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GÊNERO TEXTUAL CARTA: ANÁLISE DOS ELEMENTOS

CONSTITUTIVOS À LUZ DA LINGUÍSTICA TEXTUAL

José Gabriel Da Silva Santos1 UNEAL


E-mail: gabriel.santos.2021@alunos.uneal.edu.br
Daiane Pontes da Silva2 UNEAL
E-mail: daiane.silva.2022@alunos.uneal.edu.br
Iasmim Soares Damasceno3 UNEAL
E-mail: iasmim.damasceno.2021@alunos.uneal.edu.br
Profa. Dra. Iraci Nobre da Silva UNEAL
E-mail: iraci.nobre@uneal.edu.br

RESUMO: Atualmente, as discussões sobre análise de gêneros textuais, enfatizando os


aspectos da coesão e coerência na interação verbal, têm despertado atenção em pesquisadores,
sobretudo na área da educação. Nesse sentido, é imprescindível a inserção dessa abordagem
nos diversos contextos escolares. O objetivo do nosso estudo é analisar os elementos que
constituem o gênero carta sob a ótica da linguística textual. Para direcionar a nossa pesquisa,
formulamos a questão norteadora: No que tange a questão de sentidos e compreensão nos
elementos constitutivos da carta pessoal? Nossa motivação para este estudo surgiu das
discussões realizadas em momentos de formação do Pibid, onde se fez referência ao texto
“Apelo” de Dalton Trevisan, trabalhado em forma de carta. O referido estudo é de natureza
qualitativa e cunho bibliográfico. Como procedimentos metodológicos nos amparamos no
modelo de sequência didática proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Realizamos
análise de um corpus, constituído por vinte e cinco cartas, que serviram de base para nossa
apreciação. Ancoramos nosso estudo nos pressupostos de Condé et al (2009), Biasi-Rodrigues
(2012), Bakhtin e Volochinov (1929), Bezerra(2017), Bakhtin (2010), Koch (2001-2010),
Marcuschi (2007-2008,2012), Souto Maior (2001), Silva (2020), Bhatia (2001), dentre outros.
Esse estudo é de grande relevância, pois trata de questões sobre produção escrita e análise do
gênero carta, sob a ótica da linguística textual, considerando a argumentação objetiva, as
ideias propostas, aspectos que permitem a compreensão leitora. Diante dos resultados obtidos,
foi possível perceber que os textos foram produzidos de forma eficaz e que a metodologia
adotada contribuiu para despertar criatividade, sensibilidade e criticidade nos estudantes,
aspectos evidentes na socialização dos resultados das produções por meio de exposição de
suas cartas.
Palavras-chave: Análise, Gênero carta, Coesão, Coerência.
INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, estudos acerca de análises de textos têm tomado grande proporção.
Nesse viés, buscamos analisar os elementos constitutivos do gênero carta sob a ótica da
linguística textual. Nessa vertente, insere-se a análise da coesão e coerência, na perspectiva de
Koch (2001, 2010). Neste estudo, fizemos uma abordagem ao gênero carta produzida por
discentes de uma Escola parceira do PIBID/CAPES/UNEAL. A referida carta serviu como
resposta ao miniconto intitulado “Apelo” de Dalton Trevisan. Desse modo, o objetivo do
nosso estudo é analisar os elementos que constituem o gênero carta, sob a ótica da linguística
textual. No intuito de direcionar a nossa pesquisa, formulamos a questão norteadora: No que
tange a questão de sentidos e compreensão nos elementos constitutivos da carta pessoal?
Para realizar o objetivo, buscamos amparo teórico nos postulados de Bezerra( 2017), Biasi-
Rodrigues (2012), Bakhtin e Volochinov (1929), Bakhtin (2010), Koch (2001, 2010),
Marcuschi (2007,2008,2012), Souto Maior(2001), Silva (2020), Bhatia(2001), dentre outros.
A pesquisa estrutura-se nas discussões aqui apresentadas que foram divididas em três seções,
assim delineadas: A primeira versa sobre bases conceituais de gêneros. A segunda traz
abordagens sobre o gênero carta na prática pedagógica. A terceira apresenta a metodologia,
com ênfase na procedência e análise dos dados.
A pesquisa é de natureza qualitativa, que, na compreensão de Lakatos (2003), trata
de uma pesquisa que tem como premissa, analisar e interpretar aspectos mais profundos
descrevendo a complexidade do comportamento humano e ainda fornecendo uma análise
mais detalhadas sobre as investigações, atitudes e tendências de comportamento, sendo assim,
a ênfase da pesquisa qualitativa é nos processos e nos significados.
A seguir discutiremos sobre as bases conceituais de gêneros, a terminologia possui sua
contribuição em relação aos gêneros textuais, porém, essas formas não são exatamente novas,
cabe pontuar, assim, a transmutação e assimilação de um gênero por outro, dessa maneira,
não há surgimento de formas novas (BAKHTIN, 1929).
Nessa perspectiva, Marcuschi (2007-2008) salienta que não há o desprezo das formas,
todavia, em alguns momentos fazem-se uso delas, neste caso, elas determinam os gêneros,
outrossim, em outros tantos serão as funções, os gêneros, são formas verbais de ação social
relativamente estáveis, predominantemente repleto de variações. Diante de tais considerações,
expomos os tópicos a seguir.

1. BASES CONCEITUAIS SOBRE GÊNEROS


De acordo com Bezerra (2017), existem diversas nomenclaturas que se referem a gêneros
e que todavia, apresentam a mesma definição. Os gêneros sejam eles, textuais, discursivos ou
comunicativos fazem o uso do desenvolvimento da competência discursiva dos usuários e são
essenciais para o ensino da linguagem em nosso país.
Ao fazermos uso da linguagem em nosso dia a dia, recorremos aos gêneros, nesse
sentido, pauta-se a perspectiva defendida por Miller (2012 apud, Silva 2020), que tem
enfoque primordial: o gênero como ação social, de modo que, ao utilizarmos a linguagem
comumente, fazemos uso dos gêneros, aliás, é por meio deles que coordenamos nossas
práticas sociais.
Mediante essa direção, compreende-se que o foco está na função e uso social das
comunidades, que ao estudar os gêneros concebem efeitos capazes de mudar conhecimentos,
crenças e valores da vida das pessoas, ao permitir que a sociedade desenvolva um misto de
formas para realizar os propósitos comunicativos.
Marcuschi (2000, apud SOUTO MAIOR, 2001), considera que as diferentes
distinções de gêneros não seriam majoritariamente linguísticas e sim funcionais, ou seja, o
contexto de uso, dos quais eles fazem-se presentes. Dito isso, compreende-se que, de acordo
com a funcionalidade, haverá restrições para a escolha do tipo de carta a ser utilizada na
esfera de uso. É por isso que, em consonância com o que diz Marcuschi (2002), abordamos o
gênero carta, em um cenário repleto de possibilidades como a sala de aula.
Assim, é de suma tratar da conceituação de gênero, visto que, para tratar da definição
de gênero precisaria ter-se conhecimento sobre várias vertentes das quais ele se faz pertinente,
considerando as diferentes perspectivas para assim compreender de fato seu conceito, nos
postulados de Bathia (2001), os gêneros são socialmente construídos pelas comunidades que
comunicam-se entre si e assim adaptam aos seus construtos sociais. Dessa maneira, é válido
salientar a perspectiva de que não há uma unicidade para o propósito comunicativo e sim um
misto dos quais se complementam, estabelecendo relações entre si (BATHIA, 2001).
É sabido, pois, que com a noção de propósito comunicativo, temos que levar em
consideração que há certa maleabilidade presente em alguns gêneros, que podem levar a
construção ou adaptação de determinado gênero a outro por meio da transmutação de gênero,
tendo em vista, que não há uma rigidez estrutural na construção destes (BIASI-RODRIGUES,
2012). Todavia, graças aos propósitos comunicativos o gênero se mantém focado em uma
ação retórica. Apesar de muitos estudos, ainda há uma problemática relacionada ao conceito
de gênero, visto que, entre os teóricos não há um consenso para essa definição. Como diz
Bakhtin (2010), é impossível se comunicar se não seja por meio de gêneros. Para o autor, os
gêneros são práticas que revelam a intenção dos participantes envolvidos no discurso. Em
concordância com Bakhtin, Marcuschi (2008), adverte que, os gêneros não são entidades
naturais, e sim artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano.
A partir desses postulados infere-se a forte variação que pode surgir além disso, o
próprio contexto a qual se insere sofre variações (SILVA, 2020). Os retóricos Bazerman e
Swales (2015,1990, apud SILVA, 2020), preocupados com o ensino da escrita, acharam no
gênero a maneira de lidar com as peculiaridades da escrita, entretanto, a sociedade
contemporânea exige dinamização nas situações comunicativas, a fim de, facilitar a ações
sociocomunicativas diante da diversidade que nos cerca.

2. ABORDAGEM SOBRE O GÊNERO CARTA

No cenário atual, sabe-se que houve uma grande redução da utilização de cartas como
meio de comunicação, hoje temos por exemplo alguns outros recursos que designam a mesma
função de forma mais prática. Apesar da não utilização das cartas hodiernamente, faz-se uma
ressalva acerca deste método comunicativo, ademais, sua eficiência não foi descartada, por
isso, ainda há uma forte presença de documentos que são construídos a partir desse gênero.
No que concerne a ótica de Marcuschi (2012), apesar de não existir um consenso entre
os estudiosos quanto a definição de texto, dado que a sua identificação é intuitiva ao perceber
como diferencia-se um texto de um não-texto. Sabe-se que um texto parte de uma noção de
sequência de morfemas ou sentença de sentenças relacionadas num todo. Torna-se
imprescindível resgatar em ambientes escolares, a construção coesa e coerente da carta
pessoal, texto este, escasso em tempos modernos.
Para Koch (2003) o texto passa a ser percebido muito mais como um processo de
planejamento ou construção do que um produto acabado. A partir desse processo, se resulta o
sentido do texto que não se encontra nele, mas se encontra a partir dele. Dessa forma, uma
maneira de construir sentidos para diversos textos eficientes são embasados na coesão e
coerência. A Koch (2003) ressalta ainda que a coesão diz respeito ao modo como os
elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados entre si. A
coerência, estaria imbricada, pois “diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à
superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração
veiculadora de sentidos” (KOCH, 2003, p.52)
Nesse sentido, percebe-se o caráter comunicativo que a carta ocupa, sendo que, por ser
um fenômeno empírico global, consolida-se nas diversas práticas discursivas diárias(SOUTO
MAIOR, 2001). Sabe-se, que atualmente não é ordinariamente utilizada, sendo portanto,
comumente substituída por email, porém a carta tem seu lugar de pertencimento, não
deixando de ser um aparato comunicativo.
Muitas definições já foram dadas para definir “texto”, considera-se as cartas como
textos pois demonstram a experiência da humanidade no mundo, por exemplo, as cartas
bíblicas denominadas epístolas revelam as histórias de variados povos que viviam às margens
do mediterraneo, são portanto memórias do homem historicamente situado(FURLAN, 1989
apud, SOUTO MAIOR, 2001).
Seguindo a linha teórica de Marcuschi(2000), utiliza-se o gênero carta descrevendo os
elementos básicos utilizados para identificar este gênero que são: local e data; saudação; texto
e assinatura. Neste caso, encontramos textos com características individuais classificados com
nomes específicos, cujo especificidade dar-se devido o contexto, exemplifica-se desse modo
como: carta ao leitor, carta pessoal, carta resposta, carta de aceite e dentre
outros(MARCUSCHI, 2000 apud SOUTO MAIOR, 2001).
Assim, considerando a variedade de cartas circulando na sociedade brasileira, com
organizações e macroestruturas diferenciadas, e características específicas de acordo com os
diferentes contextos em que são usadas, foi nos despertado o interesse para a realização deste
estudo que engloba primordialmente o gênero textual: carta pessoal. Com enfoque não apenas
nas formas textuais, posto que a compreensão dos sentidos textuais que ficam abertos de
modo intencional ao leitor são importantes para a relação de fatos entre si.
Desta forma, é notório a dificuldade que consiste em classificar gêneros, pois estes,
acompanham a complexidade da sociedade, a carta, por ser um gênero situado num contexto
comunicativo bem definido, mas diversificado, possibilita uma enorme variedade na sua
forma estrutural, neste viés, as formas textuais possuem marcas linguísticas que possibilitam
a identificação desde o início do texto. Desse modo, esmiuçamos o gênero Carta Pessoal
extraída do texto Apelo sob autoria de Dalton Trevisan na seção seguinte, acompanhe:

2.1 O GÊNERO CARTA PESSOAL

O texto Apelo, foi transmutado do gênero miniconto Mistérios de Curitiba do autor


brasileiro Dalton Trevisan, no qual apresenta uma temática emotiva a fim de que o eu lírico
utiliza-se ao transmitir seus sentimentos de saudade e desamparo evocados pela ausência de
sua senhora. Com o propósito de iniciar uma comunicação subjetiva e forma de suprir o vazio
deixado pela pessoa ausente.
O escritor Dalton Jérson Trevisan do texto Apelo, nascido em Curitiba/ Paraná, é
considerado um dos maiores contistas do cenário brasileiro contemporâneo. Atuou ainda
como Advogado durante sete anos em sua cidade natal. A Carta Pessoal mencionada utiliza-
se de aspectos que sugerem as variadas reações da Senhora devido as atitudes do remetente.
Neste ínterim, o leitor é convidado a imaginar quais os meios ou motivos que levaram a fuga
da destinatária.
De acordo com Condé (2009), a Carta Pessoal é a realização concreta (um enunciado)
que obedece às injunções do gênero discursivo/textual carta. Além de ser indefinida quanto
ao uso da norma linguística pois “aceita” qualquer norma a depender do usuário. Ou seja, é
um texto privado com propósito comunicativo em meio as relações informais do cotidiano do
remetente e destinatário. No entanto, por se tratar de usarmos no contexto escolar, exigimos
uma norma adequada e organização sintática na proposta da sequência didática solicitada
pelos graduandos.
A proposta de abordar o gênero textual/ discursivo Carta Pessoal no ambiente escolar,
que é uma das variadas formas do gênero Carta, surgiu com o propósito de unir os aspectos
discursivos necessários para a produção textual aos aspectos socioemocionais desenvolvidos
pelos alunos conforme sugere a Base Comum Nacional Curricular - BNCC, para o estímulo à
produção e estabelecimento de relações entre as partes do texto, tanto na produção como na
leitura/escuta, considerando a construção composicional e o estilo do gênero,
usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam
para a coerência. Bem como, fomentar as alternativas de compreensão textual que Marcuschi
(2009) considera como sinais éticos que contribuem para avançar expectativas referentes ao
texto.

3. METODOLOGIA

Para a construção da metodologia, utilizamos o método de pesquisa-ação inserida no


eixo qualitativo, possibilitando assim um caminho de melhor entendimento vista a realidade
investigada. A pesquisa-ação segundo Thiollent (1982) apud Telles (2002, p. 104) “É
frequentemente utilizada por um grupo de docentes ou um pesquisador trabalhando junto a
esse grupo para tentar compreender, de forma sistemática e de ação planejada, a prática do
cotidiano escolar, o efeito de uma determinada intervenção pedagógica, ou ainda buscar
possíveis soluções para um determinado problema (…)”. O que é notório após a aplicação da
SD na sala de aula, onde houve a participação ativa de três graduandos bolsistas do PIBID,
um supervisor do projeto, e de discentes de uma escola de esfera pública.

A interpelação metodológica utilizada segue o modelo de sequência didática (SD)


proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), somado as nossas adaptações. Já para
realizar a análise do corpus, está apoiado no modelo de operações textuais-discursivas
apresentado por Marcuschi (2010), contando também com nossas adaptações. Esta pesquisa
faz parte do subprojeto de letras, em parceria com PIBID/CAPES/UNEAL/ESCOLA DE
ESFERA PÚBLICA. O corpus desta pesquisa foi coletado em uma escola pública, do estado
de Alagoas. A aplicação da SD foi realizada em uma turma de terceiro ano do ensino médio,
formada por quarenta e oito alunos, residentes do meio rural e urbano, com idade entre quinze
e dezoito anos. Na aula da aplicação da SD estavam presentes trinta e oito alunos.

Coletamos um total de 25 amostras, mas para essa pesquisa utilizamos apenas dez
amostras, escolhidas de forma aleatória. A metodologia de análise está centrada no modelo de
operações textuais-discursivas de Marcuschi (2010, p.75), junto as nossas adaptações.
Segundo Antunes (2003, p.19) “Um exame mais cuidadoso de como o estudo da língua
portuguesa acontece, desde o ensino fundamental, revela a persistência de uma prática
pedagógica que, em muitos aspectos, ainda mantém a perspectiva reducionista do estudo da
palavra e da frase descontextualizadas”. A autora afirma que “Nesses limites, ficam
reduzidos, naturalmente, os objetivos que uma compreensão mais relevante da linguagem
poderia suscitar - linguagem que só funciona para que as pessoas possam interagir
socialmente” (p.19) com isso é imprescindível que se faça uma análise para que nas aulas de
português sejam trabalhados sim com o texto como um todo, pois entendo o todo se entende
as partes.

Quanto aos procedimentos metodológicos empregados na sala de aula, estão ancorado


no esquema de SD proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 83), o esquema
consiste no seguinte: Apresentação da situação, que é regida no seguinte, de início à
apresentação do objeto de estudo, breve discussão para saber quais os conhecimentos já
existentes por parte dos alunos, os conhecimentos tácitos, logo adiante, os estudiosos indicam
que solicite uma produção inicial para poder ter conhecimento das habilidades dos alunos.
Após isso é indicado trabalhar as aulas por módulos, onde em cada módulo é trabalhado o
objeto e consequentemente já ir sanando as dificuldades apresentadas por parte dos alunos, ao
final disso e com os problemas já sanados, é solicitado que os alunos façam a reescrita da sua
produção inicial.

Solicitamos uma carta resposta ao texto base “Apelo” de Dalton Trevisan. Coletamos
as amostras das produções solicitadas em uma escola pública parceira do
PIBID/CAPES/UNEAL em uma turma de terceira série do ensino médio. A turma é
composta por quarenta e oito aluno sendo trinta e quatro do sexo masculino e oito do sexo
feminino. No referente dia 18 de outubro, fizeram-se presentes trinta e nove alunos.
Obtivemos um total de dezessete cartas completas, oito cartas incompletas e treze não
realizaram a proposta.

Os alunos tinham na faixa etária entre dezessete e dezoito anos. No referido dia da
aplicação da sequência didática, dia 18 de outubro de 2023, em uma quarta-feira, fizeram-se
presentes trinta e nove alunos. A turma em geral apresenta um perfil de alunos participativos,
carismáticos e bastante falantes. Porém alguns se dispersam com facilidade. Há um caso
específico de aluno que apresenta dificuldade na escrita, ainda não diagnosticada. Neste caso,
iremos pedir para que leia o que foi escrito em sua atividade. Há casos em que os alunos têm
dificuldade e outros casos nos quais alguns alunos são desinteressados ou não se
comprometem para cumprir a atividade que foi solicitada. Fazendo-se necessária a paciência
e maior atenção dos licenciandos a estes alunos desmotivados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo metodológico de análise tem enfoque no modelo de operações textuais-


discursivas (2010, p.75) com adaptações dos discentes. Devido a escolha de gênero que
Marcuschi trabalhou sendo ele, a Entrevista, fez-se indispensável a adaptação para nosso
modelo de gênero Carta Pessoal. A fim de mantermos o sigilo científico, iremos adotar os
seguintes termos para colaboradores: C1 para colaborador 1, C2 para colaborador 2 e C3 para
colaborador 3 até o último colaborador que seria de um total de 25 amostras, foram analisadas
10 amostras para melhor estudo e compreensão. Expostas no quadro que segue:
Quadro 1: Modelo de Marcuschi (2010) com nossas adaptações
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10

ESTRUTURA X X X
DO GÊNERO CARTA

DIFICULDADES X X X X X X
EXCESSIVAS
DE PONTUAÇÃO

USO X X X
DE MARCAS
METALINGUÍSTICAS

PROBLEMAS
DE CONCORDÂNCIA

ESTRUTURA
TRUNCADA

PROPOSTA X X X X X X X X
DE INTERVENÇÃO
RELACIONADA AO
TEMA

CONDENSAMENTO X X X X X X X
DE IDEIAS

SEGUE A X X X X X
ORGANIZAÇÃO
DE PARÁGRAFOS

Fonte: autores da pesquisa

O quadro 1 transmite as ocorrências e recorrências correlacionadas a um total de oito


operações textuais feitas a partir de 25 amostras de produções que deste universo amostral,
coletamos apenas 10 amostras para melhor análise que estão inseridas no corpus desta
pesquisa. É válido salientar que a carta do C7 não obteve análise eficiente devido seu texto
conter cópias e estar incompleto. Bem como, a carta do C8 não foi inteiramente observada
que se deve ao fato do colaborador ter escrita similar a disgrafia, transtorno este ainda não
diagnosticado.
Conforme os resultados encontrados mediante o quadro 1, foi notório o uso da
estrutura da carta pessoal na operação 1. Para Koch (2003), “a estrutura informacional de um
texto exige a presença de elementos dados e elementos novos". Tudo vai ser dito no espaço
cognitivo do interlocutor, que se introduz a informação nova, com o objetivo de ampliar e/ou
reformular os conhecimentos já estocados a respeito deles.” dito isto, são elementos que
delimitam o texto e indicam seu tipo textual. No caso da carta pessoal, em sua estrutura
padrão, é composta por data, local, vocativo, núcleo, despedida, post scriptum e assinatura.
Os resultados nos mostram que apenas C2, C3 e C4 apresentam domínio de todos os
elementos da Carta Pessoal.
Em continuidade ao quadro 1, temos a operação 02 que analisa a dificuldade
excessiva em sinais de pontuação. De acordo com Cunha & Cintra (1971) “para saber onde se
devem colocar os sinais de pontuação, habitue-se a ouvir a melodia da frase que escreve e,
quando hesitar, leia a frase em voz alta: as pausas que será obrigado a observar e as mudanças
de entoação lhe indicarão a escolha e o lugar dos sinais que nela terá de introduzir” (p.438).
Desse modo, um bom domínio da pontuação faz-se imprescindível para despertar a intuição
do escritor bem como para a compreensão do leitor. Obtivemos falhas de troca de sinais ou
falta de sinais em textos. Os resultados mostram essa problemática em produções dos autores
C1, C3, C5, C6, C9 e C10.
Por conseguinte, a operação 03, aborda sobre as marcas metalinguísticas com função
de referenciar através dos pronomes dêiticos. no que considera Benveniste (1989), por
“indicadores de subjetividade”, ou seja; sob um olhar da enunciação, os dêiticos como signos
vazios ganham sentido ao comunicar-se com o tu e ganhar em si mesmo a partir da interação
do “eu” com o “tu”. Neste estudo, tivemos um olhar minucioso para a recorrência destes
casos nos variados textos. Foram analisadas as repetições que aconteceram em um mesmo
parágrafo e ainda foi vista a implicação destes casos no texto como um todo. Os resultados
encontram-se apenas nos textos de C5, C6 e C9.
A operação 04 bem como a seguinte operação 05 tem seus resultados em
conformidade com o total de amostras colhidas que são 25 cartas. Deste total, na quarta
operação obtivemos 10 amostras com problemas na concordância verbal. Na análise há
predominância em desvios de troca de verbos que seriam no presente para o infinitivo. Bem
como falhas gramaticais presentes nos mesmos textos. Nos quais, o C12, C13, C15, C16 e
C18, C19, C22, C23, C24 e C25 apresentam desvios.
A operação 05 refere-se ao truncamento das ideias apresentadas, a dificuldade foi
evidenciada em cinco de um total de vinte e cinco amostras. Nesta operação, foram
observadas as dificuldades em grafia e revistas as cartas com fuga ao tema ou plágio. Estas
últimas cartas foram descartadas da análise. Foi feita a análise com foco na compreensão do
leitor já que cada parágrafo da carta tem uma finalidade. As dificuldades em grafia foram
presentes em C12, C13, C15, C16 e C18.

A operação 06, trata da proposta de intervenção relacionada ao tema. Esta proposta


reflete a proposta de contexto literário hipotético na qual, os colaboradores escreveram no
lugar do eu lírico visto que na história, o remetente irá responder se volta para seu lar ou não
irá voltar. Foi observada ainda, se o aluno fez ou não menção quanto as indagações que eram
feitas no texto-base. Nas cartas, os alunos expressaram uma grande criatividade ao criar
cenários desde que fosse uma mãe que fugiu até uma dona de casa que irá retornar. Os
resultados foram positivos nos quais, grande parte C1, C2, C3, C4, C5, C6, C9 e C10
contemplaram a proposta e conseguiram desenvolver uma ficção adequada ao enunciado que
foi solicitado.
A operação 07, no que tange o entrelaçamento de ideias nos convida a relembrar a
coesão e coerência. Segundo Marcuschi(2010), os fatores de coesão são aqueles que dão
conta da sequenciação superficial do texto. Ou seja, na microestrutura destaca-se muito mais
o sentido do que a forma feita pelos colaboradores. Visto que a carta pessoal tem sua forma
de realização própria. Foi observado se os alunos produziram sequência de frases soltas, ou
de fato, a sequência de linguagem que compõe a textualidade. Não menos importante, a
coerência em sua macroestrutura foi analisada se houve a continuidade de sentido, se houve
problemas de ambiguidade ou de indeterminação nas produções.
A operação 08 constitui a organização do texto conforme o enunciado proposto, para
que o aluno cumpra com no mínimo 3 parágrafos e não destoe do gênero textual carta pessoal
para outros tipos de texto como o bilhete ou poema e a fim de que não vire um texto
incompleto. Nesta operação, também foi observada a precaução com as margens do texto e
tamanho adequado de parágrafos, separação de sílabas nas margens e rasuras no texto. Apesar
de ser uma carta informal, os alunos deveriam focar no contexto escolar que estavam
inseridos. Os colaboradores C1, C3, C5, C6 e C10 organizaram a escrita mediante os moldes
esperados.
Os resultados contemplados mostram que houveram trê ocorrências da operação 01;
seis realizações na operação 02; três ocorrências da operação 03; dez casos da operação 04;
cinco ocorrências da operação 05; oito ocorrências da operação 06; sete ocorrências da
operação 07 e cinco casos da operação 08. Conforme a percepção do quadro 1, as operações
mais predominantes foram: 04,06 e 07. Apesar de as operações 03 e 04 ter uma abrangência
maior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados obtidos nas discussões realizadas e nos estudos bibliográficos,
obtivemos um olhar sobre a aplicabilidade da compreensão crítica dos sentidos expostos da
carta pessoal titulada Apelo de Dalton Trevisan. Desenvolveu-se o senso leitor e articulação
da linguagem através da multiplicidade no estudo dos gêneros, com a metodologia em ênfase
nos sentidos, compreensão e produção escrita, em um panorama de interação do gênero carta.
Observando a temática em questão, propondo a produção da carta-resposta, pontuamos na
exposição no quadro 1 que os colaboradores apresentaram maior domínio na proposta de
intervenção relacionada ao tema e dificuldades na estrutura em si do gênero trabalhado. Em
sequência, enfatizamos que apenas os colaboradores C2, C3 e C4 apresentaram o domínio em
todos os elementos da carta pessoal, principalmente os únicos pontuando na estrutura do
gênero carta pessoal.

Contudo, enfatizamos a relevância deste trabalho, que se dá por meio da aplicação do


senso crítico exposto por meio da carta pessoal, tendo em vista o desuso da carta como meio
de comunicação, se faz necessário o olhar sobre a eficácia deste gênero ainda tendo a sua
influência em documentos a que são construídos a partir deste na sociedade. Além disso,
buscamos estreitar os laços com as escolas de educação básica onde nascem as oportunidades
para aprimorar as discussões, habilidades escritas e orais, assim ampliando o repertório
linguístico. Mesmo com os desafios enfrentados, foi possível alcançar uma aprendizagem de
êxito educacional.

Destarte, esperamos que o estudo aqui presente possa ser compartilhado com professores,
estudantes e pesquisadores das diversas áreas da linguagem que se preocupam com a
produção em sala de aula. Acreditamos que a discussão aqui realizada, de alguma forma,
alcancem o interesse dos leitores por essa essencial temática no ensino dos gêneros textuais.
REFERÊNCIAS

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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P. (Org.).

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MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

SILVA, Iraci Nobre da et al. Análise sociorretórica de introduções de artigos científicos no quadro dos

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SOUTO MAIOR. Ana Christina. O gênero carta - variedade, uso e estrutura. Ao Pé da letra, 3.2:1-13,

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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça O texto e a construção dos sentidos / Ingedore Koch 7. ed São Paulo :

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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual / Ingedore G. Villaça Koch – 22. ed. – São Paulo :

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TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.


Descrição das atividades desenvolvidas na sequência didática

Módulo 1:

Neste módulo, realizou-se a apresentação da proposta de escrita da carta como uma situação

literária hipotética. Através da exemplificação do gênero carta pessoal e a explicação da estrutura

das cartas formais e informais. Com enfoque nas cartas informais. A fim de permitir a discussão

acerca do gênero mencionado.

Módulo 2:

O seguinte módulo é composto por a leitura expressiva do texto Apelo extraído do miniconto de

Dalton Trevisan. Foi feita a transmutação de gênero e solicitada a produção de uma Carta Pessoal

resposta ao texto Apelo. Por meio de recursos didáticos como a folha da carta e slides, para

melhor compreensão do enunciado.

Módulo 3:

O referido módulo é composto por esclarecimento de dúvidas referentes ao texto-base. Com a

visão de fornecer apoio a interpretação do texto-base para que obtenham uma escrita objetiva que

atenda aos elementos solicitados no enunciado da atividade.


Módulo 4:

Produção Inicial – Aplicação da proposta de escrita da carta resposta produzida pelos alunos no

intuito de resgatar a confecção deste texto em tempos modernos e expandir as informações dos

elementos necessários para a construção eficiente e estruturada do gênero carta pessoal.

Módulo 5:

Produção Final – Após a análise das cartas, haverá uma aula abordando as possíveis falhas e os

alunos irão produzir a reescrita conforme a correção feita e a revisão do conteúdo

correspondente.

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