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DISCIPLINA: COMUNICAÇÃO ORAL E ESCRITA

Aula 8. Regras de pontuação

Conteúdo
1. Sobre as pontuações

Se prestarmos atenção, uma mesma mensagem, pode ficar muito diferente na escrita e na
fala, por conta de pequenas modificações, a princípio, mas que podem trazer diversas
consequências boas ou ruins, porque, afinal, a interpretação, sem a devida pontuação, fica
a cargo de quem lê, podendo sofrer interferências pelo seu humor, desejo do momento etc.

No fundo, qualquer consequência diferente da mensagem real pode, no mínimo, pode


trazer desconforto.

No entanto, estamos vivendo uma era onde a internet nos propicia satisfação de nossas
necessidades cada vez mais rápidas e, consequentemente, vamos gerando cada vez mais
demandas imediatistas, onde tudo acaba sendo, como falamos, para “ontem”.

Por conseguinte, as comunicações escritas estão se adaptando a essa necessidade de


rapidez, seja com abreviaturas de termos e palavras (vc, OMG, blz, entre tantos outros),
como também por imagens de milhares emojis para significar nossa resposta (seja sim,
não, expressar sentimento, dúvida ou qualquer outra coisa), ou mesmo pequenas frases
sem pontuação que acabam nos confundindo, em alguns casos, por conta de nossas
interpretações pessoais.

Vejamos o exemplo de um trecho de uma conversa de WhatsApp, onde apenas os nomes


são fictícios:
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Na verdade, quando Ana começou a conversa sem usar pontuação, Bia conseguiu
entender parte do diálogo, identificando “Fazendo o q por aí” como pergunta e, então,
respondeu. Já na suposta segunda pergunta de Ana “tudo bem”, Bia entendeu que Ana
apenas estaria sendo gentil, por conta da resposta de Bia dizer que não estava fazendo
nada demais, e, por isso não respondeu, fazendo Ana intervir novamente preocupada com
a amiga.

Este exemplo, foi apenas um dos tantos que poderiam não oferecer nenhum problema ou
desconforto grave aos envolvidos.

Mas, vamos ler e refletir sobre a história antiga a seguir, de autor desconhecido:

“O marido de uma mulher foi convocado para a guerra.

A mulher, preocupada, procurou uma vidente querendo saber se o marido retornaria com
vida para casa. No entanto, a vidente não podia atender naquele momento e, diante da
insistência da mulher, ela apenas pensou por uns instantes e escreveu no papel, sem
colocar qualquer pontuação, e entregou a mulher:

irás voltarás não morrerás na guerra


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A mulher, ao ler o que a vidente tinha escrito, irradiou de felicidade, pois sua interpretação,
foi com a seguinte pontuação: "Irás, voltarás, não morrerás na guerra".

Passados alguns meses que a guerra tinha acabado e nada do seu marido voltar para
casa, a mulher retornou à vidente bastante brava.

Foi quando a vidente pegou o papel e pontuou:

"Irás, voltarás? Não! Morrerás na guerra."

Assim como no exemplo da conversa do WhatsApp, houve dificuldade de interpretar


exatamente o que o emissor da mensagem quis dizer com aquilo, por conta de
interferências de sentimentos e desejos. Na falta de pontuação adequada, usamos o que
nos é mais conveniente, seja consciente ou inconscientemente.

Assim, mesmo que seja numa simples conversa informal, se quisermos não correr o risco
de sermos mal interpretados, necessitamos fazer uso das pontuações corretamente.

1. Emprego da vírgula ( , )

Para entender o poder que apenas uma ou 2 vírgulas possuem, vamos observar as
situações a seguir:

Situação 1: História de autor desconhecido:

“Certa vez um condenado à morte mandou uma carta ao rei pedindo o seu perdão.

Ao ler a carta, o rei respondeu e mandou entregarem a resposta ao preso. Na resposta,


estava escrito: O Juiz te condenou eu não absolvo.

Ao receber o bilhete com a resposta do rei, o preso colocou as vírgulas que julgava
necessárias e entregou no tribunal, que, ao ler a resposta do rei, pôs o preso em liberdade.

Na carta que o preso entregou ao Tribunal estava escrito: O Juiz te condenou, eu não,
absolvo.”

Neste caso, as vírgulas fizeram a total diferença para definir o destino deste preso: a forca
ou a liberdade. E ele usou de seu conhecimento a seu favor, porque, apenas 2 vírgulas
definiram seu destino, mudando completamente o significado.

Se tivesse sido: “O rei condena, eu não absolvo.”, ele teria sido condenado e
consequentemente ido à forca.

Situação 2: Nesta situação, imaginemos que a frase a seguir, sem pontuação, foi colocada
no meio de uma conversa de grupo, onde preparavam uma surpresa para alguém.

“Ana fez o bolo”


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Vejamos:

SUJEITO PREDICADO VERBAL


VERBO COMPLEMENTO VERBAL
Ana Fez O bolo

Algumas pessoas poderiam entender que o assunto “bolo” estaria resolvido, pois Ana teria
feito. E outras pessoas que soubessem que a Ana estava responsável pela confecção do
bolo, poderiam entender que seria uma pergunta também, a fim de saber o posicionamento
dela a respeito.

Inclusive, a própria Ana poderia achar que fosse uma pergunta sobre o posicionamento
dela em relação ao bolo, ou caso ela já tivesse feito, poderia entender que alguém contaria
aos outros que ela havia feito.

Agora vejamos abaixo, apenas com a inclusão de uma vírgula após o nome de Ana:

VOCATIVO PREDICADO VERBAL


VERBO COMPLEMENTO VERBAL
Ana, Fez O bolo?

Reparem, que, usando vírgula, muda até a estrutura da frase. O que era sujeito simples
“Ana”, se tornou vocativo (utilizado para chamar, invocar alguém, quando se fala
diretamente com a pessoa).

E, para completar a informação, o ponto de interrogação ajudou bastante.

Se fosse escrito dessa segunda forma, todos teriam entendido a mesma coisa, pois todas
as pontuações estão presentes.

Diante da percepção da importância do uso da vírgula, vamos ao estudo das regras que
determinam seu uso.

A primeira coisa importante a se saber sobre a vírgula é que ela NÃO é usada para
respiração. Pois muitas vezes, se tem essa ideia equivocada e se acaba aplicando vírgula
para separar sujeito de predicado. Vejamos os exemplos:

CERTO ERRADO

O comandante da mais alta patente fez o O comandante da mais alta patente,


comunicado. (vírgula) fez o comunicado.

Ou seja, sempre que houver uma frase direta, sem interferências de advérbios, apostos,
vocativos, entre outros termos, NÃO haverá vírgula.

Vamos, então, aos casos em que ela deve ser utilizada:


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1.1. Para separar palavras ou orações justapostas assindéticas (que não possuem em sua
estrutura, conjunções):
Exemplo: Cheguei, vi, venci.

1.2. Para isolar vocativos:


Exemplo: Senhor, deseja mais alguma coisa?

1.3. Para isolar apostos e certos predicativos:


Exemplo: Brasília, capital do País, foi fundada em 1960. (aposto)
Audacioso e corajoso, o homem desbravou o mundo. (predicativo)

1.4. Para separar orações intercaladas e outras de caráter explicativo:


Exemplo: João, disse o professor, será bem classificado.

1.5. Para isolar expressões explicativas ou retificativas, como: isto é, a saber, por exemplo,
ou melhor, ou antes etc.
Exemplo: O verdadeiro amor, isto é, o sentimento mais lindo e puro do ser humano, é um
excelente remédio.

1.6. Para separar orações adjetivas explicativas:


Exemplo: Nem ele, que é o melhor da turma, quis participar do torneio de xadrez.

1.7. Para isolar orações adverbiais desenvolvidas fora da ordem:


Exemplo: Para isolar orações adverbiais reduzidas:
Ali eu entendi, sem receber explicação, aquela dura lição.

1.8. Para separar adjuntos adverbiais, fora da ordem canônica


Exemplo: Naquele tribunal, o advogado havia se aborrecido. (circunstância de lugar)

Observação: é comum não usar a vírgula quando os adjuntos adverbiais são curtos:
Exemplo: À noite ouviram-se muitos gritos.

1.9. Para indicar elipse (omissão) de um termo:


Exemplo: Na sala de aula, apenas João e mais três alunos. (A vírgula indica a supressão
do verbo há)

1.10. Para separar conjunções pospositivas, como: porém, contudo, pois, entretanto,
portanto etc.:
Exemplo: Ela vem, entretanto, exigir minhas coisas!

1.11. Para separar elementos paralelos de um provérbio popular:


Exemplo: Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura.

1.12. m) Reforço de ideia:


Exemplo: Não, ele não quer abrir a porta.

1.13. Para separar o nome do lugar nas datas:


Exemplo: Rio de Janeiro, 02 de junho de 2021.

ATENÇÃO!! Você, estudante atento, deve ter observado que existe certa regularidade em
todas as regras para o uso da vírgula: sempre que houver qualquer expressão entre os
elementos da estrutura Sujeito + Verbo + Complemento, haverá vírgulas!
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2. Ponto e vírgula ( ; ):

Cegalla (2008, p. 430) explica que o ponto e vírgula “denota uma pausa mais sensível que
a vírgula”, e é empregado principalmente para:

2.1. Separar orações coordenadas de certa extensão


Exemplo: Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu haste ao desconhecido,
guardando consigo a ponta farpada. (José de Alencar apud CEGALLA, 2008, p. 430)

2.2. Em enumerações, como:


Exemplo: Destacaram-se, na Conjuração Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado
Tiradentes; o poeta Cláudio Manuel da Costa, autor do poema épico Vila Rica; o poeta
Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu; o desembargador Inácio Alvarenga
Peixoto e o padre Luís Vieira da Silva, em cuja biblioteca se reuniam os conjurados.
(CEGALLA, 2008, p. 430)

2.3. Para separar os itens de um artigo de lei, de um regulamento.


Exemplo:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

3. Dois-pontos ( : )

Os dois-pontos são usados principalmente para:

3.1. introduzir aposto explicativo.


Exemplo: Só quero um presente: você.

3.2. introduzir enumeração.


Exemplo: Tenho duas coisas para falar: fique quieta e abrace-me.

3.3. introduzir discurso direto.


Exemplo: Jonas disse: “Ajudem-me!”.

4. Reticências ( … )

As reticências podem indicar:

4.1. suspensão do raciocínio.


Exemplo: O pai é um gênio. Já o filho…

4.2. supressão de trechos.


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Exemplo: Segundo o autor, “… o país só sofrerá”.

4.3. hesitação da personagem.


Exemplo: — É… veja bem… é melhor sairmos.

4.4. aumento da emoção.


Exemplo: As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação
do infeliz, foram estas:
“Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu
queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te”. (Camilo
Castelo Branco)

5. Aspas (“ ”)

As principais aplicações das aspas são para marcar:

5.1. conotação.
Exemplo: Ele estava uma “pilha”.

5.2. discurso direto.


Exemplo: O padre perguntou: “É isso mesmo que você quer?”.

5.3. estrangeirismos pouco comuns.


Exemplo: Você deve cobrar “royalties”.

5.4. neologismos.
Exemplo: A América Latina passará por uma “chavezação”?

5.5. gírias e expressões populares.


Exemplo: Ela achou “maneiro” o convite.

5.6. marcação da isenção do autor.


Exemplo: A intenção do ditador era aniquilar as raças “inferiores”.

5.7. ironia.
Exemplo: Está “linda” a sua filha

Reticências, dois pontos e ponto e vírgula. Mais bolsas, guia Enem. - DISPONÍVEL EM:< https://www.maisbolsas.com.br/
enem/lingua-portuguesa/reticencias-dois-pontos-e-ponto-e-virgula. >
Acesso em novembro, 2021.
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Parece besteira, no entanto, por mais abreviações e siglas que tenhamos na atualidade,
isso só funciona porque todos os envolvidos conhecem os significados do que
representam. No entanto, para funcionar 100%, necessita das pontuações adequadas,
mesmo nas pequenas conversas informais de texto.

Se uma pontuação é importante até para conversas informais, imaginem para a realização
de um trabalho acadêmico e/ou profissional. Qualquer emprego errado poderia por a
perder todo o conteúdo do que está ali, apenas pela possibilidade de uma interpretação
equivocada.

Devemos refletir a respeito!

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