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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

CURSO DE PEDAGOGIA

MARIA SUELI NASCIMENTO BARBOSA

SANDRA NASCIMENTO DE SOUZA SOARES

ESCOLA E FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DESSA RELAÇÃO NA ESCOLA


JUSCELINO KUBITSCHEK NO MUNICÍPIO DE NOVO REPARTIMENTO/PA.

NOVO REPARTIMENTO-PA

2017
MARIA SUELI NASCIMENTO BARBOSA

SANDRA NASCIMENTO DE SOUZA SOARES

ESCOLA E FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DESSA RELAÇÃO NA ESCOLA


JUSCELINO KUBITSCHEK NO MUNICÍPIO DE NOVO REPARTIMENTO/PA.

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Curso de Pedagogia da
Universidade Federal Rural da Amazônia -
UFRA, como requisito para obtenção do
grau de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Ms. Aerlen Clíssia


Freitas Borges

NOVO REPARTIMENTO-PA

2017
.

Ficha catalográfica
MARIA SUELI NASCIMENTO BARBOSA

SANDRA NASCIMENTO DE SOUZA SOARES

ESCOLA E FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DESSA RELAÇÃO NA ESCOLA


JUSCELINO KUBITSCHEK NO MUNICÍPIO DE NOVO REPARTIMENTO/PA.

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Licenciado em


Pedagogia pela Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA.

Data de aprovação: ____/____/2017

Conceito: _____________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________
Prof.ª Aerlen Clíssia Freitas Borges

ORIENTADORA

_______________________________________________________________
Prof.
1º. Membro

_______________________________________________________________
Prof.
2º. Membro
AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.


Aos professores que contribuíram para minha formação.
A minha orientadora Clíssia Freitas, pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções e incentivos.
Aos meus pais Roberto e Vanda que me deram força e confiança.
Ao meu esposo Antônio por todo incentivo e paciência.
Aos meus filhos Samira, Marianne e Antônio Filho que souberam
entender minha ausência.
Sem esquecer meus netos Ritha de Kássia, Larah e Heitor, que são meus
amores.
E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.

Meu muito obrigado!

Maria Sueli Nascimento Barbosa


AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por ter me dado saúde e força para superar as
dificuldades.
Aos professores que contribuíram para minha formação.
À minha orientadora Clíssia Freitas, pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções e incentivos.
À minha mãe Maria Nascimento que me deu força e confiança.
Ao meu esposo Narciso por todo incentivo e paciência.
Aos meus filhos Gustavo, Tarciso, Nathaniel, Nathália e Nathieli que
souberam entender minha ausência.
E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.

Meu muito obrigado!

Sandra Nascimento de Souza Soares


“Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende
o que ensina.”

Cora Carolina
RESUMO

A família, no contexto escolar tem um papel essencial para o desenvolvimento do aluno.


Nesse contexto, o presente estudo buscou analisar a importância da participação da
família no processo de ensino aprendizagem da escola Juscelino Kubitschek no
município de Novo Repartimento-PA. Para tanto, essa pesquisa objetivou discutir a
participação da família no ambiente escolar, além de identificar as dificuldades para
essa inserção. Na metodologia, utilizou-se uma pesquisa com uma abordagem
bibliográfica e de campo. A revisão bibliográfica evidenciou questões relevantes
voltadas para a argumentação me torno da relação família x escola. A discussão
evidenciou o papel relevante da participação familiar para o progresso do aluno em sua
vida acadêmica. Identificou-se que apesar da pouca escolaridade dos pais dos alunos
da escola pesquisada, os mesmos se interessam e participam da vida escolar, mesmo
que forma incipiente ou quando convocados. Concluímos também que faltam políticas
educacionais que propiciem uma participação mais ativa das famílias na escola
Palavras-chave: Família; participação; desempenho escolar.

ABSTRACT
The family has an essential role for student development in the school context. In this
context, the present study sought to analyze importance of family participation in the
teaching-learning process of Juscelino Kubitschek School in Novo Repartimento-PA
City. Therefore, this research aimed to discuss family participation in school
environment, besides identifying difficulties for this insertion. In methodology, a research
with a bibliographical and field approach was used. Bibliographical review has
highlighted relevant issues for argumentation around family vs. school. Discussion
evidenced relevant role of family participation for student progress in their school life. It
was identified that in spite of low students' parents schooling of studied school, they are
interested and participate in school life, even if incipient form or when summoned. We
also conclude that educational policies are lacking in order to promote a more active
participation of families in the school.

Keywords: Family; participation; school performance.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Parte frontal da Escola Juscelino Kubitschek .................... 38

Figura 02: Sala de aula da Escola Juscelino Kubitschek ..................... 39


LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Caracterização dos professores da Escola Juscelino


Kubitschek ........................................................................................................... 40
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11
2. EDUCAÇÃO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS ........................................... 13
2.1 A Legislação Educacional no Brasil .................................................................... 17
2.2 Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDB (9394/96).................... 20
3. ESCOLA E FAMÍLIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ........................................... 23
3.1Tipos de família ........................................................................................................... 23
3.1.1 Família Patriarcal e Família Moderna ............................................................... 24
3.2 A Participação da família na escola ......................................................................... 27
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 37
4.1 HISTÓRICO E ASPECTOS DA ESCOLA JUSCELINO KUBITSCHEK .......... 37
4.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................ 40
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 46
6. REFERENCIAS ............................................................................................................ 48
11

1. INTRODUÇÃO

A educação sempre ocupou um lugar primordial na vida em sociedade,


tendo a escola e a família papel fundamental nesse contexto. É indiscutível a
importância da intervenção dos pais no processo educativo formal dos filhos,
porém, ainda são confusos e difusos os papéis e responsabilidades que cada
uma dessas instituições possui nesse processo.
A presente pesquisa trata da relação Escola e Família e pretende debater
sobre a importância da presença da família no processo ensino/aprendizado das
crianças de maneira a favorecer a construção de parceria no desenvolvimento
das ações que contribuam com o sucesso escolar e social dos alunos atendidos
pela instituição.
O interesse deste trabalho em pesquisar a participação da família no
desenvolvimento escolar do aluno está relacionado com a busca constante de
aprimoramento da vida escolar, por parte dos pais e dos educadores. Este
interesse nasceu ao pensar até que ponto a família pode contribuir ou não para
o sucesso do aluno na escola. Buscando com esta pesquisa estudar os aspectos
que podem influenciar na aprendizagem da criança, na busca constante em
oferecer as melhores condições para que a aprendizagem aconteça.
A família e a escola possuem funções que se assemelham e se
aproximam, funções estas que poderiam se resumir, sinteticamente, em como
proteger e educar, dar autonomia a criança, pode permanecer no espaço da
troca e de parceria, sem cair na armadilha da disputa, buscando acertos e
corrigindo erros. Diante dessa argumentação, questiona-se qual a importância
da família no processo de ensino-aprendizagem da criança no contexto escolar?
Para respondermos coerentemente o questionamento acima, temos como
objetivo geral desta pesquisa: Analisar a importância da participação familiar no
processo educativo da criança no contexto escolar. Os objetivos específicos são:
discutir a contribuição da escola para a participação da família; verificar as
contribuições necessárias para o fortalecimento da participação da família na
escola; identificar as dificuldades encontradas para efetivação da participação
da família na escola.
Segundo Quivy e Campenhoudt (1999), qualquer trabalho na área das
Ciências Sociais deverá iniciar-se com uma pergunta de partida que relembre ao
investigado ao longo de todo o projeto, o que é que ele deseja saber o mais
12

exatamente possível. Assim o trabalho começou com uma elaboração de uma


questão de partida que serviu de base para o estudo teórico.
Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa, nos utilizamos de
pesquisas bibliográficas que tratavam do tema família e escola, analisando
vários estudos de casos, como forma de embasamento e modelo para nosso
trabalho.
Utilizamos também a pesquisa em campo a fim de verificarmos in loco
nosso objeto de pesquisa. Para subsidiar e dar suporte aos nossos resultados,
foram aplicados questionários aos pais e professores, com o intuito de
verificarmos a forma como os mesmos encaram a relação escola x família. A
aplicação de questionário aos professores nos ajudou também a identificar o que
a simples pesquisa in loco não conseguiu abranger.
O presente trabalho está estruturado em três capítulos descritos
resumidamente a seguir:
O primeiro capítulo se ocupou de discorrer e discutir a história da
educação, com o intuito de dar embasamento à pesquisa, discutindo o processo
educacional no Brasil e apresentando os principais documentos legais que
tratam sobre o tema.
No segundo capítulo, buscamos apresentar as principais discussões
atuais sobre a relação escola e família, discutindo mais detalhadamente o
conceito de família no decorrer do tempo e ressaltando a importância da
participação familiar no contexto da história. Para tanto, apoiou-se em vários
teóricos que discutem o assunto.
O terceiro capítulo foi reservado para a apresentação mais detalhada da
pesquisa. Neste capítulo, apresentamos de forma mais minuciosa nosso objeto
de estudo e expomos os resultados alcançados.
13

2. EDUCAÇÃO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS

A partir do estudo sobre a história da educação brasileira, mostrada por


Freitag (1980), desde o período da colônia, quando a organização do ensino era
feita pelos jesuítas da Companhia de Jesus até fins do século XX, com as
políticas democratizantes, pode-se analisar os seus diferentes contextos
nacionais e internacionais observando os diversos cenários educacionais
criados para atender sempre as classes dominantes.
Em todos os contextos pode-se perceber que desde a colonização
sofremos influências externas, principalmente europeias, que sempre utilizou a
educação como forma de dominação pacífica. Desde os primórdios já houve dois
diferentes tipos de educação, sendo um destinado aos índios e um para as elites
portuguesas, ou seja, educação para dominados e educação para dominadores.
Desde o início da colonização, Estado e igreja, confundiam suas
atribuições. A Igreja esteve presente em todos os setores da sociedade com
funções que variavam desde “catequizar” e “civilizar” os índios, como instaurar e
coordenar todo o sistema de ensino, além de desempenhar diversas outras
funções, Conforme nos afirma Freitag (1980):

Os colégios e seminários dos jesuítas foram desde o inicio da


colonização os centros de divulgação e inculcação do cristianismo e da
cultura européia, ou seja, da ideologia dos colonizadores.
Declaradamente sua função consistia em subjugar pacificamente a
população indígena e tornar dócil a população escrava. Assim, a Igreja,
utilizando-se também da escola, auxiliou a classe dominante
(latifundiários e representantes da coroa portuguesa), da qual
participava, a subjugar de forma pacífica as classes subalternas às
relações de produção implantadas. (FREITAG, 1980, p. 47-48)

Como pode ser observado nas afirmações citadas, percebe-se que a


igreja católica influenciou os rumos da educação, pois possuía os meios para
dominar as classes menos favorecidas, e assim atender aos interesses dos
colonizadores.
O primeiro colégio jesuíta do Brasil foi fundado na Bahia em 1550. E em
1553 começou a funcionar o curso de Humanidades e ao longo destes duzentos
anos de atividade, a ordem de Inácio chegou a dirigir 578 colégios, 150
seminários e 728 casas de ensino no mundo (FRANÇA, 1952).
14

Com a expulsão dos jesuítas em 1759, teve inicio o período pombalino


que durou 48 anos e não teve resultados muito positivos para a educação,
abrindo uma enorme lacuna que não foi preenchida nos anos seguintes, já que
eram os padres que ainda dominavam o cenário educacional e, portanto, as
medidas tomadas por Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de
Pombal – ministro do rei D. José I, não surtiram os efeitos esperados.
Além de colocar Portugal em pé de igualdade com as outras economias
mais prósperas da Europa, Pombal ainda tinha como um de seus objetivos
“emancipar” os índios tirando-os da tutela dos missionários jesuítas e integrando-
os aos brancos, e, inculcando neles a interiorização dos interesses portugueses
e levando-os a agir como se esses interesses fossem seus. (FREITAG, 1980)
Mesmo com todas as reformas feitas por Pombal somente no início do
século seguinte, em 1808, já no período Joanino, quando houve a mudança da
sede do Reino de Portugal e consequentemente com a vinda da Família Real
para o Brasil-Colônia, a educação e a cultura tomariam um novo impulso,
surgindo dessa forma algumas instituições culturais e científicas, de ensino
técnico e os primeiros cursos superiores, como os de Medicina nos Estados do
Rio de Janeiro e da Bahia (Id. Ibid, p.48).
Nesse Período que vai de 1808 a 1821, com a chegada da família real ao
Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e de Medicina, a
Biblioteca Real, o Jardim Botânico, a Escola de Medicina da Bahia (em Salvador)
e a do Rio de Janeiro (atual Faculdade Nacional de Medicina da UFRJ), a Real
Academia Militar do Rio de Janeiro e a Escola de Engenharia do Rio de Janeiro
( Id. Ibid, 1980).
No período imperial (1822 a 1888) é outorgado a primeira Constituição
Brasileira que garantia no Art. 179 a "instrução primária e gratuita para todos os
cidadãos“. Porém se levarmos em consideração a história do Brasil, observa-se
que a preocupação com a criação de leis específicas para a Educação no país
é consideravelmente recente, pois a primeira Universidade do Brasil só surgiu
em 1934, em São Paulo (BELLO, 1998).
Em 1827, foi criado por um Decreto Imperial, os primeiros cursos de
direitos, um em São Paulo (Faculdade de Direito São Francisco) e outro em
Olinda. Mesmo com o fortalecimento dos movimentos nas províncias para a
legislação sobre a instrução pública, ou mesmo com as reformas Couto Ferraz
15

em 1854 e Leôncio Correia 1879, ocorreram poucas mudanças na estrutura


educacional no período do Império (BELLO, 1998).
Com a Proclamação da República, o país sofre a influência da filosofia
positivista, na organização escolar orientada por princípios de liberdade e
laicidade do ensino, com orientação para a gratuidade da escola primária,
seguindo a orientação do que havia sido instituído pela Constituição brasileira.
Essa reforma tinha por princípio “transformar o ensino em formador de alunos
para os cursos superiores e não apenas preparador” (Ibidem, 1998, p.30).
Ainda de acordo com Bello (1998), é importante saber que o percentual de
analfabetos no ano de 1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto
Nacional de Estatística, era de 75%. Nessa perspectiva é que diversas reformas
foram sendo implantadas como medidas para melhorar o processo educativo
brasileiro. Dentre elas a Reforma Rivadavia Correa, de 1911; a Reforma de
Carlos Maximiliano, em 1915; (para reoficializar o ensino no Brasil) e a Reforma
João Luiz Alves. Na década de vinte, “ocorreu o Movimento dos 18 do Forte
(1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista
(1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes, (1924 a 1927)”.
(Ibidem,1998).
Somente em 1930, foi criado o Ministério dos Negócios da Educação e
Saúde Pública, no governo de Getúlio Vargas, que nomeou Francisco Campos,
um jurista para comandar a pasta. A Educação não era a única área tratada pelo
ministério, que também desenvolvia atividades pertinentes à saúde, ao esporte
e ao meio ambiente. (LOBO, 2010, p.3)
Pimenta (1990) afirma que Francisco Campos, responsável pelo Ministério
da Educação e Saúde Pública, estruturou o sistema de Ensino brasileiro por meio
de cinco decretos baixados em 1931 e outro complementar em de 1932.
a) Decreto que criou o Conselho Nacional de Educação (nº 19.850,
11/4/1931).
b) Decreto que organizou o ensino superior no Brasil e adotou o regime
universitário (nº 19.851, 11/4/1931).
c) Decreto que organizou a Universidade do Rio de Janeiro (nº 19.852,
11/4/1931).
d) Decreto que organizou o ensino secundário (nº 19.890, 18/4/1931).
e) Decreto que organizou o ensino comercial e regulamentou a
profissão de contador (nº 20.158, 30/6/1931).
f) Decreto que consolidou as disposições sobre o ensino secundário
(nº 21.241, 14/4/1932) (p. 30-31).

Esta criação, da maneira que aconteceu não agradou aos educadores da


época e outro dado importante observado nos documentos é a contestação feita
16

por Cecilia Meireles à afirmação do ministro da educação, e que diz respeito aos
dados do censo de 1920 do qual questiona e apresenta outra estatística:
(...) do censo de 1920, a ultima que possuímos. Baseando-nos nele, tal
como vem na ‘Divulgação do Ensino Primário’ do Dr. Frota Pessoa,
chegamos à seguinte conclusão: sobre uma população de 30.635.605
habitantes, analfabetos 23.142.248. Só temos, portanto, 7.498.537 de
alfabetizados (MEIRELES apud LOBO, 2010, p. 37):

Diante ao exposto, é que em 1932, um grupo de intelectuais, preocupados


com a educação elaborou um programa de política educacional amplo e
integrado, que foi instituído como: Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
redigido e assinado por 26 conceituados educadores, como Fernando de
Azevedo, Lourenço filho, Cecilia Meireles, Anísio Teixeira e outros. A partir de
então muitas lutas vem sendo travadas no cenário da educação brasileira.
Destarte, pode-se afirmar que muitas mudanças foram apresentadas no campo
educacional e dentre eles alguns significantes avanços a exemplo da política de
incentivos à participação da família na vida escolar dos filhos que está garantida
na Legislação Educacional brasileira.
A discriminação e a desestruturação familiar provocada por diversos
fatores (separações, abandonos, drogas, alcoolismo, prostituição, a violência
doméstica, exclusão social e o analfabetismo) agravam os obstáculos
enfrentados na educação, já que se reflete principalmente no rendimento escolar
das crianças aumentando a evasão, a repetência, e a distorção idade/série que
consequentemente acarretarão no baixo desempenho do aluno na escola. Daí a
importância de serem criadas leis especificas, com base na Constituição
Federal, que é a Lei maior para garantir o direito à educação.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova tinha como proposta que o
Estado organizasse um plano geral de educação e definisse a bandeira de uma
escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita e que serviu como base para a
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil promulgada em 1934 e
que afirma em seu artigo 149 “ser a educação direito de todos, devendo ser
ministrada pela família e pelo poder público”, como reafirma a nova Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996 (LDB
9394/96), referendada seis décadas depois.
17

2.1 A Legislação Educacional no Brasil

Antes mesmo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,


votada pela Assembleia Nacional Francesa em 1789, as lutas pela Educação já
existiam, e a partir da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, quando
esta adotou a Declaração Universal dos Direitos do Homem as discussões sobre
a Educação como Direito Humano passou a permear o cenário mundial, já que,
praticamente todos os países membros da Organização Mundial das Nações
Unidas (ONU), garantem em seus ordenamentos jurídicos o direito de acesso e
permanência de seus cidadãos à educação escolar básica e de qualidade
(VALENTE, 2002, p. 96).

Desde 1824 quando foi instituída a antiga Constituição Federal Brasileira,


já se tratava de princípios gerais para a instrução primária gratuita para todos os
cidadãos. Em 15 de outubro de 1827, foi publicada a primeira Lei Orgânica do
Ensino no Brasil, e dentre seus artigos esta declara que: “Art. 1º. Em todas as
cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá as escolas de primeiras letras
que forem necessárias” (BRASIL, 1824).

É nesse contexto que ocorreu a promulgação da terceira Constituição do


Brasil em 16 de julho 1934 e a segunda desde a Proclamação da Republica, que
já no Capítulo II, assegura em alguns de seus artigos a determinação para que
a União institua o Plano Nacional de Educação e dá outras atribuições,
garantindo assim, o ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados,
além de coordenar e fiscalizar a execução desse ensino em todo o território
nacional, como também prevê as atribuições da família na educação dos filhos
como pode ser observado nos artigos a seguir:

Art. 148. Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e


animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da
cultura em geral, proteger os objetos de interesse histórico e o
patrimônio artístico do país, bem como prestar assistência ao
trabalhador intelectual.

Art. 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela


família e pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a
brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que
possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e
18

desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade


humana (BRASIL, 1934).

Como podemos observar nos artigos citados, diversas garantias são


contempladas nessa legislação. Porém, apesar de ter priorizado a educação em
seu texto, a Constituição de 1934 durou apenas três anos e logo foi promulgada
a Constituição de 1937. Nesta última, quase todos os artigos favoráveis à
educação foram banidos, prejudicando assim os direitos inerentes ao
desenvolvimento do ensino, portanto um grande retrocesso em comparação com
o texto da Carta Magna anterior.
Nesse período, por se tratar da era Vargas que só priorizava a educação
profissionalizante, os demais níveis da educação passa a ser obrigação dos pais
em primeiro lugar, deixando, portanto, para o Estado a condição de responsável
secundário, mesmo que ainda reconheça o ensino primário como obrigatório e
gratuito apenas para os alunos mais carentes, pois os alunos que
demonstrassem ter recursos ficariam obrigados a contribuir mensalmente com
uma caixa escolar para arcar com os custos educacionais.

Art.125– a educação integral da prole é o primeiro dever e o direito


natural dos pais. O estado não será estranho a esse dever,
colaborando, de maneira principal ou subsidiaria, para facilitar a sua
execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular.
[...]
Art. 129 – A infância e à juventude, a que faltarem os recursos
necessários a educação em instituições particulares é dever da Nação,
dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições
públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber
uma educação adequada as suas faculdades, aptidões e tendências
vocacionais (BRASIL, 1937).

Todavia, com o fim do Estado Novo, mesmo já sob o comando do Regime


Militar, tem início um período político mais democrático, que oferece um ensino
mais abrangente, apesar da Constituição de 1967 apresentar em seu bojo um
texto muito semelhante ao de sua precursora, repetindo assim a maioria dos
seus artigos. Apesar dessa semelhança entre as duas, nela está garantida a
oferta obrigatória e gratuita do ensino de crianças de 07 aos 14 anos em escolas
primárias. Dois anos depois, no ano de 1969 foi aprovada uma Emenda
Constitucional, mas quase nada foi modificado da Constituição Federal de 1967,
tendo como principal vantagem no âmbito educacional o artigo que se refere à
educação para excepcionais.
19

Ressalte-se que no Brasil de acordo com a Constituição atual, “a


Educação Básica deve ser gratuita e obrigatória”, porém deverão ser obedecidas
as especificidades de cada Sistema Educacional e seus Níveis de Ensino,
sempre de acordo com as normas regulamentares vigentes no país.
Portanto, vários princípios são fundamentais para a efetivação do direto
à educação de qualidade. Como já enfatizado, está assegurada na Constituição
Federal (CF) brasileira de 1988 o direito à educação. Nela está declarado em
seu artigo 205 que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2003, p.122).

Como vemos a operacionalização desse direito, não é apenas o dever do


Estado como também da família e da sociedade que tem responsabilidades
compartilhadas para promover a garantia de acesso a todos a um ensino público
de qualidade que possibilite o preparo do indivíduo tanto para a qualificação
profissional como também para o exercício da cidadania.
Por tanto, escola, família e cidadania são temas indispensáveis, inter-
relacionados que não podem e nem devem ser dissociados, já que a escola é
um dos principais locais de construção dos conhecimentos inerentes a garantia
da cidadania vislumbrada para a sociedade.
De acordo com a legislação brasileira, o direito a educação de qualidade
se constitui como base fundamental para a construção do conhecimento e da
cidadania, respeitando a dignidade de todos, ou seja, considerando as
dimensões individuais, social, material e espiritual das pessoas, não importando
religião, raça, etnia, sexo e classe social. Mais uma vez reforça a
responsabilidade da família como primeira instituição legalmente obrigada a
garantir o desenvolvimento psicológico, social e intelectual da criança.
Fundamentado na Constituição Federal, em 13 de julho de 1990, foi criado
o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), com o objetivo de garantir os
direitos básicos das crianças e reforçar também a LDB como pode ser visto nos
seguintes artigos:
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
[...]
20

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao


pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho [...]
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do
processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas
educacionais.
[...]
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus
filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
[...]
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
frequência e aproveitamento escolar (BRASIL, 2002).

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que os pais ou responsáveis são


obrigados a ter atenção especial à vida de seus filhos, atendendo aos cuidados
e necessidades que cada criança tem ao longo do seu processo de
desenvolvimento. Ressalte-se aqui, a importância da instituição escolar como
um dos segmentos sociais fundamental para a educação formal e sistematizada
do individuo, qualificando-o para o trabalho e preparando-o para o exercício da
cidadania de forma integral. Com o objetivo de fazer cumprir o direito
constitucional sobre educação que é prevista na Constituição de 1934,
regulamentada em 1961 foi finalmente sancionada em 20 de dezembro de 1996,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96).

2.2 Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDB (9394/96)

Com base nos artigos da referida CF criados para dar suporte à


consolidação desses e de outros direitos referentes à educação escolar básica,
é que surge a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) 9394/96, e
com ela o Plano Nacional de Educação (PNE) no Brasil, além de vários
documentos, pactos e acordos internacionais, feitos entre os países
interessados em assegurar esse direito que é um bem público necessário a
autodeterminação humana, pois, é base para a realização de todos os outros
direitos.
A determinação dos artigos 12,13 e 14 da LDB trouxeram às escolas a
tarefa de planejar suas ações, compreendendo suas especificidades e
assumindo sua função social de uma maneira coletiva e participativa,
envolvendo todos os agentes escolares, criando a cultura de que todos são
responsáveis pela instituição escolar.
21

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitando as normas


comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
[...]
VI articular – se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola;
VII informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento
dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:


[...]
VI colaborar com as atividades de articulação da escola com as
famílias e a comunidade (BRASIL, 1996).
Como podemos observar, dentre os principais responsáveis pela garantia
da qualidade da Educação está a família, primeira instituição responsável pela
formação do caráter humano, portanto é a partir da família que tem inicio o
desenvolvimento dos valores, da moral, e da ética de um individuo. Estado e
família dividem as responsabilidades na educação do ser humano e a LDB tem
como fundamento básico, reger e zelar para que as políticas públicas para a
educação sejam elaboradas e garantidas de fato e de direito.
Percebe-se que a escola tem se constituído ao longo da história como
reprodutora da ordem social. Portanto, há uma necessidade em rever a forma
como estamos atuando com nossos alunos, não os tratando como meros
depósitos de conteúdo sistematizados, prontos e acabados como se os
conhecimentos fossem imutáveis e não construído por meio de um processo
contínuo e inter-relacionado entre professores e famílias.
Nesse contexto, é que a escola participa da formação e transformação do
educando, às vezes intencionalmente, e, outras vezes, as mudanças se dão
além da escola. Cabe ressaltar, que qualquer ato pedagógico é um ato dotado
de sentido e vinculado a determinadas concepções (autoritárias ou
democráticas), que podem estar explícitas ou não. Assim, pensar a função social
da educação e da escola implica problematizar a escola que temos na tentativa
de construirmos a escola que queremos (FREIRE, 1997).
Nesse processo, a articulação entre os diversos segmentos que compõem
a escola e a criação de espaços e mecanismos de participação são prerrogativas
fundamentais para o exercício do jogo democrático na construção de um
processo de educação democrática. Portanto, não podemos falar de educação
sem mencionar a importância do professor que tem papel preponderante no
fortalecimento das relações família x escola.
Na medida em que tenho mais e mais clareza a respeito de minha
opção, de meus sonhos, que são substantivamente políticos e
adjetivamente pedagógicos, na medida em que reconheço que,
enquanto educador, sou um político, também entendo melhor as
22

razões pelas quais tenho medo e percebo o quanto temos ainda de


caminhar para melhorar nossa democracia. É que, ao pôr em prática
um tipo de educação que provoca criticamente a consciência do
educando necessariamente trabalhamos contra alguns mitos que nos
deformam. Ao contestar esses mitos enfrentamos também o poder
dominante pois que eles são expressões desse poder, de sua ideologia
(FREIRE, 1997, p.39-40).

Assim, a educação se constitui numa atividade humana e histórica que se


define na totalidade das relações sociais. Nessa ótica, as relações sociais
desenvolvidas nas diferentes esferas da vida social, inclusive no trabalho,
constituem-se em processos educativos, assim como os processos educativos
desenvolvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde que este
seja entendido como ação e criação humanas. Contudo, na forma como se opera
o modo de produção capitalista, a sociedade não se apresenta enquanto
totalidade, mas é compreendida a partir de diversos fatores que interagem entre
si e se sobrepõem de forma isolada.
O professor não pode se prender apenas no ensino dos conteúdos das
disciplinas da grade curricular elaborada por um sistema de Ensino em alguns
casos saturado. É preciso formar cidadãos conscientes de seu papel social,
portanto, alunos e professores precisam ser capazes de lutar com “compromisso
e engajamento em favor da superação das injustiças sociais” (FREIRE, 1997, p.
54).
Diante ao exposto é que nessa perspectiva sócio histórica, pode se
afirmar que a família juntamente com a escola se tornam instrumentos
fundamentais para a formação do individuo. Sendo a família a instituição
primordial para o desenvolvimento do ser humano.
23

3. ESCOLA E FAMÍLIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Ao longo da historicidade das civilizações humanas o individuo encontra-


se em um processo constante de socialização uns com os outros e com o meio
que o cerca e no qual ele transforma, a partir das interações humanas
estabelecidas nas relações afetivas e sociais que norteiam sua caminhada no
processo de construção permanente ao qual é submetido o ser humano. (Castro,
2000)
Nesse processo a família se apresenta como o primeiro grupo social do
indivíduo e, portanto, a base principal da formação humana, transmitindo-lhe os
costumes, os valores, e as regras básicas de cidadania. Para entender melhor o
conceito de família, Castro (2000, p. 205) define-a como sendo a "célula materna
sociedade", já que desempenha papel essencial tanto no desenvolvimento
biológico e social do ser humano, como também por se tornar a principal
organização que dá origem a muitas outras.
Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-
político-econômicas relacionadas ao processo de globalização da economia
capitalista vêm interferindo na dinâmica e estrutura familiar e possibilitando
mudanças em seu padrão tradicional de organização o que implica que a escola
também deve estar aberta aos mais diferentes tipos de formação familiar.

3.1Tipos de família

Estamos vivendo no século XXI, e como sabemos, falar sobre famílias é


lidar com a diversidade, já que existem diferentes tipos de família. Famílias
formadas tradicionalmente e consideradas intactas (com pai, mãe, filhos),
famílias em processos de separação (formada por mãe e filhos e/ou pai e filhos),
famílias composta por avós e netos e muitos outros tipos de organização familiar.
Podendo ser observado, que existe, sem dúvida, uma alteração radical no
modelo tradicional de família, em que o homem era o único provedor, ficando
muito evidente a mudança do papel da mulher na família.
Destarte, no âmbito legal, a Constituição Brasileira de 1988 aborda as
questões da igualdade, dos direitos a dignidade da família e dá outras
24

prerrogativas, em vários artigos como se observa, nos seguintes: 5º, 7º, 201º,
208º e 226º a 230º, trazendo no artigo 226º a afirmação de que “A família, base
da sociedade, tem especial proteção do Estado.” No entanto, reconhece também
um novo conceito de família: união estável entre o homem e a mulher (§ 3º) e a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (§ 4º). E ainda
garante que: ''os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente tanto pelo homem quanto pela mulher'' (§ 5º).
A família é um grupo aparentado responsável principalmente pela
socialização de suas crianças e pela satisfação de necessidades
básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas
entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas
ou não por um período de tempo indefinido. (DIAS, 2005, p. 210)

As mudanças que vem acontecendo ao longo do processo histórico


brasileiro nos remete a discussão sobre os tipos defamília presente em nossas
sociedades e de que forma devemos nos comportar no âmbito escolar sobre
esses diferentes núcleos familiares. Para entendermos esse processo é
necessário conhecer o modelo de família considerado patriarcal e o modelo de
família dita moderna.

3.1.1 Família Patriarcal e Família Moderna

A família é considerada pela sociedade como uma das principais


instituições de aprendizagem do individuo, pois é nela que se dá a sua primeira
experiência que constitui o capital cultural que lhes é transmitida. Segundo
Gomes (1994), a família é uma agente de socialização primária por transmitir às
crianças, desde o nascimento, padrões de comportamentos, hábitos, costumes,
padrão de linguagem, maneiras de pensar, de agir, de se expressar dentre
outros.
Ao longo do tempo as famílias foram sofrendo mudanças de acordo com
processo evolutivo, passando de patriarcal para nuclear e posteriormente para a
família moderna como se constitui atualmente. O modelo patriarcal, como o
próprio nome indica, caracteriza-se “por ter como figura central o patriarca, ou
seja, o ‘pai’, que é simultaneamente chefe do clã (dos parentes com laços de
sangue) e administrador de toda a extensão econômica e de toda influência
social que a família exerce” (FERNANDES, 2016).
25

Todavia acontecem modificações nos arranjos familiares, e ao longo da


formação da sociedade brasileira vai surgindo então, a família nuclear que pode
ser entendida com base nas explicações de Rodrigues Alves:

Na família nuclear brasileira, historicamente falando, quando seus


componentes se casavam, constituíam sua própria família em outro
domicílio. Eram raros os casais que agrupavam genros, noras e netos
em torno de seus filhos casados, o que nos leva a crer que, na família
nuclear, diferentemente da patriarcal, não havia um total poder de
mando por parte do chefe da família. Se o comando do lar era
responsabilidade da mulher, pois esta deveria administrar o lar e
educar os filhos, a ausência do homem era comum em seu domicílio,
devido à sua dedicação aos negócios, o que acabava diminuindo-lhe a
autoridade paterna (ALVES, 2009, p. 08).

Essa afirmação deixa clara a função da mulher na família nuclear, que


consistia em administrar a casa e seus problemas, mas que tinha, portanto, um
caráter extremamente econômico, que dependia da proteção do marido.
Porém conforme os estudos de Pereira (1995), a queda da taxa de
fecundidade, o declínio no número de casamentos, o aumento de famílias onde
os pais não vivem juntos, entre outros aspectos, tornaram as famílias dos dias
atuais bem diversificadas.
Dessa maneira, pode-se afirmar que as mudanças presentes na estrutura
familiar atual vêm passando por profundas modificações. No decorrer da
histórica brasileira, o início das transformações da configuração familiar
patriarcal clássica para essa configuração mais moderna, denominada nuclear
ocorreu a partir da chegada da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro e o início de
uma vida social na Colônia. Almeida (1987) relata que a chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil (1808) trouxe consigo a influência árabe exercida sobre os
portugueses, cuja característica era levar a família e a mulher para fora de casa.
Posteriormente, no final do século, a influência da burguesia industrial europeia
atuaria no sentido inverso, levando a mulher para dentro de casa. para ser a
"rainha do lar”.
Nas primeiras décadas do século XX, as indústrias começam a se
desenvolver, incrementando a oferta de trabalho fabril e burocrático. Ocorre
alguma inserção feminina nestes mercados, e as mulheres passam a exercer
funções remuneradas combinadas às atividades domésticas. Tanto mulheres
solteiras trabalhavam quanto mães e donas de casa, que passaram, então, a
contribuir com a renda familiar (SAMARA, 1993). No entanto, Samara (1989)
26

também ressalta que, no recenseamento de famílias de 1936, era pequeno o


universo das famílias com coabitantes, parentes, amigos e afilhados.

Assim, as significativas mudanças que ocorreram na sociedade brasileira


modificaram a estrutura da família. Sua transformação de sociedade rural, na
qual predominava a família patriarcal e fechada em si mesma, para uma
sociedade de bases industriais, mesmo que incipientes, com as suas
implicações de mobilidade social, geográfica e cultural, acarretou
transformações igualmente marcantes na estrutura do modelo tradicional de
família. (ALMEIDA, 1987.)

Da segunda metade do século XX em diante, outras transformações, mais


radicais, aconteceriam: saída da mulher para o mercado de trabalho, a educação
dos filhos, a impessoalidade nas relações sociais, o controle de natalidade e o
enfraquecimento dos laços de parentesco são as grandes mudanças apontadas
sobre a família moderna. (ALMEIDA, 1987.)

A partir daí, pode-se observar diferentes organizações familiares


alternativas. Os casamentos são cada dia mais sucessivos, e com parceiros
distintos além da concepção de filhos de diversas uniões. As chamadas
“produções independentes” tornam-se mais frequentes; há famílias formadas só
por pais e filhos, como também por mães e filhos; os casais homossexuais tanto
do sexo masculino quanto feminino, são incentivados legalmente a adotarem
filhos; e, mais ultimamente é muito comum famílias formadas por mães solteiras
ou por casais separadas que compartilham a criação de seus filhos. (ALMEIDA,
1987)

Nesse sentido, chegamos ao século XXI com a família pluralista, como


tem sido chamada, pelos tipos alternativos de convivência que apresenta. Outra
característica relevante da família contemporânea é a tendência cada vez mais
reduzida de seu tamanho.

A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2006 confirmou


que o número médio de pessoas por família passou de 3,6 pessoas, em 1996,
para 3,2 pessoas, em 2006. No Brasil, 67,6% das famílias, em 2006, eram
compostas de pai, ou mãe, e filhos, independentemente da presença de outros
parentes. Mas, em 1996, esse percentual era de 73,3% (IBGE, 2007). Outro
aspecto marcante foi a redução do número de filhos por mulher. Em 2006, das
27

32,7 milhões de mulheres com filhos, 30,9% tinham um filho; 33,3%, dois filhos;
e 35,8%, três filhos ou mais. No entanto, em 1996, esses percentuais eram de
25,0%, 30,1% e 44,9%, respectivamente (IBGE, 2007).

Assim, podemos pensar o casal e seus dependentes como um grupo


de indivíduos interligados por um mundo de relações simbólicas que,
no tempo e no espaço, constroem uma história sobre si própria, seus
próprios mitos no qual eu, você, as crianças, são ideias com valores e
forças diferentes, na linha do tempo e nos diferentes arranjos
familiares: carregam a força do sangue no arranjo heterossexual e tão
somente a força do afeto nos casais homoparentais.
[...]
Apesar disso tudo, o conceito de família, - seja ela estruturada pelo
casal heterossexual ou homossexual, matriarcal, tradicional ou
constituída por meio-irmãos -, permanece firme no ideal do ser
humano. A família traz os limites do espaço mediado por relações
afetivas, capazes de propiciar a seus membros o espaço mental
necessário para o desenvolvimento do pensamento, capacidade para
delimitar fronteiras adequadas, entre a falta e o excesso, de forma que
exista a possibilidade de manter trocas afetivas que contenham
funções de ouvir, discernir e acompanhar, sem ceder à ânsia de
eliminar conflitos (Gonsalez, 2012.)

Mediante ao exposto podemos perceber facilmente as acentuadas


mudanças que ocorreram na família brasileira ao longo do tempo e como essas
mudanças vem influenciando na participação da família na vida e na educação
dos filhos, haja vista que essas transformações nem sempre é compreendida
pela sociedade. Diante disso é que se faz necessário o estudo sobre a
importância da família no acompanhamento escolar.

3.2 A Participação da família na escola

Por se tratar da primeira organização social do individuo é que a família


representa papel fundamental no desenvolvimento infantil, pois, constitui-se na
inserção inicial da criança em um grupo no qual ela satisfaz as suas
necessidades básicas e obtém normas de condutas sociais. A criança é
fortemente influenciada pelo tipo de relação que mantém com cada componente
de sua família, daí a importância para o desenvolvimento psíquico da criança,
dos papéis que cada um representa e das relações que cada um estabelece com
ela. Porém considera que outros agentes sociais completam essa formação
familiar ao nível de uma socialização secundária. (ALMEIDA, 1987)
28

Nessa perspectiva, na medida em que a escola une o saber cientifico


institucionalizado escolar à cultura e experiências empíricas familiar, consegue
ampliar os horizontes dos alunos, acenando com a possibilidade de um melhor
desempenho acadêmico para os alunos e maior afetividade e envolvimento
familiar.

Até o nascimento, o feto é progressivo biológico. Assim que nasce,


conforme as características dos pais, da escola e da rede de pessoas
a sua volta, já começam a ser delineados os sinais progressivos ou
retrógrados, pois tais sinais dependem muito da educação recebida.
[...] Os pais progressivos ficam atentos e ensinam os caminhos do
progresso. É o amor que ensina. (TIBA, 2014, p. 96)

Sendo assim, pode se afirmar que o desenvolvimento dos indivíduos e da


sociedade depende cada vez mais da qualidade e da igualdade de
oportunidades socioeducativas disponíveis. Formar cidadãos na perspectiva
aqui delineada supõe Instituições onde se possa resgatar a subjetividade inter-
relacionada com a dimensão social do ser humano, em que a produção e
comunicação do conhecimento ocorram através de práticas participativas e
criativas da família com a escola.

De acordo com os (Indicadores da Qualidade na Educação, 2004, p. 19):

A escola é um espaço de ensino, aprendizagem e vivência de valores.


Nela, os indivíduos se socializam, brincam e experimentam a
convivência com a diversidade humana. No ambiente educativo, o
respeito, a alegria, a amizade e a solidariedade, a disciplina, o combate
à discriminação e o exercício dos direitos e deveres são práticas que
garantem a socialização e a convivência, desenvolvem e fortalecem a
noção de cidadania e de igualdade entre todos.

Assim, a escola, no desempenho de sua função social de formadora de


sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que possibilite a
construção e socialização do conhecimento produzido, tendo em vista que esse
conhecimento não é dado a priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se
caracteriza como processo em construção.
É muito comum ouvir falar sobre a falta de compromisso com a educação
dos filhos por parte de um grande número de pais que por diferentes motivos
ainda não perceberam a importância da educação para o exercício da cidadania
e vê na escola apenas um instrumento para a qualificação profissional,
preparando-os para o mercado de trabalho e, que por isso acham que o papel
29

da escola é somente repassar conhecimentos e dessa forma acreditam que isto


somente o professor consegue fazer.
A educação, como prática social que se desenvolve nas relações
estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras esferas da vida
social, se caracteriza como campo social de disputa hegemônica, disputa essa
que se dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos
processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas
diferentes esferas da vida social, aos interesses de classes" (FRIGOTTO, 1999,
p. 25).
Como visto na historia da Educação a escola tem se constituído ao longo
da história como reprodutora da ordem social. Portanto, há uma necessidade em
rever a forma como ela vem atuando com a formação dos alunos, não os
tratando como meros depósitos de conteúdo sistematizados, prontos e acabados
como se os conhecimentos fossem imutáveis e não construído por meio de um
processo continuo.
As ideias da educação tradicional ainda permeiam a mente de uma boa
parte dos docentes como também da maioria dos pais, e isso dificulta a boa
relação entre os segmentos da comunidade escolar fazendo com que haja
conflitos de interesses entre os mesmos. Daí, a necessidade de se criar Planos
de Ações que facilite o entendimento e reforce a inter-relação entre escola e pais.
Portanto, uma das situações mais conflitantes encontrada na escola é a falta de
participação dos pais na vida escolar de seus filhos e/ou a participação de forma
equivocada por parte de alguns pais.
Ainda segundo FRIGOTTO (1999), a escola é uma instituição social que,
mediante sua prática no campo do conhecimento, valores, atitudes, e mesmo
por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros.
Nessa contradição existente no seu interior, está a possibilidade da mudança,
haja vista as lutas que aí são travadas. Portanto, pensar a função social da
escola implica repensar o seu próprio papel, sua organização, os atores que a
compõe e os processos que são construídos nela.
Assim como a vida em sociedade requer regras e preceitos capazes de
nortear as relações, da mesma forma, a escola pressupõe de normas e regras
que norteiem o seu funcionamento e a convivência entre seus membros. Para
Aquino (2000), tais regras e normas são compreendidas como condições
fundamentais para o convívio social, na qual sua internalização e obediência
30

podem levar o indivíduo a uma atitude autônoma e libertadora, que orienta e


limita as suas relações sociais.
Diante disso, a autoridade responsável, na sala de aula, para disciplinar e
orientar na construção dos conhecimentos inerentes ao desenvolvimento
individual é o professor, que é aquele que busca educar, estabelecendo
parâmetros e impondo limites.

Sendo assim, partindo de um levantamento histórico sobre a participação


da família na educação pode se observar que o interesse da família foi acolhido
mais fortemente na escola brasileira, a partir das décadas de 60/70, por meio do
movimento chamado Renovação Pedagógica, que permitiu a entrada de um
olhar psicológico no âmbito escolar, ampliando a atenção com cada criança,
passando a analisar mais profundamente a importância de respeitar suas
escolhas e desejos, seu tempo de aprender, suas habilidades e tantos outros
aspectos. (ALMEIDA, 1987)

Nessa ótica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes esferas da


vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em processos educativos, assim
como os processos educativos desenvolvidos na escola consistem em
processos de trabalho, desde que este seja entendido como ação e criação
humanas. Contudo, na forma como se opera o modo de produção capitalista, a
sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é compreendida a partir
de diversos fatores que interagem entre si e se sobrepõem de forma isolada.
Segundo Paro (2000, p. 16), o distanciamento entre a escola e a
família não deve ser tão grande. Para ele, a escola não “assimilou quase nada
de todo o progresso da psicologia da educação e da didática, utilizando métodos
de ensino muito próximos e idênticos aos do senso comum predominantes nas
relações familiares”.
Na tentativa de entender e explicar essa relação família escola deve ser
levado em consideração o estudo piagetiano, no qual o mesmo enfatiza que a
relação escola-família deve prevê o respeito mútuo, o que significa tornar
paralelos os papéis de pais e professores, já que ambos possuem objetivos
comuns – que é a educação das crianças – dessa forma permitindo que os pais
garantam as possibilidades de exporem seus entendimentos, bem como também
ouvirem os professores sem medos de serem avaliados e/ou criticados, mas
visando trocarem pontos de vista.
31

Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva,


pois a muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio
acaba resultando em ajuda recíproca e, freqüentemente, em
aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou
das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar,
reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-
se até mesmo a uma divisão de responsabilidades [...]. (PIAGET,
1972/2000, p. 50).

Mediante esta linha de pensamento, nota se que neste tipo de união


requer então aos professores inicialmente uma tomada de consciência de que,
as reuniões baseadas em temas teóricos e abstratos e para chamar a atenção
dos pais sobre a lista de problemas dos filhos, sobre falhas na aprendizagem
e/ou reuniões muito extensas, sem planejamento adequado, nas quais só o
professor pode falar, dificilmente promoverá abertura para o inicio de uma
proposta de parceria, capaz de contribuir para o crescimento sócio intelectual do
aluno.
Conforme o exposto, percebe-se que a escola, certamente, não quer que
a família seja a responsável pelos conteúdos socializados, mas que ambas
construam juntos com os alunos a produção de conhecimentos sistematizados.
É uma parceria entre instituições distintas, mas com objetivos comuns. O papel
da família seria o de estimular, no filho, o comportamento de estudante e cidadão
e o da escola seria orientar aos pais nos objetivos que a escola espera que o
aluno atinja e de criar momentos para que essa integração aconteça. Embora
Perrenoud (2000) compreenda que não seria possível essa cooperação dos que
fazem parte do contexto escolar se não houvesse uma mediação do diretor.
Para Içami Tiba (2007, p. 63), “[...] as crianças precisam ser
protegidas e cobradas de acordo com suas necessidades e capacidades,
protegidas nas situações das quais não conseguem se defender, e cobradas
naquilo que estão aptas a fazer [...]”.
Por essa razão a escola e a família possuem funções e objetivos
semelhantes e que os aproximam. Tais funções poderiam ser sintetizadas em
como proteger, educar, dar autonomia à criança, poder permanecer no espaço
da troca e de suplementariedade, sem cair na armadilha da disputa,
vislumbrando acertos e corrigindo possíveis erros.
A escola e a família, tal qual as conhecemos hoje, são instituições que
surgem, com o advento da modernidade, ambas destinadas ao cuidado e a
educação das crianças e jovens (WILLIANS, 1983).
32

Os saberes diversos e especializados, inerentes à formação das


novas gerações, demandam cada vez mais, um espaço próprio dedicado ao
trabalho de sistematização e formação do processo de conhecimento dessa
natureza, diferente, portanto, daquele organizado pela família, que é responsável
pela inculcação dos valores necessários para a formação do caráter de cada um.
Freire (2000) evidencia que ensinar exige compreender que a educação
é uma forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão,
por vezes, até uma ruptura com o passado e o presente. Para este educador, as
classes dominantes enxergam a educação como imobilizadora e ocultadora de
verdades. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário,
tanto mais autoridade ela tem. (FREIRE, 2000, p. 119):
Gostaria uma vez mais de deixar bem expresso o quanto aposto na
liberdade, o quanto me parece fundamental que ela exercite
assumindo decisões. [...]. A liberdade amadurece no confronto com
outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade
dos pais, do professor e do Estado. (FREIRE, 2000, p. 119):

Destarte, a identidade de uma pessoa está diretamente ligada com o meio


ao qual ela se insere, portanto, sabe-se que o primeiro grupo social que o ser
humano conhece é a família. Cabe, portanto, a família proteger, criar e educar
seus filhos, cercando-os de todos os cuidados necessários para o
desenvolvimento social, cultura, e intelectual inerentes ao crescimento da
bagagem que os mesmos deverão adquirir para o exercício pleno da cidadania.

Fica clara a importância da identidade de cada um de nós como sujeito,


educador ou educando, da prática educativa. E da identidade
entendida nesta relação contraditória, que somos nós mesmos, entre
o que herdamos e o que adquirimos. Relação contraditória em que, às
vezes, o que adquirimos em nossas experiências sociais, culturais, de
classe, ideológicas, interfere de forma vigorosa, através do poder dos
interesses, das emoções, dos sentimentos, dos desejos, do que se
vem costumando chamar “a força do coração” na estrutura hereditária.
Não somos, por isso, nem só uma coisa nem só a outra. Nem só,
repitamos, o inato, nem tampouco o adquirido, apenas. (FREIRE, 2000,
p. 64)

Desse modo, quando os valores da escola coincidem com os valores da


família, e, quando não há rupturas culturais, a aprendizagem ocorre com mais
facilidade e está garantida a continuidade entre ambas. Porem alguns problemas
são agravados pelas situações econômicas e sociais desiguais existentes nas
comunidades onde a escola se insere.
33

Sendo assim, observamos que os problemas de relacionamento entre


pais e escola, principalmente nas camadas mais carentes de sociedade ainda
se constitui como um grande entrave para a melhoria na qualidade da educação,
pois sabemos que essas duas instituições – família e escola - não podem ter
ideias diferentes sobre o papel de cada um, haja vista que muitos pais deixam a
educação quase que totalmente a cargo da escola e esta por sua vez repassa a
obrigação para os pais, pois ambas enfrentam diversos problemas estruturais.

Todavia, cabe a escola e aos educadores conhecer o contexto


sociocultural e econômico em que vivem os seus alunos para melhor interagir
com eles. Diante ao exposto, e de acordo com Freire:

A questão fundamental diante de que devemos estar, educadoras e


educadores, bastante lúcidos e cada vez mais competentes, é que
nossas relações com os educandos são um dos caminhos de que
dispomos para exercer nossa intervenção na realidade a curto e a
longo prazo. Neste sentido e não só neste, mas em outros também,
nossas relações com os educandos, exigindo nosso respeito a eles,
demandam igualmente o nosso conhecimento das condições
concretas de seu contexto, o qual os condiciona. Procurar conhecer a
realidade e o que vivem nossos alunos é um dever que a prática
educativa nos impõe: sem isso não temos acesso à maneira como
pensam, dificilmente então podemos perceber o que sabem e como
sabem (1997, p. 53).

Nesse sentido, a integração da escola com os pais faz-se imprescindível


para melhorar a qualidade da educação. Diante disso, é que a equipe da escola
sob a coordenação do corpo técnico escolar deve buscar meios para viabilizar a
colaboração entre escola e família. A integração família-escola torna se uma
emergência nas escolas brasileiras, principalmente na escola pública, dada a
necessidade de enfrentamento das diversas perspectivas sociais e modos de
vida, visando prevenir o envolvimento dos jovens com as drogas e violências das
mais diversas naturezas, como destacado por Freire:

Não podemos deixar de levar em consideração as condições materiais


desfavoráveis que muitos alunos de escolas da periferia da cidade
experimentam. A precariedade de suas habitações, a deficiência de
sua alimentação, a falta em seu cotidiano de atividades de leitura da
palavra, de estudo escolar, a convivência com a violência, com a morte
de que se tornam quase sempre íntimos. Tudo isso é, de modo geral,
pouco levado em consideração não apenas pela escola básica, de
primeiro grau, em que essas crianças estudam, mas também nas
escolas de formação para o magistério. Tudo isso, porém, tem enorme
papel na vida dos Carlos, das Marias, das Carmens. Tudo isso marca,
inegavelmente, a maneira cultural de estar sendo dessas crianças.
(1997, p.70).
34

De acordo com alguns pesquisadores, uma boa parte dos pais de alunos
de escolas públicas gostaria de participar de algum tipo de atividade nas escolas
de seus filhos, mas também sabemos que quando esta busca de parcerias com
as famílias é pretendida pela escola na prática esta integração torna se difícil por
diversos fatores de ordem cultural, social e econômico. É preciso que a ponte
entre família e escola seja feita principalmente pelos professores.
Nesse contexto, e preciso despertar nos pais/responsáveis o interesse em
participar ativamente do cotidiano escolar dos filhos, contribuindo para o
desenvolvimento psicossocial dos mesmos e fortalecendo a integração entre
pais, alunos e escola a fim de obter um melhor desempenho na formação do
individuo para o exercício da cidadania e para o mercado capitalista moderno.
Ressalte-se que na forma como se opera o modo de produção capitalista,
a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é compreendida a partir
de diversos fatores que interagem entre si e se sobrepõem de forma isolada. “É
óbvio que problemas ligados à educação, não são apenas problemas
pedagógicos. São problemas políticos e éticos tanto quanto os problemas
financeiros”. (FREIRE, 1997, p. 34).
No Brasil as variáveis socioeconômicas, culturais e educacionais,
causam problemas muito comuns nas escolas como é o caso da violência de
todas as naturezas, do clientelismo e da corrupção que são fatores
preponderantes para piorar os conflitos presentes na escola. As diferenças
existentes entre as classes sociais aumentam os problemas enfrentados pela
escola pública brasileira. Ha interesses antagônicos entre as classes dominantes
e classes dominadas. E apesar de ter alcançado alguns avanços importantes à
educação básica no Brasil, principalmente a publica ainda não consegue ser
realmente democrática e envolver todos os segmentos da comunidade.
Desse modo, a participação dos pais é fundamental para o bom
desempenho no ensino-aprendizagem, para a formação integral dos alunos
como também para a efetivação da cidadania, mas o que vemos é uma grande
falta de união entre pais e escola, como se ambos não buscassem os mesmos
objetivos, como se tivessem interesses antagônicos. O papel da família na vida
dos seres humanos é fundamental para a formação dos mesmos, no entanto,
cabe a escola a mediação e orientação de atividades que insira a família na vida
escolar do individuo, principalmente nas camadas menos favorecidas, nas quais
35

boa parte dos pais nem são alfabetizados e/ ou não tem acesso aos meios para
a leitura.
A educação, entretanto, como prática social que se desenvolve nas
relações estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras esferas da
vida social, se caracteriza como campo social de disputa hegemônica, disputa
essa que se dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos
processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas
diferentes esferas da vida social, aos interesses de classes" (FRIGOTTO, 1999,
p. 25).

Assim, a escola, no desempenho de sua função social de formadora de


sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que possibilite a
construção e socialização do conhecimento produzido, tendo em vista que esse
conhecimento não é dado a priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se
caracteriza como processo em construção.

Nessa perspectiva, "a educação e a formação humana terão como sujeito


definidor as necessidades, as demandas do processo de acumulação de capital
sob as diferentes formas históricas de sociabilidade que assumem" (FRIGOTTO,
1999, p. 30), e não o desenvolvimento de potencialidades e a apropriação dos
conhecimentos culturais, políticos, filosóficos, historicamente produzidos pelos
homens.

Ainda segundo Frigotto (1999), a escola é uma instituição social que,


mediante sua prática no campo do conhecimento, valores, atitudes, e mesmo
por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros.
Nessa contradição existente no seu interior, está a possibilidade da mudança,
haja vista as lutas que aí são travadas. Portanto, pensar a função social da
escola implica repensar o seu próprio papel, sua organização e os atores que a
compõe.
Como pode ser observado por meio do estudo feito com base nas análises
dos estudiosos citados anteriormente sobre esse assunto, é correto afirmar que
é nas escolas, instituições criadas com o objetivo de formar cidadãos capazes
de atuar na transformação da sociedade, que deverão ser eleitos como
prioridades de ensino, os conteúdos ligados diretamente com as questões
sociais que marcam cada momento histórico e que são fundamentais para que
36

os educandos apreendam como exercerseus direitos e deveres, e se tornem


pessoas conscientes de sua cidadania. Assim, a educação se constitui numa
atividade humana e histórica que se define na totalidade das relações sociais.
No entanto, como já enfatizado, família e escola estão intrinsecamente ligadas,
e, portanto, não devem e nem podem andar dissociadas.
Nesse contexto, a educação se constitui numa atividade humana e histórica
que se define na totalidade das relações sociais. Nessa ótica, as relações sociais
desenvolvidas nas diferentes esferas da vida social, inclusive no trabalho,
constituem-se em processos educativos, assim como os processos educativos
desenvolvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde que este
seja entendido como ação e criação humanas.
Todavia, o diálogo e o bom relacionamento da família com a escola, em
diversos momentos (para não dizer na maioria das vezes) têm apresentado
pontos de conflitos e discórdias, tornando-se muitas vezes um “campo de
batalha”, e com esses conflitos relacionados ao campo da disciplina o maior
prejudicado será sempre o aluno. Nessa perspectiva, podemos concluir que a
participação da família é uma necessidade contemporânea, almejada por todos
que fazem parte do contexto escolar, independente do nível de ensino em que o
aluno está inserido. Diante ao exposto, faz-se necessário uma pesquisa mais
aprofundada, com base nos referidos autores sobre esse assunto na realidade
da Escola Juscelino Kubitschek no município de Novo Repartimento/PA.
37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 HISTÓRICO E ASPECTOS DA ESCOLA JUSCELINO KUBITSCHEK

Conforme já citado anteriormente, a pesquisa em questão teve como


objeto de estudo a relação escola x família na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Juscelino Kubitscheck, localizada no município de Novo
Repartimento-PA.
A metodologia utilizada nessa pesquisa foi a do tipo investigativa baseada
na pesquisa qualitativa e delineada por um estudo comparativo. Iniciamos o
referido trabalho através da pesquisa bibliográfica, em seguida fizemos a
pesquisa de campo; realizamos entrevistas com os professores e pais de alunos
da escola investigada.
A referida escola está situada na BR 230, Rodovia Transamazônica, setor
2 da Parakanã, zona rural do Município de Novo Repartimento – PA, funciona
com turmas de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental de 9 anos. A Escola
Juscelino Kubitschek foi fundada no ano de 1988 (mil novecentos e oitenta e
oito), pela prefeitura Municipal de Tucuruí, pois na época ainda não havia
acontecido a emancipação politica de Novo Repartimento e toda esta área
pertencia ao referido município. Com as mudanças ocorridas por ocasião da
implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) e das relocações que
aconteceram devido ao alagamento de diversas áreas na região, o crescimento
migratório foi intensificado e por estar às margens da rodovia Transamazônica
muitas famílias foram morar nos assentamentos implantados na zona rural.
Após a mudança na relocalização do Repartimento, houve um
considerável crescimento populacional e o pequeno vilarejo foi elevado à
categoria de distrito de Tucuruí, ao qual estava subordinado e de onde recebia
apoio administrativo. Nesta perspectiva, a migração para o Município de Tucuruí
e região se intensificou e essas mudanças desencadearam uma série de
problemas de caráter econômico, cultural e principalmente social que veio se
refletir na necessidade da criação de mais salas de aula no município.
Foi dessa necessidade que surgiu a escola Juscelino Kubitscheck com
uma única turma multisseriada de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental de 8
38

anos. A referida escola funciona como anexo da escola municipal José Cícero
da Silva, onde funciona toda a parte administrativa e pedagógica.
Em 2000, a escola passou a funcionar nos dois turnos diurnos. No horário
da manhã com as crianças do primário e a tarde com uma turma da 5ª série.
Com o passar dos anos, tornou-se duas turmas multisseriada no horário da
tarde: 5ª/6ª e 8ª/9ª série.

Figura 01: Parte frontal da Escola Juscelino Kubitschek

Fonte: as autoras (2017).

Atualmente a escola continua funcionando nos dois períodos: manhã e


tarde, com turmas do 1º ao 5º ano pela manhã e duas turmas 6º/7º e 8º/9º anos
no período da tarde. A infraestrutura da Escola Juscelino Kubitschek é composta
por 01 sala de aula, 01cozinha, 01 sala improvisada para os professores, local
para o bebedouro. Há também outra sala de aula que fica debaixo de uma árvore
alta. Esta sala possui apenas paredes de um metro de altura, com um quadro
remendado, com piso natural de terra batida e cheio de buracos.
39

Figura 02: Sala de aula da Escola Juscelino Kubitschek

Fonte: as autoras (2017).

A escola possui setenta e quatro alunos, sendo que vinte e seis destes
são do Fundamental I (1º ao 5º ano). Como podemos observar na descrição
feita sobre a estrutura do prédio escolar, observamos que além das precárias
condições de funcionamento da escola ainda temos que lidar com as mais
diversas dificuldades, e que são muitas. Dentre essas dificuldades que são
entraves para o bom desempenho pedagógico podemos enumerar problemas
identificados como; carros escolares inadequados, crianças cansadas pela
caminhada longa até o carro, falta de banheiros (fossa), falta de água filtrada e
outros que causam grandes lacunas no processo de ensino-aprendizagem e
prejudicam o desenvolvimento dos alunos.
A escola conta atualmente com um quantitativo de quatro professores
atuando em dois turnos, sendo três efetivos e um contratado. Apesar de possuir
quatro professores, a pesquisa é feita com apenas três, já que uma das
pesquisadoras também atua como docente na referida escola.
40

4.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para os pais foram apresentadas cinco perguntas, todas relacionadas


com o assunto em estudo: “Importância da participação da família na escola”, e
todas as questões foram apresentadas de uma forma bem fácil para obtermos
respostas objetivas, pois muitos têm dificuldades para escrever as respostas.
Em relação aos professores, para preservar a identidade dos mesmos,
iremos nomeá-los de professor A, B, e C, respectivamente. No quadro a seguir
faremos uma breve explanação sobre cada um dos docentes entrevistados.

Quadro 01: Caracterização dos professores da Escola Juscelino Kubitschek


Professor A Faixa etária 58 anos de idade, 30 de profissão, efetivo pelo
estado e contratado pelo município, é o fundador da Escola
Juscelino Kubistchek no ano de 1996.
Professor B Faixa etária 35 anos de idade, atua como professor
contratado há 15 anos, e foi efetivado há 02 anos e sempre
trabalhou do 6º ao 9º ano com as disciplinas de Matemática,
Artes, Ciências, Geografia e Educação Física.
Professor C Faixa etária 42 anos de idade, trabalha há 20 anos na
Educação e já atuou em diversas séries e também na
Secretaria de uma escola como secretária, contratada pelo
município. Atualmente trabalha com a turma do 3º ano, com
28 alunos, turno matutino, com todas as disciplinas na Escola
Juscelino.
Fonte: Elaboração própria (2017).

Aos professores apresentados acima, foi aplicado um questionário, no


qual os mesmos tinham liberdade para dissertar sobre os questionamentos
apresentados. Reproduzimos abaixo as respostas obtidas.
O primeiro questionamento apresentado no questionário era sobre as
diferenças observadas entre os alunos que tinham acompanhamento dos pais
no dia-a-dia escolar e os alunos que os pais eram totalmente omissos:
Professor A:

“O acompanhamento dos pais no ensino de seus filhos é de suma


importância para o aprendizado do aluno, pois, não nutre um
aprendizado satisfatório, pois a escola e o professor não consegue
41

nutri um aprendizado que possa contemplar essa postura. A diferença


e que os pais dão confiança total ao aluno, quando participa da vida
escolar do seu filho. Já o pai que não participa não passa e não
transmite a segurança que seu filho precisa.”

Professor B:

“Observa-se que a criança quando tem acompanhamento dos pais na


escola, essa criança tem um desenvolvimento excelente na vida
escolar. E quando os pais não acompanham a criança fica com baixo
índice de aprendizagem. Os pais são fundamentais no
acompanhamento da vida escolar de seus filhos.”

Professor C:
“Percebe-se que os alunos que são acompanhados pelos pais
absorvem melhor os conteúdos escolares e até mesmo na vida pessoal
como um cidadão na sociedade. E os pais que não acompanham eles
passam por um retrocesso e um retardamento escolar e não consegue
envolver os conteúdos de maneira adequada. Portanto, os pais são de
suma importância na vida escolar de seus filhos, transmitindo a eles
confiança e valores.”

A partir da fala dos professores, percebemos que todos entendem a


importância da participação da família na vida escolar do aluno. Enfatizando que
o acompanhamento dos pais é essencial, uma vez que, estes são capazes de
transmitir confiança e valores.
Os professores entendem e sentem na prática, que a escola sozinha não
é suficientemente capaz de garantir o bom rendimento escolar dos alunos.
Escola e família estão intimamente ligados no processo de ensino-
aprendizagem, pois o bom desempenho escolar do educando, é reflexo da
importância dada pela família à educação de seus filhos.
O segundo questionamento apresentado aos professores, foi quanto a
relação dos pais com a escola. Se a mesma era satisfatória. As repostas estão
compiladas abaixo.
Professor A:
“As escolas atuais sentem essa necessidade da participação dos pais
em todo segmento da escola, pois o aprendizado precisa de vários
fatores (pais, escola, professores). Para poder desenvolver-se dentro
de um nível satisfatório . Dentro desse processo essa participação não
se dar completo, pois precisa muitos incentivos para que essa
participação seja satisfatória.”

Professor B:

“Sim. A relação dos pais com escola sempre é satisfatória é sempre


bom ter a presença dos pais na escola, de certa maneira acaba
ajudando o professor demonstrando um laço de amizade entre ambos.”
42

Professor C:

“Sim. Pois esses pais sempre querem saber sobre os seus filhos e
constantemente buscam a escola por respostas e se interagem com a
escola através de visitas a sala de aula, diálogo com o professor e
sempre estão presentes nos eventos escolares.”

Percebemos que os professores responderam ao questionamento de


forma generalista, afirmando que a relação de pais com a escola é sempre
satisfatória, dada a importância da presença da família nesse processo. Um dos
professores também aproveitou para fazer uma crítica a falta de apoio das
escolas no sentido de incentivar a participação dos pais.
Apenas o professor “C”, respondeu ao questionamento de forma mais
particularizada, afirmando que os pais de seus alunos são presentes na escola,
participando dos eventos escolares e questionando quanto ao aproveitamento
dos filhos.
O último questionamento feito aos professores foi quanto a contribuições
dos pais em suas aulas.
Professor A:
“O ideal, na minha concepção era a participação dos pais no
planejamento anual da escola, é de suma importância a participação
dos pais nesse planejamento, pois o saber comunitário mesclado com
o saber cientifico, precisa ser inserido no cotidiano escolar. Portanto os
pais precisam contribuir com esse processo. No meu caso, dificilmente
um pai sugere alguma coisa pois a escola precisa ver no pai um
elemento fundamental no equilíbrio do ensino escolar.”

Professor B:
“Acredito que as sugestões dos pais sempre são bem-vindas e ajuda a
contribuir e enriquecer as minhas aulas. Pois é necessário que se
escute o que os pais pensam das aulas que estão sendo ministradas
aos seus filhos. A escola caminha muito bem quando anda em parceria
com a família.”

Professor C:
“O correto seria que os pais participassem do planejamento das aulas
de seus filhos, porque a família ela está inserida na escola e na vida
escolar de seus filhos. Mas na verdade isso não ocorre porque os pais
não buscam a escola para fazer esse planejamento das aulas para
seus filhos, por não ter os conhecimentos dos direitos escolares de
seus filhos. Portanto as contribuições dadas pelos os pais sempre
serão aceita pela escola, de acordo com a necessidade do momento.”

De forma geral, os professores responderam que as intervenções de pais


sempre serão bem vindas, pois há a necessidade de se escutar as observações
dos pais, sendo indispensável a contribuição dos mesmos. Novamente citam a
falta de incentivo da escola, por não reconhecer os pais como agentes
43

importantes da educação escolar, muitas vezes, negligenciando a participação


dos mesmos.
Dos diversos problemas presentes na educação, a falta de participação
dos pais na vida escolar dos filhos é sempre citada no âmbito educacional como
um dos grandes entraves para o sucesso do processo ensino-aprendizagem e,
parece constituir, nos dias atuais, um dos maiores obstáculos pedagógicos. A
acentuada incidência de conflitos envolvendo pais, professor e aluno são
preocupantes e requerem urgente reflexão e ações que busquem soluções para
amenizar e na medida do possível, resolver os problema existente nas escolas
e garantir assim uma educação de qualidade e que venha contribuir com a
formação total do caráter humano e dos valores sociais.
Além do questionário aplicado aos professores, foram formuladas
questões de múltiplas escolhas aplicadas aos pais dos alunos da escola
Juscelino Kubitschek, conforme consta em anexo.
De forma geral, os pais afirmaram ter um bom relacionamento com a
escola de seus filhos, participando sempre que convidados e visitando-a com
certa frequência para se atualizar quando o comportamento e o desempenho do
filho. Afirmaram também que ajudam, sempre que possível nas atividades de
casa, observando regularmente o caderno dos mesmos.
Apesar de se tratar de uma população com baixo nível de escolaridade,
os pais demonstraram entender a importância da educação e de sua participação
na vida escolar de seus filhos.
Sentimos falta da participação da escola no intuito de incentivar esses
pais a participar com mais frequência do cotidiano escolar de seus filhos.
Entendemos que a dificuldade de políticas educacionais nessa área, se dá em
função da escola estar distante de seu centro de poder, isto é, a administração
pedagógica não está em contato com os problemas da escola, não conhecendo
efetivamente sua realidade, o que acaba dificultando ações de incentivo à
família.
Ao lado da família, a escola permanece sendo um espaço de formação
que deve, para tanto, repensar a sua ação formadora, preocupando-se em
formar seus educadores para que os mesmos reúnam recursos que os permitam
lidar com os conflitos inerentes ao cotidiano escolar.
É, portanto, na escola que refletindo sobre o que será ensinada às
crianças sobre a metodologia que pode tornar mais coesa a ação do conjunto
44

docente, que a escola poderá encontrar saídas legítimas à superação dos


problemas morais e éticos que assolam o seu dia-a-dia. Nesse sentido, sem
abdicar do lugar reservado ao ensino formal, é preciso que os espaços
destinados à formação dos educadores no interior da escola deem, também,
prioridade à reflexão político-filosófico sobre os sentidos e possibilidades da
ação educacional para que possa, desta feita, recuperar ou constituir um novo
ideário para a escola.
Nas observações dos envolvidos no processo educacional, constatamos
na pesquisa realizada que a parceria escola e família em todos os aspectos e
para terem sucesso na aprendizagem é muito importante, para diminuir os
índices de evasão e de violência e melhorar o rendimento das turmas de forma
significativa. Mediante essas observações e comparando os dados obtidos com
base nas teorias de estudiosos é que a seguir iremos discorrer sobre as análises
dos resultados obtidos com a pesquisa.
Alguns apontamentos sugeridos pelos professores indicaram uma
postura correta diante do trabalho docente e da participação da família na
educação dos filhos, os resultados apontam que os professores só precisam
colocar em prática as diversas estratégias, para melhorar a qualidade
educacional e assim amenizar ou sanar as dificuldades enfrentadas no processo
de ensino-aprendizagem.
Os professores dizem que a escola (corpo docente) dentro de suas
atribuições deve continuar a organizar reuniões e palestras para os pais na
escola, esses mesmos docentes descrevem que falta os pais se conscientizarem
de que a educação também é de sua responsabilidade, e que não cabe somente
à escola essa tarefa. Se essa conscientização ocorrer, a família e a escola
caminharão na mesma direção e a educação terá mais qualidade.
Também todos eles propuseram valorizar mais essa participação e todos
os professores querem atrair os pais para escola, não só para criticar seu filho,
dizer que faz isso, ou aquilo, mas para elogiá-lo, falar de coisas boas, fazer
proposta e conquistá-los juntos, ou seja, pais e escola, pois a criança também
tem várias qualidades que muitas vezes pais e professores desconhecem,
ninguém vive só de erros. Portanto, todos os professores dizem que a escola
deve abrir as portas para os pais e valorizar a sua participação, embora
reconheçam que as crianças que têm o acompanhamento familiar estruturado,
boa convivência, bom relacionamento afetivo, regras, limites, valores, entre
45

outros têm bom rendimento escolar, tanto quantitativa, quanto qualitativamente,


não apresentando dificuldades quanto ás normas e rotinas escolares, bem como
no desenvolvimento cognitivo.
Diante a essa perspectiva e mediante as reflexões dos professores,
percebe-se que o acompanhamento familiar pode evitar atitude de indisciplina
na escola, uma possível reprovação e possibilitar o verdadeiro aprendizado do
educando. Ressalta-se que se houvesse a parceria entre pais e escola,
possivelmente, ocorreria o alcance de bons resultados em relação ao aluno
(filho). Porém, muitas famílias delegam à escola toda a educação dos filhos,
desde o ensino das disciplinas específicas até a educação de valores, a
formação do caráter, além da carência afetiva que muitas crianças trazem de
casa, esperando que o professor supra essa necessidade.
Segundo os educadores, o encontro entre pais e professores acontece,
mas só se dá quando estes são convocados a comparecerem à escola para
reuniões e/ou no final do ano, parece que para eles se não forem convocados
tudo “vai” bem, eles não se preocupam em ir até a escola para saber como está
indo o desenvolvimento do seu filho. Outro ponto destacado diz respeito ao fato
dos pais irem à escola, mas não cumprir seu papel de educador no cotidiano do
filho.

A escola e a família precisam estar abertas e desarmadas para encontrar


soluções, portanto, deverão abrir as portas para essa participação dos pais, e
também da comunidade trazendo-os à escola com as atividades diversificadas
e do interesse deles. O Projeto Pedagógico que é tão valioso dentro da escola
está sendo deixado para trás. A escola pode organizar festas, palestras, mas
desenvolver o projeto onde os pais possam contribuir e participar, chamar os
pais na escola para elogiar o desempenho de seus filhos na aprendizagem, pode
ser uma meta para trazê-los à vida escolar de seus alunos. A escola precisa
parar de culpar os pais e os pais parar de culpar a escola pelo fracasso escolar.
No entanto devem unir-se e juntos buscar solução para o fracasso educacional.
46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse modo, e de acordo com que foi constatado nesta pesquisa


podemos concluir que os problemas enfrentados nas escolas geralmente têm
ligações diretas com a falta de parceria e diálogo entre família e escola, pois as
regras dadas pelos pais em casa muitas vezes se contrapõem aos limites
estabelecidos no âmbito escolar. Os educadores, os pais e os alunos devem
dialogar, e, portanto, a situação em que se evidencia a relação família e escola
merece reflexão constante em qualquer sociedade.
A sociedade surge por uma parceria de sucesso entre famílias e escolas,
pois acreditamos que só assim poderemos realmente fazer uma educação de
qualidade e que possa promover o bem-estar de todos. Só assim poder-se-á
alcançar uma sociedade coerente em que seus agentes conheçam e cumpram
seus papéis em todos os processos, sobretudo, no processo educacional, sem
deixar de lado o familiar e o social.
A educação de toda criança começa dentro do próprio lar/família, os pais
são os responsáveis legais e morais pela educação dos seus filhos. Podemos
afirmar que é razoável esperar que pais e professores sejam parceiros, pois
ambos querem o melhor para suas crianças, “o sucesso escolar”.
Os pais precisam ser uma autoridade para seus filhos. A disciplina, os
limites e a autoridade dos pais sobre os filhos não é algo negociável. Há diversas
maneiras de estabelecer esta forma de autoridade. Alguns pais mostram sua
autoridade com rigidez e não são capazes de ser flexíveis e tolerantes com as
situações e circunstâncias. E a escola deve ser atrativa, por isso, muitas vezes
a indisciplina pode e esta relacionada a falta de interesse e a apatia em relação
à escola. A solução seria de recursos didáticos mais atraentes e assuntos mais
atuais.
Pode se observar também que as manifestações de indisciplina, muitas
vezes, podem ser vistas como uma forma de se mostrar para o mundo, mostrar
sua existência, em muitos casos o indivíduo tem somente a intenção de ser
ouvida por alguém, então para muitos alunos indisciplinados a rebeldia é uma
forma de expressão.
Desse modo, podemos concluir que através deste trabalho, chegamos a
inquietar a família e escola para a necessidade de uma reflexão sobre a prática
47

consciente de suas atribuições enquanto cidadãos responsáveis pela formação


do educando.
A presente pesquisa utilizou como foco a relação família x escola, porém
entendemos que os problemas e dificuldades enfrentadas pelas escolas, em
especial, as escolas da zorna rural, são inúmeros e precisam de atenção. Em
momento algum tentamos diminuir a importância desses problemas, apenas
focamos em um em específico. Ressaltamos ainda, que o trabalho não pretende
encerrar as discussões sobre o tema, enxergando a necessidade de uma
pesquisa mais aprofundada, dada a importância da questão.
48

6. REFERENCIAS

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