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50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ - Direitos Difusos e Coletivos PDF
50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ - Direitos Difusos e Coletivos PDF
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PROFESSORES
Júlio Camargo de Azevedo. Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade de São
Paulo (USP). Especialista em Direito Processual Civil e Bacharel pela Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Defensor Público Estadual (SP). Coordenador do
Grupo de Estudos de Direito Processual Civil da Defensoria Pública de São Paulo (GEDPC-
DPSP). Membro colaborador do Núcleo Especializado dos Direitos da Pessoa Idosa e da
Pessoa com Deficiência (NUDIPED). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual
(IBDP) e do Centro de Estudos Avançados de Processo (CEAPRO). Autor do livro “Manual
de Prática Cível para a Defensoria Pública” (Editora CEI). Vencedor do VII Prêmio “Justiça
para Todas e Todos – Josephina Bacariça” na categoria Defensor Público. Pesquisador no
Global Access to Justice Project.
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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
SUMÁRIO
PROFESSORES........................................................................................................................................... 2
50 DECISÕES RECENTES DO STF E DO STJ................................................................................................... 5
PROCESSO COLETIVO................................................................................................................................ 5
1.1 Princípio da indisponibilidade das demandas coletivas................................................................................ 5
2.1 Princípio do microssistema de processo coletivo.......................................................................................... 6
3.1 Princípio da ampla publicidade das demandas coletivas e novas tecnologias............................................... 6
4.1 Direitos individuais homogêneos................................................................................................................. 7
5.1 Termo de ajustamento de conduta............................................................................................................... 9
6.1 Acordo coletivo por associação privada........................................................................................................ 9
7.1 Ação civil pública que visa impedir acolhimento institucional de menor por período acima do teto legal..... 10
8.1 Controle jurisdicional de políticas públicas e superpopulação carcerária...................................................... 12
9.1 Controle jurisdicional de políticas públicas e reformas em hospital público.................................................. 13
10.1 Competência, multiconflituosidade e eleição do foro adequado.................................................................. 14
11.1 Conexão e suspensão de ações individuais................................................................................................... 16
12.1 Ministério Público........................................................................................................................................ 17
13.1 Defensoria Pública....................................................................................................................................... 19
14.1 Municípios................................................................................................................................................... 22
15.1 Associações................................................................................................................................................. 23
16.1 Representatividade adequada..................................................................................................................... 23
17.1 Despesas processuais................................................................................................................................... 25
18.1 Honorários advocatícios............................................................................................................................... 26
19.1 Coisa julgada................................................................................................................................................ 27
20.1 Prazo prescricional da execução individual................................................................................................... 28
21.1 Prescrições autônomas envolvendo obrigações de fazer e de pagar............................................................. 29
22.1 Execução individual da sentença coletiva..................................................................................................... 29
23.1 Interrupção do prazo prescricional das ações individuais............................................................................. 30
24.1 Prazo prescricional e ação de improbidade administrativa........................................................................... 31
25.1 Legitimidade para ajuizamento de mandado de segurança coletivo............................................................. 31
DIREITO AMBIENTAL............................................................................................................................... 32
26.1 Princípio hermenêutico “in dubio pro natura”.............................................................................................. 32
27.1 Proteção ecológica, princípio da solidariedade e direitos fundamentais de terceira dimensão (ou geração)..33
28.1 Dimensão ecológica do principio da dignidade da pessoa humana, princípio da solidariedade e mínimo
existencial ecológico........................................................................................................................................... 34
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29.1 Função ambiental ou ecológica da propriedade, reserva legal e área de preservação permanente............... 35
30.1 Controle judicial de politicas públicas ambientais, dignidade da pessoa humana, saúde pública e proteção
ecológica............................................................................................................................................................ 36
31.1 Direitos ambientais adquiridos e irretroatividade da norma ambiental menos protetiva.............................. 37
32.1 Federalismo cooperativo ecológico ou ambiental e exercício da competência executiva ou administrativa em
matéria ambiental (art. 23 da CF/1988 e LC 140/2011)....................................................................................... 38
33.1 Competência legislativa concorrente em matéria ambiental, norma suplementar mais protetiva e hierarquia
supralegal dos tratados internacionais ambientais.............................................................................................. 38
34.1 Poder de polícia ambiental do IBAMA e autoexecutoriedade....................................................................... 42
35.1 Natureza subjetiva da responsabilidade administrativa ambiental............................................................... 43
36.1 Principio do poluidor-pagador, exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a concessão de licença
urbanístico-ambiental e responsabilidade objetiva pelo dano ecológico............................................................. 46
37.1 Responsabilidade objetiva pelo dano ecológico e princípios da reparação integral e da priorização da reparação
“in natura”.......................................................................................................................................................... 48
38.1 Responsabilidade objetiva do poluidor, adoção da “teoria do risco integral” e inadmissibilidade das
excludentes de ilicitude e................................................................................................................................... 50
39.1 Responsabilidade objetiva do Estado por omissão (responsável indireto), responsabilidade solidária e
execução subsidiária........................................................................................................................................... 53
40.1 Imprescritibilidade da pretensão de reparação do dano ambiental.............................................................. 55
DIREITO DO CONSUMIDOR..................................................................................................................... 56
41.1 Direito do consumidor, superenvididamento, dignidade da pessoa humana e mínimo existencial................ 56
42.1 Hipervulnerabilidade do consumidor, direito à informação adequada e obrigação de informação do
consumidor......................................................................................................................................................... 57
43.1 Responsabilidade civil do fornecedor pela perda do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor.......... 59
44.1 Responsabilidade objetiva do fornecedor pelo vício de quantidade e omissão ou deficiência quanto ao seu
dever de informação em relação ao consumidor................................................................................................. 60
45.1 Direito do consumidor e teoria da perda de uma chance.............................................................................. 62
46.1 Proteção pré-contratual do consumidor, vulnerabilidade e princípio da vinculação da oferta....................... 62
47.1 Propaganda enganosa, vulnerabilidade informacional e hipervulnerabilidade do consumidor...................... 63
48.1 Publicidade abusiva e anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente, às
crianças.............................................................................................................................................................. 64
49.1 Banco de dados, direitos à intimidade e à proteção da vida privada e eficácia entre particulares dos
direitos fundamentais........................................................................................................................................ 65
50.1 Bancos de dados, direitos de personalidade do consumidor e termo inicial do limite temporal de cinco anos
em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência............................................................. 66
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🏳🏳 PROCESSO COLETIVO
ÿÿ Pontos de destaque: princípio da indisponibilidade da demanda coletiva; assunção de ação civil pública
pelo Ministério Público inicialmente proposta por associação após a sentença.
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STJ, EDcl no REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, j. 10/09/2019.
(...) 5. A tutela coletiva de interesses individuais homogêneos se desdobra em duas etapas, sendo que a
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ÿÿ Pontos de destaque: princípio da ampla publicidade das demandas coletivas; novas tecnologias e
o processo coletivo; primazia do cumprimento individual da sentença de procedência relativa a direitos
individuais homogêneos; prevalência dos editais eletrônicos em detrimento dos jornais impressos; maior
eficiência do processo coletivo.
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de cumprimento da sentença genérica, destinada (a) a complementar a atividade cognitiva mediante juízo
específico sobre as situações individuais de cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos
direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum debeatur), bem como (b) a efetivar os
correspondentes atos executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público, entre
outras, a incumbência de defender “interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre interesses
sociais e interesses de entidades públicas, já que em relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos
agentes ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer sinonímia entre interesse social e
interesse coletivo de particulares, ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos homogêneos. Direitos
individuais disponíveis, ainda que homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela pelo
Ministério Público (CF, art. 127). 5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando visualizados em
seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses puramente
particulares, passando a representar, mais que a soma de interesses dos respectivos titulares, verdadeiros
interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas atingindo
a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também comprometendo bens,
institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em
casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a
propositura da ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa
hipótese, todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada a obter
sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais homogêneos. 6. Cumpre ao
Ministério Público, no exercício de suas funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos
individuais homogêneos compromete também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior
controle jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada legitimação
para a causa, sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo
de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º). 7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro
obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74,
alterada pela Lei 8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09), há interesse social qualificado na tutela coletiva
dos direitos individuais homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma semelhante pela
Seguradora no pagamento das correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança com outros
direitos individuais homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis,
disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o Supremo Tribunal Federal considerou que sua
tutela se revestia de interesse social qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério
Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE 163.231/
SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010 AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ).
STF, RE 631.111/GO, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, j. 07/08/2014.
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ÿÿ Pontos de destaque: não cabimento de honorários nos embargos à execução opostos contra termo de
ajustamento de conduta; aplicação do regime de isenção da Lei de Ação Civil Pública.
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Processo estrutural
7. Ação civil pública que visa impedir acolhimento institucional de menor por período acima do teto legal
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE MENOR POR PERÍODO
ACIMA DO TETO LEGAL. DANOS MORAIS. JULGAMENTO DE LIMINAR IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO REPETITIVA QUE NÃO FOI OBJETO DE PRECEDENTE VINCULANTE. EXISTÊNCIA DE
INÚMERAS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NO JUÍZO ACERCA DO TEMA. IRRELEVÂNCIA. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DO JULGAMENTO PREMATURO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE ENVOLVE LITÍGIO
DE NATUREZA ESTRUTURAL. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INCOMPATIBILIDADE, EM REGRA, COM
O JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO OU COM O JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO.
PROCESSO ESTRUTURAL. NATUREZA COMPLEXA, PLURIFATORIAL E POLICÊNTRICA. INSUSCETIBILIDADE DE
RESOLUÇÃO PELO PROCESSO CIVIL ADVERSARIAL E INDIVIDUAL. INDISPENSABILIDADE DA COLABORAÇÃO
E PARTICIPAÇÃO DO ESTADO E DA SOCIEDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO DE SOLUÇÕES PARA O LITÍGIO
ESTRUTURAL, MEDIANTE AMPLO CONTRADITÓRIO E CONTRIBUIÇÃO DE TODOS OS POTENCIAIS ATINGIDOS
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estrutural em sentido amplo. 8- Na hipótese, conquanto não haja, no Brasil, a cultura e o arcabouço jurídico
adequado para lidar corretamente com as ações que demandam providências estruturantes e concertadas,
não se pode negar a tutela jurisdicional minimamente adequada ao litígio de natureza estrutural, sendo
inviável, em regra, que conflitos dessa magnitude social, política, jurídica e cultural, sejam resolvidos de
modo liminar ou antecipado, sem exauriente instrução e sem participação coletiva, ao simples fundamento
de que o Estado não reuniria as condições necessárias para a implementação de políticas públicas e ações
destinadas a resolução, ou ao menos à minimização, dos danos decorrentes do acolhimento institucional de
menores por período superior àquele estipulado pelo ECA. (...)
STJ, REsp 1.854.842/CE, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 02/06/2020.
ÿÿ Pontos de destaque: ação civil pública que versa sobre acolhimento institucional de menores por
período superior ao fixado em lei; inadmissibilidade do julgamento de improcedência liminar do pedido;
litígio de natureza estrutural que revela natureza complexa, plurifatorial e policêntrica; decisão estruturante
que carece de construção em ambiente colaborativo, democrático e participativo; amici curiae e Defensoria
Pública na função de custos vulnerabilis.
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CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à liberação
das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA.
Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia,
viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas,
contado do momento da prisão.
STF, ADPF 347 MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. 09/09/2015.
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de juízos distintos, além de contemplar o maior número de atingidos. EXCEÇÕES À REGRA GERAL. 18. Há
que se ressalvar, no entanto, as situações que envolvam aspectos estritamente humanos e econômicos da
tragédia (tais como o ressarcimento patrimonial e moral de vítimas e familiares, combate a abuso de preços
etc) ou mesmo abastecimento de água potável que exija soluções peculiares ou locais, as quais poderão ser
objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas cada qual no foro de residência dos autores ou do dano.
Nesses casos, devem ser levadas em conta as circunstâncias particulares e individualizadas, decorrentes do
acidente ambiental, sempre com base na garantia de acesso facilitado ao Poder Judiciário e da tutela mais
ampla e irrestrita possível. Em tais situações, o foro de Belo Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria
óbice à facilitação do acesso à justiça, marco fundante do microssistema da ação civil pública. 19. Saliento
que em outras ocasiões esta Corte de Justiça, valendo-se do microssistema do processo coletivo, aplicou a
regra específica de prevenção estabelecida na Lei de Ação Civil Pública para definir o foro em que deveriam
ser julgadas as ações coletivas. Precedentes. DISPOSITIVO. (...)
STJ, CC 144.922/MG, Rel. Min. DIVA MALERBI, j. 22/06/2016.
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nos moldes do que dispõe o art. 489, § 1º, VI, do CPC/2015. De fato, a tragédia ocorrida em Brumadinho/
MG invoca solução prática diversa, a fim de entregar, da melhor forma possível, a prestação jurisdicional
à população atingida. Impõe-se, pois, ao STJ adotar saída pragmática que viabilize resposta do Poder
Judiciário aos que sofrem os efeitos da inominável tragédia. DISTINGUISHING: AÇÃO POPULAR ISOLADA
E AÇÃO POPULAR EM COMPETIÇÃO COM AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBJETO ASSEMELHADO 6. A solução
encontrada é de distinguishing à luz de peculiaridades do caso concreto e não de revogação universal do
entendimento do STJ sobre a competência para a ação popular, precedentes que devem ser mantidos, já que
lastreados em sólidos e atuais fundamentos legais e justificáveis argumentos políticos, éticos e processuais.
9. Assim, a regra geral do STJ não será aplicada aqui, porque deve ser usada quando a Ação Popular for
isolada. Contudo, na atual hipótese, tem-se que a Ação Popular estará competindo e concorrendo com
várias outras Ações Populares e Ações Civis Públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações
individuais, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do
fato. (...) COMPETÊNCIA DO LOCAL DO FATO 12. Na presente hipótese, é mais razoável determinar que o foro
competente para julgamento desta Ação Popular seja o do local do fato. Logo, como medida para assegurar
a efetividade da prestação jurisdicional e a defesa do meio ambiente, entende-se que a competência para
processamento e julgamento do presente feito é da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas
Gerais. CONCLUSÃO 13. Conflito de Competência conhecido para declarar competente o Juízo suscitante.
STJ, CC 164.362/MG, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, j. 12/06/2019.
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Precedentes anteriores:
• STJ, AgRg nos EAREsp n. 693.242/PR, Rel. Min. LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, j. 16/12/2015.
• STJ, REsp 1.353.801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 14/8/2013.
• STJ, REsp 1.110.549-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 28/10/2009.
Entes legitimados
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do art. 1º da Lei 7.347/1985). 5. Na hipótese, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pautado na premissa
de que o direito em questão guarda forte conotação social, concluiu que o Ministério Público Federal detém
legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em face da Caixa Econômica Federal, uma vez que se litiga
sobre o modelo organizacional dispensado ao FGTS, máxime no que se refere à unificação das contas
fundiárias dos trabalhadores. 6. Recurso Extraordinário a que nega provimento. Tese de repercussão geral
proposta: o Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de
direitos sociais relacionados ao FGTS.
STF, RE 643.978, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, j. 09/10/2019.
O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.
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ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade do Ministério Público para tutela de direitos individuais homogêneos;
pretensões envolvendo direitos sociais relacionados ao FGTS; pretensões envolvendo direitos individuais
indisponíveis nas demandas de saúde para tratamento médico ou entrega de medicamentos contra os entes
federativos; pretensões envolvendo consumidores e a prestação do serviço público.
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO
CPC/1973. INEXISTÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA. INTERESSES DE CONSUMIDORES
COM RELEVÂNCIA E REPERCUSSÃO SOCIAL. SÚMULA 83 DO STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO. COBRANÇA DA TARIFA DE EMISSÃO DE BOLETO BANCÁRIO OU CARNÊ. RECURSO ESPECIAL
REPETITIVO Nº 1.251.331/RS. ABUSIVIDADE. AFERIÇÃO EM CADA CASO CONCRETO. AGRAVO INTERNO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) 2. “A Defensoria Pública possui legitimidade ativa ad causam para propor ação civil pública em
nome próprio com o objetivo de defender interesses difusos, coletivos em sentido estrito e individuais
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ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa da Defensoria Pública; defesa de necessitados e promoção dos
direitos humanos que não se resume aos carentes de recursos econômicos; tutela da população idosa
(hipervulneráveis); tutela de consumidores lesados em razão de relações firmadas com as instituições
financeiras.
Precedentes anteriores:
Direito Processual Civil e Constitucional. Ação civil pública. Legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar
ação civil pública em defesa de interesses difusos. Interpretação do art. 134 da Constituição Federal. Discussão
acerca da constitucionalidade do art. 5º, inciso II, da Lei nº 7.347/1985, com a redação dada pela Lei nº
11.448/07, e do art. 4º, incisos VII e VIII, da Lei Complementar nº 80/1994, com as modificações instituídas
pela Lei Complementar nº 132/09. Repercussão geral reconhecida. Mantida a decisão objurgada, visto que
comprovados os requisitos exigidos para a caracterização da legitimidade ativa. Negado provimento ao
recurso extraordinário. Assentada a tese de que a Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura
de ação civil pública que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam
titulares, em tese, pessoas necessitadas.
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RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. MUTUÁRIOS. SISTEMA FINANCEIRO HABITACIONAL.
PERTINÊNCIA SUBJETIVA. NECESSITADOS. SENTIDO AMPLO. PERSPECTIVA ECONÔMICA E ORGANIZACIONAL.
1.Cinge-se a controvérsia a saber se a Defensoria Pública da União detém legitimidade para propor ação civil
pública em defesa de direitos individuais homogêneos, a exemplo dos mutuários do SFH. 2. A Defensoria
Pública é um órgão voltado não somente à orientação jurídica dos necessitados, mas também à proteção
do regime democrático e à promoção dos direitos humanos e dos direitos individuais e coletivos.
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3. A pertinência subjetiva da Defensoria Pública para intentar ação civil pública na defesa de interesses
transindividuais está atrelada à interpretação do que consiste a expressão “necessitados” (art. 134 da CF)
por “insuficiência de recursos” (art. 5º, LXXXIV, da CF). 4. Deve ser conferido ao termo “necessitados” uma
interpretação ampla no campo da ação civil pública para fins de atuação inicial da Defensoria Pública, de
modo a incluir, para além do necessitado econômico (em sentido estrito), o necessitado organizacional, ou
seja, o indivíduo ou grupo em situação especial de vulnerabilidade existencial. 5. O juízo prévio acerca da
coletividade de pessoas necessitadas deve ser feito de forma abstrata, em tese, bastando que possa haver,
para a extensão subjetiva da legitimidade, o favorecimento de grupo de indivíduos pertencentes à classe
dos hipossuficientes, mesmo que, de forma indireta e eventual, venha a alcançar outros economicamente
mais favorecidos. 6. A liquidação e a execução da sentença proferida nas ações civis públicas movidas pela
Defensoria Pública somente poderá ser feita aos que comprovarem insuficiência de recursos, pois, nessa
fase, a tutela de cada membro da coletividade ocorre de maneira individualizada. 7. Recurso especial provido.
STJ, REsp 1.449.416/SC. Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. 29/03/2016.
ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa ampla da Defensoria Pública; alcance de direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos; não adstrição à hipossuficiência econômica.
14. Municípios
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCÁRIO.
COBRANÇA DE TARIFA DE RENOVAÇÃO DE CADASTRO. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
LEGITIMIDADE ATIVA. MUNICÍPIO. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. REPRESENTAÇÃO ADEQUADA.
1. O propósito do presente recurso especial é determinar se o Município de Brusque tem legitimidade ad
causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas, questionando a cobrança de
tarifas bancárias de “renovação de cadastro”. (...) 7. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem recusou
legitimidade ao ente político em virtude de ter considerado que o Município estaria defendendo unicamente
os direitos do grupo de servidores públicos, por entender que a proteção de direitos individuais homogêneos
não estaria incluída em sua função constitucional e por não vislumbrar sua representatividade adequada ou
pertinência temática. 8. Ainda que tenha sido mencionada como causa de pedir e pedido a cobrança da
tarifa de “renovação de cadastro” de servidores municipais, é certo que o direito vindicado possui dimensão
que extrapola a esfera de interesses puramente particulares dos citados servidores, o que é suficiente para
o reconhecimento da legitimidade do ente político para essa primeira fase da tutela coletiva de interesses
individuais homogêneos. 9. Recurso especial conhecido e provido.
STJ, REsp 1.509.586/SC, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 15/05/2018.
ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa do ente municipal; tutela de direitos individuais homogêneos de
servidores públicos munícipes.
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15. Associações
Legitimidade para ajuizamento de ações coletivas
ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa das associações para ações coletivas depende de autorização
expressa dos associados; eficácia subjetiva da coisa julgada formada para alcançar somente os filiados
residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, até a data da propositura da demanda; execução só
pode beneficiar os associados apontados na inicial.
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Precedente anterior: STJ, REsp 1.243.887/PR, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, j. 19/10/2011.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 16 DA LEI 7.347/1985, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 9.494/1997.
CONSTITUCIONALIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
1. Revela especial relevância, na forma do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da
constitucionalidade do art. 16 da Lei 7.347/1985, com a redação dada pela Lei 9.494/1997, segundo o qual a
sentença na ação civil pública fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator. 2. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC.
STF, RE 1.101.937 RG, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, j. 13/02/2020.
ÿÿ Pontos de destaque: impropriedade da limitação dos efeitos da coisa julgada ao território do órgão
prolator da sentença; confusão entre competência do órgão julgador e efeitos da coisa julgada; repercussão
geral sobre a constitucionalidade do artigo 16 da LACP reconhecida.
Prescrição
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A aplicação analógica do prazo de cinco anos do art. 21 da Lei de Ação Popular para a ação coletiva de
consumo, reconhecida pela jurisprudência desta Corte, tem como pressuposto o fato de não existir na Lei de
Ação Civil Pública expresso prazo para o exercício dessa modalidade de direito subjetivo público, tampouco
a previsão expressa de perda da possibilidade de uso desse específico rito processual pela mera passagem
do tempo. Todavia, conforme consigna a doutrina especializada e ao contrário do entendimento prevalente,
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esse “silêncio do ordenamento é eloquente, ao não estabelecer direta e claramente prazos para o exercício
dos interesses metaindividuais e para o ajuizamento das respectivas ações, permitindo o reconhecimento da
não ocorrência da prescrição”. O silêncio do ordenamento deve ser considerado intencional, pois o prazo de
5 anos para o ajuizamento da ação popular, contido no art. 21 da Lei n. 4.717/1965, foi previsto com vistas
à concretização de uma única e específica prestação jurisdicional, qual seja a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio público em sentido amplo. As ações coletivas de consumo, por sua
vez, atendem a um espectro de prestações de direito material muito mais amplo, podendo não só anular ou
declarar a nulidade de atos, como também quaisquer outras providências ou ações capazes de propiciar a
adequada e efetiva tutela dos consumidores, nos termos do art. 83 do CDC. É, assim, necessária a superação
(overruling) da atual orientação jurisprudencial desta Corte, pois não há razão para se limitar o uso da ação
coletiva ou desse especial procedimento coletivo de enfrentamento de interesses individuais homogêneos,
coletivos em sentido estrito e difusos, sobretudo porque o escopo desse instrumento processual é o
tratamento isonômico e concentrado de lides de massa relacionadas a questões de direito material que
afetem uma coletividade de consumidores, tendo como resultado imediato beneficiar a economia processual.
De fato, submeter a ação coletiva de consumo a prazo determinado tem como única consequência impor
aos consumidores os pesados ônus do ajuizamento de ações individuais, em prejuízo da razoável duração
do processo e da primazia do julgamento de mérito, princípios expressamente previstos no atual CPC em
seus arts. 4º e 6º, respectivamente, além de prejudicar a isonomia, ante a possibilidade de julgamentos
discrepantes.
STJ, REsp 1.736.091/PE, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 14/05/2019.
ÿÿ Pontos de destaque: prazo de 5 anos para o ajuizamento da ação popular; não aplicação às ações coletivas
de consumo.
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condão de interromper o prazo prescricional para a apresentação de demanda judicial que verse interesse
individual homogêneo. 8. Necessidade, na hipótese dos autos, da completa instrução processual. 9. Recurso
especial conhecido e não provido.
ÿÿ Pontos de destaque: dano ambiental causados que viola diferentes espécies de direitos transindividuais;
ação coletiva versando sobre interesse difuso; interrupção do prazo prescricional para ações sobre direito
individual homogêneo.
ÿÿ Pontos de destaque: imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato
doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa; não aplicação às ações baseadas em atos culposos.
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ÿÿ Pontos de destaque: legitimidade ativa das associações para impetração do mandado de segurança
coletivo; desnecessidade de autorização expressa (não se aplica o regime das ações coletivas).
🏳🏳 DIREITO AMBIENTAL
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ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos
interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que lhes seja mais favorável e melhor
possa viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma, de modo que a
hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura.
27. Proteção ecológica, princípio da solidariedade e direitos fundamentais de terceira dimensão (ou
geração).
“A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO – DIREITO DE TERCEIRA
GERAÇÃO – PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de
terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de
afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado
em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, a própria coletividade social.
Enquanto os direitos de primeira geração (Direito Civis e Políticos) – que compreendem as liberdades
clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas –
acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade
coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e
constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos
direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial
inexauribilidade”.
STF, MS 22.164/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30.10.1995.
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece os direitos de terceira geração, que materializam poderes
de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, como é o aso do direito
fundamental ao meio ambiente, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento
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28. Dimensão ecológica do principio da dignidade da pessoa humana, princípio da solidariedade e mínimo
existencial ecológico
A) “DIREITO AMBIENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. (...) PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICÁVEL EM SEDE DE RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. DERRAMAMENTO
DE ÓLEO. POLUIÇÃO. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. (...) 3. O bem ambiental é imensurável, não tem
valor patrimonial, trata-se de um bem difuso, essencial à coletividade. Dessa forma, a violação da norma
ambiental e do equilíbrio sistêmico não comporta a ideia de inexpressividade da conduta para aplicação do
princípio da insignificância, pois o interesse protegido envolve toda a sociedade e, em nome do bem-estar
desta, é que deve ser aplicada. 4. Em qualquer quantidade que seja derramamento de óleo é poluição, seja
por inobservância dos padrões ambientais (inteligência do art. 3º, III, “e”, da Lei n. 6.938/1981, c/c o
art. 17 da Lei n. 9.966/2000), seja por conclusão lógica dos princípios da solidariedade, dimensão
ecológica da dignidade humana, prevenção, educação ambiental e preservação das gerações futuras.
(...) 6. Recurso especial provido para reconhecer a inaplicabilidade do princípio da insignificância em
matéria de responsabilidade civil ambiental”.
STJ, AREsp 667.867/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17.10.2018.
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ÿÿ Pontos de destaque: Os julgados estabelecem a proteção ao meio ambiente está diretamente relacionado
à proteção da dignidade, por meio do reconhecimento de uma dimensão ecológica da dignidade humana,
também vinculada ao princípio da solidariedade, bem como que a proteção ao meio ambiente integra
axiologicamente o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais
deve respeitar a teleologia da Constituição Federal, de modo que o ordenamento jurídico deve ser
interpretado de forma sistêmica e harmônica, privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico
e do ambiente ecologicamente equilibrado.
29. Função ambiental ou ecológica da propriedade, reserva legal e área de preservação permanente.
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO. NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE AMBIENTAL. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO À
MENOR PATAMAR PROTETIVO. FATO CONSUMADO. INVIÁVEL EM MATÉRIA AMBIENTAL. 1. Na origem, trata-
se de ação declaratória ajuizada pelo recorrido contra a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, na qual, o
requerente sustentou que, sendo legítimo proprietário dos imóveis descritos na inicial, diligenciou perante
o órgão competente visando autorização para a supressão da vegetação da área, recebendo orientação de
que tais procedimentos estão submetidos à Resolução SMA-14, de 13 de março de 2008, que estabeleceu
fatores condicionantes para tal fim. Diante da situação, na exordial, arguiu a inaplicabilidade das normas
suscitadas, tendo em vista a superveniência da legislação ambiental ante a aquisição da propriedade e
a aplicabilidade mitigada do Código Florestal às áreas urbanas. 2. Inicialmente, é importante elucidar
que o princípio da solidariedade intergeracional estabelece responsabilidades morais e jurídicas para as
gerações humanas presentes em vista da ideia de justiça intergeracional, ou seja, justiça e equidade entre
gerações humanas distintas. Dessa forma, a propriedade privada deve observar sua função ambiental em
exegese teleológica da função social da propriedade, respeitando os valores ambientais e direitos
ecológicos. 3. Noutro ponto, destaco a firme orientação jurisprudencial desta Corte de que “a proteção
ao meio ambiente não difere área urbana de rural, porquanto ambas merecem a atenção em favor da
garantia da qualidade de vida proporcionada pelo texto constitucional, pelo Código Florestal e pelas
demais normas legais sobre o tema” (REsp 1.667.087/RS, de minha relatoria, Segunda Turma, julgado
em 7/8/2018, DJe 13/8/2018). 4. Na espécie, não há um fato ocorrido antes da vigência do novo Código
Florestal, a pretensão de realizar supressão da vegetação e, consequentemente, a referida supressão
vieram a se materializar na égide do novo Código Florestal. Independentemente da área ter sido objeto
de loteamento em 1979 e incluída no perímetro urbano em 1978, a mera declaração de propriedade
não perfaz direito adquirido a menor patamar protetivo. Com efeito, o fato da aquisição e registro da
propriedade ser anterior à vigência da norma ambiental não permite o exercício das faculdades da
propriedade (usar, gozar, dispor, reaver) em descompasso com a legislação vigente. 5. Não há que falar em
um direito adquirido a menor patamar protetivo, mas sim no dever do proprietário ou possuidor de
área degrada de tomar as medidas negativas ou positivas necessárias ao restabelecimento do equilíbrio
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ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a proteção ao meio ambiente integra axiologicamente
o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais deve respeitar a
teleologia da Constituição Federal, de modo que o ordenamento jurídico deve ser interpretado de
forma sistêmica e harmônica, privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico e do ambiente
ecologicamente equilibrado.
30. Controle judicial de politicas públicas ambientais, dignidade da pessoa humana, saúde pública e
proteção ecológica.
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. COLETA DE LIXO. SERVIÇO ESSENCIAL. PRESTAÇÃO DESCONTINUADA.
PREJUÍZO À SAÚDE PÚBLICA. DIREITO FUNDAMENTAL. NORMA DE NATUREZA PROGRAMÁTICA.
AUTO-EXECUTORIEDADE. PROTEÇÃO POR VIA DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE. ESFERA DE
DISCRICIONARIEDADE DO ADMINISTRADOR. INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO. 1. Resta estrema de
dúvidas que a coleta de lixo constitui serviço essencial, imprescindível à manutenção da saúde pública, o que
torna submisso à regra da continuidade. Sua interrupção, ou ainda, a sua prestação de forma descontinuada,
extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade humana, porquanto
o cidadão necessita utilizar-se desse serviço público, indispensável à sua vida em comunidade. 2. Releva
notar que uma Constituição Federal é fruto da vontade política nacional, erigida mediante consulta das
expectativas e das possibilidades do que se vai consagrar, por isso cogentes e eficazes suas promessas, sob
pena de restarem vãs e frias enquanto letras mortas no papel. Ressoa inconcebível que direitos consagrados
em normas menores como Circulares, Portarias, Medidas Provisórias, Leis Ordinárias tenham eficácia
imediata e os direitos consagrados constitucionalmente, inspirados nos mais altos valores éticos e morais
da nação sejam relegados a segundo plano. Trata-se de direito com normatividade mais do que suficiente,
porquanto se define pelo dever, indicando o sujeito passivo, in casu, o Estado. 3. Em função do princípio da
inafastabilidade consagrado constitucionalmente, a todo direito corresponde uma ação que o assegura,
sendo certo que todos os cidadãos residentes em Cambuquira encartam-se na esfera desse direito, por
isso a homogeneidade e transindividualidade do mesmo a ensejar a bem manejada ação civil pública. 4.
A determinação judicial desse dever pelo Estado, não encerra suposta ingerência do judiciário na esfera
da administração. Deveras, não há discricionariedade do administrador frente aos direitos consagrados
constitucionalmente. Nesse campo a atividade é vinculada sem admissão de qualquer exegese que vise
afastar a garantia pétrea. 5. Um país cujo preâmbulo constitucional promete a disseminação das desigualdades
e a proteção à dignidade humana, alçadas ao mesmo patamar da defesa da Federação e a República, não
pode relegar a saúde pública a um plano diverso daquele que o coloca, como uma das mais belas e justas
garantias constitucionais. 6. Afastada a tese descabida da discricionariedade, a única dúvida que se poderia
suscitar resvalaria na natureza da norma ora sob enfoque, se programática ou definidora de direitos. 7. As
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meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas não são ainda direitos senão promessas de lege ferenda,
encartando-se na esfera insindicável pelo Poder Judiciário, qual a da oportunidade de sua implementação. 8.
Diversa é a hipótese segundo a qual a Constituição Federal consagra um direito e a norma infraconstitucional
o explicita, impondo-se ao judiciário torná-lo realidade, ainda que para isso, resulte obrigação de fazer,
com repercussão na esfera orçamentária. 9. Ressoa evidente que toda imposição jurisdicional à Fazenda
Pública implica em dispêndio e atuar, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes, porquanto no regime
democrático e no Estado de Direito o Estado soberano submete-se à própria justiça que instituiu. Afastada,
assim, a ingerência entre os poderes, o judiciário, alegado o malferimento da lei, nada mais fez do que
cumpri-la ao determinar a realização prática da promessa constitucional. 10. “A questão do lixo é prioritária,
porque esta em jogo a saúde pública e o meio ambiente”. Ademais, “A coleta do lixo e a limpeza dos
logradouros públicos são classificados como serviços públicos essenciais e necessários à sobrevivência
do grupo social e do próprio Estado, porque visam a atender as necessidades inadiáveis da comunidade,
conforme estabelecem os arts. 10 e 11 da Lei n. 7.783/89. Por tais razões, os serviços públicos desta natureza
são regidos pelo PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE. 11. Recurso especial provido”
STJ, REsp. 575.998-MG, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, j. 07.10.2004.
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a coleta de lixo constitui serviço essencial, imprescindível
à manutenção da saúde pública, o que torna submisso à regra da continuidade, passível de ser objeto de
controle judicial de politicas publicas, na medida em que a sua interrupção, ou ainda, a sua prestação de
forma descontinuada, extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade
humana, porquanto o cidadão necessita utilizar-se desse serviço público, indispensável à sua vida em
comunidade.
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o
ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo
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ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o
ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo
e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies
ameaçadas de extinção.
33. Competência legislativa concorrente em matéria ambiental, norma suplementar mais protetiva e
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primas comprovadamente nocivas à saúde humana. A cláusula constitucional da proteção à saúde constrange
e ampara o legislador – Federal, Estadual, Distrital e Municipal – ao excluir previamente certos arranjos
normativos, com ela incompatíveis, do leque de escolhas políticas possíveis, ao mesmo tempo em que cria
uma esfera de legitimação para intervenções político-normativas que, democraticamente legitimadas,
traduzem inferências autorizadas pelo preceito constitucional. 9. O art. 225, § 1º, V, da CF (a) legitima
medidas de controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportam risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, sempre que necessárias,
adequadas e suficientes para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado; (b) deslegitima, por insuficientes, medidas incapazes de aliviar
satisfatoriamente o risco gerado para a vida, para a qualidade de vida e para o meio ambiente; e (c)
ampara eventual vedação, banimento ou proibição dirigida a técnicas, métodos e substâncias, quando
nenhuma outra medida de controle se mostrar efetiva. 10. Contribuições ao debate trazidas em audiência
pública (ADI 3.937/SP) e por amici curiae. Estado da arte da pesquisa médico-científica. Dados e subsídios
técnicos a referendar, no seu conjunto, a conclusão de que, no estágio atual, o conhecimento científico
acumulado permite afirmar, para além da dúvida razoável, a nocividade do amianto crisotila à saúde humana
e ao meio ambiente. Consenso técnico e científico hoje estabelecido, no tocante às premissas fáticas de que
(i) todos os tipos de amianto provocam câncer, não tendo sido identificado nenhum limite para o risco
carcinogênico do crisotila, e (ii) a sua substituição, para os usos regulados pela Lei nº 9.055/1995, se mostra
absolutamente viável sob o aspecto econômico. 11. Convenção nº 139 da OIT, sobre a Prevenção e o Controle
de Riscos Profissionais causados pelas Substâncias ou Agentes Cancerígenos. Convenção nº 162 da OIT, sobre
o uso do asbesto. Resolução da OIT sobre o Asbesto (2006). Convenção de Basileia sobre o Controle de
Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito. Status de supralegalidade dos
regimes protetivos de direitos fundamentais. Inobservância das obrigações, assumidas no plano
internacional, de (i) promover a redução dos níveis de exposição de forma consistente e progressiva, (ii)
substituir, sempre que possível, o uso do amianto crisotila por materiais menos perigosos e (iii) reduzir a
geração de resíduos perigosos ao mínimo possível. 12. A jurisprudência do Órgão de Apelação da Organização
Internacional do Comércio – OMC é no sentido de que a proibição à importação de asbesto e de produtos
que o contenham, em legislação doméstica, é consistente com acordos celebrados no âmbito da OMC, não
configura discriminação arbitrária nem injustificada, tampouco restrição disfarçada ao comércio internacional,
e tem amparo no Artigo XX do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - GATT, que autoriza medidas restritivas
ao comércio que sejam necessárias para proteger a vida ou a saúde humana, no Acordo sobre a Aplicação de
Medidas Sanitárias e Fitossanitárias e no Acordo Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio. 13. À luz do
conhecimento científico acumulado sobre a extensão dos efeitos nocivos do amianto para a saúde e o meio
ambiente e à evidência da ineficácia das medidas de controle nela contempladas, a tolerância ao uso do
amianto crisotila, tal como positivada no art. 2º da Lei nº 9.055/1995, não protege adequada e suficientemente
os direitos fundamentais à saúde e ao meio ambiente equilibrado (arts. 6º, 7º, XXII, 196, e 225 da CF),
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tampouco se alinha aos compromissos internacionais de caráter supralegal assumidos pelo Brasil e que
moldaram o conteúdo desses direitos, especialmente as Convenções nºs 139 e 162 da OIT e a Convenção
de Basileia. Juízo de procedência da ação no voto da Relatora. 14. Quórum de julgamento constituído por
nove Ministros, considerados os impedimentos. Cinco votos pela procedência da ação direta, a fim de
declarar a inconstitucionalidade, por proteção deficiente, da tolerância ao uso do amianto crisotila, da forma
como encartada no art. 2º da Lei nº 9.055/1995, em face dos arts. 7º, XXII, 196 e 225 da Constituição da
República. Quatro votos pela improcedência. Não atingido o quórum de seis votos (art. 23 da Lei nº
9.868/1999), maioria absoluta (art. 97 da Constituição da República), para proclamação da constitucionalidade
ou inconstitucionalidade do dispositivo impugnado, a destituir de eficácia vinculante o julgado. 15. Ação
direta de inconstitucionalidade conhecida e, no mérito, não atingido o quórum exigido pelo art. 97 da
Constituição da República para a pronúncia da inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 9.055/1995” (grifos
nossos)
STF, ADI 4066/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Rosa Weber, j. 24.08.2017( mesmo entendimento foi adotado
pelo STF no julgamento das ADI 4066/DF, ADI 3356/PE, ADI 3357/RS e ADI 3470/RJ) .
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que o art. 225, § 1º, V, da CF (a) legitima medidas de controle
da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportam risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, sempre que necessárias, adequadas e suficientes
para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; (b)
deslegitima, por insuficientes, medidas incapazes de aliviar satisfatoriamente o risco gerado para a vida, para
a qualidade de vida e para o meio ambiente; e (c) ampara eventual vedação, banimento ou proibição dirigida
a técnicas, métodos e substâncias, quando nenhuma outra medida de controle se mostrar efetiva, bem
como que a Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos
e seu Depósito possui status normativo de supralegalidade dos regimes protetivos de direitos fundamentais.
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Distrito de Pipa, Município de Tibau do Sul. O estabelecimento em questão se localiza na praia, no sopé
de altíssima falésia, ponto de desova de tartarugas marinhas, em trecho de mar considerado
habitat de golfinhos, cartão postal do paradisíaco litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. QUÍNTUPLA
VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO 3. Ocorre, in casu, quíntupla violação da legislação vigente em virtude
de construção a) em terreno de marinha (terraço costeiro), sem autorização da União; b) em Área de
Preservação Permanente (falésias); c) em praia, bem de uso comum do povo; d) em superfície de nidificação
de quelônios; e em razão de e) ausência de licenciamento ambiental. AUTOEXECUTORIEDADE DOS
ATOS ADMINISTRATIVOS E ORDEM DE DEMOLIÇÃO 4. Nas palavras do acórdão recorrido, há Relatório de
Fiscalização do Ibama, órgão ambiental federal, que atesta encontrar-se a obra em Área de Preservação
Permanente e de domínio da União. À luz do princípio da autoexecutoriedade dos atos administrativos,
que dispensa ordem judicial para sua plena eficácia, a demolição de construção pode ser ordenada
diretamente pela Administração, desde que precedida de regular processo. 5. Retomar bem público
subtraído contra legem nada sugere de despótico, ao contrário, arbítrio externa, sim, comportamento
de particular que dele se apropria com exclusividade, prática ética, política e juridicamente inaceitável,
pois denuncia privilégio e benefício, comercial ou pessoal, do mais esperto em desfavor de multidão
de respeitadores cônscios das prescrições legais. Tal usurpação elimina, às claras, o augusto princípio
da igualdade de todos perante a lei, epicentro do Estado de Direito. Por óbvio, tampouco tolhe o agir
da Administração a existência de outras ocupações irregulares no local, visto que multiplicidade de
infratores não legitima, nem anistia ou enobrece, pela banalização, ilegalidade estatuída na Constituição
ou em lei. 6. Inatacável, portanto, o acórdão recorrido ao confirmar o julgamento antecipado da lide.
Construção ou atividade irregular em bem de uso comum do povo revela dano in re ipsa, dispensada prova
de prejuízo in concreto, impondo-se imediata restituição da área ao estado anterior. Demolição e
restauração às expensas do transgressor, ressalvada hipótese de o comportamento impugnado contar
com inequívoca e proba autorização do órgão legalmente competente. (...)”. (STJ, REsp 1457851/RN, 2ª
Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26.05.2015).
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a construção ou atividade irregular em bem de uso
comum do povo revela dano in re ipsa, dispensada prova de prejuízo in concreto, impondo-se imediata
restituição da área ao estado anterior, com a demolição e restauração às expensas do transgressor,
ressalvada hipótese de o comportamento impugnado contar com inequívoca e proba autorização do
órgão legalmente competente.
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figurar no polo passivo de feito executivo levado a cabo pelo Ibama para cobrar multa aplicada por infração
ambiental. 2. Explica o recorrente - e faz isto desde a inicial do agravo de instrumento e das razões de
apelação que resultou no acórdão ora impugnado - que o crédito executado diz respeito à violação dos arts.
37 do Decreto n. 3.179/99, 50 c/c 25 da Lei n. 9.605/98 e 14 da Lei n. 6.938/81, mas que o auto de infração
foi lavrado em face de seu pai, que, à época, era o dono da propriedade. 3. A instância ordinária, contudo,
entendeu que o caráter propter rem e solidário das obrigações ambientais seria suficiente para justificar
que, mesmo a infração tendo sido cometida e lançada em face de seu pai, o ora recorrente arcasse com seu
pagamento em execução fiscal. 4. Nas razões do especial, sustenta a parte recorrente ter havido violação aos
arts. 3º e 568, inc. I, do Código de Processo Civil (CPC) e 3º, inc. IV, e 14 da Lei n. 6.938/81, ao argumento de
que lhe falece legitimidade passiva na execução fiscal levada a cabo pelo Ibama a fim de ver quitada multa
aplicada em razão de infração ambiental. 5. Esta Corte Superior possui entendimento pacífico no sentido
de que a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais adere à propriedade, como obrigação
propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário condutas derivadas de danos provocados
pelos proprietários antigos. Foi essa a jurisprudência invocada pela origem para manter a decisão agravada.
6. O ponto controverso nestes autos, contudo, é outro. Discute-se, aqui, a possibilidade de que terceiro
responda por sanção aplicada por infração ambiental. 7. A questão, portanto, não se cinge ao plano da
responsabilidade civil, mas da responsabilidade administrativa por dano ambiental. 8. Pelo princípio da
intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CR88), aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o
Direito Sancionador, não é possível ajuizar execução fiscal em face do recorrente para cobrar multa aplicada
em face de condutas imputáveis a seu pai. 9. Isso porque a aplicação de penalidades administrativas não
obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas
deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado
transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre
a conduta e o dano. 10. A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica bem
estampada da leitura do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, segundo o qual “[s]em obstar a aplicação das
penalidades previstas neste artigo [entre elas, frise-se, a multa], é o poluidor obrigado, independentemente
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade”. 11. O art. 14, caput, também é claro: “[s]em prejuízo das penalidades definidas pela legislação
federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos
inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...]”.
12. Em resumo: a aplicação e a execução das penas limitam-se aos transgressores; a reparação ambiental,
de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a própria legislação define como “a
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental” (art. 3º, inc. V, do mesmo diploma normativo). 13. Note-se que nem
seria necessária toda a construção doutrinária e jurisprudencial no sentido de que a obrigação civil de
reparar o dano ambiental é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria lei já define como poluidor
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todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, não
reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação
ambiental (poluidor, pois). 14. Mas fato é que o uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14,
comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já
se podia inferir da vigência do princípio da intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano
ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades administrativa e penal, não
admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objetivo por ofensa ambientais praticadas por
outrem. 15. Recurso especial provido”.
STJ, REsp 1.251.697/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques j. 12.04.2012.
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ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento
subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano”. 4. No mesmo sentido decidiu
a Primeira Turma em caso análogo envolvendo as mesmas partes: “A responsabilidade civil ambiental
é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental, o terceiro, proprietário
da carga, por não ser o efetivo causador do dano ambiental, responde subjetivamente pela degradação
ambiental causada pelo transportador” (AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. p/ Acórdão Ministra Regina Helena
Costa, DJe de 7/10/2015). 5. Embargos de divergência providos”.
STJ, EREsp 1.318.051/RJ, 1ª Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 08.05.2019.
36. Principio do poluidor-pagador, exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a concessão de
licença urbanístico-ambiental e responsabilidade objetiva pelo dano ecológico.
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR
DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM
ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA
POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO
DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O
LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA
PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO
DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de
Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC
e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três
pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por
maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar procedente
a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o proprietário dos custos com a
demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em
terreno de marinha e promontório, este último um acidente geográfico definido como “cabo formado por
rochas ou penhascos altos” (Houaiss). Afirma a união que a edificação se encontra, após aterro ilegal da
área, “rigorosamente dentro do mar”, o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre circulação
e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original):
“O empreendimento em questão está localizado, segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386,
em área chamada promontório. Esta área é considerada de preservação permanente, pela legislação do
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Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação
municipal (Lei Municipal n° 426/84)”. 5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova
técnica dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em
questão como potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir o
Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) - e b) pela natureza
non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma municipal,
art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como “Zona de Preservação Permanente”, e em legislação
estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais
conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que lhe
são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação ou
convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre
as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de Impacto
Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA. 8. Mister
não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (= o
posterius) com o próprio EPIA/RIMA (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela,
sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo
de forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos
interessados, inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em
si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie
todo e qualquer empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao
órgão ambiental estadual e municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma
prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação
do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e peculiaridades do sítio (como áreas representativas
e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção,
terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão, transformando em
um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos federais
envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.). 10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta
a Lei 7.661/1988, adota como “princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira” a “cooperação entre
as esferas de governo” (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada vez
mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a “precaução” (art. 5°,
incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando,
na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que
sobra para examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela
visão monopolista-exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a
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jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência
do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos
que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca
do elemento subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e
de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art.
2°, caput, da Lei 6.938/81), inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se
em região já ecologicamente deteriorada ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável
ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação).
Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso direito de
poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou desmataram o meio ambiente
protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em
obiter dictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta do aresto recorrido, o
Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar o
Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso Especial de Mauro
Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público Federal providos”
STJ, REsp 769.753/SC, 2ª T., Ministro Herman Benjamin, j. 08.09.2009.
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que é inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que
lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação
ou convalidação, na medida em que a Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro, previu, entre as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo
Prévio de Impacto Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA.
37. Responsabilidade objetiva pelo dano ecológico e princípios da reparação integral e da priorização da
reparação “in natura”.
“ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO DE VEGETAÇÃO NATIVA (CERRADO)
SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS.
4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL,
DO POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD
PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI
DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL. 1.
Cuidam os autos de ação civil pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
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causados pelo desmatamento de vegetação nativa (Cerrado). O juiz de primeiro grau e o Tribunal de
Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o réu a repará-lo; porém,
julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual. 2. A legislação de
amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que
lhes seja mais favorável e melhor possa viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio
essendi da norma. A hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura. 3. Ao
responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental, não se deve confundir prioridade da recuperação in
natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de repristinação
natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar),
e abstenção de uso e de nova lesão (obrigação de não fazer). 4. De acordo com a tradição do Direito
brasileiro, imputar responsabilidade civil ao agente causador de degradação ambiental difere de fazê-lo
administrativa ou penalmente. Logo, eventual absolvição no processo criminal ou perante a Administração
Pública não influi, como regra, na responsabilização civil, tirantes as exceções em numerus clausus do
sistema legal, como a inequívoca negativa do fato ilícito (não ocorrência de degradação ambiental, p. ex.)
ou da autoria (direta ou indireta), nos termos do art. 935 do Código Civil. 5. Nas demandas ambientais,
por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum, admite-se a condenação do réu,
simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer, não fazer e indenizar. Aí se encontra típica obrigação
cumulativa ou conjuntiva. Assim, na interpretação dos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), e do art. 3º da Lei 7.347/85, a conjunção “ou” opera com valor aditivo,
não introduz alternativa excludente. Essa posição jurisprudencial leva em conta que o dano ambiental
é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade
do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos
próprios processos ecológicos em si mesmos considerados). 6. Se o bem ambiental lesado for imediata
e completamente restaurado ao status quo ante (reductio ad pristinum statum, isto é, restabelecimento
à condição original), não há falar, ordinariamente, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no
futuro (= prestação jurisdicional prospectiva), de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente
para reverter ou recompor integralmente, no terreno da responsabilidade civil, as várias dimensões do dano
ambiental causado; por isso não exaure os deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e da
reparação in integrum. 7. A recusa de aplicação ou aplicação parcial dos princípios do poluidor-pagador e da
reparação in integrum arrisca projetar, moral e socialmente, a nociva impressão de que o ilícito ambiental
compensa. Daí a resposta administrativa e judicial não passar de aceitável e gerenciável “risco ou custo do
negócio”, acarretando o enfraquecimento do caráter dissuasório da proteção legal, verdadeiro estímulo
para que outros, inspirados no exemplo de impunidade de fato, mesmo que não de direito, do infrator
premiado, imitem ou repitam seu comportamento deletério. 8. A responsabilidade civil ambiental deve ser
compreendida o mais amplamente possível, de modo que a condenação a recuperar a área prejudicada não
exclua o dever de indenizar - juízos retrospectivo e prospectivo. (...)”.
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38. Responsabilidade objetiva do poluidor, adoção da “teoria do risco integral” e inadmissibilidade das
excludentes de ilicitude e
A) “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR
DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM
ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA
POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO
DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O
LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA
PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO
DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de
Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC
e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três
pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por
maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar procedente
a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o proprietário dos custos com a
demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em
terreno de marinha e promontório, este último um acidente geográfico definido como “cabo formado por
rochas ou penhascos altos” (Houaiss). Afirma a união que a edificação se encontra, após aterro ilegal da
área, “rigorosamente dentro do mar”, o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre circulação
e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original):
“O empreendimento em questão está localizado, segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386,
em área chamada promontório. Esta área é considerada de preservação permanente, pela legislação do
Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação
municipal (Lei Municipal n° 426/84)”. 5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova
técnica dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em
questão como potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir
o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (Epia) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza
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non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma municipal,
art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como “Zona de Preservação Permanente”, e em legislação
estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais
conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente
de vício congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências
estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que lhe
são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação
ou convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu,
entre as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de
Impacto Ambiental - EPIA acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - Rima. 8.
Mister não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (=
o posterius) com o próprio Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela,
sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo de
forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos
interessados, inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em
si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie
todo e qualquer empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao
órgão ambiental estadual e municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma
prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação
do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e peculiaridades do sítio (como áreas representativas
e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção,
terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão, transformando em
um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos federais
envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.). 10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta
a Lei 7.661/1988, adota como “princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira” a “cooperação entre
as esferas de governo” (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada vez
mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a “precaução” (art. 5°,
incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando,
na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que
sobra para examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela
visão monopolista-exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a
jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência
do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos
que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca
do elemento subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
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acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e
de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art.
2°, caput, da Lei 6.938/81), inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se
em região já ecologicamente deteriorada ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável
ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação).
Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso direito de
poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou desmataram o meio ambiente
protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em
obiter dictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta do aresto recorrido, o
Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar o
Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso Especial de Mauro
Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público Federal providos”
STJ, REsp 769.753/SC, 2ª Turma, Ministro Herman Benjamin, j. 08.09.2009.
B) “DIREITO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA POR DANO AMBIENTAL PRIVADO. O particular
que deposite resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da existência de
cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de outros particulares
seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que, por conduta
não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato com os
resíduos. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente
dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva,
fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra
o princípio do poluidor-pagador. A responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que
está implícito em determinadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de
energia. Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a
determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob
seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente
ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de
risco criada pelo agente. Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a
fonte de origem do risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua
atividade independente de culpa. Nesse sentido, a teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade
civil restou consagrada no enunciado normativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs:
“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem”. A teoria do risco integral constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em
que o nexo causal é fortalecido de modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente
o abalariam (v.g. culpa da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo
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fundamento para hipóteses legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado,
como ocorre com o dano nuclear (art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano
ambiental (art. 225, caput e § 3º, da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação
com o meio ambiente. Nesse mesmo sentido, extrai-se da doutrina que, na responsabilidade civil pelo dano
ambiental, não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa da vítima, de caso fortuito ou de
força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local indicando a presença de material orgânico não
é suficiente para excluir a responsabilidade civil”
STJ, REsp 1.373.788/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06.05.2014.
ÿÿ Pontos de destaque: Os julgados estabelecem que a teoria do risco integral adotada pelo Direito
Ambiental constitui uma modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido de
modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa da vítima;
fato de terceiro, força maior), de sorte que não são aceitas as excludentes de fato de terceiro, de culpa
da vítima, de caso fortuito ou de força maior. Nesse contexto, a colocação de placas no local indicando a
presença de material orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil.
39. Responsabilidade objetiva do Estado por omissão (responsável indireto), responsabilidade solidária e
execução subsidiária.
“AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI 9.985/00). OCUPAÇÃO E
CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E ESBULHO
DE BEM PÚBLICO. DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO. OMISSÃO. ART.
70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, § 1º, DO CÓDIGO CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º,
IV, 6º E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE). CONCEITO DE
POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA SOLIDÁRIA, OBJETIVA, ILIMITADA E DE
EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. 1. Já não se duvida, sobretudo à luz da Constituição
Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona, mais na fórmula de dever do que de direito ou
faculdade, a função de implementar a letra e o espírito das determinações legais, inclusive contra si próprio
ou interesses imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o ordenamento
constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a possibilidade, conforme a conveniência
ou oportunidade do momento, de por ela zelar ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou, frontal
ou indiretamente, contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as
presentes e futuras gerações, como patrono que é da preservação e restauração dos processos ecológicos
essenciais, incumbe ao Estado “definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção” (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de Unidades de Conservação não é um fim
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em si mesmo, vinculada que se encontra a claros objetivos constitucionais e legais de proteção da Natureza.
Por isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade – diretamente associada à insustentável
e veloz destruição de habitat natural –, se não vier acompanhada do compromisso estatal de, sincera e
eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um “sistema de áreas protegidas de papel ou de
fachada” existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores
de plantão como autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. 4.
Qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a
responsabilidade civil pelo dano ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos
princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura, e do favor
debilis, este último a legitimar uma série de técnicas de facilitação do acesso à Justiça, entre as quais se inclui
a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental. Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a
responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva ou por culpa, regime comum ou geral esse que,
assentado no art. 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais. Primeiro, quando a
responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema especial,
como na proteção do meio ambiente (Lei 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º). Segundo, quando as
circunstâncias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele
que jorra, consoante a construção doutrinária e jurisprudencial, do texto constitucional. 6. O dever-poder de
controle e fiscalização ambiental (= dever-poder de implementação), além de inerente ao exercício do poder
de polícia do Estado, provém diretamente do marco constitucional de garantia dos processos ecológicos
essenciais (em especial os arts. 225, 23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação, sobretudo da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981, arts. 2º, I e V, e 6º) e da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Ilícitos
Administrativos contra o Meio Ambiente). 7. Nos termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/1998, são titulares do
dever-poder de implementação “os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de
Meio Ambiente – SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização”, além de outros a que se confira
tal atribuição. 8. Quando a autoridade ambiental “tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a
promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de
corresponsabilidade” (art. 70, § 3°, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). 9. Diante de ocupação ou
utilização ilegal de espaços ou bens públicos, não se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental
(e também urbanística) o Administrador que se limita a embargar obra ou atividade irregular e a denunciá-la
ao Ministério Público ou à Polícia, ignorando ou desprezando outras medidas, inclusive possessórias, que a
lei põe à sua disposição para eficazmente fazer valer a ordem administrativa e, assim, impedir, no local, a
turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos bens de uso comum do povo, resultante de desmatamento,
construção, exploração ou presença humana ilícitos. 10. A turbação e o esbulho ambiental-urbanístico
podem – e no caso do Estado, devem – ser combatidos pelo desforço imediato, medida prevista atualmente
no art. 1.210, § 1º, do Código Civil de 2002 e imprescindível à manutenção da autoridade e da credibilidade
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ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a reparação do dano ao meio ambiente é direito
fundamental indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à
recomposição dos danos ambientais, com a fixação da tese segundo a qual: “É imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental”.
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REPARAÇÃO. IMPRESCRITIBILIDADE.
1. Debate-se nestes autos se deve prevalecer o princípio da segurança jurídica, que beneficia o autor do
dano ambiental diante da inércia do Poder Público; ou se devem prevalecer os princípios constitucionais de
proteção, preservação e reparação do meio ambiente, que beneficiam toda a coletividade.
ÿÿ Pontos de destaque: O julgado estabelece que a reparação do dano ao meio ambiente é direito
fundamental indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à
recomposição dos danos ambientais, com a fixação da tese segundo a qual: “É imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental”.
🏳🏳 DIREITO DO CONSUMIDOR
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para recebimento de salário. 2. Os descontos, todavia, não podem ultrapassar 30% (trinta por cento) da
remuneração líquida percebida pelo devedor, após deduzidos os descontos obrigatórios (Previdência e
Imposto de Renda). 3. Preservação do mínimo existencial, em consonância com o princípio da dignidade
humana. Doutrina sobre o tema. 4. Precedentes específicos da Terceira e da Quarta Turma do STJ. 5. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO” (STJ, REsp 1.584.501/SP, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06.10.2016)
No mesmo sentido: AgInt no REsp 1565533/PR, 4ª T., Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 23.08.2016; AgRg no
AREsp 513.270/GO, 3ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 20.11.2014.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a aplicação do direito-garantia ao mínimo existencial nas relações
jurídicas de consumo (e, consequentemente, reconhece a eficácia dos direitos fundamentais nas relações
entre particulares), como forma de assegurar a proteção da dignidade do consumidor superendividado.
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indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado
Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado. 4. O ponto de partida
do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir
igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar
com exageros que, sem utilidade real, obstem o progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo
e a própria lucratividade dos negócios. 5. O direito à informação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV,
da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da Transparência, sendo
também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança, todos abraçados pelo CDC. 6.
No âmbito da proteção à vida e saúde do consumidor, o direito à informação é manifestação autônoma da
obrigação de segurança. 7. Entre os direitos básicos do consumidor, previstos no CDC, inclui-se exatamente
a “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art.
6°, III). 8. Informação adequada, nos termos do art. 6°, III, do CDC, é aquela que se apresenta simultaneamente
completa, gratuita e útil, vedada, neste último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo
uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer serventia para o consumidor. 9. Nas
práticas comerciais, instrumento que por excelência viabiliza a circulação de bens de consumo, “a oferta e
apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas
e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e
segurança dos consumidores” (art. 31 do CDC). 10. A informação deve ser correta (= verdadeira), clara (=
de fácil entendimento), precisa (= não prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou percepção)
e, por óbvio, em língua portuguesa. 11. A obrigação de informação é desdobrada pelo art. 31 do CDC, em
quatro categorias principais, imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (= características intrínsecas do
produto e serviço), b) informação-utilização (= como se usa o produto ou serviço), c) informação-preço (=
custo, formas e condições de pagamento), e d) informação-advertência (= riscos do produto ou serviço).
12. A obrigação de informação exige comportamento positivo, pois o CDC rejeita tanto a regra do caveat
emptor como a subinformação, o que transmuda o silêncio total ou parcial do fornecedor em patologia
repreensível, relevante apenas em desfavor do profissional, inclusive como oferta e publicidade enganosa
por omissão. 13. Inexistência de antinomia entre a Lei 10.674/2003, que surgiu para proteger a saúde
(imediatamente) e a vida (mediatamente) dos portadores da doença celíaca, e o art. 31 do CDC, que prevê
sejam os consumidores informados sobre o “conteúdo” e alertados sobre os “riscos” dos produtos ou serviços
à saúde e à segurança. 14. Complementaridade entre os dois textos legais. Distinção, na análise das duas leis,
que se deve fazer entre obrigação geral de informação e obrigação especial de informação, bem como entre
informação-conteúdo e informação-advertência. 15. O CDC estatui uma obrigação geral de informação (=
comum, ordinária ou primária), enquanto outras leis, específicas para certos setores (como a Lei 10.674/03),
dispõem sobre obrigação especial de informação (= secundária, derivada ou tópica). Esta, por ter um caráter
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mínimo, não isenta os profissionais de cumprirem aquela. 16. Embora toda advertência seja informação,
nem toda informação é advertência. Quem informa nem sempre adverte. 17. No campo da saúde e da
segurança do consumidor (e com maior razão quanto a alimentos e medicamentos), em que as normas
de proteção devem ser interpretadas com maior rigor, por conta dos bens jurídicos em questão, seria um
despropósito falar em dever de informar baseado no homo medius ou na generalidade dos consumidores,
o que levaria a informação a não atingir quem mais dela precisa, pois os que padecem de enfermidades
ou de necessidades especiais são frequentemente a minoria no amplo universo dos consumidores. 18. Ao
Estado Social importam não apenas os vulneráveis, mas sobretudo os hipervulneráveis, pois são esses que,
exatamente por serem minoritários e amiúde discriminados ou ignorados, mais sofrem com a massificação
do consumo e a “pasteurização” das diferenças que caracterizam e enriquecem a sociedade moderna. 19. Ser
diferente ou minoria, por doença ou qualquer outra razão, não é ser menos consumidor, nem menos cidadão,
tampouco merecer direitos de segunda classe ou proteção apenas retórica do legislador. 20. O fornecedor
tem o dever de informar que o produto ou serviço pode causar malefícios a um grupo de pessoas, embora
não seja prejudicial à generalidade da população, pois o que o ordenamento pretende resguardar não é
somente a vida de muitos, mas também a vida de poucos. 21. Existência de lacuna na Lei 10.674/2003, que
tratou apenas da informação-conteúdo, o que leva à aplicação do art. 31 do CDC, em processo de integração
jurídica, de forma a obrigar o fornecedor a estabelecer e divulgar, clara e inequivocamente, a conexão entre
a presença de glúten e os doentes celíacos. 22. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido.
STJ, REsp 586.316/MG, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, j. 17.04.2007.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece, entre outros pontos, que o direito à informação, abrigado
expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio
da Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança,
todos abraçados pelo CDC, bem como que a informação deve ser correta (= verdadeira), clara (= de fácil
entendimento), precisa (= não prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou percepção) e, por
óbvio, em língua portuguesa. 11. A obrigação de informação é desdobrada pelo art. 31 do CDC, em quatro
categorias principais, imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (= características intrínsecas do produto e
serviço), b) informação-utilização (= como se usa o produto ou serviço), c) informação-preço (= custo, formas
e condições de pagamento), e d) informação-advertência (= riscos do produto ou serviço).
43. Responsabilidade civil do fornecedor pela perda do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor.
“RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. TEMPO DE ATENDIMENTO PRESENCIAL EM AGÊNCIAS BANCÁRIAS.
DEVER DE QUALIDADE, SEGURANÇA, DURABILIDADE E DESEMPENHO. ART. 4º, II, “D”, DO CDC. FUNÇÃO
SOCIAL DA ATIVIDADE PRODUTIVA. MÁXIMO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PRODUTIVOS. TEORIA
DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO. OFENSA INJUSTA E INTOLERÁVEL.
VALORES ESSENCIAIS DA SOCIEDADE. FUNÇÕES. PUNITIVA, REPRESSIVA E REDISTRIBUTIVA. 1. Cuida-se de
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coletiva de consumo, por meio da qual a recorrente requereu a condenação do recorrido ao cumprimento
das regras de atendimento presencial em suas agências bancárias relacionadas ao tempo máximo de
espera em filas, à disponibilização de sanitários e ao oferecimento de assentos a pessoas com dificuldades
de locomoção, além da compensação dos danos morais coletivos causados pelo não cumprimento de
referidas obrigações. 2. Recurso especial interposto em: 23/03/2016; conclusos ao gabinete em: 11/04/2017;
julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é determinar se o descumprimento de normas municipais e
federais que estabelecem parâmetros para a adequada prestação do serviço de atendimento presencial
em agências bancárias é capaz de configurar dano moral de natureza coletiva. 4. O dano moral coletivo
é espécie autônoma de dano que está relacionada à integridade psico-física da coletividade, bem de
natureza estritamente transindividual e que, portanto, não se identifica com aqueles tradicionais atributos
da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico), amparados pelos danos morais individuais. 5.
O dano moral coletivo não se confunde com o somatório das lesões extrapatrimoniais singulares, por isso
não se submete ao princípio da reparação integral (art. 944, caput, do CC/02), cumprindo, ademais,
funções específicas. 6. No dano moral coletivo, a função punitiva - sancionamento exemplar ao ofensor
- é, aliada ao caráter preventivo - de inibição da reiteração da prática ilícita - e ao princípio da vedação
do enriquecimento ilícito do agente, a fim de que o eventual proveito patrimonial obtido com a prática
do ato irregular seja revertido em favor da sociedade. 7. O dever de qualidade, segurança, durabilidade e
desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do CDC, tem um
conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento
dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo. 8. O desrespeito voluntário das
garantias legais, com o nítido intuito de otimizar o lucro em prejuízo da qualidade do serviço, revela
ofensa aos deveres anexos ao princípio boa-fé objetiva e configura lesão injusta e intolerável à função
social da atividade produtiva e à proteção do tempo útil do consumidor. 9. Na hipótese concreta, a
instituição financeira recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em
lei municipal e federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta
e intolerável ao interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente
para a configuração do dano moral coletivo. 10. Recurso especial provido”. (STJ, REsp 1.737.412/SE, 3ª T.,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05.02.2019).
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece a aplicação responsabilidade civil do fornecedor pela perda
do tempo livre ou desvio produtivo do consumidor, na medida em que o dever de qualidade, segurança,
durabilidade e desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d,
do CDC, tem um conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo
aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo.
44. Responsabilidade objetiva do fornecedor pelo vício de quantidade e omissão ou deficiência quanto ao
seu dever de informação em relação ao consumidor.
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igualdade material entre as partes. Sendo assim, no tocante à oferta, estabelece serem direitos básicos do
consumidor o de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°,
III) e o de receber proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 6°, IV). 2. É bem verdade
que, paralelamente ao dever de informação, se tem a faculdade do fornecedor de anunciar seu produto
ou serviço, sendo certo que, se o fizer, a publicidade deve refletir fielmente a realidade anunciada, em
observância à principiologia do CDC. Realmente, o princípio da vinculação da oferta reflete a imposição da
transparência e da boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, de forma que esta exsurge
como princípio máximo orientador, nos termos do art. 30. 3. Na hipótese, inequívoco o caráter vinculativo
da oferta, integrando o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou serviços se responsabiliza
também pelas expectativas que a publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando
veicula informação de produto ou serviço com a chancela de determinada marca, sendo a materialização do
princípio da boa-fé objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação,
proteção e informação, sob pena de responsabilidade. 4. A responsabilidade civil da fabricante decorre,
no caso concreto, de pelo menos duas circunstâncias: a) da premissa fática incontornável adotada pelo
acórdão de que os mencionados produtos e serviços ofertados eram avalizados pela montadora através da
mensagem publicitária veiculada; b) e também, de um modo geral, da percepção de benefícios econômicos
com as práticas comerciais da concessionária, sobretudo ao permitir a utilização consentida de sua marca na
oferta de veículos usados e revisados com a excelência da GM. 5. Recurso especial não provido”.
STJ, REsp 1.365.609/SP, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28.04.2015.
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origem, além de vedar a publicidade enganosa e abusiva, que dispensa a demonstração do elemento
subjetivo (dolo ou culpa) para sua configuração. 3. A propaganda enganosa, como atestado pelas instâncias
ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, cuja conduta subsume-se à
hipótese de estado de perigo (art. 156 do Código Civil). 4. A vulnerabilidade informacional agravada ou
potencializada, denominada hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva
do manifesto desequilíbrio entre as partes. 5. O dano moral prescinde de prova e a responsabilidade de
seu causador opera-se in re ipsa em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo
consumidor. 6. Em virtude das especificidades fáticas da demanda, afigura-se razoável a fixação da verba
indenizatória por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). 7. Recurso especial provido”.
STJ, REsp 1.329.556/SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25.11.2014.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que a propaganda enganosa, como atestado pelas instâncias
ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, cuja conduta subsume-se à hipótese
de estado de perigo (art. 156 do Código Civil), na medida em que aA vulnerabilidade informacional agravada
ou potencializada, denominada hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva
do manifesto desequilíbrio entre as partes.
48. Publicidade abusiva e anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente,
às crianças.
“PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...). PUBLICIDADE DE ALIMENTOS
DIRIGIDA À CRIANÇA. ABUSIVIDADE. VENDA CASADA CARACTERIZADA. ARTS. 37, § 2º, E 39, I, DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. (...). 2. A hipótese dos autos caracteriza publicidade duplamente abusiva.
Primeiro, por se tratar de anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou indiretamente,
às crianças. Segundo, pela evidente “venda casada”, ilícita em negócio jurídico entre adultos e, com maior
razão, em contexto de marketing que utiliza ou manipula o universo lúdico infantil (art. 39, I, do CDC). 3. In
casu, está configurada a venda casada, uma vez que, para adquirir/comprar o relógio, seria necessário
que o consumidor comprasse também 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos”. Recurso especial improvido.
(...) DO MARKETING ABUSIVO DIRIGIDO ÀS CRIANÇAS. É abusivo o marketing (publicidade ou promoção
de venda) de alimentos dirigido, direta ou indiretamente, às crianças. A decisão de compra e consumo de
gêneros alimentícios, sobretudo em época de crise de obesidade, deve residir com os pais. Daí a ilegalidade,
por abusivas, de campanhas publicitárias de fundo comercial que utilizem ou manipulem o universo lúdico
infantil (art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor). DA VENDA CASADA. A controvérsia cinge-se a
saber se ficou configurada a venda casada na estratégia de marketing desenvolvida pela recorrente, na qual,
mediante 5 (cinco) rótulos de produtos da linha “Gulosos”, o consumidor poderia comprar um relógio pelo
valor de R$ 5,00 (cinco reais). O Tribunal de origem, ao analisar todo o contexto fático da causa, assentou que
ficou configurada a venda casada no caso dos autos, pois os consumidores só poderiam adquirir o relógio se
comprassem 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos” e mediante o pagamento de R$ 5,00 (cinco reais). Confira-
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se trecho do acórdão impugnado (fls. 1.233/1.234, e-STJ): “A publicidade discutida nos autos, referente à
linha de produtos “Gulosos” investiu na conhecida modalidade de atrelar um “brinde” à aquisição dos
produtos da marca. A palavra “brinde” significa presente, mimo. Normalmente, esse produto é utilizado
como uma forma de propaganda do estabelecimento, da marca ou de algum produto. Desse conceito, pode-
se concluir que os “brindes” deveriam ser entregues gratuitamente aos consumidores, o que não acontece
no presente caso. Aqui, os consumidores pagavam pelo “brinde”. A venda casada acontece quando um
consumidor, ao adquirir um produto, leva conjuntamente outro, seja da mesma espécie ou não. Esse instituto
pode ser visualizado quando o fornecedor de produtos ou serviços condiciona que o consumidor só pode
adquirir o primeiro se adquirir o segundo. Essa situação restou caracterizada nos autos. Os consumidores
somente poderiam adquirir o relógio se comprassem 05 produtos da linha “Gulosos” e ainda pagassem a
quantia de R$ 5,00. A venda do relógio, portanto, estava condicionada à compra dos bolinhos e biscoitos.
Sem estes, aquele não poderia ser adquirido. Essa prática é vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro.
O consumidor não pode ser obrigado a adquirir um produto que não deseja.” Sobre o tema, em relação à
interpretação do art. 39, I, do CDC, a doutrina considera como venda casada quando o “fornecedor nega-
se a fornecer o produto ou serviço, a não ser que o consumidor concorde em adquirir também um outro
produto ou serviço”. Destaca-se, ainda, que o referido instituto não está adstrito somente à compra e
venda, “valendo também para outros tipos de negócios jurídicos, de vez que o texto fala em ‘fornecimento’”
(BENJAMIN, Antonio Herman. In Manual do Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2010). No caso dos autos, ficou configurada a venda casada, visto que, para adquirir/comprar o relógio,
seria necessário que o consumidor comprasse também 5 (cinco) produtos da linha “Gulosos”. Dessa forma,
irretocável o acórdão da origem, ao vedar que os responsáveis por crianças sejam constrangidos a comprar
determinados produtos que efetivamente não desejam”.
STJ, REsp 1.558.086/SP, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, j. 10.03.2016.
49. Banco de dados, direitos à intimidade e à proteção da vida privada e eficácia entre particulares dos
direitos fundamentais..
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCOS DE DADOS.
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. PRIVACIDADE E INTIMIDADE. AUTODETERMINAÇÃO INFORMATIVA. DIREITOS
FUNDAMENTAIS. EFICÁCIA HORIZONTAL. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.
ANOTAÇÕES. CARTÓRIOS DE PROTESTO. TERMO INICIAL DO PRAZO. ART. 43, § 1º, DO CDC. DATA DO
VENCIMENTO DA DÍVIDA. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. ART. 927, § 3º, DO CPC/15. PRINCÍPIO. PROTEÇÃO
DA CONFIANÇA LEGÍTIMA. REGIME DE TRANSIÇÃO. ART. 23 DA LINDB. ÔNUS E PREJUÍZOS ANORMAIS
OU EXCESSIVOS. (...) (...) 7. Os direitos à intimidade e à proteção da vida privada, diretamente
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relacionados à utilização de dados pessoais por bancos de dados de proteção ao crédito, consagram o
direito à autodeterminação informativa e encontram guarida constitucional no art. 5º, X, da Carta Magna,
que deve ser aplicado nas relações entre particulares por força de sua eficácia horizontal e privilegiado por
imposição do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais. 8. In casu, ao menos desde
o julgamento pela 3ª Turma do REsp 1316117/SC, ocorrido em 26/04/2016, não há jurisprudência
consolidada em relação ao termo inicial do prazo máximo de inscrição da anotação nos cadastros de
proteção ao crédito, o que permite concluir pela inexistência de jurisprudência em sentido substancial,
capaz de ensejar nos jurisdicionados uma confiança racionalmente aceitável de estabilidade capaz de
subsidiar uma legítima expectativa de certeza objetiva de resposta jurisdicional. 9. Ademais, não existe
desproporcionalidade na imediata adoção da vedação ao registro de anotações negativas sem que conste a
data de vencimento da dívida, pois a mera suspensão, até efetiva regularização do procedimento, da
anotação de registros provenientes de cartórios de protesto que não contenham essa informação, não gera
ônus excessivos ou desproporcionais para a embargante e evita a perpetuação dessa lesão aos direitos
dos consumidores. 10. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos infringentes”.
STJ, EDcl no REsp 1630889 / DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27.11.2018.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que os direitos à intimidade e à proteção da vida privada,
diretamente relacionados à utilização de dados pessoais por bancos de dados de proteção ao crédito,
consagram o direito à autodeterminação informativa e encontram guarida constitucional no art. 5º, X,
da Carta Magna, que deve ser aplicado nas relações entre particulares por força de sua eficácia horizontal e
privilegiado por imposição do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais..
50. Bancos de dados, direitos de personalidade do consumidor e termo inicial do limite temporal de cinco
anos em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência.
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCOS DE DADOS. PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
PRINCÍPIO DA FINALIDADE. PRINCÍPIO DA VERACIDADE DA INFORMAÇÃO. ART. 43 DO CDC. PRAZOS DE
MANUTENÇÃO DE INFORMAÇÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. PRESCRIÇÃO DA DÍVIDA. TERMO
INICIAL. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO ARQUIVISTA. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. RESULTADO
PRÁTICO EQUIVALENTE AO ADIMPLEMENTO. ART. 84 DO CDC. SENTENÇA. ABRANGÊNCIA NACIONAL.
ART. 16 DA LEI 7.347/85. (...) 2. O propósito recursal é determinar qual o termo inicial do limite temporal
previsto no § 1º do art. 43 do CDC, a quem cabe a responsabilidade pela verificação do prazo máximo de
permanência da inscrição em cadastros de proteção ao crédito, na hipótese de anotações decorrentes de
protesto de títulos e a possibilidade de configuração de danos morais indenizáveis. 3. A essência - e,
por conseguinte, a função social dos bancos de dados - é reduzir a assimetria de informação entre
o credor/vendedor, garantindo informações aptas a facilitarem a avaliação do risco dos potenciais
clientes, permitindo aos credores e comerciantes estabelecer preços, taxas de juros e condições de
pagamento justas e diferenciadas para bons e maus pagadores. 4. Em vista da tensão com os direitos da
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personalidade e da dignidade da pessoa humana, o CDC, disciplinando a matéria, atribuiu caráter público
às entidades arquivistas, para instituir um amplo, rigoroso e público controle de suas operações, no
interesse da comunidade. 5. O princípio da finalidade atua de forma preventiva, impedindo que os dados -
na maioria das vezes negativos e obtidos sem o consentimento dos consumidores - sejam desvirtuados
pelos usuários do sistema, para garantir o débito, punir o devedor faltoso ou coagir ao pagamento. 6. Os
dados cadastrados de consumidores devem ser objetivos, claros e verdadeiros, haja vista que informações
desatualizadas ou imprecisas dificultam a efetiva proteção ao crédito e prejudicam a atividade econômica
do consumidor e também do fornecedor. 7. As entidades mantenedoras de cadastros de crédito devem
responder solidariamente com a fonte e o consulente pela inexatidão das informações constantes em
seus arquivos e pelos danos que podem causar danos aos consumidores (art. 16 da Lei 12.414/2011). 8.
Nas obrigações de fazer no Direito do Consumidor, o juiz deve conceder a tutela específica da obrigação
ou determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento (art. 84 do
CDC). 9. A jurisprudência do STJ concilia e harmoniza os prazos do § 1º com o do § 5º do art. 43 do CDC,
para estabelecer que a manutenção da inscrição negativa nos cadastros de proteção ao crédito respeita a
exigibilidade do débito inadimplido, tendo, para tanto, um limite máximo de cinco anos que pode ser,
todavia, restringido, se for menor o prazo prescricional para a cobrança do crédito. 10. Em razão do respeito
à exigibilidade do crédito e ao princípio da veracidade da informação, o termo inicial do limite temporal de
cinco anos em que a dívida pode ser inscrita no banco de dados de inadimplência é contado do primeiro
dia seguinte à data de vencimento da dívida. 11. Os arquivistas devem adotar a posição que evite o
dano potencial ao direito da personalidade do consumidor, razão pela qual é legítima a imposição
da obrigação de não-fazer, consistente em não incluir em sua base de dados informações coletadas dos
cartórios de protestos, sem a informação do prazo de vencimento da dívida, para controle de ambos os
limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei 8.078/90. 12. Condenação genérica das recorridas à
indenização dos danos materiais e compensação dos danos morais eventual e individualmente sofridos
pelos consumidores, desde que seja comprovado que todas as anotações em seus nomes sejam
imprecisas em razão de sua desatualização. 13. Abrangência da decisão proferida em ação coletiva em
todo o território nacional, respeitados os limites objetivos e subjetivos do que decidido. Tese repetitiva. 14.
Recurso especial provido”. STJ, REsp 1.630.889/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11.09.2018.
ÿÿ Pontos de destaque: o julgado estabelece que a jurisprudência do STJ concilia e harmoniza os prazos
do § 1º com o do § 5º do art. 43 do CDC, para estabelecer que a manutenção da inscrição negativa nos
cadastros de proteção ao crédito respeita a exigibilidade do débito inadimplido, tendo, para tanto, um
limite máximo de cinco anos que pode ser, todavia, restringido, se for menor o prazo prescricional para
a cobrança do crédito, bem como que os arquivistas devem adotar a posição que evite o dano potencial ao
direito da personalidade do consumidor, razão pela qual é legítima a imposição da obrigação de não-fazer,
consistente em não incluir em sua base de dados informações coletadas dos cartórios de protestos, sem a
informação do prazo de vencimento da dívida, para controle de ambos os limites temporais estabelecidos
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