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Era uma vez um gajo chamado Carlos, que vivia numa casa tão grande que levava p’raí umas
vinte páginas a dizer como é que era. Quem gosta de imobiliário, tem aqui um petisco, porque
aquilo tem assoalhadas grandes e boas e, pronto, mas p’ra mim não serve, que eu imóveis só
com a fotografia, que às vezes um gajo é artista a escrever e depois uma pessoa vai a ver a casa
e não tem nada a ver com o que imaginou.
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher
fugiu com um italiano e levou a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido,
porque o que não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e torna-se
um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir
para a cama os dois e andam aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta
casa e agora naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça
é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras que dá-lhe só mais
duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para espairecer, e acaba tudo em bem
porque, ao menos, não tiveram filhos. Porque se tivessem eram, de certeza, meio tantans,
babavam-se, como o meu primo Zé Luís, que os pais também eram parentes.
ENSINAMENTOS DA OBRA
1 – Tu nunca sabes o que é que os teus pais andaram a fazer, porque eles, em princípio,
nasceram primeiro do que tu, de maneiras que, quando conheces uma gaja o melhor é dizer: “Oh
menina, o seu passaporte se faz favor, nunca fiando, que eu gosto de fazer tudo certinho!”
2 – Outra coisa que o Eça de Queirós ensina é que às vezes mais vale um gajo ser cão, porque
eu tive um cão, que era o Patusco e o gajo não respeitava nada, nem ninguém, era irmãs, era a
mãe, era tudo a eito e não era nada com ele.
2. Duas das linhas de pensamento de Eça, e que se notam neste romance, são
a) a corrupção e o poder do dinheiro.
b) as mulheres e a natureza.
c) a educação e o anticlericalismo.
9. O subtítulo de Os Maias é
a) “Episódios da vida lisboeta”.
b) “Episódios da vida romântica”.
c) “Episódios da alta sociedade”.
10. O que Eça pretende, com este romance, não é falar de uma família mas
a) introduzir em Portugal novas correntes literárias.
b) comparar a vida da sociedade lisbonense à parisiense.
c) satirizar e criticar o Portugal ainda muito ligado à corrente romântica .
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11. Eça pertenceu à chamada “Geração de 70”, que era um grupo de jovens intelectuais que
a) reagiu contra a debilidade romântica e o atraso cultural do país.
b) se insurgiu contra o poder da Igreja nos assuntos do Estado.
c) pretendia reformular o ensino nas universidades.
12. No final do século XIX, Lisboa era uma cidade cosmopolita que
a) procurava ser diferente e original no contexto europeu.
b) apreciava os cânones londrinos.
c) imitava e sonhava com os horizontes de Paris.
16. A casa onde se dão os encontros amororos entre Carlos e Maria Eduarda chama-se
a) a Toca.
b) o Refúgio.
c) o Abrigo.
18. Carlos fica a saber que é irmão de Maria Eduarda através de Ega que, por sua vez,
a) descobriu o segredo ao ler uma carta em casa de Craft.
b) tomou conhecimento disso pelo Sr. Guimarães, conhecido de Maria Monforte, mãe de Carlos.
c) tinha investigado, na Conservatória, o registo de nascimento de Maria Eduarda.
1 A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na
vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela
casa do Ramalhete ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda
campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas
5 varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à
beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de Residência Eclesiástica que competia a uma
edificação do reinado da Sr.ª D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo assimilar-
se-ia a um Colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha de certo dum revestimento
quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca
chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita
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onde se distinguiam letras e números duma data.
[…]
Este inútil pardieiro (como lhe chamava Vilaça Júnior, agora por morte de seu pai
administrador dos Maias) só veio a servir, nos fins de 1870, para lá se arrecadarem as
mobílias e as louças provenientes do palacete de família em Benfica, morada quase
15 histórica, que, depois de andar anos em praça, fora então comprada por um comendador
brasileiro. Nessa ocasião vendera-se outra propriedade dos Maias, a Tojeira; e algumas
raras pessoas que em Lisboa ainda se lembravam dos Maias, e sabiam que desde a
Regeneração eles viviam retirados na sua quinta de Santa Olávia, nas margens do Douro,
tinham perguntado a Vilaça se essa gente estava atrapalhada.
20 - Ainda têm um pedaço de pão, disse Vilaça sorrindo, e a manteiga para lhe barrar por
cima.
Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem linhas
colaterais, sem parentelas - e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da
Maia, um velho já, quase um antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que
25 estudava medicina em Coimbra. Quando Afonso se retirara definitivamente para Santa
Olávia, o rendimento da casa excedia já cinquenta mil cruzados: mas desde então tinham-se
acumulado as economias de vinte anos de aldeia; viera também a herança dum último
parente, Sebastião da Maia, que desde 1830 vivia em Nápoles, só, ocupando-se de
numismática; - e o procurador podia certamente sorrir com segurança quando falava dos
Maias e da sua fatia de pão.
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A venda da Tojeira fora realmente aconselhada por Vilaça: mas nunca ele aprovara que
Afonso se desfizesse de Benfica - só pela razão daqueles muros terem visto tantos desgostos
domésticos. Isso, como dizia Vilaça, acontecia a todos os muros. O resultado era que os
Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam agora uma casa em Lisboa; e se Afonso
naquela idade amava o sossego de Santa Olávia, seu neto, rapaz de gosto e de luxo que
35 passava as férias em Paris e Londres, não quereria, depois de formado, ir sepultar-se nos
penhascos do Douro. E com efeito, meses antes de ele deixar Coimbra, Afonso assombrou
Vilaça anunciando-lhe que decidira vir habitar o Ramalhete! O procurador compôs logo um
relatório a enumerar os inconvenientes do casarão: o maior era necessitar tantas obras e
tantas despesas; depois, a falta dum jardim devia ser muito sensível a quem saía dos
40 arvoredos de Santa Olávia; e por fim aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram
sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete, «ainda que (acrescentava ele numa frase
meditada) até me envergonho de mencionar tais frioleiras neste século de Voltaire, Guisot e
outros filósofos liberais...»
QUEIRÓS, Eça de, Os Maias, cap. I.
3. No enunciado “e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado” (l. 5)
estamos perante
a) uma metáfora.
b) uma enumeração.
c) uma hipérbole.
d) uma personificação.
6. O constituinte sublinhado em “depois de andar anos em praça, fora então comprada por
um comendador brasileiro.” (ll. 14-15) desempenha a função sintática de
a) complemento direto.
b) complemento agente da passiva.
c) complemento indireto.
7. Na frase “Ainda têm um pedaço de pão, disse Vilaça sorrindo, e a manteiga para lhe barrar
por cima.” (l. 20) estamos perante um ato ilocutório
a) diretivo.
b) compromissivo.
c) assertivo.
d) declarativo.
8. O constituinte sublinhado em “Os Maias eram uma antiga família da beira” (l. 21)
desempenha a função sintática de
a) complemento direto.
b) predicativo do sujeito.
c) complemento indireto.
9. “Filatelia” está para “selos” como “numismática” (l. 27) está para
a) “moedas”.
b) “cristais”.
c) “pedras preciosas”.
d) “objetos em ouro”.
11. As aspas usadas nas últimas linhas do texto têm como função a apresentação
a) de uma ironia no texto.
b) de discurso direto.
c) de discurso indireto livre.
d) de um diálogo.