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Caso Extremo de Sobrevida em Paciente

Grande Queimado - Relato de Caso


Dino R. Gomes'
M. Cristina Serra/
Luiz Macieira G. Jr. 3
Marcelo C. Aniceto de Souza"
Carla S. Gamas
Mariana Antunes Pereiras
Andre S. Serras

1] Coordenador Clínico do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital do Andaraí. Professor colaborador


do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica da PU C-Rio e do Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos
Chagas.

2] Coordenadora Pediátrica do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital do Andaraí. Chefe da Pediatria


do Hospital Municipal Souza Aguiar. Professora colaboradora do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica
da PUC-Rio.

3] Cirurgião Plástico. Chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital do Andaraí.

4] Pós-graduando em Cirurgia Plástica da PUC-Rio (Serviço do Professor Ivo Pitanguy).

5] Estagiários do Centro de Tratamento de Queimados do Andaraí.

Endereço para correspondência:

Dino Roberto Gomes

R. Ataulpho Coutinho, 80 bl. 01 apto 704


Rio de Janeiro - RJ
22793-090

Unitermos: Queimaduras; grande queimado; nutrição;


hipnoanalgesia; solução hipertônica.

RESUMO
Os autores apresentam o caso de um paciente que sobreviveu a lesão térmica maciça ocupando uma
área correspondente a 92% de sua superfície corporal (Diagrama de Lund- Browder), com queimadu-
ras de segundo e terceiro graus. Neste relato discutimos a importância da correta prescrição da hidratação)
da hipnoanalgesia durante a rigorosa assepsia e degermação da área queimada) bem como a nutrição
e a antibioticoterapia que devem ser prescritas a um paciente nessas condições. Tecemos também comen-
tários à determinante participação da equipe cirúr;gica) com desbridamentos tangenciais sempre op01r-
tunos e enxertia das regiões mais profundas) mesmo com a escassez de área doadora.

Rev. Soe. Bras. Ciro Plást. São Paulo v.15 n.l p. 67-78 jan/abr, 2000 73
Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

INTRODUÇÃO to em qu~ o paciente acendeu o maçarico para


soldá-lo. E interessante notar que as lesões mais
As queimaduras estão entre as mais graves lesões profundas, de terceiro grau, atingiram os mem-
que o organismo pode suportar, não só pela dor bros inferiores, já que essa região teve maior con-
excruciante mas pela possibilidade de choques tato com o fogo à medida que o paciente se retira-
hipovolêmico e séptico proporcionais à extensão e va do local do acidente.
profundidade da área atingida. Estatisticamente, a
taxa de sobrevida de Wll paciente vítima de um trau- Como o paciente estava em ambiente semifechado
ma térmico não está bem documentada no Brasil, no momento da explosão (dentro do tanque), ha-
onde se observa uma tendência a supervalorizar a via suspeita de inalação de fumaça ou queimaduras
área queimada. Atribuímos esse fato à em vias aéreas por vapor superaquecido.
desinformação e a não utilização do critério inter-
nacional (Diagrama de Lund-Browder). Em um TRATAMENTO IMEDIATO
estudo publicado no Jornal da Sociedade Internaci-
onal de Queimaduras'!' com 3.499 pacientes, com Admitido no serviço do CTQ do Hospital Geral
idade variando de 3 semanas a 90 anos, internados do Andaraí às 13:20 horas (2 horas e 20 minutos
em sete diferentes hospitais na Índia, não houve após o acidente), apresentava-se lúcido, orientado,
relato de sobrevida em pacientes com superfície cooperativo, com freqüência cardíaca de 112 bpm.
corporal queimada maior que 70%. Em um dos Pulmões limpos, freqüência respiratória de 26 irprn,
hospitais não ocorreu sobrevida com área sequer sem esforço, o que afastava temporariamente a pos-
superior a 30%. Em outro extremo, a Estatística da sibilidade de ter ocorrido inalação, uma vez que o
Permuta Nacional de Informações sobre Queima- acidente ocorreu dentro de um tanque. Previamen-
duras nos EUA - 1985 mostra que a sobrevida de te saudável, negava patologias associadas e não apre-
um adulto com superfície corporal queimada de sentava ao exame físico qualquer outro tipo de trau-
85% variou de 0% a 5%. ma.

o caso relatado é de um paciente do sexo masculi- Logo de início, foi ressuscitado com solução
no, 25 anos, que sobreviveu a um maciço trauma cristalóide (Ringer Lactato), em uma velocidade
térmico ocupando 92% da superfície corporal. suficiente para manter o débito urinário entre 30 a
Descreveremos os fatores que possivelmente in- 50 mlj hora. Passada a sonda vesical, o paciente foi
fluenciaram a sobrevida, que incluíram a combi- encaminhado à balneoterapia, onde, após analgesia
nação da imediata reposição volêmica com endovenosa com narcótico (Meperidina), ele teve
agressividade cirúrgica nos curativos diários, su- . lavada a área queimada com água corrente, tendo
porte nutricional, pronto tratamento da sepse e, se realizado degermação com polivinilpirrolidona -
fundamentalmente, a dedicação de uma equipe iodo (P.VP.I), fricção e rompimento das flictenas,
multidisciplinar composta de clínicos intensivistas, seguido da aplicação tópica do creme de sulfadiazina
cirurgiões plásticos, enfermagem especializada, de prata a 1%, além de curativo contensivo, assim
nutricionistas e psicólogos. Esse fatores parecem como imunização contra o tétano. Na admissão,
ser a chave para o sucesso no tratamento do paci- foram solicitados os seguintes exames: hemograma
ente grande queimado. completo, bioquímica, tipagem sangüínea, fator Rh
e radiografia de tórax.
RELATO DO CASO Desde o primeiro momento, foi prescrita dieta lí-
quida, conforme aceitação, e proteção da mucosa
Paciente M.S.S., masculino, 25 anos, branco, apre-
gástrica com Ranitidina 50 mg intravenosa, de 8
sentando superfície corporal queimada (SCQ) to-
em 8 horas. A cabeceira foi mantida a 30° e os mem-
tal de 92%, distribuída em: 74% de segundo grau
bros queimados também permaneceram elevados.
superficial, 13% de segundo grau profundo e 5%
de terceiro grau (Fig. 1).
PRIMEIRAS 24 HORAS
A queimadura foi causada por chama direta, pela
explosão de um tanque de álcool vazio no momen- Nas primeiras 5 horas, foram infundidos 3.000 ml

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de Ringer Lactato por via intravenosa. Às 19 ho- Durante a internação, observou-se que algumas áre-
ras, o Ringer foi substituído temporariamente por as, inicialmente classificadas como sendo de segun-
uma solução hipertônica a 1,5%, administrada pela do grau superficial, aprofundaram-se e exigiram
mesma via durante urna hora, totalizando 500 ml. intervenção cirúrgica precoce. Somente no 5° dia
Nesse momento (20 horas), a infusão de Ringer de internação foi obtida a delimitação da profundi-
foi reiniciada, somando-se mais 1.500 ml nas 8 horas dade da queimadura.
seguintes. A partir daí (4 horas), devido a uma queda
lenta e progressiva da diurese, de 80 ml/h às 20 ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS
horas para 28 ml/h, a hidratação venosa foi nova-
mente alterada para lillU solução hipertônica a 7,5%, Ao exame bioquímico, apresentou hipoproteinemia
sendo administrados 100 ml em 20 minutos. Foi durante praticamente todos os trinta dias iniciais
retomada a hidratação com Ringer Lactato (mais após a lesão, tendo sido associada ao tratamento a
1.000 ml), mantida até o final das primeiras 24 horas solução colóide com plasma humano (600 ml/dia)
de internação. e albumina (150 ml/dia), até o 38° dia de queima-
dura.
No final do primeiro dia, o volume hídrico ofereci-
do foi de 4.750 ml por via oral e 6.100 por via Foram administradas, ao todo, 15 unidades de con-
intravenosa, totalizando 10.850 ml, para a diurese centrado de hemácias durante os primeiros 30 dias,
correspondente de 1.136 ml, o que equivale em indicadas pelo critério de micro-hematócrito reali-
média ao débito urinário de 47 ml/h. zado rotineiramente no serviço.

Foram administrados, ao longo do tratamento, apro-


ENTRE 24 E 48 HORAS DE TRATA- ximadamente 10.000 ml de plasma e 4.200 ml de
MENTO albumina, que equivalem a 67 bolsas de 150 ml e
84 frascos de 50 ml, respectivamente.
N o segundo dia de CTQ, foi mantida dieta liquida
conforme aceitação (total de 4.450 ml) e a
hidratação venosa com Ringer Lactato (1.000 ml),
INFECÇÃO
proteção gástrica com 50 mg de Ranitidina No 3° dia de internação, o paciente evoluiu com
intravenosa, de 8 em 8 horas, e iniciada reposição hipertermia mantida (38,6 CO), taquicardia (144
de plasma humano num total de 600 ml/dia. bpm), taquipnéia (38 irpm), oligúria (28 ml/h) ,
edema generalizado, enchimento capilar lento e
O CURATIVO aparelho respiratório sem alterações. Houve suspeita
de infecção e, dessa forma, após coleta de amostra
A balneoterapia foi procedimento diário adotado
de sangue para hemograma e hemocultura, foi ini-
durante todo o período da internação. Constava de
ciada antibioticoterapia com cefalosporina de pri-
lavagem copiosa da lesão com água corrente, em
meira geração (Cefalotina 2 g IV, de 6 em 6 horas)
mesa de Morgani, retirada do tecido desvitalizado,
associada a um aminoglicosídio (Amicacina 500 mg
uso de solução degermante de polivinilpirrolidona
IV, de 12 em 12 horas).
(P.VP.I.), seguido da aplicação de uma camada ge-
nerosa de sulfadiazina de prata 1% e oclusão com No 9° dia de c.T.Q., passados cinco da primeira
gaze e crepom. associação antibiótica, o paciente permanecia está-
vel do ponto de vista clínico, porém seu estado era
O esquema analgésico utilizado de rotina no c.T.Q.
grave em razão da extensão da área queimada. Per-
(Midazolan O.lrnl/kg + Cetamina 1 mg/kg), além
manecia febril, e o hemograma demonstrava
de auxiliar nessa tarefa, permitiu-nos abordar a área
leucocitose com um importante desvio para a es-
queimada sempre no momento oportuno, oferecen-
querda. Assim, a Cefalotina foi substituída pelo
do desbridamentos tangenciais precoces, a partir do
Imipenen (1 g, de 6 em 6 horas), que permaneceu
5° dia de internação, que nos possibilitaram man-
associado ao aminoglicosídio por nove dias.
ter sob controle a colonização bacteriana da área
queimada. Ele conservou-se estável até o 1 r dia, quando ini-

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Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

ciou novo quadro clínico de sepse, determinando a No 14° dia, a dieta oral foi alterada para 3.500 kcal
troca do am.inoglicosídio pela vancomicina (500 mg, mais 200 g de proteínas diárias, e a enteral para
de 6 em 6 horas). No 20° dia de CTQ., o paciente Q2, com 1.200 ml/dia.
permanecia em estado grave, e o Imipenen foi tro-
No 16° dia, a dieta enteral Q2 sofreu aumento para
cado por uma cefalosporina de terceira geração
1.500 ml/dia.
(ceftadizima 1 g, de 8 em 8 horas), que passou a
atuar junto à vancomicina. No 19° dia, a dieta enteral Q2 foi aumentada para
1.800 ml diários.
No 36° dia, a associação vancomicina + ceftadizima
foi desfeita, sendo a segunda usada mono- Devido a aceitação satisfatória de calorias, no 22°
terapicamente até o 39° dia de internação. dia aumentamos a enteral, atingindo até 7.000 kcal
diárias divididas em 3.000 kcal por via oral (com
Durante a cirurgia de auto-enxertia, para
mais 250 g de proteína) e 2.000 ml de Q2 por
recobrimento da área já granulada, no pré, per e
enteral. Esta dieta perdurou até o 27° dia, quando
pós-operatório imediato, empregamos uma
as proteínas foram reduzidas a 210 g diárias.
cefalosporina de primeira geração, seguindo a nor-
ma recomendada pelo CDC A dieta enteral foi suspensa no 28° dia, mantendo-
se apenas a dieta oral.
Os antibióticos foram sendo mantidos ou trocados
de acordo com o quadro clínico e laboratorial de A partir do 41° dia, a dieta oral foi reduzida para
infecção. 2.900 kcal mais 250 g de proteínas, até a alta.

SUPORTE NUTRICIONAL ACESSO VENOSO


A dieta oral, nas primeiras 24 horas, foi liberada con- A busca por um acesso venoso profundo em área
forme a aceitação do paciente. Um antiemético não queimada num paciente que possuía somente
(metaclopramida) foi prescrito de rotina. O paciente 8% de superfície corporal sã representou um dos
aceitou 4.750 ml nas primeiras 24 horas. maiores desafios encontrados ao longo do tratamen-
to. No 10° dia de internação, foram realizadas a
No 4° dia, quando o paciente já se encontrava
hemodinamicamente estável, iniciamos suporte dissecção e a punção profunda da veia femural di-
reita.
nutricional enteral (SNE), usando como base para
o cálculo do valor calórico total (VCT) a fórmula No 17°, foi realizada a dissecção da veia femural
de Curreri'". A dieta obedeceu a relação caloria/ esquerda.
nitrogênio de 100: 1, devido à necessidade de man-
ter, no paciente queimado, um equilíbrio Durante grande parte do período de internação, a
nitrogenado frente ao enorme consumo, conforme via venosa de acesso foi a periférica.
sugere Kagan e colaboradorest".
CIRURGIAS
No serviço, dispomos de duas dietas artesanais para
uso por via enteral: Ql (1.000 kcal em 1.000 ml) e O aporte cirúrgico oferecido ao paciente consistiu
Q2 (2.000 kcal em 1.000 ml). de vários tempos de desbridamentos cirúrgicos e
um tempo de auto-enxertia (Mesh graft) , que fo-
Iniciamos com 1.000 ml de Ql em bomba infusora ram realizados nos momentos oporull1os, caracte-
24 horas, associada a 2.000 kcal e 125 g de proteí- rizados como aqueles em que o paciente apresenta-
nas via oral, conforme o tolerado. Suspendemos a va estabilidade hemodinâmica, controle da infec-
Ran.itidina após o início da enteral, em razão desta
ção e aspecto da área indicativo para desbridamento.
já ser suficiente para a proteção da mucosa gástri-
ca(4). Logo no dia seguinte (5° dia de CTQ.), a Esses procedimentos, em sua maioria, foram reali-
dieta oral foi aumentada para 2.500 kcal mais 150 zados durante a balneoterapia diária, beneficiados
g de proteínas, e Ql passou para 1.500 ml diários. pelo esquema analgésico adotado para o caso. Ou-

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tros, considerados maiores, foram realizados no cen- despercebida e dificilmente ultrapassa 10 % do


tro cirúrgico geral do hospital devido à necessidade hematócrito original. O hematócrito inicial do
de um tempo maior de analgesia para um paciente foi de 58,5%, caindo em 5 dias para
desbridamento mais agressivo. 29,4%.

Após o estabelecimento do equilíbrio


RESULTADO
hemodinâmico, observa-se uma redução impor-
o bom resultado obtido com o tratamento deve-se tante do hematócrito que, somado a outros fato-
ao aporte clínico cirúrgico. Os fatores que prova- res, contribui para as múltiplas transfusões san-
velmente influenciaram a sobrevida foram a com- guíneas a que o paciente é submetido. Um desses
binação da imediata reposição volêmica com a fatores é a redução da vida média normal das
agressividade cirúrgica nos curativos diários, sob hemácias, de 120 dias para aproximadamente 40
analgesia eficaz, somadas ao suporte nutricional com dias. Essa redução é decorrente da destruição pe-
altas taxas calóricas e protéicas, além do agressivo riférica das hemácias, pois, se transfundirmos o
tratamento da sepse. sangue de um queimado para um paciente nor-
mal, a expectativa de vida das hemácias é normal.
O paciente recebeu alta hospitalar em 13/5/1998, O inverso também ocorre, pois a vida das
após 72 dias de internação, deambulando, com fun- hemácias transfundidas para o queimado é redu-
ção renal preservada, sem área queimada exposta e zida pelo mesmo processo'>'.
sem seqüela funcional.
SUPORTE NUTRICIONAL
DISCUSSÃO
As queimaduras constituem um problema difícil
ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS na terapia nutricional. Perda de peso, balanço
nitrogenado negativo, mudanças neuro-
A queimadura constitui uma das maiores agres- hormonais impostas por acentuado catabolismo
sões que o organismo pode suportar. Em quei- caracterizam a resposta metabólica pós-injúria
maduras extensas, a grande perda de liquidos para térmica, sendo a magnitude dessas alterações re-
o interstício, em função do aumento da lacionada à extensão e profundidade da lesão'?'.
permeabilidade capilar, ocasiona o "hum shock",
que provoca a necessidade de uma reposição O aumento acentuado da proteólise na muscula-
volêmica agressiva e imediata, à qual temos che- tura esquelética, acompanhada de lipólise e
gado com pleno sucesso empregando a solução gliconeogênese, caracteriza as alterações metabó-
hipertônica a 1,5% e 7,5%. A intensidade da per- licas do paciente grande queimado que determi-
da hídrica se relaciona diretamente com a pro- narão um processo rápido de subnutrição
fundidade da lesão. Durante a internação, o paci- protéico-calórica.
ente apresentou episódios de baixo débito acom- O suporte nutricional revolucionou o tratamen-
panhado de edema dos membros inferiores e da to do paciente queimado nos últimos dez anos,
bolsa escrotal. refletindo diretamente na sobrevi da de pacientes
É muito comum encontrarmos pacientes quei- gravemente queimados.
mados extremamente hipocorados, com O objetivo principal da terapêutica nutricional é
hematócritos baixos. minimizar a deterioração clínica do paciente no
Dependendo do grau de queimadura e da exten- sentido de prevenir a infecção, acelerar a cicatri-
são da área lesada, ocorre uma discreta hemólise zação, reduzir o número de intervenções cirúrgi-
no ato do trauma térmico. Em decorrência da cas e o tempo de permanência hospitalar'?'. Os
intensa fuga de líquidos para o interstício do te- níveis séricos de albwnina foram rigorosamente
cido queimado e não queimado e da mantidos em torno de 3 g, por reposição oral e
hemo concentração resultante, a hemólise passa parenteral.

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QUADRO INFECCIOSO CONCLUSÃO


Após a injúria térmica, o exudato oriundo da área o sucesso do tratamento de pacientes com maciço
queimada constitui um excelente meio de cultura trauma térmico depende, acima de tudo, do esfor-
para o desenvolvimento bacteriano e sua prolife- ço de toda uma equipe multidisciplinar bem coor-
ração. A coagulação intravascular localizada na denada, treinada e vigilante 24 horas do dia.
área queimada irá impedir não só a chegada dos
mediadores inflamatórios do sistema BIBLIOGRAFIA
imunológico, como também impedirá que os
antibióticos administrados por via parenteral atin- Vide pág. 72.
jam níveis terapêuticos nos tecidos lesados. Além
disso, ocorre uma importante supressão da fun-
ção imune, proporcional à extensão da queima-
dura'v.

78 Rev. Soe. Bras. Ciro Plást. São Paulo v.15 11.1 p. 67-78 jan/abr, 2000

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