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Resenha crítica

Identificação da obra:

GARDNER, Howard. Inteligência Musical. In: ______. Estruturas da Mente: a teoria das
inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 1994. p. 78-99.

Apresentação da obra:

O texto Inteligência Musical faz parte de uma obra maior, Estruturas da Mente, na qual o autor,
Howard Gardner, propõe-se a apresentar aquela que denominou Teoria das Inteligências Múltiplas.
No referido texto, o autor aborda de forma específica a inteligência musical, a inteligência que,
segundo ele, desponta como um aspecto primonato em alguns indivíduos.

Estrutura do texto:

O texto em questão se subdivide em sete partes, a saber, Composição, Os Componentes da


Inteligência Musical, O desenvolvimento da Competência Musical, Facetas Evolutivas e
Neurológicas da Música, Talentos Musicais Incomuns, Relação Com Outros e Componentes
Intelectuais. Com base nessa subdivisão, o autor tenta construir sua argumentação em relação ao
surgimento e ao desenvolvimento da inteligência musical do/no ser humano.

Descrição do conteúdo:

Gardner inicia seu texto ressaltando que, dos talentos com os quais os indivíduos podem ser dotados,
nenhum surge mais cedo do que o talento musical. Afirma, ainda, que a despeito da existência de
diversas especulações em torno do tema, a questão da natureza do talento musical ainda permanece
em aberto, carecendo, portanto, de maiores estudos.

Prossegue sua construção expositiva mostrando que, embora seja possível notar uma forte influência
musical familiar e cultural na vida de grandes músicos – Bach, Mozart, por exemplo –, o caso de
outros ainda necessitaria de outra justificativa, o que, segundo o autor, possibilita-nos cogitar a
existência de um talento central herdado. Ainda nessa direção, contudo, continua dizendo que, de
forma geral, o talento musical costuma se desenvolver em condições que mesclem fatores culturais e
biológicos.

Em seguida, parte para uma análise de aspectos específicos da música e busca, de forma sucinta,
analisar o processo de composição, os componentes da inteligência musical, o desenvolvimento da
competência musical, as facetas evolutivas neurológicas da música, os talentos musicais incomuns, a
relação com outras inteligência, entre outros. Toda a análise tecida pelo autor, alinha-se à necessidade,
ainda latente, de deslindar os meandros da temática.
Analise crítica:

O texto de Gardner é escrito de forma clara e organizada; qualidade que permite ao leitor uma
compreensão alva a respeito do conhecimento que tem sobre o tema. Resguarda, não obstante, aquela
que chamaríamos de análise demasiada com foco no produto. Pois, dando valor elevado ao produto
e, assim, detratando o processo, o autor acaba por fazer uma análise estática, e não dinâmica do
fenômeno. Uma análise que acaba, por vezes, colocando o fenômeno em estudo como postulado, não
buscando compreender sua origem, sua formação e seu desenvolvimento; como se o talento musical,
com todos os seus atributos, não tivesse subjacente a si um longo e complexo processo de
constituição.

Alinhado ao referencial teórico que adota, o autor constrói seu estudo com base na epistemologia
genética de J. Piaget, fazendo apropriações de seus fundamentos teóricos à música. Exemplos como
os da página 89 – onde o autor tenta categorizar algumas propriedades do talento musical com base
em estágios de desenvolvimento similares aos do construtivismo –, e também os das páginas 80, 81
e 86 – onde busca relacionar aspectos biológicos e culturais no processo de desenvolvimento humano
– são demonstrações de seu pareamento piagetiano.

Por tratar a questão da musicalidade e do talento musical como algo possivelmente vinculado ao fator
biológico herdado de cada indivíduo (p. 89), denominando-o, por vezes, como “dom” (p. 78), o autor
incorre no risco de reforçar as ideias inatistas – profundamente arraigadas no senso comum –, que
fazem da música ou do talento musical uma capacidade herdada da natureza ou de alguma divindade,
que é, portanto, furtada à maioria dos indivíduos. Tal ideia pouco ou nada tem a corroborar para as
necessidades da educação musical, que, em proposição veementemente antagônica, busca fazer da
música um bem acessível a todos, independentemente de quaisquer outros fatores. Apesar de sua
frequente recorrência aos fatores de ordem social (p. 80-81), a ênfase biológica que o autor dá ao
talento musical, acaba preterindo uma maior validade dos aspectos relativos ao que é advindo das
relações culturais.

Um aspectos positivo a ser notado no final do texto diz respeito ao espaço que reserva ao tratar da
relação que o talento musical tem com outras competências. Ao apontar para essa direção, o autor
demonstra que a função psíquica que se responsabiliza pela área musical não atua de forma isolada,
mas que, pelo contrário, pode exercer influência direta ou indireta com outras potencialidades
humanas.

Recomendações da obra:
Imerso em um ambiente fortemente influenciado por um viés psicológico que ressaltava o Quociente
de Inteligência (QI) – que reconhecia como inteligência do homem apenas as capacidades
matemáticas e linguísticas – Gardner traz uma nova forma de se pensar a inteligência humana,
avaliando-a de forma muito mais ampla e democrática, fato que torna sua obra algo notável e digna
de ser reconhecida e estudada.

Identificação do autor:
Howard Gardner é um psicólogo cognitivo e educacional estadunidense, ligado à Universidade de
Harvard e conhecido em especial pela sua teoria das inteligências múltiplas. Em 1981 recebeu prêmio
da MacArthur Foundation. Em 2011 foi galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias das Ciências
Sociais. Famoso pelo livro Estruturas da Mente, de 1983, em que ele descreve sete dimensões da
inteligência (inteligência visual/espacial, inteligência musical, inteligência verbal, inteligência
lógica/matemática, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal e inteligência
corporal/cinestética), Gardner aparece como uma figura de destaque para os campos da psicologia e
educação.

Identificação
Rafael Beling é aluno do programa de pós-graduação do Instituto de Arte da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), onde desenvolve pesquisas nos campos da educação musical e psicologia
da educação.

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