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Teoria Geral Do Processo I PDF
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TEORIA GERAL DO
PROCESSO I
Sem consulta
Sumário
Os aspectos da Jurisdição........................................................................................... 46
Espécies de Jurisdição................................................................................................ 54
Unidade I – Primeiras Noções 3
Bibliografia ........................................................................................................................ 89
desse quem. O interesse é a razão que se coloca ora maior ora menor entre um ser humano
e um determinado bem da vida, que pode ser maior ou menor. Portanto podemos dizer que
nós aferimos o interesse a partir de uma posição favorável do homem em relação a uma
necessidade e, portanto, em relação a um determinado bem da vida. Se ele tem um interesse
ele tem uma posição favorável em relação a um determinado bem da vida. A partir daí
dizemos que o sujeito/titular do interesse é o ser humano e o objeto é o bem da vida.
1
Um médico que entra em uma ação contra o Estado para receber uma gratificação a qual ele faz jus, temos
nesse caso o sujeito o médico e o objeto (bem da vida) a gratificação, tendo então um interesse individual,
pois aferimos a relação ser humano bem da vida a partir de um indivíduo.
2
No caso teríamos não um médico, ou não apenas esse médico a postular essa gratificação, mas o sindicato
dos médicos representando seus sindicalizados para que estes recebam essa gratificação, tendo ainda como
objeto (bem da vida) a gratificação, mas tendo como titular os médicos sindicalizados representados no
processo pelo sindicado, sendo um interesse coletivo porque podemos definir quem são esses médicos
sindicalizados como um número definido, sendo um interesse coletivo porque é um interesse que se coloca
entre o ser humano e o bem da vida, aferido o ser humano a partir de um grupo determinado de pessoas.
Unidade I – Primeiras Noções 5
3
No caso de uma lei distrital que preveja que o GDF deve gastar 25% de seu orçamento com despesas
relacionadas a saúde, no entanto se verifica que está se gastando apenas 15% com a saúde. A partir daí o MPF
ajuíza uma ação para compelir o GDF a gastar o percentual previsto em lei de 25%. Nesse caso o bem da vida
é o percentual previsto no orçamento a ser utilizado na saúde, tendo como titular a comunidade do GDF,
todos aqueles que possam gozar do direito a saúde inerente a esse bem da vida. Nessa ação do MPF temos
um interesse difuso, que se difunde sem saber quem são os beneficiários, mas sabemos que todos têm interesse
que a saúde receba o percentual encontrado na lei. Temos, portanto um interesse difuso. Temos uma diferença
entre substituição processual, no caso o MPF que é a própria parte agindo como substituto processual, e a
representação processual, como no caso do sindicato, ainda que em alguns casos possa agir em substituição
processual.
6 Teoria geral do processo I
economia. Toda e qualquer norma jurídica traz no seu bojo um contexto histórico no qual
ela foi ditada, sendo esse contexto cheio de aspectos políticos, econômicos e sociais,
estando nós às vezes diante de uma norma, frente a qual só enxergamos a norma, sem ir
além dessa norma para analisar o conceito em que essa norma foi editada. O mais difícil
para o ser humano é se inserir no contexto histórico em que vive. Quem julga os conflitos
faz política no sentido de relação entre as pessoas. Em toda a relação entre seres humanos
a política está presente, e por isso podemos afirmar que, mantidas as condições atuais,
tendemos a uma sociedade cada vez mais conflituosa. A partir da constatação desse
contexto de conflito, precisamos buscar mecanismos de resolução desses conflitos,
mecanismos que a ciência social deve estar pronta para dar uma resposta, para resolver.
Podemos falar em conflito de interesses apenas quando há a mais de uma pessoa interessada
no mesmo bem. Podemos ter formas espontâneas de se resolver um conflito. A primeira
forma espontânea de resolução de um conflito é a violência. Outras formas espontâneas de
resolução de conflito podem ser, em primeiro lugar, a resolução moral. De um temor
mútuo, pode se chegar a uma decisão contratual. Temos ainda uma outra forma
espontânea de resolução de conflito que é a solução arbitral, também por temor reciproco,
escolhe-se um terceiro para escutar as duas partes e tomar uma decisão. Temos, portanto,
como formas de resolver um conflito: a violência, a não-violência, e dentro dela a solução
moral, a contratual e a arbitral, esta através de um terceiro neutro. A violência não
resolve, ela simplesmente gera mais violência, não sendo uma forma de resolver o conflito
de forma definitiva, ainda que o resolva em um primeiro momento. A solução moral
perdura enquanto prevalece o equilíbrio moral das pessoas, enquanto uma opinião é
mantida, não sendo também uma forma definitiva de resolver o conflito. O mesmo com a
contratual e a arbitral, porque as duas envolvem um temor recíproco entre as partes. Por
isso necessitamos de uma forma que resolva esse conflito que, formalmente, é o processo.
Unidade I – Primeiras Noções 7
Ocorre o conflito de interesses quando duas ou mais pessoas tem um interesse sobre
um mesmo bem que só a uma pode atender, havendo várias soluções espontâneas de
conflito, além do processo. Como regra que normalmente resolve os conflitos de interesses
temos a submissão do conflito ao comando estabelecido na lei, assim eventualmente se
temos um interesse por um bem eventualmente uma das partes não tem nenhum direito
assegurado, tendo em vista um comando estabelecido na norma, de sorte que falamos que
normalmente os conflitos de interesse são resolvidos pelo comando estabelecido na lei,
como regra geral. Isso faz com que no mais das
Figura 2 - Bens da Vida e Pretensão
vezes não tenhamos conflitos ou eles não
avancem, porque sabemos que a norma resguarda um determinado direito impossibilitando
o conflito. Às vezes a existência da norma não é o suficiente para resolver um conflito,
porque um dos conflitantes exige que o outro subordine o seu interesse ao interesse dele.
Em nome da função social da propriedade, podemos subordinar o interesse de um ao outro,
havendo uma agravação do conflito, porque um dos conflitantes não está subordinando
seu interesse ao interesse da lei, pressionando o outro a subordinar seu interesse ao seu.
Surge o fenômeno da pretensão, em uma situação mais grave em que já temos a pretensão,
exigência de subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio, ou seja, o titular da
pretensão exige que o outro subordine seu interesse sobre um bem da vida ao interesse do
“eu”. Cabe àquele a quem foi exigido que subordinasse seu interesse ao do outro que (1) se
conforme à situação, acabando o conflito ou (2) ele resiste a essa subordinação, agravando
o conflito pela resistência à pretensão, tendo
então o fenômeno da lide ou litígio.
Bem da Resistência
Pretensão Identificamos na lide primeiramente um conflito
Vida à pretensão
grande número de demandas do judiciário e uma estrutura judicial ser algo caro. Em
um contexto em que vivemos em um Estado com muitas demandas em outras áreas
(saúde, educação), o Estado tem outras reivindicações que não apenas a justiça,
precisando de mecanismos para resolver os litígios. Estamos em um ponto de
esgotamento, com o juiz devendo julgar responsavelmente, ao mesmo tempo que é
pressionado a julgar rapidamente.
2.2. Arbitragem: na arbitragem o árbitro não apenas irá mediar o conflito, mas dirá aquele
que tem a razão no conflito, e eventualmente aquele a quem ele entender que não tem
razão terá de conviver com as consequências. Na história do processo a arbitragem era
facultativa, com os próprios litigantes escolhendo o árbitro, mas passa a ser obrigatória
por ter um terceiro dizendo quem é o árbitro, não sendo mais de escolha dos litigantes,
chegando em um outro momento em que teremos um juiz oficial, um juiz servidor do
Estado encarregado de resolver os litígios pelo Estado e a essa atividade estatal que se
encarrega de resolver os litígios chamamos de jurisdição, essa atividade estatal na qual
um terceiro (juiz) se encarrega de resolver os litígio e se exerce através do processo, o
juiz resolvendo um caso através do processo.
2.3. Processo (pela via da jurisdição): a jurisdição é aquela atividade do Estado que por
intermédio do processo se resolve um litígio.
Lide vem a ser o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Na lide
identificamos um conflito que deve ser resolvido porque não interessa aos desígnios da
comunidade que no seio dela perdure um conflito, devendo ele ser resolvido para que a
sociedade possa viver em paz dentro do possível, e esse conflito deverá ser resolvido por
intermédio da lei, ou seja, o conflito será resolvido pela incidência da norma ao caso
concreto, assim teremos a resolução da lide. Portanto, falamos que a lide será composta
pela atuação da vontade da lei ao caso concreto, ou seja, aquela lei vau incidir e a partir daí
ser aplicada ao caso concreto. A lide será dirimida pela atuação da lei ao caso concreto. O
próprio Estado se encarrega de aplicar a lei ao caso concreto, sendo que o Estado não vai
aplicar a lei ao caso concreto sem ser através do processo. Por isso falamos que o processo
10 Teoria geral do processo I
A. A antiguidade do Processo
também no fenômeno da resolução dos litígios, havendo grande influência dos juízes na
Bíblia no Antigo Testamento, tendo como juiz mais famoso Salomão, tendo a fusão em
muitos aspectos a fusão de normas religiosas e normas de conduta, em principal os Dez
Mandamentos, que ditavam regras religiosas e de comportamento que iriam nortear os
juízes na aplicação da regra. Na figura do juiz, novamente, temos um poder político para
resolver o conflito ao mesmo tempo que temos uma regra religiosa. Temos o exemplo da
deusa grega Têmis, símbolo da justiça, mostrando a influência religiosa na justiça.
Na antiga Fenícia onde hoje está sobretudo o Líbano, tivemos a figura da resolução das
lides, principalmente do aspecto mercantil. Na antiga Pérsia a figura do juiz estava também
ligada à figura religiosa, até que chegamos na Grécia Antiga. Nela existia a figura do juiz
que julgava os litígios, ainda que não haja maiores escritos sobre isso, podemos antever
pela avançada filosofia política que existia na Grécia, sobretudo com Platão e Aristóteles,
que a Grécia tinha desenvolvido um avançado sistema de direito público, entre outros
aspectos, pelo incêndio da biblioteca de Alexandria, sobretudo, onde se guardavam os
documentos gregos, que pereceram nesse incêndio, sobrando poucos textos gregos. Os
textos romanos foram mantidos. Mas, a partir dos trabalhos da filosofia política, é possível
se assumir que um sistema avançado de direito público. Até hoje a filosofia política tem
uma divisão em teoria política Aristotélica e Platônica. Temos a organização das Cidades
Estado gregas. Sabemos que a Grécia tinha um sistema avançado de direito público, com
um julgamento realizado com a participação de 300 cidadãos, julgado através de pedras
brancas e escuras. Tínhamos na Grécia, pelo próprio nível avançado grego, um sistema de
resolução de litígio, que não conhecemos como sistema romano pelo perecimento desses
sistemas. Sabemos que na Grécia havia mecanismos de resolução de litígios, mas não o
conhecemos com a profundidade igual a qual conhecemos o direito romano.
12 Teoria geral do processo I
O processo romano na sua evolução até a queda do Império Romano passou por três
fase/períodos. Consideramos o Processo Romano do Período Clássico o processo romano
até a queda do império romano, passando por três períodos.
Também conhecido como período das ações das leis. Esse período vai da fundação de
Roma, por volta do ano de 754 a. C. até o ano 149 a. C., quando temos a edição da Lei
Aebutia, marco para o final da Legis Actiones. Recebe o nome de período das ações da lei
porque, para que a ação pudesse ser admitida, ela deveria estar prevista na lei. Só poderia
existir uma ação se ela estivesse prevista na lei, sendo a mais importante a Lei das Doze
Tábuas. A pretensão do autor deveria estar agasalhada na norma, na lei, para que a ação
pudesse ser admitida. Mostra-se primeiramente o aspecto forma da Legis Actiones, que só
pode haver ação agasalhada pela lei, e fora da lei não há ação. Nesse período o processo
romano tinha um procedimento extremamente formalista em que as solenidades deveriam
ser rigorosamente observadas sob pena de se entender que aquela ação não estava prevista
na lei, e, portanto, não havia ação. O procedimento além de formalista era inteiramente
oral, em que as partes deveriam comparecer obrigatoriamente, acompanhadas de parentes
e amigos, sem o comparecimento obrigatório das partes não havia como se ter o processo.
Caso o réu não quisesse comparecer, o autor estava autorizado a usar a força para levar o
réu perante o magistrado. Como o procedimento era inteiramente oral, os parentes e amigos
serviam como testemunhas dos fatos. O magistrado romano examinava primeiramente a
pretensão do autor afirmando a queixa que tinha em relação ao réu. Diante da queixa,
ouvindo a pretensão do autor, o magistrado romano iria ouvir o réu, confirmando ou
negando a pretensão. O magistrado iria ouvir autor e réu e diante do que as partes
afirmaram, o magistrado iria verificar se havia ação. Nesse período da Legis Actiones o
procedimento se divide em duas partes:
Unidade II – A evolução histórica do processo à antiguidade do processo 13
4
Escolha do iudex/arbiter pautado pela litiscontestatio porque define qual a lide definida na lei a partir da
qual o iudex iria julgar o litígio.
14 Teoria geral do processo I
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SANTOS, Moacir Amaral.
16 Teoria geral do processo I
uniformes entre os pretores, pois cada pretor tinha o seu edito. Havia uma
sistematização do magistério, sendo um prêmio o exercício da magistratura.
ii. In iudicium: aqui teremos a coleta das provas e a posterior sentença perante o
iudex/arbiter, não necessitando mais a decisão sobre o iudex/arbiter ser de
comum acordo das partes. Se as partes não chegassem a um comum acordo
sobre o iudex/arbiter ele seria indicado pelo pretor segundo os nomes de pessoas
que exerciam esse papel. Se houvesse acordo entre autor e réu estaria resolvido
o problema. Diante da ausência de acordo, o pretor entrava em ação. Tinha
início a fase in iudicium.
(1) O procedimento era preponderantemente oral, sendo que somente fórmula era
escrita.
(2) Procedimento despido das formalidades que caracterizavam o período anterior da
Legis Actiones. Por ser um procedimento voltado para estrangeiros que muitas
vezes não entendiam a língua latina, era necessário um procedimento mais simples
para integrá-los.
(3) O procedimento era dividido em duas fases: a fase in Iuri, perante um magistrado,
o pretor, e a fase in iudicium, perante o iudex ou arbitrer que iria julgar a causa.
(4) Na fase in Iuri resolvia-se a questão pertinente à actio e se tinha, se fosse o caso, a
entrega da fórmula, documento escrito com base no qual o iudex ou arbitrer iria se
pautar para proferir a sentença.
(5) Comparecimento obrigatório das partes, que, todavia, poderiam ser assistidas por
procuradores e orientadas por juristas. As partes, portanto, deveriam comparecer
obrigatoriamente, mas, contrário ao que acontecia na fase anterior, já se apresentava
o início da atividade/carreira jurídica como atividade profissional.
(6) Os atos processuais se desenvolviam com a audiência e a contrariedade recíprocas
entre as partes. Aquilo que o autor afirmava, o réu tinha a oportunidade de
contrariedade, e vice-versa. Ocorre o próprio surgimento do contraditório, a
possibilidade das partes se contradizerem mutuamente, a contradição entre as partes
que resulta na sentença.
(7) A produção da prova incumbia a quem alegava o fato, o chamado ônus da prova,
que necessita provar aquele que alega o fato.
18 Teoria geral do processo I
(8) O juiz apreciava livremente a prova e com base nela formava sua convicção. Temos
também aqui a origem de outro princípio processual da livre convicção do juiz, com
inteira liberdade para formar o seu convencimento.
(9) O juiz condenava o réu a uma soma em dinheiro, ainda que o pedido fosse a entrega
de uma coisa. Por força da lidiscontestatio se obrigam a cumprir o que fosse
decidido.
Esse período surge com o imperador Diocreciano no ano de 294 d. C., e vai
aproximadamente até a codificação de Justiniano, 394 a 398 d. C., após a queda de Roma.
Recebe esse nome para se diferenciar da cognitio ordinária, do período per formulas, a
cognitio extraodinaria surge designada para determinados processos, surgindo
originalmente para as causas em que havia a introdução do Estado romano, que seriam
julgadas por um único magistrado, não mais necessitando de um iudex ou arbitrer, havendo
a função de julgar designada a um servidor, um magistrado, que iria conduzir o processo
de seu início até o final. Nesse período passamos a ter um magistrado que não apenas
verificava se havia actio ou formula correspondente, mas também vai
examinar/verificar/dirigir todo o processo desde seu início ao cumprimento da sentença.
Tivemos nesse período a criação da figura do juiz oficial, funcionário do Estado
encarregado de resolver as lides, os litígios, desde seu início até o final. Temos a atribuição
da função de julgar para um servidor do Estado. Antes quem julgava não era o Estado, mas
um particular. Há a delegação do Estado romano para o exercício da função. Temos como
consequências da criação desse juízo especial, não havendo o sentido da divisão do
processo em duas partes. Não há mais sentido na lidiscontestatio, porque tanto importava
a vontade das partes, porque o Estado era quem estava decidido. Nesse período a cognitio
extraordinária apresentava o emprego da linguagem escrita com mais presença que os
outros.
(3) O réu apresentava então a sua contestação que recebia o nome de Libellus
Contradictiones ou Libellus Respontionis.
(4) Eram então produzidas as provas, chamadas de probatio. Podia ser oral, no caso
de testemunha, ou escrita, no caso de documento.
(5) Era então produzida a sentença, denominada sententia. Também escrita.
questionar se o processo romano que era tão moderno, ou o nosso que ficou estagnado,
utilizando ainda o processo do séc. III/IV da era cristã para resolver litígios do século XXI,
quando temos bens limitados para interesses ilimitados. Seria o momento de buscarmos
novos mecanismos de solução de litígios? Será que são suficientes para resolver a contento
as lides?
produzidas e eventuais regras que poderiam ser aplicadas, apenas orientando a Assembleia.
As leis eram sobretudo orais pela força do costume. O sistema probatório perante a
Assembleia dos homens livres era bastante rudimentar, prevalecendo ali o juramento,
chamava-se ambos os litigantes ao juramento, e prevalecendo também as ordálias ou juízos
de Deus, sendo comum estabelecer uma prova para que ambos os litigantes pudessem
passar pela prova (andar sobre brasas, duelo). Era um sistema rudimentar em que a sentença
resolvia definitivamente o conflito vinculava todos os participantes da Assembleia, ou seja,
um litígio sobre a propriedade, por exemplo, de um cavalo, resolvido o conflito estabelecia-
se a posse do animal e vinculava a todos os membros da tribo. Não cabia recurso, porque
não havia instância superior à Ding. Por conta disso, o que deliberava a Ding era a palavra
final. Esse foi o processo germânico que se encontrou com o processo romano da cognitio
extraordinaria.
As duas escolas estudavam o direito e o processo romano por intermédio das glosas,
mas Acursio dava uma maior ênfase prática forense, com ele e seus discípulos fazendo uma
comparação com o processo que viviam naquele contexto histórico, buscando uma
justificativa para aplicação desse conhecimento. Seus principais discípulos foram: Baldo,
Ferrari e Bartolo de Sassu Ferrato. Bartolo foi um jurista tão consagrado com grande
influência no nosso ordenamento sendo erigido à função de Fonte do direito.
A base do processo ibérico que deu as bases processuais brasileiras está no direito
dos goudos, sobretudo visigoudos e oustragoudos, com base em uma perspectiva gótica.
Esse direito gótico dos goudos que serviu de base para o direito ibérico que considerava
Bartolo como fonte do direito. Começamos a ter a partir de Irnérius e Acursio uma essência
muito maior, ressurgindo o processo romano, que aponta para um direito romano que passa
a ser visto como uma vertente terrena e temporal que se contrapunha a uma vertente
espiritual. Começamos a analisar o direito/processo com uma outra vertente que se
contrapunha à vertente espiritual do processo canônico, com o direito do dia-a-dia no
direito romano estudado nas universidades. O direito canônico é essencial para a
implementação estrutural do processo romano, que depois acaba por se voltar como o
processo canônico. A influência religiosa era identificada com o processo canônico,
havendo uma disputa entre o processo canônico e romano. O surgimento do processo
romano-canônico processo resultante da mescla de instituições romano, germânicas,
canônicas com a contribuição dos glosadores e pós glosadores. Essa mescla é o resultado
desse processo romano-canônico. “A esse processo [germânico] em que se adaptaram as
regras costumeiras do tempo, ao direito construído pelos glosadores, pós-glosadores,
comentaristas e práticos, com a cooperação sobremodo influente dos canonistas, costuma-
se chamar romano-canônico.”6
Já na baixa Idade Média começamos a ter outro elemento que acrescentamos que
surge nesse final a lei, a legislação. Até o momento só falávamos de direito costumeiro, da
cooperação dos canonistas. No final da Idade Média/baixa Idade Média surge o elemento
da legislação. Começamos a ter os estatutos comunais. A legislação tem a ver com o
comércio, com a burguesia mercantil, servindo para dar previsibilidade para os
investidores. A partir desses estatutos comunais se identifica o fator de uma centralização
6
SANTOS, Moacyr Amaral.
Unidade II – A evolução histórica do processo à antiguidade do processo 25
Praxismo (Séc. V até 1807): no praxismo que contempla o período da queda do Império
romano ao ano 1807, tivemos um período em que se tinha pouca produção legislativa e que
a atividade do direito processual se limitava a uma atitude descritivista de modelos. Nesse
período do praxismo, a atividade processual se limitava a modelos, ou seja, os
processualistas daquela época não se preocupavam com conceitos (pedidos, intervenção de
terceiros, etc). Se valorizava a prática, o modelo, como se propor uma demanda, uma ação
processória, como se contestar uma demanda. Praxismo vem de práxis, prática, modelos
passados de pai para filho, com modelos de como realizar atos com base em modelos. No
momento em que se tem modelos, busca-se aplicá-los, em uma atitude descritivista. É um
período com forte predominânica da prática. Podemos dizer que o praxismo apresentava as
seguintes características:
(1) Pouca produção legislativa, que começa com maior intensidade com os
estatutos comunais no campo do processo, e de qualquer sorte, era uma
produção legislativa voltada para assegurar a atividade econômica do
comércio, em um contexto de centralização do poder político no final da
Idade Média, 800 anos mais ou menos após o século V, com a construção
das chamadas ordenações (Afonsinas, Manoelinas, Filipinas – que
vigoraram mesmo após a independência em 1822 –, ...)
(2) Atitude meramente descritivista de modelos. O processualista nesse
período não se preocupava com formulações teóricas. É uma fase em que
definem os aspectos a se constarem no modelo. Uma atitude meramente
descritivista de modelos. Como consequência dessa atitude meramente
descritivista de modelos, tínhamos um conhecimento superficial do
processo, não pelos seus institutos, mas pelos seus modelos.
(3) Tinha-se um conhecimento meramente superficial do processo. 7
7
Primitivismo: processo primitivo
Juridicialismo: momento no tempo em que se começa a ter um juiz
Unidade II – A evolução histórica do processo à antiguidade do processo 27
Por volta do ano de 1855, início da metade do século XIX, tivemos na Prússia o
evento da chamada Polêmica MÜTHER x WINDSCHEID, que aconteceu nos primeiros
anos após a metade do século XIX quando MÜTHER escreve em um jornal local um artigo
questionando o conceito à época da actio romana na percepção de que talvez a actio não
estivesse contida no direito material. MÜTHER escreve esse artigo questionando a visão
que se tinha sobre a actio romana naquele contexto histórico. Diante desse conceito de
MÜTHER, WINDSCHEID, discípulo de SAVIGNY, critica as dúvidas de MÜTHER
acerca da actio romana acusando-as de não ter sentido. MÜTHER escreve frente a isso
outro artigo que reafirmava sua dúvida e trazia novos argumentos reforçando essa dúvida
acerca da actio no direito material. WINDSCHEID escreve outro artigo criticando
veementemente as posições assumidas por MÜTHER, terminando aí a polêmica MÜTHER
x WINDSCHEID. Ali o processo começa a mudar o seu enfoque. O direito processual
começa a trilhar novos caminhos para além de uma atitude descritivista de modelos.
8
Procedimento: forma pela qual o ato se movimenta no processo.
Modelo: fórmula de proposição de uma ação, fazer uma sentença, etc.
28 Teoria geral do processo I
Em nenhum momento algum dos lados fala de modelos, não questionando modelos,
mas o instituto importantíssimo para o processo da actio romana, começando o processo a
se desviar de uma atitude descritivista de modelos para se buscar uma formulação teórica.
É o que chamamos de um ponto de inflexão no direito processual. A partir daquele
momento o direito processual começa a trilhar novos caminhos buscando uma formulação
mais científica. Isso ocorre, e por isso esse marco, no ano de 1868, quando um grande
processualista alemão, OSCAR VON BÜLOW, publica uma das mais importantes obras
para o direito processual, Das exceções dilatórias e dos pressupostos processuais. Nessa
obra, marco para o processo, tendo o ano de sua primeira edição o marco da reconstrução
do processo, afirma que o processo estava em muito atrasado em relação às demais áreas
do direito, na medida em que os processualistas da época não sabiam sequer conceituar
processo. Os processualistas ainda se preocupavam com os modelos, o que VON BÜLOW
não entendia, por ser incompreensível porque meio século antes SAVIGNY já tinha
lançado as bases da sua teoria da relação jurídica (sujeito ativo <-> sujeito passivo), e como
a partir disso eles não poderiam conceituar processo. Nesse contexto de relação jurídica,
onde entraria o processo? Não entraria, porque a relação jurídica processual é outra,
diferente da relação jurídica processual tendo em vista a figura do juiz. Logo, a relação
processual não é a mesma da relação material, pois enquanto esta é bipolar com sujeito
ativo e passivo, a relação processual é tripolar pela figura do juiz atuando em favor do
estado. VON BÜLOW passa a fazer uma distinção entre direito material e direito
processual, coma ênfase em uma atitude descrtivista de modelos deixa de existir. A ênfase
agora para os processualistas passa a ser uma formulação teórico-científica do processo,
não mais à luz de modelos, mas de seus próprios institutos. O que é uma sentença? Que
princípios norteiam a defesa do réu? Etc.
Ainda na Itália temos Ramiro PODETTI que lança as bases da Trilogia Estrutural
Do Processo ou Trilogia Estrutural de Podetti, segundo quem a ação provoca a jurisdição
que irá se concretizar mediante o processo. Falamos então que o processo é o instrumento
pelo qual a jurisdição dá uma resposta à ação. Essa é a trilogia estrutural do processo. Ele
formula as bases do direito processual.
Na Itália também temos um dos mais brilhantes dos processualistas italianos aluno
de PIOVENDA de nome CARNELLUTTI, que com sua teoria lança as bases da chamada
instrumentalidade do processo que terá como principal criador o também italiano MAURO
CAPPELLETTI, que lança as bases da instrumentalidade do processo, que tem sua teoria
quase toda baseada na obra de CARBELLUTTI. Além de CAPPELLETTI, temos também
CALAMANDREI. Outro italiano de grande importância é EMILIO BETTI, assim como
ENRICO REDENTI.
Esses autores não mais se preocupam com modelo, mas com a teoria do processo,
que surgem nesse momento da Reconstrução Científica e Autonomia do Saber Sobre o
Processo, porque até aquele momento o estudo do direito processual estava localizado a
um estudo do próprio direito material. A partir de VON BÜLOW se demonstra que o direito
processual se distingue do direito material a partir de uma relação em sua base tripolar,
distinta de uma relação bipolar de direito material, falando-se, portanto, dessa autonomia
do saber do processo, analisado de forma autônoma em relação ao direito material.
Teoria da Jurisdição
A palavra jurisdição vem do latim iurisdicione, originado de dois radicais latinos (iuris
= do Direito e discere = dizer). Dentro desse contexto, em uma primeira análise poderíamos
apontar a jurisdição como uma atividade humana que consiste em dizer do direito, e
trazendo a questão para o processo podemos dizer que a jurisdição é uma atividade humana
que consiste em dizer do direito com a finalidade de compor litígios, compor as lides. Nesse
contexto faz-se a indagação que a partir dessa concepção de jurisdição os pressupostos da
jurisdição seriam (1) a existência de litígios a serem resolvidos, sabendo que toda a
atividade jurisdicional decorre da existência de seres humanos; (2) existência do direito a
ser dito, ou seja, a própria existência do ius, em geral o ordenamento jurídico, pois boa
parte das lides são resolvidas pela lei; (3) um Estado organizado como tal; (4) a legislação.
32 Teoria geral do processo I
Quem elaborou o ius tem legitimidade para elaborá-la? E quem irá posteriormente
aplica-la, tem legitimidade e poder para tal? A Jurisdição é uma função inerente ao próprio
Estado, e nesse contexto de uma função inerente ao próprio Estado, devemos verificar a
legitimidade de quem está aplicando a regra. O exercício da função jurisdicional pelo
Estado ou quem o represente está condicionada à observância de certos princípios, sendo
um deles o princípio da investidura, o que faz com que esses princípios acarretem o próprio
exercício da atividade jurisdicional. Um traficante que estabelece uma regra de conduta não
exerce a jurisdição. O exercício da função jurisdicional pressupõe um Estado organizado
como tal, porque o exercício da função jurisdicional é inerente à própria soberania do
Estado. O exercício da função jurisdicional pressupõe a própria soberania do Estado. Uma
decisão proferida pelo órgão jurisdicional de um país para valer em território nacional tem
de passar por um processo de homologação, porque, em vista da função jurisdicional do
Estado inerente ao próprio poder estatal soberano passando pela jurisdição e pela
legislação, impede que sempre valha uma decisão proferida em outro Estado dentro de
outro país.
Já chegou a ser aplicada no Brasil mesmo a legislação de outros países, o que fere
a soberania. Há tempos uma cidadã foi pega fazendo tráfico internacional de drogas e, em
seu país de origem, havia sido condenada três vezes por outro fato que no país era crime.
No Brasil o juiz a condenou por tráfico internacional de drogas e reconheceu a incidência
do agravante de reincidência e aplicou-lhe um acréscimo na pena. Não é possível falar
desse agravante de pena porque, visto o não reconhecimento (homologação) dessas
decisões no Brasil, ela não poderia ser reconhecida, visto ainda que no caso os crimes pelos
quais tinha sido condenada não eram sequer crime no Brasil.
aplicar a norma. Na legislação, o Estado elabora regras gerais e abstratas que vão regular e
reger a vida em sociedade, enquanto que na função jurisdicional, a jurisdição irá pegar
aquela regra geral e abstrata e a fará incidir no caso concreto. Um dos pressupostos da
jurisdição é exatamente o do ius, ou do direito a ser dito.
Aponta, portanto, para a legislação, que deve ser aplicada, elaborada pelo próprio
Estado. Diante disso, temos o Estado elaborando regras gerais e abstratas mediante a
legislação, e a jurisdição irá concretizar essas regras gerais e abstratas para resolver o
conflito no caso concreto. Temos o vocábulo jurisdição sendo empregado em várias
acepções, sobretudo em três acepções: (1) como sinônimo de autoridade estatal sobre uma
determinada área, referindo-se a qualquer autoridade estatal, que necessariamente não
precisa ser do judiciário, ainda que em geral seja; (2) a segunda acepção em que o vocábulo
jurisdição é utilizado é como órgão do poder judiciário, como sinônimo de justiça,
exemplificado em expressões como “jurisdição trabalhista”, “jurisdição eleitoral”, no lugar
de “Justiça do Trabalho”, “Justiça Eleitoral”, usada para mostrar que o órgão jurisdicional
que irá julgar aquele caso pertence a certa justiça; (3) a terceira acepção em que
empregamos o vocábulo jurisdição é como competência, ou seja, utilizamos o vocábulo
jurisdição significando competência, ou seja, quando falamos de que a competência cabe a
jurisdição de determinada vara.
AMARAL SANTOS de atuação do direito subjetivo dar-se-á pela jurisdição tendo como
instrumento o processo, podendo também dizer que o processo também é um instrumento
pelo qual a jurisdição faz atuar a legislação, aplica o direito. A jurisdição no momento que
aplica a legislação ao caso concreto é ao mesmo tempo poder, função e atividade. No
momento que a jurisdição é provocada por meio da ação a dizer do direito, a aplicar a
legislação para compor os litígios, essa jurisdição é ao mesmo tempo um poder, uma função
e uma atividade.
Como poder, a jurisdição expressa a capacidade que tem o Estado “Juiz” de decidir
imperativamente e impor suas decisões. A jurisdição, portanto, como poder é vista como a
capacidade ou como o próprio poder do Estado de decidir imperativamente e impor suas
decisões. Por outro lado, a jurisdição como função expressa o encargo, a função que tem
os órgãos jurisdicionais de compor os litígios promovendo assim a pacificação social. Essa
função que tem os órgãos jurisdicionais é o encargo dos órgãos jurisdicionais de controle
dos litígios promovendo a pacificação social. Não interessa aos desígnios do Estado a
permanência dos litígios por isso cabendo a esses órgãos jurisdicionais a resolução desses
litígios.
Na legislação temos o Estado elaborando o ius, elaborando regras gerais e abstratas que
vão regular/reger a conduta, a vida em sociedade e na jurisdição teremos a concretização
daquela regra geral e abstrata para resolver o caso concreto, a demanda entre A e B para
resolução de um conflito. Esse fenômeno chama-se subsunção, ou seja, é a incidência da
lei ao caso concreto. Portanto, quando MOACYR AMARAL SANTOS afirma a “atuação
do direito objetivo” aponta para a própria subsunção, pela incidência da lei ao caso
concreto. Nesse momento em que há a subsunção, falamos que o Estado tutela a ordem
jurídica. No momento em que o Estado faz incidir uma lei ao caso concreto. A tutela
jurídica vem a ser o encargo que tem o Estado de promover o restabelecimento da ordem
jurídica que foi violada ou ameaçada pelo conflito para, atuando a lei ao caso concreto, dar
a cada um o que lhe é devido. Portanto temos o Estado, no momento que aplica a lei ao
caso concreto, restabelece o império da norma jurídica ameaçado ou violado pelo conflito.
Tutela Jurisdicional
A tutela jurisdicional vem a ser o encargo que tem o Estado de restabelecer a paz e a
justiça que foram ameaçadas ou violadas pelo litígio mediante a aplicação da lei ao caso
concreto de modo a dar a cada um o que é seu. A tutela jurisdicional, portanto, é pedida ao
Estado juiz pela parte. Ou seja, ainda, incube a parte que se sente lesada em um direito
jurídico seu pedir a tutela ao Estado que restaure a condição de paz e justiça. A parte pede
a juiz a tutela jurisdicional por meio da ação. A tutela jurisdicional que é pedida pela parte
se manifesta por meio de uma decisão (sentença), por meio de atos de Execução, de
Medidas Cautelares ou Preventivas. Pontes de Miranda identifica outra tutela jurisdicional
de Ordem à Autoridade Pública. O juiz sabe a tutela pela tutela pedida pela parte, pois ela
traz ao Estado o litígio a ser resolvido e como será resolvido, pedindo ao Estado o que ela
quer para que o Estado componha o litígio. O autor que vai dizer ao juiz o que ele quer.
Incube ao autor definir. De qualquer maneira, sempre a parte autora vai querer ou um dos
aspectos citados. Quando a tutela jurisdicional pedida ao Estado juiz consiste na prolação
de uma decisão/sentença falamos que estamos diante de uma tutela jurisdicional de
conhecimento. Ela surge quando o autor pretende do Estado juiz uma sentença que
componha a lide. Um pendido de liminar entra em Medidas Cautelares ou preventivas. A
36 Teoria geral do processo I
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a
violação do direito.”
9
Caso da senhora idosa que pede indenização ao supermercado pela sua queda, em que a seguradora não
aceita pagar à senhora o valor, com o supermercado recorrendo ao juiz para reconhecimento do pagamento
ou não à senhora, dando uma certeza jurídica sobre o caso. Não há nenhuma condenação, mas uma simples
certeza jurídica. A senhora nesse caso é ré no processo, precisando de um advogado para defende-la. Propõe-
se a ação apenas para ter-se a certeza jurídica;
Unidade III – Da Jurisdição 37
Tem-se ainda os casos em que se quer que o Estado Profira atos de Execução, tendo-
se a tutela jurisdicional de execução ou executiva, na qual se quer que o Estado pratique
Atos de Execução, podendo-se falar que nesse caso a Tutela Jurisdicional de Execução é a
tutela jurisdicional na qual a parte autora (exequente) pede ao Estado Juiz a prática de atos
de execução destinados a concretizar um comando contido em uma sentença proferida na
tutela jurisdicional de conhecimento condenatória (execução por título judicial) ou em
documento ao qual a lei atribuía eficácia executiva (execução por título extra-judicial).
Hoje já se fala no simples cumprimento da sentença nas relações entre particulares, com a
tutela de execução existente sobretudo nos processos em que está envolvida a fazenda
pública. No processo penal a execução é por título judicial.
Temos a situação em que as vezes a parte autora quer que o Estado realiza uma
medida cautelar ou preventiva, tendo o que chamamos de tutela jurisdicional cautelar. Na
10
No segundo caso, temos a senhora idosa que, cansada do jogo, afirma que o supermercado tem que
indenizá-la por não ter ocorrido a imediata limpeza e identificação do piso molhado, ajuizando uma ação
contra o supermercado, pedindo que o Estado juiz por sentença condene o réu a indenizá-la pelas despesas
médicas. Temos nesse caso, não o desejo de uma mera certeza jurídica, mas o pedido de condenação do réu
a dar, fazer ou não fazer, no caso o pagamento dos danos.
38 Teoria geral do processo I
tutela jurisdicional cautelar a parte autora quer que o Estado juiz adote medidas cautelares
ou preventivas para resguardá-la em uma eventual demora no processo de conhecimento
ou execução, podendo dizer que nesse sentido ela é a tutela jurisdicional na qual a parte
autora (requerente) pede ao Estado Juiz a adoção de medidas cautelares ou preventivas
destinadas a resguarda-la de eventual demora no processo de conhecimento ou no processo
de execução 11 . A tutela jurisdicional cautelar está condicionada à observância de dois
requisitos, (1) o chamado Fumus boni juris, fumaça sinal do bom direito e (2) Periculum
in mora, perigo na demora, podendo o juiz apenas deferir a medida cautelar ou preventiva
se os dois requisitos estiverem presentes. Se um desses requisitos não estiver presente, o
juiz não poderá conceder. É o que acontece também nas chamadas liminares, que tem um
nítido caráter cautelar ou preventivo, analisando-se também esses dois aspectos.
Temos a tutela jurisdicional na qual a parte autora pede ao Estado juiz que emita
uma ordem dirigida à autoridade pública. Chamamos essa tutela de tutela jurisdicional
mandamental. A tutela jurisdicional mandamental, portanto, é a tutela jurisdicional na qual
a parte autora (impetrante) pede ao Estado-Juiz que profira uma ordem dirigida a uma
determinada autoridade pública (Mandado de segurança, Habeas Corpus, Habeas Data),
Tutela Jurisdicional
Meramente declaratória
Condenatória
Constitutiva
Figura 4 - Tipos de Tutelas Jurisdicionais
11
Exemplo em que se sagrou vencedora em uma licitação uma empresa que foi reconhecida como tal no
CETAMI ainda que tivesse oferecido preço mais alto que outra. Essa outra resolve ajuizar ação para anular
essa licitação. Se essa empresa que for ajuizar ação para ajuizar a ação esperar toda a tramitação da ação, a
que ganhou ação com maior preço já terá recebido os benefícios de ganhar a licitação e celebrar o contrato.
Preventivamente, a outra empresa pede de forma preventiva que o juiz profira uma decisão que impeça o
órgão público de celebrar o contrato.
Unidade III – Da Jurisdição 39
tendo no polo passivo uma autoridade pública ou alguém que a esteja representando,
querendo que o Estado-Juiz profira uma ordem à autoridade pública.
Princípios da Jurisdição
que a jurisdição pressupõe um território onde será exercida. Esse princípio, portanto,
estabelece limitações ao poder do juiz. Por isso que temos eventualmente um juiz de
determinada comarca, limitações territoriais ao exercício da atividade jurisdicional pelo
juiz, pois se entende que essas limitações territoriais permite uma maior racionalidade, pois
cada juiz atua dentro do seu território. A jurisdição adere a um território, e nesse território
ela será exercida.
12
Dificuldade em aceitar as decisões de tribunais internacionais, que pesam para o lado do mais fraco,
punindo, como no Tribunal Penal Internacional, os países fracos politicamente e economicamente, mas não
recaindo sobre os países mais ricos e fortes politicamente, com a afirmação da não atividade jurisdicional
sobre esses países mais fortes, montando uma superestrutura para se aprofundar as diferenças entre ricos e
pobres no mundo. Vemos, portanto, a importância da soberania na jurisdição, sendo o poder Estatal soberano
tudo na jurisdição. Não existe política e direito processual desvinculados, porque só pode exercer o poder
soberano quem tem o poder para isso. Esse poder é o poder jurisdicional que deriva do poder político de um
Estado soberano, por isso não temos como desvincular o processo da jurisdição, derivada da soberania.
Se um cidadão brasileiro realizar um fato ilícito punido pela lei brasileira no exterior violando um bem da
vida brasileiro, ele responde por isso.
Unidade III – Da Jurisdição 41
13
Temos como exemplo um caso clássico de juízo de exceção do caso que julgou o ditador Romeno Nicolai
(?) na época da derrocada dos regimes comunistas, com o ditador sendo levado ao tribunal de exceção e já
volta executado. Esses tribunais existem para punir inimigos políticos, sendo necessários princípios como do
juízo natural para sagrar um Estado de Direito.
14
Diferente do pedido de inquérito, procedimento investigatório.
42 Teoria geral do processo I
15
Essa defesa cabe a ambos os litigantes, autor e réu, devendo ambos ter de mesma forma o direito de
defender seus pontos de vista, de sua pretensão e resistência, de acordo com os meios e os recursos legalmente
cabíveis. Esse princípio é levado a muitos extremos até.
Unidade III – Da Jurisdição 43
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”. Também tem
previsão no Código de Processo Civil de 2015: “Art. 9o Não se proferirá decisão contra
uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. (...) Art. 10. O juiz não pode decidir,
em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado
às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício”.
Princípios da Jurisdição
Temo como décimo quinto princípio o princípio da boa fé processual, muito ligado
ao princípio da lealdade. Segundo este as partes não devem se valer do processo para
produzir ou alcançar fins proibidos ou vedados por lei. O processo é um meio
público/estatal de composição da lide, e nesse contexto de meio público de composição da
lide o processo deve ser utilizado para alcançar uma finalidade prevista na norma, e os atos
processuais devem ser praticados nos limites da lei. As partes devem se portar com boa fé
no processo. Presume-se a boa fé, sendo difícil reconhecer a má fé, sendo, portanto difícil
aplicar sanções às partes que utilizam o processo com má fé, pela própria presunção da boa
fé das partes. Em relação a esse dois princípios temos:
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade.
16
Na corte americana, e muitas cortes europeias, a publicidade vai até a sustentação oral do advogado, sendo
a decisão tomada em uma sala fechada. Quando se chega a uma decisão, se escolhe um relator para apontar
a decisão. No Brasil, temos a ideia de fiscalização, com sociologicamente sendo aplicado em grande extensão
esse princípio da publicidade, com maior transparência.
46 Teoria geral do processo I
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das
partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
Esse tempo razoável depende do processo, de modo que os processos não demorem sem
uma razão para tal. É um direito da parte ser o caso julgado o mais rápido possível com
serenidade. Se contempla também esse princípio no Código de Processo Civil em seu art.
4º: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída
a atividade satisfativa”.
Os aspectos da Jurisdição
a. Noções introdutórias
Nesse contexto podemos dizer que o Estado no exercício de sua função primordial de
criar e desenvolver as condições de vida em sociedade exerce três funções independentes e
harmônicas entre si que correspondem aos três poderes. Temos a função da legislação
correspondendo ao poder Legislativo, a função da Administração Pública correspondendo
ao poder Executivo, e a Jurisdição correspondendo ao poder Judiciário. Na função
legislativa o Estado trata de elaborar as normas que vão regular as condições de vida em
sociedade, inclusive em relação à estrutura do próprio Estado. Portanto, o Estado no
momento em que exerce a função legislativa irá elaborar as regras, as normas que irão reger
e regular a vida em sociedade, inclusive em relação à própria estrutura do Estado. Serão
48 Teoria geral do processo I
nessas normas que o Estado elaborar que se reconhece o direito. São normas que o Estado
elabora de forma a regular as relações entre as pessoas e entre as pessoas e o próprio Estado.
Na função legislativa teremos a elaboração de normas que buscam regular toda a vida
privada no âmbito do Estado e a vida desse cidadão em relação ao Estado ou desse Estado
em relação ao cidadão.
Por fim temos o Estado-jurisdição, o Estado exercendo sua função jurisdicional, que,
aplicando as normas elaboradas pela função legislativa, compor as lides. O Estado-
jurisdição vai aplicar as normas elaboradas para o fim de compor os litígios, são as normas
de direito material e processual, estas últimas apontando para a forma de condução do
processo, tudo encontrando previsão na lei, na norma.
Legislação
direcionando as demais funções, por isso nos
regimes parlamentaristas a função legislativa
e administrativa se confundem, exercendo a
administração o controle do legislativo,
caindo o governo em caso contrário, não
havendo o exercício de função administrativa
Administração Jurisdição
sem a capacidade de exercer função
Figura 5 - Relação entre os três poderes legislativa.
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 49
B. Jurisdição e Legislação
Não se pode ignorar que ao tomar uma decisão o juiz sempre acaba por legislar, sempre
acaba agindo de forma política, mas não político partidária. Por isso desde sempre em um
Estado democrático de direito não temos um legislativo acompanhando a jurisdição. O
grande problema não é o ativismo judicial, mas quando a jurisdição não acompanha a
legislação, ou seja, quando há uma distância entre o judiciário e o legislativo, sem que haja
algo a preencher essa distância, exceto pelo poder dos mais fortes, por frustações e pelos
próprios conflitos, diferente de quando o legislativo não acompanha a jurisdição, mas sendo
a distância preenchida pelo ativismo judicial. Quando a sociedade (legislativo) está à frente
do Judiciário, começa-se a imaginar a resolução do problema pela própria força, com a
descrença nas instituições, culminando em ações como a de linchamento, em um desaguar
de frustações em relação às Instituições, relacionado às próprias instituições do Estado que
devem satisfazer os cidadãos. Essa relação é problemática por se relacionar com as
instituições do Estado em sua relação com a sociedade.
Ainda nessa relação falamos também que a legislação trata de elaborar regras genéricas
e abstratas de conduta destinadas a reger a vida em sociedade. Mas a legislação elabora
regras gerais e abstratas, reconhecendo e elaborando, declarando de forma taxativa, por
exemplo, o direito à personalidade. O juiz irá concretizar a norma elaborada de forma
genérica e abstrata pela legislação sendo concretizada para assim se ter a composição do
litígio. Enquanto a legislação elabora uma regra geral e abstrata, a jurisdição traz a norma
para o caso concreto de forma a compor um conflito de interesses, um litígio.
Jurisdição vem do latim “dizer o direito”, no dizer o direito para compor as lides. A
legislação também é uma atividade que diz o direito, mas o diz como origem do direito,
visto o direito dentro de uma concepção normativa. Nesse contexto podemos
tranquilamente dizer que a legislação também é uma atividade que diz o Direito com um
enfoque diverso da jurisdição.
C. Jurisdição e Administração
A outra diferença que podemos ver é que a jurisdição só age quando provocada, sendo
por sua própria natureza inerte, segundo o princípio da inércia, sendo por sua própria
natureza inerte, não tomando a iniciativa de prestar a jurisdição. Por outro lado, a
administração tem a iniciativa. A partir daí cabe ao Estado provedor realizar as atividades
para o seu fim. O administrador tem iniciativa que o julgador não tem.
Temos ainda outra diferenciação quanto a aplicação da norma. Ainda que ambas as
funções apliquem as normas, só que a jurisdição aplica a norma como a razão de ser da
solução de um conflito, enquanto que a administração aplica a norma como um limite à sua
atuação. A outra diferença é que a jurisdição aplica a norma em face de um conflito, e por
isso, o julgador adota uma posição de imparcialidade no momento da aplicação da norma.
Já o administrador não tem posição de imparcialidade em relação a norma, aplicando-a em
interesse próprio da administração para saber o que ele pode ou não fazer. Se o orçamento
previu que em uma duplicação de uma rodovia o administrador pode gastar X, ele irá aplicar
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 53
a norma no interesse da própria administração para realizar aquela norma. São essas
portanto as principais diferenças possíveis de serem identificadas.
A. Espécies de Jurisdição
Nesse aspecto, em relação à matéria, a jurisdição pode ser (1) penal ou (2) cível (não
penal).
(1) A jurisdição penal é a jurisdição que versa sobre lides de natureza penal, ou seja, é
a jurisdição que versa sobre conflitos de interesse qualificados por pretensão de
natureza punitiva. Na jurisdição penal, portanto, aplicamos o código penal e o
código penal militar, e o instrumento da jurisdição penal é o processo penal e o
processo penal militar. Temos a atuação do Estado-juiz para resolver um conflito
com pretensão de aplicar uma punição a alguém que realizou um tipo penal.
(2) A jurisdição cível ou não-penal é a jurisdição que versa sobre lides de natureza não-
penal, isto é, versa sobre conflitos de interesse qualificados por pretensão de
natureza não-punitiva. Na jurisdição não-penal temos o Estado-juiz resolvendo
conflitos de interesse com natureza não-punitiva (indenização, pagamento de um
valor a mais). Aqui se inclui lides eventualmente administrativas, tributárias, cíveis.
Dentro dessa jurisdição, por questão de conveniência do legislador, foram retiradas
algumas espécies de lide que passaram a constituir objeto de jurisdições próprias, é
54 Teoria geral do processo I
Espécies de Jurisdição
contraditório, visto que todo o processo se desenvolve sob o signo do contraditório. Temos
uma tendência de acharmos que o contraditório só serve para ajudar o réu, mas também
serve para beneficiar o autor, como quando o réu traz uma prova nova aos autos, dando
oportunidade do contraditório ao autor. Portanto, na jurisdição contenciosa, como temos o
conflito a ser composto, este será composto com a observância do contraditório. E ainda
temos o contraditório como característica da jurisdição contenciosa. E também como
característica da jurisdição contenciosa, temos a seguinte circunstância: a jurisdição
contenciosa tem como objeto a composição do conflito. A composição do conflito se dá
quando houver o trânsito em julgado da sentença ou do acórdão. Na jurisdição contenciosa
há a coisa julgada. É a decisão ao qual não mais cabe o recurso. E diante dessa última
palavra do Estado juiz podemos dizer que esse conflito está definitivamente composto,
resolvido. E nesse sentido, a jurisdição contenciosa alcançou o seu ser, ela compôs o seu
conflito. Temos ainda outra característica de que na jurisdição contenciosa o Estado-juiz
como vai resolver o conflito entre o autor e réu se porta com imparcialidade. O juiz é o
sujeito imparcial da relação processual no âmbito da jurisdição contenciosa, sendo o sujeito
que em nome do Estado irá dizer se o autor tem razão em sua pretensão ou se o réu tem
razão em sua resistência. Essa posição de imparcialidade do juiz no curso do processo é
também uma característica.
jurisdicional. Temos aspectos totalmente privado entre entes privados. Podemos ter um tipo
de interesse privado que acarrete intervenção do Estado. São interesses privados que pela
sua repercussão exige a interferência de um órgão em tese estatal. Temos ainda os interesses
em que se estabelece um agente judiciário para responder. São interesses privados que
constituem objeto de uma apreciação jurisdicional. O que era originalmente uma jurisdição
voluntária pode se tornar contenciosa, por exemplo da separação por mútuo consentimento
se tornando um conflito. É essencial para a distinção verificar a presença ou não do conflito.
(1) Na jurisdição voluntária temos interesses que não estão em conflito. Se não há
um conflito de interesses, logo podemos dizer que uma das características da
jurisdição voluntária é a não existência de partes, mas interessados.
(2) Como na jurisdição voluntária temos interesses que não estão em conflito, temos
nesse caso como segunda característica a ausência de contraditório na jurisdição
voluntária.
(3) Se não temos na jurisdição voluntária conflitos de interesses, não há o que
compor em termos de conflito. A atividade do Estado-juiz não se destina a
compor conflitos ou ao apaziguamento social, não havendo, portanto, coisa
julgada. Por isso temos em uma determinada circunstância, podendo, por
exemplo, nomear um tutor e depois outro, desde que mais conveniente ao
interesse do menor.
(4) Como última característica temos que na jurisdição voluntária o juiz não age
com imparcialidade, mas buscando tutelar os interesses que em tese devem ser
protegidos, como no exemplo do menor, analisando o que é melhor para ele. Na
jurisdição voluntária o juiz abandona o seu componente de imparcialidade para
zelar pelos interesses que lhe são entregues para administrar.
Cada estado membro da federação tem o seu próprio poder judiciário estruturado
pela Constituição estadual e organizado pela lei de organização judiciária local, estadual,
com estruturas de poder judiciário com organização do poder judiciário dada pela lei de
organização judiciária local, com a previsão de cada Vara de justiça estadual, horário de
funcionamento das varas, com todo estado da federação tendo essa lei. O Distrito Federal
tem uma justiça do DF que integra o aparato estatal da União, sendo bancada por esta. É
chamada a Justiça do Distrito Federal e Territórios, embora não tenhamos mais na nossa
estrutura os territórios. É a Constituição estadual e a lei de organização judiciária local que
disciplina a estrutura judiciária de cada membro da federação.
Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
no âmbito do qual o juiz estadual exerce sua jurisdição. A justiça estadual no primeiro grau
de jurisdição é organizada em entrâncias. Em geral o juiz de direito aprovado em concurso
irá exerce primeiramente em uma comarca de primeira entrância, entrando como juiz
substituto. São as comarcas menores de uma população menor em que em geral há um
único juiz que julga toda a competência da justiça estadual. Entra na carreira da
magistratura estadual como juiz de primeira entrância, podendo ser posteriormente
promovido a uma comarca de 2ª estância, ocorrendo sempre alternadamente por
antiguidade e por merecimento. Na comarca de segunda entrância, já será uma comarca
maior, não sendo mais apenas um juiz, com uma competência limitada. Posteriormente,
também por promoção (antiguidade e merecimento) será promovido para uma comarca de
terceira estância, em uma cidade maior, com um número maior de juízes, com uma
competência mais limitada ainda. Em muitos estados há ainda a comarca de entrância
especial, em geral as comarcas da capital do estado e aquelas cidades maiores. Essa é uma
regra geral, sendo disciplinada por estado, nada impedindo que possa haver estruturas
diferentes.
20/98 e EC no 45/2004)
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder
além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho
ou decisão;
XI – nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser
constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco
membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais
delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por
antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;
Podemos ter estados com regulação diferente da acima. Portanto temos que, para
um juiz tenha acesso ao cargo de desembargador deve estar na última estância com
promoção sempre alternadamente por antiguidade e por merecimento. Quando a promoção
é por antiguidade, lança-se um edital pedindo que os juízes manifestem o seu interesse por
ocupar aquela vaga, e os juízes de direito que entregam essas condições, selecionando o
nome mais antigo e submetendo-o ao plenário de justiça para aprova-lo ou não. Sendo
aprovado o nome, a promoção é efetivada. Quando a vaga for por merecimento, o
presidente do tribunal lança o edital dando ciência aos juízes de direito sobre a vaga e pede
que os juízes de direito da entrância especial ou última estância que integrem a 5ª parte do
tribunal manifestem interesse. E aí os juízes de direito que perfazem tais condições
apresentam seus nomes e o presidente do tribunal irá submeter ao plenário o nome de todos
64 Teoria geral do processo I
os que se candidataram dentro dos requisitos. E aí o tribunal irá elaborar uma lista tríplice,
encaminhada ao próprio presidente do tribunal que irá escolher, normalmente o primeiro
da lista que foi mais votado no âmbito do plenário do tribunal. Deve ser promovido aquele
juiz que por três vezes seguidas integrou a lista tríplice, ou não consecutivamente por cinco
vezes. Quando for vaga do quinto constitucional, deve ser advogado com mais de 10 anos
de carreira, assim como membro do Ministério Público com mais de 10 anos de carreira,
como exposto no art. 94:
O TJDFT também tem como principal recurso por ele julgado a apelação, mas não
o único, sendo formado por desembargadores observando a mesma proporção (4/5 de
Juízes de Direito e 1/5 por advogados e Ministério Público), com promoção de mesma
forma pelos critérios já analisados, por meio de edital e candidatura. Aplica-se a regra do
juiz, por merecimento, que figurar três vezes na lista seguidamente, ou cinco vezes não
seguidamente, deve haver uma aprovação obrigatória.
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados,
e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros do Ministério Público, com mais
de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com
mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder
Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.
O TJDFT tem a sua jurisdição sobre todo o Distrito Federal, enquanto o juiz de
direito tem a sua jurisdição sobre a circunscrição que lhe cabe.
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 67
Cada estado membro da federação tem autonomia para criar, no âmbito dos
respectivos tribunais de justiça, um Tribunal Militar ou, ainda, auditorias militares para
julgar as forças policias locais (a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar), sendo
possível apenas se tiver pelo menos 20 mil integrantes essa força militar17. Nos parágrafos
3º e 4º do art. 125, temos:
A lei apontada é o código penal militar. A competência do STM cabe apenas para
os militares federais.
17
São pouco os estados que tem um Tribunal Militar, pelos custos desse Tribunal, normalmente tendo uma
Vara/Auditoria para o julgamento na própria justiça local, mas quando existem, o órgão de cúpula ainda é o
Tribunal de Justiça. No DF temos um juiz-auditor militar. Normalmente, portanto, não há desembargador
militar. Cabe recurso do juiz de 1º grau para o tribunal militar. Nos locais em que há Tribunal Militar, cabe a
ele a apelação da sentença da auditoria militar; quando não, cabe ao Tribunal de Justiça.
68 Teoria geral do processo I
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre
cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber
jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente
da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois)
anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (EC no 45/2004 e EC no 61/2009)
VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados
e outro pelo Senado Federal.
§ 1o O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e
impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.
§ 2o Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
70 Teoria geral do processo I
§ 3o N ão efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal
Federal.
I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder
Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias
ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de
registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar
e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a
disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar
outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da
Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder
Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso
-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições
que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:
I – receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços
judiciários;
§ 7o A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para
receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou
contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.
Dois cidadãos, de notável saber jurídico Indicado um pela Câmara dos Deputados
e reputação ilibada e outro pelo Senado Federal
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 73
Quantidade Composição
Não há promoção por antiguidade, sendo sempre por merecimento. Ou seja, quando
há abertura de vaga para Desembargadores de Tribunal de Justiça, o presidente do STJ
encaminha um ofício aos 27 tribunais de justiça, informando a existência da vaga e para
que os interessados manifestem seu interesse no preenchimento da vaga. Todos os
candidatos têm seus nomes enviados ao STJ que irá realizar uma sessão para examinar
esses nomes e escolher três nomes que irão entregar a lista tríplice, portanto, do nome de
todos os candidatos dos TJs, em uma sessão os três mais votados integram a lista tríplice.
Essa lista é enviada à Presidência da República, que irá escolher um dos nomes. Esse nome
74 Teoria geral do processo I
escolhido deverá ser encaminhado ao Senado Federal que deverá aprovar esse nome por
maioria absoluta. Aprovada a sua escolha, ocorre sua nomeação e posse. O procedimento
é semelhante para os desembargadores Federais nos 5 TRFs do Brasil. No Senado ocorre
uma sabatina prévia na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.
No STJ, teremos ora mais membros do MPF, ora mais advogados. Quando a vaga
aberta é a advogado, este deve ter no mínimo dez anos efetivos de exercício como
advogado, sendo informada à OAB por meio de ofício a existência da vaga, pedindo à OAB
que seja elaborada uma lista sêxtupla para ser encaminha ao STJ. A OAB encaminha o
nome conforme votação pelo Conselho Federal, sendo essa lista sêxtupla submetida ao
crivo do Plenário do STJ que irá por meio de tal formar a lista tríplice, a ser enviada à
presidência da República, para que a Presidência escolha um nome e o submeta ao Senado
Federal, para que seja aprovado pela maior absoluta do Senado. Aprovado o seu nome,
ocorre sua nomeação e posse.
Federal tem sua jurisdição federal tendo sua circunscrição recebendo o nome de seções
judiciária em capitais e subseções judiciárias de cidades pequenas. O Juiz Federal tem sua
jurisdição limitada territorialmente, ou aos limites de sua seção, ou aos limites de sua
subseção judiciária. Na Justiça Federal, a exemplo do que ocorre na Justiça do Distrito
Federal e Territórios, não há entrância, entrando como Juiz Federal substituto, sendo
promovido a juiz titular caso haja vaga. Se encerra aqui a carreira do Juiz Federal em
primeiro grau de Jurisdição, não existindo uma sequência de entrâncias, sendo sua
promoção para juiz titular sendo realizada por mérito e por antiguidade.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (EC no 45/2004)
III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; (crimes do colarinho branco)
VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados
os casos de competência dos tribunais federais;
76 Teoria geral do processo I
§ 1o As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.
§ 2o As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for
domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou
onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 4o N a hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional
Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
Portanto a Jurisdição dos TRFs é regionalizada. Os TRFs são compostos por juízes
do TRF ou desembargadores federais, devendo, para seu ingresso, ter idade mínima de 30
anos e máxima de 65 anos de idade.
Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados,
quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre
brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: (EC no 45/2004)
I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;
II – os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por
antiguidade e merecimento, alternadamente.
§ 1o A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais Regionais Federais e
determinará sua jurisdição e sede.
§ 2o Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização de
audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva
jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
§ 3o Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar descentralizadamente, constituindo
Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as
fases do processo.
STF
CNJ
Juízes Eleitorais/Juntas
Juízos de Direito Juízos de Direito do DFT Juízos Federais Juízos do Trabalho
Eleitorais
órgão o segundo grau de jurisdição da justiça do trabalho, tendo como principal recurso,
mas não o único, o recurso ordinário. Temos no Brasil 24 tribunais regionais do trabalho,
mantendo o nome em vista de um aspecto histórico.
Os TRTs são integrados por juízos do TRT ou, como também são conhecidos
desembargadores do Trabalho, aplicando-se também a eles a regra do quinto constitucional,
ou seja, os TRTs são formados por 4/5 de juízes de primeiro grau e 1/5 de advogados e
membros do Ministério Público do Trabalho. Um membro do TRT tem sua forma de
provimento muito semelhante a de um membro do TRF por antiguidade e merecimento,
alternadamente. Quando a vaga for destina ao preenchimento por antiguidade, o Presidente
do Tribunal baixa um edital para ciência dos juízes do trabalho e para que aqueles mais
antigos se manifestem, sendo que aquele com nome mais antigo seja levado ao plenário e
então encaminhado à Presidência da República para que se aprove ou não e seja feita sua
nomeação. Quando a vaga for por merecimento, o Presidente do Tribunal baixa um edital
para o preenchimento da vaga, os juízes manifestam o interesse e esses juízes que
manifestam o interesse tem seus nomes levados ao plenário do tribunal e o plenário irá
escolher uma lista tríplice que será encaminhada à Presidência da República para que seja
escolhido um nome. Quando for vaga do 1/5 constitucional da advocacia, o Presidente do
Tribunal respectivo encaminha um ofício e, quando a jurisdição do TST for apenas em
relação a um determinado estado, se encaminha o ofício para o Presidente da Seccional
local da OAB para elaboração de uma lista sêxtupla dos magistrados interessados.
Escolhida essa lista sêxtupla pela OAB, está será encaminhada ao TRT respectivo que irá
transformar essa lista sêxtupla em uma lista tríplice a ser encaminhada à Presidência da
República para que se escolha um nome. Quando a vaga de advogado for em um TRT com
jurisdição sobre mais de um estado, encaminha-se ofício para o Presidente do Conselho
Federal da OAB para que este elabore a lista sêxtupla. A escolha será dada
preferencialmente entre os advogados dos estados dentro da jurisdição. Quando for vaga
destinada ao Ministério Público do Trabalho, é feita uma eleição no âmbito da carreira do
Ministério Público do Trabalho para que os seis nomes mais votados possam integrar a lista
sêxtupla. Essa lista será encaminhada para o TRT respectivo que levará esses seis nomes
para deliberação do seu órgão plenário, sendo escolhidos três nomes em lista tríplice a ser
encaminhada à Presidência da República que irá escolher um nome para integrar o TRT.
Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes,
recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República
dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: (EC no 45/2004)
I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
II – os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e merecimento,
alternadamente.
§ 1o Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de
audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva
jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
§ 2o Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente,
constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça
em todas as fases do processo.
O TST tem jurisdição sobre todo o território nacional para a matéria trabalhista. É
integrado por 27 ministros, e em relação ao TST também se aplica a regra do 1/5
constitucional. 4/5 do TST é formado por Juízes de TRTs e 1/5 por advogados e membros
do Ministério Público do Trabalho. A sistemática se aproxima do STJ, porque o ministro
do TST deve ser brasileiro com mais de 35 anos de idade e menos de 65 anos de idade para
ingresso na carreira. Para o TST, não há promoção por antiguidade, se dando sempre por
merecimento. No caso do ingresso para o TST, quando for vaga do 4/5, para os juízes de
TRT, deverão ser juízos da carreira da magistratura trabalhista. Quando for vaga para o
STJ, diferentemente, pode ser alguém que entrou pelo 1/5 da advocacia ou do Ministério
Público. Quando for abrir uma vaga no Tribunal Superior do Trabalho destina a juiz de
Tribunal Regional do Trabalho, se encaminha ofício para os 24 TRTs informando da
abertura da vaga e pedindo que os candidatos manifestem interesse tendo nome
encaminhado ao plenário do TST, sendo elaborada uma lista tríplice encaminhada a
Presidência da República, sendo o nome encaminhado ao Senado Federal e necessitando
ser aprovado pela maioria absoluta do Senado. Aprovado o nome, faz-se a nomeação e a
posterior posse do ministro. Quando for vaga de advogados, o Presidente do TST
encaminha um ofício para o Presidente do Conselho Federal da OAB pedindo que se
elabore uma lista sêxtupla a ser encaminhada ao Tribunal Superior do Trabalho, escolhendo
seis, com a lista tríplice enviada à Presidência da República, para que o nome seja
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 83
Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos
dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo
Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do
I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões terão
efeito vinculante.
Alegando violação de disposição constitucional, é cabível o encaminhamento ao
STF.
Justiça Eleitoral
A Justiça eleitoral é formada em primeiro grau de jurisdição pelos juízes eleitorais,
existindo, na época das eleições, as chamadas juntas eleitorais. A jurisdição dos juízes
eleitorais se dá no âmbito das zonas eleitorais. Mesmo na época das eleições, as juntas
84 Teoria geral do processo I
eleitorais diminuíram com o voto eletrônico, porque antes com a cédula de papel a apuração
era realizada pelas juntas eleitorais. Em primeiro grau de jurisdição quem atua como juízes
eleitorais são juízes de direito estaduais ou do DFT. O TRE irá indicar o juiz eleitoral de
cada uma das zonas eleitorais, aproveitando o juiz de direito da comarca eleitoral,
recebendo uma gratificação eleitoral de cerca de 20-30% 18 do valor recebido por Juiz
Federal. Exercerá ao mesmo tempo as duas magistraturas, sendo esse exercício, em geral,
por um período de dois anos. Quando há eleições, é comum o TRE respectivo para que o
juiz de direito fique apenas como juiz eleitoral.
O órgão de segundo grau da Justiça Eleitoral é o Tribunal Regional Eleitoral
julgando em grau de Recurso Ordinário os recursos interpostos pelos Juízes eleitorais ou
juntas eleitorais. Todos os estados da federação e o Distrito Federal tem seu próprio tribunal
eleitoral. Como apresentado no art. da Constituição Federal:
O Tribunal Regional Eleitoral é composto por 7 juízes ou desembargadores
eleitorais. Todos os TREs têm essa mesma composição. Desses 7, 2 são desembargadores
do Tribunal de Justiça do estado ou do Distrito Federal, sendo um deles o Presidente do
Tribunal de Justiça. O TRE também é integrado
por dois juízes de direito dos estados ou juiz de
direito do Distrito Federal e Territórios. O TRE
é formado por um desembargador federal de
onde tiver TRF, caso contrário, será um juiz
federal. Ainda integram o TER dois advogados
indicados em lista sêxtupla pelo Tribunal de
Justiça estadual ou pelo TJDFT para que a
Presidência da República escolha os nomes.
Conforme apresentado no art. 120 da
Constituição Federal:
Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na capital de cada Estado e no
Distrito Federal.
§ 1o Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
18
STF -> STJ (-5%) -> TRF (-5%) -> Juiz Federal (-10%)
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 85
Justiça Militar
Temos por último a Justiça Militar da união, que julga os militares da União em
relação aos chamados crimes militares, sendo militares do Exército, Marinha e
Aeronáutica. Em primeiro grau de jurisdição temos os juízos ou auditorias militares. As
auditorias militares formam uma espécie de órgão colegiado, julgando em primeiro grau os
membros do Exército, Marinha e Aeronáutica. Acredita-se haver uma necessidade do
conhecimento dos rigores da vida militar para conheciemtno da vida do quartel. O juiz
auditor militar entra na carreira por meio de um concurso de provas e títulos. No âmbito da
justiça militar na união, o órgão de segundo grau, que é também um órgão superior, é o
86 Teoria geral do processo I
Superior Tribunal Militar (STM), que julga em grau de apelação as sentenças proferidas
pelas auditorias militares, tendo uma jurisdição nacional julgando casos de todo o brasil. O
STM é integrado por 15 ministros, sendo 10 militares da carreira militar e 5 civis. Desses
10 militares três são generais do mais alto posto da Marinha, 4 generais do mais alto posto
do Exército, e três são generais do mais alto posto da Aeronáutica. Dos cinco civis, três são
advogados, escolhidos pela presidência da República, um é juiz militar de carreira também
escolhido pela Presidência da República, e um é membro do Ministério Público Militar. Os
membros do STM deverão ter o nome aprovado pelo Senado Federal por maioria simples,
todos, inclusive os militares. Conforme apontado no art. 123 da Constituição Federal:
Observa-se no art. 122 os componentes da Justiça Militar:
Dos acórdãos do STM cabe recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal em
matéria Constitucional.
São garantias que o poder constituinte garantiu ao magistrado para que possa
exercer seu poder jurisdicional, afirmando que são garantias tanto à magistratura quanto à
sociedade para o juiz exerça sua função de forma imparcial e autônoma. A magistratura
tem três garantias constitucionalmente asseguradas. São garantias da magistratura a:
(1) VITALICIEDADE: por meio dessa garantia da vitaliciedade o juiz, após dois
anos no exercício do cargo, somente pode ser demitido do seu cargo por
decisão/sentença judicial transitada em julgado. Esse período até os dois anos é
chamado de estágio probatório. Nesse período o juiz pode ser exonerado de
sua função por ato do tribunal desde que assim deliberado por maioria absoluta.
Como apontado no art. 95 da Constituição Federal:
Essa regra de vitaliciedade após dois anos se aplica apenas para juízes de
primeiro grau. Para os demais cargos, a vitaliciedade se aplica a partir da posse.
Administrativamente, o juiz vitalício não pode perder o cargo.
(2) INAMOVIBILIDADE (INTRANSFERIBILIDADE): por meio dessa garantia,
o juiz só pode ser removido/transferido a pedido de forma a impedir que o juiz
possa sofrer sanções decorrentes de decisões que tenha proferido. O juiz só pode
ser removido a pedido, fora certas exceções. O juiz pode inclusive recusar
promoção. A lei orgânica da magistratura contempla como uma das sanções
administrativas é a sua remoção compulsória, tendo esse caso como exceção à
Unidade III b – Jurisdição no Estado Constitucional 87
19
Exemplo: caso em que os juízes da capital foram removidos pela ausência de juízes em cidades menores.
20
Tem-se o entendimento de que o juiz pode exercer a magistratura em instituições de ensino diferentes. No
caso das palestras, questiona-se o que se entende por magistérios (passar o conhecimento, passar o
conhecimento de forma academicista?). Como não há nenhuma regulamentação sobre isso, depende da visão
que cada um tem do magistério. O valor recebido não está inserido no valor do teto.
21
Por exemplo, vedado o auxílio em Congressos de Juízes. Faz-se necessário o patrocínio de eventos para a
própria existência de debates sobre aspectos jurídicos.
88 Teoria geral do processo I
(5) A outra vedação é a que recomenda que o juiz que se exonerar ou se aposentar
não poderá exercer a advocacia no órgão do qual se exonerou ou do qual se
aposentou por três anos. É a chamada quarentena dos juízes. Observa-se o
parágrafo único inciso V do art. 95. É vedado seu exercício não só na Vara, mas
na instância de primeiro grau no órgão ao qual era vinculado.
Esclarecer os fatos ao juiz, trazer o direito aplicado ao fato, sendo que quando bem
exerce a profissão tem um trabalho importantíssimo à justiça. Além disso, também é função
essencial à justiça a chamada defensoria pública, também uma instituição permanente
essencial à administração da justiça, se encarregando de promover os direitos humanos e
promover a assistência judicial e extrajudicial aos necessitados. Contribui para levar o
acesso ao poder judiciário para aqueles que não teriam condições de levar ao poder
judiciário suas causas. Como apontado no art. 134 da Constituição Federal:
Por força desse princípio da unidade, a defensoria pública é vista como um órgão
uno, por isso podendo haver eventualmente um defensor público posterior a outro, sendo
indivisível a sua atuação, devendo atuar em defesa dos necessitados, com sua ação
Bibliografia 89
Bibliografia
22
Até alguns anos atrás era comum exercer convênios com empresas para exercer a atividade da defensoria
pública, mas hoje praticamente todos os estados já estão com a defensoria pública estruturada.
90 Teoria geral do processo I
PINHO, H. D. (s.d.). Teoria Geral do Processo Civil Contemporâneo. Editora Lumen Juris.
SANTOS, M. A. (s.d.). Primeiras Linhas de Direito Processual Civil (Vol. Vols. I e II).
Editora Saraiva.