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Universidade Estadual do Maranhão-UEMA

Núcleo de Tecnologias para Educação - uemanet


Curso de Especialização em Literatura e Ensino
Disciplina: Literatura e ensino: diretrizes curriculares

Vilmária Neves da Silva


Profª Dra. Ana Patrícia Sá Martins
Tutor: Prof° Me.Caio da Silva Carvalho

Currículo e práticas pedagógicas no ensino de Literatura

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter


normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica (BRASIL, 2017). Logo, tal definição possui
finalidades diferentes do currículo em si, pois são documentos com objetivos e
construções distintos.

A base constitui-se de orientações quanto aos referenciais curriculares e


dos projetos políticos-pedagógicos estabelecendo as competências e
habilidades que serão desenvolvidas pelos discentes ao longo da vida escolar.
Enquanto o currículo em si se torna o caminho a ser percorrido para
desenvolver as habilidades e competências contidas na BNCC atentando-se às
suas peculiaridades. “De maneira simples, é possível afirmar que a Base
Nacional Comum Curricular – BNCC indica o ponto aonde se quer chegar. O
currículo traça o caminho até lá (BNCC, 2017).

Dessa forma ela pretende unificar os conteúdos básicos com foco na

equidade sem deixar de lado as singularidades culturais e identitárias de cada

região do país. A relação entre o que é básico-comum e o que é diverso, o

Artigo 26 da LDB, determina que:


Os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em
cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (BRASIL, 1996).

Mas nas práticas pedagógicas atuais, tais competências e habilidades


vêm sendo desenvolvidas nos discentes da educação básica no que se refere
ao ensino da Literatura? E a construção dos currículos, obedece às orientações
das diretrizes curriculares?

É sabido que o currículo não deve ser algo fixo e engessado, mas
flexível e adaptável ao contexto de ensino. Por isso é preciso não somente
conhecer os temas/assuntos referentes ao currículo das áreas de atuação,
assim como também compreender os sentidos/significados expressos por sua
orientação curricular.

No que tange à compreensão da literatura, Candido ( )define-a da


maneira mais ampla possível, “[...] todas as criações de toque poético, ficcional
ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos e
cultura, desde o que chamamos de folclore, lenda, chiste, até as formas mais
complexas e difíceis de produção escrita das grandes civilizações”.

E complementa ainda a reflexão de como a literatura faz parte de cada


um de nós, analfabeto ou erudito:

Como anedota, causo história em quadrinhos, noticiário policial, canção


popular, moda de viola, samba carnavalesco. Ela se manifesta desde o
devaneio amoroso ou econômico no ônibus até a atenção fixada na
novela de televisão ou na leitura seguida de um romance. (Candido)

Nesse âmbito, o docente possui um papel bem mais amplo do que


apenas apegar-se às regras e conceitos sobre conteúdos listados, cabe a este
estabelecer relações entre o conhecimento sistematizado e o contexto social
em que estão inseridos para que os discentes possam realmente atuar
criticamente na sociedade e assim, ajudar a transformá-la.
Para nortear o ensino de Língua e Literatura em nível nacional para
nivelamento das práticas docentes, alguns documentos já foram publicados
como: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCNEM (2000),
Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCN (1997), Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio – OCEM, (2017) entre outros, que destacam o caráter instrutivo no
tocante à língua e humanizado em relação à Literatura. Mas os precários
resultados alcançados com a LDB, PCNs e as OCEM relacionados à formação
leitora nos ensinos fundamental e médio exigiram a inserção de novas
discussões e pontos a serem analisados no âmbito educacional brasileiro
(Pereira, 2002). Assim, vinculados á conteúdos metodológicos e estratégias
didáticas, surge a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, em 2017.

De acordo com Pereira, ( 2002, p. ) “A LDBs, os PCNS, as OCEMs e a


BNCC foram instrumentos normativos essenciais para estruturar um arcabouço
legal sobre as formas de funcionamento da educação no país, inclusive no que
tange ao ensino de literatura”.

Diante de tantas diretrizes, tantas recomendações e orientações quanto


ao ensino de literatura, porque ainda se enquadram como insuficientes a
aplicação de padrões, estratégias utilizadas em sala de aula? É importante
ressaltar que os tempos mudam, as pessoas evoluem, os currículos e
metodologias também precisam mudar, visto que também é necessário
acompanhar os avanços tecnológicos também.

É preciso aliar as práticas pedagógicas ao contexto e ambiente em que


os discentes estão inseridos para que assim possa-se alcançá-los e inserir
novas formas de aprendizagem e gosto por aquilo que estão desenvolvendo e
ainda precisam desenvolver.

Compreende-se que a BNCC traz um embasamento tecnológico mais


enfático que outros documentos oficiais no que diz respeito ao ensino das
linguagens, pois institui como uma das dez competências gerais, a Cultura
Digital, que é proposta como uma necessidade na formação integral do
indivíduo, permitindo-o interagir socialmente em diferentes situações e
contextos em que estiver inserido.
Link para as competências da bncc

Nesse sentido as práticas tecnológicas de leituras de textos literários


aproximam os estudantes dos recursos tecnológicos da realidade virtual,
instigando-os a compartilhar críticas e impressões pessoais com os demais
colegas. Isso contribui para trazer o aluno para o universo da literatura de
forma atrativa, pois a BNCC, destaca que:

Para que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – possa


dar lugar à sua dimensão humanizadora, transformadora e
mobilizadora, é preciso supor – e, portanto, garantir a formação de –
um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar
na leitura dos textos, de “desvendar” suas múltiplas camadas de
sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura.
(BNCC, Linguagens, Língua Portuguesa, Ensino Fundamental, p 138).

É inegável que as práticas docentes inadequadas e muitas vezes


equivocadas se resumem em um ensino defasado e que distancia cada vez
mais o discente do texto literário e da compreensão de que é uma disciplina
formativa que mobiliza diversas experiências práticas e vitais no seu
desenvolvimento. Certas metodologias didáticas utilizam o texto como pretexto
para ensinar outras questões que não são específicas das narrativas literárias
em si.

Muitas críticas são direcionadas às diretrizes curriculares, inclusive à


BNCC, por acreditarem que ela possui falhas que dificultam ainda mais o
acesso à literatura de forma integral em sala de aula. Mas é pertinente salientar
que falta aos docentes buscar a melhor forma de aliar as orientações
direcionadas aos currículos ao contexto de suas salas de aulas visando a
formação integral do discente sem preocupar-se em apenas preencher fichas,
elaborar resumos, fazer provas avaliativas sem se ater ao cuidado com a
palavra em estado de arte com suas inúmeras significações. Dessa forma,
acaba-se por perder a oportunidade de despertar no aluno a arte da palavra, a
fruição do texto, o mistério e os sentidos que podem ser construídos.

As conseqüências das precárias práticas pedagógicas em relação ao


ensino da literatura, fazem com que os discentes passam a enxergá-la como
uma mera disciplina escolar onde, de acordo com Silva et al ( ) “apenas
aprendam sobre estilos de época, data e a biografia de autores consagrados
pelo cânone”. Os discentes não lêem as obras integralmente, apenas trechos,
fragmentos, o que dificulta o entendimento e até a receptividade do que lêem
com a devida autonomia.

Por isso, como uma forma de inovar ou até mesmo reformular as


práticas de ensino da literatura, é imprescindível buscar novos formatos
metodológicos e lançar mão de configurações de ensino que estão ao nosso
alcance e ao alcance do aluno:

Precisamos reconhecer que as tecnologias e as mídias digitais


trouxeram novas configurações de leitura, de se consumir o texto
literário. A literatura agora é apresentada por meio de diferentes
linguagens e gêneros, tendo como suportes dispositivos eletrônicos.
Sendo assim, devemos tirar proveito dessa intrínseca relação da
literatura com a cultura digital e oportunizar aos alunos configurações
de ensino e aprendizado mais arrojadas e flexíveis, permitindo que a
leitura literária ocorra em quaisquer espaços e contextos nos quais eles
se encontrem. P. 20

Diante do que foi exposto, torna-se fundamental uma investigação prévia sobre
a realidade da escola, do aluno para que o professor /escola possa alinhar
currículo e ensino, pois sabe - se que nem tudo que é prescrito para uma
determinada realidade serve para outra com características distintas. No
entanto, é possível realizar adaptações e adequações a cada contexto,
conhecendo a disponibilidade dos educandos para inserir formas de estudo
que possibilitem-nos desenvolver competências e habilidades também no
sentido de promover desenvolvimento cognitivo, crítico, afetivo e social dentro
do ensino da literatura apresentando-os a diversidade de culturas e linguagens
que constituem a sociedade atual.

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