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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA

THAVIANE NOVAIS COSTA

QUALIDADE DE VIDA DO ENFERMEIRO NO TRABALHO E OS


REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

ARAÇUAÍ- MINAS GERAIS


2014
THAVIANE NOVAIS COSTA

QUALIDADE DE VIDA DO ENFERMEIRO NO TRABALHO E OS


REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Especialização


em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de
Minas Gerais, para obtenção do Certificado de Especialista.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Rizoneide Negreiros de Araújo

ARAÇUAÍ- MINAS GERAIS


2014
THAVIANE NOVAIS COSTA

QUALIDADE DE VIDA DO ENFERMEIRO NO TRABALHO E OS


REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Banca examinadora:

Profa. Dra. Maria Rizoneide Negreiros de Araújo - orientadora


Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete - UFMG

Aprovado em Belo Horizonte, em 01 de fevereiro de 2014.


Dedico este trabalho a Deus pela força e coragem.

À orientadora Dra. Maria Rizoneide Negreiros de Araújo pelo


incentivo e por compartilhar seus conhecimentos,
acompanhando-me assim na realização deste trabalho; aos
meus pais pelo amor e doação constante durante toda a minha
existência.

Ao meu amor Grégory pela compreensão e solicitude a mim


oferecidas.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por estar comigo em todos os momentos de


minha vida.

A minha família, em especial meus pais, pelos exemplos de


vida e sabedoria.

À professora orientadora Dra. Maria Rizoneide Negreiros de


Araújo pelos pressupostos teóricos e científicos essenciais
para a realização de um trabalho científico de qualidade.
A enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma
devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de
qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do
frio mármore comprado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito
de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das
artes!

Florence Nightingale
RESUMO

Apesar de ser um tema bastante discutido desde os primeiros tempos da existência do


homem, o termo qualidade de vida ainda reúne certa ambiguidade de conceito, pois se
trata de uma expressão bastante complexa e subjetiva. Dessa forma, oferecer qualidade
de vida aos profissionais de enfermagem como também aos demais profissionais
consiste numa estratégia de melhorar a qualidade individual e coletiva desses
profissionais. Este estudo teve como objetivo elaborar um projeto de intervenção para
avaliar a qualidade de vida no Trabalho (QVT) dos trabalhadores de enfermagem da
família de saúde da família, do município de Medina-MG. Trata-se de uma revisão
bibliográfica sobre o tema qualidade de vida no trabalho (QVT) realizada na Biblioteca
Virtual em Saúde com a finalidade de buscar as evidências existentes sobre o tema para
subsidiar a elaboração deste trabalho. Os estudos analisados mostraram que os
profissionais de enfermagem que atuam nas equipes de saúde da família sofrem de
estresses pela sobrecarga de trabalho, insatisfação pela baixa remuneração e falta de
reconhecimento elo trabalho realizado. Conclui-se pela importância de realizar um
projeto de intervenção para propor melhorias na qualidade de vida desses trabalhadores

Palavras-chave: Qualidade de vida. Satisfação no trabalho. Enfermagem.


ABSTRACT

Despite being a subject widely discussed since the early days of man's existence, the
term quality of life also brings ambiguity of concept, because it is a very complex and
subjective expression. Thus, providing quality of life for nursing professionals as well as
other professionals, consists of improving individual and collective quality of these
professional strategy. This study aimed to develop an intervention project to evaluate the
quality of life at work (QWL) of nursing Family health of the family, the city of Medina -
MG. This is a literature review on quality of work life ((QWL) held at Virtual Health Library
in order to get the existing evidence on the issue to support the development of this work.
The studies analyzed showed that nurses working in family health teams suffer from
stress by work overload, dissatisfaction with low pay and lack of recognition bond work. It
concludes the importance of conducting an intervention project to propose improvements
in the quality of life of workers.

Keywords: Quality of life. Job satisfaction. Nursing.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 11

3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 12

4 METODOLOGIA ................................................................................................ 13

5 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 14

5.1Qualidade de Vida no Trabalho....................................................................... 15

5.2 A Enfermagem na Qualidade de Vida dos seus trabalhadores............ 18

5.3 A qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do município

de Medina- MG.............................................................................................. 20

6 PROJETO DE INTERVENÇÃO ........................................................................ 22

7 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................ 23

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 24
9

1 INTRODUÇÃO

Os acontecimentos atuais do mercado e o crescimento da globalização fazem aparecer


nas empresas a necessidade da valorização do capital humano para garantir produção e
competitividade.

Neste contexto, segundo Vasconcelos (2001), a qualidade de vida no trabalho constitui


peça chave do desenvolvimento humano e profissional, pois é nas organizações que o
indivíduo, trabalhador, encontra sucesso ou frustração,e estas situações interferem
diretamente no bem estar psicossocial, assim como no rendimento e desempenho
profissional.

As instituições devem estar atentas e planejar mecanismos que proporcionem ao


trabalhador melhor desempenho e rentabilidade, ou seja,condições de trabalho e
esperança de uma vida melhor.

Avello e Grau (2004) relatam no que se refere à saúde, por exemplo, que a profissão de
enfermagem tem o seu processo de trabalho estruturado em um projeto intelectual, em
torno do qual combinam saberes e práticas com a finalidade de produzir cuidados
individuais de diagnóstico e terapêutico, a partir de competências e habilidades
gerenciais e assistenciais de seus profissionais.

Todavia, conforme Pelliciotti (2009), o trabalho de enfermagem tem sido considerado


penoso devido às cargas de natureza física, mental e psíquica, sobretudo no ambiente
hospitalar, onde muitas vezes as condições são precárias favorecendo e potencializando
as possibilidades de adoecimento.

Os riscos resultantes do ambiente e da própria forma de execução do trabalho de


enfermagem vêm contribuindo para desenvolvimento de doenças relacionadas a este,
promovendo o acréscimo nas taxas de absenteísmo, desestímulo ao trabalho, queda na
produtividade e principalmente na qualidade de vida (QV) deste trabalhador (SILVA;
MARZIALE, 2006).
10

Quando realizei o módulo de Planejamento e avaliação de ações em saúde (CAMPOS;


FARIA; SANTOS, 2010) e discutido os problemas de saúde identificados no território, a
equipe externou a sua preocupação com os problemas da comunidade. No entanto,
ponderou a respeito das questões relacionadas aos profissionais de enfermagem que
encontravam-se desestimulados, ansiosos e com repercussão na qualidade do
atendimento. Mesmo respeitando os problemas da comunidade, que serão certamente
trabalhados em um segundo momento, escolhi fazer um projeto de intervenção com a
finalidade avaliar a qualidade de vida no Trabalho (QVT) dos profissionais de
enfermagem de saúde da família do município de Medina-MG.

A equipe considerou justa a priorização por serem os profissionais de enfermagem o


maior contingente de trabalhadores junto às equipes de saúde da família e que esses
problemas podem afetar diretamente o desempenho dos trabalhadores e por
consequência a qualidade da atenção prestada.
11

2 JUSTIFICATIVA

Tomando como área temática a qualidade de vida do trabalhador, sendo a autora uma
profissional da área de saúde, atuando no município de Medina, MG e levando em
conta que a finalidade da estratégia dos órgãos de Saúde é oportunizar a realização de
um trabalho voltado para a melhoria da saúde da população, nada mais justo do que
desenvolver um trabalho com foco na qualidade de vida no trabalho de enfermagem, de
modo a refletir na qualidade de vida pessoal.

O município de Medina situa-se na região norte, região conhecida como Vale do


Jequitinhonha. A cidade é cortada pelo Rio Pedro, que é pequeno, mas abastece a
cidade pela Barragem Ribeirão e afluente do Rio Jequitinhonha. Possui 21.641
habitantes (BRASIL, 2010).

Conta com sete equipes de saúde da família, sendo cinco na zona urbana e duas na
zona rural, cobrindo 100% da população. Dentre os PSF urbanos quatro Unidades
Básicas de Saúde (UBS) foram construídas de acordo a estrutura padrão do governo de
Minas Gerais e uma funciona em prédio do estado com estrutura antiga e inadequada.
As UBS da área Rural funcionam em prédios do município, com estruturas antigas que
foram reformadas há pouco tempo.

Possui um Hospital de Pequeno Porte (Hospital Santa Rita) e um Centro de


Especialidades.

As UBS funcionam de 7:00 as 17:00 horas com intervalo para almoço. No município
trabalham 10 enfermeiros atuando, uns nos PSF e outros na parte administrativa
burocrática.

Como enfermeira atuante no município de Medina, considerei oportuno ser importante


abordar este tema por julgar que não há preocupação da gestão quanto à preservação
12

da qualidade de vida no trabalho de enfermagem, e que isto influi na qualidade de vida


pessoal, de cada um.
Desta forma, optei por realizar este estudo, sobre qualidade de vida dos profissionais de
enfermagem no trabalho e os reflexos no desenvolvimento profissional.
13

3 OBJETIVOS

3.1 Geral

Elaborar um projeto de intervenção para avaliar a qualidade de vida no Trabalho (QVT)


dos trabalhadores de enfermagem da família de saúde da família, do município de
Medina-MG.

3.2 Específicos

Conceituar QVT através de referenciais teóricos.

Verificar a importância de ter QVT para as equipes de ESF;

Identificar os fatores que facilitam e dificultam a QVT.


14

4 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema qualidade de vida no trabalho
(QVT) na Biblioteca Virtual em Saúde com a finalidade de buscar as evidências
existentes sobre o tema para subsidiar a elaboração deste trabalho.
A busca foi realizada no banco de dados LILACS por meio dos seguintes
descritores:
Qualidade de vida;
Satisfação no trabalho;
Enfermagem.

A pesquisa das publicações foi direcionada para as mais recentes, sem, contudo, excluir
aquelas mais antigas que apresentaram diferentes concepções tanto os aspectos
relacionados aos fatores facilitadores como aqueles identificados como dificultadores
para a QVT.
15

5 REVISÃO DE LITERATURA

O maior determinante da qualidade de vida no trabalho é a qualidade de vida das


pessoas. Lyncon Johnson citou pela primeira vez em 1964, o termo qualidade de vida,
quando afirmou que não se podem medir os objetivos pelo balanço dos bancos; eles só
podem ser medidos pela qualidade de vida que proporcionam às pessoas (SCORSINet
al., 2005).

Silva (2000) conceitua a qualidade de vida através de um amplo conceito, e englobando


aspectos subjetivos (sentimentos, percepção, bem-estar e satisfação) e objetivos
(recursos materiais disponíveis, salário e carreira). Especificamente, tratando do
contexto da saúde na organização, é possível apresentar alguns indicadores como:
satisfação, auto realização, motivação, desempenho, ou ainda, analisar a ausência da
qualidade de vida.

Porém, Walton (1973 apud HADDAD, 2000) cita que, para que haja Qualidade de vida
no trabalho fora e dentro da empresa são necessárias várias medidas: compensação
adequada e justa, sem salário digno não há satisfação pessoal; condições de segurança
e saúde no trabalho: carga horária e ambiente adequado no trabalho; oportunidade
imediata para a utilização e desenvolvimento da capacidade humana; oportunidade para
crescimento contínuo e segurança; integração social na organização; constitucionalismo
na organização do trabalho; trabalho e o espaço total da vida; a relevância social da vida
no trabalho.

Desta forma, as organizações de saúde necessitam oferecer mais estímulos para os


funcionários de enfermagem: plano de carreira, melhores salários, dignidade para
poderem sustentar suas famílias. E acima de tudo respeito por esta profissão que tem
como principal meta cuidar do próximo com técnica, respeito, competência e carinho.

Os fatores que mais interferem na QV consistem em baixos salários, riscos


ocupacionais, condições laborais precárias, (des)valorização profissional. (in)satisfação
pelo trabalho. Os aspectos determinantes para QV referem-se à melhoria dos ambientes
16

de trabalho, implementação de políticas públicas, programas de atenção à saúde do


trabalhador, valorização profissional. Considera-se que para o cuidado ser prestado com
qualidade, os profissionais de enfermagem necessitam de cuidados e valorização, o que
contribui para a satisfação profissional e uma possível qualidade de vida.

5.1 Qualidade de vida no trabalho

Na sociedade atual, a qualidade de vida das pessoas de um modo geral está


relacionada a um conjunto de fatores que envolvem esferas públicas e privadas.Públicas
considerando as condições favoráveis de bem estar social do indivíduo,como saúde,
educação, habitação, transporte entre outras. Privada considerando o âmbito pessoal e
mais íntimo, como família, trabalho, lazer. Embora categorias com particularidades
distintas, estão intimamente ligadas e influencia diretamente uma a outra.

Conforme afirma Maximiliano (2007), quanto maior a satisfação dos funcionários, mais
alta é a qualidade de vida no trabalho. Os funcionários podem estar mais ou menos
satisfeitos, não apenas com os fatores motivacionais e higiênicos, mas também com
outros fatores, como a sua própria educação formal, vida familiar e oportunidades para
desfrutar de atividades culturais e sociais. Estes dois últimos estão claramente fora do
ambiente de trabalho. No entanto, é inegável seu papel na saúde psicológica e na
produtividade dos funcionários de todos os níveis.

No âmbito organizacional, a qualidade de vida é uma temática de extrema importância,


pois interfere diretamente na questão competitividade, espaço no mercado,
produtividade da empresa. Nesse contexto, a qualidade de vida no trabalho pode ser
entendida como o envolvimento de pessoas, trabalho e organizações, onde a
preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficiência da organização são os
aspectos mais relevantes.

Na atual economia, para se manter com estabilidade e lucratividade no mercado, não


basta à empresa garantir a qualidade dos aspectos técnicos do processo produtivo é
preciso também investir nas pessoas que estão atrás de tais processos. O bem estar
pessoal do funcionário faz a diferença, pois a satisfação no trabalho não está isolada da
vida do indivíduo como um todo. Para Maximiliano (2007, p 237), este pensamento
17

caracteriza o enfoque biopsicossocial, “que propõe a visão integrada, ou holística, do ser


humano”.

Com base nessa visão de ser humano, e também numa visão ética da condição
humana, Telles (2005) coloca que as empresas consideram um novo modelo de gestão,
apostando no equilíbrio entre a saúde física, emocional, social, intelectual, ocupacional e
espiritual de seus colaboradores, procurando implementar condições que agreguem a
capacidade criativa, potencial e motivacional do colaborador objetivamente valore
qualidade à sua vida. Essas empresas entendem a ligação entre sua cultura, seus
valores, suas práticas gerenciais, com a saúde e produtividade de seus colaboradores.

Para Vasconcelos (2001), o assunto qualidade de vida no trabalho não é novo, mas a
sua aplicação pode incorrer em vários equívocos, uma vez que em algumas situações
existe certa distância entre o discurso e a prática.

O termo QVT é bastante complexo, existem muitas conceituações e formas


metodológicas de abordagem. Mas independente do conceito é preciso enfatizar que as
categorias utilizadas devem ser vistas de forma sistêmica em constante interação e
apresentam a vantagem de analisar tanto o conjunto de condições e práticas
organizacionais, como aspectos relacionados à satisfação e percepção dos empregados
sobre os fatores positivos no trabalho.

Para Carmello (2009), a implantação de um programa de QVT não só pode modificar a


cultura organizacional, mas a concepção de uma política de QVT já se constitui, em si
mesmo, um forte momento de mudança da cultura, mas só a política não basta. É
preciso muito mais. E virá com o processo de implantação que, por sua vez, promoverá
mudanças profundas de valores, crenças, ritos e mitos organizacionais que se
encontram cristalizados nas organizações onde se afirma um velho paradigma de que
não se mudam práticas sem mudança de consciência, ou seja,fazer diferente requer
pensar diferentemente.

Ainda de acordo com Carmello (2009), é ilustrativo o depoimento de um trabalhador


sobre o processo de implantação da política de QVT na sua organização: aos poucos,
18

parece que a máxima que sempre valeu por aqui ‘manda quem pode, obedece quem
tem juízo’ começa a fazer parte do passado.

Segundo Telles(2005), estudioso do assunto QVT,oito são os fatores conceituais que


indicam a qualidade de vida no trabalho. São eles:

a) Compensação justa e adequada traduzida em equidade salarial interna,


equidade salarial externa e benefícios;
b) Condições de trabalho através da disponibilidade de condições físicas seguras
e saudáveis e jornada de trabalho que não afete o rendimento;
c) Oportunidade de uso e desenvolvimento das capacidades, através da
autonomia e possibilidades de autocontrole, aplicação de habilidades variadas e
perspectivas sobre o processo total do trabalho;
d) Oportunidade de crescimento contínuo para desenvolver carreira e segurança
no emprego;
e) Integração social no trabalho possibilitando igualdade de oportunidades, bons
relacionamentos e senso coletivo;
f) Constitucionalismo, respeitando normas e regras, privacidade pessoal e adesão
a padrões de igualdade;
g) Trabalho e espaço total da vida respeitando a relação do papel do trabalho
dentro dos outros níveis de vida do empregado
h) Relevância social da vida no trabalho, possibilitando a percepção do
empregado em relação à responsabilidade social da instituição na comunidade.

O sucesso da empresa está no cuidadoso planejamento da qualidade de vida no


trabalho. Qualidade esta que associa a visão positiva do empregado bem como a vida
pessoal, um mistura de produtividade no ambiente de trabalho e desenvolvimento
pessoal.

Na literatura existem diversas formas para caracterizar a expressão QVT, porém em


resumo todos apontam para conciliação dos interesses dos indivíduos e das
organizações, ou seja, melhora a satisfação do empregado e maximiza a produtividade
da empresa (TELLES, 2005).
19

Ferreira et al. (2009, p. 148) afirmam que

Há duas perspectivas de qualidade de vida no trabalho que se


opõem. De um lado, a QVT do tipo assistencialista que se caracteriza
por um cardápio de atividades do tipo ante estresse como, por
exemplo, dança de salão, ioga, massagens terapêuticas, um o furô
corporativo. Nessa ótica, o trabalhador é a variável de ajuste. De
outro, encontramos uma QVT do tipo preventiva que se caracteriza
por uma política cujo foco de atuação reside nas mudanças das
condições, da organização e das relações sócio profissionais de
trabalho, também encontra-se relacionadas ao assunto como a
influência da QVT na cultura organizacional e do envolvimento da
área de Gestão de Pessoas no processo.

Nesse caso, a QVT é um instrumento fundamental de gestão organizacional e a


possibilidade de sucesso depende, principalmente, de um novo modelo de gestão do
trabalho. Essa perspectiva, certamente, é a que veio para ficar.

5.2 A qualidade de Vida dos profissionais de enfermagem

Raffone e Hennington (2005) descrevem que, desde a década de 30, a Organização


Internacional do Trabalho (OIT), em conjunto com a Organização Mundial da Saúde
(OMS) vêm estudando a profissão de enfermagem e identificando a situação precária
desses trabalhadores. Em 1976, durante a 61ª Conferência da OIT, foi colocada em
discussão as condições de vida, trabalho e emprego desses profissionais, entre elas as
extensas jornadas de trabalho, ausência de períodos de descanso, plantões aos
domingos e feriados sem justa compensação, períodos de trabalho fatigantes e o fato da
equipe de enfermagem não ser ouvida quanto ao planejamento e à tomada de decisões
da prática profissional, do ensino e das condições de trabalho.

Segundo esses autores, problemas existem até hoje e são agravados pela crise
socioeconômica e pelas recentes transformações do trabalho que interferem de forma
direta e negativa na saúde dos trabalhadores.

Para Elias e Navarro (2006), a atual fase do capitalismo leva a intensificação laboral e a
insegurança pelo medo do desemprego faz com que as pessoas se submetam a
regimes e contratos de trabalho precários, com baixos salários, em ambientes
20

desfavoráveis e de alto risco, que comprometem sua QV e saúde.

Sarquis et al. (2005) afirmam que, a partir dos anos 80, as pesquisas abordando a saúde
dos profissionais de enfermagem se acentuaram, pois ficou demonstrado que eles
atuam em condições vulneráveis a seu estado de saúde. Entre as peculiaridades do
trabalho da enfermagem citam-se o quantitativo pessoal, a formação técnica
heterogênea, organização e divisão de trabalho, a predominância do sexo feminino, a
remuneração, os turnos e a constante vivência de tensões.

Segundo Elias e Navarro (2006), o trabalho de enfermagem tem sido considerado


insalubre, penoso e perigoso principalmente em ambiente hospitalar, pois os
profissionais estão expostos à riscos biológicos, físicos, químicos, psicossociais e
ergonômicos que, se não controlados causam inúmeros acidentes e doenças
profissionais, citados como as principais causas de absenteísmo nos hospitais.

Para Zakabi (2004), os trabalhadores da área de saúde ocupam uma das profissões
campeãs do estresse e este, pode gerar inúmeros sintomas físicos, psíquicos e
cognitivos por requerer respostas adaptativas prolongadas, para tolerar, superar ou se
adaptar a agentes estressores, que podem afetar o indivíduo e as organizações.

Conforme Schmidt e Dantas (2008), entre os fatores geradores de estresse para os


profissionais de enfermagem estão: divisão social do trabalho, exigências em excesso,
sobrecarga tanto quantitativa pela responsabilidade por mais de um setor hospitalar,
quanto qualitativa verificada na complexidade das relações humanas, dupla jornada de
trabalho que favorece a diminuição do tempo dedicado ao autocuidado e ao lazer, setor
de trabalho e turno de trabalho, principalmente o noturno.

Para Presoto (2008), os profissionais com jornada de trabalho superior a 44 horas estão
mais sujeitos a problemas de saúde, por conta do excesso de trabalho em turnos ou
horários, principalmente a noite, cujo trabalho pode levar a um pior desempenho,
maiores riscos de acidentes de trabalho e estressores ocupacionais, gerando
incapacidade funcional precoce.
21

De acordo Silva (2000), o aumento da jornada de trabalho dos profissionais de


enfermagem gera consequências em sua saúde como: distúrbios do sono, problemas
alimentares, e prejuízo da vida social. Neste último. Lino (2004) destaca as dificuldades
na participação de atividades socioculturais e na manutenção de amizades fora do
ambiente de trabalho, que contribuem com sentimentos de isolamento social.

Para Magnago et al. (2007), os distúrbios osteomusculares, principalmente as


lombalgias, as dores nos ombros, nos joelhos e na região cervical, também acometem
os profissionais de enfermagem, e são causados por manutenção de posturas estáticas,
por tempo prolongado ou resultante de traumas cumulativos que acontecem
frequentemente devido aos cuidados diretos ao paciente.

Neste cenário, verifica-se que estes trabalhadores estão expostos a cargas de naturezas
diversas que comprometem a sua saúde e por isso, vivem o paradoxo de estar tão ou
mais sujeitos às enfermidades do que o paciente entregue aos seus cuidados.

5.3 A qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do município de Medina-


MG.

De acordo com as informações colhidas no setor de pessoal do município de Medina, os


profissionais da saúde do município, estão numa faixa de idade abaixo de 40 anos de
idade. Verificou-se também que a maioria desses profissionais tem menos de cinco
anos de atuação no município o que se pode inferir que, há uma rotatividade prejudicial
tanto para o fluxo de trabalho como para os próprios profissionais.

Não existe no município nenhum projeto relacionado à promoção de qualidade de vida


no trabalho de enfermagem e dos demais trabalhadores da área da saúde, e essa
situação independe das condições externas e pessoais, pois são decisões políticas que
o município deve ter.

Para Moreira e Araújo (2005), é relevante levar em consideração fatores externos e


internos quando se discute a melhoria da qualidade de vida.
22

Para Paiva (1999), Qualidade de Vida no Trabalho está relacionada quando o


trabalhador expressa satisfação nas tarefas que realiza e nas condições ambientais
onde realizam as suas atividades, consequentemente, na saúde mental há reflexo. Além
desses fatores, as dificuldades socioeconômicas que esses profissionais enfrentam, pois
os profissionais de enfermagem recebem baixa remuneração e muitos precisam manter
duas jornadas de trabalho para sustentar dignamente sua família. Tudo isso interferem
nas condições de vida e trabalho dos profissionais de enfermagem.

Assim, pode-se dizer que, para se ter qualidade de vida no trabalho são necessárias
mudanças em algumas áreas da vida do indivíduo.

De acordo Silva (2000), a qualidade de vida no trabalho é abrangente e certamente, está


relacionada às condições de vida no trabalho, o que inclui aspectos como bem-estar,
garantia de saúde e segurança física, mental e social, capacitação e bom uso de energia
pessoal. É um desafio que abrange, não só uma parte ou outra, mas o indivíduo e a
organização.

Haddad (2000, p 76) comentando Zanelli (1996) da sua leitura sobre a qualidade de vida
dos profissionais de enfermagem ressalta que

[...] nascemos e morremos dentro das organizações de trabalho. As


sociedades se organizam em função do trabalho. O trabalho é um núcleo
definidor do sentido da existência humana. Toda a nossa vida é baseada
no trabalho, portanto, devemos torná-lo o mais prazeroso possível.

Após a análise dos artigos selecionados, verifica-se que há várias correntes a respeito
de qualidade de vida no trabalho. Contudo, percebe-se que através do trabalho homens
e mulheres se realizam, enquanto seres humanos.
23

6 PROJETO DE INTERVENÇÃO

Para que os trabalhadores em geral tenham uma qualidade de vida satisfatória, torna-se
necessário ter uma equipe interdisciplinar de apoio ao trabalhador. Na enfermagem,
principalmente, por ser uma atividade que lida com vidas, para que esse trabalho se
desenvolva num clima de harmonia, o olhar atento dessa equipe torna-se essencial.
Deve envolver a identificação dos problemas, o planejamento de situações novas e
solução de problemas, com o intuito de aprimorar o trabalho.

A avaliação de desempenho, treinamento e desenvolvimento de pessoal,


desenvolvimento organizacional, solução de problemas e tomada de decisões são
algumas ações que podem ser desenvolvidas no ambiente de trabalho.

Para mudar a qualidade de vida no trabalho das equipes de saúde da família do


município de Medina, propõem-se algumas estratégias, a saber:

• Oficina de trabalho com os profissionais de enfermagem para ouvi-los sobre os


problemas por eles identificados como causadores de inferência de na qualidade
de vida no trabalho;

• Elaborar estratégias de superação das dificuldades, com vistas a melhorar o


ambiente de trabalho;

• Elaborar propostas de ajustes no ambiente de trabalho que venha ajudar no


processo de trabalho da equipe e, consequentemente, na satisfação com o
trabalho;

• Aplicar o instrumento da Organização Mundial de Saúde (1998) -WHOQOL


simplificado para identificar as principais áreas que precisam ser trabalhadas com
as equipes;
24

7 CONSIDERAÇÕES

Os profissionais de enfermagem são responsáveis pela assistência dos indivíduos sob


seus cuidados, de forma a promover, manter e recuperar sua saúde. No entanto, sabe-
se que mesmo com os avanços alcançados pela enfermagem muito ainda há para fazer
e mudar, pois tal é a responsabilidade e cobrança que a categoria recebe, por parte da
gestão e esta situação gera vários agravos à saúde que podem refletir nas suas
condições físicas e mentais, interferindo na QV.

Muitas vezes, esses profissionais negligenciam sua própria condição física em


detrimento da profissão, que podem comprometer aspectos essenciais ao se contexto
de vida.

Investimentos em Qualidade de Vida no Trabalho o município não oferece, para


melhorar a satisfação de seus funcionários, não fazem parte das prioridades da gestão,
pois para a gestão municipal funcionários descontentes são sinônimos de baixa
produtividade, alta rotatividade e elevado número de afastamentos.

Conclui-se que o município não realiza ações ou projetos para o seu bem-estar, dos
profissionais de enfermagem resultando em baixa produtividade, insatisfação com o
trabalho, estresses, entre outros.

Espera-se que com a execução do projeto de intervenção seja possível agrupar os


profissionais, priorizar as dificuldades e buscar coletivamente alternativas de solução ou
mesmo para atenuar os males que o trabalho possa estar acarretando a essa categoria.
25

REFERÊNCIAS

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