Você está na página 1de 106

(DES)CONGREGADOS:

20 RAZÕES E DESCULPAS PARA A EVASÃO


NAS IGREJAS CRISTÃS

MIZAEL DE SOUZA XAVIER

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS:


Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou
processo, especialmente por sistemas gráficos, sem a devida
autorização assinada pelo autor, Mizael de Souza Xavier. A violação
dos direitos é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código
Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e
indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998,
Lei dos Direitos Autorais).

ATENÇÃO:
Este conteúdo faz parte do livro “Igrejados: 70 razões e desculpas
para a evasão nas igrejas cristãs”, publicado em formato de livro
digital na Amazon. Código ASIN: B08H4JD81B

Distribuição gratuita
Venda proibida

5S EDITORA
PARNAMIRIM/RN
2022
APRESENTAÇÃO
No ano de 2007, interessei-me por abordar um tema dentre os
estudos bíblicos que eu realizava: os motivos ou as desculpas que as
pessoas apresentam para não frequentarem a igreja1 ou para
abandoná-la. A minha intenção era dissertar sobre ao menos dez
dessas razões, mas por algum motivo parei no meio do caminho e
não terminei o estudo. Passaram-se treze anos até que eu voltasse a
pensar a respeito do tema, desta vez com uma vivência maior no
Evangelho e conhecimento mais aprofundado das Sagradas
Escrituras. Na verdade, o que me despertou novamente para concluir
este estudo foi um texto que meu filho, Thiago, enviou-me, intitulado:
“Como responder a um crítico de Jesus: expondo os 10 piores
argumentos contra o Cristianismo”, escrito por Scott M. Sullivan,
Ph.D. Ambos os assuntos estão interligados. Criticar o Senhor Jesus é
também falar mal da sua Igreja, porque ambos estão intimamente
conectados. Por outro lado, falar mal da Igreja significa falar contra
aquele que é o seu fundamento e cabeça: o próprio Senhor Jesus
Cristo. Podemos recordar do apóstolo Paulo, ainda chamado Saulo, a
caminho de Damasco, com autorização para prender qualquer
seguidor da nova seita do Nazareno que encontrasse pelo caminho
(At 9:1-19). Ao interceptá-lo, o Senhor o questionou: “Saulo, Saulo,
por que me persegues?”; ao que ele indagou: “Quem és tu, Senhor”.
Então Jesus lhe respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (vs.
4,5).
Talvez não seja possível encontrar palavras nem estatísticas
que demonstrem a importância e o valor da Igreja cristã para a
humanidade. Muito embora ela tenha experimentado períodos de
trevas enquanto instituição religiosa, detentora de poder espiritual e
secular, a sua contribuição para a vida do homem e a História do
mundo é imensurável, incluindo o pensamento científico. Todavia, a
sua maior contribuição está nesta verdade: Cristo ressuscitou! A
mensagem que a Igreja traz difere de qualquer outra, porque ela
conecta o homem a Deus e lhe dá uma esperança eterna. Estamos
falando da verdadeira Igreja, não daqueles movimentos que pregam
a Teologia da Prosperidade e que não oferecem esperança alguma,
além de uma gorda conta bancária e, posteriormente, o amargor da
segunda morte. É a Igreja que prega e vive o Evangelho da graça de
Deus que triunfará quando o Senhor vier glorioso nas nuvens buscar
a sua noiva. E é essa a Igreja que prega sobre o Único que tem as
palavras de vida eterna. Ela é o ambiente propício para uma vida
santa e abundante, porque nela habita o Espírito Santo de Deus.
1 Neste estudo, usarei a palavra “Igreja” com “i” maiúsculo quando me referir à Igreja como
corpo de Cristo, a Igreja universal e gloriosa. E a palavra “igreja” ou “igrejas” com “i” minúsculo
quando me referir à(s) igreja(s) local(is), às denominações e às suas congregações, salvo
quando a palavra estiver em um texto bíblico ou citada por algum autor.
Então por que tantos estão insatisfeitos com a igreja? Por que tantos
crentes têm diariamente optado por viverem “desigrejados”, por
voltarem às suas práticas pecaminosas ou regressarem às suas
religiões de origem? Eu mesmo já fui alguém que passou anos
desviado do Evangelho, longe da comunhão com os irmãos.
Quando reiniciei este estudo, eu tinha basicamente o seguinte
pensamento em mente: as pessoas inventam toda sorte de desculpas
para abandoarem a igreja. Todavia, conforme fui avançando, percebi
que estava sendo muito simplista e injusto na minha avaliação.
Afinal, existem motivos justificáveis que podem levar o crente a não
poder ir mais à igreja ou ao menos a abandonar a denominação que
frequenta. Tendemos a colocar sempre a culpa no irmão que se
afastou, mas somos resistentes em fazer uma análise da igreja, da
sua liderança e da forma como ela é administrada para tentar
descobrir falhas que possam ter contribuído para a evasão dos
irmãos. Conforme avancei nas minhas meditações, sempre em
espírito de oração, descobri que existem várias dessas falhas. Elas
podem estar na pessoa do pastor, no tipo de ensino ou na falta dele,
no conteúdo das pregações, na forma como os membros são tratados,
na existência de pecados e falsos crentes. Tudo isso pode fazer com
que o crente verdadeiro desanime e saia; ou pode nos revelar a
verdadeira identidade daqueles que saíram. Existem culturas que
não podem ser transformadas de uma hora para outra, mas levam
anos até que venha o seu renovo. A Igreja Católica Apostólica
Romana experimentou uma Reforma em 1517, mas permanece quase
que inalterável até hoje, porque aqueles que a quiseram reformar,
foram obrigados a deixá-la. E é o que pode acontecer ainda hoje:
talvez seja preciso mesmo sair de uma instituição que não prega nem
vive a verdade como revelada nas Escrituras.
O resultado de muitos dias e madrugadas de meditação e
pesquisas está aqui. Foram muito mais do que apenas dez razões, e
acho que ainda não explorei o assunto o suficiente. Sempre haverá
novos motivos, alguns justificáveis, outros nem um pouco. Quem não
quer permanecer em Cristo, sempre encontrará uma razão para se
afastar dele, começando por excluir-se da comunhão com a igreja
local. Por outro lado, quem considera que o seu viver é o Senhor
Jesus, jamais deixará de encontrar razões para estar perto dele e das
pessoas que ele chama de amigos, filhos e ovelhas. É uma questão de
escolha pessoal. O Espírito Santo estimula e anima a sua Noiva; Ele a
santifica e edifica com a Palavra de Deus que Ele mesmo inspirou.
Ninguém disse que não haveria problemas, barreiras e uma batalha
espiritual a ser travada. Mas de uma coisa cada crente pode ter
certeza, e é aquilo que o Senhor declarou antes de ascender aos
céus: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do
século” (Mt 28:20).
O PROPÓSITO E A
IMPORTÂNCIA DA
IGREJA LOCAL
Vimos 2
que a atitude de se reunir como assembleia é uma das razões
de existir da Igreja de Cristo e também quais as principais marcas da
Igreja cristã. Essa reunião é bem mais que um encontro para adorar
a Deus através de um culto público, mas o contato direto entre os
membros da Igreja em forma de comunidade que o adora em espírito
e em verdade, não importando o local onde estiverem (Jo 4:23). Essa
verdade está enfatizada na teologia paulina, que chama os crentes a
viverem uma fé prática e frutuosa em que cada membro do Corpo de
Cristo pratica um culto racional por meio do sacrifício vivo, santo e
agradável de si mesmo a Deus (Rm 12:1). Esse culto é prestado pela
comunidade dos remidos por Cristo, que possuem uma vida
transformada e santificada para Deus pela fé que os justificou (Rm
3:24,25; Ef 5:2). A adoração é apenas mais um elemento da reunião
da Igreja como congregação. Ela é uma estrutura íntegra, da qual
nada pode ser retirado.
Após tudo o que estudamos, vejamos algumas justificativas
bíblicas que revelam o propósito da Igreja como ambiente de reunião
ou como a própria reunião dos fiéis em Cristo, e comprovam a
importância e a eficácia da igreja local para o cristão e para o
mundo. A grande maioria das pessoas tem aversão àquilo que elas
pensam ser igreja, mas que não passa de uma visão distorcida,
construída pelos falsos profetas do que a igreja é, da verdadeira
conversão e do Evangelho. É precioso conhecer e investir nas igrejas
verdadeiras. Enfatizo que se trata de igrejas genuínas, não de seitas
neopentecostais ou outras instituições pseudocristãs. Aqui apresento
o modelo ideal de denominações e suas congregações.

A proclamação do Evangelho e a defesa da fé

A evangelização é o papel primordial da Igreja como vimos.


Esta foi a orientação última do Senhor antes de ascender aos céus:
"Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra" (At 1:8). Evangelizar não é uma
opção, mas uma ordem a ser obedecida por aqueles que se declaram
discípulos de Jesus (Jo 14:15). Todos os crentes podem e devem

2 Sempre que este estudo se referir a algo que não se encontra neste volume em
PDF, significa que está no livro original.
evangelizar e fazer missões. Mas a igreja local é o trampolim de
envio de evangelistas e missionários a todas as partes do mundo.
Algumas formam juntas missionárias. Enviado pela igreja local, o
evangelista ou missionário terão apoio educacional, técnico,
espiritual, financeiro, logístico, emocional, pastoral e jurídico. A
missão evangelística é de toda a Igreja, e as diferentes denominações
em áreas estratégicas têm cumprido essa missão (Mt 28:19,20; Mc
16:15; At 1:8; 20:24; Tt 2:11; Rm 1:16; 10:11-15; 1 Co 9:16,17).
Além de uma missão evangelística, a Igreja também tem a
função de pregar a verdade e combater as heresias. A Igreja de
Cristo é a propagadora e a defensora do Evangelho. É ela quem
protege a verdade divina revelada nas Sagradas Escrituras. Nisso, a
igreja local tem um papel importante através do discipulado, do
ensino e do combate às heresias. Judas tinha a intenção de escrever
aos crentes a respeito da salvação, mas diante da necessidade
urgente de combater os falsos ensinos que se alastravam nas igrejas,
ele se viu obrigado a mudar o teor da sua epístola, exortando-nos a
batalhar “diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue
aos santos” (Jd 3). Sem estar na igreja para aprendermos a verdade,
estaremos à mercê dos falsos mestres e seus ensinos diabólicos.
Embora muitos estejam infiltrados nas igrejas e tenham fundado
igrejas para si, como membros de uma igreja séria e teologicamente
sadia, estaremos protegidos e envolvidos nessa batalha pela fé
evangélica (Jd 4; 1 Tm 3:15; Tt 2:1,15; Mt 7:15-20; 1 Ts 5:20,21; Rm
16:17,18; 1 Tm 6:3-5; 1 Jo 4:1; 2 Pe 2:1-3). Quem deseja viver a sua
fé longe da igreja local, que tipo de verdade defenderá?

A edificação do Corpo de Cristo

Se o primeiro grande propósito da Igreja é a evangelização, a


edificação vem logo após, consolidando aqueles que se convertem e
se unem a esse corpo. O apóstolo Paulo utiliza em suas cartas a
terminologia de construção ou edificação para se referir ao propósito
e à função da Igreja. Podemos ver isso na figura da Igreja como um
corpo que precisa ser alimentado e nutrido ou um edifício em
constante construção (1 Co 3:9; 14:3,5; 12:1-35; 1 Ts 5:11; Ef 2:19-
21; 4:11-16). Como veremos em diversas das razões a serem
estudadas, este crescimento e edificação não se dão de maneira
individualista, mas cada membro da Igreja cresce a partir da sua
relação com os outros membros. O Senhor Jesus edifica a sua Igreja
por meio dos dons distribuídos a cada um dos seus membros (Ef 4:7),
preparando os fiéis para a maturidade no seu encontro com o Senhor
(Ef 4:13). Essa edificação se dá por meio da profecia (1 Co 14:13),
devendo ser compreendida como e exposição, explicação e aplicação
da Palavra de Deus na vida da Igreja. Uma igreja verdadeira prega e
ensina o Evangelho puro e simples da graça de Deus. Longe da igreja
local, não podemos estar certos quanto ao conteúdo do que é
ensinado. Não temos bases e parâmetros para avaliar. Quantos
irmãos que não frequentam denominação alguma se preocupam em
estudar Hermenêutica para fazer uma boa exegese do texto bíblico?
Quantos estão preocupados com o sentido do texto no idioma original
em que foi escrito? Na congregação há pastores e mestres, escola
bíblica dominical, cultos de ensino e seminários teológicos. A função
primária da igreja local é discipular e ensinar os fiéis (Mt 28:18-20;
At 2:42; 1 Tm 4:16,11,13; 5:17,18; 2 Tm 2:1,2,14-17; 3:16,17; 4:1-5;
Ef 5:15; Rm 15:4; Cl 3:16; Pv 4:13,14; 2 Jo 1:9).
A edificação também acontece por meio da comunhão entre os
crentes. A igreja local permite aos crentes se reunirem para ter tudo
em comum e edificar uns aos outros, algo difícil de ser feito da
maneira bíblica sem haver o ajuntamento dos crentes. Aqueles que
desprezam a igreja local como ajuntamento do povo de Deus, não
levam em conta a forma como a Igreja primitiva vivia, ao ponto de
até mesmo as suas posses materiais serem consideradas comuns a
todos (At 5). A grande questão não é e legitimidade da igreja
institucionalizada, mas se ela tem servido ao propósito para o qual
foi organizada. Ela é uma igreja missionária? Ela tem edificado os
seus fiéis por meio do ensino das Escrituras? Ela tem exercido os
dons espirituais e praticado a solidariedade? Crescemos juntos na
partilha do amor, dos dons espirituais, do ensino, do discipulado, da
disciplina eclesiástica, do cuidado mútuo, da aplicação correta das
verdades bíblicas em comunidade (At 20:32; Ef 4:11-16; 2 Tm
3:16,17; l Pe 2:1,2; 2 Pe 3:18). Os ministérios existentes na
congregação atuam na edificação através da exortação, do conforto e
da advertência (Ef 4:26; 5:15; 1 Ts 4:18; 5:11,14).
Está claro no livro de Atos e em todas as epístolas e cartas que
a Igreja possui um corpo de obreiros responsáveis por nutri-la e guiá-
la (pastores, presbíteros, bispos e diáconos). Para isso, o Senhor
instituiu líderes sobre a sua Igreja, dando-lhes dons específicos para
presidirem e guiarem o rebanho de Deus. “Apascenta as minhas
ovelhas” foi a ordem do Senhor a Pedro (Jo 15:15-17). Em Efésios
4:11, Paulo fala sobre os dons de “pastores e mestres”, cujo objetivo
é preparar a Igreja para o serviço de Deus, equipando-a da maneira
correta. A eles devemos nos submeter gentilmente e obedecer. São
eles que oferecem ao corpo o ensino, o aconselhamento, o cuidado
com os pobres, a administração dos dízimos e das ofertas, o
acompanhamento de casais, a ministração das ordenanças, a
formação de novos obreiros, o envio de missionários, entre outras
obrigações. Tudo isso por meio da igreja local (2 Tm 2:2; Mt
28:19,20; At 2:38-41; Ef 4:11-13; Gl 6:6). Entretanto, por mais que
essas coisas existam e sejam de grande importância, elas são
rejeitadas pelos teóricos da igreja orgânica, que cogitam que nada
disso é bíblico e que todo esse trabalho realizado pela igreja
institucional é uma forma de prender os fiéis ao templo e a uma
religiosidade infrutífera.
A adoração

A adoração é outra característica importante da Igreja de


Cristo. Millard J. Erickson (1997, p. 415) diz que “Enquanto a
edificação centra-se no crente e o beneficia, a adoração centra-se no
Senhor”. Apesar disso, as reuniões para adoração também eram uma
forma da igreja ser edificada, havendo, inclusive, uma preocupação
com a edificação daqueles que estavam de fora (1 Co 14:15-17).
Tudo indica que os primeiros cristãos separavam o primeiro dia da
semana para se reunirem para adorar a Deus (1 Co 16:2). Hoje, para
a maioria dos cristãos, a igreja é um lugar de culto, um ambiente no
qual vamos juntos adorar a Deus. Se neste estudo falamos de pessoas
que deixam de frequentar a igreja, podemos nos confundir com
pessoas que deixam de cultuar a Deus. Por esse motivo, é preciso
uma compreensão bíblica de culto. Assim, entenderemos que ele não
é uma reunião feita de momentos específicos do nosso dia ou
semana, como se houvesse uma pausa entre um culto e outro, e
durante essa pausa Deus deixasse de ser cultuado. Bem disse o
pastor Romildo, da Igreja de Cristo no Brasil (RN): "A relação com
Jesus é pessoal, não institucional". Quem faz do templo um centro de
adoração, ainda não entendeu o que o Senhor quis transmitir ao falar
de uma adoração em espírito e em verdade.
Dentro da igreja institucional, são as pessoas que cultuam a
Deus, não a instituição em si. Quem frequenta regulamente a igreja,
pode não estar prestando nenhum culto a Deus, quando observamos
seu caráter, seu comportamento e suas relações interpessoais. Ele é
um religioso, cumpre rituais e ordenanças, mas não possui uma
espiritualidade para além das quatro paredes do templo, não vive em
santidade nem obedece a Palavra de Deus. Por outro lado, alguém
impedido de ir aos cultos no templo por motivos que estudaremos
aqui, pode ter a sua vida como aroma suave a Deus em todo tempo
(Gn 8:21; Ez 20:41; Fp 4:18). Dentro e fora do templo, adoração é
temor a Deus. O crente genuíno sempre se questiona: será que neste
momento a minha vida (pensamentos, palavras e atitudes) está sendo
um culto a Deus?
O Dicionário da Bíblia de Almeida (1999) define adoração como
“Culto, honra, reverência e homenagem prestados a poderes
superiores, sejam seres humanos, anjos ou Deus”. O termo grego
para culto é latreía, e significa serviço de Deus, adoração. Da forma
como era praticado no Antigo Testamento, o culto estava ligado aos
rituais de purificação, de sacrifício, de proclamação das Sagradas
Escrituras e demais serviços que envolviam a vida inteira do judeu e
tudo aquilo que acontecia no Templo. Nosso culto, porém, não
envolve mais os rituais judaicos, porque Cristo já ofereceu um
sacrifício perfeito e definitivo a Deus por nós. Na verdade, não
envolve nem mesmo certos rituais cristãos presentes em muitas
igrejas da atualidade. Ele envolve a entrega total de si a Deus de
uma forma verdadeira e prática, como, na verdade, deveria ser o
culto dos judeus (Is 1:10-18): ir além do Templo, dos rituais, envolver
o caráter, a santificação como prática de vida e o cuidado com o
próximo. A nossa apresentação diante de Deus para oferecer-lhe um
sacrifício de nós mesmos não é mais para que sejamos salvos, mas
porque já fomos salvos. Logo, a nossa adoração é uma consequência
do ato soberano de Deus em nos buscar e redimir. É um culto
racional, sem rituais, mas realizado em espírito e em verdade (Jo
4:23,24; Rm 12:1,2). Adoramos a Deus sendo bons cônjuges, irmãos,
filhos, parentes, amigos, patrões, funcionários, obreiros, vivendo a
verdade e praticando a justiça.
Podemos identificar, ainda, vários elementos que faziam parte
da adoração cristã neotestamentária, o que se costuma chamar de
“liturgia do culto público”: a pregação (At 20:7), a leitura das
Escrituras (1 Tm 4:13), a oração (1 Tm 2:8), o louvor (Ef 5:19), as
ofertas (1 Co 16:1,2), o batismo (At 2:37-41) e a ceia do Senhor (1 Co
11:23-29). Todos esses elementos são encontrados no Novo
Testamento e fazem parte da prática espiritual dos primeiros
cristãos, embora não possamos afirmar que todos eles estavam
presentes em uma mesma ocasião, como se esses elementos fizessem
parte de uma liturgia rígida, como a Missa ou o formato atual dos
cultos evangélicos. Eles, na verdade, são encontrados em diversas
situações na vida da Igreja e nos dão uma noção de como aqueles
irmãos cultuavam e serviam a Deus. Mas ao mesmo tempo, vemos
em 1 Coríntios 14:26-40 que existia uma reunião para cultuar a
Deus, e que esta deveria ser realizada com uma certa ordem. Através
desse texto, percebemos que essas reuniões possuíam alguns dos
elementos do nosso culto moderno: louvor, ensino, pregação,
revelação (da Palavra de Deus) e manifestações de línguas
estrangeiras, sendo tudo feito para a edificação de todos (v. 1). Havia
regras com relação àqueles que queriam falar durante as reuniões e
sobre a maneira como as mulheres deveriam se comportar (vs. 27-
39). Tudo deveria ser feito com decência e ordem (v. 40).
Embora a adoração e o culto verdadeiros sejam espirituais,
existia um sistema de reunião na Igreja primitiva. Ainda Erickson
(idem, p. 449) explica:

Nos tempos bíblicos, a igreja reunia-se para adoração e


instrução. Depois, saía para evangelizar. Na adoração, os
membros da igreja concentravam-se em Deus; na instrução e
na comunhão, concentravam-se em si mesmos e nos
companheiros cristãos; na evangelização, voltavam a
atenção para os não-cristãos. É bom que a igreja mantenha
alguma separação entre essas atividades. Caso contrário,
uma ou mais delas podem ficar prejudicadas. Em
consequência disso, a igreja pode sofrer, já que todas essas
atividades, como os vários elementos numa dieta bem
balanceada, são essenciais para a saúde espiritual e o bem-
estar do corpo.
O que percebemos na Igreja primitiva, é que o culto estava
ligado mais ao que era feito para Deus no sentido de obras e nem
tanto ao que acontecia dentro dos templos, sinagogas e casas no
sentido de rituais. O culto doméstico era uma realidade importante e
essencial para o crescimento da Igreja, mas não era um fim em si
mesmo; ele refletia o compromisso cotidiano daqueles irmãos com a
Palavra de Deus. Portanto, cultuamos a Deus com tudo que somos,
temos e fazemos, porque tudo deve ser feito para a sua glória (1 Co
10:31). Afinal, dele, por Ele e para Ele são todas as coisas (Rm
11:36). São duas realidades que se completam: o nosso culto
individual e a nossa relação com os irmãos nas reuniões
comunitárias, no templo ou em qualquer outro espaço. O que importa
é que tudo seja realizado em espírito e em verdade, para a glória de
Deus.

O serviço cristão e a ação social

Conforme vimos, o chamado da Igreja é duplo: pregar o


Evangelho e edificar a si mesma por meio dos dons espirituais. Ainda
outra obrigação pesa sobre ela: o cuidado social com os seus e com
os desvalidos do mundo. O ministério apostólico de Paulo envolveu
viagens missionárias, implantação de igrejas e o cuidado pastoral
com cada uma delas. Nesse cuidado estava incluída a preocupação
com os pobres, como ele mesmo escreve: “e, quando conheceram a
graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados
colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão,
a fim de que nós fôssemos para os gentios e eles para a circuncisão,
recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que
também me esforcei por fazer” (Gl 2:9,10). Em todo o livro dos Atos
dos apóstolos e nas cartas que foram escritas, vemos a preocupação
com o bem-estar integral da Igreja. Embora os aspectos físicos
tenham sido pouco evidenciados, ele fica patente quando há um
cuidado genuíno pelos irmãos necessitados. Tiago resumiu a
verdadeira religião em dois termos: o cuidado social e a santidade de
vida (Tg 1:27).
Aqueles que insistem que não precisam frequentar uma igreja
para desenvolver a sua fé e servir a Deus, talvez desconheçam as
orientações bíblicas a respeito dessas coisas. Precisamos entender
que não estamos falando de indivíduos que não creem em Deus e que
por isso não estão preocupados com o que a Bíblia ensina, mas de
pessoas que se declaram cristãs e desejam servir sinceramente a
Deus. A igreja local é o ambiente no qual o crente recebe os cuidados
de outros crentes e dos pastores, e onde ele pode praticar o mesmo
cuidado para com outros irmãos. Viver como Igreja é viver em
comunidade, praticando a fé mutuamente, compartilhando de si e
recebendo do outro. Como veremos no final deste estudo, a chamada
“igreja orgânica” ensina que não é preciso fazer parte de uma
denominação evangélica para realizar esse serviço. De fato, a nossa
obrigação é ser crentes onde estivermos e fazer o bem, mesmo sem a
supervisão de uma instituição. Entretanto, como veremos também
abundantemente aqui, a igreja local é uma criação de Deus e tem a
sua importância para os crentes e para toda a sociedade.
Vejamos algumas das funções sociais que a igreja local nos
chama a realizar e facilita a sua implementação:

Praticar e receber o cuidado social. A igreja local é responsável


por cuidar do bem-estar dos seus membros de maneira

integral, o que inclui a responsabilidade social. Quando algum


irmão está com problemas de saúde, financeiros ou qualquer
outro, pode recorrer à igreja para ajudá-lo. E também é por
meio da igreja que podemos ajudar os irmãos na fé e aqueles
que no mundo padecem, inclusive através dos nossos dízimos e
ofertas e dos dons espirituais (Gl 6:6-10; 2 Co 9:6-15; 1 Ts 4:9-
12; 2 Ts 3:10-12; At 20:35; Tg 1:26,27; 2:14-17; 1 Jo 3:17).
Exercer os dons espirituais. Tudo o que a Bíblia nos ensina a
respeito dos dons do Espírito Santo, faze-o através da relação

entre os membros do Corpo de Cristo. A igreja local possibilita


o exercício dos dons pelo contato direto entre os irmãos e o
conhecimento das necessidades de cada um, algo difícil se eles
estiverem dispersos. Ainda que os dons possam e devam ser
usados além das quatro paredes do templo, é em comunidade
que eles são manifestados e aprimorados para o exercício do
serviço cristão, dentro e fora da igreja local (1 Co 12:4-11,27-
31; 14:12,27-32,39,40; Ef 4:11-13; Rm 12:6-8).
Servir uns aos outros. A natureza cristã é servil: servimos a
Deus por meio do serviço de uns aos outros em amor. Embora

o serviço cristão abranja todas as pessoas sem exceção, servir


aos irmãos da igreja é um mandamento. E ele só pode ser
obedecido em contato com a igreja local reunida para o serviço
mútuo, dentro e fora do templo. Isso não significa, claro, que
não possamos praticar um serviço interdenominacional ou
ações pessoais (Gl 5:13; Mt 23:11; Mc 10:42-45; Rm 12:7-11;
Hb 6:10; 1 Pe 4:10; Fp 2:5-7).
Praticar as ordenanças. Vimos que a Igreja genuína é marcada,
entre outras características, pelas ordenanças dadas pelo

Senhor Jesus, que alguns chamam de "sacramentos". São eles:


o batismo, a ceia do Senhor e a aplicação correta da disciplina.
Embora biblicamente não haja restrições quanto a praticar a
ceia do Senhor nos lares, culturalmente a Igreja sempre se
reuniu solenemente para esse sagrado ato. As reuniões "ágape"
na Igreja primitiva propiciavam momentos de adoração,
comunhão e de partir do pão (Mt 16:17-30; Mc 14:22-24; Lc
22:19,20; Jo 13:1-4; At 2:42-47; 20:7; Jd 12; 2 Pe 2:13; 1 Co
11:17-34).
Manter comunhão. A igreja local sempre foi, desde o início do
Cristianismo, um ambiente propício para a Igreja do Senhor

estar unida e gozar das bênçãos que Ele nos tem dado. Mesmo
universal, a Igreja jamais deixou de se ajuntar num mesmo
local, um espaço físico para a Igreja espiritual estar unida (At
2:44-46; 3:1; 20:8; 11:26; 14:27; 1 Co 14:26; Fp 3:3). Na igreja
local, temos oportunidade de manter comunhão com diversos
irmãos. Fora dela, podemos até ter contato com outros irmãos,
mas tenderá a ser um contato seletivo, porque escolheremos
com quem queremos ou não nos relacionar. Na igreja local
somos conduzidos a nos relacionar com todas as pessoas, a
conviver com seus defeitos e suportá-las em amor, edificando-
nos uns aos outros (Hb 10:22-25; Sl 133:1-3; At 2:41-47; Fp
2:1,2; Ef 4:32; Cl 3:16; 1 Jo 1:3,6,7; Rm 12:10; 1 Pe 1:22; 2 Co
13:11).
NÃO É POSSÍVEL
SER IGREJA SÓ
Por tudo o que já estudamos, convém concluir este capítulo
afirmando: não é possível que um indivíduo possa ser membro da
igreja e se expressar como igreja sem manter comunhão com outros
irmãos, acima de tudo na igreja local. Em todas as referências
bíblicas à igreja de Cristo, a imagem que Deus nos transmite é de
uma coletividade, por isso ela é chamada de "corpo" (1 Co 12:12,13).
Uma vez que somos convertidos ao Evangelho, somos adotados como
membros da família de Deus. Quer queiramos isso ou não, milhões de
outras pessoas passam a fazer parte da nossa vida e nós, da vida
delas. Qualquer pessoa que pretenda ser igreja de forma isolada, não
está sendo igreja, não se identifica com Cristo, que se identifica com
a sua igreja. Em Atos, vemos que Saulo assolava a Igreja (At 8:1-3). E
como ele fazia isso? Perseguindo os membros da Igreja: homens e
mulheres (v. 3; 9:1,2). Ao ser interceptado pelo Senhor no caminho
para Damasco, Saulo foi confrontado com a verdade de que
perseguir a Igreja é perseguir o próprio Senhor da Igreja (9:3-5).
Aquele que mantém comunhão com o Filho, vive em comunhão com
os seus irmãos na fé (Fp 2:1,2; 1 Jo 1:6,7). Igreja não é pessoa, mas
pessoas. Mesmo que um indivíduo seja convertido na solidão do seu
quarto ao ler a Bíblia e ser tocado pelo Espírito Santo, este o impele
de maneira poderosa a integrar-se a uma igreja local, onde poderá
compartilhar com outros da sua fé, sua santidade, sua obediência,
seu serviço e suas obras; onde poderá ser cuidado e cuidar também.
O pastor Mark Dever, autor de vários livros e artigos sobre a
Igreja cristã e diretor executivo do Ministério 9 Marcas, manifesta a
sua preocupação com a ilegitimidade da conversão daquele que se
nega a fazer parte de uma igreja local. Ele escreve (2009, p. 24):

Comprometer-se com uma igreja local é o resultado natural –


confirma aquilo que Cristo fez [a justificação pela fé]. Se
você não tem qualquer interesse em se comprometer
verdadeiramente com um grupo de cristãos que ensinam a
Bíblia e crêem (sic!) no evangelho, deve perguntar a si
mesmo se, de fato, pertence ao corpo de Cristo!

Pode ser que fazer parte de uma comunidade cause algum


espanto. E realmente causa! Pensemos no bairro e na rua onde
moramos. É muito comum haver pessoas que parecem praticar o
esporte de espionar a nossa vida. Quando saímos e que horas
chegamos, se estamos a sós ou acompanhados, os desentendimentos
dentro do nosso lar, a maneira como nos comportamos, e tudo mais
que possa ser notado e comentado. Mas enquanto isso não nos
prejudica em nada, não damos à mínima! A vida é nossa e fazemos
dela o que bem entendermos. Não devemos satisfações a ninguém!
Mas na igreja ocorre o inverso: fazemos parte de uma família com a
qual temos ligações profundas em Cristo. O que somos e fazemos,
afeta a todos. Até mesmo os nossos pecados causam impacto na vida
dos irmãos, como também as nossas tristezas e as nossas alegrias.
Na igreja, não podemos dizer que a nossa vida não é da conta de
ninguém, porque ela está ligada à vida de todos os outros irmãos.
Quando o casal briga, os vizinhos no máximo comentam, mas o
pastor da igreja precisa intervir com aconselhamento e cuidado
pastoral. Tudo isso incomoda os individualistas e aqueles que não
aceitam opiniões e conselhos. Por isso, tantos preferem ser igreja
sozinhos em casa, o que é impossível.
AS RAZÕES
Passemos, então, a analisar as principais razões que são
apresentadas por diversos tipos de crentes para não frequentarem a
igreja, para mudarem de denominação ou por descrentes para
justificar a sua falta de fé. Entretanto, alguns esclarecimentos são
necessários antes de prosseguirmos. Quando idealizei este estudo,
tinha em mente aqueles irmãos que vivem de inventar desculpas
para mudar de denominação ou deixar de frequentar qualquer igreja.
Então, apresentaria conselhos bíblicos para convencê-los do
contrário. Conforme analisava cada razão, reconheci que, em
inúmeros casos, a igreja tem uma grande parcela de culpa nessa
evasão, além de uma responsabilidade pastoral e evangelística com
essas pessoas. Muito embora a mensagem-chave deste estudo seja
"Não saia da igreja!", pude aprender que existem alguns motivos
pontuais que impedem que alguns crentes possam frequentar uma
igreja regularmente, como aqueles acamados ou muito idosos. Além
disso, algumas denominações de fato contribuem com a evasão, e às
vezes esta é uma questão de vitalidade espiritual. Por exemplo:
entrar para uma igreja e descobrir que ela prega a Teologia da
Prosperidade. Não existe aqui qualquer ordem para os temas. Eles
foram escritos conforme Deus ia me lembrando e de acordo com as
pesquisas que eu fazia.

1. Eu não preciso ir à igreja, pois posso cultuar Deus na minha casa,


do meu jeito

Este parece ser um argumento utilizado por quem quer servir a


Deus sem qualquer compromisso real com Ele, sem submeter-se a
uma liderança e sem envolvimento com outros irmãos. Ainda neste
pensamento estão aqueles que têm compromisso com Deus – fazem
suas orações, leem a Bíblia, praticam boas obras, etc. – mas acham
desnecessário filiar-se a alguma denominação específica. Inclusive,
criticam a igreja institucionalizada que nem sempre está
comprometida com os valores do Reino de Deus e a obra para a qual
foi chamada. A ideia central é que ninguém precisa estar dentro de
uma igreja para ser crente, que todos os que creem em Deus já são
crentes e podem servir ao próximo sem as amarras da igreja
institucionalizada. Eles rejeitam normas, regras, credos, dogmas,
tradições, declarações rígidas de fé e qualquer espécie de controle e
doutrinas. Assim, o ser humano é livre para manifestar a sua
espiritualidade como bem entender, criando suas próprias regras e
formas de cultuar a Deus. Se parece dar certo e traz bem-estar e
felicidade, então está correto, mesmo que não seja bíblico. Cada um
ora como bem entender, decide o que vai e o que não vai seguir da
Bíblia e como interpretá-la e aplicá-la; define o que é e o que não é
pecado e constrói seu próprio juízo moral. Por detrás disso tudo pode
estar a filosofia mundana e ateísta que afirma não haver uma
verdade absoluta. Cada um é responsável por instituir a sua própria
verdade. Assim, todas as verdades das Escrituras Sagradas são
questionáveis ou adaptáveis. Isto é, na verdade, uma maneira de
justificar os próprios pecados.
Não é possível que uma pessoa que crê e vive dessa maneira
seja um crente genuíno. Crente não é aquele que simplesmente crê
em Deus, pois os próprios demônios creem (Tg 2:19). O verdadeiro
cristão é convertido pelo Espírito Santo, ama e respeita a Palavra de
Deus, sabe seguir regras e serve a Jesus. Não podemos cultuar a
Deus do nosso jeito, mas do jeito dele. A Bíblia contém todos os
fundamentos da nossa fé, ensinando a maneira correta de agir em
todas as áreas da nossa vida, incluindo a religiosa. Tudo o que
fazemos deve ter como base a Bíblia: orar, cultuar, ofertar, louvar,
amar, evangelizar, praticar boas obras. A diferença do crente
humano para o crente demônio é que o humano tem a oportunidade
de crer em Jesus para a salvação e fazer a sua vontade. O Senhor
Jesus disse: "Se me amas, guardareis os meus mandamentos" (Jo
14:15; cf. vs. 21 a 24). A Bíblia contém inúmeros mandamentos
referentes ao nosso procedimento dentro da igreja local. Como amar
a Jesus e não obedecê-lo? A nossa fé deve ser como a oração do
Senhor ao Pai: "não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt
26:39). E Ele quer que congreguemos (Hb 10:25).
A questão é: podemos e devemos amar e servir a Deus fora das
paredes do templo e a despeito da instituição. Entretanto, mesmo o
nosso culto doméstico não pode ser do jeito que idealizamos. Se
rejeitamos a doutrina da igreja, ainda restam as doutrinas bíblicas,
nas quais a igreja e suas doutrinas estão alicerçadas. Os cristãos
sempre se reuniram para cultuar a Deus, conforme já vimos. A
própria palavra Igreja denota uma reunião. Geralmente, aqueles que
investem nessa desculpa, também não mantêm contato direto com
outros indivíduos que pensam como eles. E se mantêm, de qualquer
forma acabam se reunindo para compartilhar suas crenças e práticas
– o que é o caso dos desigrejados. Excetuando-se esses momentos, a
sua prática de fé é extremamente individualista e autônoma, algo
condenado pela Palavra de Deus, que prega o coletivismo.
Absolutamente todas as práticas cristãs envolvem "uns aos outros",
"uns com os outros", "uns pelos outros" e "uns dos outros". Isolados
em nosso templo individual, não poderemos praticar o amor fraternal
(Rm 12:10; 15:15; 1 Ts 4:9; Hb 13:1). Onde essa pessoa toma a ceia
do Senhor? Quem lhe ensina a Palavra? Quem a batiza? Quem lhe
aplica a disciplina? Quem a discipula? Onde ela dá seus dízimos e
ofertas? A que pastor ela é submissa, conforme ordena Hebreus
13:17?
2. Eu não acredito na Igreja como instituição. Os crentes podem se
reunir em qualquer lugar

Esta razão é o que fundamenta a crença dos desigrejados. Ela


se baseia em interpretações errôneas da Bíblia, além de uma visão
preconceituosa das instituições religiosas cristãs. Historicamente, a
Igreja demorou alguns séculos para se tornar a instituição como a
conhecemos hoje (você pode aprender tudo sobre isso no livro
"Cristianismo através dos séculos", de Earle E. Cairns, editora Vida
Nova), embora, como veremos no capítulo “Respondendo aos
desigrejados”, desde a era apostólica ela já dava sinais da sua
institucionalização para organizar-se. Como tal, ela possui seus erros
e deficiências, e algumas aberrações nada dignas. Apesar disso, o
povo de Deus jamais deixou de se reunir enquanto congregação, num
ambiente físico, sob a liderança de um corpo de ministros, e com
regras. Sem regras, instaura-se o caos, a anarquia. O mundo caído é
quem prega uma filosofia antinomista, onde cada indivíduo institui
suas próprias leis ou pode rejeitar qualquer lei para se entregar à
sua devassidão. Não negamos que os crentes possam se reunir em
qualquer lugar para adorar a Deus, servi-lo e aprender a sua Palavra.
Não é preciso estar dentro de um templo para isso. Mas a igreja
como ambiente de reunião não pode ser desprezada, pois Deus tem
usado esse ambiente para a nossa edificação e o povo de Deus
sempre se reuniu como assembleia. Esta sempre existiu, desde os
Tabernáculos e o Templo no Antigo Testamento, sendo
posteriormente utilizadas as sinagogas. Os apóstolos jamais
deixaram de usar esses espaços para as reuniões da Igreja (p. ex. At
15:12). Posteriormente à morte de Estêvão, a igreja passou a se
reunir nas casas.
A justificativa dessas pessoas é que Jesus não deixou nenhuma
forma de igreja institucionalizada e organizada, e isso só veio
acontecer através de Constantino, quando o cristianismo tornou-se a
religião oficial do Império Romano. Dizem, ainda, que não havia
congregações como hoje, mas os crentes se reuniam nas sinagogas,
nas catacumbas e nos lares. Embora seja verdade, isso só comprova
que eles se reuniam e se organizavam. O próprio Senhor Jesus
ordenou que seus discípulos se reunissem, o que eles jamais
deixaram de fazer (Lc 22:14-20; At 2:42; 20:7; 1 Co 10:16). Além do
mais, vemos claramente que havia igrejas locais instituídas nas
regiões evangelizadas, com presbíteros, diáconos, mestres e serviço
social (1Tm 3:1,8,12; 4:14; 5:9,17,19; Tt 1:5; Fp 1:1). Não eram
denominações evangélicas nos moldes atuais, mas não deixavam de
ser centros de vivência da fé para a comunidade dos salvos
(comunidades eclesiais). A igreja de Cristo é universal por sua
abrangência mundial e a missão de levar a mensagem do Evangelho
a todo o mundo. É única porque é formada por um único corpo, cuja
cabeça é Cristo (Mt 16:15-19; 1 Pe 2:4-8). Mas ela é também local,
isto é: formada por um grupo de crentes em determinada localidade
geográfica, como vimos no início deste estudo. Negar isso é negar
dois milênios de história e a preciosa contribuição que a Igreja, como
instituição, sempre prestou aos crentes e à sociedade.
Não podemos negar que a instituição pode atrapalhar e até
mesmo ser nociva e um entrave ao crescimento da Igreja. Isso
acontece, entre outros motivos, quando: (1) existe uma hierarquia
rígida, que atrapalha ou impede o desenvolvimento das vocações; (2)
pratica-se um poder hegemônico, com pouca ou nenhuma
participação dos membros na tomada de decisão; (3) a
espiritualidade dos crentes depende do templo e está restrita às
regulamentações e controles da instituição; (4) a instituição funciona
como uma agremiação, onde seus sócios participam de atividades,
contribuem financeiramente, mas não vivem como irmandade; (5) a
instituição está a serviço da própria instituição, não de Cristo e dos
crentes, sendo um fim em si mesmo; (6) quando ela é sectária e
exclusivista, menosprezando as outras igrejas e evitando manter
comunhão com elas. Afora isso, precisamos amar e valorizar a igreja
local quando ela pensa e age como Igreja, quando prega o Evangelho
da graça de Deus e é verdadeira embaixadora do Reino dos Céus na
terra. Também é preciso enxergar a igreja como ela é, sem idolatrá-
la ou depender exclusivamente dela para a prática da nossa
espiritualidade.

3. Eu já fui muito maltratado em igrejas. Quando mais precisei,


ninguém me ajudou

Existem muitos irmãos e irmãs que pararam de ir à igreja ou


mudaram de denominação por causa do péssimo tratamento que
receberam por parte dos irmãos e/ou da liderança. Alguns sofreram
ou presenciaram falsidade, engano, corrupção, pressão dos líderes,
despojo dos bens (muito comum em igrejas que vivem da Teologia da
Prosperidade) e feridas emocionais causadas por pastores e irmãos
inescrupulosos e desonestos. Estão traumatizados, e com razão!
Tenho uma amiga pessoal que há alguns anos frequentava uma igreja
neopentecostal, conhecida pela ideia central de sua teologia que
afirma que crente não adoece, inspirada basicamente nos escritos de
Kenneth E. Hagin. Esta minha amiga é viúva. Durante muito tempo,
teve o seu marido doente, em casa ou no hospital, sofrendo bastante
até o seu falecimento. Segundo ela relata, sempre com lágrimas, em
momento algum, qualquer pessoa daquela igreja prestou o mínimo
de assistência a ela e ao seu marido, seja durante a doença, no
velório ou após o enterro. Quem a apoiou foi outra denominação. Até
hoje ela resiste em frequentar alguma igreja, porque a imagem que
carrega do povo de Deus é que não vivem o que pregam, falam muito
de Deus sem demonstrar o amor do Deus que dizem crer. Em todas
as vezes que a aconselho, lembro-lhe que existem igrejas diferentes,
que nem todos os pastores são falsos ou insensíveis, mas a grande
maioria dos nossos irmãos em Cristo é feita de pessoas cheias do
Espírito Santo e do seu amor.
A tristeza e a decepção dessa minha amiga e de tantos outros
crentes desiludidos com a igreja não é com Deus, não o
abandonaram, mas com a hipocrisia da igreja que frenquentavam.
Sobre este assunto, é preciso primeiro dizer que sair da congregação
não é a solução, mas existem formas bíblicas de resolver o problema
e buscar entendimento. O Senhor ensinou: "Se teu irmão pecar
[contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a
teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas,
toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja;
e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio ou
publicano" (Mt 18:15-17). Paulo escreveu: "Suportai-vos uns aos
outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de
queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim
também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é
o vínculo da perfeição" (Cl 3:13,14). O amor de Cristo deve promover
a paz na igreja por meio do diálogo e do perdão.
Mas não podemos desprezar alguns motivos dessas pessoas,
como aquele da minha amiga. Em muitas denominações, quando uma
mulher se divorcia ou quando seu marido abandona o lar para viver
com outra, ela passa a ser vista com maus olhos, tratada com
preconceito e indiferença. Se exercia algum cargo ou ministério, é
colocada no banco para ser disciplinada. Muitas vezes, nem pode
mais trabalhar na obra do Senhor, porque é divorciada. As pessoas
julgam, apontam, aos poucos se afastam. Só faltam dizer: "Caia fora!
Aqui não é mais o seu lugar". O mesmo acontece com irmãos que
cometem pecados considerados graves pela congregação, como se
algum não fosse. A liderança e os irmãos agem sem misericórdia.
Deus perdoa, eles não. Em muitas igrejas, a disciplina não vem para
restaurar, mas para acabar de destruir. Em outros casos, o irmão
necessitado não pode contar com o apoio financeiro da igreja.
Mesmo passando fome, não recebe ajuda. Mas o dízimo é cobrado!
Ele se sente tão mal, que não suporta tanta hipocrisia, e sai. Ainda há
os solitários, com dificuldades de se relacionar, pessoas tímidas que
a igreja despreza e deixa ali num canto. Sem falar dos portadores de
necessidades especiais que não possuem o tratamento diferenciado
devido, como intérprete de libras para surdos ou igrejas sem acesso
para cadeirantes.
Como vimos, a Igreja são as pessoas. Qualquer congregação
que pregue e viva a sã doutrina é um local de reunião do povo de
Deus. Logo, se vou para uma cidade onde não tenha a minha
denominação, posso passar a frequentar outra. Mas nesta questão,
se frequento uma igreja local que não vive em amor, não pratica uma
disciplina correta, não está preocupada com o bem-estar integral dos
seus membros, não exerce a misericórdia e não investe no social, não
me vejo obrigado a ser maltratado, desprezado ou tratado com
indiferença. Depois de esgotadas todas as possibilidades de buscar a
reconciliação, trabalhar na obra e ter o respeito e o cuidado devidos,
não encontro motivo para insistir. Alguns pastores não merecem os
membros que têm! Eles não valorizam e os expulsam com sua
negligência, não se envolvem na vida deles, nunca estão presentes
nem mesmo apoiando os ministérios da sua congregação. Não
visitam os enfermos nem consolam as famílias num momento de
morte. Não são pastores, são "pastoradores". Repito: o ideal é ficar e
investir, quando o problema não somos nós. Se o problema formos
nós, a situação é outra. Uma informação muito importante: os
pastores são os nossos guias, mas sobre este assunto precisam ser
confrontados, repreendidos e até mesmo disciplinados.

4. Estou muito decepcionado com Deus. Ele não me deu o que eu


queria

Existe um número grande de pessoas que abandonam a igreja


porque estão decepcionadas com Deus. Qual a razão dessa decepção
com um Deus Santo, Soberano e Justo? Como o Deus Onipotente,
Onipresente e Onisciente pode trazer decepção a alguém? A resposta
está no tipo de resposta que essas pessoas esperavam receber dele.
A Teologia da Prosperidade ensina que a doença e a tristeza não
fazem mais parte da vida do pecador quando ele se converte. As
seitas neopentecostais, que subsistem nessa teologia diabólica,
ensinam seus fiéis a dar os dízimos esperando receber dez ou cem
vezes mais em troca. Eles participam de campanhas bizarras e dão
tudo o que possuem. Decretam, profetizam e exigem bênçãos e
milagres de Deus. No final das contas, só quem lucra são os bispos e
os apóstolos. O fiel fica na miséria, culpando Deus pela falta de
prosperidade, por ter sido enganado, por Ele não ter cumprido a sua
parte na barganha. Então, abandonam a seita e passam a desprezar
qualquer igreja, o que figura entre as maiores razões para a
existência dos desigrejados. Vê-se que não foi Deus quem os
decepcionou, mas eles mesmos e seus gurus da prosperidade com
suas mentiras. Deus não atende a oração avarenta (Tg 4:3) nem
abençoa aquilo que é errado. Além de não garantir que irá resolver
todos os nossos problemas, Deus age na nossa vida de acordo com a
sua soberania.
Outra fonte de decepção com Deus que acaba afastando
algumas pessoas da Igreja são as chamadas "profetadas". Isso
acontece quando um pseudoprofeta faz previsões fantasiosas sobre a
vida de alguém, trazendo revelações fraudulentas e profetizando
bênçãos que jamais virão. Um caso emblemático é uma promessa de
casamento, mas também a cura de uma doença ou o ganho de uma
causa na justiça. Quando a vitória prometida não vem, mas acontece
justamente o contrário, a decepção é certa. Entretanto, tanto neste
caso como no anterior, ao invés de culparem os verdadeiros vilões
(os falsos profetas), esses crentes voltam sua amargura para Deus.
Afinal de contas, é em seu Nome que eles falavam, foi em seu Nome
que prometeram e profetizaram. Logo, Deus é o culpado. Como
vimos em outra parte, algumas igrejas são seitas que não merecem a
nossa presença. Mas não podemos migrar de igreja em igreja a cada
decepção com pessoas ou pedidos não atendidos por Deus. Afinal,
queremos amar e servir a Deus ou usá-lo para nossos próprios fins?
Decepciona-se com Deus quem não está em busca de Deus,
mas daquilo que Ele pode dar e fazer. O crente fiel está à procura da
vontade de Deus para a sua vida, e recebe um não como o mover
dessa vontade. O espinho na carne de Paulo é um exemplo: por três
vezes ele orou a Deus que aquele incômodo lhe fosse tirado, mas a
resposta que ouviu foi negativa, acompanhada da vontade de Deus
para a sua vida: “A minha graça de basta”. Qual era o foco de Paulo:
a sua vontade ou a de Deus? Outro exemplo é o profeta Jonas: ele
fugiu da sua missão, até que finalmente a cumpriu. Todavia, após a
sua pregação, esperava que Deus consumisse os ninivitas, mas Ele os
salvou. Então Jonas, ao contrário de se alegrar com a vontade de
Deus como o apóstolo Paulo, amargurou-se (Jn 4:1-3). Da mesma
forma, é possível nos decepcionarmos com a igreja, quando esta não
atende aos nossos interesses pessoais. Como também já vimos,
existem certas denominações tão negligentes no trato com os fiéis,
que parecem querer mesmo expulsá-los (cf. razão 3). Mas existem
igrejas sérias e acolhedoras. Nada é motivo para deixarmos de
congregar. A nossa fé deve ser sem interesses mesquinhos, do
contrário não produz vida e salvação. Se amarmos a Deus acima de
tudo, confiarmos nele e nos submetermos à sua vontade soberana
contida na sua Palavra, jamais sairemos decepcionados.

5. Eu não concordo com as doutrinas e o ensino da igreja

É muito difícil fazermos parte de uma comunidade quando não


concordamos com aquilo que é a sua base de fé. A história do
Cristianismo está repleta de exemplos de indivíduos descontentes
com as doutrinas e com o modus operandi da Igreja, que passaram a
disseminar heresias dentre a cristandade ou romperam os seus
vínculos com a Igreja tradicional, para fundarem os seus próprios
movimentos, como, por exemplo, o Montanismo, o Donatismo, o
Anabatismo, entre outros. Pensando em termos da nossa realidade
atual, esta justificativa para deixar de ir à igreja é bastante delicada,
porque existem algumas igrejas que realmente não valem a pena
frequentarmos, devido à péssima qualidade do seu ensino e às
distorções teológicas que são, na verdade, grandes heresias. Apesar
disso, é possível, para o crente em Cristo Jesus, discernir entre o que
é verdade e o que é mentira, tendo a Bíblia em suas mãos e a direção
do Espírito Santo. Isto é: se ele busca de fato uma denominação que
pregue a mensagem de Deus em sua inteireza.
Apesar de algumas divergências teológicas que em nada ferem
a salvação da alma, a grande maioria das igrejas evangélicas
possuem a mesma base de fé naquilo que diz respeito à crença em
Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na Trindade, na salvação
através da justificação pela fé em Cristo, na unicidade e
universalidade da Igreja como Corpo de Cristo, nas ordenanças e na
doutrina das últimas coisas. Sobre esta última, há divergências sobre
a Grande Tribulação e o Milênio, mas nada que faça desmerecer a
essência da sua crença. Uma igreja cristã genuína prega a doutrina
de Cristo e dos apóstolos (que pregavam a Cristo: 1 Co 1:23; 2 Co
4:5; Gl 3:1; Ef 3:8). A doutrina Reformada está edificada sobre cinco
importantes pilares, que são como colunas de um edifício: se
retirarmos uma das colunas que o sustentam, o edifício cai. Esses
cinco pilares são conhecidos como os “Cinco Solas” da Reforma
Protestante, movimento iniciado por Martinho Lutero em 1517, na
Alemanha. Além de diferenciarem a igreja Católica Romana das
Protestantes, esses nos ajudam a identificar as verdadeiras igrejas
cristãs e discernir aquelas que estão em total desacordo com a
Palavra de Deus.

6. Não vou à igreja porque não sei qual é a certa. Existem muitas
denominações diferentes

Na primeira parte deste livro, aprendemos o que é a Igreja e


que existe uma única Igreja certa: a Igreja espiritual como Corpo de
Cristo (1 Co 12:12-27), composta de todos os salvos de todas as
épocas e lugares (Hb 12:23). Essa Igreja não é um templo (At 17:24),
uma denominação evangélica (Hb 10:25) ou uma empresa particular
(2 Pe 2:1-3). Embora seja espiritual, ela, enquanto pessoas, ela se
reúne em Nome de Jesus (Mt 18:20). Todavia, existe uma pluralidade
de denominações onde os membros dessa Igreja se reúnem, que
também são chamadas de “igrejas”, ou seja, as “igrejas locais”. Ao
defender seu apostolado, Paulo faz referência às "demais igrejas"
além daquela de Corinto (2 Co 12:13). Hoje, algumas são verdadeiras
seitas. A partir daí, surge a dificuldade de se decidir sobre qual
frequentar. Qual é a certa? Como saber se é uma igreja genuína ou
uma seita? Anteriormente, vimos os pilares da fé cristã (somente as
Escrituras, somente Cristo, somente a graça, somente a fé, somente
à Deus a glória). Eles servem para avaliarmos a genuinidade dos
milhares de denominações existentes. Se Cristo não for o fundador e
a cabeça de alguma igreja, ela não é verdadeira, mesmo que pregue
a Bíblia. Uma igreja genuína não é aquela que produz milagres, mas
a que é cristocêntrica em seu ensino, pregação, discipulado e
evangelismo. Como declarou Lutero: "Qualquer ensinamento que não
se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça
chover milagres todos os dias”. Cristo e sua doutrina são as bases da
Igreja: "Porque dele, e por meio ele, e para ele são todas as coisas. A
Ele. Pois, a glória eternamente. Amém" (Rm 11:36).
As marcas da verdadeira Igreja de Cristo, como também vimos,
são outras características que revelam se tal igreja local vive a
Palavra na sua integralidade, o que inclui as ordenanças do Senhor.
A primeira delas é o batismo nas águas, concedido somente àqueles
que foram convertidos a Cristo pelo Espírito Santo, por meio da fé
(Mt 28:19). Através do rito batismal, o crente confessa publicamente
a transformação interior efetuada pelo Espírito (Rm 6:4; Ef 4:5). A
segunda é a ceia do Senhor, onde os crentes comungam do pão e do
vinho, que simbolizam a morte e a ressurreição de Cristo e a sua
comunhão com Ele (Lc 22:14-20; 1 Co 11:23-29). A terceira é o
exercício fiel da disciplina (Mt 28:19; Mc 16:16; At 2:42; 1 Co 11:23-
40). Eis algumas peculiaridades das igrejas que estão em desacordo
com a Bíblia, e que, por isso, não podem ser consideradas igrejas
genuínas: além da própria Bíblia, possuem outras fontes de revelação
(livros, pessoas, bíblias adulteradas, etc.); possuem novos
"apóstolos", além dos 12 citados na Bíblia; pregam a Teologia da
Prosperidade; praticam usos e costumes abusivos e sem base bíblica;
são liberais quanto ao pecado; aprovam o aborto, a ideologia de
gênero e o comunismo; são carnais em sua teologia e prática.
Desprezam a Bíblia. Além disso, não praticam corretamente as
ordenanças ou mesmo as excluem da sua teologia e prática.
O que pode se esconder por detrás da razão para não
frequentar nenhuma igreja é o desejo de encontrar alguma que se
adéque às necessidades e aos anseios de cada pessoa. O que
acontece quando um homossexual deseja frequentar uma igreja, mas
percebe que em todas o homossexualismo é tratado como pecado,
porque assim a Palavra de Deus ensina? Ele busca alguma que se
adéque a ele. Hoje existem igrejas para gays, lésbicas, travestis e
outros gêneros. Com relação às pessoas que sentem desejo de
conhecer e ter intimidade com Deus para amá-lo e servi-lo, o Espírito
Santo as orienta. O que foi dito anteriormente vale aqui: é preciso ler
e estudar a Bíblia com profundidade. Avaliamos a legitimidade de
uma igreja pelo valor que ela dá à Palavra de Deus, tanto com
relação à sã doutrina, como a prática correta dessa doutrina. A igreja
verdadeira crê como Judas, irmão de Jesus: "Ao único Deus, Salvador
nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade,
domínio e poder, antes de todos os séculos, agora, e para todo o
sempre. Amém" (Jd 1:25). Nada além nem aquém do Senhor Jesus.

7. Não estou preparado. Eu sou muito pecador. Só quero ir à igreja


quando me sentir digno e tiver condições de seguir até o fim

Esta é uma das justificativas mais ouvidas pelos evangelistas.


Após escutarem a mensagem do Evangelho, os perdidos rejeitam o
apelo para aceitar a Jesus e ir à igreja, com a desculpa de que não
querem receber Jesus com suas vidas tão erradas, e que desejam,
primeiro, concertar-se para somente depois passarem a frequentar a
igreja. A motivação aparentemente correta também afirma: não
quero assumir um compromisso com Jesus para depois abandonar ou
para continuar pecando. Na maioria das vezes em que ouvi esse
discurso, ele veio logo após observações sobre crentes que dão mau
testemunho. Essas pessoas sempre conhecem algum irmão
fofoqueiro, caloteiro, mentiroso e que gosta de julgar os outros.
Então dizem: "Eu não quero entrar para a igreja para ser esse tipo de
crente. Só vou quando tiver certeza de que agirei da forma certa".
Quando será isso? Quando essa pessoa estará totalmente preparada?
Ela faz algum esforço para isso? De onde elas tirarão a santidade que
dizem precisar?
O que essas pessoas estão fazendo é o caminho inverso: “ser
santo primeiro para se converter depois”, quando a ordem natural de
Deus é: "ser convertido para ser santo". A santificação ocorre quando
o perdido é convertido a Jesus pelo Espírito Santo e santificado por
Ele, isto é, separado, consagrado. É uma santificação posicional e
instantânea. A santificação não é obra da vontade ou do esforço
humano, mas da atuação única de Deus (1 Pe 1:15; Jo 17:7; Lv 19:2;
2 Co 7:1; 1 Ts 4:7; Rm 12:1,2; Ef 1:3-14). Quem espera ser perfeito
ou aceitável a Deus para entrar para a igreja, jamais entrará. Uma
das razões é que ser crente em Cristo Jesus não significa frequentar
uma igreja, mas tornar-se parte da Igreja. Existem frequentadores de
igrejas que não são salvos, não são crentes, jamais se converteram
de verdade; muitos nunca se converterão. O crente genuíno é
escolhido por Deus, regenerado por Ele, convencido do pecado pelo
seu Santo Espírito e salvo por sua graça (Ef 1:3-14; 2:8,9). Ele não se
torna uma boa pessoa para seguir a Deus, mas segue a Deus para ser
uma boa pessoa, mesmo com alguns momentos de queda. Mas ele
está lá, santificando-se todos os dias, sendo abastecido de graça para
vencer as suas limitações e se tornar a cada dia um crente melhor
para a glória de Deus que é a santificação progressiva. Ele conheceu
a Deus, agora prossegue em conhecê-lo e vivenciá-lo todos os dias
(Os 6:3-11).
É importante apresentar a essas pessoas a doutrina da
justificação e da santificação, demonstrando que o homem não pode
justificar-se a si mesmo e que todas as suas obras de autojustiça são
abomináveis diante de Deus (Is 64:6). A Bíblia traz alguns exemplos
de pessoas pecadoras que foram libertas e santificadas por Jesus: o
apóstolo Paulo (1 Tm 1:12-16; 1 Co 15:9), o ladrão na cruz (Lc 23:39-
43), Zaqueu (Lc 19:1-10) e a mulher samaritana (Jo 4) são algumas
delas. Jesus não veio buscar os justos, mas chamar os pecadores ao
arrependimento (Lc 5:32; cf. Mt 9:11-13; 18:11; Lc 4:18,19; 19:10; At
2:38; 3:19,26). Talvez, essa razão esconda a seguinte verdade: "Não
estou pronto nem disposto a abandonar os meus pecados, por
enquanto". Mas é justamente esses que Deus chama: os pecadores.
Quem assim se reconhece, já pode estar no caminho da cura. Passar
a frequentar a igreja será apenas consequência da sua conversão,
quando ele se tornará parte do Corpo de Cristo. Do contrário, viverá
sem salvação e, sem ela, perecerá quando o Senhor vier levar a sua
Igreja. O tempo urge uma posição imediata (cf. razão 18).

8. Na igreja existe muita hipocrisia, fofocas e outros pecados. As


pessoas lá são muito pecadoras

Algumas pessoas desistem da caminhada e abandonam a igreja


quando se deparam com o óbvio: a igreja está repleta de pecadores!
Outras não querem se converter a Jesus pelo mesmo motivo. Ora,
como vimos na razão anterior, são esses que Jesus veio salvar. Quem
pensa e age assim, está focado no mau testemunho de alguns
crentes. Elas observam o mau testemunho de alguns crentes, em
especial os da sua própria família, afirmando que para serem crentes
daquela forma, é preferível não ser. Muitas resistem ao Evangelho
por essa causa e não querem entrar para a igreja, pois julgam ser um
lugar de pessoas hipócritas. E se fazem parte de alguma igreja,
saem, geralmente falando mal da instituição. Um exame acurado da
vida de muitas dessas pessoas, mostrará que elas carregam pecados
que não querem abandonar, que em algum momento foram
confrontadas por irmãos que julgam pecadores e sem autoridade
para apontar os seus pecados. Existe aí, também, uma ideia oculta:
"Eu sou santo demais para viver no meio desses pecadores". Então,
migram de igreja em igreja em busca do lugar perfeito, uma igreja
utópica. Querem que a Igreja seja na terra algo que ela só será
quando Jesus a levar para o céu. Impossível, principalmente porque
nem todos que estão na igreja são crentes; existe o joio no meio do
trigo (Mt 13:24-46). Judas andava com Jesus, e foi quem o traiu.
Além da hipocrisia presente (porque essas pessoas são tão ou
mais pecadoras do que aquelas que elas condenam e se afastam),
existem outras questões. Primeira: a salvação é individual; cada um
dará contas de si mesmo no dia do juízo (Rm 14:12; Mt 12:36; 16:27;
2 Co 5:10; Gl 6:5; 1 Pe 4:5). Quem evita a igreja ou não quer aceitar
a Jesus por causa dos pecados dos outros, não entende que no céu
prestará contas dos seus próprios pecados, não dos pecados alheios.
Segunda: a nossa atenção precisa estar em Jesus; Ele deve ser o foco
da nossa fé, não os seres humanos falhos (Hb 12:2; Jo 1:29). Se
deixarmos de servir a Deus por causa das pessoas, não o serviremos
nunca. Quem nos salva é Jesus, não o bom ou mau testemunho dos
outros. Terceira: o mau testemunho de alguns não anula a Palavra de
Deus: o perdido continuará perdido, o crente em pecado continuará
carente de arrependimento e mudança de atitude. E também: é
preciso considerar o testemunho dos crentes fiéis, que servem ao
Senhor como verdadeiros discípulos e que são modelos de fé e de
caráter (Hb 6:12; Fp 3:17; 1 Co 4:16). Por que esses não são notados
para servir de motivação para alguém permanecer ou entrar para a
igreja?
Embora sejamos íntegros por causa da expiação de Cristo e da
sua justificação, não existe uma igreja perfeita aqui na terra, mas em
todas sempre haverá pecadores e os problemas consequentes dessa
realidade. Se a Igreja primitiva é proposta como modelo para o
cristianismo atual, é preciso estudar a Bíblia e ver que ela nunca foi
uma Igreja perfeita, muito pelo contrário. Todos os problemas que
hoje condenamos nas diversas denominações espalhadas pelo
mundo, existiam nas igrejas fundadas pelos próprios apóstolos3. Não
vemos, entretanto, os apóstolos abandonando essas igrejas, mas os
encontramos amando os irmãos, orando por eles e com eles,
aconselhando, exortando e admoestando (Tg 1:22; 1 Ts 5:14-22; 1 Jo
1:9; Ef 4:1-3; Cl 3:17; 1 Co 6:18-20; 15:33; 2 Co 13:11; Fp 2:1-4;  1
Tm 5:21; 1 Ts 4:1,2; 2 Ts 3:11-13; Hb 13:22). Mas isso leva tempo,
investimento e abnegação, coisas que nem todos estão dispostos a
enfrentar. Por isso, a disciplina bíblica deve ser aplicada, para que os
crentes entendam a sua condição de santos e a necessidade de viver
de maneira digna do Evangelho que os salvou.

9. Pessoas em pecado que não querem se arrepender nem abandonar


o erro

Não foi possível escrever esta razão na forma de uma


declaração pessoal como as outras, porque dificilmente alguém dirá:
"Sai da igreja porque estou em pecado e não quero me arrepender. E
não vou para outra porque não desejo mesmo mudar". Se pararmos
para pensar, todas as desculpas inventadas para não frequentar a
igreja são uma forma de pecado, com exceção das razões
justificáveis. Mas existem aquelas pessoas que saem de sua
congregação por causa de pecados específicos, assumidos ou não,
dos quais não estão dispostas a se arrependerem e abandoná-los. Um
desses pecados é a ambição por reconhecimento e cargos. Já ouvi
relatos sobre irmãos que abandonaram a congregação porque não
conseguiram o prestígio que desejavam. Outro pecado, este
gravíssimo, é o falso ensino. O irmão traz inovações teológicas para a
igreja, pregando mentiras e incitando os demais irmãos a seguirem
suas heresias. Quando convocado a se retratar, insiste no seu pecado
e abandona a congregação. Além desses, existem as disputas dentro
dos ministérios, amargura, fornicação, adultério e até mesmo
violência doméstica. Por não aceitarem a disciplina, vários desses
irmãos preferem se retirar para "pecar em paz".
Tem surgido um grande problema a partir desses pecadores
impenitentes: muitos deles acabam abrindo a sua própria igreja. Foi

Confira na quinta e última parte o capítulo “O mito da igreja perfeita”, no livro


original, onde apresento uma lista de algumas igrejas neotestamentárias e os
3

pecados que faziam parte da vida daqueles irmãos.


o que aconteceu em um dos relatos que ouvi. Uma garagem ou um
pequeno espaço comercial, uma caixa de som, um microfone e
algumas cadeiras: está formada a nova igreja. Ela nasce do erro e da
heresia. Não tem legitimidade bíblica nem moral. Nasceu do pecado
irresoluto. Qual será a sua doutrina? Como pregará sobre
arrependimento dos pecados, conserto de vida e salvação? Que
destino terá uma "igreja" que nasce dessa maneira? Algumas são
geradas na sórdida ganância: o indivíduo é obreiro em uma igreja
multimilionária, então, decide que pode montar a sua própria
denominação para ganhar dinheiro para si, ao invés de trabalhar
pelo dinheiro dos outros. Outras são frutos da velha máxima: se na
minha igreja não tem casamento gay, vou montar uma para mim
onde os gays possam se casar. Esses indivíduos desprezarão boa
parte da Bíblia e deturparão o restante, segundo suas necessidades e
mentiras. Também estão neste grupo muitos dos que hoje se
intitulam desigrejados: basta abandonar a congregação e passar a se
reunir com outras pessoas nos lares (cf. o capítulo “Quais são os seus
interesses na igreja?”).
A orientação para essas pessoas é uma só: arrependimento; e
em alguns casos: conversão verdadeira. O apóstolo Paulo nos exorta
a nos apartarmos de irmãos que andam desordenadamente na Igreja
(2 Ts 3:6,7). Esses irmãos precisam ser cuidados antes que
abandonem a comunhão com a comunidade: "Exortamo-vos, também,
irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados,
ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos" (1 Ts 5:14).
Além disso, é preciso fazer calar alguns para que não contaminem
outros: “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e
enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los
calar, porque andam pervertendo casas inteiras ensinando o que não
devem, por torpe ganância" (Tt 1:10,11). A Igreja deve primar pela
aplicação correta da disciplina, restaurando os crentes e afastando
os falsos irmãos: os lobos em pele de cordeiros. Quando um falso
profeta é identificado e se recusa a se arrepender, a exclusão do
meio do povo de Deus deve ser aplicada. Para isso, Paulo exorta a
Tito sobre o dever de ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a
doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto
ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt 1:9). A
pergunta é: os pastores das igrejas cristãs estão com esse preparo
para resistir aos pecadores irresolutos?

10. Eu não preciso de salvação nem de Igreja. Sou uma boa pessoa

A razão pela qual muitos não frequentam qualquer igreja é que


acreditam não precisar de salvação, muito menos fazer parte de um
grupo de pessoas que se declaram pecadoras. Elas não são de todo
incrédulas, mas acreditam em Deus e até mesmo no céu. Acreditam
tanto que têm certeza de que irão para lá, não porque aceitaram a
Jesus, mas porque são pessoas muito boas. Elas acham que não
precisam de salvação, porque não fazem nada errado, não cometem
pecados graves e fazem caridade; são pessoas honestas, bons pais,
boas mães, bons filhos. Não há como negar, muitos descrentes têm
atitudes genuinamente cristãs, dignas de serem imitadas por muitos
crentes carnais. Contudo, isso nos remete a Romanos 3:23: "todos
pecaram". Por causa de um só homem – Adão – o pecado e a morte
entraram no mundo (Rm 5:12); por sua desobediência, muitos se
tornaram pecadores (v. 19). O que nos torna carentes de salvação
não é o nosso pecado em si, mas o pecado original. Os nossos
pecados individuais são apenas consequências da Queda. Podemos
viver e morrer sem ter cometido nenhuma falta, mas ainda assim
iremos para o inferno se não aceitarmos a Jesus como Senhor e
Salvador.
Como disse o Senhor Jesus: somente Deus é bom (Mc 10:18).
Todos nós nascemos corrompidos pelo pecado, somos maus por
natureza. A justificação não é por obras, mas pela fé em Cristo (Gl
2:16; 3:10; Ef 2:8,9). Deus conhece o coração dos homens e sabe dos
seus pecados secretos, mesmo os pensamentos mais ocultos (Lc
16:15; 18:9-14; Rm 2:16; Mt 15:19). Ainda que o perdido declare que
nem os seus pensamentos são impuros, a realidade da marca da
Queda permanece na alma dele. O apóstolo João escreveu; “Se
dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos
enganamos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1:8). Eis a
importância que a pregação evangelista tem de enfatizar, em
primeiro lugar, o caráter pecaminoso de todos os perdidos. Eles
precisam ser impactados com a iniquidade da sua existência, a sua
depravação total e a ausência da comunhão com Deus. Todos
carecemos da irresistível graça salvadora de Cristo. Sem ela, muitos
"bonzinhos" irão perecer nas trevas da segunda morte (Ap 2:11;
21:8). Mesmo que não bebam, não fumem, não vão a festas e
pratiquem o bem ao próximo, todos estão perdidos até que aceitem a
Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador. O apóstolo Paulo
escreveu que Deus “a todos encerrou na desobediência, a fim de usar
de misericórdia para com todos” (Rm 11:32). E também que “a
Escritura encerrou tudo sob pecado, para que, mediante a fé em
Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem” (Gl 3:22).
O inferno estará repleto de pessoas que se acham boas demais
para precisar de conversão. O papel da Igreja é levar a mensagem do
Evangelho da graça de Deus aos povos, mostrando-lhes que a
salvação é a necessidade primária e urgente do ser humano. Outra
questão é: se é errado não ir à igreja por achar que não precisamos
de salvação, também é um equívoco estar nela pensando dessa
mesma forma. Muitos acham que já estão salvos só pelo fato de
frequentarem uma igreja. Alguns nascem em família cristã, crescem
dentro da igreja, até participam de ministérios, mas jamais se
convertem. Estão lá pela cultura familiar e religiosa. Muitos dos
desigrejados são filhos de crentes que jamais se converteram. Filho
de crente não é "crentinho". É preciso haver uma decisão pessoal por
seguir a Jesus. Ser filho de pastor não é credencial para ir para o
céu. Jesus pregava o arrependimento àqueles que eram o povo de
Deus. Eles criam que só porque eram filhos de Abraão já estavam
salvos. Mas o Senhor lhes disse: "e não comeceis a dizer entre vós
mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que destas
pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão" (Mt 3:9). Nem todos são
filhos de Deus, mas somente aqueles que recebem a Jesus pela fé:
"Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus, a saber, aos que creem no seu nome" (Jo 1:11,12). Somente a
Igreja subirá com o Senhor, não os amigos do Evangelho ou os que
se acham muito bons.

11. Irmãos enfermos, idosos ou que moram em lugares onde não há


nenhuma igreja cristã

Existem casos excepcionais em que há a impossibilidade da


frequência regular aos trabalhos da igreja. Por exemplo: quando o
crente possui alguma enfermidade que exige sua permanência em
sua casa, às vezes preso a aparelhos ou sob o risco de agravar a
situação; irmãos já muito idosos, com dificuldades de locomoção ou
doenças próprias da velhice que os impedem de frequentar a igreja;
pessoas que moram em regiões isoladas, onde não há nenhuma
congregação próxima e o acesso à igreja mais perto é difícil. Esses
casos são situações justificáveis para não frequentar a igreja. Não é
algo deliberado, mas circunstancial. O crente não determinou
abandonar a igreja, mas está temporariamente impossibilitado de ir.
Deus é misericordioso, justo e compreende cada situação; jamais
castigará alguém por isso, mesmo que alguns os julguem e
condenem. Deus não habita em templos feitos por mãos, mas no
coração de todos os crentes, onde quer que eles estejam (At 17:24; 1
Co 3:16; 2 Co 6:16). Além do mais, o verdadeiro culto a Deus é com a
nossa própria vida, com tudo o que somos e temos consagrados a
Deus. Quantos estão na igreja cultuando a Deus de maneira litúrgica,
mas têm uma vida que não apresenta nenhum culto a Ele!
No caso de doença ou velhice que impeçam o irmão de
frequentar regularmente a igreja, esta deve colocar em prática a
Bíblia. Se o crente não pode ir à igreja, a igreja vai até ele! Como
fazer isso? Por meio de visitações regulares e cultos domésticos, com
louvor, pregação, ensino da Palavra e a ministração da ceia do
Senhor. A igreja precisa acolher, exercer a misericórdia, estar
presente na vida desses irmãos, jamais abandoná-los (Tg 1:27; 1 Tm
1:5; 5:4; Sl 68:5; Is 1:16,17; Gl 6:9,10; 1 Jo 3:17-19). Às vezes é fácil
criticar quem deixa de ir à igreja por motivo de doença, acusando-o
de não ter fé. Mas não é isso que a Palavra de Deus ensina. Estamos
caminhando para um país em que a maioria da população será de
idosos. Se a igreja não se adequar a isso, poderá perder ou afastar
muitos membros. É necessário haver atenção especial a esses irmãos
que tanto já dedicaram suas vidas a Deus, ou mesmo os novos
convertidos. Quando a igreja se omite, envia uma mensagem
negativa a eles e às suas famílias. Eles podem não ser produtivos na
igreja com sua mão de obra, mas são amados por Deus e trabalham
pelo Reino com as suas orações e interseções. Importante: se houver
a possibilidade desses irmãos assistirem cultos pela TV, pela Internet
ou ouvirem pelo rádio, nada disso substituirá a presença dos irmãos
no seu lar.
Outra situação é morar num local sem qualquer igreja cristã
numa distância de muitos quilômetros. Ao invés de julgar o irmão
que não anda a pé, como fazia Paulo, nem a cavalo, como John
Wesley, podemos pensar em alternativas para incluí-lo. Se existe a
possibilidade de se locomover uma vez por semana, de quinze em
quinze dias ou uma vez ao mês, isso deve ser feito. Mas se não
houver, o irmão não deixa de ser crente nem membro do Corpo de
Cristo. Algumas alternativas são: praticar o culto doméstico com sua
família, com oração, louvor e leitura da Palavra; organizar cultos com
vizinhos crentes, também nos lares; por meio desses trabalhos,
evangelizar a região e ir congregando os convertidos, reunindo-se
regularmente, formando uma igreja local. Esta pode ou não ser
anexada a uma denominação. Outra alternativa: solicitar a uma
igreja o envio de obreiros e evangelistas para apoiar os trabalhos ou
dar-lhes início. Independe de tudo, jamais se deve abandonar o culto
individual nem deixar de se enxergar como membro da Igreja do
Senhor. Não esqueçamos que os lares dos irmãos eram alguns dos
locais de reunião da Igreja de Deus (At 2:2; 5:42; 12:12; Rm 16:5; 1
Co 16:19; Cl 4:15; Fm 1:2). Reafirmamos: a TV, o rádio e a Internet
ajudam, mas não substituem a presença das pessoas e o culto
comunitário.
Ainda outro motivo justificável para deixar a igreja ou migrar
para outra denominação é a mudança de endereço, o que pode
ocorrer por diversos motivos que nada envolvem problemas com a
igreja ou pecado. Uma transferência de militares ou gerentes
empresariais, mudança para a casa própria em outro bairro, motivos
de saúde ou de segurança, etc. Nesses casos, caso não haja nenhuma
igreja cristã e bíblica na região da nova moradia, aplica-se o que foi
dito no parágrafo anterior. O importante é empreender todos os
esforços para não deixar de congregar. Também pode correr que o
irmão e a irmã se relacionem afetivamente, sendo de denominações
diferentes. Durante o namoro ou após o casamento, eles podem optar
por frequentarem a mesma denominação, de modo que um terá de
deixar a sua para se filiar à outra. Isso aconteceu recentemente com
um primo meu que se casou com uma moça de outra denominação.
Neste caso, o importante na escolha é avaliar a natureza de cada
congregação antes de haver a migração de um ou de outro. Por
exemplo: o noivo congrega em uma igreja tradicional e reformada,
mas a noiva faz parte de uma igreja neopentecostal, que prega a
Teologia da Prosperidade e o Movimento de Batalha Espiritual. O
mais sensato, neste caso, é a noiva migrar para a igreja do seu noivo,
porque ele jamais conseguiria se sentir bem naquele ambiente.

12. Por mim, eu estou na igreja 24hs por dia, todos os dias da
semana. O Reino de Deus em primeiro lugar!

Embora pareça até incoerente com todo este estudo, não


podemos deixar de analisar o outro extremo e apresentar algumas
razões para não vivermos o tempo todo dentro da igreja. Alguns
crentes se revelam obcecados por frequentarem a congregação,
parecendo possuir uma total dependência emocional e espiritual do
templo. Em algumas denominações, existem cultos em todos os
períodos do dia, começando antes do nascer do sol e incluindo
vigílias na madrugada. Cada dia e cada hora a temática é diferente.
Além disso, criam-se campanhas diversas que exigem que os crentes
participem ativamente dos cultos (algumas com promessas de
bênçãos especiais para quem participar, outras com a ameaça de
perder a benção caso o crente não vá). Tudo isso sem contar as
reuniões de ministérios, visitações nos lares, evangelismo, ensaios do
coral, congressos, almoços, jantares e diversas outras razões para se
viver quase que integralmente preso às atividades da igreja-templo.
Dessa forma, alguns obreiros se veem obrigados a se dedicar
exclusivamente à obra, em detrimento de outras áreas da sua vida.
Conheci um missionário que estava com seu casamento em risco,
porque se dedicava exclusivamente ao ministério, negligenciando a
sua esposa e filho. A sua justificativa era: o Reino de Deus precisa
estar acima de tudo! Felizmente, Deus o despertou a tempo.
Para refutar essa situação, precisamos entender que o culto
verdadeiro, como já vimos, não é aquele que se presta a Deus num
local, mas em espírito e em verdade onde quer que estejamos e o que
quer que estejamos fazendo (Jo 4:19-24). Não adianta vivermos
socados no templo enquanto negligenciamos outras áreas da nossa
vida e as pessoas que fazem parte dela, acima de tudo cônjuges, pais
e filhos. Esse tipo de religiosidade é infrutífera e hipócrita, uma vez
que dizemos amar a Deus, mas demonstramos falta de amor pelas
pessoas através da nossa negligência (1 Jo 4:19-21). Muitos maridos
criam resistência ao Evangelho porque suas esposas não cuidam da
casa, nem mesmo preparam as refeições. Elas vivem dentro da
igreja! Jesus não ensinou isso. O marido precisa agradar a sua
esposa e vice-versa (1 Co 7:32-35). Cultuamos a Deus com a nossa
vida fora das quatro paredes do templo, administrando nosso tempo
para que nenhuma área vital seja negligenciada. Se não sairmos de
dentro das quatro paredes, em que momento colocaremos em prática
o que aprendemos lá? O ambiente eclesiástico de comunhão com os
irmãos pode ser onde recarregamos as nossas forças, mas para usá-
las onde? Quando? Com quem?
Essa idolatria pelo templo é uma das críticas dos desigrejados
à igreja institucionalizada. Grande parte deste problema está ligada
a uma interpretação equivocada de Mateus 6:33, que diz: "buscai,
pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas
coisas vos serão acrescentadas". Alguns entendem que devemos
colocar as atividades e práticas religiosas – como a frequência nos
cultos e seus ministérios – antes de tudo. Todo o resto vem depois.
Portanto: devemos dispensar toda a nossa atenção a Deus e à igreja,
somente depois ao restante da nossa vida: família, trabalho, lazer,
etc. O que Jesus está dizendo, na verdade, é que não devemos nos
preocupar com a nossa vida além do necessário, porque Deus cuida
de nós. Buscar o Reino de Deus acima de tudo está mais ligado a um
estilo de vida santo em que vivemos integralmente, 24hs por dia, os
valores desse Reino (1 Pe 1:15; 2 Co 7:1; Rm 12:1,2; 1 Ts 2:12).
Sendo assim, onde quer que estejamos e o que quer que façamos,
encarnaremos os princípios éticos, morais e espirituais da Palavra de
Deus: como pais, cônjuges, filhos, patrões, empregados, obreiros,
etc. Buscamos o Reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar
quando temos a oportunidade de fazer o mal, mas fazemos o bem;
quando somos induzidos a pecar, mas dizemos não ao pecado;
quando o Maligno nos tenta, mas o resistimos pela Palavra. Além
disso, essa busca pelo Reino em primeiro lugar envolve entender que
Deus cuida de nós enquanto vivemos a nossa vida comum, que inclui
trabalho, família, as atividades de igreja ou qualquer outra, sem
ansiedade e medo, sabendo que ele supre todas as nossas
necessidades. Claro que isso pode significar, para alguns, deixar
tudo e seguir um ministério de maneira integral, crendo e confiando
no cuidado e na providência de Deus.
Será que conseguiremos experimentar e pratica a vontade de
Deus vivendo 24hs do dia no templo? Lembremos: a Igreja não é
lugar, mas pessoas. A igreja como lugar é para reunião, não para
moradia. Somos chamados para salgar e iluminar o mundo, algo que
só podemos fazer inseridos no mundo, jamais presos às limitadoras
paredes de um prédio. Se queremos cuidar da "casa de Deus",
devemos cuidar de nós mesmos e dos nossos relacionamentos, pois a
casa de Deus somos nós (Jo 14:23; 1 Co 3:16,17; 6:18-20; 2 Co 6:16;
Ef 2:19-22). Existe um resultado negativo quando negligenciamos
aquilo e aqueles que Deus confiou em nossas mãos. Quando esses
resultados negativos vêm – brigas, discussões, perseguições,
demissões, divórcios, processos na justiça, etc. –, a tendência é que
esses irmãos que vivem dessa forma se revoltem contra Deus e a
igreja ou coloquem na conta do diabo todos os seus dissabores.
Quem está vivendo nessa situação, deve buscar um conhecimento
correto das Sagradas Escrituras e retomar a sua vida normal. As
igrejas que obrigam que os fiéis vivam o tempo inteiro enclausurados
nos templos e nas suas reuniões, devem repensar o seu modelo de
igreja, suas estratégias e, é claro, suas motivações4.

13. Estilo de liderança autoritário e opressor

Por três anos frequentei uma igreja que, durante um período,


foi dirigida por um pastor que exercia uma liderança autoritária.
Algumas reuniões ministeriais eram verdadeiros bate-bocas. Além de
impor a sua opinião e decisões, ele queria estar sempre com a razão
e não se sentia bem quando era contrariado. Eu mesmo já fui
ameaçado de expulsão por incitar os irmãos a fazerem seminário
teológico para aprender mais da Bíblia, algo que ele considerava um
absurdo. Em seus rompantes, ele fazia questão de frisar que
ninguém podia tocar no "ungido do Senhor". As suas palavras
soavam quase como ex cathedra, numa espécie de infalibilidade
pastoral. Não foi por esse motivo que deixei aquela denominação,
mas muitos abandonam a igreja por desentendimentos com sua
liderança ou por sentirem-se verdadeiramente tolhidos, humilhados,
agredidos e excluídos. É claro que isso não justifica totalmente e
evasão, mas é algo em que devemos pensar, acima de tudo se
desejamos que as pessoas permaneçam na igreja, não que saiam
dela. A expressão "a porta da saída é a serventia da casa" só deve ser
usada com relação aos falsos profetas que andam pelo nosso meio e
os apóstatas. Esses, sim, merecem ser excluídos.
Em certas denominações, os pastores, bispos e apóstolos são os
verdadeiros donos da igreja, as quais administram como a uma
empresa, um negócio lucrativo pessoal. A sua palavra e as suas
decisões são leis inexoráveis. Aqueles que discordam deles, acabam
sofrendo retaliações, sendo eventualmente expulsos da denominação.
Mesmo em algumas igrejas mais tradicionais, a função pastoral
parece ser tratada como uma posição hierárquica que demanda
submissão e obediência quase cegas. Esse modelo de liderança não é
o que a Bíblia nos ensina. A natureza da função pastoral ou de
qualquer outra no corpo é o serviço. O próprio Senhor da obra nos
serve como modelo: "e quem quiser ser o primeiro entre vós será
vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt
20:27,28; cf. Fp 2:5-7). Pedro escreveu sobre os pastores: "pastoreai
o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas
espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas
de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1 Pe 5:2,3). O
pastor recebeu o seu dom para servir a igreja (1 Pe 4:10), não para

4 A agenda das igrejas ligadas à Teologia da Prosperidade é bastante extensa,


com programações todos os dias da semana, em diversos horários. Em todas
elas, claro, o apelo pelas ofertas e pelos dízimos está sempre presente,
aproveitando-se todas as oportunidades.
submetê-la aos seus caprichos. Ele não possui uma autoridade
intrínseca, mas representativa. A sua autoridade termina quando ele
não age de acordo com Aquele que o comissionou.
O pastor Idauro Campos (op. cit.) observa que "É comum em
determinados círculos cristãos, especialmente neopentecostais,
confundir a orientação do pastor com a voz do Espírito Santo" (p. 34,
nota de rodapé). Ele afirmou isso dentro de um contexto de engano
produzido por pastores inescrupulosos em denominações doentes,
onde há o nepotismo, o favorecimento de irmãos ricos em detrimento
dos pobres, pressão psicológica, ofensas, ameaças,
constrangimentos, prosperidade desmedida de pastores empresários,
entre outros pecados. A despeito do caráter desses supostos
pastores, muitos crentes seguem cegamente as suas orientações com
o risco de seus empregos, casamentos, estabilidade financeira e
saúde espiritual. Esta é uma opressão muitas vezes subjetiva, com o
uso da suposta autoridade pastoral e de textos distorcidos da Bíblia.
Quando finalmente caem em si, aqueles irmãos que são vítimas
desses indivíduos acabam abandonando a igreja, muitas vezes com
aquele sentimento de que Deus não lhes foi fiel. Muitos saem após
terem seu casamento, sua fé e sua vida profissional e financeira
destroçados. E nada disso causa qualquer comoção nesses líderes
farsantes.
Em tudo devemos usar o bom senso, avaliando cada situação
para buscar a solução correta. Talvez esses dominadores não sejam
pastores de verdade, mas emissários de Satanás. Talvez nem mesmo
as suas denominações sejam igrejas verdadeiras, mas organizações
com fins lucrativos. Não somos obrigados a nos submeter à
autoridade de alguém que fere a essência do termo "autoridade". O
pastor não é autoridade na igreja, mas um servo revestido da
autoridade que emana da cabeça, que é Jesus. Os apóstolos não
exerciam poder autoritário sobre as igrejas, mas autoritativo, que é
uma autoridade derivada, cuidando da doutrina, da eleição de novos
obreiros e da saúde espiritual dos crentes (2 Co 10:6,8; 11:17; 13:10;
12:19; 1 Co 11:17,34; 1 Ts 4:2). Paulo entendia que não possuía
domínio sobre a fé dos irmãos, mas era cooperador com eles: "não
que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos
cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela fé já estais firmados"
(2 Co 1:24). Se a liderança máxima da igreja (geralmente da
convenção) não puder lidar com seus pastores opressores pelo bem
do rebanho, existem igrejas com pastores servos que podem nos
receber e às nossas famílias. Lembre-se: evadir-se nunca é a primeira
opção, mas apenas uma medida extrema quanto não existe qualquer
outra solução possível. A vontade de Deus é a santidade, o amor, a
união e a paz na sua Igreja.
14. Infelizmente, não consigo ter paz com algumas pessoas da igreja.
Já tentei de todas as formas mudar isso, mas elas me fazem muito
mal

A igreja é uma grande família. Talvez um dos grandes motivos


para tantas igrejas problemáticas seja o fato de que grande parte das
famílias que formam a igreja esteja desestruturada. Culpa-se a
instituição, mas esta é formada por pessoas. E são as pessoas o
problema ou a solução. Por esse motivo, todas as razões e desculpas
que estamos estudando não podem ser tratadas de maneira
simplista, com uma fórmula mágica pronta que caiba em todas as
situações. Na maioria dos casos não adiante nada mudar a estrutura,
é preciso mudar as pessoas. Os desigrejados pensam desta forma: a
igreja institucional está equivocada e doente, por isso vamos nos
reunir nos lares. Assim, transferem as pessoas doentes para outro
espaço, crendo que essa é a solução. O aconselhamento pastoral
deve levar em conta a particularidade de cada caso, considerando as
pessoas em sua singularidade, mesmo sendo partes desta complexa
coletividade que é a Igreja. Em se tratando de relacionamentos
interpessoais, esse cuidado deve ser ainda mais acentuado. Neste
caso específico, alguns verbos nos vêm à mente: amar, perdoar,
pedir perdão, orar e suportar. Levando em conta que a Igreja não é
um prédio ou uma denominação, até que ponto alguém deve
permanecer resignado a uma congregação enquanto é humilhado,
desprezado ou vítima de insistente perseguição e assédio? Já
estudamos a situação em que o irmão sai da igreja porque não
suporta algumas pessoas ou por desavenças. Mas aqui não é o caso.
O irmão ou a irmã amam a igreja, não querem sair, mas uma ou mais
pessoas vivem a oprimi-lo e persegui-lo. O que fazer?
Antes de tudo, é preciso analisar a questão. Primeiro, quem são
esses opressores? Eles podem ser crentes carnais, pessoas invejosas,
amigos possessivos, falsos irmãos e até mesmo laços do inimigo. Essa
prática pode ser enquadrada como assédio moral, podendo haver,
também, o assédio sexual. Já ouvi relatos de irmãs que deixaram a
igreja depois de reiteradas investidas de irmãos e até de pastores,
alguns deles casados. Esse assédio pode envolver agressões verbais
e físicas, calúnias, difamações, punições injustas, indiferença,
boicotes, etc. Segundo, se isso não parte da liderança, o que ela tem
feito a respeito? Tem tomado medidas para reconciliação e praticado
a disciplina? Ou tem se omitido e favorecido a parte opressora? É
inadmissível que um pastor permita que haja esse tipo de situação na
igreja sem tomar uma atitude. Ele estará agravando ainda mais a
situação, correndo o risco de ver a vítima evadir-se amargurada.
Existem duas formas de solucionar esta questão. A primeira é
esgotar todas as possibilidades de buscar a paz com o irmão algoz. O
crente deve se empenhar na busca pela paz (1 Pe 3:11; 1 Ts 5:13).
Ele deve ser um pacificador (Mt 5:9) e seguir a paz com todos (Hb
12:14; 2 Tm 2:22). É a paz de Cristo que deve julgar os irmãos (Cl
3:15). Paulo escreveu: "Se for possível, quanto depender de vós,
tende paz com todos os homens... Não te deixes vencer do mal, mas
vence o mal com o bem" (Rm 12:18,21). Ou seja: em algum momento
pode ser que a paz não seja possível. A segunda forma, se a opressão
persistir e nada for feito, se o(s) opressor(es) estiver(em)
irresoluto(s), se a vida emocional, espiritual, física, familiar e social
da vítima estiver sendo abalada, nada mais resta a ser feito, a não
ser procurar uma igreja que a acolha e a trate como Cristo a trataria
(e trata!). Muitas igrejas ruins perdem bons membros todos os dias.
Seus líderes não parecem preocupados com o bem-estar daqueles
que confiam neles. Se os maus crentes não são disciplinados, mas
agem livremente em seu pecado, algo está muito errado. E esta
também é uma opção: disciplinar esses irmãos que oprimem outros
irmãos, confrontá-los com o seu pecado e até mesmo questionar a
veracidade da sua conversão. Tudo isso é bíblico.

15. Pessoas que abandonam a sã doutrina para seguirem os falsos


ensinos

Já falamos de indivíduos que apostatam da fé por não mais


crerem em Deus e na Bíblia (cf. razões 11, 13 e 17). Eles renegam
tudo aquilo em que diziam acreditar e se transformam, muitas vezes,
em inimigos do Evangelho. Existe, ainda, outro tipo de apostasia:
aquele em que a pessoa imagina estar na fé, mas já se afastou dela
por deixar de crer na sã doutrina para abraçar os ensinos de
demônios dos falsos mestres. Além de escrever aos Gálatas para
condenar os hereges (Gl 1:6-9), Paulo já alertara sobre eles: "Ora, o
Espírito afirma expressamente que nos últimos tempos, alguns
apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a
ensinos de demônios" (1 Tm 4:1). Ele salienta a importância da
pregação da verdade, porque algumas pessoas não suportarão a sã
doutrina, mas se cercarão de mestres "segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos" (2 Tm 4:3). Essas
pessoas se recusarão a dar ouvidos à verdade, mas buscarão
qualquer inverdade que se encaixe nos seus esquemas mentais de
pecado (v. 4). Elas querem uma palavra, mas a verdade de Deus não
lhes satisfaz, porque condena sua pecaminosidade e lhes cobra
santidade. Assim, distorcem a verdade para caber nas suas mentiras.
Também a distorcem quando ela não promete as tão desejadas
bênçãos de prosperidade e sucesso, como fazem os gurus da
Teologia da Prosperidade. Ou seja: fazem com que prometam.
O reverendo Augustus Nicodemus chama a nossa atenção para
uma espécie de "ateísmo cristão", praticado por pessoas que dizem
acreditar em Deus, mas vivem como se Ele não existisse, pois negam
que Ele intervém e age sobre e história humana e se relaciona com
as pessoas de maneira pessoal (2011, p. 78). Podemos acrescentar
que qualquer visão a respeito de Deus que não leve em conta a
teologia ortodoxa, que tem por base exclusivamente a Bíblia, é uma
distorção da verdade, portanto não é cristã. Essa distorção está
presente nas práticas neopentecostais e no movimento dos
desigrejados. Teorias erradas a respeito de Deus não estão
relacionadas apenas à natureza e ao caráter de Deus, mas a toda a
sua Revelação. Isso inclui ideias equivocadas a respeito da salvação,
da adoração, da oração, dos dízimos, da santidade, do juízo final, da
vida após a morte, da volta de Jesus, dos anjos e demônios e tudo
mais que diga respeito a Deus e a sua Palavra.
Com relação a isso, um dos grandes erros da igreja atual é
tolerar o livre pensamento teológico com medo de parecer
fundamentalista e afastar os crentes por impor-lhes dogmas e
doutrinas sem permitir que tudo seja questionado. Por um lado, é
salutar que os crentes pensem, que eles questionem doutrinas que
estão claramente distantes da verdade bíblica. Este estudo, por
exemplo, possui muitos questionamentos. Por outro lado, quando a
sã doutrina é questionada sem que haja alguma ação para gerar esse
tipo de coisa, a apostasia vai criando forma e deformando a fé das
pessoas. Um ministro de louvor disse certa vez na igreja que iria
cantar uma música que destoava um pouco da Bíblia, mas que não
tinha problema de vez em quando fazer isso. Na sua mente, parecia
não ter problema trazer heresias para dentro da igreja, afinal, a letra
da música era bonita e dizia tudo que a maioria das pessoas desejam
ouvir, seja da parte de Deus ou não. Um exemplo é aquele "hino" que
diz: "Campeão, vencedor, Deus dá asas, faz teu voo". É certo que os
que confiam no Senhor voam com asas como águias (Is 40:31), mas
quem faz o seu voo, quem lhes dirige os passos, quem controla a sua
vida é Deus. Tal hino humanista ainda afirma: "Nossos sonhos a
gente é que constrói". Deus é apenas coadjuvante da nossa fé, o
executor dos planos que já determinamos. Portanto: os deuses somos
nós!
A troca da sã doutrina pelos falsos ensinos também é uma
espécie de apostasia, uma vez que a imagem de Deus fica
completamente desfigurada. Aos poucos, vai-se moldando a fé de tal
maneira que se pode enxergar muitas coisas nela, menos o Deus que
a Bíblia revela. Essa apostasia não ocorre de uma hora para outra,
mas cria raízes e aos poucos vai germinando e dando seus frutos.
Nicodemus (idem, p. 149) comenta:

Mas toda apostasia, sem dúvida, começa com uma mudança


na mente e no coração, que durante anos vai corroendo as
convicções, minando as resistências mentais e espirituais,
até que uma mudança completa – e para fora da fé – venha a
ocorrer. Nessa fase, o apóstata se justifica de todas as
maneiras, desde apelando para as mudanças como algo
natural e desejável, como rompendo abertamente com
alguns pontos centrais do cristianismo histórico nos quais
antes acreditava. O próximo passo, por coerência, é assumir
um estado perpétuo de mudança sem poder afirmar
absolutamente nada com convicção e impondo-se uma
existência de metamorfose eterna.

Tudo isso deve nos deixar em alerta, porque esses indivíduos


podem permanecer desviados ou apóstatas dentro da igreja,
influenciando aqueles que não abrem mão do Evangelho. O cuidado
com essas pessoas deve ser constante, cuidando da nossa própria fé,
para que não venhamos cair nessa armadilha. Alguns conselhos são
importantes. Paulo escreveu: "Ora, como recebestes Cristo Jesus, o
Senhor, assim andai nele, nele erradicados e edificados e
confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de
graças" (Cl 2:6,7). Pedro também demonstra a mesma preocupação,
ao exortar: "Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão,
acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses
insubordinados, decaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na
graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno" (2 Pe 3:17,18).
Havia o risco dos irmãos caírem na mesma insubordinação dos
apóstatas, por isso, Pedro assevera que o antídoto contra isso é
crescer na graça e no conhecimento de Cristo. Judas nos convoca a
batalharmos pela fé que o Senhor nos entregou (Jd 1:3).
Não há muito que ser dito para quem já abraçou a apostasia e
negou a fé de maneira irreversível. Todavia, existe esperança para
quem está iniciando nesse processo de abandono da verdadeira fé.
Judas nos estimula a investir naqueles que ainda estão na dúvida,
que não foram totalmente contaminados pelos ensinos dos falsos
profetas: "E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-
os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também
compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela
carne" (Jd 1:22,23). Quanto a nós, devemos nos guardar no amor de
Deus, esperando a vida eterna que Cristo já nos deu (v. 21). Cada
crente deve considerar a urgência da certeza da sua salvação e a
necessidade do conhecimento de Deus. Esse conhecimento deve nos
conduzir ao amor e ao serviço, não à satisfação dos nossos interesses
mesquinhos. Além disso, conhecer o caráter e as estratégias dos
falsos mestres nos ajuda a criar barreiras em torno da nossa fé,
protegidos pela graça de Deus e seu Santo Espírito. Estes textos nos
auxiliam nessa tarefa e nos capacitam a ajudar aqueles irmãos
tendenciosos a seguir os falsos ensinos: 1 Ts 5:20,21; 2 Ts 2:3,4; Lc
8:13; Jr 2:11,12; 1 Tm 6:3-5; 2 Tm 3:1-7; 1 Jo 2:18,19,24,25; 4:1; Mt
7:15-20; 24:11-24; 2 Pe 2:1-3; Rm 16:17,18; Mc 13:22,23; Dt 18:20-
22; Jr 23:32; Ez 13:8,9; Mq 3:5,7. Estude-os.
16. O inimigo tem me oprimido e me feito desanimar. Não consigo
mais praticar a minha fé nem ir à igreja

Em muitas das razões que estudamos aqui, podemos perceber


influências diabólicas para minar a fé do crente e levá-lo a desistir da
caminhada. Os falsos profetas e seus ensinos mentirosos são os
maiores exemplos (1 Tm 4:1). Na nossa batalha espiritual, embates
com o inimigo da nossa alma são constantes. Paulo descreve assim a
nossa luta: "porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e
sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes" (Ef 6:12). Quando nos sentimos oprimidos pelas
circunstâncias; quando em casa, na escola, na faculdade ou no
trabalho tudo parece vir para nos derrubar; quando até mesmo
dentro da igreja existem pessoas e situações que nos desgastam
espiritual, emocional e fisicamente; quando já não conseguimos mais
orar nem ler a Bíblia, pode ser que estejamos envolvidos nessa
batalha. O objetivo de Satanás não é meramente atrapalhar a nossa
vida, mas destruir a nossa fé, afastar-nos da comunhão com Deus e
com a igreja. Precisamos estar atentos, vigiando e orando, resistindo
ao inimigo firmes na fé (1 Pe 5:8,9), alimentando-nos diariamente da
Palavra de Deus, que deve habitar ricamente em nós (Cl 3:16,17).
Por mais que os desigrejados insistam em condenar o modelo
de igreja institucional e organizado, ele é de extrema importância
nessa batalha. Uma das táticas de animais predadores durante e
caçada é atacar um rebanho ou uma manada, investindo contra
aqueles animais mais novos ou fracos e doentes, procurando afastá-
los dos demais para que fiquem indefesos e se tornem presas fáceis.
Sem a proteção dos demais, é mais fácil capturá-los e devorá-los. Da
mesma forma age Satanás: ele ataca de todas as formas para nos
retirar do meio dos irmãos, da comunhão com a igreja. Assim
ficaremos fracos e seremos mais facilmente tragados. Na igreja,
somos discipulados, ensinados, aconselhados, edificados e
disciplinados quando erramos. Nela encontramos amor fraternal,
apoio espiritual, acompanhamento pastoral e ajuda social. Na igreja,
podemos servir com nossos dons e talentos para abençoar outros
irmãos. Tudo isso fortalece a nossa fé, ajuda no desenvolvimento da
nossa santidade e nos torna fortes contra as obras da carne, a
influência do mundo e as artimanhas do diabo. Portanto, deixar a
igreja é algo impensável, porque é isso que Satanás quer.
É importante não esquecer que o crente verdadeiro é selado
com o Espírito Santo (Ef 1:13), e por isso não pode ficar possesso por
um demônio. Podemos sofrer dois tipos de atuações demoníacas. A
primeira é a influência, que é sempre externa. O mundo caído já é
naturalmente influenciado por Satanás (Ez 28:11-19; Is 14:12-17).
Quem está no mundo, faz aquilo que é próprio do deus do mundo,
como nós também fazíamos antes da nossa conversão (Ef 2:1-3; Tt
3:3). Em se tratando do crente, a mesma influência ocorre, mas o
filho de Deus possui o Espírito Santo dentro de si, que apresenta um
contraponto às inclinações da sua carne, capacitando-o a negar o
pecado para viver em santidade, bem como dizer não às investidas
do diabo (Gl 6:16,17). A segunda é a opressão, que pode começar
dentro do próprio lar, acima de tudo quando o pecador é convertido
a Cristo e passa a fazer parte da família de Deus. Ou quando crente é
atormentado pelos seus próprios pecados, quando Satanás utiliza
todas as suas armas para afetá-lo nas suas fraquezas. Às vezes
lembra-o a todo instante do seu passado, causando-lhe um
sentimento insuportável de culpa, uma culpa que já não pesa mais
sobre ele (1 Jo 1:9; Sl 32:1-5; Is 53:5-6). O inimigo também usa
pessoas e situações para nos oprimir, como problemas, colegas de
trabalho, pessoas dentro da igreja, etc.
Cada um é influenciado e oprimido de uma maneira e em áreas
diferentes. Mas isto nenhum crente pode esquecer: em Cristo já
temos a nossa vitória eterna e Satanás já foi derrotado na cruz (Jo
12:31; 16:11; Cl 2:15; Hb 12:14). Quando o crente pára de
frequentar a igreja porque é oprimido por Satanás, exclui-se da
comunhão com os irmãos, que poderiam ajudá-lo a enfrentar essa
batalha. Ninguém vence essa guerra lutando sozinho, mas
precisamos uns dos outros para a edificação da nossa fé (Jd 1:20; Cl
2:6,7). Nada vem para destruir aquele que já foi resgatado pelo
Senhor, que não está mais debaixo de condenação (Rm 8:1,2). Paulo
assevera: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o
seu propósito.” (Rm 8:28). Devemos nos manter firmes na fé,
contando com a armadura que Deus já preparou para enfrentarmos
essa batalha (Ef 6:13-18). Como Igreja do Senhor, precisamos estar
ao lado daqueles que se sentem oprimidos e enfraquecidos, orando
com eles, sendo empáticos, prestando solidariedade e apoio
incondicionais. A causa da evasão de muitos crentes que se sentem
oprimidos é a falta de amor da igreja, de interesse por sua situação.
Precisamos mudar isso!

17. Os amigos do evangelho

No tempo em que escrevo este livro, já faz alguns meses que a


igreja que frequento está em campanha para a climatização do
templo. São poucos os irmãos que contribuem para este fim, mas
Deus tem honrado a nossa fé e suprido a nossa necessidade. Um fato
que marca essa campanha e que parece caracterizar campanhas
similares em outras igrejas, é a contribuição financeira de pessoas
que não são crentes, não professam a Jesus como Senhor e Salvador.
São empresários e pessoas físicas simpatizantes da igreja e do
Evangelho, que não dispensam uma boa oportunidade de contribuir,
e fazem isso com amor genuíno. Eles nem sempre frequentam a
igreja. Mas existem aqueles que sim, que sempre que podem vão às
reuniões. Eles são motivados por sentimentos de bem-estar, pelo
carisma do pastor, pelas pregações bonitas e cheias de promessas de
bênçãos, pela qualidade do louvor, pelas amizades que acabam
construindo ou por familiares que frequentam a igreja. Muitos,
mesmo sem ser convertidos, falam do Evangelho, de Deus, do amor.
Eles não são crentes em Cristo Jesus, mas vivem como se fossem.
Talvez estejam entre os muitos que são chamados, mas não fazem
parte dos poucos que são escolhidos.
Embora as portas da igreja estejam sempre abertas para
receber todas as pessoas que a procuram, os amigos do Evangelho
são membros sazonais, que não estão sempre presentes e com quem
não podemos contar. Estamos falando de indivíduos que não são
convertidos, não possuem o Espírito Santo, não têm comunhão
verdadeira com Deus, não são capazes de entender as coisas
espirituais, não possuem dons dados pelo Espírito, não são santos
nem são salvos. Mesmo que eles possuam boa vontade, quem os
colocará para ensinar na Escola Dominical? Quem poderá cobrar
deles algum compromisso com Deus, visto que ainda estão mortos
espiritualmente e debaixo da ira divina? São amigos do Evangelho,
mas podem até ser inimigos da cruz de Cristo, infiltrados por trás de
uma capa de bondade. O apóstolo Paulo já nos alertou: "Irmãos, sede
imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que
tendes em nós. pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas
vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos
da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o
ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se
preocupam com as coisas terrenas" (Fp 3:17-19).
O grande problema ou pecado que se pode cometer nesta
situação é tolerar a presença dos amigos do Evangelho, mesmo
quando eles representam um péssimo exemplo de comportamento
para a igreja, com medo de perder o apoio que eles dão à
comunidade, principalmente financeiro. Neste caso, existe um
cuidado especial para não confrontá-los com relação aos seus
pecados, para não levar-lhes mensagens duras sobre arrependimento
e inferno. Eles precisam se sentir bem e acolhidos, pois somente
assim continuarão contribuindo com suas ofertas. Logo, devem
merecer os melhores elogios, os melhores lugares, as mais altas
honrarias. A alguns é dado o microfone para que falem à igreja,
deem o seu testemunho e louvem ao Senhor que ainda não os salvou,
porque eles continuam mortos em seus delitos e pecados. Que
mensagens estão sendo repassadas aos irmãos, além daquelas que
não é preciso ser crente para estar na igreja, que a conversão é algo
dispensável, que a pessoa vale o quanto tem e o quanto pode dar?
Essa é uma prática perniciosa e intolerável, mas que não deixa de
existir em muitas igrejas.
Os amigos do Evangelho podem ser futuros crentes, pessoas
que o Espírito Santo já vem falando ao coração, podendo convertê-los
quando menos esperamos, passando a fazer parte da Igreja, servindo
a Deus e o adorando em espírito e em verdade. Mas talvez muitos
jamais se convertam, acomodados a sua aparente espiritualidade e
estagnados. Eles podem estar hoje em uma igreja e amanhã em
outra. Eles podem participar dos cultos, mas continuando com sua
vida de pecados, pois essa é a sua verdadeira natureza. Após o
Sermão do Monte, as multidões ficaram maravilhadas com o ensino
de Jesus (Mt 7:28-29). E, com certeza, muitos ali estavam entre
aqueles que pediriam a sua crucificação (Mt 27:22,23). Não é difícil
simular a fé quando as pessoas só nos conhecem na igreja. Neste
caso, os amigos do Evangelho podem estar entre os influenciadores
que vimos anteriormente, levando muitos crentes na conversa, até
tirá-los da igreja. Os amigos do Evangelho não estão firmados na
Rocha, não possuem raízes. Eles podem deixar de lado a igreja ou
passar a se dedicar à outra quando perdem o interesse, quando suas
expectativas são frustradas, quando entram em conflito com alguém,
quando encontram uma congregação mais conveniente. Eles podem,
inclusive, montar uma igreja para si próprios!
A orientação pastoral e evangelística a essas pessoas é aquela
que vimos em outras razões comentadas aqui (cf. razões 9, 15, 16, 18
e 19). O grande erro é tratar como crentes aqueles que declaram
abertamente que não o são. Não estou falando em deixar de dar
amor, atenção, excluir sumariamente da comunhão, desprezar ou
demonizar essas pessoas. O perigo é achar que elas não precisam ser
evangelizadas, que podem ser amigas do Evangelho porque é melhor
que estar no mundo. Algumas são tão boas e corretas que merecem o
elogio e o louvor da igreja. Então, elas acham que já é o suficiente,
que estão bem com Deus e por isso não precisam se converter.
Quanto mais são convencidas de que são boas pessoas, tanto menos
se importarão com a salvação. Todos precisam ser amados e
acolhidos, mas com aquela palavra que jamais pode faltar: "Não
eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos
igualmente perecereis" (Lc 13:3). A Igreja, enquanto corpo de Cristo,
não é composta por amigos do Evangelho, mas por pecadores
regenerados, que experimentaram o novo nascimento e foram
adotados como filhos de Deus. A igreja, enquanto local de reunião ou
o próprio ajuntamento em si, é composta desses salvos. Isso precisa
ficar bastante claro.

18. Divisões dentro da igreja causadas por pecados e heresias dos


pastores, criando facções e a evasão de vários membros

Em grande parte, os pastores, como líderes e guias


divinamente instituídos do rebanho de Deus, são diretamente
responsáveis pelo bem-estar da igreja ou o seu fracasso. Uma única
atitude errada pode representar danos e perdas, ou até mesmo a
extinção de uma congregação. Há muitos anos, o pastor presidente e
fundador de certa denominação, que era altamente estimado por
todos e servia como modelo de homem de Deus, traiu a sua esposa
com uma irmã daquela igreja. Convocado a se retratar e se
arrepender, ele optou por continuar em pecado, sendo disciplinado e
desligado da denominação. Esse fato causou uma divisão entre os
irmãos que eram partidários daquele pastor e aqueles que, apesar de
o amarem, acharam por bem obedecer a Palavra de Deus. Ouve um
cisma na igreja, com a saída de muitos membros, alguns para seguir
o pastor, outros porque se escandalizaram. Aqueles que ficaram,
deram prosseguimento aos trabalhos da denominação, que hoje estão
bastante consolidados, abençoando inúmeras vidas. Muitos dos que
saíram, acabaram se desviando.
Esse é apenas um exemplo do que pode representar o pecado
na igreja, acima de tudo dos seus líderes. Mas também podemos
falar de brigas internas por cargos e posições de autoridade, de
ciúmes e ambições egoístas que só produzem males (Tg 3:16). E
também de inovações doutrinárias que dividem opiniões dentro da
igreja, causam discussões infrutíferas e separam os irmãos, até que
muitos saem e até montam uma nova igreja. A igreja de Corinto é um
exemplo da nocividade das divisões (1 Co 1:10-17). Formaram-se, ali,
algumas alianças partidárias: uns diziam ser de Apolo, outros de
Paulo, outros de Cristo. O apóstolo Paulo apelou: "Rogo-vos, irmãos,
pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma
coisa e que não haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente
unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer" (v. 10).
Essas divisões geravam contendas entre os irmãos, que o apóstolo
chama de "carnais" (1 Co 3:1-9). Em parte, conforme afirma Paulo,
as divisões são até positivas, uma vez que os crentes sinceros ficam
manifestos (1 Co 11:9). Todavia, o ideal é que a igreja viva unida,
que não haja contendas, acima de tudo aquelas provocadas pela
malícia e pela ganância de indivíduos que se apelidam de pastores.
Tudo isso revela o caráter de quem não vive no Espírito, mas na
carne (Gl 5:19-21).
Não podemos condenar aqueles que saem de uma denominação
que parece não respeitar a Palavra de Deus, mas vive em disputas
infindas e divisões que em nada contribuem para a edificação da
igreja. Mas a orientação dada por Deus é que os facciosos e que
trabalham contra a sã doutrina é que devem ser afastados, sejam
eles pastores ou qualquer outro membro. Paulo afirma que não
devemos nos associar àqueles que dizem ser irmãos, mas vivem na
prática deliberada do pecado (1 Co 5:9-11). Já o apóstolo João alerta
para a perda do investindo na sã doutrina quando a igreja dá ouvidos
aos homens enganadores que ultrapassam a doutrina de Cristo e
nela não permanecem (2 Jo 7-11). As diferenças de opiniões não são
um problema, a não ser quando se transformam em contendas e
dividem os irmãos (2 Tm 2:16). Pastores que pretendem dominar o
rebanho e tratar o pecado com permissividade precisam ser
disciplinados. Jesus confrontava os fariseus, líderes espirituais dos
judeus, e condenava quem se opunha à verdade (Mt 22:29; 23:13-39;
Jo 5:37-42). Deus não é de desordem, mas de paz (1 Co 14:33).

19. Excesso de programações e eventos que não geram santidade


nem compromisso com deus

Algumas igrejas investem pesado em programações e eventos


para preencher a vida e o tempo dos seus membros, mas acabam
causando um efeito totalmente contrário: esvaziam a mente e a fé
das pessoas, até o ponto que algumas abandonam a igreja. Conforme
já vimos, existem crentes sinceros que anseiam por algo mais de
Deus, além de pecadores que não estão em busca de mensagens
triunfalistas, mas do Evangelho que pode salvá-las (cf. razão 46).
Quando realizadas com o propósito correto, um conteúdo bíblico e a
direção do Espírito Santo, algumas programações podem ser um
poderoso instrumento para a edificação do Corpo de Cristo e a
evangelização dos perdidos. Algumas igrejas, contudo, possuem
eventos em excesso, para todos os fins, alguns apenas para manter
uma tradição ou sequência que já faz parte do calendário oficial da
igreja. Além de tempo, tantos eventos demandam muito esforço
pessoal, estrutura e investimento financeiro. O objetivo a ser
alcançado muitas vezes é aquele que poderia ser real todos os dias,
por meio do discipulado, do ensino da Palavra e da evangelização.
As programações na igreja não devem ser para preencher o
tempo, para oferecer uma opção de comunhão, para forçar alguma
mudança. O que faz diferença na vida do crente é comunhão com
Deus, arrependimento e confissão de pecados, santificação diária,
obediência e prática da Palavra, vida de oração e estudo da Bíblia.
No entanto, parece que a igreja moderna sente uma imensa
necessidade sempre crescente de se adequar às novas gerações, mas
à custa do cristianismo bíblico, da maneira de pensar e viver a fé
segundo a doutrina de Cristo e dos apóstolos. Torno a dizer que tais
eventos possuem a sua funcionalidade quando a motivação e o
conteúdo estão corretos – e quando existe uma necessidade real. Mas
é preciso cuidado. O excesso de programações pode fazer com que
os crentes entendam que isso é espiritualidade e o seu culto passe a
depender de eventos para acontecer. Daí se formam os "crentes
eventuais", que medem sua comunhão com Deus por meio dos
eventos que participam, que acabam estagnando na sua fé por não
crescerem além das programações da igreja.
A igreja precisa fazer discípulos de Jesus. Valorizar aquilo que
é essencial, que edifica, que promove santidade e constrói bons
relacionamentos entre os irmãos, que coloca a igreja para fora do
templo e a faz missionária. Uma igreja saudável vive de
relacionamentos cotidianos, não de encontros e eventos sazonais. As
ovelhas precisam se relacionar entre si, e o pastor com as ovelhas. O
desenvolvimento da fé dos casais não pode se restringir ao encontro
de casais, mas eles devem se cuidar e serem cuidados a todo tempo.
O mesmo se pode falar das crianças, adolescentes e jovens. Eventos
devem ser apenas um complemento ou uma forma de unir pessoas
para celebrar o que já vem sendo feito diariamente na igreja. É
importante frisar que eventos não são momentos mágicos que
promovem transformação de vida. Encontros e pós-encontros não
funcionam como se espera. O mundo fora desses encontros é outro, é
diário e é cruel.
Uma Igreja baseada em eventos também tende a ser uma
resposta ao homem moderno, uma tentativa de adequar a teologia e
o estilo da pregação e do culto aos anseios e interesses do auditório,
buscando adequar-se ao máximo à modernidade para alcançar mais
pessoas, fazê-las sentir interesse pelo Evangelho e pela igreja. Isso já
era verdade na década de 1970, quando D. Martyn Lloyd-Jones
proferiu diversas palestras a respeito da pregação da Palavra de
Deus. Segundo o pensamento equivocado de certo autor citado por
ele, a verdade precisa se concretizar no aqui e agora, partindo da
compreensão dos problemas do mundo moderno e da sua forma de
pensar Deus e a vida. Isso envolve a demitologização da Palavra de
Deus, retirando do Evangelho o elemento miraculoso, pois o homem
atual só pode aceitar aquilo que for concreto, tangível. Além disso, as
pessoas comuns não estão acostumadas à velha pregação ortodoxa,
mas desejam algo mais maleável, que se adéque à sua realidade
presente. Por isso, tem-se investido bastante em pregações
psicológicas e de autoajuda. A igreja anseia por dar a resposta que
essas pessoas desejam escutar, algo que atinja seus anseios e possa
satisfazê-las. Não se trata mais de glorificar a Deus através da nossa
vida, mas de manipular a verdade de Deus para que sejamos
exaltados.
Outra grande questão é que essas pessoas não estão
acostumadas a pensar. Uma teologia rebuscada e profunda é capaz
de confundir a sua mente. Com o que a maioria dos crentes da
atualidade está acostumada? Mensagens curtas postadas nas redes
sociais; frases de efeito e slogans impactantes. A ordem é evitar
"textões", com o aviso expresso de que "ninguém lê". Talvez somente
uma imagem que busque transmitir uma grande mensagem. Se não
existe ânimo nem capacidade para ler um "textão", muito menos
haverá para prestar atenção e assimilar uma pregação cheia de
verdades complicadas demais para a mente moderna, com
mensagens articuladas e argumentativas. Por essa causa, investe-se
nas mais variadas formas de preencher essa lacuna. Muitos cultos
assemelham-se a shows ou apresentações de comédia stand up.
Certo pastor moderno é mestre nessa modalidade, intercalando
piadas com a mensagem do Evangelho, levantando risos da plateia
para que assimilem o que está sendo pregado. Além disso, o louvor e
testemunhos de milagres, prosperidade, cura, libertação e mesmo de
conversões vêm como substitutos da pregação expositiva da Bíblia.
Arte sacra demais e Evangelho de menos.
O objetivo de tudo isso, como já foi mencionado, é facilitar a
aceitação do Evangelho, criando um clima favorável para que as
pessoas possam responder positivamente ao chamado para aceitar a
Jesus ou, caso já sejam crentes, para reproduzir determinado
comportamento pretendido pelo pregador. A mensagem oculta por
detrás dessa forma de agir é que a Palavra de Deus por si só e a
atuação do Espírito Santo não são suficientes para confrontar o
pecador e levá-lo à conversão nem para produzir mudança de
comportamento no crente. É preciso dar uma mãozinha, criar um
clima, falar de uma maneira que não espante o "freguês". Por isso
são raras as pregações sobre a depravação humana (não é
politicamente correto nem atrativo dizer que as pessoas são más e
estão mortas em seus delitos e pecados) e o inferno (também não é
politicamente correto afirmar que alguém pode ir para o inferno).
Esse tipo de pregação é quase que uma fórmula mágica para
esvaziar igrejas. O que lota igrejas é convencer os ouvintes de que
eles são apenas coitadinhos que o Deus de amor anseia por
abençoar. Falar de bênçãos reservadas na eternidade também não é
interessante para um ser que deseja tudo para aqui e agora,
imediatamente, já. Some, assim, a escatologia.
Sem a mensagem correta transmitida da maneira carreta não
há cristianismo verdadeiro nem compromisso real com o Reino de
Deus. O que fazemos quando um canal de TV começa a nos
desagradar ou não contém o tipo de programação que preenche os
nossos interesses? Mudamos de canal. Quando as programações e
eventos deixarem de ser interessantes, o que essas pessoas farão?
Mudarão de igreja! Todavia, quando o Evangelho é pregado de
maneira íntegra, quando o pecador é confrontado com o seu pecado
e estimulado a uma mudança radical de vida, quando ouvintes são
convocados a assumirem um compromisso real com Deus, os crentes
verdadeiros aparecem e não "mudam de canal". Eles não precisam
de falácias, de shows, de pregadores de stand up, de uma música de
fundo para comover seus corações. Eles só precisam ouvir e crer. A
fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus. Se não é ela que está sendo
pregada, a fé não virá. É através da resposta positiva ao Evangelho
de Cristo que podemos discernir a natureza de cada ouvinte. Como
crentes, somos aroma de vida para aqueles que creem, mas cheiro de
morte para os que se perdem, os que não suportam a verdade e
vagueiam pelos quatro cantos do mundo em busca de uma mentira
que lhes satisfaça.

20. Os jovens reclamam que a igreja tende a ser superprotetora

Esta e as próximas três razões são dedicadas aos jovens e


adolescentes que saem da igreja, alguns para nunca mais voltar.
Baseio-me num projeto de pesquisa de cinco anos realizado nos
Estados Unidos pela Barna Group, que incluiu entrevistas com
adolescentes e jovens que se desconectam da Igreja a partir dos 15
anos de idade, pais, pastores de jovens e pastores seniors. Embora
muitas das razões que estudamos envolvam também essa faixa
etária, é importante analisarmos as razões colhidas diretamente
deles. Nesta primeira razão, a justificativa é que a igreja cria medo
na cabeça dos fiéis e aversão ao risco, demonizando tudo. Além
disso, ela ignora os problemas do mundo real. Esses jovens desejam
se conectar ao mundo pela sua fé em Cristo, mas se sentem
sufocados. O seu acesso às diversas visões de mundo e a uma cultura
híbrida e líquida esbarra nas orientações da igreja, que acabam se
mostrando superficiais.
Primeiro, é preciso questionar que conexão é essa que esses
jovens desejam: para influenciar o mundo com a luz de Cristo ou
para mesclar-se a ele na ilusão de que podem ter as duas coisas?
Muitas pessoas anseiam por uma doutrina que reescreva o que Paulo
declarou aos Romanos: "Como viveremos no pecado, nós os que para
ele morremos?" (Rm 6:2). Segundo, vale analisar se aqui se trata de
pessoas convertidas ou apenas filhos de membros de uma
denominação, porque a maneira de tratar cada caso é diferente.
Jovens descrentes ou crentes mundanizados não desejam viver os
valores de Deus. Eles querem se conectar com o mundo, mas
percebem que os valores aprendidos na igreja se chocam com os
valores do mundo, e que a amizade do mundo é inimiga de Deus (Tg
4:4). Isso interfere diretamente no seu gosto pela cultura secular
(músicas, ambientes, ídolos, valores) e nas suas amizades. Eis o valor
de uma igreja centrada no Evangelho, que sabe discernir entre o
bem e o mal, o certo e o errado, o que edifica e o que não edifica.
Isso evita exageros quanto aos malefícios do mundo. Algumas igrejas
demonizam tanto o mundo, que acabam proibindo até amizade com
pessoas descrentes (cf. razão 4). Fato é que muitos desses
adolescentes e jovens precisam de arrependimento estrutural ou
mesmo de conversão.
A igreja não deve proteger do mundo os jovens crentes, mas
prepará-los para enfrentá-lo com uma fé madura e ética, mostrando
que, pelo fato de terem sido convertidos, possuem uma nova
natureza que os faz ser diferentes (1 Co 6:10,11; Ef 2:1,2). Na sua
oração sacerdotal, o Senhor Jesus não pediu ao Pai que tirasse os
seus discípulos do mundo, mas que os guardasse do mal (Jo 17:15).
Curiosamente, parte do cuidado pastoral do apóstolo Paulo pela
igreja de Corinto não visava à influência do mundo, mas dos falsos
irmãos de dentro da própria igreja (1 Co 5:10). Adolescentes e jovens
convertidos devem ser ensinados e estimulados a estar no mundo
sem sentir-se parte dele (1 Jo 3:1), a amar as pessoas que nele estão
sem amar o pecado que elas praticam e o próprio mundo e seu
sistema corrompido e diabólico (1 Jo 2:15) e a entender que, pelo
fato de serem crentes, o mundo os odiará (Jo 14:31; 15:19; 1 Jo
3:13). Isto pode significar que eles não caberão em todo lugar ou
turma e que algumas amizades acabarão desfeitas ou jamais
existirão (Tg 4:4). Por causa da sua idade, eles precisam do apoio dos
seus pais e dos líderes da igreja. o Espírito Santo altera a nossa
condição diante de Deus, mas não as características naturais de cada
pessoa em sua idade própria. O adolescente crente continua sendo
adolescente, pensa como adolescente e age como adolescente. Ele
não se transforma, na sua conversão, em um senhor de sessenta
anos.
A vida cristã é outra vida e outra cosmovisão. Reclama-se muito
da igreja, acima de tudo quando a sua fé é ortodoxa, taxando-a de
fundamentalista e reacionária. Tanto os jovens quanto os adultos
deste mundo moderno e pós-neoliberal não suportam ter parte da
sua liberdade suprimida ou ser obrigados a obedecer regras rígidas
de comportamento. Tudo isso é considerado arcaico, farisaico,
moralista, exagerado. O jovem se sente superprotegido porque
rejeita qualquer espécie de contenção aos seus impulsos e desejos.
Ele reclama que a igreja está criando uma barreira em volta dele
porque desse modo ele não pode se envolver com o que seu coração
tanto deseja. Entretanto, em uma igreja bíblica, é a pregação do
Evangelho que coloca limites à vida do crente, pois o chama à
santificação. Não somos quem queremos ser, mas quem Deus recria
por meio do novo nascimento. Não temos liberdade para impor a
nossa vontade sobre aquilo que já está revelado.
CONSELHOS AOS
PASTORES
São os pastores os servos designados por Deus para guiar o seu
rebanho (Hb 13:7,17; Ef 4:11). Desse modo, eles são diretamente
responsáveis por muitas das razões aqui estudadas: por criá-las ou
por permitir que elas aconteçam sem qualquer intervenção. São eles,
também, os principais responsáveis por prevenir, avaliar e tratar
quaisquer dos problemas que foram estudados aqui, mesmo que os
responsáveis diretos por esses problemas sejam eles próprios. O
autor de Hebreus nos exorta a obedecermos os nossos guias (gr.
episkopos: líderes, pastores), pois velam pela nossa alma (Hb 13:17).
E se eles não zelam pela nossa alma, mas ao contrário, tiram
proveito dela? Está implícito que esses não merecem a nossa
obediência. O que eles precisam é de disciplina. Então, diante de
tudo que estudamos, ouso aconselhar algumas atitudes importantes
para evitar ou reverter as razões e desculpas que vimos aqui.

1) Façam uma autocrítica. Não é nenhuma novidade que os pastores,


por mais piedosos que possam ser, são seres humanos como
quaisquer outros. Logo, eles devem ser os primeiros a, como líderes,
perguntar sobre a sua responsabilidade diante deste tema: a evasão
nas igrejas cristãs. Para isso, eles devem manter uma visão crítica de
si e do seu ministério, avaliando de maneira proativa as necessidades
daqueles que estão sob a sua guarda, suas crises, seus
questionamentos e suas reivindicações. O pastor precisa ser sensível
à voz do Espírito e da sua comunidade, dialogando com todos os
irmãos, não somente com os líderes, atendendo aos interesses
legítimos da congregação. O termo vigiar (gr. agrupsousin) em
Hebreus 13:17 significa estar vigilante, estar em alerta, vigiar,
cuidar de (cf. Ef 6:18). Essa vigília começa com o cuidado de si
mesmo, das suas fraquezas e limitações (Mt 26:41; 1 Co 16:13; 1 P3
4:7; 5:8). Se o pastor estiver desatento, se não manter os seus olhos
fixos na obra que o Senhor lhe deu, não será capaz de fazer uma
leitura correta dos problemas que surgem, se conseguir identificá-
los. Esse cuidado constante deve torná-lo proativo.

2) Sejam líderes verdadeiros conforme os padrões bíblicos


estipulados para os obreiros na Igreja, servindo com amor e
humildade aos irmãos, sem ser movidos por sórdida ganância (1 Pe
5:1,2; Tt 1:6-11; 1 Tm 3:1-10; At 20:28; Hb 13:17). A liderança na
igreja deve ser teocrática, jamais personalista, muito menos
paternalista. O pastor não deve gerar dependência, mas formar
cristãos livres para servir. O ponto chave de todas as questões que
envolvem a presença do pastor é o seu caráter. A Igreja do Senhor
precisa de homens cheios do Espírito Santo, que inspirem cristãos a
servirem a Deus com alegria, alguém em quem possam confiar e
seguir. Jesus era alguém em quem se podia confiar, pois o seu
caráter era Santo e a sua pregação, coerente com as suas obras.
Mateus registra a impressão da multidão após o Sermão do Monte:
"Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as
multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava
como quem tem autoridade e não como os escribas" (Mt 7:28,29).

3) Atuem como verdadeiros obreiros aprovados no manejo da Bíblia,


alimentando a Igreja apenas com a sã doutrina, o Evangelho da
graça de Deus, sem acréscimos nem distorções (2 Tm 2:15; Rm 1:15;
1 Co 1:23; 9:16,17; 2 Co 4:5; Gl 1:6-9; Ef 3:8; Tt 1:9; 2:1; 3:8). O falso
evangelho atrai os falsos crentes e afasta os crentes genuínos. Se o
próprio líder da igreja não se alimentar da Lei do Senhor, como
espera formar crentes inteligentes e firmes na fé? Após alertar o
jovem pastor Timóteo a respeito dos apóstatas dos últimos dias, o
apóstolo Paulo o exorta sobre a necessidade e o valor de guardar a
boa doutrina e exercitar-se na piedade (1 Tm 4:1-7). Timóteo era um
pastor jovem, que provavelmente sofria por causa disso, mas Paulo o
anima a praticar o dom que lhe fora dado por Deus (vs. 12-14),
ordenando: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua
nestes deveres; porque, fazendo assim, salvará tanto a ti mesmo
como aos teus ouvintes" (v. 16). Se o pastor não cuidar da
integridade do seu caráter e do seu ministério, se não zelar com
fervor pela sã doutrina, verá o que é falso penetrar na igreja e o que
é verdadeiro, abandoná-la. O liberalismo teológico precisa ser
erradicado e a ortodoxia deve permear todo o ensino da Igreja, suas
bases de fé e sua espiritualidade prática.

4) Proporcionem bem-estar aos membros da igreja. O


evangelicalismo tem sido infectado em todas as suas instâncias por
uma teologia humanista, focada no crente, nos seus problemas e nas
suas vitórias. No neopentecostalismo materialista do nosso tempo,
Deus é mero coadjuvante na vida e na fé de muitos crentes. Por outro
lado, peca-se praticando o contrário: deixando de lado as pessoas e
os seus problemas. Eis um paradoxo: cria-se uma teologia
extremamente antropocêntrica, mas negligencia-se o cuidado
pastoral. Essa falta de cuidado também acomete as igrejas históricas
e as independentes: nem sempre o fiel encontra a comunhão e a
fraternidade que a Bíblia ensina. Portanto, é importante criar na
igreja um ambiente hospitaleiro e acolhedor, onde os irmãos se
sintam a vontade e sejam cuidados pela prática do amor e da
misericórdia, sem acepção de pessoas (3 Jo 5-8; 2 Co 7:2,3; Fp 4:13;
1 Pe 4:9; Hb 13:2; Rm 12:1; Tg 2:1-13). Por mais que a nossa busca
seja pela glória de Deus, não é errado nos sentirmos importantes e
amados, percebermos que temos valor não somente para Deus, mas
também para as pessoas. Invistam em uma igreja amorosa e
inclusiva (nos termos que já debatemos).

5) Acima de tudo, zelem pela sã doutrina. Em muitas das razões que


estudamos, percebe-se que a falta de conhecimento da Palavra de
Deus é responsável por muitas evasões. Quanto menos conhecemos
da Bíblia, mais confusos nos tornamos a respeito do que crer e do
que praticar, do certo e do errado, do que é vontade de Deus e do
que não passa de vontade da carne – da nossa e da dos outros.
Pastores comprometidos com o Reino de Deus devem zelar pelas
Escrituras, investindo fortemente no discipulado e no ensino,
educando os irmãos na sã doutrina contra o pecado e as heresias,
para que possam amar e servir a Deus de forma excelente (1 Tm
5:17; 2 Tm 2:2; 3:16,17; 4:1,2; Rm 15:4; Cl 3:16; Mt 28:18-20; At
2:42; Gl 6:6). As grandes crises enfrentadas pelos crentes
geralmente são apenas sintomas da falta de conhecimento. Como
disse o Senhor a respeito de Israel: o povo estava sendo destruído
pela falta de conhecimento (Os 4:6). A instituição havia (a Lei), só
lhes faltava conhecê-la verdadeiramente e colocá-la em prática.
Embora a busca pelo conhecimento de Deus também envolva o
esforço pessoal, a igreja é o local onde o aprendizado deve se dar.
Pastor que não ensina seus fiéis, permite que outros o ensinem: os
teólogos liberais, os fornecedores de fast food teológico da Internet,
a carne, o mundo e o diabo.

6) É importante que se pratique a disciplina bíblica correta, sem


exageros nem concessões; para restauração, não para destruição,
com amor e misericórdia (Hb 10:25; 12:5-11; Mt 18:15-17; 1 Ts 5:14;
1 Tm 5:20; 2 Tm 2:24,25; 1 Co 5:9-13; 2 Ts 3:14,15). Os crentes
precisam de liberdade e de limites, todos aplicados com sabedoria e
integridade, de modo a não haver libertinagem nem rigidez
excessiva. A igreja local é aquele pai que abre seus braços aos filhos
pródigos, jamais os abandona, mas que também os corrige quando
erram. Deus aplica a disciplina aos seus filhos, conforme escreveu o
autor de Hebreus: "Filho meu, não menosprezes a correção que vem
do Senhor, ne desmaies quando por ele és reprovado; porque o
Senhor corrige o que ama, e açoita a todo filho a quem recebe. É
para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que
filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que
todos têm-se tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos"
(Hb 12:6-8). Igreja que não pratica a disciplina está sendo negligente
e demonstra não se importar com a saúde espiritual e o crescimento
dos seus membros. Certas situações vividas por alguns pastores
podem significar a disciplina de Deus sobre eles, não perseguição ou
opressão diabólica.

7) Contra os liberais e os libertinos infiltrados nas igrejas, os


pastores precisam investir numa igreja alicerçada sobre os valores
eternos da Palavra e do Reino de Deus (Mt 6:33; Jo 6:27; Rm 12:1,2;
14:17; Fp 4:8; 1 Co 13; Gl 5:22; 2 Pe 1:5-7). Esses valores não podem
ser relativos, mas absolutos. A ética de Deus leva em conta o seu
caráter justo e santo; ela resiste ao tempo e aos modismos. O pastor
deve encarnar esses valores, vivê-los e ser padrão para toda a igreja.
Paulo exortou Timóteo: “Ninguém despreza a tua mocidade; pelo
contrário, torna-te padrão [modelo] dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Ou seja: o
pastor deve ter uma vida santa, dedicada a Deus e aos fiéis, com um
coração puro e amor verdadeiro. Uma Igreja edificada sobre a rocha
jamais poderá ser abalada! O trânsito entre denominações, o
surgimento de novas igrejas a cada dia e o número crescente de
desigrejados denuncia a libertinagem teológica e comportamental,
que, não em poucos casos, começa na liderança.

8) Saiam de dentro do templo! Invistam no cuidado pastoral e na


evangelização. Estejam próximos dos irmãos, importando-se com eles
de verdade e com suas famílias (3 Jo 2; 1 Tm 3:5; 1 Pe 5:1-4; Tg 1:6-
9; 1 Tm 3:2-7; Fp 2:3). Se o pastor não fizer isso, perderá de vista a
congregação, com seus problemas reais. Não esperem conhecer seus
fiéis somente pelo que eles demonstram ser no culto do domingo à
noite, com suas melhores roupas e um sorriso no rosto para disfarçar
a dor e não demonstrar falta de fé. Quanto maior o número de
membros, maior deverá ser a estrutura para cuidar dessas pessoas,
estar ao lado delas, ensiná-las, fornecer a elas todo o cuidado
pastoral que a Palavra de Deus ensina.

9) Invistam na responsabilidade social para com os membros da


Igreja, socorrendo os necessitados, consolando os aflitos, ajudando
os oprimidos, oferecendo todo apoio na dor, fortalecendo a sua fé e
edificando suas vidas pela prática do amor (Êx 22:21-24; Tg 1:27;
2:26; Rm 15:26-28; 2 Co 8:1-4; 1 Tm 5:4). Lembrem-se: o objetivo
bíblico dos dízimos e das ofertas é ajudar pessoas (Dt 26:12; Ml 3:8-
10; At 20:35; Fp 4:18; At 11:29,30). Nenhuma estrutura física jamais
será tão imponente quanto uma boa estrutura espiritual forjada no
amor. Essa preocupação social também deve se estender ao bairro
onde a igreja está plantada, abençoando a vida dos moradores com a
pregação do Evangelho da salvação e com a prática do amor que
esse Evangelho ensina. A igreja cristã precisa fazer a diferença no
mundo, apresentando-se como missionária da paz, do amor e da
justiça a um mundo em trevas, salgando e iluminando aqueles que,
ao verem as suas boas obras, glorificarão ao Pai que está nos céus
(Mt 5:14-16).

10) Jamais abram mão da centralidade da pregação da Palavra na


vida da igreja. Não a substituam por coisa alguma. A pregação do
Evangelho deve ser a alma da Igreja (2 Tm 3:16,17; 4:2; Mt 10:7; Rm
1:16,17; 10:14-17; 1 Co 1:17-24). Para o dr. Martyn Lloyd-Jones
(2008, P. 34), a pregação da Palavra é a tarefa primordial da Igreja,
algo que somente ela pode fazer. Somente a pregação da Palavra
produz resultados duradouros e permanentes na vida humana (idem,
p. 38). A razão de muitos irmãos mudarem de congregação é porque
aquilo que ouvem e presenciam não faz diferença alguma nas suas
vidas, não produz transformação duradoura. Isso acontece de dois
modos: alguns, por não serem alimentados e instruídos
corretamente, desenvolvem uma fé inconstante e descompromissada,
transitando entre igrejas ou deixando de lado a sua fé. Embora, como
vimos, cada um tem a sua própria responsabilidade pessoal diante de
Deus, é papel da Igreja ser pedagoga e discipuladora. O segundo
modo é aquele em que o crente está sedento de alimento sólido, de
crescimento espiritual e envolvimento ativo na obra do Senhor, mas
percebe que o lugar onde está lhe oferece justamente o contrário, e
então sai. A Palavra precisa ser pregada, como afirmou o apóstolo
Paulo, em tempo e fora de tempo, quer seja oportuno, quer não (2
Tm 2:4,3).

11) Preguem sobre a salvação e enfatizem a necessidade de


conversão. É importante que o pastor da igreja tenha em mente que
nem todos os membros da sua congregação são crentes genuínos.
Alguns nasceram em lar evangélico, mas nunca tiveram um encontro
pessoal com Cristo. Outros se “converteram” pelos motivos errados e
para o objetivo errado. Ainda há aqueles que afirmam ser crentes,
mas que o seu estilo de vida revela totalmente o contrário. A igreja
carece de ensino para a sua edificação e de cuidado social, mas nada
disso pode ser realizado enquanto a pregação evangelística é
negligenciada. Por isso, principalmente nos cultos de domingo
quando o número de presentes costuma ser maior, a mensagem
precisa ser evangelística. Quando o Evangelho é pregado, causa três
tipos de impacto na vida dos ouvintes: (1) confronta o perdido com a
sua pecaminosidade e desperta nele a urgência do arrependimento
para a salvação, movido pelo Espírito Santo; (2) revela os perdidos
que jamais aceitarão a mensagem da cruz, sendo para eles aroma de
perdição ao denunciar a dureza do seu coração; (3) e edifica o crente
genuíno, alegra o seu coração pela salvação já alcançada e o motiva
a servir sempre mais e melhor a Deus, inclusive ao evangelizar
aqueles que ainda não creem. Portanto, a mensagem evangelística
sempre irá surtir efeitos positivos na igreja, mesmo que seja
afastamento os falsos irmãos.

12) Por fim, combatam os falsos ensinos e os falsos mestres (Jd


3,4; Dt 18:20-22; Mt 7:15-20; 1 Ts 5:20,21; Rm 16:17,18; 1 Tm 6:3-5;
1 Jo 4:1; Mc 13:22,23; 2 Pe 2:1-3). A prática incorreta geralmente
está ligada a doutrina incorreta. A permissividade quanto a
pregadores despreparados e a música gospel de caráter duvidoso
ajudam a disseminar o erro. Se o líder da igreja não batalhar pela sã
doutrina, como espera que os fiéis creiam da maneira correta e
pratiquem o que é certo? Aqui está implícito que é desejo do leitor
primar pela sã doutrina e ajudar a sua igreja a crescer na graça e no
conhecimento de Deus. Na conclusão da sua segunda epistola, o
apóstolo Pedro faz referência a alguns indivíduos que estavam
distorcendo os escritos de Paulo e as demais Escrituras, para a
própria destruição deles (2 Pe 3:14-16). A exortação é que devemos
nos acautelar, porque hoje a prática não é diferente, muito pelo
contrário. Aqueles que são arrastados pelo erro desses
insubordinados, escreve Pedro, acabam decaindo da sua própria
firmeza (v. 17), motivo pelo qual devemos crescer na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (v. 18). A
respeito dos pastores – líderes do rebanho que o Senhor lhes confiou
–, ou eles estão do lado daqueles que pervertem o Evangelho ou
daqueles que o defendem. Não existe um lado neutro. De que lado
você está?
RESPONDENDO AOS
DESIGREJADOS
A quantidade de pessoas que frequentam a igreja institucional e
organizada é maciçamente maior do que aquelas que saem da
instituição pelos motivos geralmente apresentados pelos que se
intitulam “igreja orgânica”, “igreja simples”, “os sem-igreja” ou
“desigrejados”. Mesmo com todos os problemas que as instituições
religiosas cristãs apresentam – a grande maioria apresentada neste
estudo – os crentes verdadeiros e comprometidos com o Reino de
Deus não a abandonam, porque reconhecem a sua importância para
a cristandade e para o mundo. Ao se depararem com situações muito
complicadas que tornam insustentável a permanência numa
denominação, os crentes buscam a orientação de Deus para
frequentarem uma igreja bíblica. Não podemos construir a nossa
vida sob a base arenosa da exceção, mas é preciso investir na regra,
por mais que seja difícil adequar-se a ela. Os desigrejados não são a
regra, mas a exceção, que só crescerá se os cristãos sinceros
deixarem de lado as Sagradas Escrituras, desistirem de si mesmos e
de batalhar pela fé evangélica, pelo bem-estar da igreja espiritual e
institucional. Para alguns poucos, é mais fácil abandonar o barco.
Qualquer líder do movimento dos desigrejados se apressa em
nos lembrar de algo que, no fundo, é verdade: ninguém que tenha se
convertido a Cristo pela fé, tornando-se membro do seu corpo, que é
a Igreja, pode deixar de fazer parte da Igreja. Mesmo sem congregar
por alguma razão ou até mesmo desviado por algum tempo, o crente
jamais deixa de ser uma parte do Corpo de Cristo, porque é selado
pelo Espírito Santo. Ele é um ramo enxertado na videira pela fé,
porque Deus o quis e o fez (Rm 11:17-20). O que os desigrejados se
consideram, na verdade, é "desinstitucionalizados". O seu objetivo é
eliminar o tripé "templo-dinheiro-hierarquia", reunindo-se para a
comunhão e a caridade. Ainda que em sua grande maioria esses
crentes sejam oriundos de igrejas evangélicas, eles não se
consideram evangélicos no sentido de um movimento religioso
protestante distinto do catolicismo romano. Por evangélicos eles
entendem a sua relação com o Evangelho de Cristo, o que também é
verdade para nós. O evangelicalismo é um tipo de seguimento dentro
da religião cristã, e que comporta muitos erros.
Este capítulo pretende dar uma resposta ao movimento dos
desigrejados, com todas as suas teorias a respeito do que é certo ou
errado na prática cristã referente ao “ser igreja”. Para eles, em
resumo, absolutamente todas as denominações cristãs estão
equivocadas em sua teologia e prática eclesiásticas. Segundo o seu
entender, o cristão iluminado por Deus abandona a igreja
institucionalizada, por entendê-la como falsa e nociva à fé cristã e
inútil para o Reino de Deus e o mundo. Não existe outra forma de
revolução para a cristandade que o abandono das igrejas
organizadas, com todo o seu credo, o seu clero e as suas práticas
espiritualísticas. Aquele que permanece atrelado a uma confissão
denominacional, está espiritualmente cego e precisa se libertar. Se
libertar para quê? Para prender-se a uma nova e “revolucionária”
visão, a dos desigrejados? É realmente este o caminho que devemos
escolher?
Desejo aqui refutar alguns argumentos desse movimento.
Começarei pela descrição do que vem a ser a igreja orgânica,
apresentada no blog
www.igrejasimplesorganicanoslares.blogspot.com (pontos 1 a 9).
Depois, passarei para o que é descrito como "as diferenças entre
uma expressão orgânica de igreja e uma forma organizada (ou
institucional) de igreja", também no mesmo site. Esses textos,
segundo informa o site, foram extraídos e adaptados do artigo
“Organizational vs. Organic” (por Frank Viola) na Revista Neue,
Novembro 2009 (pontos 10 a 24). Conforme veremos, existe não
somente uma generalização quanto à natureza das igrejas
evangélicas, seu modo de agir e seu governo, como também um
preconceito contra as instituições legítimas, além de incoerências em
suas proposições, distorções teológicas e ausência de argumentos
teológicos convincentes5.

1. Entende-se a si mesma como um organismo vivo, espiritual.

Os desigrejados rejeitam qualquer ideia de uma igreja


institucionalizada, com credos, liturgias, templos, ofertas, regras e
clero. Eles apregoam que o modelo de igreja praticado há séculos
pelo catolicismo romano e as igrejas protestantes está errado e
contraria tudo aquilo que a Bíblia ensina. Eles rejeitam normas e
padrões, apelando para o livre pensamento teológico, longe das
amarras da instituição, do seu ensino dogmático e da influência de
teólogos que pretendem fechar a mente dos crentes por meio das
suas sistematizações teológicas. Para revolucionar o cristianismo e
restaurar a Igreja de Cristo o modelo proposto por Jesus e pelos
apóstolos, eles criam as suas próprias doutrinas, os seus dogmas e
axiomas. Para afirmar que todas as igrejas organizadas estão
equivocadas, eles se colocam como os únicos certos, a "igreja raiz",
que segue o padrão da Igreja primitiva. Enfatizam que o local correto
de reunião da Igreja é nos lares ou em qualquer outro lugar que não
seja um templo. Insistem que não existem ministros ordenados nem
liturgia. Afirmam que as reuniões dos crentes são para adoração,
comunhão e caridade. Não seriam essas coisas dogmas? A partir do

5 Aqui apresentarei apenas algumas das refutações que se encontram no livro


original, que consta de 24 refutações bem fundamentadas ao movimento dos
desigrejados.
momento que se declara "A igreja deve ser dessa maneira e agir
dessa forma" não se está criando uma fórmula fechada de prática
espiritual? Logo, eles desprezam um modelo para criar outro. E o
padrão formulado por eles é que tem que está certo! Todos os outros
são heresias e merecem o inferno.
Se Jesus não deixou nenhuma igreja institucionalizada, também
não deixou nenhum padrão oficial de reunião a ser seguido pelos
membros da Igreja. Ele não disse que deveríamos nos reunir nos
templos, mas também não ordenou que a Igreja se reunisse nos
lares. Ele não deixou nenhuma organização quanto ao que deveria
ser feito nas reuniões da Igreja, que esta deveria cantar hinos,
praticar a caridade, ler a Bíblia ou qualquer outra coisa. Então não
temos um modelo preestabelecido. As reuniões da Igreja foram
tomando forma e conteúdo a partir da experiência dos primeiros
cristãos, contando com a atuação apostólica ao reunir e organizar o
povo que se convertia. Havia apenas as ordenanças dadas pelo
Senhor Jesus: evangelização, batismo e ceia. Outros elementos foram
sendo acrescentados e estão descritos no livro dos atos dos apóstolos
e nas cartas e epístolas, como, por exemplo, a mesa diaconal e a
coleta de ofertas. Jesus também não instituiu nenhum credo oficial,
descrevendo em seus pormenores em que deveríamos crer. Algo
como: "Vós crereis assim: cremos em um único Deus Pai Todo-
poderoso, criador dos céus e da terra...". Entretanto, toda a Bíblia
nos serve como credo: o Antigo Testamento, os Evangelhos, os
escritos apostólicos e o Apocalipse. Assim como podemos observar
diluído em todos os textos neotestamentários que os apóstolos e toda
Igreja (e as igrejas) possuíam um credo oficial, também podemos
afirmar o nosso credo com base no estudo da Bíblia. O que os Pais da
Igreja e os estudiosos fizeram foi organizar e sistematizar aquilo que
já estava bastante explícito nas páginas dos livros canônicos.
Os desigrejados devem à igreja institucionalizada, aos seus
clérigos e a diversos sínodos e concílios realizados ao longo da
História da Igreja a maneira como creem hoje. O que cremos com
relação à Trindade, à divindade de Cristo, ao plano de salvação de
Deus e até mesmo à natureza da Igreja são frutos da luta dos Pais da
Igreja, de religiosos e teólogos que, guiados pelo Espírito Santo,
levantaram-se contra inúmeras heresias que surgiram ao longo do
século, tentando perverter a fé cristã. Não pensamos como os
judaizantes, o gnosticismo, os montanismo, os sabelianismo, o
arianismo, o pelagianismo e tantos outros movimentos heréticos,
porque a Igreja se organizou contra seus ensinos, decretando, por
meio de documentos oficiais a serem seguidos por toda a
cristandade, o conteúdo da fé que temos hoje. É claro que, conforme
a Igreja foi-se distanciando da Palavra de Deus, os concílios deixaram
de ser um instrumento divino para serem usados para o
estabelecimento de uma fé católica-romana, surgindo daí a doutrina
da primazia de Pedro, da infalibilidade papal, da maternidade divina
de Maria e do purgatório, por exemplo. Mas a herança deixada pelos
Pais da Igreja e os primeiros defensores da fé cristã é inegável.
Vejamos como o credo niceno-constantinopolitano, realizado em 325
d.C. e 381 d.C., também inserido no concílio de Calcedônia (451
d.C.), traduz a forma como a Igreja crê atualmente (SKRZYPCZAK,
2000, p. 54)6:

Cremos em um só Deus, Pai Todo-poderoso, criador do céu e


da terra e de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai
antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado,
consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E
por nós homens e para a nossa salvação desceu dos céus, se
encarnou por obra do Espírito Santo no seio de Maria
Virgem, se fez homem. Também foi crucificado por nós sob
Pôncio Pilatos, padeceu, foi sepultado, ressuscitou ao
terceiro dia conforme as Escrituras; e subiu aos céus, onde
está sentado à direita do Pai e de novo há de vir em sua
glória para julgar os vivos e os mortos e seu reino não terá
fim. E (cremos) no Espírito Santo, Senhor que dá vida, e
procede do Pai, e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado, Ele que falou pelos profetas. (Cremos) na Igreja
uma, santa, católica e apostólica. Professamos um só
batismo para a remissão dos pecados e esperamos a
ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.
Amém.

A igreja institucional e organizada também se considera um


organismo vivo (além de possuir a figura de um corpo, ela é
composta por pessoas) e espiritual (a igreja cristã é a unidade de
todos os salvos, de todas as partes e de todas as épocas). Um cristão
conhecedor da Palavra de Deus não acredita que a instituição, a
organização e a estrutura física e eclesiástica sejam a igreja. Todas
essas coisas são apenas meios que cumprem um propósito, mas não
são o fim, não são a Igreja; elas estão à serviço da Igreja. como já
vimos, os crentes é que são a Igreja, mas utilizam de toda a
organização da instituição em favor de si mesmos e do Reino de
Deus. Já comentamos sobre o erro de muitos crentes
supervalorizarem a estrutura e a liturgia. Entretanto, não
embasamos o nosso pensamento e a nossa prática em exceções, mas
na regra bíblica. Não se pode julgar e condenar toda uma estrutura
pelos pensamentos e ações equivocados de algumas pessoas.

6 Entenda-se “católica” por “universal”. Com relação ao batismo, as igrejas reformadas não
creem que ele seja necessário à salvação, mas que pela fé somos justificados por Deus dos
nossos pecados e batizados em Cristo (Gl 3:26,27; Rm 6:3,4; 1 Co 12:13; 1 Pe 3:21). Somos
“apostólicos”, uma vez que a Igreja está firmada sobre a doutrina dos apóstolos, que é a
doutrina de Cristo como fundamento da Igreja, portanto, estamos edificados sobre Cristo (Ef
2:19-21). Os cristãos oriundos da Reforma Protestante são católicos (universais), mas não são
romanos, são celestiais (Fp 3:20,21).
2. Não é fundada por homens, mas, como todo organismo vivo, nasce
(de Deus).

Essa declaração subentende que as igrejas evangélicas


institucionais não nasceram de Deus, mas dos homens. Por mais que
alguém tenha dado início a uma denominação, esta, quando em
conformidade com os princípios bíblicos, é uma igreja fundada por
Deus, uma reunião de membros do Corpo de Cristo, que nasceram de
novo. Muitas se originaram nos lares e em outros ambientes, até
finalmente alcançarem uma estrutura organizada e institucional. A
igreja orgânica também nasce a partir da motivação de um ou mais
indivíduos de saírem da igreja institucional. Eles também dão início a
um grupo de pessoas fora das denominações. Com ou sem CNPJ ou
placa, esse grupo tem, sim, data de origem e os responsáveis por
originá-lo. Alguém tomou a decisão de abrir as portas da sua casa
para outros que compactuam com a sua maneira de pensar e de crer.
Passaram a influenciar outras pessoas, a evangelizá-las e a doutriná-
las segundo o pensamento da igreja orgânica. Talvez não tenham
marcado a data em uma agenda ao lado do seu nome, mas com
certeza não foi um anjo vindo do céu que deu início a esta ou aquela
reunião de irmãos nos lares. Este é o caso da comunidade idealizada,
organizada, fundada, administrada e mentoreada pelo Sr. Caio Fábio
D'Araujo Filho, como veremos mais adiante. Ela é inegavelmente
fruto do pensamento de um homem.
A visão dos desigrejados a respeito das igrejas evangélicas é a
mesma do catolicismo romano: só existe uma única Igreja de Cristo,
todo o resto são seitas ou "irmãos separados". Assistindo a alguns
vídeos dos principais nomes brasileiros do movimento dos
desigrejados, como Sr. Caio Fábio, percebemos a arrogância, o
preconceito, a ironia e a prepotência como eles se dirigem às igrejas
evangélicas e àqueles que ainda não receberam a iluminação divina e
por isso continuam perdendo o seu tempo num sistema mentiroso de
igreja institucionalizada. Eles são a nova era do Cristianismo, o
retorno à verdade, o concerto de Deus para o seu povo, enquanto os
demais estão afundados nas mais densas trevas, na "religião do
diabo". Presumimos que no céu só haverá uma classe de crentes: os
desigrejados. Instaurou-se um novo tribunal inquisitorial, em que os
membros das igrejas institucionalizas são queimados na fogueira
ideológica (jamais teológica) da igreja orgânica. Assim como
acontece com muitos artistas do mundo gospel, outros indivíduos
(pastores, pregadores, etc.) também abandonam a igreja e a criticam
porque se sentiram incompreendidos e cobrados demais, e isso
sempre envolve questões morais (prática de uma vida cristã
incoerente com o Evangelho) e teológicas (louvores e ensinos
incoerentes com a ortodoxia bíblica).
O primeiro alvo dos liberais e dos libertinos são os teólogos.
Tão logo um teólogo entre em cena para refutar doutrinas,
comportamentos, movimentos e até mesmo o conteúdo da música
gospel, mentes revoltadas despertam, taxando-o de fundamentalista
chato e reacionário. Os desigrejados desprezam quase dois mil anos
de produção teológica, incluindo os pais da Igreja, Agostinho, Lutero,
Calvino, só para citar os defensores das doutrinas basilares da fé
cristã, acima de tudo a reformada. A razão é óbvia: nenhum desses
grandes homens de Deus jamais se levantou contra a Igreja
organizada, jamais criou uma eclesiologia do estilo que os
desigrejados defendem. Quem fez isso foram os hereges, como
vemos no livro do pastor Idauro Campos (op. cit.). Séculos de
estudos exaustivos da Bíblia e da história da Igreja são desprezados
como algo inútil e que serviu apenas aos interesses da instituição e
seus dominadores. O movimento dos desigrejados nada mais é que a
repetição das velhas heresias, com uma roupagem de século XXI.
Como o pastor Idauro Campos enfatizou em seu livro, homens e
movimentos anteriores já tentaram perverter a Igreja, condenando-a
e afastando-se dela. Como as portas do inferno jamais prevalecerão
contra a Igreja do Senhor Jesus, tanto o Corpo espiritual de Cristo
quanto as igrejas locais e suas congregações permanecem de pé.

3. Não é uma pessoa jurídica. Não é uma organização (embora não


seja desorganizada).

De fato, a igreja orgânica possui uma organização. Não há


como fugir do fato que, reunidos em torno de uma mesma fé e num
mesmo espaço, somos uma corporação, uma organização religiosa, o
que não se configura pecado algum ou qualquer atentado contra
Deus e a sua Palavra. Se não houver algum tipo de organização, é
impossível ser igreja, porque desde as assembleias do Antigo
Testamento, Deus sempre procurou organizar o seu povo com
estatutos e regras que devem ser observados por todos aqueles que
fazem parte da assembleia. O Pentateuco contém toda a Lei do
Senhor dada a Moisés e ao povo de Israel. São leis espirituais,
morais e civis que deveriam ser obedecidas, estatutos que o povo de
Deus precisava observar. Em 1 Reis 2:3, o Senhor declarou: "Guarda
os preceitos do Senhor, teu Deus, para andares nos seus caminhos,
para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus
juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés,
para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que
fores" (cf. Lv 18:5; 19:37; Nm 9:3; Dt 4:1-8; 2 Sm 22:23; 1 Rs 11:38;
1 Cr 22:13; 2 Cr 34:31; Ed 7:10; Ne 1:7; Is 24:5; Jr 44:10; Ez 20:13;
Am 2:4; Zc 1:6; Ml 4:4). Na Lei de Moisés havia inúmeras regras que
organizavam a vida religiosa do povo, incluindo rituais, sacrifícios, os
objetos utilizados no Templo e diversas festas. Deus sempre foi
ordeiro.
No Novo Testamento, todos esses estatutos foram cravados na
cruz, dando-nos livre acesso à presença de Deus pelo novo e vivo
caminho, o sangue de Jesus (Hb 10:19-23). Todavia, isso não nos
isentou de organizarmos o nosso serviço e a nossa adoração. Todas
as epístolas e cartas do Novo Testamento são, na verdade, o reflexo
de uma Igreja organizada e ordeira. Um dos maiores e exemplos
disso são as cartas de Paulo aos Coríntios, que visam normatizar não
somente a vida espiritual daqueles irmãos, mas também o culto
público, as suas reuniões Ágape. Paulo afirma expressamente que
tudo deve ser feito com decência e ordem (1 Co 14:40). Portanto, a
Igreja institucional possui toda uma organização que a sustenta e a
faz funcionar de maneira correta, ordeira e sadia. Da mesma forma, a
igreja orgânica tende a se organizar. Por mais informal que seja uma
igreja nos lares, ela jamais poderá fugir da necessidade de ser
organizada, de ter tempo determinado para cada coisa, pessoas
responsáveis por determinadas tarefas, uma agenda de encontros e
programações, como batismos, a ceia do Senhor e ações sociais. Qual
a diferença da igreja institucionaliza?
Nenhuma Igreja é uma pessoa jurídica ou uma organização
como uma ONG, uma empresa ou alguma agremiação. Essa é uma
visão preconceituosa e distorcida. Tornar-se uma pessoa jurídica,
possuir estatuto e regimento interno é uma exigência jurídica para
que uma igreja possa existir legalmente. Vale salientar: a igreja já
existe enquanto grupo de cristãos organizados e congregados e como
Corpo de Cristo. Todavia, as leis do nosso país exigem que as igrejas
tenham personalidade jurídica, com Estatuto registrado em cartório
e registro em Ata, além da Assembleia ordinária e extraordinária
(veja Código Civil, leis 10.406/2002, 10.825/2006 e 11.127/2005).
Qualquer igreja que não possua todos esses quesitos é considerada
ilegal. A igreja também não está isenta de pagar tributos ao Estado.
Ou seja: todas essas coisas são formalidades legais que nós, na
qualidade de servos de Deus, devemos obedecer. Não existe
dificuldade alguma nisso. As igrejas nos lares desprezam tudo isso,
como se fosse algum pecado ou se pelo fato de ter um CNPJ
descaracteriza alguma Igreja como genuinamente cristã.

4. A igreja orgânica é composta simplesmente de crentes que amam


a Deus e resolvem caminhar juntos, compartilhando a vida,
edificando-se e servindo-se mutuamente.

Quando falam de si mesmos, os desigrejados parecem


desprezar completamente o chamado, a motivação e a
espiritualidade de todos os outros cristãos, aqueles que ainda
insistem no modelo templo-liturgia-clero, que eles desejam que seja
exterminado. Entretanto, a descrição acima pertence a qualquer
igreja institucional e organizada que pregue e viva a Palavra de
Deus. Todos os crentes genuínos (convertidos pelo Espírito Santo)
amam a Deus e estão reunidos como igreja (e na igreja) para
servirem juntos a Deus e edificarem-se mutuamente. Toda a
estrutura da igreja existe e coopera para esse fim, conforme vimos
ao aprendermos sobre o propósito e a importância da igreja local. Os
desigrejados se baseiam na sua própria experiência de vida e no
péssimo testemunho de algumas denominações para determinar que
essas coisas não são possíveis na igreja institucionalizada, ou que
esta, na verdade, presta um desserviço ao Evangelho, o que é
mentira.
A Igreja, com todos os seus dons e ministérios, trabalha para o
serviço de Deus e o aperfeiçoamento dos santos. Os cultos, o ensino,
a visitação nos lares, o evangelismo, a ação social, o treinamento e a
capacitação dos obreiros, a disciplina, a prática das ordenanças e o
correto emprego dos dízimos e das ofertas também contribuem para
isso. Toda a estrutura ministerial visa trabalhar grupos específicos
na congregação (crianças, jovens, casais, etc.). Algumas igrejas
pecam em não oferecerem aos seus membros o cuidado necessário.
Algumas tratam de fato a igreja como uma mera organização que
possui um caráter estritamente religioso, ritualístico e litúrgico. A
sua obrigação é oferecer a estrutura, o direito das pessoas é fazer
uso dela. Há muitos eventos e pouco envolvimento pessoal e afetivo.
As igrejas ligadas à Teologia da Prosperidade são exemplos de
organizações pseudocristãs que possuem pouca ou nenhuma
preocupação com a vida pessoal dos seus membros. O seu objetivo é
pregar o que eles esperam ouvir e obter lucro à custa da sua fé.
Nada disso, porém, é a regra, mas exceções. Não se deve julgar
todas as igrejas evangélicas com base nessas exceções.
Por mais que os grandes teóricos dos desigrejados insistam em
afirmar que esse movimento se desenvolve e cresce a partir da
compreensão que inúmeros irmãos estão alcançando dos rumos
destrutivos que a igreja tomou desde que se tornou uma instituição
pelas mãos do imperador romano, Constantino, o que se pode ver é
que ele tem como ponto de partida a insatisfação e a decepção. A sua
insatisfação está ligada aos rumos que o movimento evangélico tem
tomado ao longo dos anos, acima de tudo após a chamada "quarta
onda", simbolizada pelo neopentecostalismo, muito embora eles
retrocedam ao período de Constantino para firmar suas teorias. Eles
estão insatisfeitos com a organização, a liderança, a teologia, o
ensino, a liturgia, o templo, o louvor, enfim: com absolutamente tudo.
Nada está como eles gostariam que estivesse. Os crentes são uns
hipócritas, marionetes nas mãos da instituição e a serviço dela. A
saída que encontraram foi sair, abandonar a estrutura, as pessoas e
os problemas para pregar uma forma revolucionária de ser cristão,
puxando atrás de si outros que também não estão dispostos a se
submeter a uma igreja organizada e sua liderança.
Quer reconheçam ou não, o movimento dos desigrejados não é
composto somente por cristãos que alcançaram um alto grau de
iluminação espiritual e que, por isso, desconectaram-se da igreja
institucionalizada para se reunirem nos lares. Ali estão muitos
crentes decepcionados com a igreja organizada, não porque
entenderam que a sua existência é um equívoco teológico histórico,
mas porque se frustraram com irmãos, líderes e situações pontuais.
Essa decepção também está ligada a orações não atendidas,
profecias não realizadas, bênçãos e vitórias prometidas que não
foram entregues, curas que não aconteceram, milagres que não se
concretizaram, dízimos e ofertas que não retornaram dez vezes mais
aos seus bolsos. Então, a igreja orgânica não é composta
simplesmente de crentes que amam a Deus e resolvem caminhar
juntos, isso é mentira. Ali há pessoas, inclusive, que saíram das suas
denominações por causa de pecados que não queriam abandonar.
Não podemos esquecer, porém, daqueles cujo primeiro contato com
uma igreja cristã é através da igreja nos lares; ali se converteram e
ali foram doutrinados naquele formato e contra a igreja organizada.
Também devemos levar em conta outras pessoas que estavam em
busca de uma igreja para frequentar e conheceram alguém que os
levou a esse movimento.
Talvez em seu novo núcleo eclesial, estas pessoas finalmente
aprendam a compartilhar a vida, edificando-se e servindo-se
mutuamente. Partilha, edificação e serviço mútuo geralmente não
estão na lista dos temas preferidos das pregações das igrejas
neopentecostais. Se a decepção as levou até ali, dali sairão em breve,
assim que perceberem que os seus interesses pessoais e mesquinhos
continuarão sem ser supridos. Não podemos, claro, generalizar.
Existe aquela decepção com motivação correta, fruto do descaso de
muitas igrejas com seus membros, de maus tratos, de pecados
praticados contra os fiéis. Pode ser que na igreja orgânica esses
irmãos encontrem o que encontrariam em qualquer igreja
organizada bíblica e saudável. A questão-chave é: não é preciso
evadir-se da igreja institucionalizada, porque o problema não está na
instituição, mas nas pessoas que se utilizam dela de maneira leviana.
Como vimos em muitas das razões que estudamos, existem formas
bíblicas de resolver essas questões.

5. Elas se reúnem principalmente nos lares dos seus membros.

O autor prossegue, afirmando que existe um local principal de


reunião. Ou seja: o local (espaço geográfico, estrutura física,
ambiente) existe. Os desigrejados se reúnem como igreja em
qualquer lugar onde porventura se encontrem, mas principalmente
nos lares. Não existe problema algum para a igreja se reunir nos
lares. Muitas das igrejas que encontramos descritas no Novo
Testamento se reuniam assim, muito embora não por uma
compreensão teológica, mas por questões históricas e circunstanciais
próprias do século I: a perseguição dos judeus e dos imperadores
romanos, o que tornava inviável a construção de templos. Antes da
sua conversão, o apóstolo Paulo era um daqueles que, sabendo que
tal pessoa seguia a Cristo, arrastava-a de sua casa (At 8:3). Lucas
relata a respeito de Saulo e sua sede de erradicação da nova fé: "e
lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso
achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres,
os levasse presos para Jerusalém" (At 9:2). O contexto a partir da
oficialização da Igreja no Império Romano passou a ser diferente e
favorável aos cristãos, criando uma abertura para a construção de
locais de cultos regulares, o que jamais representou problema algum
para o Cristianismo, com exceções.
O problema dos desigrejados ao renegar totalmente a reunião
da igreja em templos está em afirmar que o seu tipo de reunião é a
única forma correta de congregar o povo de Deus (exclusivismo). O
que os desigrejados fazem é trocar uma estrutura pela outra, uma
mais conveniente, afinal de contas, "na minha casa mando eu". Na
verdade, não existe ensino ou mandamento dado por Jesus ou pelos
apóstolos sobre o local correto de reunião da igreja. Não existe
nenhum mandamento contra se reunir no templo nem construí-lo.
Jesus profetizou sobre a destruição do templo em Jerusalém (Lc
21:6), o que de fato aconteceu em 70 d.C., mas fez uso do templo e
das sinagogas para ensinar, orar, curar e até mesmo passear (cf. Mt
12:9; 13:54; 21:12-15,23; 24:1; Mc 1:21-29; 3:1; 5:22-38; 6:2; 11:11-
16,27; 12:35; 14:49; Lc 2:46; 4:16-28,33-38; 6:6; 19:45-47; 20:1;
21:37; 22:53; Jo 2:14,15; 5:14; 6:59; 7:14; 8:2,20,59; 10:23; 18:20).
Seguindo o exemplo e o modus operandi de Jesus, os apóstolos
jamais deixaram de usar o templo e as sinagogas pelos mesmos
motivos, até que as duras perseguições os impediram de fazê-lo (cf.
At 2:46; 3:1-10; 4:1; 5:20,21,42; 13:14,15; 14:1; 17:1,10;
18:4,7,19,26; 19:8; 21:26-30; 22:17; 24:18; 26:21). Atos 5:42 nos
revela que os apóstolos faziam uso tanto do templo quanto das casas:
"E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de
ensinar e de pregar Jesus, o Cristo".
As três únicas orientações seguras sobre "local de reunião" da
igreja que temos são:

1) Onde dois ou mais se reunirem em Nome de Jesus, ali Ele estará


no meio deles, o que demonstra o caráter comunitário da Igreja (Mt
18:20). “Onde” indica um local sem especificá-lo. O texto bíblico
citado encontra-se num contexto de disciplina aplicada pela igreja
organizada (vs. 15-19), o que envolve a exclusão daqueles membros
que estão vivendo em pecado e não querem se arrepender para
modificar seu comportamento. Como líderes da Igreja, os apóstolos
tinham a autoridade para ligar e desligar, obedecendo à autoridade
dada por Jesus e padrões divinos de disciplina (Mt 18:18). Esta
jamais poderá ser exercida por vingança ou qualquer outra
motivação escusa.

2) O local é o que menos importa, mas a verdade contida na


adoração do crente. Foi isso que o Senhor ensinou à mulher
samaritana, que o questionou sobre o verdadeiro local da adoração
(Jo 4:20-24): o monte onde os samaritanos adoravam ou em
Jerusalém? Jesus, então, lhe mostrou que a verdadeira adoração
quebra todas as barreiras geográficas e étnicas: ela acontece dentro
do crente, onde quer que ele esteja, seja no monte ou no templo.
Podemos adorar falsamente a Deus na igreja institucional ou na
orgânica.

3) Se no templo, nos lares, nas catacumbas ou qualquer outro


espaço, não importa, o importante é não deixarmos de congregar (Hb
10:25). Então, por que não em um templo ou qualquer tipo de
estrutura que comporte alguns membros da igreja com conforto e
organização? Pela aversão a CNPJ e razão social? Pessoalmente, não
tenho informações se, assim como os cristãos do século I, os
desigrejados também costumam se reunir nos mausoléus dos
cemitérios. Talvez sim, já que a forma de cultuar a Deus dos
primeiros cristãos lhe serve como referência única de como a
cristandade deve proceder. Os cemitérios devem ser locais de
reunião do povo de Deus.

Em alguns pontos, a igreja orgânica assemelha-se a uma seita,


acima de tudo por insistir que a sua forma de reunião e prática da fé
é a única bíblica, e que as demais formas de reunião e culto a Deus
estão equivocadas. Quando os Adventistas do sétimo dia sugerem
que somente quem guarda o sábado será salvo e que as igrejas que
não ensinam a guarda do sábado não são igrejas cristãs genuínas,
eles se colocam como única igreja correta e condenam todos os
outros crentes ao inferno. De igual modo, a igreja católica apregoa
que "fora da igreja católica não há salvação", a despeito dos seus
discursos ecumênicos, como atesta o Concílio Vaticano II ( Lumen
Gentium, n. 38). A igreja orgânica prega algo parecido: eles
alcançaram uma iluminação divina para voltar à prática da igreja
primitiva de se reunir somente nos lares; os demais crentes ainda
estão em trevas e precisam também ser iluminados. Mas será que
somente se reunir nos lares e praticar a caridade eram as práticas da
igreja primitiva? Está escrito na Bíblia que é isso que nos caracteriza
como cristãos e como igreja? Com certeza não.

6. Nas igrejas orgânicas, não há estatuto; as regras são as da própria


Bíblia.

Existe aqui, talvez, certa confusão entre bases de fé – algo


totalmente baseado na Bíblia, comum a todas as igrejas cristãs – e
estatuto. Como organização civil, toda igreja institucionalizada, por
obediência às leis do nosso país, tem por obrigação possuir um
estatuto. A igreja evangélica só passa a existir legalmente a partir do
seu ato constitutivo, com registro do Estatuto Social em um Cartório
Civil de Registro de Pessoas Jurídicas, com a obtenção do seu CNPJ
junto à Receita Federal. O site guiame.com.br, citando explicação do
Dr. Odilon Marques Pereira, graduado em Teologia e Direito,
especialista em Direito e Processo Civil  e Direito Tributário pelo
IBET, advogado em Londrina/PR e Presbítero da Igreja Presbiteriana
Independente, descreve:

Estatuto é o documento formal que devidamente


registrado determina o começo da existência legal
das organizações religiosas e instituições em
geral, possibilitando às igrejas a proteção
constitucional da liberdade de crença e culto e, de
igual forma às instituições filantrópicas, que
usufruam da imunidade tributária. Através do
Estatuto a natureza jurídica das instituições é
revelada, mormente se organização religiosa,
filantrópica ou empresarial, retratando a forma de
governo e organização.

Precisamos nos apressar em corrigir um equívoco no


entendimento do leitor. Quando se diz que a igreja "passa a existir" a
partir do ato constitutivo com o registro do seu estatuto, está-se
referindo ao nascimento de determinada igreja local segundo os
ditames da lei. Entretanto, as pessoas ali reunidas já são membros do
Corpo de Cristo e formam uma igreja local. Com ou sem estatuto, ali
há uma igreja. Ela não precisa de um documento para vir a existir,
mas porque a lei assim o determinada para registro oficial perante a
sociedade organizada. Tal registro só traz benefícios para a igreja
local, como explicado pelo Dr. Odilon Marques Pereira. Sem o seu
estatuto, a igreja infringe a lei e abre mão das benesses que esse
registro pode lhe proporcionar, o que inclui respaldo jurídico para
suas atividades e seus membros. É uma formalidade que não
contraria as Escrituras nem se demonstra nenhum pecado. Ao abrir
mão da institucionalização, as igrejas nos lares vivem na
informalidade, sem respaldo jurídico. Seus membros registram suas
empresas, seus empregados, suas posses e requerem seus direitos.
Por que não fazem o mesmo com o seu movimento?
Com relação às bases de fé, as igrejas evangélicas no geral e
acima de tudo as igrejas reformadas possuem credos validados e
aceitos pela comunidade eclesial. Como vimos, as igrejas cristãs
evangélicas genuínas possuem como base teológica os cinco Solas da
Reforma Protestante, construindo a partir daí as suas bases de fé. E
todas elas são balizadas pela Bíblia, com algumas pequenas
diferenças que em nada ferem a fé salvífica. Os desigrejados afirmam
não possuir essas bases de fé, mas as suas regras são totalmente
baseadas na Bíblia. Tais regras provavelmente incluem o que
chamamos de Regimento Interno da igreja, que regula o
comportamento dos membros, incluindo seus direitos e deveres. Na
maioria das igrejas, claro, esse regulamento segue as orientações
bíblicas, podendo haver variações quanto ao sistema de governo,
usos e costumes, aplicação da disciplina e outros detalhes que levam
em conta o contexto histórico, cultural e geográfico de cada igreja
local. Existem os exageros e as distorções, mas são exceções e, como
dissemos, não devemos nos basear em exceções, mas na regra, na
maneira correta de se fazer as coisas.
Se na igreja orgânica não existem estatutos, regimentos e
bases de fé descritas e conhecidas de todos os seus membros, quem
determina o que é verdade e o que é mentira? Cada membro da
igreja orgânica pode crer no que bem entender ou existe um
conjunto de verdades que devem ser cridas de igual modo por todos?
Como lidam com temas como livre arbítrio, predestinação, a
Trindade, a salvação e as últimas coisas? Se cada um pode trazer a
sua própria crença (baseados na Bíblia), como lidar com temas
conflitantes? Um quer ser membro da igreja orgânica e crê que a
Bíblia não é a Palavra de Deus inspirada, outro não crê na divindade
de Cristo, outro acredita no purgatório, outro na salvação pelas
obras, outro quer profetizar bênçãos sobre os irmãos. E todos creem
que estão certos e mostram isso na Bíblia. Se o líder dessa igreja
orgânica contestá-los, o fará segundo qual credo, o dele? A Bíblia?
Baseado em quê, se todos também afirmam estar fundados na
mesma Bíblia? Então existe um credo. O líder tem sua crença com
ralação à natureza de Deus, de Cristo, do Espírito Santo, da Igreja,
dos anjos, se Satanás, do plano de salvação, das últimas coisas. Ou
seja: a Teologia Sistemática. O próprio fato de optar por esse modelo
de igreja já demonstra que ele tem a sua verdade, a sua maneira de
pensar e age norteado por ela. Ele tem, sim, uma declaração de fé e
um estatuto, ainda que não escritos. Não ter credos nem estatutos é
mera falácia.
Como vimos no ponto 3, toda igreja possui uma base de fé e
deve possuir, sim, estatutos e regimentos em conformidade com as
leis em vigor. Em todas as igrejas genuinamente cristãs, a Bíblia é a
sua única regra de fé e prática. Os estatutos e regimentos internos
não diferem daquilo que está revelado. Isso inclui regras
comportamentais, eclesiásticas, relacionais e civis. Imaginemos que,
numa reunião da igreja orgânica, alguém deseja praticar algo contra
a moral e os bons costumes da sociedade, que nem sempre estão
todos descritos na Bíblia. O dono da casa permitirá? Cada lar é um
terreno sem o mínimo de regras de comportamento? Em qualquer
reunião, as pessoas podem ir vestidas como bem entendem e fazer o
que lhes der na telha? Certamente não. Há regras que não estão
descritas em uma folha de papel, mas que existem e devem ser
respeitadas. E se o líder presente abrir a Bíblia e expor (e impor) a
maneira como acredita que se deve proceder, não estará agindo
segundo o "seu" credo? Então todos devem se conformar com a
palavra dos líderes desse movimento no sentido de ex cathedra?
7. Na Igreja institucional, a forma precede a vida da igreja. A Igreja
começa com clérigos, cargos, programas, rituais, etc. Já em uma
expressão orgânica, a forma da Igreja deriva da vida Igreja, assim
como a forma do corpo humano deriva da vida do ser humano.

Eu possuo uma crítica pessoal à igreja católica. Acima de tudo


a sua ala mais carismática, parece incorporar alguns elementos da
cultura religiosa evangélica. Algumas reuniões desses grupos
carismáticos assemelham-se em muito aos cultos pentecostais,
inclusive com o falar na "língua dos anjos", contudo, invocando
Maria. A minha crítica é que a igreja católica assimilou tudo aquilo
que de errado se pratica nos movimentos pentecostais e
neopentecostais, incluindo "missa de cura e libertação". O autor do
texto que estamos analisando também olha para a igreja – tanto
católica quanto evangélica – com um olhar bastante critico, mas não
faz a leitura correta. Em toda a sua crítica à igreja institucionalizada,
ele irá se referir a "clérigos". Confesso desconhecer em que igrejas
ele se baseou para formar essa opinião e a que se refere quando fala
desses clérigos, uma vez que esse não é o costume na grande maioria
das igrejas evangélicas sérias, a não ser que por clérigos ele esteja
se referindo aos pastores, presbíteros e diáconos, bem como aos
líderes de ministérios.
Como vimos logo no início ao tratarmos a respeito dos tipos de
governos das igrejas cristãs e dos cargos e ministérios que compõem
o seu corpo de ministros, todos estão à serviço do Corpo de Cristo.
Ao contrário do que é insinuado, a forma não precede a vida da
Igreja, mas está a serviço dela. Quando falamos em Igreja, temos em
mente um organismo vivo e pulsante, cujo poder emana da Cabeça,
que é Cristo, e que é animada pelo Espírito Santo. O seu sistema de
governo, seus dons e seus ministros atuam como agentes de
edificação e coordenação do corpo. Se existem programas e rituais,
todos servem à igreja, não o contrário. A espiritualidade verdadeira
não é ritualística. Qualquer ação praticada dentro ou fora da igreja,
se não contiver verdade, é vazia. Talvez o autor tenha em mente a
Igreja católica romana ou a Anglicana. As igrejas reformadas não
cultuam a Deus com rituais. O que se pode chamar de um ritual é a
ceia do Senhor e o batismo, mas ambos carregam uma gama de
verdades, de encontro íntimo com Deus.
O que se pode falar de rituais e formas que precedem a vida é
aquilo que acontece em igrejas neopentecostais, onde a realização de
certos rituais pretende gerar benefícios para o crente, em geral
financeiros. As formas são bastante variadas: uso de rosas, lenços,
copo com água, óleo da unção, fogueira santa, votos, jejuns,
Confissão Positiva, entre tantas outras. Com o slogan "Pare de
sofrer", essas igrejas apelam para todos os artifícios imagináveis
para promover a cura, a benção, a vitória e os milagres prometidos.
Falar com Deus, manter comunhão com Ele, pedir as suas bênçãos
sempre envolve entrar ou passar por dentro ou por debaixo de algo,
usar ou tomar alguma coisa. Mas não é assim na igreja verdadeira.
Nela, os crentes aprendem que o relacionamento com Deus é pessoal
e direto, sem intermediários ou necessidade de ritos e objetos
ungidos. Aprendem, também, que a espiritualidade acontece de
dentro para fora. Logo, mesmo a oração mais fervorosa e a oferta
mais robusta podem ser vazias. Se não houver vida e verdade, a fé
cristã não acontece. Afinal de contas, os verdadeiros adoradores
adoram o Senhor em espírito e em verdade (Jo 4:23), oferecendo-lhe
não um culto espiritual e vazio, mas um culto com entendimento
intelectual (Rm 12:1,2), fruto de uma mente renovada e uma
espiritualidade inteligente (Cl 1:9; 2:2).

8. A Igreja institucional se sustenta no ministério de um clérigo ou


ministro profissional. Em uma expressão orgânica de Igreja, não há
clérigos ou ministros.

A ideologia dos desigrejados de voltar às raízes da igreja,


praticando o mesmo tipo de vida em comunidade dos primeiros
cristãos, rejeitando totalmente o modelo de igreja institucional é uma
falácia. A igreja primitiva se reunia de maneira organizada em torno
da doutrina de Cristo e do amor fraternal. Não podemos negar que
não havia denominações como existem inúmeras hoje. Então, os
teóricos da igreja orgânica cogitam que devemos abandonar a
instituição para nos reunirmos nas casas, nas praças, nos shoppings
ou qualquer outro lugar onde haja pelo menos dois crentes falando
de Deus ou de futebol, porque aí estará a igreja. Todavia, se é para
nos espelharmos na igreja primitiva para imitá-la, a quem
prestaremos contas? A Igreja de Atos dos apóstolos e das cartas e
epístolas eram fundadas, organizadas e dirigidas pelos apóstolos e o
corpo de ministros que eles instituíam em cada igreja (como Tito em
Creta e Timóteo, em Éfeso). Ao rejeitar aquilo que chamam de
hierarquia clerical e instituir que cada crente é responsável por si
mesmo, os desigrejados se afastam totalmente do modelo de igreja
que pretendem imitar. Não é preciso ser teólogo especialista em
exegese do Novo Testamento e doutor em grego bíblico para ver que
as igrejas da era apostólica possuíam líderes (pastores, presbíteros,
bispos e diáconos), todas essas funções (cargos, ofícios, ministérios)
instituídas, ordenadas, regulamentadas e coordenadas pelos
apóstolos. Como imitadores declarados da igreja neotestamentária, o
que os desigrejados possuem?
Na igreja católica romana, existe uma clara divisão entre o fiel
ordenado e o leigo. Algumas funções só são permitidas se realizar
pelos clérigos, como a eucaristia, o batizado, o casamento, etc. Os
leigos assumem outras funções, mas nunca aquelas restritas aos
ministros devidamente ordenados. Nas igrejas evangélicas
genuinamente bíblicas, os ministros possuem um papel importante
na vida dos fiéis, mas esta não gira em torno deles. Eles são servos
que zelam pelo rebanho de Deus. Afirmar que a igreja orgânica não
possui ministros é mentira ou ao menos total desconhecimento do
que é ser ministro na Igreja cristã. O que tal movimento não possui
são ministros devidamente ordenados, com autoridade construída
por Deus para guiar os fiéis. Podemos ver em outros textos e vídeos
declarações de líderes da igreja orgânica falando a respeito de
pastores que surgem naturalmente no meio dos presentes nas
reuniões, posicionando-se como líderes. Quem avalia o seu chamado?
Quem os consagra? Na Igreja primitiva estava bastante claro o
formato de separação e consagração dos ministros, sendo estes
escolhidos entre os irmãos idôneos e consagrados ao ministério pela
imposição de mãos pelos apóstolos ou aqueles por eles
comissionados.

9. Na Igreja institucional, seus congregantes são mantidos passivos


durante o culto de domingo. Na Igreja orgânica, todos os membros
são encorajados a participar nas reuniões da Igreja.

Mais uma declaração que demonstra um total desconhecimento


daquilo que se pratica nas igrejas cristãs bíblicas, o que não deixa de
ser curioso, uma vez que muitos desigrejados eram bastante
atuantes nas suas igrejas de origem. Ou seja: eles próprios são as
antíteses das suas teses, o que só vem corroborar para a
inconsistência teológica e a incoerência desse movimento. O escritor
Paulo Brabo, em seu livro "Bacia das Almas", declara-se um "ex-
dependente de igreja", não desejando mais congregar em nenhuma
instituição cristã, segundo relata Idauro Campos (op. cit., p. 77).
Batizado aos 18 anos, Paulo Brabo desempenhou inúmeras tarefas na
igreja institucionalizada: pregador, pianista, regente de coral,
professor de escola dominical, organizador de congressos e retiros,
evangelista e conselheiro matrimonial. Ele declara que durante trinta
anos foi "consumidor de igreja" e que identificava a qualidade da sua
fé com sua participação nas atividades que realizava.
Esse caso desmente a passividade dos crentes na igreja
organizada. O próprio desigrejado testemunha sobre isso. Na
verdade, nas igrejas ocorre o contrário: os crentes são discipulados,
ensinados e estimulados a se envolverem ativamente na obra do
Senhor e a viver uma espiritualidade diária, cultuando a Deus todos
os dias com suas vidas. Os dons e ministérios proporcionam ótimas
oportunidades de envolvimento dos irmãos nos trabalhos dentro e
fora da igreja local. Nos cultos de domingo, todos são convocados, de
acordo com seus dons e talentos, a participarem da celebração.
Como não há culto apenas nos domingos e a vida da Igreja não se
resume ao que acontece neste dia, toda a igreja tem diversas
oportunidades de estar ativa: grupos familiares, visitação nos lares,
ações sociais, evangelismo, grupos diversos (senhoras, homens,
casais, jovens, coral, etc.), reuniões de oração e estudo da Bíblia,
além de iniciativas pessoais no serviço cristão. Muito mais que
participar de reuniões, os crentes são chamados a viver plenamente
o Evangelho. Portanto, o que acontece em pouco mais de duas horas
durante o culto público do domingo não pode servir de base para se
avaliar a prática de todos os membros da igreja, porque qualquer
igreja é muito mais que duas horas de um domingo. Estar passivo no
domingo e em todos os outros dias é uma escolha de cada um, não
uma cultura eclesiástica, ao menos das igrejas sérias, muito pelo
contrário. Muitos pastores lamentam o fato de a grande maioria dos
crentes se contentar em assistir ao culto no domingo, sem se
envolver ativamente nas obras, ministérios e programações da
congregação.
Nos meus 26 anos de vida cristã e membro da igreja
institucionaliza (1994-2020), já desenvolvi inúmeras atividades:
pregador, evangelista, professor da EBD, missionário, líder de grupo
de oração, dirigente de culto, além de ator, professor e diretor de
teatro. Também participei de visitação nos lares e ações sociais. Há
alguns anos, logo no início da minha caminhada com Cristo, quando
percebi que estava caminhando para um ativismo religioso que me
tirava até mesmo o tempo com a minha família, abri mão de algumas
atividades e administrei com mais sabedoria o meu tempo e o meu
desempenho na obra do Senhor. Ao contrário de Brabo, jamais
identifiquei a qualidade da minha fé com base nas atividades que
realizava e realizo. Mas de algo estou plenamente certo: uma fé de
qualidade nos coloca a serviço do Reino de Deus, sempre disponíveis
para atuar onde quer que Ele nos coloque, com os dons e talentos
que nos foram dados por Ele. Isso não é religiosidade nem ativismo,
também não é perda de tempo. Isso é viver para Cristo.

10. Na Igreja institucional, os membros associam a Igreja a um


prédio, uma denominação ou um culto (normalmente no domingo).
Na Igreja orgânica, enfatiza-se que as pessoas não vão à Igreja. Elas
(juntas) são a Igreja. Essa não é uma mera afirmação
“teologicamente correta”. É a experiência de seus membros.

Na igreja orgânica, as pessoas também podem começar a ter


essa ideia equivocada de que o espaço de reunião é sagrado e que
ele é a igreja. Nada mais incorreto. Como vimos logo no início deste
estudo, a igreja somos nós, os crentes salvos. Muito embora o termo
ekklesia também tenha sido aplicado ao local onde a igreja se reúne,
o que o torna igreja é a presença dos crentes. Se a denominação
decidir mudar de prédio ou a igreja orgânica, de casa, aquele
ambiente já não será mais chamado de igreja e poderá ser utilizado
para outras finalidades. Quanto a “ir à igreja”, é teologicamente
correta essa expressão, uma vez que as casas eram consideradas
igrejas no Novo Testamento, e ela é tratada, também, como um local.
Relembrando tudo o que já estudamos sobre a natureza da Igreja de
Cristo, podemos fazer, ainda, as seguintes observações:

Uma só cabeça, um só corpo e vários membros. Os crentes são


a Igreja, o Corpo de Cristo. Não uma instituição, mas as

pessoas. Quando dois ou vários crentes estão reunidos em um


único espaço, podemos dizer que membros da Igreja estão ali
reunidos. Essa reunião não se transforma em uma Igreja, mas
apenas o ajuntamento momentâneo de parte da Igreja.
Ninguém pode olhar para um templo e chamá-lo de igreja,
como também não pode dizer que só podemos ser igreja se
estivermos reunidos num templo (ou casa). A Igreja é o corpo
espiritual de Cristo, do qual todos os crentes espalhados pelo
mundo fazem parte. Neste sentido, não existem várias igrejas
como se Jesus tivesse vários corpos, mas um único Corpo com
vários membros.
Uma Igreja, várias igrejas. Por outro lado, por diversas vezes
esses locais onde os membros do Corpo de Cristo se reúnem

são chamados de "igreja", podendo haver várias igrejas numa


mesma região ou cidade. Não é possível que fosse um
ajuntamento de todos os crentes daquela época para se referir
a cada reunião dessas como uma reunião da Igreja espiritual. É
uma referência a alguns membros da Igreja que se
encontravam para o culto em comunidade numa determinada
localidade (1 Co 14:23). Em 1 Coríntios 11:18, Paulo fala sobre
se ajuntar "na igreja". Ou seja: os crentes tanto se reúnem
"como" igreja, como também se reúnem "na" igreja (1 Co 4:17;
11:18). Os crentes de Corinto eram membros da Igreja que se
ajuntavam "na igreja". Essa igreja não era um ambiente
qualquer sem regras, mas possuía uma organização visível, que
incluía liderança, doutrina, disciplina, ensino, prática das
ordenanças, exercício dos dons espirituais, recolhimento de
ofertas e estrutura ordeira do culto público. Ou seja: tudo que
existe na grande maioria das denominações evangélicas atuais.
Uma Igreja, vários locais. Existe uma clara distinção entre a
Igreja como Corpo de Cristo e a igreja como pessoas reunidas

em um local, um espaço físico. O Novo Testamento mostra


essas duas realidades. Ou seja: a Igreja se reúne em diversas
igrejas espalhadas por inúmeras localidades. Cada igreja é uma
igreja, mas sendo parte de um mesmo corpo celestial. Existem
referências a "igrejas", no plural. Não eram outras igrejas que
não a mesma Igreja. O plural indica variedade de locais onde
membros da Igreja se reuniam. Cada local desses era chamado
de igreja. Em 1 Coríntios 4:17, Paulo fala sobre o seu ensino
"em cada igreja". Os apóstolos não falam "aos membros da
igreja reunidos em tal localidade", mas à igreja ou às igrejas.
Esses locais eram casas ou regiões. A igreja de Corinto podia
ser os crentes daquela localidade, que se reuniam como igreja
local para cultuar a Deus, exercer dons e ministérios, praticar
o cuidado social e as ordenanças (1 Co 14:23).

Os locais onde os desigrejados se reúnem regularmente podem


ser chamados de igrejas, conquanto cumpram os requisitos de uma
verdadeira igreja cristã, as marcas que já comentamos. O grande
problema a ser evitado é o endeusamento do templo, como já vimos,
quando os crentes o consideram um espaço intrinsecamente sagrado,
bem como tudo o que acontece ali, como liturgia, cânticos e rituais.
Essa sacralidade é um erro a ser evitado, mas chamar esses espaços
de igreja não é nenhum equívoco teológico.

11. A Igreja institucional é sustentada por programas. A Igreja


orgânica se sustenta nas relações construídas em Jesus Cristo.

Se por um lado os desigrejados criticam a forma institucional


de igreja pela participação passiva dos seus membros nas reuniões
de domingo, por outro eles a criticam justamente pelo motivo
contrário. O excesso de programações, eventos e encontros foi uma
das nossas críticas a algumas igrejas evangélicas (cf. razão 58). De
fato, toda a vida, toda a espiritualidade, todo o serviço e toda a
comunhão parecem girar em torno desses eventos. Retira-se isso e
pouco sobrará. A igreja cristã genuína é sustentada pela relação
vertical (os crentes e Deus) e a horizontal (o relacionamento entre os
irmãos). A primeira fornece a base e a legitimidade da segunda.
Vimos que uma igreja saudável edifica a si mesma no poder e nos
dons do Espírito Santo, no amor fraternal e no ensino-aprendizado da
Palavra. Ela nunca é uma igreja do "eu" nem do "meu", mas do "nós"
e do "nosso". Essa é a regra. Quando a regra é quebrada, o momento
é de toda a igreja local parar e refletir a respeito da sua atuação e
importância na vida dos crentes e da comunidade.
Virar as costas e ir embora é uma atitude covarde que não
reflete o caráter do verdadeiro soldado do Senhor. Individualmente,
cada membro pode buscar uma comunhão mais profunda com os
demais, incentivá-los e influenciá-los. Existem alguns casos extremos
em que a permanência na congregação pode se mostrar
insustentável. Mas deixar de frequentar qualquer igreja ou passar a
desprezar a instituição não resolverá o problema. Que diferença há
entre aquele que abandonou a sua congregação para formar uma
nova denominação e o que passou a reunir pessoas nas casas? O
formato pode ser diferente, mas a atitude é a mesma. A afirmação de
que a igreja orgânica "se sustenta nas relações construídas em Jesus
Cristo" deve nos levar a questionar como se dão essas relações? São
encontros para orar e conversar amigavelmente? São momentos de
descontração e lazer? Existe alguma organização quanto a isso ou
tudo acontece de maneira ocasional e espontânea? Tanto se faz se o
“culto” é realizado na sala de estar de uma casa ou na praça de
alimentação do shopping, enquanto se come uma pizza e se conversa
sobre o campeonato estadual de futebol?
Na igreja cristã genuína e organizada, os programas não
existem como um fim, mas como meio de promover, facilitar, edificar
e consolidar as relações interpessoais. Se pararmos para pensar,
todas as programações na maioria das igrejas evangélicas têm como
finalidade unir, edificar e restaurar vidas e relacionamentos. Mesmo
uma feijoada no domingo após a escola dominical para arrecadar
dinheiro tem uma finalidade relacional. Por exemplo: organizar o
retiro para adolescentes, onde vidas serão edificadas, restauradas e
salvas. Não parece existir algo nocivo nisso. Vejamos alguns
programas da igreja que estão a serviço do Reino de Deus e das
vidas que fazem parte dele (ou poderão fazer um dia). Enquanto os
estudamos, pensemos em que eles podem ser tão nocivos aos
crentes, ao ponto de os desigrejados rejeitarem as igrejas
institucionalizadas, e as abandonarem, considerando que elas
deveriam deixar de existir.

1) Programa do culto. Este programa relaciona-se à organização do


culto público, da sua liturgia. Ele existe para que tudo seja feito com
decência e ordem, como nos orienta o apóstolo Paulo (1 Co 14:40). O
programa estipula quem serão os ministros de louvor, o dirigente, o
pregador, quem irá recolher as ofertas, etc. Ele também ajuda nos
cultos de ceia, quando os diáconos auxiliam o pastor, bem como na
apresentação de crianças e novos membros. Um culto bem
organizado rende glória a Deus e edifica a igreja.

2) Programa pedagógico. Este trata do ensino e do discipulado. Ele


envolve o conteúdo das pregações, a organização e a excelência do
culto de ensino e da Escola Bíblica Dominical, o discipulado com
novos convertidos, a preparação para o evangelismo e a aplicação da
disciplina. O programa pedagógico investe na capacitação daqueles
que possuem o dom de ensino. Ele é o mais importante da igreja e
cumpre a ordem do Senhor de ensinar a guardar todos os seus
ensinamentos (Mt 28:20).

3) Programa de ministérios. A diversidade de ministérios relevantes


e atuantes é de extrema importância para a Igreja, tendo em vista
que ela não é uma comunidade homogênea. Cada ministério tem a
oportunidade de trabalhar dentro da realidade e segundo as
necessidades de cada grupo específico de crentes: crianças,
adolescentes, jovens, casais, senhoras, homens, casais, idosos,
desviados, dependentes químicos, entre outros. Os ministérios
podem oferecer ensino, aconselhamento, acompanhamento, auxílio
social, companheirismo e crescimento espiritual.

4) Programa de eventos e congressos. Este programa oferece à


igreja diversas oportunidades para encontros de desenvolvimento
pessoal e interpessoal, focando no aprendizado da Palavra e no
desenvolvimento de relações saudáveis e compromisso com o Reino
de Deus. Ele pode envolver encontro de casais, retiros espirituais,
congressos com temas relevantes para a comunidade, cultos festivos,
entre tantas outras formas de edificação do Corpo de Cristo.

5) Programa de ações sociais. Aqui entra a responsabilidade social


da igreja, quando ela cuida dos irmãos necessitados, além de investir
em obras sociais que beneficiem a comunidade em que está inserida.
As formas de praticar essa programação são bastante variadas e
seguem a realidade de cada igreja. Quando investe no social da
maneira adequada, a igreja está praticando a verdadeira religião,
conforme escreveu Tiago: "A religião pura e imaculada para com o
nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações, e s si mesmo guardar-se incontaminado do mundo" (Tg
1:27).

6) Programa de evangelismo e missões. Uma igreja genuinamente


cristã é missionária em sua essência. Ela mantém regularmente
grupos de evangelismo e investe no envio e na manutenção de
missionários, tudo de maneira ordeira. A pregação do Evangelho é
uma ordem do Senhor e essencial para a salvação do perdido,
conforme está escrito: "E disse-lhes [Jesus]: Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será
salvo; quem, porém, não crer será condenado" (Mc 16:15,16).

7) Programa de administração. É estranho pensar que numa igreja


orgânica não haja qualquer tipo de administração, porque está claro
que a igreja primitiva era administrada pelos apóstolos e os ministros
por eles ordenados e autorizados. A administração envolve o
planejamento estratégico e o desenvolvimento organizacional. Fazem
parte do programa de administração: a criação, a orientação e a
manutenção de ministérios e seus devidos ministros; a realização das
assembleias, a administração das finanças da igreja (entradas e
saídas), os gastos com a estrutura física. Tudo isso diz respeito à
mordomia com as coisas de Deus (1 Pe 4:10; 1 Co 4:1,2; Tt 1:6-8).

8) Programa de treinamentos. No programa de treinamento, estão


todas as ações para despertar as vocações e capacitar os
vocacionados. Costuma-se dizer que Deus não escolhe os
capacitados, mas capacita os escolhidos. É de Deus que vem os dons
e ministérios, a força e a graça, a sabedoria a perícia, a humildade e
a disposição. Um mestre não precisa apenas do dom de ensino, mas
deve esmerar-se no ensinar (Rm 12:7). Um evangelista não precisa
apenas do dom de evangelismo, mas deve aprender a manusear com
destreza a Palavra de Deus (2 Tm 2:15). A igreja pode e deve treinar
os seus obreiros em cada uma das suas áreas de atuação.
Como vimos, todos esses programas trabalham o nosso
relacionamento com Deus e, através dele, o nosso relacionamento
com as pessoas. Cabe aos crentes evitarem dois erros: o comodismo
infrutífero, não se envolvendo com nada, apenas recebendo sem
colocar a mão no arado para fazer a sua parte; e o ativismo
insipiente, envolvendo-se em muitas atividades sem se dedicar com
qualidade a nenhuma. Todos têm a oportunidade e o dever de
participar, de se envolver, de se doar, de contribuir para a edificação
de uns aos outros. O ministro de louvor exerce o seu papel enquanto
é edificado por outros. O líder dos adolescentes aprende do professor
da escola dominical. O tesoureiro cuida das finanças e é aconselhado
pelo presbítero. Numa igreja sadia, todos dão e recebem, todos se
edificam mutuamente, todos vivem de maneira harmoniosa a fé em
Cristo.

12. A Igreja institucional depende de finanças para sobreviver – seus


gastos principais são com a manutenção de prédios e cargos
assalariados. A Igreja orgânica não depende de edifícios. Não há
clérigos assalariados. Os recursos financeiros são gastos com “os
pobres entre vós” e em obras extra-locais.

Ter gastos com a estrutura física é uma consequência natural


de ter essa estrutura. O importante é saber se a estrutura está a
serviço da igreja ou se é a igreja que está a serviço da estrutura.
Quando o primeiro caso está sendo praticado, os crentes investem
em si mesmos quando investem na estrutura, que depende deles
para se manter. Não se trata apenas de um prédio, de contas de água
e de luz e do salário dos obreiros que trabalham integralmente na
obra de Deus. Trata-se de manter um ambiente que serve para
abençoar vidas, dar-lhes algum conforto, prover-lhes ambientes e
instrumentos para desenvolverem a sua espiritualidade por meio do
encontro comunitário, do ensino bíblico (cultos de ensino, escola
dominical, seminários, conferências, grupos de estudos, etc.), do
culto público, do exercício dos dons e ministérios e da
responsabilidade social. A estrutura não é um fim, mas um meio. Ela
não é uma despesa, mas um investimento. Tudo isso, claro, em uma
igreja genuinamente cristã. Não estamos descrevendo seitas
evangélicas.
Mente o autor quando diz que a Igreja orgânica não depende
de edifícios. Onde ela se reúne? Com certeza não é no vácuo! Ainda
que se reúna em uma praia ou parque, faz uso de uma estrutura
mantida com o dinheiro público. Ao se reunir nos lares, faz uso de
uma estrutura mantida com o dinheiro do dono da casa. Por que as
igrejas orgânicas não têm as mesmas despesas das igrejas
organizadas? Porque não possuem as mesmas estruturas para
oferecer aos seus agregados. Qualquer gasto que houver, alguém
terá que arcar, por menor que seja. A igreja institucionalizada possui
gastos maiores, e os seus membros se alegram em contribuir, porque
sabem que seus dízimos e ofertas estão sendo empregados para seu
próprio benefício e de muitas outras pessoas. Uma igreja sadia
investe em obras sociais, socorre os pobres dentro da própria igreja,
possui responsabilidade diante de Deus e da sociedade. Não
podemos ocultar, claro, igrejas que investem apenas em estrutura,
mas não cuidam de vidas; que possuem gastos exorbitantes com
equipamentos e reformas desnecessários ou para ostentação,
enquanto há membros passando necessidades. Ou pastores que
investem o dinheiro dos dízimos e ofertas na troca de automóvel
todos os anos. São erros a serem corrigidos, não motivos para
exterminar as igrejas organizadas.
Sobre “cargos assalariados”, é importante dizer que, se a igreja
possui um templo e deseja mantê-lo, sempre será necessário
contratar pessoas para executar algumas tarefas, como, por exemplo,
um zelador. Ao invés de enxergar isso como uma despesa, podemos
entender como a igreja empregando um pai de família, alguém que
estará muito agradecido pelo seu emprego e seu salário. Ao contrário
do que afirmam os desigrejados, havia ministros remunerados nas
igrejas do Novo Testamento. Eles não eram mercenários nem
aproveitadores, mas trabalhadores dignos do seu salário (1 Tm
5:17,18; 1 Co 9:9,14; 2 Co 11:8). Havia, inclusive, recomendações
contra os falsos pastores e seus abusos. Um texto muito utilizado
para refutar a remuneração para os obreiros é Mateus 10:8, que diz:
"Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli
demônios; de graça recebestes, de graça dai". Todavia, esse texto
não fala do trabalho pastoral exercido na igreja local, o qual
claramente a Bíblia nos mostra que merece ser remunerado. Quando
o ministro do Senhor exerce uma função remunerada de liderança na
igreja, ele não está cobrando pelo dom de Deus. Na grande maioria
das igrejas, somente pastores e presbíteros em tempo integral
recebem remuneração. Nenhum outro cargo, função ou ministério é
renumerado. Em tudo a igreja trabalha de graça.

13. Na Igreja institucional, as decisões são feitas por clérigos ou por


uma junta de representantes eleitos. Na Igreja orgânica, decisões
são tomadas coletivamente, em consenso.

Na igreja católica, essa verdade é insofismável. As decisões


sobre a fé e a prática dos fiéis partem do topo da pirâmide
hierárquica, cabendo às camadas inferiores apenas acatar o que foi
determinado, muitas vezes no modo ex cathedra. Nas igrejas
evangélicas que possuem um sistema de governo teocrático-
congregacional, as coisas ocorrem de maneira diferente. Todas as
decisões são tomadas em assembleia, com a participação e o voto de
todos os membros. Esse é o modelo ideal de igreja. Entretanto, se os
teóricos da igreja orgânica desejam se parecer com a igreja
primitiva, precisam levar em conta a maneira como os apóstolos
lidaram com alguns problemas que apareciam nas igrejas. Temos
dois exemplos. O primeiro é o descontentamento dos irmãos gregos
com a distribuição cotidiana, porque os hebreus pareciam ter a
preferência (At 6:1). Para resolver a questão, os apóstolos não
consultaram primeiramente os irmãos, mas já lhes transmitiram a
decisão que haviam tomado (vs. 2-4). O seu parecer contentou toda a
multidão (v. 5). Surgia aí a função diaconal, a ser exercida por
irmãos que cumprissem certos requisitos.
Outro problema enfrentado pela igreja em Atos foi o ensino dos
judaizantes, que insistiam que os cristãos deveriam se circuncidar
conforme a lei de Moisés para serem salvos (At 15:1). Após Paulo e
Barnabé empreenderem grande discussão com eles, levaram o caso
aos apóstolos e aos presbíteros (ou anciãos) na igreja em Jerusalém
(v. 2). Chegando eles à Jerusalém, toda a igreja se reuniu para
recebê-los (v. 4), mas quanto ao problema, "se reuniram os apóstolos
e os presbíteros para examinar a questão" (v. 6). Não houve uma
assembleia geral nem consulta entre os irmãos para que votassem
sobre melhor maneira de resolver a questão. Tiago emitiu o seu
parecer (vs. 13-21) e a decisão do concílio foi enviada à Antioquia (v.
22). Portanto, a questão não foi resolvida através de um consenso
entre os irmãos, mas entre os apóstolos e os presbíteros da Igreja.
Eles fizeram isso porque eram autoridades entre a cristandade.
Todas as epístolas que temos em mãos são normativas e
autoritativas: elas nos dizem como devemos ser e agir.
Embora o modelo de governo atuante na maioria das igrejas
evangélicas seja teocrático-congregacional, não podemos descartar o
fato de que existe uma liderança legitimamente instituída por Deus,
capaz de tomar decisões e emitir ordens de acordo com a
necessidade apresentada, sempre balizada pela Bíblia. Algumas
questões importantes envolvendo a doutrina e gastos financeiros
sempre serão levadas à congregação para que a decisão seja tomada
por todos em assembleia. Todavia, o pastor da igreja tem autoridade
sobre a vida dos fiéis e pode decidir sobre pontos importantes da sua
congregação, do contrário, Deus não o teria colocado ali. Estamos
falando, claro, de pastores verdadeiros, homens de Deus que agem
guiados pelo Espírito Santo e pela Bíblia, não de “gerentes
eclesiásticos”, líderes aproveitadores ou ministérios autoritários,
com “donos” que administram a igreja conforme os seus próprios
interesses, como há muitos atualmente.

14. Na Igreja institucional, o pastor é o líder e ministro da Igreja. Na


Igreja orgânica, há uma pluralidade de pastores. Eles são homens
dotados para cuidar do rebanho.

Por rejeitarem a instituição e a ideia de uma hierarquia, os


membros da igreja orgânica parecem nutrir certa aversão à
liderança. Quando o autor diz que o pastor é o líder e o ministro da
igreja e que na igreja orgânica existe uma pluralidade de pastores
dotados para cuidar do rebanho, resta-nos uma dúvida: esses homens
não são líderes? E mais: é contra as Escrituras a existência de líderes
na igreja? Em momento algum da história do povo judeu, antes e
depois de se tornar uma nação, nem da história da Igreja desde o
início do ministério de Jesus deixou de existir um líder. Abraão
liderou sua família em busca da promessa de Deus. Moisés liderou o
povo para fora do Egito. Josué liderou o povo até a entrada em
Canaã. Depois vieram profetas, juízes e reis. Jesus liderou seus
apóstolos, que fizeram discípulos e elegeram líderes para guiar a
Igreja. Eles não eram meros supervisores ou orientadores, mas
ministros consagrados e revestidos de autoridade para ensinar,
pregar, disciplinar e até mesmo praticar a excomunhão. Os líderes
não somente zelam pelas ovelhas do Senhor como também prestarão
contas a Deus de todos aqueles que lhes foram confiados (Hb 13:17).
Os ministros possuem o mesmo valor e importância que qualquer
outro fiel, mas a sua responsabilidade é imensamente maior.
A que "pluralidade de pastores" o autor se refere? Diversos
membros da igreja orgânica assumindo o ministério pastoral ao
mesmo tempo? Todos são líderes de todos e cada um lidera a si
mesmo? Ele ensina: "O alvo é que exista mais de um pastor em cada
igreja. A liderança é plural a partir de um grupo de presbíteros com
no mínimo dois presbíteros. Os pastores, nas igrejas orgânicas, são
aqueles membros que possuem dons de pastoreio e cuidam do
rebanho. Não são ordenados, mas reconhecidos pelo seu amor,
integridade, sabedoria e conhecimento bíblico". O que é uma
"liderança plural" que surge "a partir de um grupo de presbíteros"?
Como se vê, existem, sim, regras e sistemas na igreja orgânica. O
problema é que, apesar da sua obsessão por se parecer em tudo com
a Igreja primitiva, a igreja orgânica fere muitos dos seus princípios, o
que inclui o formato de liderança e a maneira como ela emerge no
meio do povo, é consagrada e ordenada. Essa maneira de proceder
da igreja orgânica descrita acima não é bíblica, não foi ensinada por
Jesus nem pelos seus apóstolos.
O ministério pastoral nasce de um chamado especifico de Deus,
e não é para todos (Ef 4:11). Além de ser líder do rebanho, o pastor
é, por natureza do próprio dom, um mestre capacitado para instituir
a igreja pela pregação e pelo ensino da Palavra (Hb 13:7; 1 Tm 5:17;
2 Tm 2:15,25; 4:2; Tt 1:9). Ele não é um mero supervisor de reuniões
e ações caridade, mas carrega o peso da preocupação com a vida
integral de toda a igreja, com todos os problemas espirituais,
emocionais, familiares, profissionais, acadêmicos, afetivos ou
qualquer outro de todos os membros. Ele é guia, conselheiro,
mediador de conflitos, mestre, pai, irmão, amigo. Na defesa do seu
apostolado, no capítulo 11 da sua segunda carta aos Coríntios, Paulo
nos dá um vislumbre daquilo que é ser um ministro de Cristo. Ele
escreve: "Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim
diariamente, a preocupação com todas as igrejas" (v. 28).

15. A Igreja institucional faz essencialmente a mesma coisa semana


após semana, mês após mês, ano após ano – está atada a um ritual. A
Igreja orgânica passa por fases. Não está atada a um ritual.

Quando se diz "A Igreja institucional faz essencialmente a


mesma coisa semana após semana, mês após mês, ano após ano",
está-se generalizando. Talvez os teóricos da igreja orgânica faziam
parte de igrejas que agiam dessa maneira, talvez eles próprios
viviam em seus rituais pessoais. Como nenhuma pesquisa estatística
é apresentada nem é citado o nome de nenhuma denominação,
presume-se que absolutamente todas as igrejas institucionais ajam
da mesma maneira, não somente neste ponto, mas igualmente nos
outros, o que é um tremendo equívoco. O autor também diz que,
diferente da igreja institucional, a igreja orgânica passa por fases,
pois não está atada a um ritual. Todavia, o fato de se reunirem
sempre nos mesmos ambientes regulamente e praticarem
regularmente ações sociais, dia após dia, ano após ano, já desmente
essa falácia. Trata-se de um sofisma. A igreja orgânica está atada aos
seus rituais não descritos, aos seus credos não registrados em Ata,
às suas regras invisíveis, mas reais. Não podemos cair no mesmo
erro de generalizar. Embora existam textos e vídeos na Internet que
descrevam a natureza e o modo de agir das igrejas orgânicas, não
temos conhecimento de todas elas para afirmar que todas agem da
mesma forma. Talvez, por esse movimento teoricamente não se ater
a credos, existam outras formas de pensar e viver a igreja simples
nos lares.
Quanto ao fato de a Igreja institucional fazer invariavelmente a
mesma coisa todas as semanas, meses e anos, resta-nos saber que
coisas são essas. E se elas existem, se são de alguma forma tão
erradas e nocivas que mereçam não se repetir jamais. De modo
geral, as igrejas evangélicas possuem ao menos três cultos durante a
semana: o culto de domingo, um culto de oração e ainda outro de
ensino. Além disso, têm-se a escola bíblica dominical e reuniões e
cultos diferenciados: crianças, adolescentes e jovens, senhoras, etc.
Todos os anos ocorrem retiros espirituais e convenções com cada
público, ministério ou tema diferenciado. Soma-se a isso o
evangelismo, as ações sociais, os encontros de casais e visitas nos
lares. Ainda podemos registrar a ceia do Senhor e batismos. Todas
essas coisas, quando feitas com a motivação correta e da maneira
correta, são bênçãos para a Igreja. Elas ensinam e edificam. Embora
ocorram invariavelmente, sempre se renovam, porque os crentes
mudam, amadurecem; chegam novos convertidos que viverão tudo
isso como novidade. Não há nada de errado e nocivo nisso tudo.
Errado é pecar e continuar pecando, é não se envolver na obra do
Senhor, é desprezar os irmãos, é evadir-se por considerar o ambiente
indigno da sua presença. Errado é desprezar todo um ministério e
abrir outro para ter nele a sua própria impressão digital, suas
próprias regras, denegrindo a imagem do anterior.
Se a Igreja institucional mantém o padrão dos seus encontros,
programações e ministérios, isso revela ordem e método, o que é
excepcional. As pessoas sabem o que podem esperar, com o que
podem contar. Elas possuem segurança como membros do corpo.
Quaisquer inovações são levadas à igreja para que ela se intere do
que acontecerá. Este ano, o pastor-líder da igreja que congrego nos
apresentou algo novo, uma forma de vivermos como igreja que até
então não praticávamos: uma igreja acolhedora e inclusiva,
preocupada com aqueles que possuem algum tipo de limitação física
ou mental, como cegos, surdos, portadores do espectro autista,
cadeirantes, etc. Embora a Igreja sempre tenha acolhido essas
pessoas, nunca se preocupou em como lidar com suas necessidades
especiais. Por exemplo: ter um intérprete de LIBRAS. Toda a igreja
abraçou essa "inovação", que nada mais é que o Evangelho colocado
em prática. Sem quaisquer tipos de rituais, todos os irmãos são
acolhidos e amados.

16. Na Igreja institucional, dons são vistos como cargos. Pessoas são
colocadas nestes cargos desde o princípio. Na Igreja orgânica, dons
não são vistos como cargos, e sim como funções. Eles emergem
natural e organicamente com o tempo. Eles brotam da terra, e
normalmente não carregam títulos.

Nenhum argumento poderia ser mais terrivelmente errado do


que esse. Pode ser que entre tantas denominações evangélicas,
exista alguma que trate os dons espirituais como cargos, mas são
exceções. Aqui analisamos a regra, ou seja, aquilo que a Bíblia ensina
e o que as igrejas cristãs bíblicas pregam e vivem. Os dons
espirituais não são cargos, muito menos funções. Eles são
manifestações sobrenaturais que capacitam o crente para
determinada obra no Corpo de Cristo, visando a sua edificação. É o
que lemos em Efésios 4:11,12, onde Paulo escreve: "Ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para evangelistas e outros para
pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo".
Todos os dons são para o serviço. O portador do dom exerce um
cargo ou função quando existe um ministério específico na igreja
ligado ao seu dom. Por exemplo, quem tem o dom de misericórdia
pode trabalhar com o ministério de evangelismo e ação social,
cuidando dos pobres e visitando os enfermos. Quem tem o dom de
ensino pode e deve atuar no ministério de ensino da igreja, na função
ou cargo de professor. Ou seja: o dom não é um cargo, mas aquele
que possui o dom pode ocupar um cargo específico para empregar o
seu dom, para servir à Igreja e contribuir com a sua edificação,
enquanto é edificado pelos demais irmãos.
Os dons na igreja emergem a partir da intimidade do crente
com Deus, do seu relacionamento com os irmãos e da busca pelos
dons. O cristão genuíno tem ao menos um dom espiritual. Paulo
escreveu que devemos procurar com zelo os melhores dons (1 Co
12:31). Os dons não são títulos, mas empoderam o crente para o
ministério. Ora, vimos no ponto 11 que, segundo este autor, na igreja
orgânica não existem ministros. Todavia, falando a respeito dos dons,
o apóstolo Paulo também diz: "Ora, os dons são diversos, mas o
Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o
Senhor é o mesmo" (1 Co 12:4,5). Nesse texto, “serviços” (gr.
diakonia), também é traduzido por ministrar, ministério, ofício,
serviço, servir, significando o ofício de ministrar acerca das coisas
divinas, numa referência, principalmente, aos apóstolos e mestres
(STRONG, cf. At 1:17,25; 6:4; 20:24; 21:19; Rm 11:3; 2 Co 3:7-9; 4:1;
5:18; 6:3; Ef 4:12; Cl 4:17; 1 Tm 1:12; 2 Tm 4:5,11). Portanto, desde
a Igreja primitiva os ministérios existem, e os dons estão a serviço
deles. Ninguém pode pastorear a igreja sem o dom de pastor, muito
menos ensinar sem o dom de ensino. Se existem dons específicos
para cada obra no Corpo de Cristo, fazer tais obras sem ter o dom é
desprezar o Espírito Santo; não exercer a função (cargo, ministério,
obra) tendo o dom, também.
Existem orientações a respeito da ordenação de diáconos,
presbíteros e bispos para cuidar, coordenar, ensinar e disciplinar os
membros dessas igrejas. O apóstolo Paulo dava grande importância a
isso, de modo que visitava as igrejas e instituía os ministros que
deveriam cuidar delas. Vemos claramente descritos os diversos
cargos e funções que havia na igreja primitiva, a grande maioria
ausente no formato da igreja que se denomina orgânica e que evita a
institucionalização e a organização do Corpo de Cristo: presbíteros
(1 Tm 4:14; 5:17,19; 1 Pe 5:1,11; Tt 1:5; Tg 5:14; 3 Jo 1:1), diáconos
(Fp 1:1; 1 Tm 3:8,12,13), bispos (Fp 1:1; 1 Tm 3:2; Tt 1:7; At 20:28);
pastores (Ef 4:11; Hb 13:7,17), doutores ou mestres, profetas e
evangelistas (Ef 4:11) e os anciãos (At 14:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4;
20:17,18). São ministérios que não são possíveis de serem exercidos
em um encontro casual na lanchonete da esquina, no estádio durante
uma partida de futebol ou longe do Corpo. O bispo, supervisor da
igreja, não supervisiona reuniões informais durante um churrasco na
casa de praia de um irmão, onde dois ou mais tomam banho de sol e
comem churrasco em Nome de Jesus como "igreja".
Eis a grande diferença entre a igreja orgânica e a igreja
institucionalizada: nesta, os "títulos" são dados àqueles que possuem
o dom, têm chamado de Deus para o ministério e gozam do
reconhecimento da igreja. Eles oram, estudam e se preparam para
serem consagrados ou ordenados para o exercício do ministério.
Tudo é feito de maneira ordeira e cuidadosa. A ninguém deve-se
impor as mãos precipitadamente (1 Tm 5:22). Todo esse processo é
bíblico e visa o exercício do ministério. Onde? Na igreja local. O que
os desigrejados roubam dos crentes é o sentimento de pertença, o
entender-se parte de algo, de saber a quem recorrer e a quem
prestar contas. Muito embora, por mais que se negue e se pregue
uma liberdade que não é bíblica, as igrejas orgânicas possuem
núcleos com líderes que respondem por eles é têm seus próprios
seguidores, como é o caso de Caio Fábio D'Araujo Filho e seu
ministério com a comunidade Caminho da Graça, da qual ele se
declara fundador, criador e mentor. Mesmo não considerando o seu
ministério como institucional, ele se organiza em torno de algo e
alguém, possui seus locais de reunião (Estações do Caminho da
Graça) e um credo: a forma de pensar e viver a fé do seu mentor. Se
alguém pensar diferente dele, poderá continuar em seu ministério?
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Posso afirmar com certeza que este foi um dos estudos mais
estimulantes que já realizei. Uma afirmativa que pode resumi-lo é:
não existe nenhuma razão justificável para não frequentarmos a
igreja, com exceção daquelas que estudamos aqui (doença, velhice e
lugares ermos). Muito pelo contrário: a Bíblia nos fornece bases
suficientes para não deixarmos de congregar. Embora a Igreja seja
espiritual, ela é composta por pessoas físicas, e estas sempre se
reuniram desde os primórdios do Cristianismo para adorar e servir a
Deus por meio do serviço aos irmãos e ao próximo. Antes mesmo da
descida do Espírito Santo, os seguidores de Jesus já estavam
reunidos com um propósito comum (At 1:12-14; 2:1). Além da
oração, havia decisões eclesiásticas sendo tomadas (2:15-26; 15:1-
31). Quando o Espírito Santo desceu sobre eles no dia de
Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo "lugar" (2:1). Após o
discurso de Pedro e a conversão de quase três mil pessoas, a Igreja
praticava a Koinonia (comunhão em grego, 2:42-47), o que incluía se
reunir no templo (v. 46). Entre os irmãos não havia diferenças, mas
eles possuíam tudo em comum e compartilhavam os seus bens (4:32-
35). Ou seja: a espiritualidade jamais deixou de ser desenvolvida na
comunhão entre os irmãos num espaço geográfico, para o qual todos
se dirigiam unanimemente.
A Igreja é a "família da fé" (Gl 6:10). Como toda família, ela
tem os seus problemas, pessoas complicadas, momentos de tensão,
diferenças entre pensamentos, influências externas negativas e
imperfeições a serem superadas. Ao invés de buscar justificativas
para abandonar a comunhão com os irmãos, devemos encontrar
razões para perseverar nessa comunhão, e elas são muitas. Parece
ser mais fácil ir embora do que ficar e investir na mudança. Parece
que hoje as pessoas não querem lutar, não querem nada difícil ou
complicado. Então não querem viver! Quando lemos o livro de Atos e
as epístolas e cartas, vemos quantas dificuldades a Igreja do Senhor
enfrentou desde o seu início, o que incluía ferozes perseguições com
martírios dos crentes. O primeiro a ser perseguido foi o Senhor da
Igreja. Hoje, qualquer brisa abala a fé das pessoas e faz com que elas
saiam da igreja. Basta uma desavença, que as malas já estão prontas
para partir. Antes, enfrentavam-se as presas afiadas dos leões, mas
agora os crentes estão melindrosos e só desejam facilidades. Talvez
muitos ainda estejam no caminho da porta larga, forçando a barra
para se convencerem de que é a estreita. Mas ela nunca será.
Uma palavra para simbolizar este estudo é "perseverança". A
igreja primitiva perseverava, mesmo em meio ao fogo que ardia entre
os irmãos. Pedro escreveu: "Amados, não estranheis a ardente que
surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa
extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos
na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo,
para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando"
(1 Pe 4:12,13). Pedro deixa claro que não há nada de extraordinário
em sofrer por causa de Cristo, ou seja: é extremamente ordinário,
normal, comum. O extraordinário é como a Igreja parece viver hoje:
amasiada com o mundo que deveria odiá-la. Devemos, portanto,
perseverar. Se as coisas estão difíceis, podemos nos aconselhar com
pessoas idôneas, buscar apoio espiritual e emocional. Em breve o
Senhor virá para nos levar; tudo que há de ruim ficará para trás.
Vale a pena insistir, batalhar pela fé, manter-se firme na comunhão.
A Igreja é uma instituição divina e precisa ser valorizada como tal. As
seitas deixamos para trás; o falso evangelho, desprezamos; os falsos
mestres e falsos apóstolos, nós entregamos nas mãos de Deus. A
Igreja nós amamos e investimos nela. Se você é crente em Cristo
Jesus, a Igreja é o seu lugar. Jamais a abandone!
O objetivo deste livro não foi apresentar um estudo
aprofundado sobre a situação dos desigrejados, mas esse movimento
surgiu naturalmente dos temas que foram abordados, estando
presente em muitas das 70 razões e desculpas que analisamos. Aqui
não falamos apenas daqueles que passam a odiar a instituição e
partem para as reuniões nos lares, mas uma gama muito maior de
pessoas, incluindo descrentes e falsos profetas. Caso sinta
necessidade, o leitor pode aprofundar a questão das igrejas
orgânicas em livros escritos sobre o tema que superabundam nas
livrarias e na Internet. O que vimos aqui já foi o suficiente para
revelar a incoerência desse movimento e sua semelhança com
diversas seitas e heresias que surgiram ao longo dos anos, desde a
era apostólica. Eles não possuem apoio bíblico nem conteúdo
teológico. Apesar de afirmarem ser o mais próximo que se pode
chegar da Igreja primitiva, a sua teologia e a sua prática diferem
bastante daquilo que conhecemos daquela Igreja através da Bíblia
Sagrada. Nós somos a continuidade da Igreja primitiva na história,
mas numa época e numa cultura totalmente diferentes.
Que o Senhor da Igreja abençoe a nossa vida, dê-nos sabedoria
para pensar a respeito destas coisas, ajude-nos com as nossas
limitações, encha-nos de amor aos irmãos e ao próximo e nos faça
perseverar na fé, na comunhão e no partir do pão. Estamos próximos
do fim, não é hora para nos dividirmos ou para investirmos em
maneiras alternativas e “revolucionárias” de pensar e viver a fé, além
daquilo que a Palavra de Deus já tem proposto para nós. As boas-
novas de Jesus são aquelas profetizadas pelos profetas e
concretizadas na sua encarnação, morte, ressurreição e ascensão
gloriosa aos céus. Não existem outras novas, não existe um novo
modelo, uma nova fé, um novo batismo. O Espírito é o mesmo, como
o Senhor é o mesmo ontem, hoje e o será para todo sempre. A Ele
toda honra e toda a glória no tempo eterno. Amém.
CONTRIBUA COM
ESTA OBRA!
“Cada um contribua segundo propôs no seu coração,
não com tristeza ou por necessidade; porque Deus
ama ao que dá com alegria.”
(2 Coríntios 9:7)

Faça uma doação no valor que Deus tocar no seu coração para
que eu possa manter sempre publicações como esta gratuitas. Parte
do valor será revertido para obras sociais.

CONTA:
Caixa Econômica Federal
Agência 00035
Operação 1288
Conta poupança: 000798885698-8

PIX (e-mail):
mizaelsouzaxavier@gmail.com
BIBLIOGRAFIA
BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã. Minas Gerais: CEIBEL,
1992, 2ª ed.

CAMPOS, Idauro. Desigrejados: teoria, história e contradições do


niilismo eclesiástico. Rio de Janeiro: bvbooks, 2017.

COLLINS, Gary R. Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento.


São Paulo: Vida Nova, 1990, 2ª ed.

CUNHA, Maurício J. S.; WOOD, Beth A. O reino entre nós:


transformação de comunidades pelo evangelho integral. Viçosa:
Ultimato, 2003.

DEVER, Mark. O que é uma Igreja saudável? São Paulo: Fiel, 2009.

___________. Nove marcas de uma igreja saudável. São Paulo: Fiel,


2007.

ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:


Vida Nova, 1997.

FONSECA, Jean-Claude Rodrigues da. Entre o mar revolto e a


calmaria: reflexões cristãs sobre dilemas humanos. Rio de Janeiro:
Multifoco, 2017.

GEISLER, Norman L. Teologia Sistemática, vol. 2. Rio de Janeiro:


CPAD, 2010.

GEISLER, Norman L.; RHODES, Ron. Resposta às seitas, 2ª edição.


Rio de Janeiro; CPAD, 2001.

GRENZ, Stanley J.; GURETZKI, David; NORDLING, Cherith Fee.


Dicionário de Teologia, edição de bolso. São Paulo: Vida, 2000.

HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.

JORGE, José Antonio. Dicionário informativo bíblico e litúrgico. São


Paulo: Átomo, 1999.

LACHATRE, Maurice. Os Crimes Dos Papas. São Paulo: Madras,


2004.
LLOYD-JONES, D. Martyn. Pregação e pregadores. São Paulo: Fiel,
2008.

LOPES, Augustus Nicodemus. O ateísmo cristão e outras ameaças à


Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.

___________. In Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global:


uma compreensão cristã do fim dos tempos. Paraíba: Visão
Cristocêntrica, 2012.

___________. Cristianismo descomplicado: questões difíceis da vida


cristã de um jeito fácil de entender. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.

MACARTHUR, John. A guerra pela verdade. São Paulo: Fiel Editora,


2008.

___________. O Evangelho segundo Paulo: a essência das Boas-novas.


Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.

O’BRIEN, P. T. In Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo:


Loyola, 2008.

SHEDD, Russel. O líder que Deus usa. São Paulo: Vida Nova, 2000.

___________. In Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global:


uma compreensão cristã do fim dos tempos. Paraíba: Visão
Cristocêntrica, 2012.

SKRZYPCZAK, Mons. Otto. Documentos dos primeiros oito concílios


ecumênicos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos, vol. 2. São Paulo: PES,


2002.

STOTT, John. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida Nova Acadêmica,


2006.

TUCKER, Ruth A. “... Até aos confins da Terra.”: uma história


biográfica das missões cristãs. São Paulo: Vida Nova, 1996.

VALENTE, Pe. Flaviano amatulli. Cuidado com as seitas. Rio de


Janeiro, 1997.

___________. A Igreja Católica e as seitas: perguntas e respostas. Rio


de Janeiro, 1998.

ZUCK, Roy. A interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.


SITES

SPROUL. R. C. http://areformahoje.blogspot.com.br/2013/07/as-
marcas-da-verdadeira-igreja-rcsproul.html, acessado em 21/10/2016.
Espiritualidade

A graça de ofertar: ofertando a Deus com amor

A marca da Igreja: as características bíblicas da verdadeira Igreja de Cristo

A ovelha peregrina: o Salmo 23 e a salvação

A vitória de Deus nas tribulações

Batalha Espiritual: uma luta em defesa da verdade

Caminhando sobre as águas: os 11 momentos cruciais da vitória cristã

Cinco evidências de que você precisa de salvação

Como saber a vontade de Deus para nós: estudo + 16 princípios bíblicos para
conhecer e praticar a vontade de Deus

Corpo e espiritualidade: glorificando a Deus através do nosso corpo

Curso de formação de evangelistas em quatro módulos, vol. único

Desafio Diário: devocional com mensagens para cada dia do ano

Educação cristã de filhos: comunicação e estímulos na educação dos filhos

Espiritualidade líquida: caminhos e descaminhos da espiritualidade cristã

Eu e a minha casa serviremos ao Senhor: um breve estudo sobre Josué 24:14-


25 para os lares cristãos

Faça a escolha certa: aprenda a tomar decisões segundo a vontade de Deus

Idolatria e Batalha Espiritual

Igrejados: 70 razões e desculpas para a evasão nas igrejas cristãs (análises e


orientações pastorais, evangelísticas e apologéticas)

Integridade cristã: buscar o equilíbrio ou viver a verdade?

Mais que vencedores: três estudos para edificar a nossa fé

Manual do obreiro aprovado: ações estratégicas de separação, capacitação,


treinamento, envio e manutenção de obreiros

O poder da oração: aprenda os segredos da oração que move montanhas

O poder da fé: um estudo sobre a fé genuinamente bíblica


O poder da oração: os segredos da oração que move montanhas

Os sete barcos de Deus: sete mensagens para edificar a sua fé

Os sete hábitos da espiritualidade biblicamente eficaz

Pai Nosso, uma oração com a vida: aprenda os segredos da oração mais
conhecida dos cristãos

Palavras inspiradoras, vol. 1: amor e relações interpessoais

Palavras inspiradoras, vol. 2: motivação, superação e vitória

Palavras inspiradoras, vol. 3: Deus, fé e espiritualidade

Palavras inspiradoras, vol. único: Deus, fé, espiritualidade, motivação,


superação, vitória, amor e relações interpessoais

Papai Noel: a verdadeira história jamais contada

Por uma Igreja pensante: a crise da razão bíblica e a importância da fé racional


e inteligente

Mariologia

Desvendando o segredo de Maria, vol. 1

Eu sou a número quatro: semelhanças entre Maria e a Trindade nas obras de


Ligório, Montfort, Roschini, João Paulo II, no Vaticano II e outros escritores
marianos

Idolatria e Batalha Espiritual

Maria e a vontade de Deus para nós: um estudo sobre a Anunciação

Geral

As feias que me perdoem: quatro textos e um poema sobre ser feio e o que é
fundamental

Assédio moral no trabalho; análises e ações estratégicas de gestão de pessoas

Memórias do silêncio: relatos e reflexões de uma ex-vítima do bullying

Ninguém morre de amor: como superar a desilusão amorosa, ser uma pessoa
realizada e feliz e viver um novo amor

Os males do alcoolismo e como Jesus pode te libertar


Memórias do silêncio: relatos e reflexões de uma ex-vítima do bullying

Poesia romântica

120 frases e poemas para conquistar o seu crush

120 frases e poemas para reconquistar um grande amor

120 frases e poemas para você declarar o seu amor

365 dias de amor: textos e poemas para cada dia do ano

1000 Quadras de amor: centenas de quadras que falam tudo sobre o que é o
amor e o amar

Amor nos anos 80: coletânea de poemas para ler escutando músicas
internacionais dos anos de 1980 (com indicações de músicas para cada
poema)

Ápice do amor: poemas transbordantes

Até onde o amor pode alcançar: textos e poemas de amor

Carta de amor: poemas de amor e de adeus

Chão estrelado: poemas de amor, de muito amor

Coração paralelo e outros poemas de amor

Em caso de amor, abra o livro: poemas

Entre flores e mel: poemas e frases de um amor verdadeiro

Eu te amei desde a primeira vez em que te vi: poemas de amor

Eu te amo: poemas de amor

Flor de cerejeira e outros lindos poemas de amor

Não haverá última canção para o amor: poemas de amor

Para sempre e mais além: poemas de amor

Poemas românticos demais para serem lidos com o coração: antologia


romântica

Receita de amor: poemas


Retalhos da minha vida: antologia

Poesia geral

A face do homem abstrato: poemas sobre os muitos eus em mim

A sombra do sol: poemas sobre ser invisível

Bomba de efeito moral e outros poemas altamente explosivos

Escrevi com a vida: poemas sobre Deus, sobre mim, sobre tudo

Esquizofrenia e outros poemas mentais

Eu não devia ter escrito este livro: poemas góticos e outros temas

Memórias de um verme e outros poemas

Memórias do vento: poemas que o vento trouxe

O recolhedor de palavras: poemas estranhos demais para serem lidos

O saxofonista e outros personagens em histórias rimadas

Vidas em preto e branco: poemas sobre a vida, a morte e a morte em vida

Poesia cristã

Aos teus pés: poemas cristãos para a glória de Deus

Oceano: poemas cristãos

Infanto-juvenil

60 poemas para ler na escola: poemas para fazer pensar

A bruxa Jezabel: um conto sobre o poder do perdão

A floresta do desassossego

Cordel vencendo o Bullying

Mata essa barata: pequena história rimada

Miau! Miau! Poemas do gato Faísca


O Cravo e a Rosa (ei, e eu, a Margarida!): baseada em uma canção infantil

Poemas para crianças de todas as idades

Contos

A floresta do desassossego: às vezes o passado volta, às vezes ele nunca


passou

A palhaça gorda e outros microcontos

Eu matei meu pai: um microconto sobre o desespero e a redenção

No meio das pedras tinha um caminho: uma pequena aventura na fazenda,


uma grande lição de vida

O nevoeiro: poema-conto

Teatro

Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: para igrejas, evangelistas e
missionários”

Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: versão para o Natal”

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS DO ESCRITOR MIZAEL XAVIER

Espiritualidade

BOPE: Batalhão de Operações Piromaníacas Espirituais

Daniel e seus amigos: modelos para a Igreja hoje

Eu profetizo: verdades e mentiras sobre o “profetizar bênçãos”

Evangelho segundo Mateus: série Mensagens e Reflezões

Imitação de Deus: como nos tornarmos imitadores de Deus

Inteligência espiritual: vivendo uma espiritualidade inteligente e prática

João 3:16: uma pergunta e muitas certezas

Missão Integral: evangelismo e responsabilidade social na dinâmica solidária


do Reino de Deus
Não toquem no ungido do Senhor: uma palavra sobre o autoritarismo pastoral

O poder do tempo: princípios bíblicos para a administração do tempo

Qualidade Espiritual: o programa 5S de Qualidade Total aplicado à vida


espiritual cristã

Quem é você? O autoconhecimento cristão

Revista Kérygma: estudos bíblicos

Mariologia

Desvendando o segredo de Maria, vol. 2

Desvendando o segredo de Maria, vol. 3

Série Bullying

Bullying: o que é? Conheça o problema, os personagens e os tipos de


agressão

Bullying: estratégias de superação pessoal

Contos

Histórias de desencantado, o príncipe que não sabia amar (poemas-contos)

Geral

Como falar em público: oratória para você se expressar, convencer e liderar

O caminho do sucesso

O poder da resiliência

Manual prático do agente de portaria: atribuições, procedimentos,


comportamento e segurança

Coleção: poesia na escola

Vol. 1: 50 poemas para ler na escola

Vol. 2: Brincadeiras de criança


Vol. 3: Muito mais que a realidade

Vol. 4: É preciso falar de amor

Vol. 5: Ao Mestre dos mestres

Vol. 6: Histórias rimadas

LIVROS GRATUITOS EM PDF

50 poemas diversos

A lei do dízimo e a graça de ofertar: sobre a obrigatoriedade do dízimo para a


Igreja e a graça de ofertar a Deus com alegria e liberalidade

Cinco evidências de que você precisa de salvação

Cordel Vencendo o Bullying

Educação cristã de filhos

Eu e a minha casa serviremos ao Senhor

Idolatria e Batalha Espiritual

Mais que vencedores

Os males do alcoolismo e como Jesus pode te libertar

Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: para igrejas, evangelistas e
missionários”

Quem é o amor da minha vida?

Você também pode gostar