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(Esteve-se até agora em analepse e até indicação em contrário se irá continuar)

Afonso viveu muito para lá do ano estimado por Vilaça. Entretanto anos se haviam
passado. Numa manhã de abril, nas vésperas de Páscoa, Vilaça foi de novo a Santa Olávia.
Em Santa Olávia conheceu o mordomo ,Teixeira, com quem, às vezes correspondia, e que
o conduziu à sala de jantar onde Vilaça reencontra a governante, Gertrudes.

Já no jardim, foi reencontrar Afonso com um aspeto vivo e recuperado ao lado de


seu neto, Carlos Eduardo da Maia.

Carlos ao avistar Vilaça, que até então era para ele um desconhecido, ficou curioso
e correu para ele para o observar. Vilaça logo o abraçou.

Atrás, chega Afonso para o cumprimentar, também com um abraço. Após um tempo
a admirar o pequeno Carlos e as suas qualidades, os dois vão para a sala de jantar para
colocar a conversa em dia.

Entretanto, Afonso informa Vilaça que este ia ficar no quarto azul uma vez que o
quarto onde o administrador costumava ficar sempre que se dirigia a Santa Olávia estava,
agora, ocupado pela viscondessa, uma prima da falecida mulher de Afonso que, havendo
ficado viúva e pobre, fora por ele acolhida por dever de parentela e para haver uma senhora
em Santa Olávia.

Afonso dá ainda a conhecer a Vilaça que mudara de hábitos para acompanhar a


educação de Carlos. A conversa é interrompida pela aproximação da hora de jantar – Afonso
esclarece Vilaça de que havia novas regras devido à necessidade de impor um regime a
Carlos, sendo que se almoçava1 às sete, antes de Carlos partir para a quinta e jantava-se à
uma. Além disso, adianta que se lhes juntaria a eles na hora de jantar, o abade Custódio.
Afonso pede ainda a Vilaça que se despache pois o pequeno Carlos não gostava de esperar.

Teixeira estava encarregue de o encaminhar ao quarto. Em confidência com Teixeira,


depois deste perguntar o que estava a achar da vida em Santa Olávia, Vilaça revela-se

1
O almoço no campo é equivalente ao pequeno-almoço.
satisfeito afirmando que se podia vir por gosto a Santa Olávia e que isso se devia ao
pequeno Carlos que havia feito reviver Afonso da Maia.

Tocam à companhia, era o Sr. Brown, o preceptor 2de Carlos da Maia, que se juntaria
a eles no “jantar”.

Teixeira deixa Vilaça no quarto azul e vendo que este se perdia a admirar a
decoração, apressou-o dizendo que o pequeno não gostava de esperar. Vilaça supõe que
se Carlos não gostava de esperar é porque havia sido muito mimado, mas Teixeira logo o
corrige dizendo que esse não era o caso. Pelo contrário, Carlos tinha tido uma educação
muito dura seguindo o sistema inglês.

Quando Vilaça regressou à sala já estavam presentes Brown, Carlos, Afonso e o


abade Custódio. Vilaça cumprimenta com um abraço o abade custódio e, logo a seguir,
Afonso dá-lhe a notar a figura da Sr.ª Viscondessa por quem Vilaça não havia dado conta.
De seguida, tendo já se sentado à mesa, Afonso levanta-se uma última vez para apresentar
o Sr. Brown a Vilaça.

Teve início o jantar.

A conversa iniciou-se com a viagem de Vilaça de Lisboa até Santa Olávia, tendo este
vindo de comboio até ao Carregado, e do caminho de ferro que ia abrir.

Portugal encontrava-se no período da Regeneração (1851-1868) e, como


tal, durante esse espaço de tempo o país assistiu a um crescimento
económico centrado na construção de infraestruturas, de transportes e
comunicações, numa primeira tentativa de quebrar o isolamento de vastas
regiões do país.

Tanto Vilaça como o abade Custódio admitem recear a evolução do país.

Mas o tópico que ocupou mais o jantar foi a educação de Carlos da Maia. Todos
estavam surpreendidos pela vivacidade do rapaz. No entanto, a sua educação foi alvo de
discórdia perante os que estavam sentados à mesa. De um lado da discórdia estavam Vilaça
e o abade Custódio que consideravam que o menino devia aprender latim e os clássicos
da literatura bem como saber a doutrina e os princípios da religião católica. Do outro lado
estavam Sr. Brown e Afonso da Maia adeptos da educação inglesa que defendiam que era
importante criar um indivíduo fisicamente forte e são e ensinar-lhe coisas práticas à vida.
Só a viscondessa se mantinha à parte desta discórdia, deixando-se estar no seu ar
pachorrento e silencioso.

2 Instrutor
O jantar findava. Carlos anuncia que vai buscar a Terezinha e Afonso esclarece a
Vilaça que esta era a noiva de Carlos, que tão pequeno e o menino já tinha amores. O
convívio foi deslocado para o exterior, para o terraço onde tomariam café.

No terraço, Afonso, Brown e Vilaça sentaram-se à mesa do café enquanto Carlos foi
se balouçar na barra do trapézio com a supervisão do Sr. Brown.

Vilaça revela a Afonso que não acha prudente que Carlos desenvolvesse tais
acrobacias ao que Afonso apenas reforça a sua apreciação pela ginástica de Carlos. Já o
abade volta a salientar a importância da religião e da cartilha, elementos ridicularizados e
desvalorizados por Afonso.

Nisto, Custódio narra ao Vilaça o episódio do Acto de contrição: um dia, D. Cecília


de Macedo tendo passado diante do portão de quinta de Santa Olávia avistara Carlinhos e
chamara-o e pedira-lhe que disse o acto de contricção; a isto, Carlos respondera-lhe que
nunca em tal ouvira falar. Esta história dizia deixava o abade Custódio triste por o
menino não saber a doutrina religiosa e fazia rir Afonso que apenas respondia que os bons
valores de vida em sociedade deviam ser ensinados não por religiosidade mas sim para
que se criasse um indivíduo de bem que não faria coisas indignas de um cavalheiro. O
abade ainda tenta argumentar, mas, Afonso interrompe-o dizendo que quer que Carlos seja
virtuoso por vontade e pela sua honra e não por medo das repercussões (inferno) ou por
amor às compensações (céu) religiosas.

Quis Afonso que após o café, Vilaça e o abade o acompanhassem numa visita às
fazendas de Santa Olávia e estes assim o fizeram.

Quando recolheram do seu passeio, de regresso à sala, tinham chegado já as


Silveiras – D. Ana Silveira e D. Eugénia Silveira. Juntamente com elas vinham os filhos da
viúva, D. Eugénia (e consequentemente sobrinhos de D. Ana) – Terezinha e Euzebiozinho –
e o Dr. delegado. Dá-se uma caracterização de Euzebiozinho e uma breve contextualização
do Dr. delegado.

Mal Afonso entrou na sala, as Silveira deram-lhe logo notícia de que o Dr. juíz de
direito e a sua senhora não podiam estar presentes pois o magistrado tivera a dor; assim
como as Brancos não podiam vir pois era dia de tristeza em sua casa por fazer 17 anos
que morrera o seu irmão, Manuel.

Afonso aceita a informação e propõe aos senhores – Vilaça, dr. Delegado e Custódio
– que se dirijam à saleta do jogo para jogarem umas cartas. Os homens aceitam mas logo
volta à sala o Dr. delegado para a beira de D. Eugénia (com quem ainda não se havia
decidido casar).
Enquanto os homens jogavam, as senhoras falavam da vida daqueles que não
haviam podido marcar a sua presença no serão: o dr. Juiz de direito e a senhora e as
Brancos.

Retrato da Sociedade Romântica

Começaram por falar da dor do Dr. juiz de direito. Ao que parecia, era uma dor que
lhe costumava dar ´de 3 em 3 meses. As mulheres consideravam condenável que o Dr. juiz
não quisesse consultar médicos. Além disso, foi dito que quanto mais ele andava acabado,
mais a sua senhora, D. Augusta, se alegrava. A Viscondessa intervém dizendo que havia
visto em Espanha um caso igual. Depravação dos valores morais

De seguida falaram nas Brancos, recordando-se a morte de Manuel Branco. D. Ana


salienta que já havia acendido uma lamparina pela sua alma e lhe rezado três padre-nossos.
A isto, a Viscondessa reage logo de forma aflita por não se ter lembrado. A conversa logo
termina ficando os presentes refletindo sobre a inevitabilidade da morte e como cada um
tem os seus mortos. Portugal religioso

Fez-se silêncio na sala. O serrão começava a anunciar o seu fim.

Interrompendo o ambiente silencioso e sonolento, surge Carlos da Maia e a


Terezinha agitados tendo vindo de brincar. Logo se lançam numa saudável picardia que é
interrompida por D. Ana, a quem não agradava a companhia de Carlos para a sua sobrinha.

Carlos precipita-se sobre o Eusebiozinho mas, logo, a mãe, D. Eugénia, corre para
o proteger.

Deram as 9 horas quando o preceptor de Carlos surge e, logo, o menino soube que
teria de se ir deitar. Carlos ainda protestou um pouco, mas o avô, severamente, lhe ordenou
que cumprisse o seu horário de deitar. As Silveiras logo censuraram aquela educação rígida;
mais uma vez, Afonso, despreocupado com a reprovação externa à educação de Carlos,
limitou-se a responder que era necessário método.

D. Ana Silveira logo se volta para Vilaça comentando a sua reprovação perante o
sistema inglês segundo o qual Afonso insistia em educar Carlos e expressando, ainda, o
seu desagrado por Brown por este vir de um país onde vigorava o protestantismo
(considerado heresia em Portugal). Preparava-se ainda para contar o que acontecera com
a Macedo (episódio do Acto de Contricção) mas Vilaça já tinha ouvido essa história pelo
abade.
Mas as queixas de D. Ana relativamente à educação de Carlos não ficaram por aí.
Pelo que, perante o ambiente sonolento que já se havia voltado a instalar na sala, retomou
a sua ideia afirmando que, tirando falar inglês, Carlos não sabia nada. De seguida, pediu a
Euzebiozinho que recitasse os versos ultrarromânticos que havia decorado. Euzebiosinho´,
perante a promessa de que, naquela noite, dormiria com ela, atendeu ao pedido da titi.
Vilaça logo louvou a memória do pequeno.

Entretanto, os criados entravam com o chá e o jogo já tinha terminado. Como no


dia a seguir era domingo, as Silveiras retiraram-se às 9:30, juntamente com o Dr. delegado
e com Terezinha e Euzebiosinho.

Depois da ceia, Vilaça acompanhou Afonso da Maia à livraria. Vilaça comenta com
Afonso que Euzebiosinho era um rapaz esperto. Afonso prontamente lhe conta o Episódio
da sova no Euzebiosinho-anjo Meses antes, havia uma procissão e o Euzebiosinho ia
de anjo. As Silveiras haviam mandado o Euzebiosinho, já vestido de anjo, a Santa Olávia
para que a Viscondessa o visse. Aproveitando um momento de distração, Carlos que o
andava a rondar apodera-se dele levando para o sótão onde o ia matando, pois embirrava
com anjos. Isto resultou em que Euzebiosinho aparece-se aos berros pela titi, todo
despenteado e com toda a vestimenta destruída. Afonso acrescenta a esta história que
reprimiu fortemente Carlos.

Vilaça entretanto encarava Afonso como que ponderando se lhe dizia o que tinha
para contar. Nisto, Afonso retorna a conversa sobre Euzebiosinho narrando, desta vez, o
Episódio do livro de gravuras anatómicas Um dia, Afonso, por curiosidade, abrira
um livro de gravuras anatómicas que Euzebiosinho andava a ler e viu que se tratava das
teorias desatualizadas e religiosas, anteriores a Galileu, sobre como o sol girava à volta da
Terra e como era Deus que dava as ordens ao sol de para onde este havia de ir.

Terminou a história e Vilaça, subitamente decidido, decide abordar o assunto que


tanto o estava a assombrar.

Comunica a Afonso que havia sinais de Maria Monforte. Alencar contara-lhe que vira
Maria em Paris e que havia estado, até, em casa dela.

Fez-se um breve silencio. Havia anos que não se pronunciava o nome de Maria
Monforte. Quando Afonso se retirou para Santa Olávia, após a morte de Pedro, procurou
retirar a Maria a filha que levara. Mas tal fora impossível pois ninguém sabia onde Maria se
refugiara com o napolitano nem mesmo com a influência das legações e da polícia secreta
de Paris, de Londres e de Madrid se havia conseguido descobrir o seu paradeiro. O mais
provável é que tivessem mudado de nome. Pouco a pouco, cansado de esforços vãos e
tendo de se ocupar do neto que crescia, Afonso foi esquecendo a Monforte e a sua outra
neta.

Vilaça retomou a história esclarecendo que Maria Monforte não se encontrava com
o italiano, em Paris. Maria Monforte estava com quem lhe pagasse (era prostituta). Vilaça
acrescentou ainda que, sendo a história toda muito grave, já não se fiava só na sua memória,
pelo que havia pedido a Alencar que este lhe escrevesse uma carta com tudo o que lhe
havia contado. Deu-a a Afonso para que a lesse afirmando que não sabia mais para além
do que estava na carta.

Afonso começa a ler a carta, escrita de forma claramente ultrarromantista, por


Alencar:

Uma noite, Alencar, ao sair da Maison d`Or, avistara Monforte a saltar dum
coupé com dois homens de grava branca. Reconhecendo-se um ao outro,
Alencar e Monforte hesitaram antes de se cumprimentar. Maria deu o
primeiro passo e estendeu a mão ao Alencar e pediu que a visitasse
dando-lhe a morada e o nome pelo qual devia perguntar: Mademoiselle
de l`Estorade.

Na manhã seguinte, Alencar foi visitar Monforte e esta falou-lhe de si:


vivera 3 anos em Viena de Áustria com Tancredo e com o Papá Monforte
que acabara por se juntar a eles. Depois tinham estado no Mónaco onde
o napolitano fora morto em duelo. Nesse mesmo ano, o Papá Monforte
morreu e da sua fortuna não deixara praticamente nada pois em vida havia
se arruinado com o luxo da filha, com as viagens e com as perdas de
Tancredo ao jogo. Passou um tempo em Londres antes de vir habitar Paris.
Em Paris viveu algum tempo com o Mr. De l`Estorade que a desgraçou
ainda mais, deixando-lhe apenas o nome de l`Estorade que a ele já não
dizia nada pois iria passar a ser conhecido como Vicomte de Mandervile.

Afonso termina de ler a carta mostrando-se mais enjoado com o ultrarromantismo


de Alencar do que com o conteúdo em si. Já Vilaça havia relido muitas vezes a carta em
admiração da mesma escrita.

Por fim, Afonso pergunta pela neta. Vilaça responde-lhe que não sabia, Alencar não
lhe havia falado na filha nem sabia quem a havia levado. No entanto, Vilaça expressa a
Afonso que acredita que a menina havia morrido argumentando que, caso contrário, Maria
Monforte já havia aparecido para reclamar o dinheiro que cabia à criança.

Afonso não muito convencido aceita o argumento de Vilaça e termina dizendo que
o melhor era supor que havia ambas morrido.

Durante os dias que Vilaça passou em Santa Olávia não se proferiu o nome de Maria
Monforte.

Na véspera da partida de Vilaça, para Lisboa, Afonso foi ao quarto dele, com o
pretexto de lhe entregar as amêndoas da Páscoa que Carlos mandava a Vilaça Júnior, filho
do Vilaça, para lhe comunicar que ia escrever ao primo André Noronha que vivia em Paris
para lhe pedir que este procurasse Maria Monforte e lhe oferecesse dinheiro para que esta
entregasse, caso estivesse viva, a neta a Afonso. Para isto, pedia a Vilaça que tratasse de
saber Alencar a morada de Maria em Paris.

Vilaça mostrou-se reticente com a ideia argumentando que a neta já devia ir nos
seus treze anos, sendo já uma mulher formada com os seus hábitos, que não devia sequer
falar português e que iria ter imensas saudades da mãe; portanto, retirá-la de Maria para
que se juntasse a Afonso e a Carlos em Santa Olávia seria como se Afonso estivesse a trazer
uma estranha para a Casa.

Afonso deu razão aos argumentos de Vilaça mas a neta era do seu sangue e a mãe
era prostituta.

A conversa é interrompida por momentos por Carlos que chamava pelo avô do
corredor.

Afonso, baixando a voz, aproveita para contar a Vilaça que o Carlos sabia que o pai
se havia matado. Uma manhã entrara pela livraria e dissera-lhe que o pai se havia matado
com uma pistola; Afonso supôs que algum criado lhe havia contado. Afonso não lhe negou
a verdade uma vez que Pedro, na carta que havia deixado, não referira nenhum pedido
para ocultar a verdade a Carlos. Conhece-se aqui o conteúdo da Carta de Pedro com
pedidos aos quais Afonso atendera/estava decidido a atender, sem exceção.

• Queria ser enterrado em Santa Olávia


• Não queria que o filho soubesse da fuga da mãe.
• Queria que destruíssem dois retratos que havia de Maria Monforte em
Arroios,
Afonso acrescenta que o resultado daquela revelação a Carlos fora apenas que o
pequeno perguntara quem havia dado uma pistola ao pai e exigira também ter uma o que
fez com que o avô tivesse de mandar vir para o menino uma pistola de vento.

Terminada a conversa, os dois homens atendem aos berros de Carlos que ainda
esperava pelo avô para ir admirar a coruja que o Brown tinha encontrado.

No dia seguinte, Vilaça parte para Lisboa.

Duas semanas depois, Afonso recebeu uma carta de Vilaça com a morada de Maria
Monforte. Na mesma carta, Vilaça revelou que tinha voltado a casa do Alencar e este
contara-lhe que na sala de Maria Monforte havia um retrato de uma criança sobre o qual
perguntou a Maria tendo esta lhe respondido que era o retrato da filha que havia morrido
em Londres.

Afonso, ainda não convencido, escreve ao primo, André de Noronha. Na resposta


fica a saber que enquanto o primo procurava a Mademoiselle de l`Estorade em Paris, já
esta havia partido para a Alemanha com um acrobata de Circo chamado Catini.

Afonso da Maia remeteu a carta ao Vilaça sem comentários. Vilaça responde-lhe a


dizer que, efetivamente, mais valia supor que todos haviam morrido. Na carta de resposta,
Vilaça acrescenta que planeava passar mais uns dias em Santa Olávia, desta vez, na
companhia de Vilaça Júnior.

No entanto este plano não se concretizou. Numa terça à noite, chega um telegrama
de Manuel Vilaça a anunciar que o pai morrera, nessa manhã, duma apoplexia.

Afonso conta a notícia a Carlos e este sugere que se faça uma capela para o
administrador em Santa Olávia. Afonso, comovido, atende ao pedido de Carlos.

Muitos anos tranquilos passaram sobre Santa Olávia.

Uma manhã de julho, em Coimbra, Vilaça Junior (ou Manuel Vilaça), que havia
sucedido ao seu pai como administrador da casa, trepou as escadas do Hotel Mondego,
onde Afonso estava hospedado com o neto, para comunicar, em êxtase, a Afonso que
Carlos fizera o seu primeiro exame e que impressionara. Carlos ficaria a estudar em Coimbra.
Anos se passaram. Numa manhã de abril, nas vésperas de Páscoa, Vilaça
visita, de novo, Santa Olávia, onde passa uns dias.
o Na noite de chegada de Vilaça, dá-se um jantar em que se discute a
educação do Carlos da Maia e, posteriormente, a leitura por Afonso,
da carta de Alencar sobre Maria Monforte.

o Na véspera da partida, Afonso pede a Vilaça que este obtenha de


Alencar a morada de Maria Monforte em Paris.

No dia seguinte, Vilaça parte para Lisboa.

Duas semanas depois, Afonso recebe uma carta de Vilaça na qual o mesmo
lhe comunica que Alencar lhe havia confirmado a morte da neta de Afonso.

Numa terça-feira à noite, chega a Santa Olávia, um telegrama de Vilaça


Júnior a anunciar a morte do pai.

Semelhanças físicas com Pedro da Maia: Os mesmos olhos negros, abertos e o


cabelo negro ondulado – “… belos anéis do cabelo negro… olhos muito negros e muito abertos”

Apesar de fisicamente se assemelhar a Pedro, psicologicamente contrasta


completamente com o pai:

Curioso e desinibido – Carlos, ao avistar no terraço um desconhecido… correu a mirá-


lo curioso… continuava a mirar Vilaça… gritando: «tu és o Vilaça»

Esbelto, envolvido em vestes brancas de flanela - todo esbelto, com as mãos


enterradas nos bolsos das suas largas bragas de flanela branca, o casquete da mesma flanela posta
de lado…

Ativo, risonho, forte, airoso e cheio de vida – Ia abraçar Carlos outra vez entusiasmado,
mas o rapaz fugiu-lhe com uma bela risada, saltou do terraço, foi pendurar-se dum trapésio
armado entre as árvores, e ficou lá, balançando-se em cadência, forte e airoso… Tanta vivacidade
surpreendeu também o Vilaça…

Forte – É são, é rijo

Já em criança mostrava que iria ser mais capaz de enfrentar as adversidades do que
Pedro - Mas há de ser muito mais homem!

Inconformado e com iniciativa para questionar sobre as coisas (até mesmo a


autoridade do avô) – Então não entendia… - embora a disciplina com que foi educado fazia
com que não contrariasse a ordem do avô.

RESPONSÁVEIS PELA EDUCAÇÃO DE CARLOS: O avô, Afonso da Maia, e o preceptor inglês,


Sr. Brown.

CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO INGLESA: Uma educação que seguida o modelo inglês –


parece que era sistema inglês! dura - Mimos e mais mimos, dizia s. S.ª? Coitadinho dele, que
tinha sido educado com um vara de ferro! … Não tinha a criança cinco anos já dormia num quarto
só, sem lamparina; e todas as manhãs, zás, para dentro duma tina de água fria, às vezes a gear lá
fora… E outras barbaridades. Se não soubesse a grande paixão do avô pela criança, havia de se
dizer que a queria morta. Muita, muita dureza… Afonso reassumiu um ar severo - com muita
disciplina - E depois o rigor com as comidas! Só a certas horas e de certas coisas… E às vezes a
criancinha, com os olhos abertos, a águar!... e rigidez - O avô não consentiu; o menino teria o
seu cálice de Colares, como de costume e um só… - segundo a qual é cultivado e valorizado o
contacto com o ar livre e a natureza e o exercício físico tendo Carlos aprendido remo, várias
acrobacias e até montar a cavalo - Onde é cultivado e valorizado Deixava-o correr, cair, trepar
ás árvores, molhar-se, apanhar soalheiras… o que lhe ensinou? A remar!... Sem contar o trapézio,
e as habilidades de palhaço… Já faz ladear a Brigida… - e desvalorizado e até ridicularizado o
ensino do latim – não se deve falar em latim aqui ao nosso nobre amigo… acha que é
antigo…Não! Latim mais tarde!…O latim era um luxo erudito Esta educação privilegiava o cultivo
de um físico forte - Primeiro forrça! Forrça! Músculo… Primeiro musculo, musculo!... – sob o
cultivo da alma -
É ainda ensinado, pelo avô, a ser modesto – faça-me favor de se não gabar das suas façanhas,
porque um bom cavaleiro deve ser modesto - e a ter modos – E sobre tudo não enterrar assim
as mãos pela barriga abaixo.

Importante notar que, de ser dada a Carlos uma educação rígida, Afonso e Carlos têm
momentos ternos de avô-neto.

QUEM REPROVAVA ESTA EDUCAÇÃO: Teixeira e Gertrudes – Mas que nós


aprovássemos a educação que tem levado, isso nunca aprovámos, nem eu, nem a Gertrudes…
Mas é o que eu tenho repetido à Gertrudes: pode ser muito bom para inglês, não é para ensinar
um fidalgo português…. Vilaça e o abade Custódio consideravam que o menino devia
aprender latim – se o Carlinhos já entrava com o seu Fedro, o seu Tito Liviosinho… Deve-se
começar pelo latinzinho… É a base; é a basezinha! e D. Ana Silveira (contrapunha a educação
de Carlos da Maia com a Educação Tradicional Portuguesa de Euzebiosinho, que se
assemelhava muito à de Pedro da Maia).

CONSEQUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO: Carlos tornou-se uma pessoa forte - saiu forte. (Ver
caracterização de Carlos Eduardo da Maia)

Localizada em Resende, margens do douro.

Agora com a presença de Carlos, Santa Olávia passa de um refúgio solitário para um lugar
cheio de vida e alegria.
QUEM: Administrador dos Maias.

CARACTERIZAÇÃO: Aparece em Santa Olávia, de chapéu alto, abafado, num cachenez3 de


pelúcia4 e de óculos.

CARACTERIZAÇÃO: Apesar de ainda ser descrito como um velho, surge, neste capítulo,
recuperado – “Branco sim, mas uma cara de moço… Quando me lembro, a última vez que o vi…
E cá isto! cá esta linda flor!...”Muito admirador de Inglaterra, adotou para o seu neto o sistema
inglês de educação e para si os hábitos ingleses – antes de recolher, ele tomava sempre à
inglesa o seu cognac e soda.

QUEM? Neto de Afonso da Maia.

QUEM? Mordomo da casa de Afonso Maia, desde os tempos de Benfica e agora, em Santa
Olávia, tendo se mudado para lá ao mesmo tempo que Afonso.

QUEM? Governanta da casa de Afonso Maia, em Benfica e, agora, em Santa Olávia tendo
se mudado para lá ao mesmo tempo que Afonso.

QUEM? Filho de Vilaça que à morte deste lhe sucede como procurador dos Maias.

3 Cachecol
4 Tipo de tecido
QUEM? Era uma Runa, prima da falecida mulher de Afonso que casara com um fidalgo
galego, o Sr. Visconde de Ungo-de-la-Sierra, que tinha tanto de belo como de abusivo.
Viúva e pobre fora acolhida por Afonso em Santa Olávia.

CARACTERIZAÇÃO: Surge vestida de preto. É caracterizada a nível físico como rechonchuda


e obsessa; ainda é dado a entender não ser uma mulher vistosa pois Vilaça nem havia
notado a sua presença. A nível psicológico, é descrita como tímida e as suas atitudes
revelam um caráter antissocial e pachorrento – silenciosa, comendo sempre… refrescava-se
languidamente com o seu grande leque…

QUEM? Inglês, preceptor de Carlos.

CARACTERIZAÇÃO: Descrito por Teixeira como boa pessoa, calado, asseado, um excelente
músico e um habilidoso. Aparece no jantar com uma vestimenta militar e com uma postura
rígida. Tem um forte sotaque inglês. Fisicamente é descrito como um atleta e belo, de
formidáveis bigodes e formidáveis punhos.

Égua que Carlos aprendera a montar.

QUEM? A Silveira solteira e mais velha, a talentosa da família. Referida por titi quando em
relação a Euzebiosinho e Terezinha.

CARACTERIZAÇÃO: Melancólico, Molengão e Estudioso. Vítima de uma educação tradicional


portuguesa que se assemelhava à de Pedro da Maia e contrastava com a de Carlos da Maia.
QUEM? É a “noiva” de Carlos, filha de D. Eugénia e sobrinha de D. Ana Silveira.

QUEM? Mulher do escrivão.

CARACTERIZAÇÃO: Carinhosa e amiga de crianças.

QUEM? Fiel amigo das silveiras.

QUEM? Poeta ultrarromantista. Amigo do falecido Pedro da Maia.


pela camisa entreaberta via-se ainda uma flanela escarlate – Indício da tragédia que aguardava
a Carlos da Maia.

pareciam tremer ao menor sopro - Indício de acontecimentos que vão futuramente ocorrer e
abalar a tranquilidade da família Maia

Até os canários cantam! – O canto dos canários está associado a vida e alegria.

Tempo de rosas– Tempo próspero, belo e bom.

As rosas secas e ensanguentadas da sua coroa de esposa – Símbolo do suicídio do Pedro da


Maia causado pela sua mulher Maria Monforte

shake-hands – Incorporação no texto de um termo pertencente à língua inglesa.

adresse – Incorporação no texto de um termo pertencente à língua francesa.

doçura do ar tranquilo - Cruzamento de dois sentidos, neste caso, da tranquilidade do ar


(tato) e da doçura (paladar)

dum azul suave – Cruzamento de dois sentidos, neste caso, azul (visão) e suave (tato)

perfume adocicado - Cruzamento de dois sentidos, neste caso o cheiro do perfume (olfato)
e adocicado (paladar)

este notável menino


as chamas das velas erguiam-se altas e tristes – As personagens é que estavam tristes não
as chamas das velas.

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