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 16 DA LEI 7.347/1985, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 9.494/1997.
CONSTITUCIONALIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

1. Revela especial relevância, na forma do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da
constitucionalidade do art. 16 da Lei 7.347/1985, com a redação dada pela Lei 9.494/1997, segundo o qual a
sentença na ação civil pública fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator. 2. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC.
STF, RE 1.101.937 RG, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, j. 13/02/2020.

ÿÿ Pontos de destaque: impropriedade da limitação dos efeitos da coisa julgada ao território do órgão
prolator da sentença; confusão entre competência do órgão julgador e efeitos da coisa julgada; repercussão
geral sobre a constitucionalidade do artigo 16 da LACP reconhecida.

Prescrição

20. Prazo prescricional da execução individual


ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. INÍCIO DA FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL DA EXECUÇÃO SINGULAR. INÍCIO. TRÂNSITO EM
JULGADO DA SENTENÇA PROFERIDA NA DEMANDA COLETIVA. DESNECESSIDADE DA PROVIDÊNCIA DE QUE
TRATA O ART. 94 DO CDC. TESE FIRMADA SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA
NO CASO CONCRETO.
(...) 6. O art. 94 do Código de Defesa do Consumidor disciplina a hipótese de divulgação da notícia da
propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados possam intervir no processo ou acompanhar
seu trâmite, nada estabelecendo, porém, quanto à divulgação do resultado do julgamento. Logo, a invocação
do dispositivo em tela não tem pertinência com a definição do início do prazo prescricional para o ajuizamento
da execução singular. (...) 9. Fincada a inaplicabilidade do CDC à hipótese, deve-se firmar a tese repetitiva
no sentido de que o prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da
sentença coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei n. 8.078/90 (...)
STJ, REsp 1.388.000/PR, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 26/08/2015.

ÿÿ Pontos de destaque: contagem do prazo prescricional e execução individual; trânsito em julgado da

28 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

sentença coletiva; desnecessidade de cumprimento do art. 94 da Lei n. 8.078/90.

21. Prescrições autônomas envolvendo obrigações de fazer e de pagar


PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO COLETIVO. SENTENÇA GENÉRICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE PAGAR
QUANTIA CERTA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. PRETENSÕES AUTÔNOMAS. INDEPENDÊNCIA
DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS. MEDIDA CAUTELAR DE PROTESTO AJUIZADA APÓS TRANSCURSO DO PRAZO.
AUSÊNCIA DE EFEITO INTERRUPTIVO. DECISÃO QUE NÃO FAZ COISA JULGADA. SÍNTESE DO PROCESSO
(...) JURISPRUDÊNCIA DO STJ: AUTONOMIA DAS PRETENSÕES E DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS DAS EXECUÇÕES
DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE PAGAR DECORRENTES DO MESMO TÍTULO 21. Quando a sentença coletiva
transitada em julgado impõe obrigações de fazer (p. ex. implantar no contracheque dos servidores
determinado reajuste) e de pagar (p. ex. efetuar o pagamento das parcelas pretéritas), surgem em tese, no
mesmo instante, duas pretensões executórias. 22. Se o titular do direito reconhecido propõe apenas uma
dessas Execuções, essa ação não vai interferir no prazo prescricional da pretensão em relação à qual tenha
ficado inerte, por se tratar de pretensões autônomas. 23. Consoante a jurisprudência do STJ, o ajuizamento
de Execução coletiva de obrigação de fazer, por si só, não repercute no prazo prescricional para Execução
individual de obrigação de pagar derivada do mesmo título (...) 24. Com o trânsito em julgado da sentença
coletiva - que, além de condenar à obrigação de fazer (in casu, o implemento do reajuste nos contracheques
dos servidores), impõe obrigação de pagar quantia certa referente aos valores retroativos -, é possível
identificar a presença de interesse coletivo à Execução da obrigação de fazer e de interesses individuais
de cada um dos substituídos ao cumprimento de ambas as obrigações. (...) 38. Havendo execuções de
naturezas diversas, entretanto, a regra é de que ambas devem ser autonomamente promovidas dentro
do prazo prescricional. Excepciona-se apenas a hipótese em que a própria decisão transitada em julgado,
ou o juízo da execução, dentro do prazo prescricional, reconhecer que a execução de um tipo de obrigação
dependa necessariamente da prévia execução de outra espécie de obrigação.
STJ, REsp 1.340.444/RS, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, CORTE ESPECIAL, j. 14/03/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: execução coletiva de obrigação de fazer e execução individual de obrigação de


pagar; prazo prescricional autônomo.

22. Execução individual da sentença coletiva


Informativo 0648

A aplicação analógica do prazo de cinco anos do art. 21 da Lei de Ação Popular para a ação coletiva de
consumo, reconhecida pela jurisprudência desta Corte, tem como pressuposto o fato de não existir na Lei de
Ação Civil Pública expresso prazo para o exercício dessa modalidade de direito subjetivo público, tampouco
a previsão expressa de perda da possibilidade de uso desse específico rito processual pela mera passagem
do tempo. Todavia, conforme consigna a doutrina especializada e ao contrário do entendimento prevalente,

29 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

esse “silêncio do ordenamento é eloquente, ao não estabelecer direta e claramente prazos para o exercício
dos interesses metaindividuais e para o ajuizamento das respectivas ações, permitindo o reconhecimento da
não ocorrência da prescrição”. O silêncio do ordenamento deve ser considerado intencional, pois o prazo de
5 anos para o ajuizamento da ação popular, contido no art. 21 da Lei n. 4.717/1965, foi previsto com vistas
à concretização de uma única e específica prestação jurisdicional, qual seja a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio público em sentido amplo. As ações coletivas de consumo, por sua
vez, atendem a um espectro de prestações de direito material muito mais amplo, podendo não só anular ou
declarar a nulidade de atos, como também quaisquer outras providências ou ações capazes de propiciar a
adequada e efetiva tutela dos consumidores, nos termos do art. 83 do CDC. É, assim, necessária a superação
(overruling) da atual orientação jurisprudencial desta Corte, pois não há razão para se limitar o uso da ação
coletiva ou desse especial procedimento coletivo de enfrentamento de interesses individuais homogêneos,
coletivos em sentido estrito e difusos, sobretudo porque o escopo desse instrumento processual é o
tratamento isonômico e concentrado de lides de massa relacionadas a questões de direito material que
afetem uma coletividade de consumidores, tendo como resultado imediato beneficiar a economia processual.
De fato, submeter a ação coletiva de consumo a prazo determinado tem como única consequência impor
aos consumidores os pesados ônus do ajuizamento de ações individuais, em prejuízo da razoável duração
do processo e da primazia do julgamento de mérito, princípios expressamente previstos no atual CPC em
seus arts. 4º e 6º, respectivamente, além de prejudicar a isonomia, ante a possibilidade de julgamentos
discrepantes.
STJ, REsp 1.736.091/PE, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 14/05/2019.

ÿÿ Pontos de destaque: prazo de 5 anos para o ajuizamento da ação popular; não aplicação às ações coletivas
de consumo.

23. Interrupção do prazo prescricional das ações individuais


RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E AMBIENTAL. CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR PRODUTOS QUÍMICOS
UTILIZADOS EM TRATAMENTO DE MADEIRA DESTINADA À FABRICAÇÃO DE POSTES. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO
E OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. PRINCÍPIO DA ADSTRIÇÃO OU CONGRUÊNCIA. INTERPRETAÇÃO AMPLA DA
INICIAL. POSSIBILIDADE. DANO AMBIENTAL INDIVIDUAL. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. CIÊNCIA INEQUÍVOCA.
PRECEDENTES. AÇÃO COLETIVA. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO DE AÇÕES INDIVIDUAIS. POSSIBILIDADE.
(...) 4. O dano ambiental pode ocorrer na de forma difusa, coletiva e individual homogêneo este, na
verdade, trata-se do dano ambiental particular ou dano por intermédio do meio ambiente ou dano em
ricochete. 5. Prescrição: perda da pretensão de exigibilidade atribuída a um direito, em consequência de
sua não utilização por um determinado período. 6. O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento
de ação de indenização por dano ambiental suportado por particular conta-se da ciência inequívoca dos
efeitos decorrentes do ato lesivo. Precedentes. 7. O ajuizamento de ação versando interesse difuso tem o

30 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

condão de interromper o prazo prescricional para a apresentação de demanda judicial que verse interesse
individual homogêneo. 8. Necessidade, na hipótese dos autos, da completa instrução processual. 9. Recurso
especial conhecido e não provido.

STJ, REsp 1.641.167/RS, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 13/03/2018.

ÿÿ Pontos de destaque: dano ambiental causados que viola diferentes espécies de direitos transindividuais;
ação coletiva versando sobre interesse difuso; interrupção do prazo prescricional para ações sobre direito
individual homogêneo.

24. Prazo prescricional e ação de improbidade administrativa


DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. IMPRESCRITIBILIDADE.
SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5 º, DA CONSTITUIÇÃO.
1. A prescrição é instituto que milita em favor da estabilização das relações sociais. 2. Há, no entanto, uma
série de exceções explícitas no texto constitucional, como a prática dos crimes de racismo (art. 5º, XLII, CRFB)
e da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art.
5º, XLIV, CRFB). 3. O texto constitucional é expresso (art. 37, § 5º, CRFB) ao prever que a lei estabelecerá
os prazos de prescrição para ilícitos na esfera cível ou penal, aqui entendidas em sentido amplo, que
gerem prejuízo ao erário e sejam praticados por qualquer agente. 4. A Constituição, no mesmo dispositivo
(art. 37 § 5º, CRFB) decota de tal comando para o Legislador as ações cíveis de ressarcimento ao erário,
tornando-as, assim, imprescritíveis. 5. São, portanto, imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. 6. Parcial provimento
do recurso extraordinário para (i) afastar a prescrição da sanção de ressarcimento e (ii) determinar que o
tribunal recorrido, superada a preliminar de mérito pela imprescritibilidade das ações de ressarcimento por
improbidade administrativa, aprecie o mérito apenas quanto à pretensão de ressarcimento.
STF, RE 852.475, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, j. 08-08-2018.

ÿÿ Pontos de destaque: imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato
doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa; não aplicação às ações baseadas em atos culposos.

25. Legitimidade para ajuizamento de mandado de segurança coletivo


Súmula 629, STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes.
Súmula 630, STF: A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO, IMPETRADO POR ASSOCIAÇÃO DE CLASSE. SUBSTITUIÇÃO

31 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

PROCESSUAL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL. LEGITIMIDADE. DESNECESSIDADE DE PROVA DE FILIAÇÃO. COISA


JULGADA. LIMITES SUBJETIVOS. OBSERVÂNCIA. PRECEDENTES DO STJ, EM HIPÓTESES IDÊNTICAS. AGRAVO
INTERNO PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO.
(...) III. No julgamento do RE 573.232/SC, sob a sistemática da repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal
reconheceu que, “de acordo com o art. 5º, LXX, ‘b’, da CF, para impetrar Mandado Segurança coletivo em
defesa dos interesses de seus membros ou associados, as associações prescindem de autorização expressa,
que somente é necessária para ajuizamento de ação ordinária, nos termos do art. 5º, XXI, da CF (Relator
Min. Ricardo Lewandowski, Relator para acórdão Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 14/5/2014,
DJe 19/9/2014). Desse modo, de forma geral, o fato de algum exequente não constar nas relações de
filiados apresentadas pela associação ou de não ser aposentado ou pensionista na data da impetração
do Mandado de Segurança ou de sua sentença não é óbice para a propositura de execução individual do
título executivo”. (...) IV. Ao apreciar execução individual do mesmo título executivo, proferido em Mandado
de Segurança coletivo, esta Corte concluiu que “O STJ já se manifestou no sentido de que os sindicatos e as
associações, na qualidade de substitutos processuais, têm legitimidade para atuar judicialmente na defesa
dos interesses coletivos de toda a categoria que representam, por isso, caso a sentença do writ coletivo não
tenha uma delimitação expressa dos seus limites subjetivos, a coisa julgada advinda da ação coletiva deve
alcançar todas as pessoas da categoria, e não apenas os filiados. Hipótese em que, no título exequendo, esta
Corte acolheu embargos de divergência opostos pela Associação ‘para que a Vantagem Pecuniária Especial
- VPE, criada pela Lei n° 11.134/05, seja estendida aos servidores do antigo Distrito Federal em razão da
vinculação jurídica criada pela Lei n° 10.486/2002’, não havendo qualquer limitação quanto aos associados
da então impetrante. (...) V. O julgado do STF, no RE 612.043/PR, sob o regime da repercussão geral, cuida de
ação ordinária coletiva, ajuizada por Associação, com fundamento no art. 5º, XXI, da Constituição Federal,
que contempla hipótese de representação processual, situação diversa da presente, que trata de execução
individual de Mandado de Segurança coletivo impetrado por Associação, como substituto processual.
STJ, AgInt no AgInt no AREsp 1.420.368/RJ, Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, j. 29/04/2020.

ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa das associações para impetração do mandado de segurança
coletivo; desnecessidade de autorização expressa (não se aplica o regime das ações coletivas).

🏳🏳 DIREITO AMBIENTAL

26. Princípio hermenêutico “in dubio pro natura”.


“ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO DE VEGETAÇÃO NATIVA (CERRADO)
SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS.
4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL,
DO POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE

32 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD


PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI
DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL. 1.
Cuidam os autos de ação civil pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
causados pelo desmatamento de vegetação nativa (Cerrado). O juiz de primeiro grau e o Tribunal de Justiça
de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o réu a repará-lo; porém, julgaram
improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual. 2. A legislação de amparo
dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que lhes seja
mais favorável e melhor possa viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da
norma. A hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura. (...)”
STJ, REsp 1.198.727/MG, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14.08.2012.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos
interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que lhes seja mais favorável e melhor
possa viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma, de modo que a
hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura.

27. Proteção ecológica, princípio da solidariedade e direitos fundamentais de terceira dimensão (ou
geração).
“A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO – DIREITO DE TERCEIRA
GERAÇÃO – PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de
terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de
afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado
em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, a própria coletividade social.
Enquanto os direitos de primeira geração (Direito Civis e Políticos) – que compreendem as liberdades
clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas –
acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade
coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e
constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos
direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial
inexauribilidade”.
STF, MS 22.164/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30.10.1995.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece os direitos de terceira geração, que materializam poderes
de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, como é o aso do direito
fundamental ao meio ambiente, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento

33 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos,


caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade

28. Dimensão ecológica do principio da dignidade da pessoa humana, princípio da solidariedade e mínimo
existencial ecológico
A) “DIREITO AMBIENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. (...) PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICÁVEL EM SEDE DE RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. DERRAMAMENTO
DE ÓLEO. POLUIÇÃO. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. (...) 3. O bem ambiental é imensurável, não tem
valor patrimonial, trata-se de um bem difuso, essencial à coletividade. Dessa forma, a violação da norma
ambiental e do equilíbrio sistêmico não comporta a ideia de inexpressividade da conduta para aplicação do
princípio da insignificância, pois o interesse protegido envolve toda a sociedade e, em nome do bem-estar
desta, é que deve ser aplicada. 4. Em qualquer quantidade que seja derramamento de óleo é poluição, seja
por inobservância dos padrões ambientais (inteligência do art. 3º, III, “e”, da Lei n. 6.938/1981, c/c o
art. 17 da Lei n. 9.966/2000), seja por conclusão lógica dos princípios da solidariedade, dimensão
ecológica da dignidade humana, prevenção, educação ambiental e preservação das gerações futuras.
(...) 6. Recurso especial provido para reconhecer a inaplicabilidade do princípio da insignificância em
matéria de responsabilidade civil ambiental”.
STJ, AREsp 667.867/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17.10.2018.

“AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROVIDO. RECURSO ESPECIAL.


INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DO CÓDIGO FLORESTAL. INADEQUADA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. MAIOR PROTEÇÃO AMBIENTAL. PROVIMENTO. RESPEITO AO LIMITE IMPOSTO PELO
CÓDIGO FLORESTAL. (...) 2. A proteção ao meio ambiente integra axiologicamente o ordenamento jurídico
brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais deve respeitar a teleologia da Constituição
Federal. Desse modo, o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistêmica e harmônica,
privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico e do ambiente ecologicamente equilibrado. 3.
Na espécie, o Tribunal de origem interpretou o Código Florestal (Lei n. 4.771/1965) de maneira restritiva,
pois considerou que o diploma legal estabeleceu limites máximos de proteção ambiental, podendo a
legislação municipal reduzir o patamar protetivo. Ocorre que o colegiado a quo equivocou-se quanto
à interpretação do supracitado diploma legal, pois a norma federal conferiu uma proteção mínima,
cabendo à legislação municipal apenas intensificar o grau de proteção às margens dos cursos de água, ou,
quando muito, manter o patamar de proteção. 4. A proteção marginal dos cursos de água, em toda a sua
extensão, possui importante papel de resguardo contra o assoreamento. O Código Florestal tutela em maior
extensão e profundidade o bem jurídico do meio ambiente, logo, é a norma específica a ser observada
na espécie. 5. Recurso especial provido”.
STJ, AREsp 1.312.435/RJ, 2ª T., Rel. Min. Og Fernandes, j. 07.02.2019.

34 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ÿÿ Pontos de destaque: Os julgados estabelecem a proteção ao meio ambiente está diretamente relacionado
à proteção da dignidade, por meio do reconhecimento de uma dimensão ecológica da dignidade humana,
também vinculada ao princípio da solidariedade, bem como que a proteção ao meio ambiente integra
axiologicamente o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais
deve respeitar a teleologia da Constituição Federal, de modo que o ordenamento jurídico deve ser
interpretado de forma sistêmica e harmônica, privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico
e do ambiente ecologicamente equilibrado.

29. Função ambiental ou ecológica da propriedade, reserva legal e área de preservação permanente.
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO. NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE AMBIENTAL. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO À
MENOR PATAMAR PROTETIVO. FATO CONSUMADO. INVIÁVEL EM MATÉRIA AMBIENTAL. 1. Na origem, trata-
se de ação declaratória ajuizada pelo recorrido contra a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, na qual, o
requerente sustentou que, sendo legítimo proprietário dos imóveis descritos na inicial, diligenciou perante
o órgão competente visando autorização para a supressão da vegetação da área, recebendo orientação de
que tais procedimentos estão submetidos à Resolução SMA-14, de 13 de março de 2008, que estabeleceu
fatores condicionantes para tal fim. Diante da situação, na exordial, arguiu a inaplicabilidade das normas
suscitadas, tendo em vista a superveniência da legislação ambiental ante a aquisição da propriedade e
a aplicabilidade mitigada do Código Florestal às áreas urbanas. 2. Inicialmente, é importante elucidar
que o princípio da solidariedade intergeracional estabelece responsabilidades morais e jurídicas para as
gerações humanas presentes em vista da ideia de justiça intergeracional, ou seja, justiça e equidade entre
gerações humanas distintas. Dessa forma, a propriedade privada deve observar sua função ambiental em
exegese teleológica da função social da propriedade, respeitando os valores ambientais e direitos
ecológicos. 3. Noutro ponto, destaco a firme orientação jurisprudencial desta Corte de que “a proteção
ao meio ambiente não difere área urbana de rural, porquanto ambas merecem a atenção em favor da
garantia da qualidade de vida proporcionada pelo texto constitucional, pelo Código Florestal e pelas
demais normas legais sobre o tema” (REsp 1.667.087/RS, de minha relatoria, Segunda Turma, julgado
em 7/8/2018, DJe 13/8/2018). 4. Na espécie, não há um fato ocorrido antes da vigência do novo Código
Florestal, a pretensão de realizar supressão da vegetação e, consequentemente, a referida supressão
vieram a se materializar na égide do novo Código Florestal. Independentemente da área ter sido objeto
de loteamento em 1979 e incluída no perímetro urbano em 1978, a mera declaração de propriedade
não perfaz direito adquirido a menor patamar protetivo. Com efeito, o fato da aquisição e registro da
propriedade ser anterior à vigência da norma ambiental não permite o exercício das faculdades da
propriedade (usar, gozar, dispor, reaver) em descompasso com a legislação vigente. 5. Não há que falar em
um direito adquirido a menor patamar protetivo, mas sim no dever do proprietário ou possuidor de
área degrada de tomar as medidas negativas ou positivas necessárias ao restabelecimento do equilíbrio

35 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ecológico local. 6. Recurso especial provido”.


STJ, REsp 1.775.867/SP, 2ª T., Rel. Min. Og Fernandes, j. 16.05.2019.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a proteção ao meio ambiente integra axiologicamente
o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais deve respeitar a
teleologia da Constituição Federal, de modo que o ordenamento jurídico deve ser interpretado de
forma sistêmica e harmônica, privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico e do ambiente
ecologicamente equilibrado.

30. Controle judicial de politicas públicas ambientais, dignidade da pessoa humana, saúde pública e
proteção ecológica.
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. COLETA DE LIXO. SERVIÇO ESSENCIAL. PRESTAÇÃO DESCONTINUADA.
PREJUÍZO À SAÚDE PÚBLICA. DIREITO FUNDAMENTAL. NORMA DE NATUREZA PROGRAMÁTICA.
AUTO-EXECUTORIEDADE. PROTEÇÃO POR VIA DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE. ESFERA DE
DISCRICIONARIEDADE DO ADMINISTRADOR. INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO. 1. Resta estrema de
dúvidas que a coleta de lixo constitui serviço essencial, imprescindível à manutenção da saúde pública, o que
torna submisso à regra da continuidade. Sua interrupção, ou ainda, a sua prestação de forma descontinuada,
extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade humana, porquanto
o cidadão necessita utilizar-se desse serviço público, indispensável à sua vida em comunidade. 2. Releva
notar que uma Constituição Federal é fruto da vontade política nacional, erigida mediante consulta das
expectativas e das possibilidades do que se vai consagrar, por isso cogentes e eficazes suas promessas, sob
pena de restarem vãs e frias enquanto letras mortas no papel. Ressoa inconcebível que direitos consagrados
em normas menores como Circulares, Portarias, Medidas Provisórias, Leis Ordinárias tenham eficácia
imediata e os direitos consagrados constitucionalmente, inspirados nos mais altos valores éticos e morais
da nação sejam relegados a segundo plano. Trata-se de direito com normatividade mais do que suficiente,
porquanto se define pelo dever, indicando o sujeito passivo, in casu, o Estado. 3. Em função do princípio da
inafastabilidade consagrado constitucionalmente, a todo direito corresponde uma ação que o assegura,
sendo certo que todos os cidadãos residentes em Cambuquira encartam-se na esfera desse direito, por
isso a homogeneidade e transindividualidade do mesmo a ensejar a bem manejada ação civil pública. 4.
A determinação judicial desse dever pelo Estado, não encerra suposta ingerência do judiciário na esfera
da administração. Deveras, não há discricionariedade do administrador frente aos direitos consagrados
constitucionalmente. Nesse campo a atividade é vinculada sem admissão de qualquer exegese que vise
afastar a garantia pétrea. 5. Um país cujo preâmbulo constitucional promete a disseminação das desigualdades
e a proteção à dignidade humana, alçadas ao mesmo patamar da defesa da Federação e a República, não
pode relegar a saúde pública a um plano diverso daquele que o coloca, como uma das mais belas e justas
garantias constitucionais. 6. Afastada a tese descabida da discricionariedade, a única dúvida que se poderia
suscitar resvalaria na natureza da norma ora sob enfoque, se programática ou definidora de direitos. 7. As

36 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas não são ainda direitos senão promessas de lege ferenda,
encartando-se na esfera insindicável pelo Poder Judiciário, qual a da oportunidade de sua implementação. 8.
Diversa é a hipótese segundo a qual a Constituição Federal consagra um direito e a norma infraconstitucional
o explicita, impondo-se ao judiciário torná-lo realidade, ainda que para isso, resulte obrigação de fazer,
com repercussão na esfera orçamentária. 9. Ressoa evidente que toda imposição jurisdicional à Fazenda
Pública implica em dispêndio e atuar, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes, porquanto no regime
democrático e no Estado de Direito o Estado soberano submete-se à própria justiça que instituiu. Afastada,
assim, a ingerência entre os poderes, o judiciário, alegado o malferimento da lei, nada mais fez do que
cumpri-la ao determinar a realização prática da promessa constitucional. 10. “A questão do lixo é prioritária,
porque esta em jogo a saúde pública e o meio ambiente”. Ademais, “A coleta do lixo e a limpeza dos
logradouros públicos são classificados como serviços públicos essenciais e necessários à sobrevivência
do grupo social e do próprio Estado, porque visam a atender as necessidades inadiáveis da comunidade,
conforme estabelecem os arts. 10 e 11 da Lei n. 7.783/89. Por tais razões, os serviços públicos desta natureza
são regidos pelo PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE. 11. Recurso especial provido”
STJ, REsp. 575.998-MG, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, j. 07.10.2004.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a coleta de lixo constitui serviço essencial, imprescindível
à manutenção da saúde pública, o que torna submisso à regra da continuidade, passível de ser objeto de
controle judicial de politicas publicas, na medida em que a sua interrupção, ou ainda, a sua prestação de
forma descontinuada, extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade
humana, porquanto o cidadão necessita utilizar-se desse serviço público, indispensável à sua vida em
comunidade.

31. Direitos ambientais adquiridos e irretroatividade da norma ambiental menos protetiva


“PROCESSO CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS.
MATA CILIAR AO REDOR DO RESERVATÓRIO HIDRELÉTRICO DE SALTO SANTIAGO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. DANOS AMBIENTAIS. REFLORESTAMENTO. (...) NOVO CÓDIGO FLORESTAL. IRRETROATIVIDADE.
PRECEDENTES.(...) O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os
direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias
compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de
extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da “incumbência” do
Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I).
Precedentes. Agravo regimental improvido.”
STJ, AgRg no REsp 1.434.797/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. 17.05.2016.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o
ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo

37 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies


ameaçadas de extinção.

32. Federalismo cooperativo ecológico ou ambiental e exercício da competência executiva ou administrativa


em matéria ambiental (art. 23 da CF/1988 e LC 140/2011).
“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. PRAIA. PROPRIEDADE DA UNIÃO. ARTS. 3°, 6°, § 2°, E 10
DA LEI 7.661/1988. ARTS. 5°, 10 E 11, § 4°, DA LEI 9.636/1998. BARRACA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO
DA SECRETARIA DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO. PROTEÇÃO DA PAISAGEM. MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
FEDERALISMO COOPERATIVO AMBIENTAL. ART. 4° DA LEI COMPLEMENTAR 140/2011. LICENÇA
URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA. DETENÇÃO ILÍCITA E NÃO
POSSE. PRECARIEDADE. DEMOLIÇÃO. SÚMULA 7/STJ. HISTÓRICO DA DEMANDA (...) DOMÍNIO DA UNIÃO
5. Na esfera da competência de implementação comum (art. 23, parágrafo único, da Constituição de 1988)
e legitimados sob o manto do federalismo cooperativo ambiental e de políticas de descentralização (art.
4° da Lei Complementar 140/2011), a União, os Estados e os Municípios podem e devem colaborar, de
forma a evitarem conflitos entre si e ampliarem a eficácia e a eficiência de suas ações administrativas.
Contudo, eventuais delegação, convênio, consórcio público ou acordo entre essas entidades não atribuem
a órgão estadual ou municipal autoridade para, sponte sua, no âmbito de licenciamento e fiscalização
ambientais, a qualquer título dispor, direta ou indiretamente, de áreas de domínio federal. 6. Se o bem é
da União, nulas a licença e a autorização urbanístico-ambientais outorgadas pelo Município ou Estado
sem prévia consulta e, em seguida, anuência expressa e inequívoca do titular do domínio (art. 5° da Lei
9.636/1998). Em tais circunstâncias, a expedição de atos pelo gestor municipal ou estadual caracteriza
improbidade administrativa. 7. Constatada a ocupação ilícita, no caso de bens da União, deverá o órgão
competente “imitir-se sumariamente na posse do imóvel, cancelando-se as inscrições eventualmente
realizadas”, sem prejuízo de cobrança de “indenização” pelo uso indevido (art. 10 da Lei 9.636/1998). 8.
Embora de domínio federal, incumbe, solidariamente, à União, aos Estados e aos Municípios a obrigação
de protegerem as praias, decorrência do dever de, em conjunto, zelarem “pela manutenção das áreas de
preservação ambiental, das necessárias à proteção dos ecossistemas naturais e de uso comum do povo,
independentemente da celebração de convênio para esse fim” (art. 11, § 4°, da Lei 9.636/1998).(...) 13.
Recurso Especial não provido.”
STJ, REsp 1.410.732/RN, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, j. 17.10.2013.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o
ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo
e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies
ameaçadas de extinção.

33. Competência legislativa concorrente em matéria ambiental, norma suplementar mais protetiva e

38 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

hierarquia supralegal dos tratados internacionais ambientais


“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.055/1995.
EXTRAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO, UTILIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E TRANSPORTE DO ASBESTO/AMIANTO E
DOS PRODUTOS QUE O CONTENHAM. AMIANTO CRISOTILA. LESIVIDADE À SAÚDE HUMANA. ALEGADA
INEXISTÊNCIA DE NÍVEIS SEGUROS DE EXPOSIÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS PROCURADORES DO TRABALHO – ANPT. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA
JUSTIÇA DO TRABALHO – ANAMATRA. ART. 103, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REPRESENTATIVIDADE
NACIONAL. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. MÉRITO. AMIANTO. VARIEDADE CRISOTILA (ASBESTO BRANCO). FIBRA
MINERAL. CONSENSO MÉDICO ATUAL NO SENTIDO DE QUE A EXPOSIÇÃO AO AMIANTO TEM, COMO EFEITO
DIRETO, A CONTRAÇÃO DE DIVERSAS E GRAVES MORBIDADES. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE. RECONHECIMENTO
OFICIAL. PORTARIA Nº 1.339/1999 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. POSIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE – OMS. RISCO CARCINOGÊNICO DO ASBESTO CRISOTILA. INEXISTÊNCIA DE NÍVEIS SEGUROS DE
EXPOSIÇÃO. LIMITES DA COGNIÇÃO JURISDICIONAL. QUESTÃO JURÍDICO-NORMATIVA E QUESTÕES DE FATO.
ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA. ART. 2º DA LEI Nº 9.055/1995. FONTE POSITIVA DA AUTORIZAÇÃO PARA
EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DO ASBESTO CRISOTILA. LEI Nº 9.976/2000. LEGISLAÇÃO FEDERAL ESPECÍFICA E
POSTERIOR. INDÚSTRIA DE CLORO. USO RESIDUAL. TRANSIÇÃO TECNOLÓGICA. SITUAÇÃO ESPECÍFICA NÃO
ALCANÇADA PELA PRESENTE IMPUGNAÇÃO. TOLERÂNCIA AO USO DO AMIANTO CRISOTILA NO ART. 2º DA
LEI Nº 9.055/1995. EQUACIONAMENTO. LIVRE INICIATIVA. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. VALOR SOCIAL
DO TRABALHO. DIREITO À SAÚDE. DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, PROGRESSO SOCIAL E BEM-ESTAR COLETIVO. LIMITES DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS. COMPATIBILIZAÇÃO. ARTS. 1º, IV, 170, CAPUT, 196 E 225, CAPUT E § 1º, V, DA CF.
AUDIÊNCIA PÚBLICA (ADI 3.937/SP) E AMICI CURIAE. CONTRIBUIÇÕES AO DEBATE. JURISPRUDÊNCIA DO
ÓRGÃO DE APELAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO COMÉRCIO – OMC. PROIBIÇÃO À IMPORTAÇÃO
DE ASBESTO. MEDIDA JUSTIFICADA. ART. XX DO ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS E COMÉRCIO – GATT.
PROTEÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE HUMANA. CONVENÇÕES NºS 139 E 162 DA OIT. CONVENÇÃO DE BASILEIA
SOBRE O CONTROLE DE MOVIMENTOS TRANSFRONTEIRIÇOS DE RESÍDUOS PERIGOSOS E SEU DEPÓSITO.
REGIMES PROTETIVOS DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. SUPRALEGALIDADE. COMPROMISSOS
INTERNACIONAIS. INOBSERVÂNCIA. ART. 2º DA LEI Nº 9.055/1995. PROTEÇÃO INSUFICIENTE. ARTS. 6º, 7º,
XXII, 196 E 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. QUÓRUM CONSTITUÍDO POR NOVE MINISTROS,
CONSIDERADOS OS IMPEDIMENTOS. CINCO VOTOS PELA PROCEDÊNCIA E QUATRO VOTOS PELA
IMPROCEDÊNCIA. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ART. 23 DA LEI Nº 9.868/1999. NÃO ATINGIDO
O QUÓRUM PARA PRONÚNCIA DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º DA LEI Nº 9.055/1995. 1. (…). 2. O
consenso médico atual identifica, para além de qualquer dúvida razoável, a contração de diversas doenças
graves como efeito direto da exposição ao amianto. A Portaria nº 1.339/1999 do Ministério da Saúde
imprime reconhecimento oficial à relação de causalidade entre a exposição ao asbesto ou amianto, inclusive
da variedade crisotila, e as seguintes doenças: neoplasia maligna do estômago, neoplasia maligna da laringe,

39 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão, mesotelioma da pleura, mesotelioma do peritônio,


mesotelioma do pericárdio, placas epicárdicas ou pericárdicas, asbestose, derrame pleural e placas pleurais.
3. Posição oficial da Organização Mundial da Saúde – OMS no sentido de que: (a) todos os tipos de amianto
causam câncer no ser humano, não tendo sido identificado limite algum para o risco carcinogênico do
crisotila; (b) o aumento do risco de desenvolvimento de câncer tem sido observado mesmo em populações
submetidas a níveis muito baixos de exposição; (c) o meio mais eficiente de eliminar as doenças relacionadas
ao mineral é eliminar o uso de todos os tipos de asbesto. 4. Risco significativo de exposição presente não
apenas na cadeia produtiva do amianto, mas também para familiares que vivem com trabalhadores desse
setor, para a população nas proximidades de minas e indústrias de amianto, para a população consumidora
de produtos finais contendo amianto na composição e para pessoas expostas a rejeitos ou descartes de
materiais contendo amianto. Quadro justificador da adoção de instrumentos normativos, nos planos
doméstico e internacional, voltados ao controle e eliminação progressiva do uso do amianto. 5. Limites da
cognição jurisdicional. Residem fora da alçada do Supremo Tribunal Federal os juízos de natureza técnico-
científica sobre questões de fato, acessíveis pela investigação técnica e científica, como a nocividade ou o
nível de nocividade da exposição ao amianto crisotila e a viabilidade da sua exploração econômica segura. A
tarefa da Corte – de caráter normativo – há de se fazer inescapavelmente embasada nas conclusões da
comunidade científica – de natureza descritiva. Questão jurídica a decidir: se, em face do que afirma o
consenso médico e científico atual, a exploração do amianto crisotila, na forma como autorizada pela Lei nº
9.055/1995, é compatível com a escolha política, efetuada pelo Poder Constituinte, de assegurar, a todos os
brasileiros, os direitos à saúde e à fruição de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Precedente:
ADPF 101 (Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 24.6.2009). 6. Análise da jurisprudência: ADI
2.396/MS, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJ 01.8.2003; ADI 2.656/SP, Relator Ministro
Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ 01.8.2003; ADI 3.937-MC/SP, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal
Pleno, DJ 10.10.2008. Art. 2º da Lei nº 9.055/1995 como fonte positiva da autorização para a extração, a
industrialização, a comercialização e a utilização do asbesto/amianto da variedade crisotila (asbesto branco).
7. O uso residual e transitório do amianto crisotila na indústria química para a obtenção de cloro pelo
processo de eletrólise com diafragma de amianto é disciplinado em legislação específica e posterior à Lei nº
9.055/1995 ( Lei nº 9.976/2000), não objeto da presente impugnação. 8. Legitimidade constitucional da
tolerância ao uso do amianto crisotila, como estampada no preceito impugnado, equacionada à luz da livre
iniciativa, da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, do direito à saúde e do direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado. Desenvolvimento econômico, progresso social e bem-estar
coletivo. A Constituição autoriza a imposição de limites aos direitos fundamentais quando necessários à
conformação com outros direitos fundamentais igualmente protegidos. O direito fundamental à liberdade
de iniciativa (arts. 1º, IV, e 170, caput, da CF) há de ser compatibilizado com a proteção da saúde e a
preservação do meio ambiente. Precedente: AC 1.657, Tribunal Pleno, Relator Ministro Cezar Peluso, DJe
30.8.2007. Dever estatal de agir positivamente quanto à regulação da utilização, na indústria, de matérias-

40 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

primas comprovadamente nocivas à saúde humana. A cláusula constitucional da proteção à saúde constrange
e ampara o legislador – Federal, Estadual, Distrital e Municipal – ao excluir previamente certos arranjos
normativos, com ela incompatíveis, do leque de escolhas políticas possíveis, ao mesmo tempo em que cria
uma esfera de legitimação para intervenções político-normativas que, democraticamente legitimadas,
traduzem inferências autorizadas pelo preceito constitucional. 9. O art. 225, § 1º, V, da CF (a) legitima
medidas de controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportam risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, sempre que necessárias,
adequadas e suficientes para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado; (b) deslegitima, por insuficientes, medidas incapazes de aliviar
satisfatoriamente o risco gerado para a vida, para a qualidade de vida e para o meio ambiente; e (c)
ampara eventual vedação, banimento ou proibição dirigida a técnicas, métodos e substâncias, quando
nenhuma outra medida de controle se mostrar efetiva. 10. Contribuições ao debate trazidas em audiência
pública (ADI 3.937/SP) e por amici curiae. Estado da arte da pesquisa médico-científica. Dados e subsídios
técnicos a referendar, no seu conjunto, a conclusão de que, no estágio atual, o conhecimento científico
acumulado permite afirmar, para além da dúvida razoável, a nocividade do amianto crisotila à saúde humana
e ao meio ambiente. Consenso técnico e científico hoje estabelecido, no tocante às premissas fáticas de que
(i) todos os tipos de amianto provocam câncer, não tendo sido identificado nenhum limite para o risco
carcinogênico do crisotila, e (ii) a sua substituição, para os usos regulados pela Lei nº 9.055/1995, se mostra
absolutamente viável sob o aspecto econômico. 11. Convenção nº 139 da OIT, sobre a Prevenção e o Controle
de Riscos Profissionais causados pelas Substâncias ou Agentes Cancerígenos. Convenção nº 162 da OIT, sobre
o uso do asbesto. Resolução da OIT sobre o Asbesto (2006). Convenção de Basileia sobre o Controle de
Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito. Status de supralegalidade dos
regimes protetivos de direitos fundamentais. Inobservância das obrigações, assumidas no plano
internacional, de (i) promover a redução dos níveis de exposição de forma consistente e progressiva, (ii)
substituir, sempre que possível, o uso do amianto crisotila por materiais menos perigosos e (iii) reduzir a
geração de resíduos perigosos ao mínimo possível. 12. A jurisprudência do Órgão de Apelação da Organização
Internacional do Comércio – OMC é no sentido de que a proibição à importação de asbesto e de produtos
que o contenham, em legislação doméstica, é consistente com acordos celebrados no âmbito da OMC, não
configura discriminação arbitrária nem injustificada, tampouco restrição disfarçada ao comércio internacional,
e tem amparo no Artigo XX do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - GATT, que autoriza medidas restritivas
ao comércio que sejam necessárias para proteger a vida ou a saúde humana, no Acordo sobre a Aplicação de
Medidas Sanitárias e Fitossanitárias e no Acordo Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio. 13. À luz do
conhecimento científico acumulado sobre a extensão dos efeitos nocivos do amianto para a saúde e o meio
ambiente e à evidência da ineficácia das medidas de controle nela contempladas, a tolerância ao uso do
amianto crisotila, tal como positivada no art. 2º da Lei nº 9.055/1995, não protege adequada e suficientemente
os direitos fundamentais à saúde e ao meio ambiente equilibrado (arts. 6º, 7º, XXII, 196, e 225 da CF),

41 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

tampouco se alinha aos compromissos internacionais de caráter supralegal assumidos pelo Brasil e que
moldaram o conteúdo desses direitos, especialmente as Convenções nºs 139 e 162 da OIT e a Convenção
de Basileia. Juízo de procedência da ação no voto da Relatora. 14. Quórum de julgamento constituído por
nove Ministros, considerados os impedimentos. Cinco votos pela procedência da ação direta, a fim de
declarar a inconstitucionalidade, por proteção deficiente, da tolerância ao uso do amianto crisotila, da forma
como encartada no art. 2º da Lei nº 9.055/1995, em face dos arts. 7º, XXII, 196 e 225 da Constituição da
República. Quatro votos pela improcedência. Não atingido o quórum de seis votos (art. 23 da Lei nº
9.868/1999), maioria absoluta (art. 97 da Constituição da República), para proclamação da constitucionalidade
ou inconstitucionalidade do dispositivo impugnado, a destituir de eficácia vinculante o julgado. 15. Ação
direta de inconstitucionalidade conhecida e, no mérito, não atingido o quórum exigido pelo art. 97 da
Constituição da República para a pronúncia da inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 9.055/1995” (grifos
nossos)
STF, ADI 4066/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Rosa Weber, j. 24.08.2017( mesmo entendimento foi adotado
pelo STF no julgamento das ADI 4066/DF, ADI 3356/PE, ADI 3357/RS e ADI 3470/RJ) .

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o art. 225, § 1º, V, da CF (a) legitima medidas de controle
da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportam risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, sempre que necessárias, adequadas e suficientes
para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; (b)
deslegitima, por insuficientes, medidas incapazes de aliviar satisfatoriamente o risco gerado para a vida, para
a qualidade de vida e para o meio ambiente; e (c) ampara eventual vedação, banimento ou proibição dirigida
a técnicas, métodos e substâncias, quando nenhuma outra medida de controle se mostrar efetiva, bem
como que a Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos
e seu Depósito possui status normativo de supralegalidade dos regimes protetivos de direitos fundamentais.

34. Poder de polícia ambiental do IBAMA e autoexecutoriedade.


“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DIREITO AMBIENTAL. BAÍA DOS GOLFINHOS. PRAIA. BEM DE
USO COMUM DO POVO. ARTS. 6°, CAPUT E § 1°, E 10, CAPUT E § 3°, DA LEI 7.661/1988. FALÉSIA. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ART. 4°, VIII, DA LEI 12.651/2012. TERRENO DE MARINHA. DOMÍNIO DA
UNIÃO. LOCAL DE NIDIFICAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS. PROPRIEDADE DO ESTADO. ART. 1°, CAPUT,
DA LEI 5.197/1967. CONSTRUÇÃO ILEGAL. DEMOLIÇÃO. SÚMULA 7/STJ. HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-
se de Ação Declaratória proposta por estabelecimento hoteleiro contra a União, buscando reconhecimento
judicial de que o imóvel litigioso não se encontra em terreno de domínio público; alternativamente, pede
que se declare que a empresa detém posse legal da área, bem como que se afirme a ilicitude de pretensão
demolitória da Administração. O Juiz de 1º grau e o Tribunal Regional Federal da 5ª Região julgaram
improcedente a ação. 2. Construída e em funcionamento sem licenciamento ambiental, a edificação
litigiosa é “barraca de apoio” (lanchonete/bar) destinada aos hóspedes do Hotel Village Natureza, no

42 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Distrito de Pipa, Município de Tibau do Sul. O estabelecimento em questão se localiza na praia, no sopé
de altíssima falésia, ponto de desova de tartarugas marinhas, em trecho de mar considerado
habitat de golfinhos, cartão postal do paradisíaco litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. QUÍNTUPLA
VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO 3. Ocorre, in casu, quíntupla violação da legislação vigente em virtude
de construção a) em terreno de marinha (terraço costeiro), sem autorização da União; b) em Área de
Preservação Permanente (falésias); c) em praia, bem de uso comum do povo; d) em superfície de nidificação
de quelônios; e em razão de e) ausência de licenciamento ambiental. AUTOEXECUTORIEDADE DOS
ATOS ADMINISTRATIVOS E ORDEM DE DEMOLIÇÃO 4. Nas palavras do acórdão recorrido, há Relatório de
Fiscalização do Ibama, órgão ambiental federal, que atesta encontrar-se a obra em Área de Preservação
Permanente e de domínio da União. À luz do princípio da autoexecutoriedade dos atos administrativos,
que dispensa ordem judicial para sua plena eficácia, a demolição de construção pode ser ordenada
diretamente pela Administração, desde que precedida de regular processo. 5. Retomar bem público
subtraído contra legem nada sugere de despótico, ao contrário, arbítrio externa, sim, comportamento
de particular que dele se apropria com exclusividade, prática ética, política e juridicamente inaceitável,
pois denuncia privilégio e benefício, comercial ou pessoal, do mais esperto em desfavor de multidão
de respeitadores cônscios das prescrições legais. Tal usurpação elimina, às claras, o augusto princípio
da igualdade de todos perante a lei, epicentro do Estado de Direito. Por óbvio, tampouco tolhe o agir
da Administração a existência de outras ocupações irregulares no local, visto que multiplicidade de
infratores não legitima, nem anistia ou enobrece, pela banalização, ilegalidade estatuída na Constituição
ou em lei. 6. Inatacável, portanto, o acórdão recorrido ao confirmar o julgamento antecipado da lide.
Construção ou atividade irregular em bem de uso comum do povo revela dano in re ipsa, dispensada prova
de prejuízo in concreto, impondo-se imediata restituição da área ao estado anterior. Demolição e
restauração às expensas do transgressor, ressalvada hipótese de o comportamento impugnado contar
com inequívoca e proba autorização do órgão legalmente competente. (...)”. (STJ, REsp 1457851/RN, 2ª
Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26.05.2015).
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a construção ou atividade irregular em bem de uso
comum do povo revela dano in re ipsa, dispensada prova de prejuízo in concreto, impondo-se imediata
restituição da área ao estado anterior, com a demolição e restauração às expensas do transgressor,
ressalvada hipótese de o comportamento impugnado contar com inequívoca e proba autorização do
órgão legalmente competente.

35. Natureza subjetiva da responsabilidade administrativa ambiental.


A) 2ª TURMA DO STJ: “AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. MULTA APLICADA ADMINISTRATIVAMENTE EM
RAZÃO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL. EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA EM FACE DO ADQUIRENTE DA PROPRIEDADE.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. MULTA COMO PENALIDADE ADMINISTRATIVA, DIFERENTE DA OBRIGAÇÃO CIVIL
DE REPARAR O DANO. 1. Trata-se, na origem, de embargos à execução fiscal ajuizado pelo ora recorrente por

43 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

figurar no polo passivo de feito executivo levado a cabo pelo Ibama para cobrar multa aplicada por infração
ambiental. 2. Explica o recorrente - e faz isto desde a inicial do agravo de instrumento e das razões de
apelação que resultou no acórdão ora impugnado - que o crédito executado diz respeito à violação dos arts.
37 do Decreto n. 3.179/99, 50 c/c 25 da Lei n. 9.605/98 e 14 da Lei n. 6.938/81, mas que o auto de infração
foi lavrado em face de seu pai, que, à época, era o dono da propriedade. 3. A instância ordinária, contudo,
entendeu que o caráter propter rem e solidário das obrigações ambientais seria suficiente para justificar
que, mesmo a infração tendo sido cometida e lançada em face de seu pai, o ora recorrente arcasse com seu
pagamento em execução fiscal. 4. Nas razões do especial, sustenta a parte recorrente ter havido violação aos
arts. 3º e 568, inc. I, do Código de Processo Civil (CPC) e 3º, inc. IV, e 14 da Lei n. 6.938/81, ao argumento de
que lhe falece legitimidade passiva na execução fiscal levada a cabo pelo Ibama a fim de ver quitada multa
aplicada em razão de infração ambiental. 5. Esta Corte Superior possui entendimento pacífico no sentido
de que a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais adere à propriedade, como obrigação
propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário condutas derivadas de danos provocados
pelos proprietários antigos. Foi essa a jurisprudência invocada pela origem para manter a decisão agravada.
6. O ponto controverso nestes autos, contudo, é outro. Discute-se, aqui, a possibilidade de que terceiro
responda por sanção aplicada por infração ambiental. 7. A questão, portanto, não se cinge ao plano da
responsabilidade civil, mas da responsabilidade administrativa por dano ambiental. 8. Pelo princípio da
intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CR88), aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o
Direito Sancionador, não é possível ajuizar execução fiscal em face do recorrente para cobrar multa aplicada
em face de condutas imputáveis a seu pai. 9. Isso porque a aplicação de penalidades administrativas não
obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas
deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado
transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre
a conduta e o dano. 10. A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica bem
estampada da leitura do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, segundo o qual “[s]em obstar a aplicação das
penalidades previstas neste artigo [entre elas, frise-se, a multa], é o poluidor obrigado, independentemente
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade”. 11. O art. 14, caput, também é claro: “[s]em prejuízo das penalidades definidas pela legislação
federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos
inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...]”.
12. Em resumo: a aplicação e a execução das penas limitam-se aos transgressores; a reparação ambiental,
de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a própria legislação define como “a
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental” (art. 3º, inc. V, do mesmo diploma normativo). 13. Note-se que nem
seria necessária toda a construção doutrinária e jurisprudencial no sentido de que a obrigação civil de
reparar o dano ambiental é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria lei já define como poluidor

44 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, não
reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação
ambiental (poluidor, pois). 14. Mas fato é que o uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14,
comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já
se podia inferir da vigência do princípio da intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano
ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades administrativa e penal, não
admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objetivo por ofensa ambientais praticadas por
outrem. 15. Recurso especial provido”.
STJ, REsp 1.251.697/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques j. 12.04.2012.

B) 1ª TURMA DO STJ: “ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. DANO AMBIENTAL. ACIDENTE NO
TRANSPORTE DE ÓLEO DIESEL. IMPOSIÇÃO DE MULTA AO PROPRIETÁRIO DA CARGA. IMPOSSIBILIDADE.
TERCEIRO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. I - A Corte de origem apreciou todas as questões relevantes ao
deslinde da controvérsia de modo integral e adequado, apenas não adotando a tese vertida pela parte ora
Agravante. Inexistência de omissão. II - A responsabilidade civil ambiental é objetiva; porém, tratando-se de
responsabilidade administrativa ambiental, o terceiro, proprietário da carga, por não ser o efetivo causador
do dano ambiental, responde subjetivamente pela degradação ambiental causada pelo transportador. III -
Agravo regimental provido”.
STJ, AgRg no AREsp 62.584/RJ, 1ª T., Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. p/ Acórdão Min. Regina Helena Costa, j.
18.06.2015.

C) 1ª SEÇÃO DO STJ: “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA SUBMETIDOS AO ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO 2/STJ. EMBARGOS À EXECUÇÃO. AUTO DE INFRAÇÃO LAVRADO EM RAZÃO DE DANO
AMBIENTAL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. 1. Na origem,
foram opostos embargos à execução objetivando a anulação de auto de infração lavrado pelo Município
de Guapimirim - ora embargado -, por danos ambientais decorrentes do derramamento de óleo diesel
pertencente à ora embargante, após descarrilamento de composição férrea da Ferrovia Centro Atlântica
(FCA). 2. A sentença de procedência dos embargos à execução foi reformada pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro pelo fundamento de que “o risco da atividade desempenhada pela apelada ao
causar danos ao meio ambiente consubstancia o nexo causal de sua responsabilidade, não havendo,
por conseguinte, que se falar em ilegitimidade da embargante para figurar no polo passivo do auto de
infração que lhe fora imposto”, entendimento esse mantido no acórdão ora embargado sob o fundamento
de que “[a] responsabilidade administrativa ambiental é objetiva”. 3. Ocorre que, conforme assentado
pela Segunda Turma no julgamento do REsp 1.251.697/PR, de minha relatoria, DJe de 17/4/2012), “a
aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível
(para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade,

45 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento
subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano”. 4. No mesmo sentido decidiu
a Primeira Turma em caso análogo envolvendo as mesmas partes: “A responsabilidade civil ambiental
é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental, o terceiro, proprietário
da carga, por não ser o efetivo causador do dano ambiental, responde subjetivamente pela degradação
ambiental causada pelo transportador” (AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. p/ Acórdão Ministra Regina Helena
Costa, DJe de 7/10/2015). 5. Embargos de divergência providos”.
STJ, EREsp 1.318.051/RJ, 1ª Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 08.05.2019.

ÿÿ Pontos de destaque: Os julgados estabelecem que a aplicação de penalidades administrativas não


obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas
deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo
alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal
entre a conduta e o dano.

36. Principio do poluidor-pagador, exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a concessão de
licença urbanístico-ambiental e responsabilidade objetiva pelo dano ecológico.
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR
DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM
ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA
POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO
DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O
LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA
PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO
DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de
Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC
e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três
pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por
maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar procedente
a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o proprietário dos custos com a
demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em
terreno de marinha e promontório, este último um acidente geográfico definido como “cabo formado por
rochas ou penhascos altos” (Houaiss). Afirma a união que a edificação se encontra, após aterro ilegal da
área, “rigorosamente dentro do mar”, o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre circulação
e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original):
“O empreendimento em questão está localizado, segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386,
em área chamada promontório. Esta área é considerada de preservação permanente, pela legislação do

46 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação
municipal (Lei Municipal n° 426/84)”. 5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova
técnica dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em
questão como potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir o
Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) - e b) pela natureza
non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma municipal,
art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como “Zona de Preservação Permanente”, e em legislação
estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais
conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que lhe
são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação ou
convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre
as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de Impacto
Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA. 8. Mister
não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (= o
posterius) com o próprio EPIA/RIMA (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela,
sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo
de forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos
interessados, inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em
si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie
todo e qualquer empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao
órgão ambiental estadual e municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma
prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação
do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e peculiaridades do sítio (como áreas representativas
e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção,
terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão, transformando em
um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos federais
envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.). 10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta
a Lei 7.661/1988, adota como “princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira” a “cooperação entre
as esferas de governo” (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada vez
mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a “precaução” (art. 5°,
incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando,
na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que
sobra para examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela
visão monopolista-exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a

47 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência
do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos
que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca
do elemento subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e
de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art.
2°, caput, da Lei 6.938/81), inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se
em região já ecologicamente deteriorada ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável
ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação).
Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso direito de
poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou desmataram o meio ambiente
protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em
obiter dictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta do aresto recorrido, o
Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar o
Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso Especial de Mauro
Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público Federal providos”
STJ, REsp 769.753/SC, 2ª T., Ministro Herman Benjamin, j. 08.09.2009.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que é inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que
lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação
ou convalidação, na medida em que a Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro, previu, entre as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo
Prévio de Impacto Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA.

37. Responsabilidade objetiva pelo dano ecológico e princípios da reparação integral e da priorização da
reparação “in natura”.
“ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO DE VEGETAÇÃO NATIVA (CERRADO)
SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS.
4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL,
DO POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD
PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI
DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL. 1.
Cuidam os autos de ação civil pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais

48 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

causados pelo desmatamento de vegetação nativa (Cerrado). O juiz de primeiro grau e o Tribunal de
Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o réu a repará-lo; porém,
julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual. 2. A legislação de
amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que
lhes seja mais favorável e melhor possa viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio
essendi da norma. A hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura. 3. Ao
responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental, não se deve confundir prioridade da recuperação in
natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de repristinação
natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar),
e abstenção de uso e de nova lesão (obrigação de não fazer). 4. De acordo com a tradição do Direito
brasileiro, imputar responsabilidade civil ao agente causador de degradação ambiental difere de fazê-lo
administrativa ou penalmente. Logo, eventual absolvição no processo criminal ou perante a Administração
Pública não influi, como regra, na responsabilização civil, tirantes as exceções em numerus clausus do
sistema legal, como a inequívoca negativa do fato ilícito (não ocorrência de degradação ambiental, p. ex.)
ou da autoria (direta ou indireta), nos termos do art. 935 do Código Civil. 5. Nas demandas ambientais,
por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum, admite-se a condenação do réu,
simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer, não fazer e indenizar. Aí se encontra típica obrigação
cumulativa ou conjuntiva. Assim, na interpretação dos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), e do art. 3º da Lei 7.347/85, a conjunção “ou” opera com valor aditivo,
não introduz alternativa excludente. Essa posição jurisprudencial leva em conta que o dano ambiental
é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade
do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos
próprios processos ecológicos em si mesmos considerados). 6. Se o bem ambiental lesado for imediata
e completamente restaurado ao status quo ante (reductio ad pristinum statum, isto é, restabelecimento
à condição original), não há falar, ordinariamente, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no
futuro (= prestação jurisdicional prospectiva), de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente
para reverter ou recompor integralmente, no terreno da responsabilidade civil, as várias dimensões do dano
ambiental causado; por isso não exaure os deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e da
reparação in integrum. 7. A recusa de aplicação ou aplicação parcial dos princípios do poluidor-pagador e da
reparação in integrum arrisca projetar, moral e socialmente, a nociva impressão de que o ilícito ambiental
compensa. Daí a resposta administrativa e judicial não passar de aceitável e gerenciável “risco ou custo do
negócio”, acarretando o enfraquecimento do caráter dissuasório da proteção legal, verdadeiro estímulo
para que outros, inspirados no exemplo de impunidade de fato, mesmo que não de direito, do infrator
premiado, imitem ou repitam seu comportamento deletério. 8. A responsabilidade civil ambiental deve ser
compreendida o mais amplamente possível, de modo que a condenação a recuperar a área prejudicada não
exclua o dever de indenizar - juízos retrospectivo e prospectivo. (...)”.

49 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

STJ, REsp 1.198.727/MG, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14.08.2012.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que, ao responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental,


não se deve confundir prioridade da recuperação in natura do bem degradado com impossibilidade de
cumulação simultânea dos deveres de repristinação natural (obrigação de fazer), compensação ambiental
e indenização em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso e de nova lesão (obrigação de não fazer),
bem como que a responsabilidade civil ambiental deve ser compreendida o mais amplamente possível, de
modo que a condenação a recuperar a área prejudicada não exclua o dever de indenizar - juízos retrospectivo
e prospectivo.

38. Responsabilidade objetiva do poluidor, adoção da “teoria do risco integral” e inadmissibilidade das
excludentes de ilicitude e
A) “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR
DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM
ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA
POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO
DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O
LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA
PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO
DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de
Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC
e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três
pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por
maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar procedente
a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o proprietário dos custos com a
demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em
terreno de marinha e promontório, este último um acidente geográfico definido como “cabo formado por
rochas ou penhascos altos” (Houaiss). Afirma a união que a edificação se encontra, após aterro ilegal da
área, “rigorosamente dentro do mar”, o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre circulação
e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original):
“O empreendimento em questão está localizado, segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386,
em área chamada promontório. Esta área é considerada de preservação permanente, pela legislação do
Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação
municipal (Lei Municipal n° 426/84)”. 5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova
técnica dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em
questão como potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir
o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (Epia) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza

50 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma municipal,
art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como “Zona de Preservação Permanente”, e em legislação
estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais
conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que lhe
são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação
ou convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu,
entre as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de
Impacto Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - Rima. 8.
Mister não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (=
o posterius) com o próprio Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela,
sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo de
forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos
interessados, inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em
si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie
todo e qualquer empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao
órgão ambiental estadual e municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma
prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação
do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e peculiaridades do sítio (como áreas representativas
e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção,
terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão, transformando em
um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos federais
envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.). 10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta
a Lei 7.661/1988, adota como “princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira” a “cooperação entre
as esferas de governo” (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada vez
mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a “precaução” (art. 5°,
incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando,
na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que
sobra para examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela
visão monopolista-exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a
jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência
do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos
que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca
do elemento subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de

51 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e
de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art.
2°, caput, da Lei 6.938/81), inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se
em região já ecologicamente deteriorada ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável
ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação).
Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso direito de
poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou desmataram o meio ambiente
protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em
obiter dictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta do aresto recorrido, o
Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar o
Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso Especial de Mauro
Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público Federal providos”
STJ, REsp 769.753/SC, 2ª Turma, Ministro Herman Benjamin, j. 08.09.2009.

B) “DIREITO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA POR DANO AMBIENTAL PRIVADO. O particular
que deposite resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da existência de
cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de outros particulares
seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que, por conduta
não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato com os
resíduos. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente
dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva,
fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra
o princípio do poluidor-pagador. A responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que
está implícito em determinadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de
energia. Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a
determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob
seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente
ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de
risco criada pelo agente. Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a
fonte de origem do risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua
atividade independente de culpa. Nesse sentido, a teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade
civil restou consagrada no enunciado normativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs:
“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem”. A teoria do risco integral constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em
que o nexo causal é fortalecido de modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente
o abalariam (v.g. culpa da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo

52 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

fundamento para hipóteses legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado,
como ocorre com o dano nuclear (art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano
ambiental (art. 225, caput e § 3º, da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação
com o meio ambiente. Nesse mesmo sentido, extrai-se da doutrina que, na responsabilidade civil pelo dano
ambiental, não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa da vítima, de caso fortuito ou de
força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local indicando a presença de material orgânico não
é suficiente para excluir a responsabilidade civil”
STJ, REsp 1.373.788/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06.05.2014.

ÿÿ Pontos de destaque: Os julgados estabelecem que a teoria do risco integral adotada pelo Direito
Ambiental constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido de
modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa da vítima;
fato de terceiro, força maior), de sorte que não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa
da vítima, de caso fortuito ou de força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local indicando a
presença de material orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil.

39. Responsabilidade objetiva do Estado por omissão (responsável indireto), responsabilidade solidária e
execução subsidiária.
“AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI 9.985/00). OCUPAÇÃO E
CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E ESBULHO
DE BEM PÚBLICO. DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO. OMISSÃO. ART.
70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, § 1º, DO CÓDIGO CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º,
IV, 6º E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE). CONCEITO DE
POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA SOLIDÁRIA, OBJETIVA, ILIMITADA E DE
EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. 1. Já não se duvida, sobretudo à luz da Constituição
Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona, mais na fórmula de dever do que de direito ou
faculdade, a função de implementar a letra e o espírito das determinações legais, inclusive contra si próprio
ou interesses imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o ordenamento
constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a possibilidade, conforme a conveniência
ou oportunidade do momento, de por ela zelar ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou, frontal
ou indiretamente, contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as
presentes e futuras gerações, como patrono que é da preservação e restauração dos processos ecológicos
essenciais, incumbe ao Estado “definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção” (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de Unidades de Conservação não é um fim

53 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

em si mesmo, vinculada que se encontra a claros objetivos constitucionais e legais de proteção da Natureza.
Por isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade – diretamente associada à insustentável
e veloz destruição de habitat natural –, se não vier acompanhada do compromisso estatal de, sincera e
eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um “sistema de áreas protegidas de papel ou de
fachada” existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores
de plantão como autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. 4.
Qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a
responsabilidade civil pelo dano ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos
princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor
debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de facilitação do acesso à Justiça, entre as quais se inclui
a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental. Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a
responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva ou por culpa, regime comum ou geral esse que,
assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais. Primeiro, quando a
responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema especial,
como na proteção do meio ambiente (Lei 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º). Segundo, quando as
circunstâncias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele
que jorra, consoante a construção doutrinária e jurisprudencial, do texto constitucional. 6. O dever-poder de
controle e fiscalização ambiental (= dever-poder de implementação), além de inerente ao exercício do poder
de polícia do Estado, provém diretamente do marco constitucional de garantia dos processos ecológicos
essenciais (em especial os arts. 225, 23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação, sobretudo da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981, arts. 2º, I e V, e 6º) e da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Ilícitos
Administrativos contra o Meio Ambiente). 7. Nos termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/1998, são titulares do
dever-poder de implementação “os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de
Meio Ambiente – SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização”, além de outros a que se confira
tal atribuição. 8. Quando a autoridade ambiental “tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a
promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de
corresponsabilidade” (art. 70, § 3°, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). 9. Diante de ocupação ou
utilização ilegal de espaços ou bens públicos, não se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental
(e também urbanística) o Administrador que se limita a embargar obra ou atividade irregular e a denunciá-la
ao Ministério Público ou à Polícia, ignorando ou desprezando outras medidas, inclusive possessórias, que a
lei põe à sua disposição para eficazmente fazer valer a ordem administrativa e, assim, impedir, no local, a
turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos bens de uso comum do povo, resultante de desmatamento,
construção, exploração ou presença humana ilícitos. 10. A turbação e o esbulho ambiental-urbanístico
podem – e no caso do Estado, devem – ser combatidos pelo desforço imediato, medida prevista atualmente
no art. 1.210, § 1º, do Código Civil de 2002 e imprescindível à manutenção da autoridade e da credibilidade

54 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

da Administração, da integridade do patrimônio estatal, da legalidade, da ordem pública e da conservação


de bens intangíveis e indisponíveis associados à qualidade de vida das presentes e futuras gerações. 11. O
conceito de poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo, confundindo-se, por expressa disposição
legal, com o de degradador da qualidade ambiental, isto é, toda e qualquer “pessoa física ou jurídica, de
direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental” (art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981, grifo adicionado). 12. Para o fim de apuração do nexo de causalidade
no dano urbanístico-ambiental e de eventual solidariedade passiva, equiparam-se quem faz, quem não faz
quando deveria fazer, quem não se importa que façam, quem cala quando lhe cabe denunciar, quem financia
para que façam e quem se beneficia quando outros fazem. 13. A Administração é solidária, objetiva e
ilimitadamente responsável, nos termos da Lei 6.938/1981, por danos urbanístico-ambientais decorrentes
da omissão do seu dever de controlar e fiscalizar, na medida em que contribua, direta ou indiretamente,
tanto para a degradação ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou perpetuação,
tudo sem prejuízo da adoção, contra o agente público relapso ou desidioso, de medidas disciplinares, penais,
civis e no campo da improbidade administrativa. 14. No caso de omissão de dever de controle e fiscalização,
a responsabilidade ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com ordem de
preferência). 15. A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o
título executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o
degradador original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento
patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da
prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com
a desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). 16. Ao acautelar a plena solvabilidade
financeira e técnica do crédito ambiental, não se insere entre as aspirações da responsabilidade solidária e
de execução subsidiária do Estado – sob pena de onerar duplamente a sociedade, romper a equação do
princípio poluidor-pagador e inviabilizar a internalização das externalidades ambientais negativas –
substituir, mitigar, postergar ou dificultar o dever, a cargo do degradador material ou principal, de recuperação
integral do meio ambiente afetado e de indenização pelos prejuízos causados. 17. Como consequência da
solidariedade e por se tratar de litisconsórcio facultativo, cabe ao autor da Ação optar por incluir ou não o
ente público na petição inicial. 18. Recurso Especial provido”.
STJ, REsp 1.071.741/SP, 2.ª T., rel. Ministro Herman Benjamin, j. 24.03.2009.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a reparação do dano ao meio ambiente é direito
fundamental indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à
recomposição dos danos ambientais, com a fixação da tese segundo a qual: “É imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental”.

40. Imprescritibilidade da pretensão de reparação do dano ambiental


“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 999. CONSTITUCIONAL. DANO AMBIENTAL.

55 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

REPARAÇÃO. IMPRESCRITIBILIDADE.
1. Debate-se nestes autos se deve prevalecer o princípio da segurança jurídica, que beneficia o autor do
dano ambiental diante da inércia do Poder Público; ou se devem prevalecer os princípios constitucionais de
proteção, preservação e reparação do meio ambiente, que beneficiam toda a coletividade.

2. Em nosso ordenamento jurídico, a regra é a prescrição da pretensão reparatória. A imprescritibilidade, por


sua vez, é exceção. Depende, portanto, de fatores externos, que o ordenamento jurídico reputa inderrogáveis
pelo tempo.
3. Embora a Constituição e as leis ordinárias não disponham acerca do prazo prescricional para a reparação
de danos civis ambientais, sendo regra a estipulação de prazo para pretensão ressarcitória, a tutela
constitucional a determinados valores impõe o reconhecimento de pretensões imprescritíveis.
4. O meio ambiente deve ser considerado patrimônio comum de toda humanidade, para a garantia de
sua integral proteção, especialmente em relação às gerações futuras. Todas as condutas do Poder Público
estatal devem ser direcionadas no sentido de integral proteção legislativa interna e de adesão aos pactos e
tratados internacionais protetivos desse direito humano fundamental de 3ª geração, para evitar prejuízo da
coletividade em face de uma afetação de certo bem (recurso natural) a uma finalidade individual.
5. A reparação do dano ao meio ambiente é direito fundamental indisponível, sendo imperativo o
reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à recomposição dos danos ambientais.
6. Extinção do processo, com julgamento de mérito, em relação ao Espólio de Orleir Messias Cameli e a
Marmud Cameli Ltda, com base no art. 487, III, b do Código de Processo Civil de 2015, ficando prejudicado
o Recurso Extraordinário. Afirmação de tese segundo a qual É imprescritível a pretensão de reparação civil
de dano ambiental.”
STF, RE 654.833/AC, Tribunal Pleno, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 20.04.2020.

ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a reparação do dano ao meio ambiente é direito
fundamental indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à
recomposição dos danos ambientais, com a fixação da tese segundo a qual: “É imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental”.

🏳🏳 DIREITO DO CONSUMIDOR

41. Direito do consumidor, superenvididamento, dignidade da pessoa humana e mínimo existencial.


RECURSO ESPECIAL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. DESCONTO EM CONTA-
CORRENTE. POSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO A 30% DA REMUNERAÇÃO DO DEVEDOR. SUPERENDIVIDAMENTO.
PRESERVAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL. (...) 1. Validade da cláusula autorizadora de desconto em conta-
corrente para pagamento das prestações do contrato de empréstimo, ainda que se trate de conta utilizada

56 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

para recebimento de salário. 2. Os descontos, todavia, não podem ultrapassar 30% (trinta por cento) da
remuneração líquida percebida pelo devedor, após deduzidos os descontos obrigatórios (Previdência e
Imposto de Renda). 3. Preservação do mínimo existencial, em consonância com o princípio da dignidade
humana. Doutrina sobre o tema. 4. Precedentes específicos da Terceira e da Quarta Turma do STJ. 5. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO” (STJ, REsp 1.584.501/SP, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06.10.2016)
No mesmo sentido: AgInt no REsp 1565533/PR, 4ª T., Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 23.08.2016; AgRg no
AREsp 513.270/GO, 3ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 20.11.2014.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a aplicação do direito-garantia ao mínimo existencial nas relações
jurídicas de consumo (e, consequentemente, reconhece a eficácia dos direitos fundamentais nas relações
entre particulares), como forma de assegurar a proteção da dignidade do consumidor superendividado.

42. Hipervulnerabilidade do consumidor, direito à informação adequada e obrigação de informação do


consumidor.
DIREITO DO CONSUMIDOR. ADMINISTRATIVO. NORMAS DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR.
ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA
TRANSPARÊNCIA. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. OBRIGAÇÃO DE SEGURANÇA.
DIREITO À INFORMAÇÃO. DEVER POSITIVO DO FORNECEDOR DE INFORMAR, ADEQUADA E CLARAMENTE,
SOBRE RISCOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS. DISTINÇÃO ENTRE INFORMAÇÃO-CONTEÚDO E INFORMAÇÃO-
ADVERTÊNCIA. ROTULAGEM. PROTEÇÃO DE CONSUMIDORES HIPERVULNERÁVEIS. CAMPO DE APLICAÇÃO
DA LEI DO GLÚTEN (LEI 8.543/92 AB-ROGADA PELA LEI 10.674/2003) E EVENTUAL ANTINOMIA COM O ART.
31 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. JUSTO RECEIO DA
IMPETRANTE DE OFENSA À SUA LIVRE INICIATIVA E À COMERCIALIZAÇÃO DE SEUS PRODUTOS. SANÇÕES
ADMINISTRATIVAS POR DEIXAR DE ADVERTIR SOBRE OS RISCOS DO GLÚTEN AOS DOENTES CELÍACOS.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. 1. Mandado de Segurança
Preventivo fundado em justo receio de sofrer ameaça na comercialização de produtos alimentícios
fabricados por empresas que integram a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação ABIA, ora
impetrante, e ajuizado em face da instauração de procedimentos administrativos pelo PROCON-MG, em
resposta ao descumprimento do dever de advertir sobre os riscos que o glúten, presente na composição
de certos alimentos industrializados, apresenta à saúde e à segurança de uma categoria de consumidores
os portadores de doença celíaca. 2. A superveniência da Lei 10.674/2003, que ab-rogou a Lei 8.543/92,
não esvazia o objeto do mandamus, pois, a despeito de disciplinar a matéria em maior amplitude, não
invalida a necessidade de, por força do art. 31 do Código de Defesa do Consumidor CDC, complementar a
expressão “contém glúten” com a advertência dos riscos que causa à saúde e segurança dos portadores da
doença celíaca. É concreto o justo receio das empresas de alimentos em sofrer efetiva lesão no seu alegado
direito líquido e certo de livremente exercer suas atividades e comercializar os produtos que fabricam. 3. As
normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de “ordem pública e interesse social”. São, portanto,

57 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado
Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado. 4. O ponto de partida
do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir
igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar
com exageros que, sem utilidade real, obstem o progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo
e a própria lucratividade dos negócios. 5. O direito à informação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV,
da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da Transparência, sendo
também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança, todos abraçados pelo CDC. 6.
No âmbito da proteção à vida e saúde do consumidor, o direito à informação é manifestação autônoma da
obrigação de segurança. 7. Entre os direitos básicos do consumidor, previstos no CDC, inclui-se exatamente
a “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art.
6°, III). 8. Informação adequada, nos termos do art. 6°, III, do CDC, é aquela que se apresenta simultaneamente
completa, gratuita e útil, vedada, neste último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo
uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer serventia para o consumidor. 9. Nas
práticas comerciais, instrumento que por excelência viabiliza a circulação de bens de consumo, “a oferta e
apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas
e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e
segurança dos consumidores” (art. 31 do CDC). 10. A informação deve ser correta (= verdadeira), clara (=
de fácil entendimento), precisa (= não prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou percepção)
e, por óbvio, em língua portuguesa. 11. A obrigação de informação é desdobrada pelo art. 31 do CDC, em
quatro categorias principais, imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (= características intrínsecas do
produto e serviço), b) informação-utilização (= como se usa o produto ou serviço), c) informação-preço (=
custo, formas e condições de pagamento), e d) informação-advertência (= riscos do produto ou serviço).
12. A obrigação de informação exige comportamento positivo, pois o CDC rejeita tanto a regra do caveat
emptor como a subinformação, o que transmuda o silêncio total ou parcial do fornecedor em patologia
repreensível, relevante apenas em desfavor do profissional, inclusive como oferta e publicidade enganosa
por omissão. 13. Inexistência de antinomia entre a Lei 10.674/2003, que surgiu para proteger a saúde
(imediatamente) e a vida (mediatamente) dos portadores da doença celíaca, e o art. 31 do CDC, que prevê
sejam os consumidores informados sobre o “conteúdo” e alertados sobre os “riscos” dos produtos ou serviços
à saúde e à segurança. 14. Complementaridade entre os dois textos legais. Distinção, na análise das duas leis,
que se deve fazer entre obrigação geral de informação e obrigação especial de informação, bem como entre
informação-conteúdo e informação-advertência. 15. O CDC estatui uma obrigação geral de informação (=
comum, ordinária ou primária), enquanto outras leis, específicas para certos setores (como a Lei 10.674/03),
dispõem sobre obrigação especial de informação (= secundária, derivada ou tópica). Esta, por ter um caráter

58 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

mínimo, não isenta os profissionais de cumprirem aquela. 16. Embora toda advertência seja informação,
nem toda informação é advertência. Quem informa nem sempre adverte. 17. No campo da saúde e da
segurança do consumidor (e com maior razão quanto a alimentos e medicamentos), em que as normas
de proteção devem ser interpretadas com maior rigor, por conta dos bens jurídicos em questão, seria um
despropósito falar em dever de informar baseado no homo medius ou na generalidade dos consumidores,
o que levaria a informação a não atingir quem mais dela precisa, pois os que padecem de enfermidades
ou de necessidades especiais são frequentemente a minoria no amplo universo dos consumidores. 18. Ao
Estado Social importam não apenas os vulneráveis, mas sobretudo os hipervulneráveis, pois são esses que,
exatamente por serem minoritários e amiúde discriminados ou ignorados, mais sofrem com a massificação
do consumo e a “pasteurização” das diferenças que caracterizam e enriquecem a sociedade moderna. 19. Ser
diferente ou minoria, por doença ou qualquer outra razão, não é ser menos consumidor, nem menos cidadão,
tampouco merecer direitos de segunda classe ou proteção apenas retórica do legislador. 20. O fornecedor
tem o dever de informar que o produto ou serviço pode causar malefícios a um grupo de pessoas, embora
não seja prejudicial à generalidade da população, pois o que o ordenamento pretende resguardar não é
somente a vida de muitos, mas também a vida de poucos. 21. Existência de lacuna na Lei 10.674/2003, que
tratou apenas da informação-conteúdo, o que leva à aplicação do art. 31 do CDC, em processo de integração
jurídica, de forma a obrigar o fornecedor a estabelecer e divulgar, clara e inequivocamente, a conexão entre
a presença de glúten e os doentes celíacos. 22. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido.
STJ, REsp 586.316/MG, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, j. 17.04.2007.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece, entre outros pontos, que o direito à informação, abrigado
expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio
da Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança,
todos abraçados pelo CDC, bem como que a informação deve ser correta (= verdadeira), clara (= de fácil
entendimento), precisa (= não prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou percepção) e, por
óbvio, em língua portuguesa. 11. A obrigação de informação é desdobrada pelo art. 31 do CDC, em quatro
categorias principais, imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (= características intrínsecas do produto e
serviço), b) informação-utilização (= como se usa o produto ou serviço), c) informação-preço (= custo, formas
e condições de pagamento), e d) informação-advertência (= riscos do produto ou serviço).

43. Responsabilidade civil do fornecedor pela perda do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor.
“RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. TEMPO DE ATENDIMENTO PRESENCIAL EM AGÊNCIAS BANCÁRIAS.
DEVER DE QUALIDADE, SEGURANÇA, DURABILIDADE E DESEMPENHO. ART. 4º, II, “D”, DO CDC. FUNÇÃO
SOCIAL DA ATIVIDADE PRODUTIVA. MÁXIMO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PRODUTIVOS. TEORIA
DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO. OFENSA INJUSTA E INTOLERÁVEL.
VALORES ESSENCIAIS DA SOCIEDADE. FUNÇÕES. PUNITIVA, REPRESSIVA E REDISTRIBUTIVA. 1. Cuida-se de

59 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

coletiva de consumo, por meio da qual a recorrente requereu a condenação do recorrido ao cumprimento
das regras de atendimento presencial em suas agências bancárias relacionadas ao tempo máximo de
espera em filas, à disponibilização de sanitários e ao oferecimento de assentos a pessoas com dificuldades
de locomoção, além da compensação dos danos morais coletivos causados pelo não cumprimento de
referidas obrigações. 2. Recurso especial interposto em: 23/03/2016; conclusos ao gabinete em: 11/04/2017;
julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é determinar se o descumprimento de normas municipais e
federais que estabelecem parâmetros para a adequada prestação do serviço de atendimento presencial
em agências bancárias é capaz de configurar dano moral de natureza coletiva. 4. O dano moral coletivo
é espécie autônoma de dano que está relacionada à integridade psico-física da coletividade, bem de
natureza estritamente transindividual e que, portanto, não se identifica com aqueles tradicionais atributos
da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico), amparados pelos danos morais individuais. 5.
O dano moral coletivo não se confunde com o somatório das lesões extrapatrimoniais singulares, por isso
não se submete ao princípio da reparação integral (art. 944, caput, do CC/02), cumprindo, ademais,
funções específicas. 6. No dano moral coletivo, a função punitiva - sancionamento exemplar ao ofensor
- é, aliada ao caráter preventivo - de inibição da reiteração da prática ilícita - e ao princípio da vedação
do enriquecimento ilícito do agente, a fim de que o eventual proveito patrimonial obtido com a prática
do ato irregular seja revertido em favor da sociedade. 7. O dever de qualidade, segurança, durabilidade e
desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do CDC, tem um
conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento
dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo. 8. O desrespeito voluntário das
garantias legais, com o nítido intuito de otimizar o lucro em prejuízo da qualidade do serviço, revela
ofensa aos deveres anexos ao princípio boa-fé objetiva e configura lesão injusta e intolerável à função
social da atividade produtiva e à proteção do tempo útil do consumidor. 9. Na hipótese concreta, a
instituição financeira recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em
lei municipal e federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta
e intolerável ao interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente
para a configuração do dano moral coletivo. 10. Recurso especial provido”. (STJ, REsp 1.737.412/SE, 3ª T.,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05.02.2019).
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a aplicação responsabilidade civil do fornecedor pela perda
do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor, na medida em que o dever de qualidade, segurança,
durabilidade e desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d,
do CDC, tem um conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo
aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo.

44. Responsabilidade objetiva do fornecedor pelo vício de quantidade e omissão ou deficiência quanto ao
seu dever de informação em relação ao consumidor.

60 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

“ADMINISTRATIVO. CONSUMIDOR. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. VÍCIO DE QUANTIDADE. VENDA DE


REFRIGERANTE EM VOLUME MENOR QUE O HABITUAL. REDUÇÃO DE CONTEÚDO INFORMADA NA PARTE
INFERIOR DO RÓTULO E EM LETRAS REDUZIDAS. INOBSERVÂNCIA DO DEVER DE INFORMAÇÃO. DEVER
POSITIVO DO FORNECEDOR DE INFORMAR. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. PRODUTO ANTIGO NO
MERCADO. FRUSTRAÇÃO DAS EXPECTATIVAS LEGÍTIMAS DO CONSUMIDOR. MULTA APLICADA PELO PROCON.
POSSIBILIDADE. ÓRGÃO DETENTOR DE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA DE ORDENAÇÃO. PROPORCIONALIDADE
DA MULTA ADMINISTRATIVA. SÚMULA 7/STJ. ANÁLISE DE LEI LOCAL, PORTARIA E INSTRUÇÃO NORMATIVA.
AUSÊNCIA DE NATUREZA DE LEI FEDERAL. SÚMULA 280/STF. DIVERGÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. (…). 1.
No caso, o Procon estadual instaurou processo administrativo contra a recorrente pela prática da infração
às relações de consumo conhecida como “maquiagem de produto” e “aumento disfarçado de preços”, por
alterar quantitativamente o conteúdo dos refrigerantes “Coca Cola”, “Fanta”, “Sprite” e “Kuat” de 600 ml
para 500 ml, sem informar clara e precisamente aos consumidores, porquanto a informação foi aposta
na parte inferior do rótulo e em letras reduzidas. Na ação anulatória ajuizada pela recorrente, o Tribunal
de origem, em apelação, confirmou a improcedência do pedido de afastamento da multa administrativa,
atualizada para R$ 459.434,97, e majorou os honorários advocatícios para R$ 25.000,00. 2. Hipótese, no
cível, de responsabilidade objetiva em que o fornecedor (lato sensu) responde solidariamente pelo vício
de quantidade do produto. 3. O direito à informação, garantia fundamental da pessoa humana expressa
no art. 5°, inciso XIV, da Constituição Federal, é gênero do qual é espécie também previsto no Código de
Defesa do Consumidor. 4. A Lei n. 8.078/1990 traz, entre os direitos básicos do consumidor, a “informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentam” (art. 6º, inciso
III). 5. Consoante o Código de Defesa do Consumidor, “a oferta e a apresentação de produtos ou serviços
devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas
características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre
outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores” (art. 31),
sendo vedada a publicidade enganosa, “inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo
por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços” (art. 37). 6.
O dever de informação positiva do fornecedor tem importância direta no surgimento e na manutenção da
confiança por parte do consumidor. A informação deficiente frustra as legítimas expectativas do consumidor,
maculando sua confiança. 7. A sanção administrativa aplicada pelo Procon reveste-se de legitimidade, em
virtude de seu poder de polícia (atividade administrativa de ordenação) para cominar multas relacionadas à
transgressão da Lei n. 8.078/1990, esbarrando o reexame da proporcionalidade da pena fixada no enunciado
da Súmula 7/STJ. 8. Leis locais, portarias e instruções normativas refogem ao conceito de lei federal, não
podendo ser analisadas por esta Corte, ante o óbice, por analogia, da Súmula 280/STF. (…). Recurso especial
a que se nega provimento”.

61 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

STJ, REsp 1364.915/MG, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, j. 14.05.2013.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a caracterização da responsabilidade objetiva do fornecedor


por vício de quantidade decorrente da venda de refrigerante em volume menor que o habitual com a redução
de conteúdo informada na parte inferior do rótulo e em letras reduzidas, caracterizando a inobservância do
dever de informação, como dever positivo do fornecedor de informar em flagrante violação do princípio da
confiança.

45. Direito do consumidor e teoria da perda de uma chance.


RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PERDA DE UMA CHANCE. DESCUMPRIMENTO DE CONTRATO
DE COLETA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS DO CORDÃO UMBILICAL DO RECÉM NASCIDO. NÃO
COMPARECIMENTO AO HOSPITAL. LEGITIMIDADE DA CRIANÇA PREJUDICADA. DANO EXTRAPATRIMONIAL
CARACTERIZADO. 1. Demanda indenizatória movida contra empresa especializada em coleta e armazenagem
de células tronco embrionárias, em face da falha na prestação de serviço caracterizada pela ausência de
prepostos no momento do parto. 2. Legitimidade do recém nascido, pois “as crianças, mesmo da mais
tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito
à integralidade mental, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação” (REsp.
1.037.759/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., julgado em 23/02/2010, DJe 05/03/2010). 3. A teoria da perda
de uma chance aplica-se quando o evento danoso acarreta para alguém a frustração da chance de obter
um proveito determinado ou de evitar uma perda. 4. Não se exige a comprovação da existência do dano
final, bastando prova da certeza da chance perdida, pois esta é o objeto de reparação. 5. Caracterização de
dano extrapatrimonial para criança que tem frustrada a chance de ter suas células embrionárias colhidas
e armazenadas para, se for preciso, no futuro, fazer uso em tratamento de saúde. 6. Arbitramento de
indenização pelo dano extrapatrimonial sofrido pela criança prejudicada. 7. Doutrina e jurisprudência acerca
do tema. 8. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1.291.247/RJ, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
19.08.2014).
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a aplicação da teoria da perda de uma chance . em face da
falha na prestação de serviço, de modo que não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando
prova da certeza da chance perdida, pois esta é o objeto de reparação, inclusive no sentido da caracterização
de dano extrapatrimonial.

46. Proteção pré-contratual do consumidor, vulnerabilidade e princípio da vinculação da oferta.


“DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. VÍCIO DO PRODUTO. AUTOMÓVEIS SEMINOVOS.
PUBLICIDADE QUE GARANTIA A QUALIDADE DO PRODUTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. USO DA MARCA.
LEGÍTIMA EXPECTATIVA DO CONSUMIDOR. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚM. 7/STJ. 1. O Código do
Consumidor é norteado principalmente pelo reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e pela
necessidade de que o Estado atue no mercado para minimizar essa hipossuficiência, garantindo, assim, a

62 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

igualdade material entre as partes. Sendo assim, no tocante à oferta, estabelece serem direitos básicos do
consumidor o de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°,
III) e o de receber proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 6°, IV). 2. É bem verdade
que, paralelamente ao dever de informação, se tem a faculdade do fornecedor de anunciar seu produto
ou serviço, sendo certo que, se o fizer, a publicidade deve refletir fielmente a realidade anunciada, em
observância à principiologia do CDC. Realmente, o princípio da vinculação da oferta reflete a imposição da
transparência e da boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, de forma que esta exsurge
como princípio máximo orientador, nos termos do art. 30. 3. Na hipótese, inequívoco o caráter vinculativo
da oferta, integrando o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou serviços se responsabiliza
também pelas expectativas que a publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando
veicula informação de produto ou serviço com a chancela de determinada marca, sendo a materialização do
princípio da boa-fé objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação,
proteção e informação, sob pena de responsabilidade. 4. A responsabilidade civil da fabricante decorre,
no caso concreto, de pelo menos duas circunstâncias: a) da premissa fática incontornável adotada pelo
acórdão de que os mencionados produtos e serviços ofertados eram avalizados pela montadora através da
mensagem publicitária veiculada; b) e também, de um modo geral, da percepção de benefícios econômicos
com as práticas comerciais da concessionária, sobretudo ao permitir a utilização consentida de sua marca na
oferta de veículos usados e revisados com a excelência da GM. 5. Recurso especial não provido”.
STJ, REsp 1.365.609/SP, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28.04.2015.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece o caráter vinculativo da oferta, integrando o contrato, de


modo que o fornecedor de produtos ou serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a
publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando veicula informação de produto ou serviço
com a chancela de determinada marca, sendo a materialização do princípio da boa-fé objetiva, exigindo
do anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena de
responsabilidade.

47. Propaganda enganosa, vulnerabilidade informacional e hipervulnerabilidade do consumidor.


““RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PROPAGANDA ENGANOSA.
COGUMELO DO SOL. CURA DO CÂNCER. ABUSO DE DIREITO. ART. 39, INCISO IV, DO CDC.
HIPERVULNERABILIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL COMPROVADO. 1. Cuida-se de ação por danos morais proposta por consumidor
ludibriado por propaganda enganosa, em ofensa a direito subjetivo do consumidor de obter informações
claras e precisas acerca de produto medicinal vendido pela recorrida e destinado à cura de doenças
malignas, dentre outras funções. 2. O Código de Defesa do Consumidor assegura que a oferta e
apresentação de produtos ou serviços propiciem informações corretas, claras, precisas e ostensivas a
respeito de características, qualidades, garantia, composição, preço, garantia, prazos de validade e

63 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

origem, além de vedar a publicidade enganosa e abusiva, que dispensa a demonstração do elemento
subjetivo (dolo ou culpa) para sua configuração. 3. A propaganda enganosa, como atestado pelas instâncias
ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, cuja conduta subsume-se à
hipótese de estado de perigo (art. 156 do Código Civil). 4. A vulnerabilidade informacional agravada ou
potencializada, denominada hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva
do manifesto desequilíbrio entre as partes. 5. O dano moral prescinde de prova e a responsabilidade de
seu causador opera-se in re ipsa em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo
consumidor. 6. Em virtude das especificidades fáticas da demanda, afigura-se razoável a fixação da verba
indenizatória por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). 7. Recurso especial provido”.
STJ, REsp 1.329.556/SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25.11.2014.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que a propaganda enganosa, como atestado pelas instâncias
ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, cuja conduta subsume-se à hipótese
de estado de perigo (art. 156 do Código Civil), na medida em que aA vulnerabilidade informacional agravada
ou potencializada, denominada hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva
do manifesto desequilíbrio entre as partes.

48. Publicidade abusiva e anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente,
às crianças.
“PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...). PUBLICIDADE DE ALIMENTOS
DIRIGIDA À CRIANÇA. ABUSIVIDADE. VENDA CASADA CARACTERIZADA. ARTS. 37, § 2º, E 39, I, DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. (...). 2. A hipótese dos autos caracteriza publicidade duplamente abusiva.
Primeiro, por se tratar de anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente,
às crianças. Segundo, pela evidente “venda casada”, ilícita em negócio jurídico entre adultos e, com maior
razão, em contexto de marketing que utiliza ou manipula o universo lúdico infantil (art. 39, I, do CDC). 3. In
casu, está configurada a venda casada, uma vez que, para adquirir/comprar o relógio, seria necessário
que o consumidor comprasse também 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos”. Recurso especial improvido.
(...) DO MARKETING ABUSIVO DIRIGIDO ÀS CRIANÇAS. É abusivo o marketing (publicidade ou promoção
de venda) de alimentos dirigido, direta ou indiretamente, às crianças. A decisão de compra e consumo de
gêneros alimentícios, sobretudo em época de crise de obesidade, deve residir com os pais. Daí a ilegalidade,
por abusivas, de campanhas publicitárias de fundo comercial que utilizem ou manipulem o universo lúdico
infantil (art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor). DA VENDA CASADA. A controvérsia cinge-se a
saber se ficou configurada a venda casada na estratégia de marketing desenvolvida pela recorrente, na qual,
mediante 5 (cinco) rótulos de produtos da linha “Gulosos”, o consumidor poderia comprar um relógio pelo
valor de R$ 5,00 (cinco reais). O Tribunal de origem, ao analisar todo o contexto fático da causa, assentou que
ficou configurada a venda casada no caso dos autos, pois os consumidores só poderiam adquirir o relógio se
comprassem 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos” e mediante o pagamento de R$ 5,00 (cinco reais). Confira-

64 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

se trecho do acórdão impugnado (fls. 1.233/1.234, e-STJ): “A publicidade discutida nos autos, referente à
linha de produtos “Gulosos” investiu na conhecida modalidade de atrelar um “brinde” à aquisição dos
produtos da marca. A palavra “brinde” significa presente, mimo. Normalmente, esse produto é utilizado
como uma forma de propaganda do estabelecimento, da marca ou de algum produto. Desse conceito, pode-
se concluir que os “brindes” deveriam ser entregues gratuitamente aos consumidores, o que não acontece
no presente caso. Aqui, os consumidores pagavam pelo “brinde”. A venda casada acontece quando um
consumidor, ao adquirir um produto, leva conjuntamente outro, seja da mesma espécie ou não. Esse instituto
pode ser visualizado quando o fornecedor de produtos ou serviços condiciona que o consumidor só pode
adquirir o primeiro se adquirir o segundo. Essa situação restou caracterizada nos autos. Os consumidores
somente poderiam adquirir o relógio se comprassem 05 produtos da linha “Gulosos” e ainda pagassem a
quantia de R$ 5,00. A venda do relógio, portanto, estava condicionada à compra dos bolinhos e biscoitos.
Sem estes, aquele não poderia ser adquirido. Essa prática é vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro.
O consumidor não pode ser obrigado a adquirir um produto que não deseja.” Sobre o tema, em relação à
interpretação do art. 39, I, do CDC, a doutrina considera como venda casada quando o “fornecedor nega-
se a fornecer o produto ou serviço, a não ser que o consumidor concorde em adquirir também um outro
produto ou serviço”. Destaca-se, ainda, que o referido instituto não está adstrito somente à compra e
venda, “valendo também para outros tipos de negócios jurídicos, de vez que o texto fala em ‘fornecimento’”
(BENJAMIN, Antonio Herman. In Manual do Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2010). No caso dos autos, ficou configurada a venda casada, visto que, para adquirir/comprar o relógio,
seria necessário que o consumidor comprasse também 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos”. Dessa forma,
irretocável o acórdão da origem, ao vedar que os responsáveis por crianças sejam constrangidos a comprar
determinados produtos que efetivamente não desejam”.
STJ, REsp 1.558.086/SP, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, j. 10.03.2016.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado reconhece a ilegalidade, por abusivas, de campanhas publicitárias de


fundo comercial que utilizem ou manipulem o universo lúdico infantil, notadamente por meio da venda
casada.

49. Banco de dados, direitos à intimidade e à proteção da vida privada e eficácia entre particulares dos
direitos fundamentais..
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCOS DE DADOS.
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. PRIVACIDADE E INTIMIDADE. AUTODETERMINAÇÃO INFORMATIVA. DIREITOS
FUNDAMENTAIS. EFICÁCIA HORIZONTAL. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.
ANOTAÇÕES. CARTÓRIOS DE PROTESTO. TERMO INICIAL DO PRAZO. ART. 43, § 1º, DO CDC. DATA DO
VENCIMENTO DA DÍVIDA. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. ART. 927, § 3º, DO CPC/15. PRINCÍPIO. PROTEÇÃO
DA CONFIANÇA LEGÍTIMA. REGIME DE TRANSIÇÃO. ART. 23 DA LINDB. ÔNUS E PREJUÍZOS ANORMAIS
OU EXCESSIVOS. (...) (...) 7. Os direitos à intimidade e à proteção da vida privada, diretamente

65 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

relacionados à utilização de dados pessoais por bancos de dados de proteção ao crédito, consagram o
direito à autodeterminação informativa e encontram guarida constitucional no art. 5º, X, da Carta Magna,
que deve ser aplicado nas relações entre particulares por força de sua eficácia horizontal e privilegiado por
imposição do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais. 8. In casu, ao menos desde
o julgamento pela 3ª Turma do REsp 1316117/SC, ocorrido em 26/04/2016, não há jurisprudência
consolidada em relação ao termo inicial do prazo máximo de inscrição da anotação nos cadastros de
proteção ao crédito, o que permite concluir pela inexistência de jurisprudência em sentido substancial,
capaz de ensejar nos jurisdicionados uma confiança racionalmente aceitável de estabilidade capaz de
subsidiar uma legítima expectativa de certeza objetiva de resposta jurisdicional. 9. Ademais, não existe
desproporcionalidade na imediata adoção da vedação ao registro de anotações negativas sem que conste a
data de vencimento da dívida, pois a mera suspensão, até efetiva regularização do procedimento, da
anotação de registros provenientes de cartórios de protesto que não contenham essa informação, não gera
ônus excessivos ou desproporcionais para a embargante e evita a perpetuação dessa lesão aos direitos
dos consumidores. 10. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos infringentes”.
STJ, EDcl no REsp 1630889 / DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27.11.2018.

ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que os direitos à intimidade e à proteção da vida privada,
diretamente relacionados à utilização de dados pessoais por bancos de dados de proteção ao crédito,
consagram o direito à autodeterminação informativa e encontram guarida constitucional no art. 5º, X,
da Carta Magna, que deve ser aplicado nas relações entre particulares por força de sua eficácia horizontal e
privilegiado por imposição do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais..

50. Bancos de dados, direitos de personalidade do consumidor e termo inicial do limite temporal de cinco
anos em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência.
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCOS DE DADOS. PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
PRINCÍPIO DA FINALIDADE. PRINCÍPIO DA VERACIDADE DA INFORMAÇÃO. ART. 43 DO CDC. PRAZOS DE
MANUTENÇÃO DE INFORMAÇÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. PRESCRIÇÃO DA DÍVIDA. TERMO
INICIAL. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO ARQUIVISTA. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. RESULTADO
PRÁTICO EQUIVALENTE AO ADIMPLEMENTO. ART. 84 DO CDC. SENTENÇA. ABRANGÊNCIA NACIONAL.
ART. 16 DA LEI 7.347/85. (...) 2. O propósito recursal é determinar qual o termo inicial do limite temporal
previsto no § 1º do art. 43 do CDC, a quem cabe a responsabilidade pela verificação do prazo máximo de
permanência da inscrição em cadastros de proteção ao crédito, na hipótese de anotações decorrentes de
protesto de títulos e a possibilidade de configuração de danos morais indenizáveis. 3. A essência - e,
por conseguinte, a função social dos bancos de dados - é reduzir a assimetria de informação entre
o credor/vendedor, garantindo informações aptas a facilitarem a avaliação do risco dos potenciais
clientes, permitindo aos credores e comerciantes estabelecer preços, taxas de juros e condições de
pagamento justas e diferenciadas para bons e maus pagadores. 4. Em vista da tensão com os direitos da

66 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

personalidade e da dignidade da pessoa humana, o CDC, disciplinando a matéria, atribuiu caráter público
às entidades arquivistas, para instituir um amplo, rigoroso e público controle de suas operações, no
interesse da comunidade. 5. O princípio da finalidade atua de forma preventiva, impedindo que os dados -
na maioria das vezes negativos e obtidos sem o consentimento dos consumidores - sejam desvirtuados
pelos usuários do sistema, para garantir o débito, punir o devedor faltoso ou coagir ao pagamento. 6. Os
dados cadastrados de consumidores devem ser objetivos, claros e verdadeiros, haja vista que informações
desatualizadas ou imprecisas dificultam a efetiva proteção ao crédito e prejudicam a atividade econômica
do consumidor e também do fornecedor. 7. As entidades mantenedoras de cadastros de crédito devem
responder solidariamente com a fonte e o consulente pela inexatidão das informações constantes em
seus arquivos e pelos danos que podem causar danos aos consumidores (art. 16 da Lei 12.414/2011). 8.
Nas obrigações de fazer no Direito do Consumidor, o juiz deve conceder a tutela específica da obrigação
ou determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento (art. 84 do
CDC). 9. A jurisprudência do STJ concilia e harmoniza os prazos do § 1º com o do § 5º do art. 43 do CDC,
para estabelecer que a manutenção da inscrição negativa nos cadastros de proteção ao crédito respeita a
exigibilidade do débito inadimplido, tendo, para tanto, um limite máximo de cinco anos que pode ser,
todavia, restringido, se for menor o prazo prescricional para a cobrança do crédito. 10. Em razão do respeito
à exigibilidade do crédito e ao princípio da veracidade da informação, o termo inicial do limite temporal de
cinco anos em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência é contado do primeiro
dia seguinte à data de vencimento da dívida. 11. Os arquivistas devem adotar a posição que evite o
dano potencial ao direito da personalidade do consumidor, razão pela qual é legítima a imposição
da obrigação de não-fazer, consistente em não incluir em sua base de dados informações coletadas dos
cartórios de protestos, sem a informação do prazo de vencimento da dívida, para controle de ambos os
limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei 8.078/90. 12. Condenação genérica das recorridas à
indenização dos danos materiais e compensação dos danos morais eventual e individualmente sofridos
pelos consumidores, desde que seja comprovado que todas as anotações em seus nomes sejam
imprecisas em razão de sua desatualização. 13. Abrangência da decisão proferida em ação coletiva em
todo o território nacional, respeitados os limites objetivos e subjetivos do que decidido. Tese repetitiva. 14.
Recurso especial provido”. STJ, REsp 1.630.889/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11.09.2018.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que a jurisprudência do STJ concilia e harmoniza os prazos
do § 1º com o do § 5º do art. 43 do CDC, para estabelecer que a manutenção da inscrição negativa nos
cadastros de proteção ao crédito respeita a exigibilidade do débito inadimplido, tendo, para tanto, um
limite máximo de cinco anos que pode ser, todavia, restringido, se for menor o prazo prescricional para
a cobrança do crédito, bem como que os arquivistas devem adotar a posição que evite o dano potencial ao
direito da personalidade do consumidor, razão pela qual é legítima a imposição da obrigação de não-fazer,
consistente em não incluir em sua base de dados informações coletadas dos cartórios de protestos, sem a
informação do prazo de vencimento da dívida, para controle de ambos os limites temporais estabelecidos

67 www.cursocei.com
Direitos Difusos e Coletivos na
jurisprudência dos Tribunais Superiores www.cursocei.com
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

no art. 43 da Lei 8.078/90.

68 www.cursocei.com

Você também pode gostar