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Grafismo em ambiente escolar como documento da cultura jovem urbana

Bruna Nicole de Souza Santos1


Walbergson Armínio da Silva2
José Elinaldo Ferreira Reis3
Emanuel Pacheco de Souza4

INTRODUÇÃO
O ambiente escolar espelha os diversos públicos da escola, o que entre outras
coisas implica na existência de diversos modelos de relações escolares, visto que a escola
é tal qual seus diversos públicos.
Um ambiente escolar específico, portanto, é um espaço onde estes públicos
ganham as características dos grupos que recebe. Este ambiente escolar é um espaço para
a percepção de diversos aspectos destes grupos, o que inclui a possibilidade de estudar
elementos culturais destes públicos.
Este trabalho explora os grafitos feitos nas paredes dos prédios escolares como
registros visuais de temas e expressões característicos de grupos de jovens em idades
escolares de uma cidade da Região Tocantina do Maranhão.

METODOLOGIA
Este trabalho consiste em uma pesquisa de campo realizada em escolas nos
municípios de Itinga do Maranhão/MA e Dom Eliseu/PA.

O trabalho consistiu de registro fotográfico feito a partir de telefones celulares


realizados dentro do ambiente escolar. Os registros foram classificados a partir de temas
que constam do conteúdo das imagens. Entre os temas que apareceram, podemos citar,
crime, amor, bullying, ofensa etc. Para este trabalho vamos analisar imagens que
contenham o conteúdo relacionado ao tema religião.

1
Graduanda do Curso de pedagogia do Programa Caminhos do Sertão da Universidade Estadual da Região
Tocantina do Maranhão (UEMASUL), polo Itinga do Maranhão, email
2
Graduanda do Curso de pedagogia do Programa Caminhos do Sertão da Universidade Estadual da Região
Tocantina do Maranhão (UEMASUL), polo Itinga do Maranhão, email
3
Graduanda do Curso de pedagogia do Programa Caminhos do Sertão da Universidade Estadual da Região
Tocantina do Maranhão (UEMASUL), polo Itinga do Maranhão, email
4
Professor de Sociologia na Uemasul, Imperatriz/MA, emanuel@uemasul.edu.br , https://orcid.org/0000-
0003-1862-8501
A análise utilizou a teoria da descrição densa apresentada por Geertz (1989)
segundo a qual a realidade cultural consiste de um emaranhado de teias de significado,
de acordo com a tradição da sociologia compreensiva (WEBER, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ambiente escolar recebe vários grupos sociais. Por isso, as escolas são
universos sociais de observação privilegiado destes grupos. Os jovens urbanos em
particular, quando estão em idade escolar, podem ser estudados a partir do ambiente
escolar.
Os jovens urbanos em idade escolar estão em uma posição social de transição
para o mundo do trabalho e para a vida adulta, o que representa uma experiencia social
complexa, marcada por uma série de bloqueios e de frustrações.
Este conjunto de elementos são o fundamento para a elaboração de uma cultura
jovem própria. Esta cultura está expressa em vários canais. Podemos encontrá-la na
cultura pop, através do consumo de uma série de bens culturais através de obras musicais,
de filmes, de séries, de quadrinhos e mangás, animes etc.
Porém, existem espaços para a expressão dessa cultura jovem no próprio
ambiente escolar. O próprio prédio das escolas registra aspectos dessa cultura através de
grafismo que os jovens inserem neste espaço.
Assim, paredes de salas, dos banheiros, pátio, espaços de esporte, carteira escolar
podem ser mais ou menos preenchidos com a fixação de grafismos por diversos grupos
jovens.
Podemos estar confiantes que são grupos diversos de jovens pois os grafismos
comunicam diversas temáticas, indicando códigos de pertencimento, de gênero,
sexualidade e religiosidade, entre outros.
Esses elementos podem ser considerados como documentos da cultura juvenil e
servem como janela analítica para o seu estudo.
Estes grafismos podem ser analisados como atos de comunicação praticados
dentro de um ambiente característico do grupo, constituindo aquilo que Geertz (1989)
chama de estruturas significantes que são mobilizadas para a comunicação de significados
práticos nos grupos.
As estruturas significantes são o suporte social para a organização daquilo que o
autor denomina de teias de significado. Estas teias formam o enredo de um ambiente
cultural específico. A compreensão deste ambiente se faz através da interpretação dos
significados comunicadas em cada suporte oferecido para as estruturas significantes,
como os grafismos em ambiente escolar (VILHENA, 2018).
Esta perspectiva está ancorada na tradição weberiana de estudos sociais que
consistem na compreensão dos significados sociais envolvidas na construção dos
fenômenos características de um grupo (WEBER, 2014).

A figura 1 registra uma sequência de grafismo observado na parede de uma sala


de aula onde podemos observar modos de jovens urbanos se relacionarem com a
religiosidade.
Um aspecto interessante dos grafismos escolares facilmente observado é o
caráter interativo presente nas possibilidades de sua construção. A figura 1 é um exemplo
disso. Uma pessoa fez um grafismo onde declara um elemento da sua religião, que é a
mensagem do amor de Jesus. Outra pessoa reagiu ao grafismo para registrar sua
indiferença à mensagem religiosa.
Este aspecto é interessante pois sugere modos diferentes de frações da juventude
se relacionar com a religiosidade, oscilando entre a aceitação da fé e sua declaração
pública, de um lado, e, no outro, a manifestação de rejeição à fé.

A figura 2 registra uma combinação, a princípio inesperada, entre religião e


crime.
Uma pessoa fez um grafismo onde envolve com um coração, um símbolo de um
afeto amoroso, as palavras Deus e PCC, a facção criminosa que surgiu em São Paulo mas
hoje tem atuação nacional, e, aparentemente, mesmo neste pequeno município da região
tocantina do Maranhão.
Este grafismo também se reveste de enorme valor como documento cultural,
pois sugere que certos jovens conseguem conciliar de maneira harmônica sua inserção no
universo religioso simultaneamente à sua participação no crime.

CONCLUSÃO
Apresentamos um pequeno recorte de uma pesquisa de campo em ambiente
escolar onde registramos diversos grafitos, fizemos sua classificação com tema e
analisamos seu conteúdo como documento da cultura dos grupos juvenis em idade
escolar.
Escolhemos apresentar algumas das observações sobre o tema religião e nos
parece que os registros selecionado revelam indícios do potencial dos estudos dos
grafismos em ambiente escolar para a identificação e análise de transformações culturais
que estão acontecendo entre os jovens urbanos.

REFERENCIA

GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. São Paulo, LTC, 1989.


WEBER, Max. Weber, Schultz e a sociologia como ciência da compreensão. In:
CASTRO, Celso. Textos básicos de sociologia. Rio de Janeiro, Zahar, 2014.
VILHENA, Ruan Filipe Carvalho. Grafismos de banheiros escolares: incursões sobre
mensagens de sexualidade e desejo. Anais do VII Seminario Corpo, Gênero e
sexualidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/RS, 2018

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