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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Engenharia
Curso de Engenharia Civil

Gabriel de Almeida Alves Vieira

A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS SOB A ÓPTICA DA


COMERCIALIZAÇÃO:
Um Estudo Sobre a Companhia Vale S.A.

Belo Horizonte
2022

i
A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS SOB A ÓPTICA DA
COMERCIALIZAÇÃO:
Um Estudo Sobre a Companhia Vale S.A.

Versão Final

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Engenharia Civil da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito para o
grau de Engenheiro Civil.

Orientador(a): Profa. Dra. Liséte Celina Lange

Belo Horizonte
2022

ii
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Mary e Humberto, pelo apoio a todo momento, sob qualquer circunstância.

À minha irmã, Ana Luísa, pela cumplicidade e amor.

À minha namorada, Fabiane, por me incentivar e acreditar que seria possível.

À minha orientadora Liséte Celina Lange, pela orientação durante este trabalho.

Aos meus amigos, pela compreensão e por deixarem essa trajetória mais alegre.

Aos meus colegas de trabalho, pela paciência e pelos ensinamentos.

A todas as pessoas que de alguma forma estiveram em meu caminho nesta empreitada e
puderam acompanhar todo o processo.

iii
RESUMO

A degradação ambiental mostra-se vinculada ao desenvolvimento econômico mundial e não


difere no Brasil. Assim, são necessárias medidas que proponham um desenvolvimento
sustentável, reduzindo a extração de recursos naturais e gerindo corretamente a destinação dos
resíduos gerados pela humanidade. Empresas de grande porte, como a Vale S.A., tem impacto
direto sobre o ambiente em que atuam, e por isso, devem buscar alternativas sustentáveis que
preservem a qualidade da vida futura, mas também atendam sua necessidade atual.

Assim sendo, este trabalho busca avaliar o método de gerenciamento de resíduos sólidos da
Vale S.A. com ênfase na comercialização destes, detalhando os tipos de resíduos gerados pela
atividade produtiva da empresa, apresentando processos e estratégias utilizados para a
destinação destes resíduos, bem como o impacto que a destinação dos resíduos causa nas
comunidades localizadas em áreas de atuação da empresa. Para tanto, foram analisados os dados
fornecidos pela empresa, para explorar, de forma detalhada e crítica, este processo, suas
tecnologias e visão de mercado.

Além disso, foi avaliada a possibilidade de comercialização de resíduos em outros ambientes e


por empresas de menor porte, através da ferramenta bolsa de resíduos, que são plataformas
governamentais e empresariais desenvolvidas para fomentar a negociação de produtos ociosos
por empresas que desejam comprá-los, vendê-los ou doá-los.

Deste modo, os principais pontos observados após a avaliação do gerenciamento de resíduos da


empresa, constataram que a comercialização de produtos ociosos apresenta diversas vantagens
econômicas, socias e, principalmente, ambientais quando feita da maneira correta. Percebe-se
que os principais resíduos gerados pela empresa, como a sucata ferrosa, sucata de aço, sucata
de madeira e ativos sem utilidade futura, representam cerca de 78% de todo o volume destinado
e possuem um mercado amplo e ativo, enquanto materiais como óleo lubrificante usado
apresentam maior dificuldade em sua comercialização. Em contrapartida, a comercialização
através das bolsas de resíduos estaduais, apesar de apresentarem vantagens para as poucas
empresas participantes, é possível identificar necessidades de melhorias no processo para
atingir um resultado satisfatório.

iv
ABSTRACT

Environmental degradation is linked to world economic development and its is not different in
Brazil. Thus, measures are needed for proposing sustainable development, reducing the
extraction of natural resources and correctly managing the disposal of waste generated by
humanity. Large companies, such as Vale S.A., have a direct impact on the environment in
which they operate, and therefore must seek sustainable alternatives that preserve the quality of
future life, but also meet their current needs.

Therefore, this work seeks to evaluate the solid waste management method of Vale S.A. through
its sale, to detail the types of waste generated by the company's productive activity, to present
processes and strategies used for the disposal of this waste, as well as the impact that the
disposal of waste causes in communities located in areas where the company operates. For this
reason, an analysis was carried out with data provided by the company, to explore, in a detailed
and critical way, this process, its technologies and market vision.

In addition, the possibility of selling waste in other environments and by smaller companies
was evaluated, through the tools of waste exchanges, which are government platforms
developed to encourage the negotiation of idle products by companies that want to buy them,
sell them. them or donate them.

Thus, the main points noted after the evaluation of waste management at Vale S.A. found that
the sale of idle products has several economic, social and, above all, environmental advantages
when done correctly. It is noticed that the main waste generated by the company, such as ferrous
scrap, steel scrap, wood scrap and assets with no future use, represent about 78% of the entire
destined volume and have a broad and active market, while materials such as used lubricating
oil are more difficult to sell. On the other hand, marketing through waste exchanges systems,
despite having advantages for the few participating companies, it is possible to identify needs
for improvements in the process to achieve a satisfactory result.

v
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................. VII


LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................... VIII
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ............................................................................. IX
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................11
2 OBJETIVOS.........................................................................................................................................12
2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................................................12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................................................................12
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................................13
3.1 RELAÇÃO ENTRE RESÍDUOS SÓLIDOS E MEIO AMBIENTE ..................................................................13
3.1.1 Resíduos Sólidos Industriais e De Mineração..........................................................................15
3.1.2 Desenvolvimento Sustentável ..................................................................................................16
3.1.3 Logística Reversa ...................................................................................................................18
4 METODOLOGIA ................................................................................................................................20
5 ESTUDO DE CASO .............................................................................................................................20
5.1 VALE S.A. .......................................................................................................................................20
5.2 RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS PELA VALE S.A. .................................................................................21
5.2.1 Caracterização por Tipo de Material ......................................................................................25
5.2.2 Avaliação da Geração em Volume ..........................................................................................26
5.2.3 Avaliação das Geração por Localidade ..................................................................................28
5.2.4 Principal Destinação de Cada Resíduo ...................................................................................30
5.3 CASO DE VENDA DE SUCATA DE AÇO E TRILHOS FERROVIÁRIOS .......................................................31
5.3.1 Sucatas de Aço .......................................................................................................................31
5.3.2 Sucata de Trilho .....................................................................................................................32
5.4 CASO DE VENDA DE MADEIRA .........................................................................................................33
5.4.1 Sucatas de Madeira ................................................................................................................34
5.4.2 Lenhas de Árvore e Dormentes de Madeira .............................................................................35
5.5 LEILÃO DE ATIVOS ..........................................................................................................................36
5.5.1 Classificação dos Resíduos .....................................................................................................36
5.5.2 Processo de Destinação ..........................................................................................................38
5.6 BOLSAS DE RESÍDUOS ......................................................................................................................42
5.6.1 Bolsa de Resíduos de Minas Gerais ........................................................................................44
5.6.2 Bolsa de Resíduos de Santa Catarina ......................................................................................46
5.6.3 Bolsa de Resíduos do Rio de Janeiro.......................................................................................47
5.6.4 Bolsa de Resíduos de Goiás ....................................................................................................49
6 PROPOSIÇÕES ...................................................................................................................................50
6.1 FUNÇÃO DO ESTADO NO FOMENTO À COMERCIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..............................50
6.2 INTEGRAÇÃO DE E MPRESAS PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS................................50
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................................................51
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................53

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Geração de RSU no Brasil (T/ano e kg/hab/ano)................................................................14


Figura 2 - Estimativas das Emissões de Origem Antrópicas de CO2 por Setor de Emissão - 1990/2005
.........................................................................................................................................................17
Figura 3 - Atuação da Logística Reversa e Alguns Canais .................................................................18
Figura 4 - Exemplos de Logística Reversa Aplicada a Resíduos da Vale S.A .....................................19
Figura 5 - Disposição e Destinação Resíduos da Vale em 2021..........................................................21
Figura 6 - Porcentagem de Destinação Sustentável Atingido por Grandes Empresas em 2019 ............22
Figura 7 - CMD de Canaã dos Carajás - Vale S.A. ............................................................................23
Figura 8 - Representatividade da Receita de Resíduos Destinados Internamente do Estado Gerador ...24
Figura 9 - Volume dos Resíduos Destinados pela Vale S.A em 2021 .................................................26
Figura 10 - Representatividade por Estado no Volume Total de Resíduos Destinado pela Vale ..........28
Figura 11 - Representatividade do Volume de Resíduos Destinados Internamente do Estado Gerador 29
Figura 12 - Fluxograma de Destinação dos Resíduos Sólidos.............................................................30
Figura 13 - Sucatas de Madeira Destinadas à CoopVila .....................................................................35
Figura 14 - Fluxo Simplificado da Destinação Sustentável de Lenhas e Dormentes............................36
Figura 15 - Fluxo Simplificado do Processo de Leilão da Vale S.A....................................................39
Figura 16 - Lotes por Categoria Vendidos no Leilão de Ativos da Vale S.A. em 2021 .......................40
Figura 17 - Fluxograma Simplificado Bolsa de Resíduos ...................................................................43
Figura 18 - Número de Novas Empresas Cadastradas no SIBR em 2013 por Estado ..........................45
Figura 19 - Plataforma da Bolsa de Resíduos do Sistema FIESC .......................................................47
Figura 20 - Página do Conecta Recursos - FIRJAN ...........................................................................48

vii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Disposição Final de RSU no Brasil e Regiões (T/ano e %) ................................................14


Tabela 2 - Geração de Resíduos Industriais de 2013 a 2016 no Brasil ................................................15
Tabela 3 - Principais Resíduos de Mineração Identificados de 2013 a 2016 .......................................16
Tabela 4 - Representatividade do Volume de Resíduos Destinados pela Vale S.A. em 2021 ..............25
Tabela 5 - Representatividade da Receita de Resíduos Destinados pela Vale S.A. em 2021................27
Tabela 6 - Representatividade da Quantidade de Ativos Destinados pela Vale S.A. em 2021 .............38
Tabela 7 - Total de Lotes Vendidos no Leilão de Ativos em 2021......................................................39

viii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

FIEG Federação das Indústrias do Estado de Goiás

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FIESC Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina

FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

PNM Plano Nacional de Mineração

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RSU Resíduo Sólido Urbano

ix
x
1 INTRODUÇÃO

A sustentabilidade mundial é um tema imensamente discutido e, todas as ações, realizadas


desde as pequenas comunidades a grandes empresas, tem impacto direto no meio onde estão
inseridas. O descarte inadequado de resíduos sólidos gera consequências ambientais intensas, e
até mesmo irreversíveis, como contaminação do solo e aquíferos, aumento do efeito estufa e
também afetam o bem-estar da população.

As empresas que realizam atividades mineradoras e relacionadas geram uma grande gama de
resíduos e enormes volumes. Tendo em vista a produção de resíduos não-minerais pela Vale
S.A. no Brasil, o volume correspondeu, em 2021, a 537 mil toneladas (VALE, 2021), sendo de
suma importância a correta destinação dos mesmos.

O Plano Nacional de Mineração (PNM) 2030 (Brasil, 2011) tem como objetivo determinar as
diretrizes para a exploração e utilização dos bens minerais do país, visto que esses são base de
importantes cadeias produtivas e fomentam o desenvolvimento do país. Em contrapartida, todo
aproveitamento do material, bem como as atividades de extração e beneficiamento, deve ser
feito à base da sustentabilidade, considerando as necessidades ambientais, sociais e econômicas
atuais e futuras (CORRÊA et al, 2012).

É definido pela Lei nº 12.305/2021 (BRASIL, 2010) que resíduo sólido é todo “material,
substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja
destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados
sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível”.

Portanto, os resíduos sólidos avaliados neste trabalho podem ser considerados subprodutos, pois
são insumos para outras áreas, ou até mesmo matérias primas, possuindo valor comercial de
acordo com suas condições e interessados. Assim, o enfoque deste trabalho será a utilização da
logística reversa e a destinação via venda, na qual é buscada no mercado uma proponente
interessada na utilização desse resíduo de forma sustentável.

A comercialização dos inservíveis feita pela Vale S.A. abrange diversos ramos, como
sucateamento de ferro e aço, construção civil, reciclagem de borracha, entre outros, e além

11
disso, fomenta a economia de comunidades que tem a mineração como principal atividade.
Assim, a motivação para a análise deste tema, foi a realização de estágio na empresa pelo autor,
período no qual contribuiu para a realização destas atividades, bem como para a geração dos
dados avaliados. Isto posto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a comercialização de materiais
que não possuem mais utilidade para a Vale S.A, levando em conta o contexto de outras
empresas, e discutir o impacto desta ação nas esferas sociais.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do presente trabalho foi de apresentar a gestão de destinação dos resíduos
sólidos da Vale S.A., sob a óptica da comercialização, bem como uma análise de como as
empresas destinam seus inservíveis.

2.2 Objetivos específicos

Visando atingir os objetivos gerais, tem-se os seguintes objetivos específicos.

− Revisão bibliográfica sobre a gestão de resíduos no país, com enfoque na destinação


realizada pela Vale. S.A., avaliando também outras empresas nacionais;

− Realizar o estudo de caso tendo a Vale S.A como objeto de estudo para o entendimento
sobre a gestão de resíduos sólidos industriais;

− Entender a participação governamental e a interface com as bolsas de resíduos


existentes no país (FIEMG, FIRJAN, FIESC e FIEG);

12
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Relação Entre Resíduos Sólidos e Meio Ambiente

A crescente geração de resíduos produzidos pelas atividades humanas tem sido um dos
principais problemas da sociedade atual, tendo impactos urbanos e ambientais, sendo necessária
uma maior legislação e fiscalização acerca do tema. O Plano Nacional do Meio Ambiente,
instituído pela Lei nº 6.938, de 1981, define poluição como “a degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias e energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.”

Em relação aos resíduos sólidos, de acordo com Filho (2019), seu principal regulador é a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecido pela Lei nº 12.305/2010 (BRASIL,
2010), sendo um conjunto de princípios, definições, objetivos, instrumentos, diretrizes, planos
(nas esferas nacional, estadual e municipal), metas, responsabilidades dos geradores e do poder
público, incluindo os resíduos perigosos e os instrumentos econômicos. Este constitui um
marco nacional para a regularização da produção e do gerenciamento de resíduos, além de um
avanço na gestão ambiental do país.

O Brasil possui um grande território nacional, com aproximadamente 8.516.000 km², e por isso
apresenta variedade no tratamento e disposição dos resíduos produzidos. A Figura 1 retrata que,
no ano de 2020, o país produziu cerca de 82,5 milhões de toneladas, sendo cerca de 1,07 kg
produzidos diariamente por cada brasileiro (Abrelpe, 2021). De acordo com a Tabela 1, nota-se
que mais de 60% do RSU produzido em 2020 no Brasil foi destinado corretamente, entretanto
cerca de 30,3 milhões de toneladas ainda tiveram disposição inadequada. Além disso, percebe-
se que a região Sudeste é a maior produtora de RSU no país, mas também a região com a maior
porcentagem em disposição adequada (Abrelpe, 2021).

13
Figura 1 - Geração de RSU no Brasil (T/ano e kg/hab/ano)

Fonte - Abrelpe (2021)

Tabela 1 - Disposição Final de RSU no Brasil e Regiões (T/ano e %)

Fonte - Abrelpe (2021)

Ainda sob as informações da Abrelpe (2021), as regiões Norte e Nordeste apresentam as


menores porcentagens de disposição adequada de RSU, sendo que em 2.244 munícipios
somados, apenas 607 deles apresentaram a correta destinação de seus resíduos, ou seja, menos
de 30% dos munícipios estudados. Enquanto na região Sudeste, foram avaliados 1.668
municípios e 862, cerca de 52%, destinam corretamente seus RSU.

14
3.1.1 Resíduos Sólidos Industriais e De Mineração

A PNRS define resíduos sólidos industriais como aqueles que são gerados nos processos
produtivos e instalações industriais, podendo ser perigosos ou não perigosos e, todos os
ambientes que produzam tais resíduos estão sujeitos à elaboração de um plano de
gerenciamento, que passa ser parte integrante do processo de licenciamento ambiental, cujo
conteúdo mínimo, também delimitado pela Lei, inclui o controle e disposição final
ambientalmente adequada de rejeitos, ações preventivas e corretivas relacionadas a acidentes e
medidas saneadoras de passivos ambientais, dentre outras ações (PNRS, 2010).

A Tabela 2 descreve os valores gravimétricos de resíduos industriais produzidos no Brasil entre


os anos de 2013 e 2016 declarados pelas atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras
de recursos ambientais junto ao Cadastro Técnico Federal.

Tabela 2 - Geração de Resíduos Industriais de 2013 a 2016 no Brasil

Fonte - PNRS (2022)

Ainda de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010), pode-se determinar
resíduos de mineração aqueles que são gerados na atividade de pesquisa, extração ou
beneficiamento de minérios. O setor de mineração, em 2016, gerou aproximadamente 185 mil
empregos e receita de 24 bilhões de dólares, porém, o mesmo setor também gerou cerca de 310
milhões de toneladas de resíduos de mineração em 2015, sendo Minas Gerais responsável por
94% do montante total (IBRAM, 2017). Os tipos de tipos de rejeitos estão retratados abaixo,
na Tabela 3.

15
Tabela 3 - Principais Resíduos de Mineração Identificados de 2013 a 2016

Fonte - PNRS (2022)

Além disso, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM, 2017) apresentou que os resíduos
não minerais, enfoque desse trabalho, representam cerca de 40% do total gerado e descreve
como sendo os cinco principais resíduos não minerais gerados pela atividade de mineração as
sucatas de materiais ferrosos, resíduos de madeira, resíduos sanitários, resíduos de borracha e
pneus e óleo lubrificante usado.

3.1.2 Desenvolvimento Sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser definido como o desenvolvimento nas


esferas social, econômica e ambiental que satisfaça as demandas atuais, mas que também
promova a capacidade de atendimento das necessidades das gerações futuras. Tal conceito se
tornou uma diretriz para alcançar o desenvolvimento humano estável. (LIRA e CÂNDIDO,
2013).

De acordo Cavalcanti (2021), a ciência econômica convencional não considera os recursos


provindos da natureza como finitos e a ideia de sustentabilidade implica, por sua vez, em uma
limitação das possibilidades de exploração e degradação do meio ambiente. Ainda de acordo
com Cavalcanti (2001), as políticas públicas para o desenvolvimento sustentável não se tratam
de listar regras ou receitas para a sociedade sobre como atingir a sustentabilidade, mas sim,
mitigar processos e pensar em princípios que orientem as decisões dos participantes, levando
em consideração a natureza.

16
Para tanto, surgiram medidas governamentais que descrevem alguns princípios e ações para
esse objetivo, à exemplo da Lei 12.305/2010, que trata como elemento fundamental a gestão
integrada de resíduos, sendo definida como: “conjunto de ações voltadas para a busca de
soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica,
ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento
sustentável;” (BRASIL, 2010).

Assim sendo, é de suma importância que o conceito e as diretrizes para o desenvolvimento


sustentável sejam compreendidos pela sociedade e, principalmente, pelas instituições líderes
dos setores econômicos, havendo compromisso de ambas as partes na busca pela
sustentabilidade. Para tanto, se fez necessária a elaboração de indicadores de desenvolvimento
sustentável, através dos quais é possível medir e analisar maiores dificuldades e acertos da
sociedade em busca desse tópico (Cavalcanti, 2001).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou, em 2015, a publicação dos


Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil, no qual apresenta tópicos analisados
nacionalmente, entre eles a qualidade da atmosfera, do solo, das águas doces e salgadas, do
saneamento, da saúde e educação, o consumo de recursos naturais pelas empresas, entre outros.
(IBGE, 2015). A Figura 2 abaixo ilustra a emissão antrópica de gás carbônico por setor, entre
os anos de 1990 e 2005.

Figura 2 - Estimativas das Emissões de Origem Antrópicas de CO2 por Setor de Emissão -
1990/2005

Fonte - IBGE (2015)

17
3.1.3 Logística Reversa

De acordo com Bacarin (2014), logística reversa é toda operação que tem como objetivo o
tratamento de todo o fluxo físico dos produtos, avaliando desde seu descarte final à sua origem.
Os processos que compõem esse fluxo existem há tempos, como a reciclagem, retorno de
garrafas, entre outros, porém não eram denominados como tal. A partir da implantação da
PNRS (Lei nº 12.305/2010), com o objetivo de busca do desenvolvimento sustentável, foi
estabelecida que a logística reversa seria um instrumento de implementação do princípio da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Abrelpe, 2021).

A logística reversa aborda os processos de recuperação, retorno, revenda, reciclagem, entre


outros que criam um novo para aquele material que não possuía mais utilidade, agregando valor
ao mesmo, ou seja, a logística reversa se inicia pelos resíduos gerados após a utilização do
consumidor para destinar corretamente esse produto de volta ao mercado. A Figura 3 ilustra
alguns campos de atuação da logística reversa (LEITE, 2009).

Figura 3 - Atuação da Logística Reversa e Alguns Canais

Fonte - Leite (2009)

18
Portanto, percebe-se que Leite (2009) determinou quatro grupos principais para aplicação da
logística reversa em produtos:

• Reuso – aqueles produtos que podem ser limpos e ter sua condição restaurada para ser
absorvido pelo mercado secundário de bens;
• Remanufatura – aqueles produtos que não possuem condição de reuso, pois, suas
condições originais estão muito defasadas, podendo ter suas partes essenciais
reaproveitadas pelo mercado secundário de componentes;
• Reciclagem – aqueles produtos que não possuem nenhuma peça em condições de
reaproveitamento ou funcionalidade original, ocorrendo seu retorno à função de
matéria-prima;
• Disposição final – produtos que já não possuem mais nenhuma utilidade citada acima e
devem ser devidamente descartados.

Ainda segundo Leite (2009), ao aplicar a logística reversa no âmbito empresarial e industrial,
reparou-se que esta gera diversos benefícios para as empresas, entre eles o aumento da
competitividade, receita com material já sem utilidade, integração com as questões ambientais,
limpeza de armazéns e estoques, recuperação de ativos, além de respeito às legislações impostas
sobre este tema. A Figura 4 apresenta exemplos de resíduos gerados pela Vale S.A que são
destinados através da logística reversa para chegar ao seu novo processo.

Figura 4 - Exemplos de Logística Reversa Aplicada a Resíduos da Vale S.A

Fonte - Vale S.A (2020)

19
4 METODOLOGIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) pode ser classificado como uma pesquisa
exploratória – aquela que propõe o aumento de conhecimento sobre o tema - e descritiva –
aquela que descreve o fenômeno ocorrido, de acordo com seu propósito.

Visto que ocorre levantamento de dados e informações sobre um fenômeno, realizando


pesquisas bibliográficas, coletas de dados, avaliação dos materiais disponibilizados pela
empresa, além de propor hipóteses que podem melhorar o processo alinhado à sociedade,
caracteriza-se o presente trabalho como quantitativo e qualitativo.

Em relação aos processos e técnicas, foram realizadas análises de documentos e relatórios


técnicos, bem como o contato direto com participantes do processo. Além disso, foi realizada
uma profunda revisão bibliográfica, considerando diversas esferas que o tema proposto aborda
e seus diversos impactos já categorizados.

5 ESTUDO DE CASO

5.1 Vale S.A.

A Vale S.A é uma empresa criada por Getúlio Vargas em 1º de junho de 1942, originalmente
estatal, criada como Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), para o fomento da produção de
minério de ferro no Brasil, fortemente influenciado pela segunda guerra mundial. Nos dias
atuais, a companhia é uma empresa privada que figura entre as maiores mineradoras globais,
estando presente em cerca de 20 países, sendo a maior produtora mundial de minério de ferro e
níquel, além de atuar nos ramos de logística, energia e siderurgia.

Hoje, no Brasil, a empresa atua na mineração de minério de ferro, pelotas, níquel, manganês,
ferroliga, cobre, ouro, prata e cobalto, estando presente em 14 estados brasileiros, além de
operar em cerca de 30 países. O maior complexo minerador da empresa se encontra no sudeste
do Pará e é denominado S11D.

O nível de produção de resíduos sólidos de uma empresa tão grande é alto e requer um
tratamento especializado para a destinação destes resíduos. É um dos valores da empresa
“Transformar o futuro, cuidando do presente”, buscando o desenvolvimento sustentável citado
no Item 3.1.2 e podendo gerar desenvolvimento para as comunidades, mas também preservando
o meio ambiente.

20
5.2 Resíduos Sólidos Gerados pela Vale S.A.

A Vale destinou cerca de 537 mil toneladas de resíduos não minerais em 2021, das quais
aproximadamente 57% tiveram uma destinação sustentável, sendo enviadas para compostagem,
reuso ou reciclagem, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5 - Disposição e Destinação Resíduos da Vale em 2021

Fonte - Vale S.A (2022)

Sendo assim, o gerenciamento de resíduos sólidos da empresa tem como foco para os resíduos
não-minerais:

• minimização da geração, a partir da conscientização junto as áreas operacionais;


• segregação;
• rastreabilidade;
• valoração através de inserção em novas cadeias produtivas e novas tecnologia;
• destinação apropriada dos resíduos para destinatários avaliados, reduzindo os riscos;
• incentivar a geração de emprego e renda a partir da implantação da logística reversa
(Item 3.1.3).

A gestão da empresa aplica metas e indicadores para redução de geração e destinação


sustentável contemplando compostagem, reuso, rerrefino, compostagem/aproveitamento
energético e reciclagem, tendo como principais a redução de geração e aumento da destinação
adequada, aliada à valorização dos resíduos e redução do descarte em aterros.

De acordo com os Relatórios de Sustentabilidade de 2019 das empresas Vale S.A, Gerdau,
Nexa e Petrobrás, a companhia Vale S.A. apresentou maior porcentagem de destinação
sustentáveis dos resíduos gerados por cada uma delas, conforme ilustrado na Figura 6 abaixo:

21
Figura 6 - Porcentagem de Destinação Sustentável Atingido por Grandes Empresas em 2019

Fonte - Imagem do Autor

A caracterização dos resíduos sólidos da Vale S.A é feita distinguindo da seguinte forma:

• Inservíveis: desperdícios ou sobras de materiais que não tem utilidade para os processos
de reuso, reciclagem ou reaproveitamento, sendo destinados diretamente para aterros,
incineração ou coprocessamentos;
• Sucatas: Materiais que se tornam inservíveis para o uso originalmente previsto, porém
possuem utilidade como matéria-prima para um próximo item;
• Ativos: Bens imobilizados da Vale que são descartados ao fim de sua vida-útil e após
retirada de peças para reaproveitamento interno; também podendo ser peças de MRO,
que são itens e ferramentas de pequeno porte utilizados para Manutenção, Reparo e
Operações que não possuem utilidade para a empresa e são descartados.

Toda a geração de resíduos pelas áreas da empresa de suporte (restaurantes, postos médicos,
etc.), ferrovias e portos, usinas, minas e outras, são destinadas para as Centrais de Materiais
Descartados (CMDs), área responsável pela primeira destinação dos resíduos da Vale,
conforme ilustrado pela Figura 7, que representa a CMD da unidade de Canaã dos Carajás, no
Pará. Os materiais que são classificados como inservíveis são prensados e preparados para
serem enviados para destinação final. Já as sucatas e são prensadas e armazenadas para futura
destinação; o mesmo acontece para os ativos: em caso de imobilizados, são dispostos da melhor

22
maneira na CMD e em caso de MROs, são enfardados em sistemas de organização por
semelhança.

Figura 7 - CMD de Canaã dos Carajás - Vale S.A.

Fonte - Vale S.A. (2021)

A destinação desses resíduos pode ocorrer de duas formas:

• Via Custo: Quando não existe utilidade ou mercado para o material, sendo necessário
que a empresa arque com os custos;
• Via Venda: Quando o material ainda possui alguma utilidade para outra cadeia
produtiva, portanto a empresa procura no mercado uma proponente interessada na
aquisição do produto.

O enfoque deste trabalho é considerar a segunda alternativa citada acima, visto que esta, além
de gerar receita para a empresa, fomenta a economia circular e constrói novas cadeias de valor,
transformando resíduos em coprodutos. Ademais, grande parte da receita adquirida através da
destinação via venda pela Vale S.A, em 2021, permaneceu no próprio estado em que o resíduo
foi gerado, conforme apresenta a Figura 8 abaixo, impulsionando a economia local e agindo
diretamente na economia das comunidades onde a empresa atua.

23
Figura 8 - Representatividade da Receita de Resíduos Destinados Internamente do Estado
Gerador

Fonte - Imagem do Autor

Para a realização da venda, é necessário realizar uma coleta de preço junto ao mercado para que
as proponentes avaliem o produto e há diversos fatores que influenciam a precificação do
material, como:

• Tipo de material: ferroso, não ferroso, ativo...;


• Condição: conservado, sujo, puro, misto...;
• Quantidade: estoque, geração mensal...;
• Localidade: endereço, frete necessário...;
• Mercado: valorização do dólar, situação do material no mercado, escassez.

24
5.2.1 Caracterização por Tipo de Material

A variedade de resíduos sólidos não minerais gerados por uma mineração é alta e engloba
materiais de diversas composições. A Tabela 4 indica as categorias de resíduos com maior
representatividade, em volume, na destinação realizada pela Vale S.A. em 2021, de forma
sustentável, indicando o percentual em relação ao volume total de destinação, na qual pode
perceber uma predominância nas sucatas metálicas.

Tabela 4 - Representatividade do Volume de Resíduos Destinados pela Vale S.A. em 2021


Resíduos Destinados
Representatividade do
Categoria
Volume (%)
Sucata Ferrosa 24,85
Sucata de Aço 21,78
Sucata de Madeira 21,01
Sucata de Carvão 8,22
Sucata de Borracha 7,77
Óleo Lubrificante Usado 2,17
Outros 14,2
Fonte – Adaptado de Vale S.A. (2021)

A fim de melhor entendimento, será definida cada categoria indicada acima de acordo com os
padrões da empresa:

• Sucata Ferrosa: sucata de materiais que contenham ferro em sua composição e possam
ser utilizados na produção de novos produtos ferrosos, inclui chapas de apoio, partes de
maquinários feitos de ferro, pedaços de equipamentos, entre outros. É magnética;

• Sucata de Aço: sucata proveniente de materiais feitos de aço e que podem ser reinseridos
no processo de fabricação de uma nova peça de aço, incluindo trilhos ferroviário,
limalha de aço em pó, partes de maquinários feitos de aço, etc.;

• Sucata de Madeira: todo resíduo de madeira que é considerada sem utilidade,


principalmente após o uso ou corte em pedaços menores (aparas), são exemplos os
pallets de madeira de embalagem, dormentes ferroviários, toras de lenha;

• Sucata de Carvão: rejeitos de carvão utilizado como combustível para os processos


necessários, através da queima do material;

25
• Sucata de Borracha: sucata de materiais de borracha utilizados no processo que, após o
desgaste, não tem condições de exigir sua função original ou chegaram ao fim da vida
útil, a exemplo de pneus de veículos e correias transportadoras;

• Óleo Lubrificante Usado: rejeitos de óleos utilizados em veículos, equipamentos e


máquinas para lubrificação dos motores e engrenagens, reduzindo o atrito e a
degradação dos mesmos.

5.2.2 Avaliação da Geração em Volume

Avaliando as principais categorias de resíduos sólidos gerados pela Vale S.A, é possível
mensurar o volume gerado para cada categoria. Entender quais os materiais mais exigem
destinação é importante para a busca da otimização do processo, tendo como base o
desenvolvimento sustentável, pretendendo reduzir a geração dos mesmos, bem como escolher
a melhor estratégia de mercado para a correta destinação. São representadas abaixo, pela Figura
9, as categorias com maiores volumes destinados pela companhia em 2021.

Figura 9 - Volume dos Resíduos Destinados pela Vale S.A em 2021

73.941,41

58.777,20
56.674,77
Volume (Ton)

24.473,47
20.152,39

9.503,37
6.461,69 6.050,62 5.873,94

Sucata Trilho Lenha de Sucata de Correia e Sucata de Óleo Sucata de Sucata de


Ferrosa Ferroviário Árvore e Carvão Borracha Minério Lubrificante Aço Madeira
Dormente Usado
de Madeira

Fonte – Adaptado de Vale S.A. (2021)

26
Assim, percebe-se que o maior volume gerado é de sucata ferrosa, cerca de 74 mil toneladas
em um ano. Em seguida, tem-se a sucata de trilho ferroviário com cerca de 58,8 mil toneladas,
e apesar de ser uma sucata de aço, é vendido separadamente da sucata de aço geral, devido ao
seu grande volume e necessidade específica do mercado. O mesmo ocorre com a lenha de árvore
e dormentes de madeira, que são vendidos separadamente das outras sucatas de madeira, sendo
destinadas aproximadamente 56,6 mil toneladas deste material.

A destinação de rejeito de carvão utilizado como combustível alcançou quase 24,5 mil toneladas
em 2021. A sucata de correia e borracha conta com diversos materiais, como pneus de veículos,
correias transportadoras, entre outros, e apresentou um volume de 20,1 mil toneladas, seguida
do rejeito de minério, cerca de 9,5 mil toneladas. As sucatas de aço e madeira, respectivamente,
foram responsáveis por cerca de 6 mil e 5,9 mil toneladas, observando a retirada de trilho
ferroviário e lenha de árvore destas categorias.

O volume de cada material destinado pode estar diretamente ligado à sua representatividade na
receita obtida pela venda dos mesmos, visto que as negociações são feitas a partir do valor de
mercado da tonelada do material multiplicado pelo volume disponível para ser destinado. A
Tabela 5 abaixo apresenta as categorias de materiais com maior representatividade na receita
total da empresa com venda de resíduos sólidos em 2021.

Tabela 5 - Representatividade da Receita de Resíduos Destinados pela Vale S.A. em 2021


Resíduos Destinados
Representatividade da
Resíduo
Receita (%)
Sucata Ferrosa 35
Trilho Ferroviário 27
Ativos (Leilão) 17
Sucata de Aço 7
Óleo Lubrificante 4
Sucata de Madeira 5
Outros 5
Fonte - Adaptado de Vale S.A. (2021)

A categoria de Ativos, que representa 17% da receita de resíduos destinados pela Vale S.A.,
possui uma estratégia de venda diferente das demais, visto que não são sucatas (conforme
definido no primeiro parágrafo da página 22) e são vendidos por lotes únicos e específicos,
diferentemente dos outros materiais que são vendidos por volume disponível. Esta categoria
será desenvolvida no Item 5.5 - Leilão de Ativos.

27
5.2.3 Avaliação das Geração por Localidade

A destinação de resíduos da Vale S.A. através da venda tem papel importante na economia das
regiões onde a empresa atua, visto que fomenta o comércio de empresas locais, além de oferecer
materiais que possam ter utilidade para essas empresas. A Figura 10 ilustra a representatividade,
em volume, da destinação de resíduos em cada estado em que a empresa atua.

Figura 10 - Representatividade por Estado no Volume Total de Resíduos Destinado pela Vale

Fonte - Imagem do Autor

Tendo como base a quantidade de vendas da empresa por região, pode-se avaliar a
representatividade, em volume, de vendas realizadas para o próprio estado gerador do resíduo
e, percebe-se que a maioria dos resíduos são destinados para o próprio estado onde foram
gerados, conforme Figura 11 a seguir.

28
Figura 11 - Representatividade do Volume de Resíduos Destinados Internamente do Estado
Gerador

Fonte - Imagem do Autor

Outro fator importante da destinação do resíduo para um local próximo do produtor é a logística
necessária para a retirada do mesmo pela compradora. Estar próximo implica em um menor
gasto com frete, visto que a distância é encurtada, podendo reduzir consumo de combustível,
diminuir o tempo e a mão de obra necessária para a realização da demanda, além de ser possível
realizar as retiradas dos resíduos adquiridos com maior frequência.

29
5.2.4 Principal Destinação de Cada Resíduo

Percebe-se que a destinação de resíduos via venda fomenta a economia circular e propõe novas
cadeias produtivas a partir de itens que esgotaram sua utilidade original. Portanto, de acordo
com algumas categorias de resíduos mostradas nos tópicos acima, foi possível identificar o
fluxo até a destinação final mais ocorrente para cada uma delas, conforme Figura 12 a seguir:

Figura 12 - Fluxograma de Destinação dos Resíduos Sólidos

Fonte - Imagem do Autor

30
5.3 Caso de Venda de Sucata de Aço e Trilhos Ferroviários

Os ambientes industriais possuem diversos tipos de equipamentos, estruturas e maquinários


feitos de peças de aço e estes materiais possuem vida-útil que chega ao fim, por questões de
segurança ou por não realizarem sua função prevista de maneira eficiente. Assim, se faz
necessário a classificação deste material como resíduo e a busca pela correta destinação, que
atenda aos requisitos ambientais. De acordo com o Instituto Aço Brasil (2021), o aço é um
material 100% reciclável que pode ser reprocessado e transformado em novos produtos sem a
perda de qualidade, o que torna essa opção altamente eficaz. Estima-se que a reciclagem do aço
evita a utilização de 1.140 kg de minério de ferro e 154 kg de carvão mineral, que não precisarão
ser extraídos de fontes naturais.

De acordo com a estratégia de comercialização da Vale S.A., esta categoria apresenta duas
subcategorias principais: os trilhos ferroviários e os resíduos feitos de aço oriundos de peças de
estruturas e equipamentos. No ano de 2021, a empresa destinou cerca de 262 mil toneladas de
resíduos e, conforme mostrado na Tabela 4, as sucatas de aço representam, ao todo, cerca de
21,78% deste volume, sendo destinadas aproximadamente 64.850 toneladas do material – os
trilhos ferroviários foram responsáveis por 19,75% do volume total e as outras sucatas de aço,
por 2,03% do volume total.

5.3.1 Sucatas de Aço

As sucatas de aço comuns são compostas por chapas de apoio, sucata de limalha e pó de aço,
chapas de equipamentos, entre outros tipos de materiais que contenham aço em sua composição.
Estas peças apresentam alta resistência à tração e elevada durabilidade, porém, por possuírem
alto teor de carbono, a sucata é passível de sofrer enferrujamento quando exposta à umidade
sem proteção.

De acordo com a Vale S.A., a principal destinação destes resíduos é para a indústria siderúrgica,
sendo reinseridos no processo produtivo para gerar novas peças de aço, como pregos, parafusos,
peças de automóveis e diversos outros produtos cotidianos, representado na Figura 12. Ao
reciclar o aço para nova utilização, a indústria siderúrgica reduz o consumo de energia gasta na
produção em até 65 %, o consumo de água em 75% e as emissões de carbono em 60% (Instituto
Aço Brasil, 2021).

31
Em 2021, a Vale S.A. destinou cerca de 6 mil toneladas de sucatas de aço, representando
aproximadamente 7% das receitas advindas da comercialização de resíduos no ano. A estratégia
utilizada pela empresa para a realização das vendas é através da coleta de preço no mercado, na
qual a Vale S.A. oferta o material, descrevendo suas condições, quantidades, localidade e
geração mensal do resíduo. A partir das informações apresentadas, as empresas que possuem
interesse em adquirir o material fazem uma proposta de contrato para a Vale S.A., informando
o preço que consideram válido pela tonelada do material, por quanto tempo estão interessadas
utilizar o material, bem como os serviços de logística necessários para a retirada do resíduo das
CMDs.

A partir das propostas recebidas, a Vale S.A. avalia se as condições atendem à demanda
financeira e logística da empresa. Além disso é feita uma auditoria das empresas proponentes,
aferindo suas condições de realização de uma destinação sustentável para os resíduos, de modo
a não causar danos ao meio ambiente mesmo após o resíduo deixar de pertencer à Vale S.A.
Em caso positivo para os requisitos acima, a empresa que apresentou a proposta que melhor se
encaixa nas diretrizes da Vale S.A. será a responsável pela destinação deste resíduo junto à Vale
S.A.

A destinação das sucatas de aço fomenta a economia local, visto que são peças de grande
volume e por isso, em sua grande maioria, são destinadas para empresas que se localizam
próximo à unidade geradora, evitando fretes de grandes distâncias. Além disso, para o desmonte
de peças de aço, é necessário realizar o oxicorte (processo de separação de metais através da
reação de oxidação, gerando grande calor) e, para isso, é fundamental uma mão-de-obra
especializada, sendo feita a capacitação de moradores da comunidade, através da parceria Vale
S.A. e contratada, para realizarem essa função.

5.3.2 Sucata de Trilho

Conforme informado acima, devido ao volume das sucatas de trilho serem muito elevados, estas
são destinadas separadamente das outras sucatas de aço. Em 2021, as sucatas de trilho
representaram 27% de toda a receita de resíduos destinados pela Vale S.A. (indicado na Tabela
5), sendo a segunda maior categoria em volume destinado, cerca de 59 mil toneladas (indicado
na Figura 9). Estes materiais passam a ser considerados resíduos quando as linhas ferroviárias
não são mais utilizadas pela companhia ou quando já não atendem os fatores de estabilidade e
segurança estabelecidos pela empresa.

32
As sucatas de trilho também são consideradas outra subcategoria pois possuem outra destinação
final além da reciclagem do aço – as peças podem ser utilizadas mantendo seu formato e
dimensões originais, apenas redefinindo suas funções. A Vale S.A. realiza a venda destes
resíduos para empresas que precisam de linhas ferroviárias de menor dimensão e necessitam de
menor capacidade de carga. Além disso, conforme mostrado na Figura 12, um grande volume
das sucatas de trilhos ferroviários são destinados para a construção civil, podendo ser utilizados
como estacas de fundações profundas em grandes construções, pois possuem grande resistência
mecânica e um formato que favorece a inércia; podem ser utilizados também na construção de
estruturas metálicas, guarda-corpos de estradas, entre diversas outras funções.

Em 2022, a Vale S.A. realizou um contrato de destinação de sucatas de trilhos de trem provindos
de locais sem acesso rodoviário na Estrada de Ferro de Carajás (EFC), transformando uma
destinação que era onerosa para a empresa, em uma destinação que gera receita adicional. A
destinação dos resíduos de trilho dessa localidade possui grandes obstáculos devido à falta de
acesso rodoviário à ferrovia, dificultando o acesso da mão-de-obra e equipamentos, porém a
empresa que adquire os trilhos ociosos se comprometeu com toda a logística necessária para a
desmobilização dos materiais, sendo uma relação de ganho para ambas as empresas.

Esta iniciativa gerou diversos pontos positivos, como benefícios financeiros para ambas as
empresas, capacitação e emprego para moradores das regiões, desmobilização de linhas
ferroviárias desativadas, segurança às comunidades e povos indígenas locais evitando
acidentes, além da retirada de resíduos do meio natural.

5.4 Caso de Venda de Madeira

Outro material muito utilizado em ambientes industriais é a madeira, provindas de embalagens


de equipamentos, dormentes de linhas ferroviárias, toras de lenhas, entre outras utilizações.
Nesse sentido, após o término de sua utilização ou as aparas residuais após o corte da madeira,
devem ser destinadas de maneira correta, evitando a disposição em aterros, a incineração não
controlada ou a utilização de grandes espaços para a armazenagem do material ocioso. Além
da não poluição ambiental, a destinação sustentável dos resíduos de madeira evita que novas
árvores sejam cortadas, além da economia de água necessária para a manutenção do plantio,
bem como a redução da utilização de agrotóxicos para o cultivo das plantações.

33
Assim como as sucatas de aço, as sucatas de madeira também possuem duas subcategorias:
lenhas de árvore e dormentes de madeira, e as sucatas de madeira em geral, compostas
principalmente por madeiras de embalagens de equipamentos. Em 2021, conforme a Figura 9,
foram destinadas cerca de 62,5 mil toneladas de madeiras no total, sendo as lenhas de árvore e
dormentes de madeira responsáveis por 19,75% do volume total de resíduos destinados e as
madeiras em geral, responsáveis por 1,97% do volume total destinado. Entretanto, apesar de ser
a terceira maior categoria em volume de resíduos destinados, por ser um material barato, a
categoria representa apenas 5% de toda a receita advinda da comercialização de resíduos pela
companhia, conforme mostrado na Tabela 5.

5.4.1 Sucatas de Madeira

As sucatas de madeira comuns são aquelas peças de menor porte feitas de madeira, como as
embalagens dos equipamentos (principal componente desta categoria) ou aparas de cortes de
madeira realizados durante a atividade produtiva da empresa. Em 2021, foram destinadas cercas
de 5,9 mil toneladas desta categoria, uma quantidade pequena se comparada a outros materiais,
visto que as peças não possuem peso elevado.

Assim como os outros resíduos, para a destinação da madeira também e feita uma coleta de
preços junto ao mercado e avaliação das propostas recebidas de outras empresas, além da
destinação final apresentada por elas, para decidir qual a melhor opção de comercialização para
a Vale S.A. Porém, como dito anteriormente, o valor recebido pela tonelada da madeira não é
alto, podendo ser feita a destinação por meio ações sociais que não visam o lucro, além de
causar impacto social e ambiental positivos.

A Vale S.A. fez parceria com uma empresa na cidade de Parauapebas (PA), desenvolvendo um
projeto de aproveitamento de resíduos de madeiras de embalagens da mina de Carajás. A
empresa utiliza o resíduo em caldeiras de geração de energia, reduzindo a disposição em aterros
e a necessidade de extrair madeira natural para tal função. Nos anos de 2019 e 2020 foram
destinadas, ao todo, 1.270 toneladas de madeira para reaproveitamento.

Em outro exemplo, de acordo com os dados disponibilizados pela Vale S.A. (2021), a empresa
desenvolveu um caso de aproveitamento de madeiras utilizada para embalagens de
equipamentos juntamente com a Cooperativa de Trabalho, Coleta e Recuperação de Resíduos
da Vila Maranhão (CoopVila), vizinho às operações da empresa em São Luís, no Maranhão,

34
ilustrado na Figura 13 abaixo. Em 2019, foram destinadas 1.504 toneladas de madeira, e em
2020, 1.140 toneladas, mostrando o sucesso do projeto que tem como objetivo a atuação
conjugada do desenvolvimento de uma cooperativa local e o aproveitamento dos resíduos de
madeira de embalagens na fabricação de peças e móveis de madeira, gerando renda e empregos
para a comunidade local.

Figura 13 - Sucatas de Madeira Destinadas à CoopVila

Fonte - Vale S.A. (2020)

5.4.2 Lenhas de Árvore e Dormentes de Madeira

As lenhas de árvores e dormentes de madeira, diferentemente das outras sucatas de madeira,


possuem maior densidade e peso, além de serem gerados em maior volume, fazendo com que
a categoria possua uma estratégia de venda a parte. As lenhas de árvores são pedaços não
utilizados de árvores que foram cortadas para a atividade da empresa e os dormentes são peças
de madeira colocadas transversalmente às vias ferroviárias para apoiar e estabilizar os trilhos,
garantindo a não deformação devido a expansão, além de absorver impactos e trepidações dos
vagões.

Estes materiais representaram, em 2021, uma destinação de aproximadamente 56,7 mil


toneladas, conforme Figura 9. Os principais destinos destes resíduos, conforme Figura 12, são
as indústrias moveleiras as fábricas de carvão.

A Vale S.A. realiza um projeto pioneiro, junto de uma empresa no estado do Espírito Santo
para a destinação destes resíduos, onde foi construída uma fábrica produtora de carvão
industrial de alta qualidade, gerado a partir das lenhas e dormentes coletadas ao longo da
Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), sendo que já foram destinadas mais de 35.000

35
toneladas de lenhas de árvores dormentes de madeira. Esta empresa está autorizada a carbonizar
a madeira para a geração do carvão pois é capaz de filtrar os gases que são produzidos na queima
do resíduo. A figura ilustra o fluxo simplificado deste processo.

Figura 14 - Fluxo Simplificado da Destinação Sustentável de Lenhas e Dormentes

Fonte - Adaptado de Couto (2020)

Após o início do projeto, estima-se que foi evitada a retirada de 200.000 árvores de eucalipto
para produzir a quantidade de carvão equivalente, e foram economizados cerca de 16 milhões
de litros de água necessários para a manutenção do plantio. Além disso, atualmente, a empresa
emprega mais de 50 funcionários. Assim, é possível perceber o sucesso da destinação de
resíduos de madeira através da comercialização dos mesmo, tanto na esfera econômica, quanto
na social e ambiental.

5.5 Leilão de Ativos

5.5.1 Classificação dos Resíduos

De acordo com Pereira e Araújo (2006), a categoria de ativos é constituída de bens destinados
à manutenção da atividade econômica de uma empresa, seja na produção de bens e serviços ou
no controle e administração destes. Para tanto, a destinação destes matérias ao perderem sua
função original, atingirem o fim de sua vida útil ou não possuírem mais utilidade para a empresa
detentora, não deve ser feita seguindo o método utilizado para as sucatas.

36
A categorização de ativos da Vale S.A. difere os ativos em duas categorias:

• Imobilizados: Itens responsáveis ativamente no processo de produção e administração


da empresa, seja nos serviços de mineração ou administrativos, possuindo um número
de identificação único e específico para cada um deles. São exemplos de imobilizados:
retroescavadeira, mesa de escritório, caminhões, ares-condicionados, entre outros;
• Peças de MRO: Itens a serem descartados que participam da Manutenção, Reparo e
Operações da empresa, não sendo responsáveis diretos pela produção, mas essenciais
para que os serviços funcionem adequadamente. São exemplos de MROs: uniformes,
equipamentos de segurança, parafusos e roscas, peças de motor, entre outros.

A categoria de ativos imobilizados ainda pode ser ainda fragmentada em outras 5 sub-categorias
de acordo com a funcionalidade de seus itens para a Vale S.A.:

• Equipamentos: São os equipamentos que atuam diretamente na atividade fim da


empresa, neste caso, atividade de mineração. Exemplos: pá-carregadeira, trator de
esteira, retroescavadeira;
• Equipamentos de Apoio: São os equipamentos que atuam no suporte da produção e da
logística da atividade da empresa. Exemplos: plataformas elevatórias, empilhadeiras,
máquinas de solda;
• Veículos e Caminhões: Equipamentos utilizados para transporte de cargas e/ou pessoas
dentro das localidades em que a empresa atua. Exemplos: caminhões 6x4,
caminhonetes, carros utilitários;
• Móveis e Utensílios: Equipamentos normalmente utilizados nos ambientes
administrativos, atuam indiretamente no funcionamento da operação da empresa.
Exemplos: mesas e cadeiras de escritório, geladeiras, armários;
• Equipamentos de TI: Equipamentos que possuem componentes eletroeletrônicos e são
de responsabilidade da área de tecnologia e informática: Exemplos: computadores,
notebooks, televisão.

De acordo com os dados obtidos, a representatividade da quantidade vendida de cada uma


dessas categorias no processo de destinação de ativos foi representada na Tabela 6 abaixo,
percebendo-se a categoria de Peças de MRO sendo responsável por mais de metade do volume
das vendas, enquanto a categoria de Imobilizados e suas sub-categorias representam cerca de
49% do total de ativos vendidos pela Vale S.A. em 2021.

37
Tabela 6 - Representatividade da Quantidade de Ativos Destinados pela Vale S.A. em 2021
Ativos Destinados
Representatividade
Categoria
da Qte. (%)
Peças de MRO 50,8
Equipamentos de Apoio 19,7
Equipamentos 14,2
Veículos e Caminjões 9,9
Móveis e Utensílios 4,8
Equipamentos de TI 0,6
Fonte - Adaptado de Vale S.A. (2021)

5.5.2 Processo de Destinação

O processo de destinação sustentável dos resíduos classificados como ativos se inicia com a
identificação dos itens sem utilidade futura nos processos da Vale S.A., feita pelas equipes de
operação ou administração. Após identificados, é aberto um chamado junto à CMD responsável
pelo material para solicitar sua destinação, e esta separa os itens em lotes únicos e codificados
de acordo com a estratégia comercial da empresa – estes lotes podem ser unitários ou conter
diversos itens. Cada lote deve apresentar um formulário identificando os materiais presentes, a
quantidade de cada material, bem como peso e condição de conservação.

Os lotes então são inseridos no processo de leilão público, utilizando empresas terceiras
especializadas em leilões online, nos quais são feitas a divulgação dos lotes de acordo com as
informações recebidas das CMDs. Os proponentes interessados na compra desses materiais
devem realizar o cadastro na plataforma do leiloeiro em questão para poder participar do leilão.
O processo leilão ocorre de forma tradicional, na qual o leiloeiro estipula um valor mínimo de
arremate, os interessados na compra do lote podem aumentar a oferta e vence o maior montante
ofertado. Após esta etapa, a Vale S.A. avalia os resultados para confirmar a venda e autorizar o
arrematante a retirar o lote adquirido. O fluxo simplificado do processo pode ser representado
pela Figura 15 abaixo.

38
Figura 15 - Fluxo Simplificado do Processo de Leilão da Vale S.A.

Fonte - Imagem do Autor

No ano de 2021, conforme mostrado pela Tabela 5, o processo de leilão de ativos foi
responsável por 17% da receita de destinação sustentável da Vale S.A, sendo a segunda maior
categoria responsável por arrecadação. Além disso, o processo destinou 1109 lotes no ano de
2021, conforme descrito na Tabela 7 abaixo e também na figura, que indica a venda de cada
categoria.

Tabela 7 - Total de Lotes Vendidos no Leilão de Ativos em 2021


Resíduos Destinados
Quantidade de Lotes
Categoria
Vendidos
Peças de MRO 563
Equipamentos de Apoio 219
Equipamentos 157
Veículos e Caminhões 110
Móveis e Utensílios 53
Equipamentos de TI 7
Total 1109
Fonte - Adaptado de Vale S.A. (2021)

39
Figura 16 - Lotes por Categoria Vendidos no Leilão de Ativos da Vale S.A. em 2021

Fonte - Imagem do Autor

Assim, percebe-se que o processo de leilão de ativos da Vale S.A. foi eficiente para a proposta
de realizar a venda de produtos sem maior utilidade para a empresa, reduzindo o volume de
resíduos estocados, gerando receita adicional e servindo de matéria-prima e insumo para novas
cadeias produtivas.

Avaliando os casos de destinação de resíduos de aço e madeira, além das vendas através de
leilão, citados anteriormente, identifica-se que uma empresa como a Vale S.A. impacta
diretamente sobre as comunidades onde atua, e deve ser engajada com sua atuação social, tendo
suas diretrizes pautadas pelos Código de Conduta, Políticas Anticorrupção, Direitos Humanos
e Norma de Sustentabilidade. Para tanto, o modelo de Atuação Social da Vale é efetivado
através da gestão de riscos e impactos sobre as comunidades e também pela promoção do legado
social positivo.

Dos princípios para a Atuação Social da Vale junto as comunidades, pode-se citar a
transparência para com todos os envolvidos no processo, a escuta ativa das manifestações, o
engajamento com as partes, a inclusão social respeitando as diversidades, a aderência aos pactos
internacionais, a responsabilidade operacional sobre os riscos e impactos e, principalmente, o
incentivo à capacidade social, apoiando as iniciativas de diversificação econômica, e o
fortalecimento à participação social, implantando processos participativos das comunidades
junto às ações da empresa.

40
A Vale S.A. estabelece metas para o alcance social, entre eles de retirar 500 mil pessoas da
extrema pobreza até 2030. A destinação sustentável de resíduos sólidos, por meio da venda,
fomenta a economia local, promovendo o aumento de empregos e oportunidades nas
comunidades. A empresa possui, como forma de controle de destinação de resíduos no Brasil,
o Programa de Autoria dos Destinatários e Resíduos, através do qual todas as empresas que
recebem os resíduos destinados passam por um processo de avaliação e auditoria ambiental.
Em 2020, constavam 226 empresas com cadastro ativo, sendo realizadas 55 auditorias de novos
fornecedores, comprovando o impacto da Vale para com outras empresas e comunidades.

Pode-se utilizar como exemplo do impacto social da destinação de resíduos o projeto de doação
de uniformes usados para associações e cooperativas de Minas Gerais. A partir das peças que
não estão mais em condições de uso e são doadas, são desenvolvias mochilas, bolsas, vestuário,
etc. O projeto incentiva a inserção de mulheres bordadeiras e artesãs no mercado, através de
cursos de capacitação, possuindo cerca de 50 famílias beneficiadas com o projeto (COUTO,
2020).

O gerenciamento de resíduos da Vale S.A. também gera impactos econômicos nas comunidades
onde atua, fomentando a economia circular local através da logística reversa. Conforme
exemplificado na Figura 11, a comercialização dos resíduos produzidos pela Vale S.A. ocorre,
em grande volume, dentro do estado onde foram gerados, impactando diretamente na economia
local.

Inaugurada em 2020 pela empresa, a Vale S.A. criou a Fábrica de Blocos do Pico, em Itabirito
(MG), uma planta de fabricação de produtos para a construção civil, tendo como matéria-prima
principal o rejeito da atividade de mineração. O objetivo do projeto é transformar o rejeito
disposto em barragens em produtos pré-moldados para a construção civil, como pisos, blocos
de tijolo, entre outros. A expectativa é de redução de disposição de 30 mil toneladas de rejeito
para a fabricação de cerca de 3,8 milhões de produtos, que gerarão renda para o município além
da mineração. É pretendido replicar este projeto em outras unidades da empresa (Vale S.A.,
2021).

Outro exemplo do impacto econômico que a Vale S.A pode causar nos locais onde atua é a
reciclagem de correias transportadoras de minério de ferro em Minas Gerais. Entre os anos de
2011 e 2014, foram reaproveitadas aproximadamente 52 mil toneladas deste material, que antes
gerava custos para incineração e disposição em aterro, se transformou em uma fonte de renda.
O reaproveitamento foi feito a partir de uma parceria da Vale S.A. com uma empresa local, que

41
transforma as sucatas de correias transportadoras de minério de ferro em forros de veículos,
cercados para currais, entre outros produtos, e se estabeleceu no mercado em consequência da
aquisição do resíduo. De acordo com Couto (2020), o projeto conta com mais de 10 empresas
atuantes e mais de 100 pessoas empregadas, em diversas regiões do Brasil.

A destinação de resíduos através da venda, além de gerar receita para a Vale S.A. e promover
o comércio com outras empresas, também tem como função reduzir os danos à natureza que
são causados a partir da destinação incorreta de resíduos e evitar futuros excessos de extração
da matéria-prima. O reaproveitamento de produtos após o fim da sua vida-útil para a empresa
evita a incineração do material, a disposição em aterros sanitários, além de reduzir a exploração
dos recursos naturais para a fabricação de novos produtos.

No processo de produção da Vale S.A. são gerados resíduos com bifelinas policloradas,
conhecidas como PCBs, que são contaminantes ambientais e impactam a saúde humana. De
acordo com dados disponibilizados pela Vale S.A., até 2020 foram destinadas mais de 200
toneladas de óleos com PCBs, e a partir desse volume, foram regenerados mais de 12.000 litros
de óleos sem contaminação. Objetivando o atendimento das metas estabelecidas na Convenção
de Estocolmo, a empresa prevê findar a utilização de PCBs até 2025 e garantir totalmente sua
correta destinação final até 2028. Para a realização do processo, foram identificadas as fontes
de óleos contaminados com PCBs, bem como a compatibilização dos ciclos de manutenção dos
equipamentos com a demanda de compradores para o resíduo.

5.6 Bolsas de Resíduos

A geração de resíduos industriais, conforme discutido neste trabalho, representa um grande


volume de materiais que necessitam de correta destinação, portanto, a participação
governamental neste processo é de grande relevância. O incentivo por parte do governo para
que as empresas realizem a correta disposição final de seus resíduos pode acontecer de forma
legislativa, a exemplo da Lei n 12.305/2010 que estabeleceu a PNRS, mas também em forma
de incentivos, tal como as estruturas de Bolsas de Resíduos.

A Bolsa de Resíduos pode ser definida como um mecanismo que identifica os resíduos gerados
em atividades industriais, bem como um mercado consumidor adequado e incentiva o
aproveitamento dos mesmos por outras empresas, fomentando a economia circular. Por outra
forma, é um instrumento que auxilia o gerenciamento de resíduos, atuando como um banco de

42
dados dos resíduos produzidos objetivando a negociação de sub-produtos que tenham um valor
secundário àquele orginalmente proposto (Archanjo, 2008). A Figura 17 a seguir ilustra o
fluxograma simplificado de uma bolsa de resíduos.

Figura 17 - Fluxograma Simplificado Bolsa de Resíduos

Fonte - Imagem do Autor

De acordo com Silva e Pasqualetto (2008), s benefícios das Bolsas de Resíduos podem ser
atribuídos:

• às empresas vendedoras, as quais podem gerar receita após o descarte do produto,


redução do espaço de armazenamento dos resíduos, além de uma destinação correta;
• às empresas compradoras, que podem ter uma redução de custos ao adquirir um novo
bem, além de possuírem novas oportunidades de aquisição de matérias-primas e
também o desenvolvimento de tecnologia para reaproveitamento de resíduos industriais
secundários.
• ao meio ambiente: redução do desperdício pela maximização da utilização dos produtos
por tempo mais longo, redução da extração de recursos naturais devido ao
reaproveitamento dos materiais já existentes, e também a diminuição de descarte de
materiais de forma inadequada.

A participação das empresas nas Bolsas de Resíduos é feita a partir do cadastro no respectivo
programa do qual a empresa deseja participar, gratuitamente, e posteriormente, ocorre a
interação entre a empresa que deseja vender seu resíduo e a empresa que deseja adquiri-lo,
sendo a negociação livre entre as empresas e sem a participação de um intermediador. Este

43
ambiente possui objetivo de contribuir para o intercâmbio entre as empresas que geram e as que
buscam por resíduos, principalmente dentro do próprio estado, para reduzir desperdícios, custos
de produção e uso excessivo dos recursos naturais.

O grande problema enfrentado pelas Bolsas de Resíduos é a adesão das empresas para com este
serviço, apesar de poderem se beneficiar em questões ambientais e também ser lucrativo. Tal
questão pode ser devido à falta de divulgação deste serviço à empresas de menor porte, que
muitas vezes não tem conhecimento sobre a existência do mesmo. Outro empecilho é a
divulgação incompleta, por parte da empresa vendedora, da composição do resíduo que deseja
vender, bem como o estado em que se encontra, quantidade, volume, entre outros pontos que
são fundamentais para que o proponente realize a compra.

5.6.1 Bolsa de Resíduos de Minas Gerais

A bolsa de resíduos de Minas Gerais, conhecida como Bolsa de Recicláveis do Sistema FIEMG,
teve seu início em 2006, após uma tentativa falha em 1990 de criar uma bolsa de resíduos para
o estado, porém a tecnologia da época exigia documentação física, além de espaço de
armazenamento para os itens a serem vendidos. A bolsa de resíduos de Minas Gerais era filiada
ao Sistema Integrado de Bolsas de Resíduos (SIBR), contando também com a participação das
bolsas dos estados do Paraná, Bahia e Sergipe (Archanjo, 2008).

A bolsa de resíduos de Minas Gerais apresentou cerca de 350 empresas cadastradas após um
ano de sua inauguração e cerca de 1600 em 2014, sendo que cerca de 58% destas eram de
pequeno porte (1 a 30 funcionários), 15% de médio porte (31 a 60 funcionários) e 27% de
grande porte (acima de 60 funcionários). Além disso, aproximadamente 70% das empresas
cadastradas sediavam-se em Minas Gerais, 23% em São Paulo e o restante em demais estados
(Soares, 2014).

De acordo com Archanjo (2008), é relatado que o maior número de anúncios cadastrados na
plataforma foi feito pelas grandes empresas, enquanto a maioria das pequenas empresas
cadastradas são do ramo de reciclagem, em busca de matéria-prima para seu processo.
Analisando os anúncios da bolsa de resíduos de Minas Gerais, identifica-se as seguintes
porcentagens estimadas. Os dados de Soares (2014) mostram que, em Minas Gerais, houveram
67 novos cadastros em 2013, o maior número entre as bolsas cadastradas no SIBR (conforme
Figura 18 a seguir), podendo ser considerado um bom indicador de desempenho do programa,

44
mas que não reflete necessariamente na eficiência do mesmo. Além disso, em 2013, a bolsa de
Minas Gerais apresentou um número de 121.291 acessos, sendo o maior entre as participantes
do programa SIBR.

Figura 18 - Número de Novas Empresas Cadastradas no SIBR em 2013 por Estado

Fonte - Soares (2014)


Segundo Archanjo (2008), os materiais que foram anunciados na bolsa de Minas Gerais em
2007 podem ser classificados nas seguintes porcentagens, ressaltando a dominância de resíduos
sólidos urbanos, o que pode indicar uma falta de adesão por parte das indústrias que procuram
tratamento adequado para seus resíduos:

• Plásticos: 28%
• Outros (orgânicos, papéis, pilhas, vidros, borracha, etc.): 17%
• Metais: 16%
• Bens Inservíveis: 12%
• Diversos: 11%
• Químicos: 7%
• Óleos: 5%
• Madeiras: 4%

O Sistema Integrado de Bolsas de Resíduos foi desativado e, por isso, a FIEMG apresentou,
durante o Encontro de Negócios em junho de 2022, uma nova proposta para o gerenciamento
de resíduos no estado de Minas Gerais, através de uma plataforma online chamada Rede de
Negócios Sustentáveis. De acordo com as falas de Fernando Andrade, presidente da FIEMG,
na apresentação do projeto, há um grande volume de resíduos que não estão sendo

45
movimentados pois algumas indústrias ainda percebem os resíduos como o fim do processo, e
é necessário ressignificar os processos de geração e destinação de resíduos. A Rede de Negócios
Sustentáveis cobrirá todo o ecossistema da geração de resíduos, como a avaliação, negociação,
mapeamento de mercado, qualificação de operadores, gestão de estoque, rastreabilidade e
normas ambientais.

5.6.2 Bolsa de Resíduos de Santa Catarina

A Bolsa de Resíduos do Sistema FIESC (BRFIESC) foi lançada em 2004 e se encontra ativa,
sendo um portal eletrônico com a finalidade de identificar oportunidade de negócios para
resíduos. A FIESC visa promover a justa competitividade da indústria catarinense e desenvolver
o setor, de forma sustentável e inovadora, para alcançar um ambiente favorável aos negócios e
o desenvolvimento humano e tecnológico. A bolsa é um instrumento de gerenciamento de
resíduos gerados pelas atividades produtivas, fomentando a negociação livre e direta entre
demandantes e ofertantes de resíduos para reutilização ou reciclagem, através da compra, venda
e troca. O cadastro na plataforma é feito de forma gratuita (FIESC, 2022).

A plataforma digital da bolsa de resíduos de Santa Catarina apresenta uma interface que contém
os anúncios mais recentes de oferta e procura por resíduos, podendo ser feita uma pesquisa de
acordo com o interesse do usuário. Em 2021, de acordo com o Relatório Anual da FIESC,
estavam anunciadas 102,7 milhões de toneladas de resíduos por 2200 empresas do Brasil e do
exterior, com 1.572 manifestações de interesse. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (2021), o estado de Santa Catarina conta com cerca de 1,1 milhão de
empresas ativas e, até o mês de novembro de 2022, a ferramenta conta com 2231 empresas
cadastradas, aumento de 31 empresas em relação ao ano anterior, e 826 anúncios ativos,
conforme Figura 19 abaixo (FIESC, 2022).

46
Figura 19 - Plataforma da Bolsa de Resíduos do Sistema FIESC

Fonte - FIESC (2022)


A ferramenta promove diversas vantagens para as empresas participantes, como a melhora da
imagem corporativa, redução dos custos com o tratamento de resíduos, receita adicional,
diminui riscos de penalidades legais, além da correta atuação ambiental.

5.6.3 Bolsa de Resíduos do Rio de Janeiro

A bolsa de resíduos do Rio de Janeiro, nomeada de Conecta Recursos, projeto idealizado pela
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, seguindo o propósito da ferramenta,
promove um espaço de livre negociação de resíduos, podendo ser utilizados em indústrias de
portes e setores diferentes. A bolsa de resíduos da FIRJAN foi iniciada no ano de 2000, sendo
relançada em 2018 de modo digital. É objetivado pela plataforma que todos os participantes da
bolsa possam colaborar entre si através de doação, aluguel ou venda de recursos ociosos, com
ofertas, obrigatoriamente, de recursos que não estejam sendo utilizados (FIRJAN). Abaixo, a
Figura 20 ilustra o portal digital da bolsa promovida pela FIRJAN, com divisão dos resíduos
por categoria, data do anúncio, tipo de negociação e localização do resíduo negociado.

47
Figura 20 - Página do Conecta Recursos - FIRJAN

Fonte - FIRJAN, 2022


Através do portal é possível criar anúncios gratuitos para o intercâmbio de recursos entre as
empresas participantes, podendo ser anúncios de compra ou venda. Os resíduos a serem
destinados são classificados como: resíduos e matérias-primas, maquinário e equipamentos,
infraestrutura e espaço, ou logística e transporte.

Até o ano de 2011, quando a plataforma ainda não era digital, haviam sido cadastradas 443
empresas na bolsa da FIRJAN, sendo cerca de 65% dessas empresas localizadas no Rio de
Janeiro, 25% localizadas em São Paulo, e as demais, em variados estados (Guarieiro, 2015).

De acordo com Guarieiro (2015), aproximadamente 88% das empresas que forneceram sua
opinião sobre a plataforma disse que seus resíduos negociáveis estão cadastrados no banco de
dados e 60% se encontram satisfeitos com a plataforma. Dos resíduos que geraram interesse e
não estão especificados na bolsa, pode-se citar resíduos de lixas, níquel, resíduos contendo
cobre, solventes, entre outros. Os resíduos que mais foram adquiridos em 2011 foram borracha,
óleo, papel e papelão, plástico e outros, e foi verificado no mesmo ano, um montante de R$
64.147,00 comercializados através da plataforma.

Pode-se dizer que a bolsa de resíduos da FIRJAN é uma ferramenta viável para o gerenciamento
de resíduos e recursos industriais ociosos, indicando alternativas rentáveis para a destinação
dos mesmos. A criação da plataforma digital tem como objetivo suprir falhas anteriores, como
a melhoria na divulgação dos itens e maior atualização dos dados, bem como a facilidade para

48
identificar as categorias dos resíduos e a negociação entre empresas ser feita de maneira mais
ágil.

5.6.4 Bolsa de Resíduos de Goiás

A bolsa de resíduos do estado de Goiás é um projeto idealizado em conjunto pela Federação


das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa
(SEBRAE/GO), Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) e Agência
Goiana de Meio Ambiente (AGMA) e teve seu início em 2006. A plataforma tem como objetivo
a livre negociação entre as indústrias, promovendo ganhos econômicos e ambientais.

Em 2007, haviam 75 empresas cadastradas na plataforma e, dentre os resíduos anunciados,


haviam 53 anúncios de oferta e 24 anúncios de procura, sendo que os materiais com maior
interação por parte das empresas na plataforma foram plástico, metal, madeira, borracha e óleos
(Silva e Pasqualetto, 2008).

Ainda de acordo com Silva e Pasqualetto (2008), segundo uma pesquisa realizada com
empresas associadas à bolsa de resíduos de Goiás, os maiores problemas da plataforma são a
dificuldade em manusear o site, a escassez de divulgação, falta de detalhamento das condições
e quantidades dos resíduos e a atualização de dados. Além disso, a FIEG não possui acesso às
negociações concluídas devido à não permissão da plataforma, diminuindo a atuação da
organização para otimizar o processo.

Assim como a bolsa de resíduos de Minas Gerais, a plataforma de Goiás também foi desativada,
portanto, o está desamparado quanto uma política governamental que incentive a
comercialização de resíduos sólidos.

49
6 PROPOSIÇÕES

6.1 Função do Estado no Fomento À Comercialização de Resíduos Sólidos

As bolsas de resíduos estaduais são de grande importância para a comercialização de resíduos


sólidos, principalmente na atuação sobre pequenas empresas. Para tanto, se faz necessária uma
melhora estrutural na proposição das bolsas – poucos estados propõem a ferramenta, e as
plataformas ativas apresentam falhas. É necessário que os estados brasileiros tenham uma
ferramenta, intraestadual ou interestadual, capaz de incentivar a comercialização de resíduos
entre as empresas, podendo ser feitos estudos de casos das plataformas que obtiveram sucesso,
como as de Santa Catarina e Rio de Janeiro.

Além disso, os problemas enfrentados pelas bolsas de resíduos ativas, ou por aquelas que já
encerraram sua atividade devido ao grande número de obstáculos, devem ser estudados de modo
a buscarem soluções. Recomenda-se realizar estudo comparativo com bolsas de outros países,
como a IHK Recyclingbörse, da Alemanha, para que as bolsas nacionais possam contribuir com
todo seu potencial. Além disso, é recomendável uma pesquisa junto às indústrias para saber as
opiniões sobre a bolsa de resíduos, bem como fomentar a divulgação da ferramenta.

Outros fatores também são determinantes para o bom funcionamento das bolsas de resíduos, a
começar com a qualificação profissional e remuneração adequada para aqueles que trabalham
com a ferramenta, assim será possível um melhor entendimento da ferramenta, contato direto e
constante com as empresas e acompanhamento dos indicadores estatísticos. Deve ser dado, pelo
estado, suporte ativo para a efetividade da ferramenta, que existem no Brasil há mais de 20 anos
e, mesmo com a migração para a plataforma digital, ainda apresenta uma adesão baixa das
empresas, divulgação insuficiente e pouca eficiência na conclusão das negociações.

6.2 Integração de Empresas Para a Comercialização de Resíduos Sólidos

Analisando o cenário nacional sobre destinação de resíduos, percebe-se que a comercialização


de resíduos é feita por uma pequena parcela das empresas - em Santa Catarina, apenas 2% das
empresas ativas no estado estão cadastradas na bolsa de resíduos FIESC (IBGE, 2021).
Iniciativas de venda de resíduos são interessantes para as empresas que realizam as vendas, mas
também para as empresas que adquirem os produtos. Sendo assim, é importante que a interface
entre as bolsas de resíduos e as empresas seja fortalecida, iniciativa que deve partir das próprias
interessadas no bom funcionamento da plataforma.

50
A comercialização dos resíduos não precisa ser feita, necessariamente, através das plataformas
de bolsas de resíduos, como é o caso da Vale S.A., que é a própria proponente da venda de seus
resíduos. Assim, seria interessante que as empresas tenham maior intercâmbio de informações
sobre a destinação de resíduos, criando uma rede de contatos e aprendizados para a melhoria
desta demanda. No caso de grandes empresas que já realizam o processo de destinação
sustentável de resíduos através da comercialização, pode ser feita a orientação para empresas
de menor porte, através de estudos de casos e avaliação comparativa, para que estas sejam
capazes de realizar a comercialização de seus produtos ociosos ou em fim da vida-útil.

7 CONCLUSÃO

Conforme discutido neste trabalho, o gerenciamento de resíduos sólidos é importante em todas


as esferas da sociedade, sendo necessário a correta destinação por parte dos geradores e medidas
mitigatórias advindas dos órgãos governamentais. O estudo apresentou formas de destinação
sustentável realizadas pela Vale S.A. que, além de ambientalmente adequadas, geram receita
complementar para a empresa, para as comunidades impactadas por ela e para a economia local.

A estratégia adotada pela empresa é a logística reversa, na qual a vida do produto não é
finalizada após o seu uso ou consumo, mas serve de matéria prima ou insumo para uma nova
cadeia produtiva, evitando descarte de materiais que ainda possuem valor e a extração de novas
matérias-primas da natureza. Ademais, o processo de destinação de resíduos da Vale S.A.
apresenta outras vantagens como a redução dos estoques de produtos ociosos, evolução nos
indicadores de sustentabilidade e redução dos custos operacionais. As informações trazidas
neste estudo mostram que a Vale S.A. está buscando novas tecnologias e investindo em
iniciativas para otimizar seu processo de destinação sustentável de resíduos, visando equilíbrio
nas esferas social, ambiental e econômica.

É importante que as grandes empresas nacionais se engajem na melhoria dos processos de


destinação de resíduos, se tornando exemplo para outras empresas de menor porte que podem
replicar os modelos de destinação. Além disso, foram apresentadas propostas governamentais
que fomentam a comercialização de resíduos, através da logística reversa, que atende diversas
empresas em seus estados de forma gratuita.

51
Percebe-se que a iniciativa de bolsa de resíduos apresenta problemas, principalmente sobre
bolsas de grandes estados geradores de resíduos industriais, como Minas Gerais e Goiás,
estarem com a ferramenta desativada. Entre as bolsas de resíduos em funcionamento no
presente momento, percebe-se obstáculos quanto a utilização da ferramenta, entre eles a
divulgação da ferramenta entre as empresas, suporte àqueles que desejam informações da
plataforma, dificuldade de empresas em utilizar a formato digital e acesso à informação precisa
dos produtos anunciados.

Sendo assim, a comercialização de resíduos sólidos industriais se mostra efetiva como forma
de destinação sustentável se feita de maneira correta, ainda sendo necessárias grandes mudanças
para a eficiência do processo.

52
REFERÊNCIAS

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