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Quem ocupa os (homens) vazios?

Percebo, com certa facilidade, aqui no sertão, que, onde falta a lei, os mais fortes
acabam dominando o espaço. Mas não basta ser o mais forte. É força bruta
acompanhada de vigarice. Pequeno, na escola já constatava o fato, vez ou outra:
quando a autoridade do professor ou da diretoria era duvidosa ou desinteressante,
havia sempre um aluno mais violento que dominava a sala de aula. E, com medo,
deixávamos roubarem parte de nossa liberdade.

É uma questão de teoria versus prática. Na teoria o Brasil tem tudo, e gritarão
políticos, juristas, ministros, estudiosos e cidadãos apaixonados que por aqui há leis.
Ora, estão ali, anotadas nos livros. Já na prática… não é difícil enxergar este mundo
real.

Assim, simples assim, em todos os tempos na História e hoje, em vários lugares


do mundo, aqui no nordeste do Brasil não seria diferente, onde falta a instituição
Justiça, a verdadeira, por ausência ou por falsidade (imparcial ou politizada), há
grande chance de o criminoso dominar o local.

Nestes meus trinta e poucos anos de lida na terra e de venda na feira,


desconheço outro momento em que eu tenha tido tanta esperança no nosso Brasil, no
futuro de nossas famílias, do que na época da Força-Tarefa da Lava Jato. Era bom
demais! 😁 Foram várias manhãs de alegrias e até de comemorações emocionadas
quando ouvia na rádio que havia acontecido mais uma operação. Até assistia à
televisão pra ver as conduções de poderosos enquadrados na Lei, que, por curto
tempo, era para todos... Meu Deus, havia uma chance de desenvolvimento para
nosso lugar.

Naquele tempo, daqui do Nordeste, eu desejava, até rezava, que, um dia,


chegasse Ministério Público para investigar possíveis crimes por estes lados também
e, de uma vez por todas, transformasse nosso suor diário de trabalho em um País
decente, justo e livre. De próprio punho cheguei até a escrever uma carta pedindo tal
realização. Torcia para que chegassem juízes federais da décima terceira vara de
Curitiba, com coragem parecida, e mostrassem que ninguém estava acima da lei por
estes lados também.

E como cheguei à conclusão de que a impunidade gera pobreza e miséria? Ora,


se as pessoas que desviam recursos públicos para ns pessoais, se os criminosos que
aterrorizam comércios e lares, se políticos que usam de seus postos para bene ciarem
amigos e parceiros, se pro ssionais cometem seus desvios em detrimento do
sofrimento dos seus colegas, e, por m, se qualquer trapaceiro que prejudica e atrasa
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seu ambiente de mercado permanecer livre e impune, como o local crescerá e se
desenvolverá?

Somos a décima segunda economia do mundo. Não somos um País


desenvolvido. Nem perto dos melhores do planeta. O que garante este atraso? Quem
são os responsáveis por manter esta Nação no submundo da dignidade? Que fracas
instituições nos fazem o que somos?

Passou-se o tempo e acabei descobrindo que aqui já havia procuradores e


juízes. No início quei triste, mas logo descobri, sozinho, a justi cativa de todo o
contexto, matemática pura: se havia ministério público e juízes federais aqui no
Ceará também e nunca havia acontecido tamanha operação por estes lados, a única
explicação é que por aqui não aconteciam crimes para serem investigados e punidos.

Hoje sigo esperançoso, mas saudoso daqueles dias singulares de força e


inteligência institucionais. Trabalho tanto para dar o mínimo de dignidade aos meus
lhos, que muitas noites não tenho tempo nem de me revoltar. 🙂 Não está morto
quem peleia.

E vivo tranquilo, pois, se hoje não vejo grandes operações contra o crime
organizado, muito menos reportagens que investiguem e revelem suspeitos de sangrar
nosso querido Brasil, é porque, muito provavelmente, não existe mais crime por aqui.
Somos um País forte e desenvolvido, que respeita a vida, protege a liberdade e
garante a propriedade.

Fortaleza, 13 de maio de 2023.


Copyright © 2023 Jacinto Luigi de Morais Nogueira
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