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GRUPO I
Lê com atenção o texto A. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado a
seguir ao texto.
PARTE A
MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
Em 1956, a revista Elle elegeu-a francesa do ano. Vivia há algum tempo em França,
todavia não aceita a distinção, fazendo lembrar que é portuguesa. Mas nesse mesmo ano
optaria pela nacionalidade do país que a acolhera.
Se não tivesse trocado Lisboa por Paris, em 1928, talvez não alcançasse a projeção
5 internacional que alcançou. A jovem pintora tinha consciência de que, se ficasse em Portugal,
onde já governava uma ditadura militar com indícios de querer isolar-se do mundo, seria
apenas mais uma dona de casa prendada a quem os homens elogiariam a arte sem lhe
darem importância. Nos tempos seguintes, a situação não tenderá a melhorar, o regime
salazarista limita a mulher ao lar e quer controlar os artistas.
10 Maria Helena já antes vivera fora: nascera em Lisboa, no dia 11 de junho de 1908, meses
após o regicídio, mas, com dois anos de idade, despontava a República, foi com os pais para
a Suíça. Marcos Vieira da Silva, cuja família fizera fortuna no Brasil, concluiu o curso de letras
em Portugal, o de contabilidade portuária em Inglaterra e um outro do Ministério de Negócios
Estrangeiros português, decidido como estava a optar pela carreira diplomática. Mas não é
15 essa a razão que os levou a partir para o estrangeiro; o pai sofre de tuberculose, e os ares e
os bons sanatórios constituem uma promessa de vida.
Enquanto criança, Maria Helena nunca conheceu outras crianças. Ela própria recordará,
em entrevistas, a solidão da infância, a ausência de amizades, a imensidão do palacete do
avô materno. Na enorme casa onde se perdia em pequena, vivia rodeada de adultos, embora
20 ainda novos, e ouvia-os a divertirem-se, ouvia-os conversar… ouvia-os. Até fazer vinte anos e
emigrar com a mãe para França, foi ali que teve aulas, como sucedia com as meninas das
classes privilegiadas. No lar, aprendeu o português, o francês e o inglês, além do desenho e
da pintura com os professores Emília Santos Braga e Armando de Lucena. Também teve
lições de piano, mas deixou de tocar ao perceber que não possuía talento para ir tão longe
25 como acreditava que iria com os pincéis.
Ao que parece, o seu avô Silva Graça não seria para brincadeiras, mas foi quem a mandou
trazer para casa de Lisboa, a ela e à mãe, quando ficou órfã de pai aos três anos. Com esse
propósito, enviara à Suíça, a Leysin (onde viviam os Vieira da Silva), o seu colaborador
António Lobo de Almada Negreiros.
2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1. a 2.4.), a opção que permite obter a
afirmação adequada ao sentido do texto.
Escreve o número do item e a letra correspondente a cada opção que escolheres.
2.1. O segundo parágrafo do texto mostra-nos claramente que
(A) Portugal, naquela altura, era um país que ia dando sinais de se fechar ao
exterior.
(B) Vieira da Silva não tinha verdadeira noção do que se passava no seu país.
(C) a opção de Vieira da Silva se revelou desnecessária face ao que se passou,
depois, no país.
(D) Vieira da Silva se tornou conhecida internacionalmente devido à sua
oposição à ditadura militar.
2.2. Quando, em 1928, Maria Helena Vieira da Silva foi para Paris, as mulheres
portuguesas
(A) destacavam-se pela sua independência e autonomia.
(B) eram socialmente desvalorizadas.
(C) dedicavam-se sobretudo às artes.
(D) eram valorizadas pela sua capacidade para exercer múltiplas atividades.
2.3. Maria Helena Vieira da Silva deixou Portugal pela primeira vez devido
(A) à doença do pai.
(B) à profissão do pai.
(C) à sua vontade de prosseguir estudos no estrangeiro.
(D) a ter perdido o pai.
2.4. A repetição no excerto “vivia rodeada de adultos, embora ainda novos, e
ouvia-os a divertirem-se, ouvia-os conversar… ouvia-os.” (linhas 19-20)
contribui para realçar
(A) a atenção de Vieira da Silva face ao que se passava à sua volta.
(B) a frequência com que os adultos falavam para Vieira da Silva.
(C) a ausência de pessoas em casa onde vivia Vieira da Silva.
(D) o distanciamento que existia entre Vieira da Silva e as pessoas que
frequentavam a casa onde vivia.
A nossa escrita na aula resumia-se a pouca coisa. Só que um dia haveria de chegar o
momento da redação fatal - «O que serei quando for grande». Eu era o número vinte e
seis da turma D e ficava ao fundo no lado da porta. Senti nesse princípio de aula o
coração bater descompassado pensando que ia nesse momento estabelecer uma ponte
com alguém, meu ouvinte e conselheiro, meu amigo, e comecei - «Quando eu for grande
5
quero ser como Sapho». Parei, ouvi os tacões da professora a andar sala abaixo, ela deu
a volta por trás, olhando à direita, à esquerda, e veio até mim. Perdi a vista. A professora
deveria ir dizer: «Muito bem, continua», estimulando-me, sem dúvida. Mas isso não
aconteceu. Continuou em silêncio e leu em voz alta: «Quando eu for grande quero ser
como sapo…». Puxou-me levemente pela trança esquerda. «Sapho? Mas que ideia é
10 essa?» Todas as companheiras suspenderam as escritas e puseram os olhos em mim.
Dirigiu-se então a professora ao estrado explicando pausadamente que não se tratava
duma fábula em que os animais falassem. Que prestassem atenção. Senti-me nesse
momento infinitamente menor e maior do que a professora, quis falar e não consegui.
Parada, de caneta na mão. A hora ia avançando e era preciso riscar essa primeira linha.
Risquei e substituí: «Quando for grande quero ser professora».
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Passaram quatro anos de tentativas. Fiz letras para canções, versos por encomenda
para colegas apaixonados, alexandrinos para as Comemorações Henriquinas, sonetos
sobre a casa que estava longe, e, como amava a música sem a poder produzir, fiz
poemas sobre o acordeão e o violino. Do lado de cá, selvagemente, sem intervenção de
ninguém. Foi preciso ter quinze anos e ser aluna do professor Joaquim Magalhães para
20 que alguém viesse junto da minha carteira, contente com a descoberta. A ele devo ter
ouvido grandes aulas de poesia viva, devo a indicação das leituras corretas, devo-lhe
sobretudo um grande entendimento e muito mais. Foi ele quem me atiçou a chama
silenciosa com que atravessei os longos anos de embate com a vida. É por isso que sei
agora que a predestinação não existe – existe a destinação que nós mesmo tecemos e os
encontros felizes que vão surgindo.
Lídia Jorge, in Palavras, Revista da Associação de Professores de Português (n.ºs 4/5/6), 1983
VOCABULÁRIO:
▪ Sapho de Lesbos (linha 6) – célebre poetisa grega do séc. VI a.C.
▪ alexandrinos (linha 20) – versos de doze sílabas métricas.
6. Um aluno, depois de ler o texto, concluiu que a autora quis mostrar que o
destino de cada indivíduo está determinado desde que nasce.
Mostra que a interpretação do aluno não foi a mais adequada, considerando as
afirmações da autora.
Regresso
GRUPO II
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
2. Lê a frase seguinte.
Alguns alunos, no final da aula, ainda não tinham escrito os textos.
4. Os segmentos (A), (B), (C), (D), (E) e (F) constituem partes de um texto e
encontram-se desordenados.
Reconstrói o texto, escrevendo a sequência de letras que corresponde à ordem
correta.
Inicia a sequência pela letra (C).
(A)
Não é caso para desesperar.
(B)
Começamos por apresentar os programas mais mexidos. Se o desporto é a praia do
seu filho, então não lhe faltam alternativas.
(C)
Todos os anos o mesmo cenário, todos os anos o mesmo drama: com o mês de julho
chegam as férias dos miúdos e com as férias deles chegam as primeiras dores de
cabeça.
(D)
Até sexta, o Estrela Vigorosa promove férias desportivas: há ginástica, modalidades
coletivas, cursos intensivos de ténis e xadrez.
(E)
Onde deixá-los no tempo que era habitualmente preenchido pela escola?
(F)
Soluções não faltam, na verdade, e tudo depende dos gostos deles – e de quanto pode
tirar do orçamento mensal, naturalmente.
GRUPO III
Fonte: Prepara-te! Língua Portuguesa 9, Vila Nova de Gaia, Editora Educação Nacional, 2012
Calçada da Tapada, 152 1349-048 Lisboa
(t) 213 616 480 (f) 213 633 172 (@) farruda@mail.telepac.pt
http://www.eps-francisco-arruda.rcts.pt
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