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A lei ou a Graça?

"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie; pois somos feitura sua, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas."
(Efésios 2:8-10)

"τῇ γὰρ χάριτί ἐστε σεσῳσμένοι διὰ πίστεως" (pela graça sois salvos por meio da fé):
"χάριτί" (chariS) significa "graça", referindo-se à graça de Deus. "σεσῳσμένοι"
(sesōsmenoi) significa "sois salvos", indicando que a salvação é um ato realizado por
Deus. "πίστεως" (pisteōs) significa "fé", representando a confiança e a crença no
sacribcio de Jesus Cristo.

"καὶ τοῦτο οὐκ ἐξ ὑμῶν, θεοῦ τὸ δῶρον" (e isto não vem de vós, é dom de Deus): "ἐξ
ὑμῶν" (ex hymōn) significa "de vós", indicando que a salvação não é alcançada por meio
de esforços humanos. "θεοῦ" (theou) significa "de Deus", ressaltando que a salvação é
um presente dado por Deus.

"οὐκ ἐξ ἔργων, ἵνα μή τις καυχήσηται" (não vem das obras, para que ninguém se glorie):
"ἐξ ἔργων" (ex ergōn) significa "das obras", enfaSzando que a salvação não é alcançada
por meio de obras ou méritos humanos. "καυχήσηται" (kauchēsētai) significa "se glorie",
destacando que ninguém pode se orgulhar ou vangloriar de sua própria salvação.

A liberdade cristã está enraizada na obra redentora de Jesus na cruz, onde Ele cumpriu
todas as exigências da lei e nos libertou do jugo da escravidão. A graça de Deus é um
presente imerecido que nos concede a salvação, não com base em nossas obras ou
capacidades, mas por meio da fé em Jesus. Hoje, gostaria de abordar um assunto
importante que tem surgido entre nós: a crescente influência daqueles que afirmam que
a observância dos preceitos judaicos é necessária para a nossa salvação. No entanto, as
Escrituras nos fornecem clareza sobre esse assunto.

Começando pela Epístola aos Gálatas 3:1, onde o apóstolo Paulo expressa sua
incredulidade com o desvio dos gálatas do verdadeiro evangelho. Ele os chama de
"insensatos" e pergunta quem os fascinou. Paulo argumenta veementemente que a
salvação não é alcançada pela observância da lei, mas sim pela fé em Jesus Cristo, que
foi exposto como crucificado diante de seus olhos.

O termo original grego para "insensatos" é "ἀνόητοι" (anoētoi). Esse termo é usado por
Paulo para expressar sua incredulidade em relação aos gálatas que estavam se desviando
do verdadeiro evangelho. A palavra "ἀνόητοι" denota falta de entendimento, falta de
sabedoria ou tolice, transmiSndo a ideia de que os gálatas estavam agindo de forma
insensata ao abandonar a fé em Jesus Cristo e se voltar para a observância da lei judaica.

Em Gálatas 5:1, Paulo nos lembra da liberdade que temos em Cristo: "Para a liberdade
foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos sujeiteis novamente a um
jugo de escravidão." Essas palavras nos mostram que a nossa salvação é baseada na
graça de Deus, e não em nossa capacidade de cumprir a lei. Somos libertos do jugo da
escravidão da lei por meio do sacribcio de Cristo na cruz.

O termo original grego para "libertou" é "ἐλευθερόω" (eleutheroó). Esse termo significa
libertar, tornar livre, soltar das amarras ou da escravidão. No contexto do versículo, o
apóstolo Paulo está enfaSzando que foi por meio de Cristo que os crentes foram libertos
do jugo da escravidão, referindo-se à libertação da necessidade de cumprir a lei para
alcançar a salvação. Ele destaca que a liberdade é um resultado direto do trabalho
redentor de Cristo na cruz.

Além disso, a Palavra de Deus nos ensina em Romanos 3:20: "Visto que ninguém será
jusSficado diante dele por obras da lei [...]." A jusSficação diante de Deus não é
alcançada pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo. É pela graça de Deus que somos
salvos, e não pelas nossas próprias realizações ou observância de rituais.

O termo original grego para "jusSficado" é "δικαιόω" (dikaioó). Esse termo significa
declarar justo, absolver, ser considerado justo ou ser tornado justo diante de Deus. No
contexto do versículo, Paulo está argumentando que ninguém será considerado justo
diante de Deus pelas obras da lei, mas através da fé em Jesus Cristo. Ele enfaSza que a
jusSficação diante de Deus não é alcançada por méritos pessoais ou cumprimento da lei,
mas sim pela fé na obra redentora de Cristo.

No contexto dos debates do início da igreja, ficou claro que os genSos converSdos ao
crisSanismo não precisavam adotar toda a lei judaica para serem salvos. A decisão
tomada no concílio de Jerusalém, conforme registrado em Atos dos Apóstolos (Atos
15:19–21), estabeleceu que a fé em Jesus era suficiente para a salvação, sem a
necessidade de circuncisão ou observância completa da lei.

O pano de fundo era: O apóstolo Paulo e Barnabé estavam realizando um trabalho


missionário entre os genSos e pregavam a salvação por meio da fé em Jesus Cristo, sem
exigir a observância de toda a lei judaica. No entanto, alguns judaizantes (cristãos que
acreditavam que os genSos deveriam adotar a lei judaica) discordaram dessa abordagem
e argumentaram que a circuncisão era necessária para a salvação. Diante dessa
controvérsia, os líderes da igreja primiSva em Jerusalém, incluindo os apóstolos Pedro e
Tiago, realizaram um concílio para discuSr e tomar uma decisão sobre essa questão.
Durante o concílio, houve um debate entre Pedro, Paulo e Barnabé, além de outros
líderes da igreja. No final, Tiago, considerado o líder da igreja em Jerusalém, apresentou
uma decisão que foi aceita por todos os presentes. Foi decidido que os genSos
converSdos ao crisSanismo não precisavam se circuncidar nem observar toda a lei
judaica, mas foram aconselhados a se absterem de práScas imorais, da idolatria, da
carne sufocada e do sangue. Essas restrições foram estabelecidas para promover a
unidade e a comunhão entre judeus e genSos na igreja primiSva.

Essa decisão foi muito significaSva, pois abriu o caminho para a expansão do crisSanismo
entre os genSos e trouxe maior clareza sobre a relação entre a fé cristã e as tradições
judaicas.
Isso não significa que o AnSgo Testamento e suas leis perderam seu valor ou relevância.
Pelo contrário, eles encontram seu cumprimento e senSdo pleno em Jesus Cristo. O
crisSanismo reconhece a importância e a validade das Escrituras do AnSgo Testamento,
mas entende que o plano de salvação foi revelado e realizado em Jesus. Em suma, a
graça de Deus e a fé em Jesus Cristo são fundamentais para a salvação no crisSanismo.

A observância da lei judaica não é um requisito para a salvação. A Carta aos Hebreus nos
ensina sobre a superioridade do sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio levíSco.
Jesus é nosso sumo sacerdote perfeito, e por meio dele temos acesso direto a Deus. A
obra de Cristo na cruz aboliu a necessidade dos sacribcios e rituais da lei. Em Colossenses
2:16-17, Paulo nos exorta a não deixar que ninguém nos julgue por questões de
alimentos, fesSvais, luas novas ou dias de descanso, pois essas coisas são apenas
sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, é Cristo.

"Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de
festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo
é de Cristo."

Gálatas 4:10-11, a passagem diz o seguinte:

"Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em
vão para convosco."

Nesse contexto, Paulo está repreendendo os Gálatas por retornarem a práScas judaicas
legais, como a observância de dias especiais, meses, festas e anos judaicos, como o
sábado, fesSvais e cerimônias. Ele os adverte de que, ao se envolverem nessas práScas,
eles estão perdendo de vista a liberdade que têm em Cristo e estão voltando para um
sistema de jusSça baseado em obras e rituais. O termo original grego para "em vão" é
"εἰκῇ" (eikē). Esse termo denota algo feito sem propósito, sem razão válida ou sem
proveito.

Paulo enfaSza que a salvação vem pela fé em Jesus Cristo, não pela observância de rituais
e práScas religiosas. Ele teme que seu trabalho em lhes ensinar a verdade do evangelho
esteja sendo em vão, se eles voltarem a depender dessas práScas como meio de
jusSficação diante de Deus. Portanto, ele exorta-os a permanecerem firmes na graça e
liberdade que têm em Cristo.

Exemplo de algumas práScas judaizantes mencionadas no contexto do Novo Testamento


incluem:

• Circuncisão: A circuncisão era uma práSca disSntamente judaica, na qual o


prepúcio masculino era removido como sinal da aliança entre Deus e o povo de
Israel. Alguns judaizantes acreditavam que a circuncisão era necessária para a
salvação dos genSos converSdos ao crisSanismo.
• Observância dos dias sagrados: Isso incluiria a observância do sábado judaico
(séSmo dia da semana), bem como fesSvais e celebrações religiosas
estabelecidas na lei judaica, como a Páscoa, Pentecostes, Festa dos Tabernáculos,
entre outros.
• Restrições alimentares: A lei judaica estabelecia várias restrições alimentares,
como a proibição de consumir certos Spos de carne (por exemplo, carne de
porco) e a exigência de seguir práScas específicas de abate de animais para
consumo. *
• PráScas rituais de purificação: Isso incluiria rituais de purificação, como lavagens
rituais e outras práScas de purificação estabelecidas pela lei judaica.

*A culinária casher é um conjunto de práScas alimentares seguidas pelos judeus que se


baseiam nas leis dietéScas judaicas, conhecidas como kashrut. Essas leis estabelecem as
regras e restrições relacionadas aos alimentos que podem ser consumidos.

As principais diretrizes da culinária casher incluem:

1. Separar carne e laScínios: Os alimentos de origem animal são divididos em carne


e laScínios, e não devem ser consumidos ou preparados juntos. Isso inclui evitar
a mistura de produtos como carne com queijo, leite com carne, entre outros.
2. Animais permiSdos: A carne de animais permiSdos deve ser abaSda de acordo
com os rituais específicos da lei judaica, conhecido como shechitá**. Os animais
devem ser saudáveis e não podem ser predadores ou possuir anomalias
específicas.
3. Carnes e aves não permiSdos: Alguns animais são considerados não casher e não
podem ser consumidos, como porcos, coelhos, camelos e mariscos. Aves como
águias, corvos e avestruzes também são proibidas.
4. Peixes permiSdos: Os peixes devem ter barbatanas e escamas para serem
considerados casher. Peixes como salmão, atum e bacalhau são exemplos de
peixes casher.
5. Produtos derivados de animais: Existem restrições sobre o consumo de produtos
derivados de animais, como gelaSna feita de fontes não casher, produtos com
corante de cochonilha (inseto) e gordura animal não processada.
6. Separar utensílios: Utensílios de cozinha usados para preparar carne não devem
ser uSlizados para preparar alimentos laScínios, e vice-versa. Isso inclui panelas,
pratos, talheres e outros utensílios.
7. Frutas, legumes e grãos: Frutas, legumes e grãos são considerados casher, desde
que sejam verificados quanto a possíveis insetos e lavados adequadamente.

**As regras de abate casher, conhecidas como shechitá, são um conjunto de diretrizes e
práScas específicas para o abate de animais permiSdos na culinária judaica. Essas regras
garantem o cumprimento das leis dietéScas judaicas (kashrut) e são realizadas por um
profissional treinado e qualificado, conhecido como "shochet".

Aqui estão algumas das principais regras do abate casher:

1. Afiação da faca: A faca uSlizada para o abate casher deve ser afiada de forma
precisa, sem qualquer imperfeição, garanSndo um corte limpo e rápido.
2. Rituais de abate: O shochet deve realizar um ritual específico antes do abate, que
inclui a recitação de bênçãos e a intenção de cumprir as leis de abate casher.
3. Degolação: O abate casher envolve a degolação rápida e precisa da garganta do
animal com um corte único e afiado, de forma a cortar a traqueia, o esôfago, as
artérias e veias principais, causando uma perda rápida de consciência e morte
iminente. Esse método visa minimizar o sofrimento do animal.
4. Inspeção do animal: Após o abate, o animal é examinado para verificar se não
possui defeitos ou doenças que o tornariam não apto para consumo casher.
5. Drenagem de sangue: Após o abate, o sangue do animal é drenado
completamente. A remoção adequada do sangue é uma das principais
preocupações nas leis dietéScas judaicas.

Essas são apenas algumas das práScas judaizantes mencionadas no contexto do Novo
Testamento. Os judaizantes acreditavam que essas práScas eram necessárias para a
salvação e buscavam impô-las aos genSos converSdos ao crisSanismo. No entanto, o
ensinamento do apóstolo Paulo e outros líderes da igreja primiSva enfaSzava a
suficiência da fé em Jesus Cristo como o caminho para a salvação, independentemente
da observância dessas práScas judaicas.

No entanto, é importante ressaltar que alguns cristãos podem escolher parScipar ou


observar elementos das festas judaicas por diferentes razões. Alguns podem estar
interessados em aprender sobre a tradição judaica, outros podem ter um contexto
cultural ou familiar judaico, e outros ainda podem ver valor em encontrar conexões entre
o AnSgo Testamento e a vida de Jesus. No entanto, essas práScas não são obrigatórias
para os cristãos e não são vistas como necessárias para a salvação. A salvação no
crisSanismo é baseada na graça de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e não em
observâncias ou prá=cas específicas.

Um breve resumo do significado das festas judaicas mencionadas e como algumas delas
encontram cumprimento em Jesus Cristo, de acordo com a perspecSva cristã:

• Purim: Purim é uma festa judaica celebrada em memória do livramento do povo


judeu do plano de destruição concebido por Hamã, conforme descrito no Livro
de Ester. Embora Purim seja uma festa exclusivamente judaica, os cristãos podem
encontrar um paralelo com a história de Ester na Bíblia. A história de Ester revela
a soberania de Deus e o seu cuidado protetor em relação ao seu povo. Embora
não haja um cumprimento específico em Jesus Cristo relacionado a essa festa, a
história de Ester pode servir como um lembrete do cuidado providencial de Deus
em todas as épocas.
• Sucot (Tabernáculos): Sucot é uma festa que celebra a habitação temporária dos
israelitas durante sua jornada pelo deserto após o Êxodo do Egito. Os judeus
constroem cabanas temporárias chamadas sucás para simbolizar essa habitação
temporária. No contexto do crisSanismo, o cumprimento de Sucot está
relacionado ao conceito de Jesus Cristo habitando entre nós. No Evangelho de
João, Jesus é descrito como "a Palavra feita carne" (João 1:14). Sua encarnação é
vista como a vinda de Deus para habitar entre os seres humanos, trazendo
salvação e revelação da glória divina.
• Hanukkah: Hanukkah, também conhecida como Festa das Luzes, comemora a
rededicação do Segundo Templo em Jerusalém após a vitória dos macabeus
sobre o domínio grego-sírio. A festa é marcada pela iluminação de velas em um
candelabro de nove braços chamado Menorá. Embora Hanukkah seja uma festa
judaica, alguns cristãos veem um paralelo simbólico com a obra de Jesus como a
luz do mundo. Jesus disse: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará
em trevas, mas terá a luz da vida" (João 8:12). Para esses cristãos, Hanukkah pode
ser uma oportunidade para refleSr sobre o papel de Jesus como a luz que ilumina
as trevas espirituais.
• Rosh Hashanah: Rosh Hashanah é o Ano Novo judaico, um tempo de reflexão,
arrependimento e renovação espiritual. É um período em que os judeus
celebram a criação do mundo e buscam reconciliação com Deus. Embora Rosh
Hashanah seja uma festa exclusivamente judaica, alguns cristãos veem paralelos
com o conceito de renovação e reconciliação em Jesus Cristo. Através de sua
morte e ressurreição, Jesus oferece uma nova vida espiritual e reconciliação com
Deus para aqueles que creem nele.

É importante fazer uma disSnção clara entre ser anS-judaizante e ser anSssemita. Esses
termos têm significados diferentes e é necessário compreender suas definições corretas.

Ser anSssemita significa ter preconceito, discriminação ou ódio contra pessoas de


origem judaica. É uma forma de racismo e intolerância que busca prejudicar ou
desvalorizar os judeus com base em sua religião, etnia ou idenSdade cultural. O
anSssemiSsmo é condenado e rejeitado por ser contrário aos princípios de igualdade,
respeito e dignidade humana.

Por outro lado, ser anS-judaizante refere-se a uma posição teológica ou religiosa que
rejeita ou criSca os princípios e práScas do judaísmo como uma forma válida de
adoração ou caminho para a salvação. Isso pode envolver discordâncias teológicas sobre
a interpretação das Escrituras, crenças sobre Jesus Cristo e a relação entre o AnSgo e o
Novo Testamento. Ser anS-judaizante está relacionado a diferenças doutrinárias e
interpretações teológicas, mas não implica em preconceito racial ou ódio contra os
judeus como povo.

É importante ter em mente que a liberdade religiosa e o respeito pelas crenças dos
outros são princípios fundamentais. Devemos buscar o diálogo construSvo e a
compreensão mútua, evitando qualquer forma de discriminação ou ódio baseados em
religião, etnia ou idenSdade cultural.

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