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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO


CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA:
SUJEITO, PROCESSOS EDUCATIVOS E DOCÊNCIA

PEGUEI O BONDE DA LEITURA E DESEMBARQUEI NA ESCOLA, E AGORA?

Projeto de Dissertação apresentado como requisito


parcial a candidatura ao Mestrado em Educação, do
Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa Catarina, Linha de
Pesquisa Sujeitos, Processos Educativos e Docência sob
Edital nº 02/PPGE/2023.

FLORIANÓPOLIS, MARÇO/2023
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

Enquanto professor de linguagens, mais especificamente, Língua e Literatura Portuguesa


na rede pública estadual de ensino em Santa Catarina, sempre me pautei pela importância do
hábito da leitura, constituindo, dessa forma, uma prática pedagógica voltada à formação de
leitores, a constituição do pensamento crítico e a capacidade de se sensibilizar e interpretar, por
meio dos livros, o mundo que vivemos e a forma como podemos concebê-lo.
De modo efetivo essas aulas se estendiam a apresentações cênicas, exposições literárias,
clubes de leitura, seminários, produção de livros, saraus e socialização de leituras entre os
estudantes e a comunidade escolar. Tais ações se constituíam por eu entender que uma escola sem
livros e sem leitores é um espaço carente de imaginação e de sonhos, portanto um lugar frio e
pouco acolhedor que se distancia do seu propósito humanístico e formativo.
Devido a essa crença e engajamento pedagógico, tive a oportunidade de expor algumas
ações relacionadas à leitura, escrita e processos criativos por meio de cursos de formação docente,
sobretudo, em parceria com a Secretaria do Estado da Educação de Santa Catarina. Essa prática
me levou a participar como redator do Componente Curricular Eletivo Práticas de Letramento
Literário com Ênfase em Literatura Local, que integra o documento: Currículo Base do Ensino
Médio Catarinense.
Desde então passei a ter interesse pelo andamento deste componente curricular na rede
pública estadual de Santa Catarina, como uma espécie de pai que ao saber do filho criando, ainda
assim, se interessa pelos seus passos e os rumos que toma. Entender como se dá sua escolha nas
escolas, a adesão dos professores, a qualificação desses, suas experiências, desafios e expectativas
bem como a formação que recebem para trabalhar com esse componente é o que vem a compor as
indagações a serem analisadas por este estudo.
Por isso, o presente projeto visa investigar a formação e a prática literária do professor do
componente curricular eletivo - Práticas de Letramento Literário com Ênfase em Literatura Local
junto a escola(s) da rede estadual de ensino de Santa Catarina e desvelar algumas de suas nuances
acerca desse(s) docente(s) e sua(s) prática(s) pedagógica(s).

JUSTIFICATIVA
O advento do Ensino Médio alinhado a Base Nacional Comum Curricular de 2017
constituiu-se a partir de marcos legais demarcados pela lei 9.394/96, em seu art. 8º que prevê “a
construção, em regime de colaboração, de conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
básica comum”. Na sequência, o Parecer CNE/CEB, Nº 7/2010 estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. O Conselho Nacional de Educação, por
meio do Parecer CNE/CEB Nº 5/2011 apresenta o projeto de Resolução das Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Novo Ensino Médio (DCNNEM) e o Projeto de Lei 6.840/2013
altera a Lei 9.394/1996 quando institui jornada em tempo integral no Ensino Médio, dispondo
sobre organização dos currículos do Ensino Médio em áreas do conhecimento, indicando opções
formativas e dá outras providências.
Na Lei 13.005/2014 é previsto, em regime de colaboração, que sejam definidos direitos e
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento em uma base nacional comum curricular que gerou
a homologação da Lei Federal 13.415/2017 instituindo o formato do Novo Ensino Médio, ao que
conhecemos como documento norteador Base Nacional Comum Curricular.
Com base nessa legislação, o Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, por
meio da Resolução do CEE/SC Nº 093/2020 estabelece cronograma e normas complementares
para implementação das alterações na Lei de Diretrizes e Bases 9.394/1996 e a Portaria MEC Nº
521/2021 apresenta o Cronograma Nacional de Implementação do Novo Ensino Médio.
Pareceres, Diretrizes, Portarias, Projetos de Lei, ancoraram a construção coletiva da Base
Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018), o que por sua vez, mobilizou a educação escolar de
vários estados brasileiros fomentando a construção de currículos conectados à realidade de cada
estado.
Nessa perspectiva o estado de Santa Catarina construiu em colaboração com a
multiplicidade de vozes de profissionais da educação o documento que se intitula Currículo Base
do Ensino Médio do Território Catarinense (SANTA CATARINA, 2021).
A construção desse currículo, inspirado na Base Nacional Comum Curricular implica
pensar nas alterações da organização curricular, na formação inicial e continuada dos docentes, na
flexibilização das práticas pedagógicas, pois já não é possível pensar de forma disciplinar, mas em
uma organização do conhecimento por áreas. Além disso, a urgência de um ensino atrativo e
significativo permitindo aos estudantes serem protagonistas de suas histórias ao planejarem seus
percursos escolares, suas vidas com consistência e de forma integral.
O referido documento contempla quatro áreas do conhecimento, a saber: Ciências
Humanas Sociais e Aplicadas, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Matemática e suas
Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias.
A área das Linguagens e suas Tecnologias é composta de sete Componentes Curriculares
Eletivos, dentre os quais, as Práticas de Letramento Literário com Ênfase em Literatura
Local. Esse componente visa desenvolver entre os jovens o letramento literário, bem como a
prática da escrita criativa, tendo como base o estudo de obras e autores catarinenses
contemporâneos. Sua escolha se dá pelo fato de constituir parte do Eixo Elegível do Ensino Médio
e por haver sido elaborado e redigido pelo proponente desta pesquisa com a participação de
educadores de diversas coordenadorias regionais de ensino sob supervisão da Secretaria do Estado
da Educação de Santa Catarina.
A proposição dos componentes curriculares eletivos indica vários desafios no que diz
respeito teoria e prática, primeiramente na demanda de estudos e conhecimentos requerida por
parte dos docentes no sentido de compreender a elaboração de estratégias pedagógicas que
garantam aos discentes o desenvolvimento de habilidades previstas nos documentos oficiais como
a Base Nacional Comum Curricular e o Currículo do Ensino Médio do Território Catarinense.
Desse modo, o sucesso da implementação desse modelo de organização curricular
depende, em parte, do engajamento e a qualificação dos professores que necessitam de formação
organizada por área de conhecimento, já que estamos a falar da área de Linguagem e suas
Tecnologias, o professor que irá trabalhar com o Componente Curricular Eletivo: Práticas de
Letramento Literário com Ênfase em Literatura Local poderá ter formação em Língua Portuguesa,
Arte, Educação Física ou Língua Inglesa. Assim, questiona-se se de fato o professor deste
componente, a partir da sua formação específica está preparado para ser um mediador de leitura
para o desenvolvimento da habilidade leitora dos seus alunos? Qual a concepção que o professor
tem desse Componente Curricular? Qual é a sua formação literária? Quais literaturas são
selecionadas por ele?
Outro desafio é o tempo para planejar de forma conjunta, oferta de recursos didáticos,
nem sempre disponíveis, para o melhor exercício de sua prática pedagógica. A prática docente
desejada exige estudo e compreensão da sua proposta de ensino para que se desenvolvam
planejamentos, estratégias e ações pedagógicas que possam, de fato, orientar os estudantes em
relação às habilidades a serem desenvolvidas. Novamente questiona-se se a escola oportuniza
momentos de estudo e planejamento aos professores que assumem o Componente Curricular
Eletivo: Práticas de Letramento Literário com Ênfase em Literatura Local? Como acontece a
formação continuada desses professores?
Em decorrência do que já foi mencionado como desafios partindo do desenho curricular
proposto para o componente supracitado tem-se a hipótese de que o processo de formação
literária, o hábito de leitura, a escolha da literatura dos professores, influencia no processo de
formação leitora e letramento literário dos estudantes.
As questões mencionadas me impulsionam a pesquisar as práticas de letramento literário
desempenhadas pelos professores e os desdobramentos necessários para a implementação deste
componente curricular eletivo nas escolas da rede estadual de ensino onde há oferta deste,
questionando:
Como se dá a formação e a prática literária do(s) professor(es) do componente curricular
eletivo - Práticas de Letramento Literário com Ênfase em Literatura Local nas escolas da rede
estadual de ensino de Santa Catarina?

REFERENCIAL TEÓRICO

LEGISLAÇÃO E CURRÍCULO NO CONTEXTO ATUAL DO ENSINO MÉDIO


CATARINENSE

Dado o exposto, percebe-se que o professor de linguagens, na função de mediador de


leitura, se depara com um novo desafio frente ao componente que se apresenta, pois precisará
desenvolver, nos estudantes, além das competências e habilidades previstas pela Base Nacional
Comum Curricular e no Currículo Base do Ensino Médio do Território Catarinense, o interesse
pela leitura, a produção de escrita criativa e o estímulo às práticas de letramento literário através
de obras e autores catarinenses, que por serem contemporâneos, fogem ao cânone escolar, e ao
apoio pedagógico do livro didático.
Essas novas demandas de ensino exigem um professor leitor, sensível, dinâmico, versátil
e criativo. Capaz de estabelecer a conexão entre os livros e seus leitores, que esteja familiarizado
com a produção local e contemporânea, de modo a dar vazão aos aspectos pedagógicos deste
componente curricular eletivo.
Na busca por conhecer o profissional que atua neste componente, suas estratégias
pedagógicas de estímulo à leitura e a produção de escrita literária, faz-se necessário entender seu
processo de formação acadêmica e, por conseguinte, sua constituição leitora bem como suas
escolhas pessoas de leitura, especificamente, a literária.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) é o documento oficial concebido pelo
Ministério da Educação - MEC que define os direitos de aprendizagem de todos os estudantes
brasileiros. Ela determina os conhecimentos, competências e habilidades essenciais a serem
desenvolvidos por estes durante sua jornada estudantil.
Ela está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996) e no Plano
Nacional de Educação (PNE, 2014) e constitui documento referencial da educação brasileira. Seu
texto atual começou a ser discutido em 2015 e foi debatido ao longo de diversos governos,
recebendo milhares de contribuições em consultas e audiências públicas. Sua constituição se deu
em três grandes etapas: a primeira versão recebeu a contribuição de mais de 45 mil escolas do
país, a segunda versão circulou pelas redes estaduais através de seminário organizados pela
Consed e Undime, cerca de 9 mil atores entre educadores e estudantes debateram o documento de
forma detalhada. Em 2017 a terceira versão foi entregue ao Conselho Nacional de Educação -
CNE que ouviu a opinião do Brasil em uma nova rodada de seminários regionais. E só então no
final de 2017 é que a Base Nacional Comum Curricular foi homologada pelo MEC e passou a
valer em todo o território nacional.
A BNCC, pretende potencializar políticas educacionais importantes no sentido de reduzir
desigualdades, promover a equidade e garantir os direitos de aprendizagem. Nela constam
orientações para elaboração dos currículos locais, formação inicial e continuada de professores,
material didático, avaliação e apoio pedagógico dos estudantes.
Sua organização compreende o desdobramento do currículo em duas partes sendo elas
constituídas pela Formação Geral Básica, que lista o conjunto de competências e habilidades das
áreas do conhecimento previstas para a etapa do Ensino Médio com carga horária de 1800 horas e
a segunda parte, denominada Parte Flexível, com carga horária total mínima de 1200 horas
consolidada via oferta de itinerários formativos.
Essa nova organização também preconiza o ordenamento do trabalho pedagógico por
áreas do conhecimento de modo a efetuar um tratamento metodológico contextualizado,
diversificado e transdisciplinar, a fim de favorecer a interação e a articulação entre diferentes
campos de saberes específicos, e que permita o estabelecimento de práticas vinculadas à educação
escolar e ao mundo do trabalho, bem como a prática social.
O Currículo Base do Território Catarinense (CBTC, 2021) vem na esteira dos
pressupostos da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, representando sua continuidade e o
aprofundamento em questões teóricas e epistemológicas da educação básica e suas modalidades.
Nele especificam-se o Projeto de Vida, Componentes Curriculares Eletivos, Trilhas de
Aprofundamento das Áreas do Conhecimento e Segunda Língua Estrangeira.
Quanto à oferta dos Componentes Curriculares Eletivos o documento propõe:

A oferta de Componentes Curriculares Eletivos encontra suporte nas Diretrizes


Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2018), que concretizam e detalham,
junto à Base Nacional Comum Curricular, a Lei 13.415/2017. Essas diretrizes
dispõem, em seu Art. 12, §7º, sobre possibilidade de os currículos do ensino
médio considerarem “competências eletivas complementares do estudante como
forma de ampliação da carga horária do itinerário formativo escolhido, atendendo
ao projeto de vida do estudante”. Por essa lógica, os CCEs figuram como
oportunidade de ampliação e diversificação das trajetórias escolares e das
aprendizagens, devendo ser livre escolha do estudante alinhar-se a seu projeto de
vida, de acordo com as possibilidades de oferta das instituições ou das redes de
ensino. (Santa Catarina, 2021 p.48)

Percebe-se que o itinerário formativo, tem como preceito oportunizar o protagonismo


juvenil, oferecendo maior autonomia no processo de escolha das práticas de estudo relacionadas
ao seu projeto de vida. O que, em tese, faz com que se potencializem os saberes e contribua para
uma formação mais sólida, plural, ampla e integral destes estudantes.
Em relação ao componente Práticas de Letramento Literário com Ênfase e Literatura Local
o documento preconiza:

Um dos escopos do processo de ensino-aprendizagem é formar alunos(as)


letrados(as), isto é, capazes de ler/estabelecer sentidos e produzir os mais
variados gêneros textuais. Nessa perspectiva, a leitura literária é imprescindível,
posto que é complexa e articulada com outros saberes, como o histórico-social,
cultural, geográfico, entre vários outros. Além disso, ler literatura propicia o
desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade, ambas competências
que auxiliam os(as) alunos(as) em suas interações sociais (SANTA CATARINA,
2021, p. 271).

Observa-se que o componente, a guiar os estudos previstos neste projeto, procura ampliar e
potencializar os conhecimentos e habilidades propostos pela área de linguagens por meio de uma
demanda local do conhecimento ético, estético e artístico que são os estudos literários a partir da
produção contemporânea em Santa Catarina. Conforme o documento esse contato possibilita os
estudantes catarinenses a:

Engajarem-se na ampliação de seu repertório leitor; Participar de práticas do


campo artístico literário; Expressar-se e partilhar informações, sentimentos,
ideias, experiências e produzir sentidos que levam ao entendimento mútuo;
Desenvolver a leitura literária e crítica; Participar de processos de criação com
autoria coletiva, na produção de textos literários. (SANTA CATARINA, 2021 p.
271).
Dado o exposto, percebe-se que o professor de linguagens se depara com um novo
desafio frente ao componente que se apresenta, pois precisará desenvolver, nos estudantes, além
das competências e habilidades previstas pela BNCC e no CBTC, o interesse pela leitura, a
produção de escrita criativa e o estímulo às práticas de letramento literário através de obras e
autores catarinenses que por serem contemporâneos fogem ao cânone escolar, e
consequentemente, ao apoio pedagógico do livro didático. Essas novas demandas de ensino
exigem um professor leitor, sensível, dinâmico, versátil e criativo. Capaz de estabelecer a conexão
entre os livros e seus leitores, que esteja familiarizado com a produção local e contemporânea de
modo a dar vazão aos aspectos pedagógicos deste componente curricular eletivo.
Conhecer o profissional que atua neste componente e entender seus desafios frente às
condições e demanda de trabalho e ensino; seu processo de formação acadêmica e, por
conseguinte, sua constituição leitora, bem como suas escolhas pessoas de leitura, em especial a
literária e suas estratégias pedagógicas de estímulo à leitura e a produção escrita criativa faz-se
necessário. Pois deste modo será possível pensar políticas públicas de formação continuada e
oferecer subsídios que possam dar apoio a estes professores e qualificar ainda mais sua prática
pedagógica.

DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO LITERÁRIA

Certa vez a escritora Clarice Lispector questionada sobre qual era o principal livro de sua
vida, respondeu em forma de crônica que já tivera muitas vidas e para cada uma delas citou uma
importante obra literária e todo livro trazia uma emoção, um sentimento, um desejo em cada
tempo de sua existência. Assim, somos nós professores e leitores seres perpassados pela prática da
leitura. O que nos constitui um repertório cognitivo e afetivo que trazemos ao longo dessa
aventurosa viagem que se configura nossas vidas e que se encontra com outras vidas no espaço da
sala de aula, do patio ou da biblioteca escolar, reescrevendo histórias e direcionando destinos.
Dentro dos últimos estudos sobre práticas leitoras, duas expressões ganham destaque:
educação literária e letramento literário. Essa última traz para à área da literatura um termo
emprestado da linguística: letramento, no qual o autor Rildo Cosson, no livro: Letramento
literário: teoria e prática, investe boa parte de suas pesquisas nas formas de mediar a leitura em
sala de aula. Nela ele afirma a necessidade dos professores serem leitores ativos para que se
consolide entres os estudantes a leitura formativa. O autor também cita que para que essa
mediação se dê da melhor maneira possível é necessário que: “permita que a leitura literária seja
exercida sem abandono do prazer, mas com o compromisso do conhecimento que todo saber
exige” (COSSON, 2006, p. 23).
Para subsidiar o trabalho dos professores, Cossan apresenta uma série de sequência nas
quais o texto literário possa ser trabalhado de forma a manter a integralidade de sua literariedade e
abrir espaço para o protagonismo do aluno como também para a mediação conciliadora e firme do
professor. No entanto, tudo o que está proposto pelo letramento é uma consequência da educação
literária e sem ela, boa parte do trabalho cai no automatismo burocrático de tarefas e na mera
informação.
Nossa relação com o mundo se dá por meio da palavra, o exercício da docência também se
constitui mediante essa relação dialética entre livros e leituras, estabelecendo a conexão necessária
entre o conhecimento e a prática pedagógica o que resulta no processo de formação leitora dos
estudantes e consequentemente no desenvolvimento do seus níveis de letramento em especial o
literário.
Ainda em relação a formação de professores cabe ressaltar que esta não se consolida
apenas na formação inicial, ou seja, na graduação, mas em um processo continuo de observação e
análise da sua trajetória docente, em momentos de estudos oportunizados no locus do trabalho –
escola, em cursos que o próprio docente recebe ou busca para se aperfeiçoar, na troca constante
como os colegas de trabalho, na escuta atenta das demandas dos estudantes e, sobretudo, na
escolha do seu repertório leitor.

OBJETIVOS
Geral: Compreender a formação e a prática literária dos professores do componente curricular
eletivo - Práticas de Letramento Literário com Ênfase em Literatura Local na rede estadual de
ensino de Santa Catarina.

Específicos:
- Caracterizar o perfil leitor do(s) professor(es) pesquisado(s).
- Identificar a concepção que o(s) professor(es) têm acerca do componente curricular eletivo.
- Conhecer como se deu a oferta e a escolha do componente - Prática de Letramento Literário com
Ênfase e Literatura Local, na escola.
- Conhecer as formas de planejamento e organização de estratégias de mediação de leitura
aplicadas pelo(s) professor(es) nas aulas de Prática de Letramento Literário com Ênfase e
Literatura Local.
- Identificar a relação teoria e prática do(s) professor(es) responsável(eis) pelo componente
curricular eletivo.

METODOLOGIA
O estudo se situa na perspectiva da pesquisa qualitativa. De acordo com Silva e Menezes
(2000, p. 20), a pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do indivíduo que
não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados
são centrais no processo qualitativo.
Após a submissão dos documentos da pesquisa ao Comitê de Ética envolvendo Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, se parte para a aplicação de questionário aos
professores, participantes da pesquisa. A análise das informações coletadas, se dará por meio de
procedimentos da análise de conteúdo (BARDIN, 2011).
Em relação às técnicas de investigação, o questionário com professores da Rede Estadual
de Ensino, responsáveis pelo Componente Curricular Eletivo Práticas de Letramento Literário
com Ênfase em Literatura Local que atuam nas escolas da rede estadual que ofertarão o referido
Componente Curricular Eletivo durante a coleta de dados. De acordo com Gil (1999), o
questionário pode ser definido como a técnica de investigação “composta por um número mais ou
menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento
de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.” (p. 128).
Segundo o autor, a aplicação de questionários enquanto técnica de coleta de dados
apresenta as seguintes vantagens:
a) possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas
numa área geográfica muito extensa, já que o questionário pode ser enviado pelo
correio; b) implica menores gastos com pessoal, posto que o questionário não
exige o treinamento dos pesquisadores; c) garante o anonimato das respostas; d)
permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais
conveniente; (GIL, 1999, p. 128-129).

As questões serão elaboradas com o objetivo de obter informações gerais sobre o perfil
dos participantes da pesquisa, sua formação acadêmica, experiência e tempo de atuação
profissional e aspectos específicos relacionados à concepção do Componente Curricular, sua
formação literária, suas práticas como mediadores de leitura. Em síntese, o questionário elaborado
para o levantamento de informações junto aos professores será estruturado em base às questões
relativas à identificação do professor (formação e atuação profissional) e sobre suas concepções
acerca de suas práticas referentes ao Componente Curricular Eletivo Práticas de Letramento
Literário com Ênfase em Literatura Local, entre outras questões acerca dos objetivos deste estudo.

CRONOGRAMA

AÇOES 2023/II 2024/I 2024/II 2025/I

Disciplinas obrigatórias x
e optativas - créditos x

Seminários x x
Participação em grupo
de pesquisa da linha x x x x
Revisão da literatura x x x

Elaboração de x
instrumentos
Submissão do projeto
ao Comitê de Ética x
(CEP)
Coleta piloto x

Qualificação x

Questionário/entrevista x

Análise dos x x
dados/informações
produzidas
Defesa x

Referências:

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal,


Coordenação de Edições Técnicas, 2016.

. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 20 jun. 2019.

CASAGRANDE, A. L.; K. M.; SILVA, D. G. Base nacional comum curricular e Ensino Médio:
reflexões à luz da conjuntura contemporânea Rev. Diálogo Educ Curitiba, v. 19 n.60 p. 407-425,
jan.mar. 2019.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

RODRIGUES, Carlos Brandão. O que é educação 6ª. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Base do Ensino Médio


Território Catarinense, Florianópolis, 2021.
SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis:
PPGEP/LED, 2000.

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