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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CURSO

DE DIREITO

Estatuto do Estrangeiro Requerente de Asilo e Refugiado em


Angola

Autor: José Domingos de Oliveira Cadete

Luanda - 2022
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CURSO
DE DIREITO

Estatuto do Estrangeiro Requerente de Asilo e Refugiado em


Angola

Autor: José Domingos de Oliveira Cadete

Luanda – 2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4

DESENVOLVIMENTO ........................................................................................................ 5

1. Noção de direito de asilo e de refugiado ........................................................................... 5

2. O estatuto do estrangeiro requerente de asilio: aspectos gerais......................................... 6

2. 1. Fundamentos para a Concessão do Direito de Asilo ..................................................... 6

2.2. Direitos e Limitações dos Requerentes de Asilo ............................................................ 7

2.3. Entidades Administrativas Intervenientes no Procedimento de Concessão de Direito de


Asilo ...................................................................................................................................... 8

2.4. Processo Angolano de Concessão de Direito de Asilo ................................................... 8

2.4.1. Processos de Natureza Geral ....................................................................................... 8

2.4.2. Processos de Natureza Especial ................................................................................... 9

2.5. Direitos e deveres dos refugiados em Angola ............................................................. 10

2.6. Cessação e perda do estatuto de refugiado ................................................................... 11

CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 12

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 13


INTRODUÇÃO
Pretende-se com este trabalho abordar o estatuto do estrangeiro requerente de asilo e
refugiado em Angola, à luz da Lei n.º 10/15 de 17 de Junho, Lei sobre o Direito de Asilo e
o Estatuto do Refugiado de Angola.

Os direitos humanos são uma realidade que reclama protecção por parte de todos os
Estados, de tal modo que, em caso de violação ou fortes ameaças de violação de direitos dos
indivíduos, estes poderão procurar protecção noutros países por forma a assegurar ou
garantir a respeitabilidade dos seus direitos que se encontram em perigo de violação. Os
indivíduos forçados a fugir dos seus países por aí não encontrarem protecção ou segurança
contra a perseguição ou violência, denominam-se refugiados. Esta protecção efectiva-se
mediante procedimento destinado a determinar se em determinadas circunstâncias o
requerente de asilo deve beneficiar de protecção, em atenção aos fundamentos estabelecidos
na legislação interna de cada Estado.

Cada Estado define procedimentos de concessão de asilo ao abrigo da sua soberania, através
de padrões distintos, nomeadamente definidos pelas respectivas constituições, bem como
pelos respectivos contextos sócio-políticos. Deste modo, o objecto da nossa apreciação
restringe-se à análise do estatuto do estrangeiro requerente de asilio e refugiado no
ordenamento jurídico angolano.

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DESENVOLVIMENTO

1. Noção de direito de asilo e de refugiado


O direito ao asilo é um direito humano, cuja fundamentação está intrinsecamente ligada
à ideia de segurança do indivíduo em relação a situações de violação ou fortes possibilidades
de violação dos seus direitos humanos. Nesta perspectiva, os indivíduos cuja segurança
esteja em risco, não querendo ou não podendo encontrar protecção nos respectivos países de
origem ou residência, são forçados a abandoná-lo e procurar protecção noutros países.

Conforme referem Moreira, Vital e outros, “a convenção de Genebra relativa ao estatuto


dos refugiados define o refugiado como a pessoa que, se encontrando fora do país da sua
nacionalidade ou da sua residência habitual, tem o receio fundado de ser perseguido em razão
da sua etnia, religião, nacionalidade, filiação em determinado grupo social ou das suas
opiniões políticas, e que não pode ou não quer a protecção deste país, assim como aí
regressar, devido ao medo de perseguição”.

As questões atinentes aos refugiados são objecto de protecção e regulação, quer no


plano interno dos diferentes países, quer no plano internacional, sendo que os principais
instrumentos de regulação no panorama internacional são, entre outros, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Convenção de Genebra Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951, o Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados de 1967, e a
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos dos Indivíduos que Não São
Nacionais dos países em que vivem, de 1985.

Tais instrumentos, constituem, na generalidade, a base para a construção dos regimes


jurídicos internos dos Estados, em matéria de refugiados, que têm como função a criação de
normas jurídicas procedimentais que assegurem a efectiva aplicação destes diplomas
internacionais, assim como reafirmar as disposições materiais estabelecidas nos
instrumentos internacionais de que sejam partes.

Em Angola, as matérias sobre refugiados e concessão de direito de asilo é regulada na


respectiva constituição e legislação específica, no caso a lei acima mencionada.

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2. O estatuto do estrangeiro requerente de asilio: aspectos gerais
As normas angolanas reguladoras dos direitos dos asilados e processo de concessão de
direito de asilo decorrem, conforme referido no ponto anterior, dos tratados internacionais
sobrea matéria, de que Angola é parte.

Internamente, a Constituição da República de Angola de 2010, no seu artigo 71.º, garante


aos estrangeiros e apátridas o direito de asilo em caso de perseguição por motivos políticos,
nos termos estabelecidos na Lei e nos instrumentos internacionais reguladores da matéria.
Ademais, é proibida a expulsão de estrangeiros que residam legalmente em Angola ou que
tenham pedido asilo, a não ser por decisão judicial ou revogação fundamentada da
autorização nos termos da lei, como se prevê no n.º 4 do artigo 70.º da Constituição. Noutros
termos, a expulsão de estrangeiros residentes ou requerentes de asilo em Angola está
subtraída do poder discricionário dos Órgãos da Administração Pública, que apenas poderão
fazê-lo nos casos estritamente determinados por lei, ou mediante decisão prévia dos
Tribunais.

2. 1. Fundamentos para a Concessão do Direito de Asilo


Consideram-se fundamentos para a concessão do direito de asilo as condições que o
Requerente de asilo deverá reunir para que lhe seja concedido o direito de asilo. Neste
particular, a legislação angolana transporta para o regime interno as disposições da
Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, isto é, no seu
artigo 1.º, e da Convenção da Organização de Unidade Africana que rege os aspectos
específicos dos problemas dos refugiados em África de 1969, isto é, no seu artigo I.

Assim sendo, nos termos do disposto no artigo 5.º da Lei n.º 10/15, de 17 de Junho,
sobre o Direito de Asilo e Estatuto do Refugiado, podem beneficiar do direito de asilo as
pessoas que tenham abandonado e não queiram ou não possam regressar ao seu país de
nacionalidade ou residência habitual, em função de:

• Perseguição ou grave ameaça de perseguição em consequência de actividades


desenvolvidas no estado de nacionalidade ou residência habitual, em prol da
democracia, paz, liberdade ou dos direitos humanos;

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• Perseguição ou receio fundado de perseguição em razão da sua raça, nacionalidade,
religião, opinião política ou pertença a determinado grupo social;

• Ocorrência de agressões, ocupações ou dominações externas ou acontecimentos que


perturbem a ordem pública na totalidade ou parte do país de nacionalidade ou
residência habitual;

• Ocorrência de violência indiscriminada em situação de conflitos armados ou


violações generalizadas e indiscriminadas de direitos humanos;

• Ocorrência de calamidades naturais.

Nos termos do diploma normativo angolano em análise, podem também ser atribuídos
direitos de asilo a pessoas sob mandato do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR).

Entretanto, em determinados casos, apesar de o requerente reunir os requisitos/fundamentos


supra, não lhe será concedido o direito de asilo, nos casos em que se verificar contra si algum
factor impeditivo previsto no artigo 6.º da Lei.

2.2. Direitos e Limitações dos Requerentes de Asilo


Nos termos da legislação angolana sobre o estatuto dos refugiados, os requerentes de asilo
dispõem de determinados direitos, tais como o direito à informação sobre os seus direitos e
deveres, permanência temporária no território nacional de Angola, intérprete, assistência
judiciária, preservação da unidade familiar, saúde, alojamento e alimentação, previstos nos
artigos 22.º a 28.º da Lei n.º 10/15 de 17 de Junho, sobre o Direito de Asilo e o Estatuto do
Refugiado.

Entretanto, apesar de disporem dos direitos supra referidos, impendem sobre os requerentes
de asilo, as obrigações gerais de respeito pela legislação e autoridades do Estado Angolano,
bem como obrigações e limitações específicas relativas à sua condição de requerente de
asilo, as quais consistem em não se ausentar dos Centros de Acolhimento de
Refugiados e Requerentes de Asilo, para aqueles que nele residam, sem a prévia autorização
do administrador, o que constitui uma limitação ao direito de circulação , bem como

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informar sobre a respectiva residência em caso de os mesmos não pretenderem residir nos
Centros de Acolhimento de Refugiados e Requerentes de Asilo.

Outrossim, os requerentes de asilo não podem exercer actividade profissional remunerada,


excepto se por altura da apresentação do pedido de asilo já beneficiarem de autorização de
residência à luz do regime jurídico geral dos estrangeiros.

2.3. Entidades Administrativas Intervenientes no Procedimento de Concessão de


Direito de Asilo
A instância administrativa do processo de concessão do direito de asilo reserva a intervenção
de essencialmente dois órgãos, o Ministério do Interior, enquanto autoridade migratória, e o
Conselho Nacional para os Refugiados (abreviadamente CNR).

O Ministério do Interior é a autoridade migratória de Angola e intervém no processo


quer na fase de instrução, quer na fase de decisão, uma vez que, nos termos da lei, é a
entidade com competência para deferir ou indeferir os pedidos de asilo.

O Conselho Nacional para os Refugiados é um órgão multissectorial de natureza


consultiva, a quem incumbe apreciar todos os processos de aquisição ou perda do direito de
asilo, devendo emitir propostas fundamentadas para a concessão ou recusa de concessão de
direito de asilo, que são remetidas à autoridade migratória para efeitos de decisão.

2.4. Processo Angolano de Concessão de Direito de Asilo


Da análise que se faz à lei n.º 10/15 de 17 de Junho, sobre o Direito de Asilo e Estatuto dos
Refugiados, podemos surpreender quatro tipos de processo, dos quais dois gerais e dois
especiais.

2.4.1. Processos de Natureza Geral


Os processos de natureza geral são os aplicáveis à generalidade das solicitações de asilo,
sendo compostos por quatro fases:

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• Fase da iniciativa

Esta fase tem início com a chegada do requerente de asilo à fronteira ou território angolano
e a apresentação verbal ou escrita, às autoridades angolanas, do pedido de asilo. A
apresentação do pedido de asilo produz a suspensão de qualquer procedimento
administrativo ou criminal decorrente de infracções migratórias, bem como habilita o
requerente a permanecer temporariamente no território angolano.

Depois de registados à entrada, os requerentes de asilo são encaminhados para os centros de


acolhimento de refugiados e requerentes de asilo.

• Fase da instrução

Nesta, a autoridade migratória desencadeia um conjunto de actividades ou diligências


conducentes à comprovação da veracidade dos factos essenciais à decisão de concessão ou
recusa do direito de asilo. A instrução integra a entrevista, bem como outras diligências que
se afigurem necessárias para averiguação dos factos relevantes para a decisão, devendo ter
uma duração de 30 dias nos processos ordinários e 15 dias nos processos de tramitação
célere. Da actividade instrutória lavrar-se-á relatório, que é remetido com o processo para
efeitos de análise.

• Fase da análise

Efectuadas as diligências probatórias, o processo é remetido para o CNR para efeitos de


análise e elaboração de uma proposta de decisão que é remetida para a entidade competente,
no caso a autoridade migratória, para os devidos efeitos.

• Fase da decisão

Nesta, o órgão administrativo competente, no caso, a autoridade migratória, profere uma


decisão de deferimento ou indeferimento do pedido de asilo, a qual deverá ser notificada ao
destinatário no prazo de 72 horas.

2.4.2. Processos de Natureza Especial


Os processos de natureza especial, contrariamente aos processos de natureza geral, são
aplicáveis a situações concretamente determinadas na lei. Nesta perspectiva, encontramos

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doisprocessos especiais, nomeadamente, concessão de estatutos de refugiados em larga
escala e o procedimento de reinstalação de refugiados sob mandato do ACNUR.

O processo de concessão de estatutos de refugiados em larga escala, é aquele em que,


verificadas determinadas condições estabelecidas na lei, o Titular do Poder Executivo poderá
conceder protecção temporária a cidadãos de países fronteiriços em relação à Angola.

Outrossim, a lei prevê igualmente o processo de reinstalação de refugiados sob mandato do


Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o qual consiste no
reconhecimento do direito de asilo na República de Angola a refugiados sob a vanguarda do
ACNUR, por decisão da Entidade Migratória de Angola, mediante solicitação do ACNUR.

2.5. Direitos e deveres dos refugiados em Angola


Com base nos artigos 35.º a 43.º da Lei n.º 10/15, de 17 de junho (Lei sobre o direito de asilo
e estatuto do refugiado), os refugiados em Angola gozam dos seguintes direitos:

a) Direito à identificação (art. 35.º);


b) Direito à autorização de residência temporária;
c) Direito à documento de viagem;
d) Direito à educação (art. 38.º);
e) Direito ao trabalho (art. 39.º);
f) Direito ao alojamento (art. 40.º);
g) Direito à liberdade de circulação (art. 41.º);
h) Direito de acesso à justiça (art.42.º).

Por sua vez, os artigos 44.º, 45.º e 46.º da mesma lei, referem que os refugiados têm o dever
de:

a) Respeitar as leis e as autoridades angolanas (art. 44.º);


b) Informar sobre o seu domicílio e sua situação social (art. 45.º);
c) Restringir a sua circulação, no caso de viver no centro de acolhimento (art. 46.º).

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2.6. Cessação e perda do estatuto de refugiado
Na esteira do n.º 1 do artigo 47.º da lei n.º 10/15 de 17 de Junho, sobre o Direito de Asilo e
Estatuto dos Refugiados, o estatuto do refugiado cessa quando:

a) Tenha cometido um crime fora de Angola após ter-lhe sido concedido o estatuto de
refugiado;
b) Voluntariamente se reaproveitou da protecção de seu país de nacionalidade;
c) Tendo perdido a sua nacionalidade, a readquiriu voluntariamente;
d) Adquiriu uma nova nacionalidade e goza de protecção do país de sua nova
nacionalidade;
e) Voluntariamente se reestabeleceu no país que deixou ou fora do qual permaneceu
devido a temor de perseguição;
f) Já não pode recusar a protecção do país de sua nacionalidade nas circunstâncias em
que as razões pelas quais foi reconhecido como refugiado, deixarem de existir;
g) Sendo uma pessoa que não possui nacionalidade, se encontra, porque as razões pelas
quais foi reconhecido como refugiado deixarem de existir, capaz de voltar ao país de
residência habitual anterior;
h) Permanecer injustificadamente fora do território nacional por período superior a seis
meses;
i) Violar os deveres do refugiado estabelecido no n.º 1 do artigo 45.º.

O artigo 48.º da lei n.º 10/15 de 17 de Junho, sobre o Direito de Asilo e Estatuto dos
Refugiados, estabelece que o refugiado perde o seu estatuto quando:

• Tenha obtido o seu estatuto com base em informações incorrectas ou falsas, ou que
o tenha obtido deturpando ou omitindo facto, incluindo a utilização de documentos
falsos, decisivos para se beneficiar do estatuto de refugiado;
• Tenha cometido o crime previstos no artigo 6.º da lei acima citada, por exemplo,
crime de guerra.

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CONCLUSÃO

Aqui chegado, importa salientar que as construções normativas dos Estados relativas ao
estatuto dos estrangeiros requerentes de asilio e refugiados variam de acordo com os seus
valores, nomeadamente a vontade política dos governos, bem como os contextos sociais
vividos em cada um dos países. Os aspectos citados originam a que sistemas com uma
mesma base ou origem comum tenham desenvolvimentos diferenciados na aplicação interna.
Na presente pesquisa, tratamos de navegar na ordem jurídica angolana, a fim de saber como
Angola desenhou o estatuto do estrangeiro requerente de asilio e refugiado em Angola.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951;


• Convenção da Organização de Unidade Africana que rege os aspectos específicos
dos problemas dos refugiados em África de 1969;
• Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950;
• Angola, Constituição da República, 2010;
• Angola, Lei N.º 10/15 de 17 de Junho;

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