Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/saudesantacatarina
Resumo
Para evitar perdas e garantir a qualidade dos alimentos, utilizam-se conceitos e indicadores da Técnica Dietética,
onde são avaliadas as operações, com procedimentos padronizados para cada tipo de alimento. O objetivo foi
avaliar o degelo, fatores de correção (FC) e cocção (FCy) das carnes em uma Unidade de Alimentação e Nutrição
Hospitalar. Foram utilizadas carne bovina, filé de peixe, coxa e peito frango. Uma marca de peito de frango
apresentou valor de degelo (12% ±2,08) acima do permitido pela legislação. Menores índices de FC foram do
peito de frango A (1,13 ±0,01) e acém bovino (1,15 ±0,03). Os maiores valores de FCy e perda total nas
preparações, foram encontrados respectivamente no bife acebolado (0,58 ±0,03 e 49,32% ±0,05) e peixe a
milanesa (0,76 ±0,05 e 41,66% ±0,06). Conclui-se que os dados desta pesquisa permitiram a identificação de
indicadores de perda em diferentes tipos de carnes utilizadas nas dietas da Unidade.
Abstract
To avoid losses and guarantee the quality of food, concepts and indicators of the Dietetic Technique are used,
where the operations are evaluated, with standardized procedures for each type of food. The objective was to
evaluate the defrost, correction factors (FC) and cooking (FCy) of the meat in a Food and Hospital Nutrition Unit.
They used beef, fish fillet, thigh and chicken breast. A brand of chicken breast presented melt value (12% ± 2.08)
above that allowed by the legislation. Lower CF indices were from chicken breast A (1.13 ± 0.01) and bovine (1.15
± 0.03). The highest values of FCy and total loss in the preparations were found respectively in steak (0.58 ± 0.03
and 49.32 ± 0.05) and fish in breadcrumbs (0.76 ± 0.05 and 41, 66% ± 0.06). It is concluded that the data of this
research allowed the identification of loss indicators in different types of meats used in the diets of the Unit.
1
Araujo et al. Estácio Saúde, volume 10, número 01, 2020
RESUMEN
Para evitar pérdidas y garantizar la calidad de los alimentos, se utilizan conceptos e indicadores de la Técnica
Dietética, donde se evalúan las operaciones, con procedimientos estandarizados para cada tipo de alimento. El
objetivo fue evaluar el deshielo, factores de corrección (FC) y cocción (FCy) de las carnes en una Unidad de
Alimentación y Nutrición Hospitalaria. Se utilizaron carne bovina, filete de pescado, muslo y pecho pollo. Una
marca de pecho de pollo presentó un valor de deshielo (12% ± 2,08) por encima de lo permitido por la legislación.
Los menores índices de FC fueron del pecho de pollo A (1,13 ± 0,01) y el bovino (1,15 ± 0,03). Los mayores
valores de FCy y la pérdida total en las preparaciones, se encontraron respectivamente en el bistec acebolado
(0,58 ± 0,03 y 49,32% ± 0,05) y pescado a milanesa (0,76 ± 0,05 y 41, 66% ± 0,06). Se concluye que los datos de
esta investigación permitieron la identificación de indicadores de pérdida en diferentes tipos de carnes utilizadas
en las dietas de la Unidad.
Introdução
A UAN hospitalar tem como finalidade oferecer preparações equilibradas, o que envolve processos
gerenciais(4). Para evitar perdas e garantir a qualidade dos alimentos e receitas, utilizam-se conceitos
e indicadores da Técnica Dietética, onde são avaliadas as operações a que são submetidos os
alimentos, com procedimentos uniformes e padronizados para cada tipo de alimento utilizado(5).
Com a maior venda de produtos congelados, o índice de perda de água pelas carnes passou a ser
avaliado como custo-benefício, fornecedores passaram a injetar água nos alimentos, congelando-os
posteriormente. Com isso o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) desenvolveu
normas, sendo o limite durante o processo de descongelamento de 8% de água para frangos, 15%
para os pescados e para carne vermelha não há parâmetros estabelecidos(7,8).
O Fator de Cocção (FCy) ou indicador de conversão (IC) revela o rendimento do alimento nas
preparações. A partir dele, pode-se definir a técnica de preparo que será utilizada em uma receita(9).
2
Araujo et al. Estácio Saúde, volume 10, número 01, 2020
Diante do exposto o objetivo deste estudo foi avaliar os índices de perda total, fatores de correção e
cocção e índice de degelo das preparações proteicas ofertadas em uma Unidade de Alimentação e
Nutrição Hospitalar pública localizada no município de Nossa Senhora do Socorro/SE.
Materiais e métodos
Trata-se de uma pesquisa observacional, quantitativa analítica e transversal. O estudo foi realizado
em uma Unidade de Alimentação e Nutrição situada em um Hospital público localizado na cidade
Nossa Senhora do Socorro/SE. A empresa é terceirizada com sistema misto de distribuição de
refeições e composta por 18 funcionários fixos no estabelecimento.
Foram utilizadas preparações proteicas, oferecidas no almoço e jantar aos funcionários do Hospital,
acompanhou-se o recebimento e processamento das carnes, e utilizados os dados de peso bruto,
peso líquido e degelo, disponíveis em planilhas elaboradas diariamente pela equipe técnica da UAN.
Todo alimento ao chegar à Unidade foi pesado com auxílio de balança digital, modelo PRIX Toledo
9098, na qual foi extraído o peso bruto e a carne armazenada sob refrigeração a temperatura de -
18°C. Para utilização da carne, foram separadas a quantidade necessária com 24h de antecedência e
armazenadas a temperatura de 8°C, logo após foi medido o degelo e as aparas retiradas, obteve-se o
peso líquido e a carne foi liberada para os processos de pré-preparo e cocção.
Neste estudo foram utilizadas carne bovina, filé de peixe, e duas marcas de coxa e peito frango
(Tabela 1).
A análise dos dados foi feita em triplicata com média e desvio padrão. Os cálculos do Fator de
Correção (FC) foram obtidos pela fórmula: FC = peso bruto (g) / peso líquido (g), para a Porcentagem
de Degelo: PD = quantidade de degelo (mL) / peso bruto (g) da preparação x 100, o Fator de Cocção
(FCy), foi determinado por: FCy = peso do alimento processado ou cozido (g)/ peso líquido cru (g), e o
Percentual de Perda Total (PPT) = peso bruto (g) - peso da preparação (g) / peso bruto (g) x 100.
Os dados coletados foram calculados utilizando média e desvio padrão com o auxílio do programa
Excel 2013, e comparados com limites preconizados na legislação vigente para perda de água no
descongelamento, e o FC e FCy comparados com orientações da literatura.
Resultados e discussão
Após coleta dos dados e cálculo do valor médio e desvio padrão, os resultados foram organizados
e apresentados em forma de gráficos e tabela. Os resultados do percentual de perda de água durante
o processo de descongelamento das carnes mostraram diferenças nos valores entre os tipos de
carnes analisadas. (Gráfico 1). As marcas A e B de coxa de frango apresentaram valores de 6% ±2,08
e 3% ±1,73 de perda de água respectivamente, as marcas A e B de peito de frango uma perda de 7%
3
Araujo et al. Estácio Saúde, volume 10, número 01, 2020
±1,53 e 12% ±2,08 respectivamente. O acém bovino e filé de peixe obtiveram perda de água de 6%
±2,08 e 14% ±1,53 respectivamente.
Com relação à comparação entre as duas marcas de frango, a marca B obteve uma menor perda
de água no descongelamento da coxa, em contrapartida a marca A apresentou menor perda em
relação à marca B no descongelamento do peito.
Gráfico 1 – Percentual de perda de água após o descongelamento comparando com a literatura padrão do
Ministério da Agricultura(7,8). Dados expressos com média e desvio padrão.
Os dados mostraram que o peixe e o peito de frango apresentaram maiores índices de perda de
água em comparação aos outros tipos cárneos estudados. Na comparação dos resultados com a
legislação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para perda de água durante o
descongelamento, apenas o peito de frango B apresentou valores em desacordo com a legislação(7).
Com relação à comparação entre as duas marcas de frango, a marca B obteve uma menor perda
de água no descongelamento da coxa, em contrapartida a marca A apresentou menor perda em
relação à marca B no descongelamento do peito.
Os dados mostraram que o peixe e o peito de frango apresentaram maiores índices de perda de
água em comparação aos outros tipos cárneos estudados. Na comparação dos resultados com a
legislação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para perda de água durante o
descongelamento, apenas o peito de frango B apresentou valores em desacordo com a legislação(7).
O estudo de Coli e Santos (2013) analisou o percentual de água após o degelo e obteve índices
para, sobrecoxa de frango (34,4%), peito de frango (2,5%), filé de peixe “panga” (4%), Coxa e
sobrecoxa (4,9%) e Filé de pescada (17%)(10). As diferenças nos percentuais podem ser justificadas
por diferentes métodos de congelamento (lento ou rápido) utilizados pelas indústrias no
processamento das carnes. O tipo de congelamento pode influenciar nos tamanhos dos cristais de
gelo intracelulares e promover lesões celulares que resultam em perda do suco da carne(11). A análise
deste percentual de perda de água pelas carnes viabiliza para a UAN informações relacionadas aos
cortes com menor absorção de água, assim como a escolha por marcas com menos perdas por
degelo.
Os dados do fator de correção que incluíram a perda de água e retirada de aparas apresentaram
os seguintes valores: Coxa de frango A (1,33 ±0,04), Coxa de frango B (1,32 ±0,04), Peito de frango
A (1,13 ±0,01), Peito de frango B (1,21 ±0,03), Acém bovino (1,15 ±0,03) e Filé de peixe (1,26 ±0,18)
(Gráfico 2).
4
Araujo et al. Estácio Saúde, volume 10, número 01, 2020
Cada UAN deve estabelecer sua tabela de Fator de Correção, que depende do tipo de alimento
que adquire, mão-de-obra do serviço, utensílios e equipamentos utilizados, com a finalidade de uma
maior segurança a respeito das quantidades a comprar(5). É de suma importância um pré-preparo
bem feito e padronizado dos alimentos para a obtenção do fator de correção adequado (12).
Tabela 2 - Índice de conversão e perda total das preparações proteicas representados por média (M) e desvio
padrão (DP).
Perda Total (%) Perda total (DP)
Preparações IC (M) IC (DP)
(M)
Peito de frango assado 0,80 0,16 30,25 0,11
Peito de frango cozido 0,90 0,12 27,29 0,09
Coxa de frango assada 0,80 0,15 39,36 0,10
Coxa de frango cozida 1,14 0,05 13,84 0,04
carne cozida 0,79 0,13 30,94 0,13
Bife acebolado 0,58 0,03 49,32 0,05
Peixe a milanesa 0,76 0,05 41,66 0,06
O indicador de conversão (IC) prevê as modificações sofridas (aumento ou redução de peso) pelos
alimentos em razão mais comumente da temperatura, método de cocção e/ou tipo de preparação,
fazendo com que ganhem ou percam peso (líquido). O resultado da conversão do alimento pode ser
maior ou menor do que 1. Quando é menor que 1, indica que o alimento perdeu peso durante o
processo de cocção e, quando é maior que 1, indica que houve ganho de peso (15).
Os resultados do IC mostraram que as preparações cozidas apresentam menor perda de peso que
as preparações em calor seco, outra evidência é que as carnes bovinas e peixes apresentam maiores
perdas de peso em relação às preparações com frango. Os dados desta pesquisa corroboram com
Ornellas(5) que diz que em geral, as carnes mantêm ou reduzem o peso durante sua cocção. O IC das
carnes está intimamente ligado à técnica de cocção aplicada ao alimento. Na cocção por calor úmido,
5
Araujo et al. Estácio Saúde, volume 10, número 01, 2020
ou seja, com acréscimo de água a perda de peso do alimento é significativamente menor do que na
cocção por calor seco (grelhado, assado, frito).
Nos índices de perda total, a coxa de frango cozida foi a preparação que apresentou menor perda,
enquanto o bife acebolado e o peixe à milanesa obtiveram maior perda total.
Conclusão
Inserir texto O presente estudo permitiu a identificação do índice de degelo, fatores de correção e
cocção de diferentes tipos de carnes utilizadas no planejamento de cardápios de dietas da Unidade,
tendo em vista que dados desta natureza são escassos na literatura.
Referências
[1] Teixera SMZ, Carvalho J, Biscontini TM. Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. 1.ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 2010.
[2] Mezomo IB. Os serviços de alimentação: Planejamento e Administração. 5.ed. São Paulo: Manole. 2002.
[3] Amorim FP. Avaliação do Índice de resto- Ingesta e sobras em unidade de alimentação e nutrição de escola estadual com
regime de internato na cidade de Guarapuava. Guarapuava: Universidade Estadual do Centro Oeste. 2010.
[4] Ribeiro ABDL, Diógenes AK, Marques MM, Silva SF, Santos AT, Uchoa FNM, Lima APOM. Investigação dos fatores de
correção, fator de cocção e perda em diferentes tipos de carnes em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, 2015; 8 (3): 71-78.
[5] Ornellas LH. Técnica Dietética: seleção e preparo de alimentos. 8.ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2007.
[6] Scarense GS, Marsi TCO. Custo benefício de cortes de carne bovina maturada e frango desossado a partir do fator de
correção e índice de cocção. XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino Americano de
Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência: Universidade do Vale do Paraíba. 2016.
[7] BRASIL, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Portaria Nº 210 de 10 de novembro de 1998.
Publicado em 04/05/2007. Disponível em:
https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Portaria-10_000h19kjcan02wx7ha0e2uuw60rmjy11.pdf
Acesso em [01 de Dez. de 2018].
[8] BRASIL, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Instrução Normativa N° 21, DE 31 DE MAIO DE
2017. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&data=07/06/2017&pagina=5
Acesso em [01 de Dez. de 2018].
[9] Araújo WC, Montebello NP, Botelho RBA, Borgo LA. Alquimia dos alimentos. 3.ed. Distrito Federal: Editora Senac. 2016.
[10] Coli CM, Santos VFN dos. Análise do percentual de água após o degelo de frangos e pescados à venda em
supermercados na região metropolitana de São Paulo. Revista Científica Linkania Master. 2013; 6 (1): 15-25.
[11] Sousa CMZ de, Santana AP. Revisão sobre o uso do frio industrial na conservação de carcaças bovinas. Trabalho de
conclusão de curso de graduação – Universidade de Brasília/ Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2017.
[12] Barros RM, Garcia PPC, Almeida SG. Análise e elaboração dos fatores de correção e cocção dos alimentos. Anuário da
Produção de Iniciação Científica Discente. 2010;13(16):103-113.
[13] Braga MMR. Gestão da Gastronomia – Custos, formação de preços, gerenciamento e planejamento do lucro. São Paulo:
Senac. 2008.
[14] Silva SMCS, Bernardes SM. Cardápio – guia prático para a elaboração. São Paulo: Atheneu, 2001.
[15] Moreira LN. Técnica Dietética. Estácio: Rio de Janeiro, 2016: 39p.