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Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar um recorte do resultado de uma pesquisa
desenvolvida para o programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Ensino, pela Universidade
Estadual do Rio Grande do Norte. Orientados pela Linguística Aplicada (LA), realizamos uma
pesquisa-ação, com características descritivas, com enfoque interpretativista, cuja análise dos
dados se deu qualitativamente. Tais dados foram gerados em uma escola pública do Estado do
Ceará, na sala de aula de língua inglesa. As nossas análises trazem representações sociais da
mulher na série Anne with an “e” à luz da multimodalidade e do modelo Show Me de Jon
Callow discutidas por alunos do ensino médio. Assim, tivemos como locus da pesquisa a sala de
aula, exibimos cenas da série, previamente selecionadas, e aplicamos um roteiro de análise
semiestruturado. Considerando a necessidade de discutirmos os papéis sociais construídos ao
longo da história e as relações de poder que os textos veiculados diariamente representam,
assim como refletimos sobre a necessidade de uma formação leitora que explore os múltiplos
modos dos textos. Os resultados obtidos expuseram as dificuldades dos estudantes de
explorarem uma imagem como um texto, além de evidenciar a importância de estimular o
letramento visual crítico na sala de aula.
Palavras-chave: Multimodalidade. Ensino. Representações Sociais. Anne with an “e”.
Abstract: This article aims to present an excerpt from the result of a research developed for
the Strictu Sensu Graduate Program in Teaching at the State University of Rio Grande do
Norte.
Guided by Applied Linguistics (AL), we carried out an action research, with descriptive
characteristics and an interpretive focus, whose data analysis was qualitative. Such data were
generated in a public school in the State of Ceará, in the English language classroom. Our
analysis bring social representations of women in the Anne with an “e” series under the
multimodality and on Jon Callow’s Show Me model discussed by students from high school.
Thus, we the classroom was our research locus. We exhibit previously selected scenes from
the series and apply a semi-structured analysis script. Considering the need to discuss the
social roles built throughout history and the power relations that the texts conveyed daily
represent, as well as the need for a reader training that explores the multiple modes of texts,
the results obtained exposed the difficulties of the students to explore an image as a tex as
well as the importance of stimulating critical visual literacy in the classroom.
Keywords: Multimodality. Teaching. Social Representations. Anne with an “e”.
1 INTRODUÇÃO
A dinamicidade da sociedade contemporânea tem afetado a nossa comunicação
significativamente. Nos últimos anos, podemos constatar a transição de um mundo analógico
para o digital, e com ele, novos aparelhos, novos recursos e novas redes sociais. Com essa
mudança, passamos a produzir textos em diferentes formatos explorando, principalmente, o
visual. O visual está presente em todas as nossas produções e atrai o nosso olhar por se
configurar em múltiplos modos como: sons, movimentos, cores, imagens etc., sendo assim,
todas as nossas produções sempre foram multimodais (KRESS, 1996), mas, atualmente, estão
mais intensamente multimodais.
Diante disso, nossa concepção de texto também deve ampliar-se, a fim de abranger as
novas produções que estão surgindo e, para tanto, precisamos refletir sobre o que é a leitura,
para além do modo escrito. Durante muito tempo, a hegemonia do verbal prevaleceu como
única fonte de produção textual e representação de significados. Atualmente, já é possível
perceber que o código escrito é uma das formas de produção de sentidos e não, a única.
Então, “de que forma podemos utilizar esse contexto para o desenvolvimento de um
letramento visual positivo e inclusivo, dotado de atividades menos volúveis e descartáveis e
mais significativas, criativas e construtivas na sala de aula?” (OLIVEIRA, 2006, p. 17).
Portanto, atribuímos à escola e aos professores o dever de oportunizar na sua prática
pedagógica o desenvolvimento de uma leitura multimodal, que possa formar o aluno
criticamente para a sua vida social. Esse ensino pode se dar através das inúmeras ferramentas
que as mídias digitais nos oferecem, como, por exemplo, o recurso semiótico escolhido para a
nossa intervenção: as séries de tv. Cada recurso semiótico apresenta suas limitações e
potencialidades (affordances) de acordo com o que se pretende desenvolver (BEZEMER;
JEWITT, 2009), ficando a cargo do professor atuar como um designer, selecionando e
adequando a ferramenta aos seus objetivos.
Feito esses apontamentos, salientamos que a nossa análise é um recorte de como
recursos semióticos podem ser explorados na sala de aula, já que cada recurso semiótico
apresenta suas limitações e potencialidades (affordances) de acordo com o que se pretende
desenvolver (BEZEMER & JEWITT, 2009). Para esta pesquisa, consideraremos pelo menos dois
modos: o verbal e o visual, com ênfase no tratamento do texto visual, mais especificamente,
das imagens da série Anne with na “e”, no nosso contexto de ensino.
A série Anne with an “e” se baseia em obras literárias que têm classificação
infantojuvenil e é permeada de temáticas que podem ser exploradas na sala de aula. Com o
intuito de estimular o letramento multimodal crítico dos estudantes, focamos nas
representações sociais da mulher contidas nas cenas que selecionamos para a aula de língua
inglesa à luz do letramento multimodal. Nossa pesquisa teve, portanto, enfoque na
multimodalidade, defendida por Kress e van Leeuwen (1996), por acreditarmos que ela pode
contribuir para o contexto social, político e pessoal dos alunos, se inserida na dinâmica escolar.
Tal conceito vai ao encontro da Semiótica Social e da Linguística Aplicada (LA), áreas que
fundamentam e dão respaldo à multimodalidade.
A Semiótica Social, proposta por Hodge e Kress (1988), pode ser resumidamente
conceituada, a partir de duas das suas principais premissas: a de que o signo é sempre situado
em um contexto social e, portanto, é motivado, e a de que o significado não está apenas no
modo escrito/verbal, mas em uma variedade de modos (visual, sonoro, gestual, espacial etc.),
dos quais, aqui, destacaremos o modo visual. A Semiótica Social entende que os signos são
produzidos de acordo com os interesses de seus produtores, desse modo, a forma como dada
composição é orquestrada para convencer e persuadir seus leitores é uma das questões. À
multiplicidade de modos que pode haver em uma dada produção, chamamos de
multimodalidade (DESCARDECI, 2002). Portanto, como adotada aqui, a multimodalidade é uma
abordagem orientada pela Semiótica Social. Nessa perspectiva, imagens, por exemplo, são tão
carregadas de ideologia quanto qualquer texto verbal.
Já a linguagem pensada sob o viés da Linguística Aplicada não é conceituada também
somente como sistema. Muito pelo contrário. É ideológica e está conectada à cultura, à
identidade e à política. Entender como as relações sociais são produzidas, confrontadas e
reorganizadas é interesse da LA. Assim, a Linguística Aplicada tem mudado o foco central,
inicialmente pensado para o ensino de língua e aquisição de segunda língua, para um conceito
mais amplo e crítico da língua na vida social (PENNYCOOK, 2010. O autor cita, como exemplo,
as relações de poder e a luta contra alguns privilégios. Na nossa análise, veremos passagens
nas cenas exibidas, em que a luta das mulheres contra os privilégios dos homens é tema para
reflexão e é colocada para discussão entre os alunos. O trabalho feminista é citado pelo autor
como um exemplo de área evidentemente crítica, embora não se nomeie dessa forma. A sua
proposta de uma LA crítica, segundo o próprio autor, “apresenta uma forma de fazer
linguística aplicada que busca conectá-la a questões de gênero, classe, sexualidade, raça,
cultura, identidade, política, ideologia e discurso1” (PNNYCOOK, 2010, p. 16.3).
1
Tradução nossa para: presents a way of doing applied linguistics that seeks to connect it to questions of
genre, class, sexuality, race, ethnicity, culture, identity, politics, ideology and discourse (PNNYCOOK,
2010, p. 16.3).
Na seção seguinte, os conceitos teóricos utilizados neste trabalho serão melhor
discutidos, começando por considerações a respeito das representações femininas, bem como
definições e propostas pedagógicas que guiaram as nossas análises.
O conceito de leitura que adotamos aqui defende que a palavra leitura acarreta
consigo uma gama de sentidos, no entanto, o maior deles é a decodificação do código escrito.
Leitura significa, para a maioria das pessoas, ler palavras. Pensando dessa forma, o processo de
alfabetização cumpre o seu papel, mas devemos nos questionar se ele é suficiente, já que é
preciso interpretar o que lemos, criar sentido, fazer conexões com a nossa realidade e
sociedade, enfim, estamos falando de um processo demasiado subjetivo que, invariavelmente,
a alfabetização não abarca.
Como afirma Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra (1989, p. 09) ou
seja, antes de entrarmos na escola, onde veremos o conceito de leitura de modo
sistematizado, já produzimos significados na nossa rotina familiar e em outras esferas sociais.
Obviamente, a maioria das pessoas e boa parte dos professores, ainda não veem a leitura sob
essa perspectiva, muito embora, como já mencionado, Freire contestasse essa noção restritiva
da leitura ao código escrito há anos.
Considerando-se, assim, o sentido amplo de leitura proposto por
Paulo Freire, deve-se repensar o posicionamento teórico da escola
sobre leitura e escrita. O aluno (criança, jovem ou adulto) traz para o
ambiente escolar o conhecimento de um mundo que ele já aprendeu
a ler e escrever, a representar (no sentido de Kress & van Leeuwen,
1996), ainda que sem conhecer o código escrito como forma de
representação. Esse conhecimento é complexo em sua estrutura,
sendo perfeitamente válido para suas interações pessoais. Esse
conhecimento não pode ser simplesmente substituído por outro mais
valorizado e aceito por aqueles que lêem e escrevem o mundo
através da escrita (DESCARDECI, 2002, p. 20).
Com base em Oliveira (2006), estamos, cada vez mais, percebendo o mundo por meio
de imagens, ícones, símbolos, gráficos e desenhos e a junção dos modos semióticos é o que
acreditamos ser o melhor caminho. O texto visual permeia boa parte das nossas produções
diárias, portanto, ler o visual tornou-se uma necessidade já que “as novas noções de leitura
estão trazendo mudanças no que os leitores são, então novos usos modais e novas mídias
estão tendo efeitos igualmente profundos na escrita e na noção de autor e autoridade”
(KRESS, 2005, p.18-19).
As imagens ganharam um espaço nas nossas relações comunicacionais porque
“produzem e reproduzem relações sociais, comunicam fatos, divulgam eventos, e interagem
com seus leitores com uma força semelhante à de um texto formado por palavras”
(FERNANDES, ALMEIDA, 2011, p. 01). Com o aparato das telas, nossas mensagens são
constituídas em grande parte por símbolos e imagens, devendo o aluno aprender a ler essas
mensagens identificando as intenções na sua composição. Essas mensagens multimodais têm
seu processo de leitura pautado na não linearidade, oferecendo uma leitura de forma mais
ampla e dinâmica para compreensão das informações” (SOUZA, 2020, p. 29).
Nessas novas composições, a linguagem escrita tradicional não é mais a única capaz de
produzir sentidos, tampouco, os letramentos necessários para as práticas sociais dos
indivíduos. O código escrito é uma das formas de texto na era do visual, como assinala Oliveira
(2006). Imagem, vídeo, gifs, ilustrações, emojis, podcast são algumas das muitas possibilidades
que a tecnologia e as mídias digitais nos oferecem. Considerando esse poder do visual, Oliveira
(2006, p.17) atenta para o caráter “voyeurístico” da sociedade. A autora nos diz:
3 ANNE WITH NA “E” NA SALA DE AULA: UMA ANÁLISE MULTIMODAL COM BASE NO
MODELO “SHOW ME” DE JON CALLOW
Anne with an “e” é uma produção canadense, exibida originalmente pelo canal CBC
Television e pela plataforma de streming Netflix, entrando no seu catálogo em 2017. O enredo
é baseado nas obras de literatura infantojuvenil Anne de Green Gables, cuja publicação original
data de 1908 e foram escritas pela autora canadense Lucy Maud Montgomery. Portanto, trata-
se de um roteiro adaptado constituído de três temporadas e vinte e sete episódios no total
dirigido por Moira Walley-Beckett. Além disso, o tema explorado na série estava de acordo
com os nossos interesses, a saber, as representações da mulher na sociedade. Embora seja
uma produção de época, não podemos negar que muitas das representações levantadas pela
série se perpetuam em várias parte do mundo.
Para a exibição da cena utilizamos notebook, caixa de som e datashow. A intervenção
foi realizada durante uma aula de Língua Inglesa numa turma de segundo ano do ensino médio
de uma escola regular do estado do Ceará. Inicialmente, contextualizamos a série e a cena que
seria exibida posteriormente para a turma.
No primeiro episódio, Anne chega na fazenda Green Gables por uma falha de
comunicação visto que, o casal de irmãos Marila e Matthew Cuthbert queriam adotar um
menino para ajudar nos serviços da fazenda. Esse episódio gira em torno desse desencontro e
de como a protagonista Anne confronta os papeis sociais, apesar da pouca idade. Depois do
conflito instaurado, o casal de irmãos decide, com receio, adotar a garota e, a partir de então,
vemos uma família não convencional criar laços e promover reflexões sensíveis sobre diversos
temas.
mantém erguida de modo que, o seu olhar foca em Marila. Ambas as personagens se olham
numa representação bidirecional, onde, os participantes podem ser metas e atores, de acordo
com a GDV.
Essa definição de características constitui-se numa opressão social uma vez que,
aqueles indivíduos que não se adequam a elas, são invariavelmente, excluídos. Podemos
entender que os estudantes interpretaram que houve exclusão das mulheres nas duas
primeiras cenas trabalhadas, vide o próprio termo “exclusão” repetido nas respostas
transcritas acima. De acordo com Callow (2018), todos os textos fazem parte de contextos
globais, locais e sociais em constante mudança, portanto, a ideia que os alunos têm sobre o
papel social da mulher também sofre variações.
A cena levanta essa questão dentro de um contexto do século XIX, no qual, Marila
afirma que Anne não “serve” para o casal de irmãos e às suas necessidades. Marila reproduz os
ideais da sociedade patriarcal da época e que se assemelham, em alguns níveis, aos da
sociedade atual do século XXI. Anne, por sua vez, rejeita e confronta essas ideias ao se
equiparar com o sexo oposto quando diz “meninas podem fazer tudo que garotos fazem, e
mais!” trazendo à tona uma discussão necessária sobre a desigualdade de gêneros.
Segundo Bourdieu (2002), a força particular da sociodicéia masculina lhe vem do fato
de ela acumular e condensar duas operações: ela legitima uma relação de dominação
inscrevendo-a em uma natureza biológica que é, por sua vez, ela própria uma construção
social naturalizada. A definição de capacidades, sejam elas físicas ou cognitivas, a partir do
gênero, configura-se numa dominação masculina, tendo em vista que, os homens já nascem
com “vantagens” em relação ao sexo feminino.
Alguns termos usados pelos alunos evidenciam a construção social dos gêneros e, por
conseguinte, as tarefas atribuídas a cada um como, por exemplo, os termos: “trabalho de um
homem, coisas masculinas e coisas de mulher”. Propomos as seguintes reflexões: o que eles
compreendiam por trabalho de um homem e o que seriam coisas de mulher? Se os alunos
usaram essas expressões, provavelmente, elas fazem parte do contexto social deles e são
reproduzidas no ambiente familiar ou em suas outras esferas sociais de convívio.
PESQUISADORA: O que vocês entendem por trabalho de homem e
coisas de mulher?
AEM1: Os homens devem trabalhar na fazenda e as mulheres ficar na
cozinha.
AEM2: As mulheres devem cozinhar e limpar a casa e homens
trabalham no serviço pesado.
Salientamos que esses termos não foram citados nas cenas, sendo expressões de
conhecimento prévio do aluno. Para o questionamento do que seriam “coisas de mulher” o
AEM2 respondeu “cozinhar e limpar a casa”, assim, consideramos importante essa fala que
demonstra como os papéis de gênero são reproduzidos na nossa educação e cultura.
É importante levantarmos a discussão sobre o porquê de o gênero feminino ser
atribuído a determinadas tarefas e partes da casa, independentemente de sua escolha. A
justificativa a atribuição do gênero é tão arraigada culturalmente que, muitas vezes, as
próprias mulheres não se questionam sobre o assunto, apenas obedecem e cumprem o seu
papel. Até porque o próprio fato de questionar algo não é um comportamento aceitável na
cultura patriarcal.
O efeito contrário também se dá na educação masculina. Para os homens, a virilidade
deve ser expressa na força física e, portanto, seu papel é usá-la nos serviços pesados como
mencionou o AEM1. Essa característica por si só generaliza também o sexo oposto e podemos
observar essa construção nos discursos cotidianos. Aqueles homens que não seguem o padrão
de comportamento pregado pela sociedade patriarcal também serão discriminados.
Assim sendo, acreditamos que esses alunos também foram educados para seguirem
papéis sociais determinados e nesse processo, não tiveram a oportunidade de refletirem sobre
a questão de gênero, o que a nossa intervenção oportunizou. Também destacamos o exercício
de leitura do texto visual, dos movimentos, da cena como um todo e de sua composição de
significados. Tais textos também mediam discussões importantes em sala de aula e nos
ajudam na importante tarefa de aproximar os discentes da sua função como cidadão. Na
escola, nós formamos a sociedade, ou seja, também deve partir de nós, enquanto indivíduos
vivendo em coletividade, a transformação desses padrões danosos. Eles se manifestam nos
mais diversos textos e nas diferentes formas de interação. Os alunos e as alunas precisam ser
estimulados a perceberem e a visualizarem tais significados.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão acerca da representação social da mulher tem muitos ângulos pelos
quais podemos refletir. No nosso caso, trouxemos um recorte baseado na série Anne with an
“e”, para fomentarmos as reflexões sobre a desigualdade de gênero. Nossa proposta de
análise exemplificou como é necessário ampliarmos o nosso conceito de texto e leitura à luz da
Semiótica Social e da Multimodalidade objetivando uma leitura crítica.
Nossos resultados explicitaram que, no que tange às dimensões afetiva,
composicional e crítica nas cenas trabalhadas, ficou evidente o engajamento afetivo dos
discentes durante a nossa intervenção expressa pela unanimidade da participação,
preenchimento do roteiro de análise e pela identificação com as cenas. Constatamos que essa
dimensão foi a mais explícita nos nossos resultados. As dimensões, composicional e crítica
foram identificadas, ainda que de forma sutil e com o estímulo da professora – pesquisadora,
através dos modos semióticos: olhar, postura, discurso, vestimentas, movimentos, expressões
faciais e entonação da voz. Entretanto, destacamos como positiva a produção de sentidos
realizada pelos discentes referentes às dimensões afetiva, composicional e crítica.
Uma leitura crítica que forneça aos indivíduos condições de enxergar a realidade e
as suas possibilidades de mudanças induz uma participação efetiva na sociedade e uma
condição de autoconsciência enquanto cidadão. Consideramos que a série Anne with an “e”
tem grande potencial enquanto ferramenta pedagógica para trabalhar temas de
aprofundamento social, principalmente, com o público adolescente uma vez que, estes, em
sua maioria, já são adeptos das produções audiovisuais. Constatamos que a ampliação da
concepção de texto é o primeiro passo para que a abordagem multimodal seja implementada
na rotina da sala de aula. A compreensão de textos multimodais acaba por ser necessária
dentro da prática pedagógica, portanto, o olhar dos alunos pode e deve ser treinado para as
novas composições textuais que estão surgindo
Desta forma, entendemos que são necessárias mais discussões que provoquem
esse tipo de questionamento acerca da representação social da mulher no contexto
contemporâneo para que possamos construir uma sociedade com equidade de gênero e com
leitores multimodais capazes de inferir, identificar ou associar quaisquer relações de poder
implícita ou explícita nos textos a nossa volta.
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