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@lealbmari Emergência e uti

Trauma abdominal

INTRO:

O trauma abdominal é o sofrimento resultante de uma ação súbita e violenta, exercida contra o
abdômen por diversos agentes causadores: mecânicos, químicos, elétricos e irradiações. A incidência
desse traumatismo vem aumentando progressivamente e sua gravidade é determinada pela lesão de
órgãos ou estruturas vitais do abdômen e pela associação com outras lesões, principalmente crânio e
tórax.
A morte precoce por trauma abdominal grave é geralmente o resultado de uma perda maciça de
sangue por lesões penetrantes ou contusões. O sucesso no manejo do trauma abdominal é
caracterizado pela eficiência da abordagem inicial que permite instituir o diagnóstico precoce e o
tratamento oportuno das lesões intra-abdominais, quando presentes.

ANATOMIA:

PS: faltando na imagem o baço, que fica ali atrás do estômago, rins e trato geniturinário (bexiga, ureteres).
Peritônio: membrana serosa que reveste a cavidade do abdômen e os órgãos que se encontram na região.

Fisiopatologia do Trauma:

A divisão dos órgãos abdominais em órgãos ocos, sólidos e vasculares ajuda a explicar as
manifestações de lesões dessas estruturas. Quando feridos, órgãos sólidos (fígado, baço) e vasos
sanguíneos (aorta, veia cava) sangram, ambos os ocos (intestino, bexiga, vesícula biliar) despejam
principalmente seu conteúdo na cavidade peritoneal ou espaço retroperitoneal (eles sangram também,
mas muitas vezes não tanto quanto sólidos). A perda de sangue na cavidade abdominal,
independentemente de sua origem, pode contribuir para o choque hemorrágico ou ser a principal
causa de seu início. A liberação de ácidos, enzimas digestivas e/ou bactérias do trato digestivo para a
cavidade peritoneal causa peritonite (irritação do peritônio parietal) e sepse (infecção sistêmica) se
não for rapidamente detectada e tratada por intervenção cirúrgica.

AVALIAÇÃO E cinemática:

A avaliação de uma lesão abdominal pode ser difícil, especialmente diante das capacidades de
diagnóstico limitadas disponíveis no contexto pré-hospitalar.
As informações colhidas da vítima, quando possível, ou dos socorristas que efetuaram operação de
resgate são valiosas. As noções da biomecânica do trauma, o estado inicial da vítima no local de
atendimento, diagnósticos realizados, a resposta à infusão de fluidos no início e o tempo decorrido
desde o trauma irão auxiliar na suspeita de lesão abdominal.
Avaliar algumas informações são fundamentais para antecipar o padrão de lesões de acordo com a
situação que provocou o trauma.

 Colisões automobilísticas - o tipo de colisão (frontal, lateral, traseira, angular e capotamento);


localização e intensidade da deformação externado veículo; presença de vítimas ejetadas; morte
de um dos ocupantes do veículo; uso de dispositivos de segurança veicular (cinto de segurança,
air bag); grau de deformação do espaço interno do veículo ocupado pelas vítimas; e o
posicionamento das mesmas dentro do veículo.
 Colisões motociclísticas - informações sobre o uso e tipo de capacete pela vítima, a superfície onde
ocorreu o trauma e outros eventos relacionados ao trauma, como a ejeção e atropelamento
subsequente.
 Quedas - informações sobre a altura envolvida, superfície onde ocorreu, possíveis anteparos de
trauma antes de atingir o solo e a parte do corpo que primeiramente sofreu o impacto.
 Ferimentos penetrantes por arma branca - o sexo do agressor, número de lesões, o lado e posição
do corpo atingido e o tipo de arma (tamanho e diâmetro) são de extrema valia na avaliação inicial.
 Ferimentos penetrantes por arma de fogo - o tipo de arma, calibre, distância de disparo, número
de lesões, locais do corpo atingidos e o exame dos orifícios de entrada e/ou saída dos projéteis.

Tipos de trauma abdominal e classificação:

Classifica-se esse trauma em dois tipos principais:

 Aberto - quando um objeto perfura o indivíduo causando descontinuidade dos tecidos.

➯ Penetrantes: São mais evidentes, afetam o peritônio, comunicando a cavidade abdominal


com o exterior. Ocorre a penetração da parede abdominal por objetos estranhos ou a ruptura
da parede abdominal provocada por esmagamentos, limitando-se à parede do abdome sem
provocar lesões internas, mas, podendo causar eviscerações.
➯ Perfurantes: Quando há envolvimento visceral (de víscera oca ou maciça). Em caso do
objeto que penetrar na cavidade abdominal atingir alguma víscera, lesando órgãos e estruturas.

*Os ferimentos abdominais abertos são usualmente causados por armas de fogo, por armas brancas,
empalamento e objetos pontiagudos.
 Fechado ou Contuso - a pele permanece
íntegra, porém as vísceras são submetidas
a movimentos de aceleração,
desaceleração, compressão e
cisalhamento nas diversas direções devido
ao efeito do agente agressor transmitido
pela parede abdominal.

➯ Direto: Lesões por impacto, como a


compressão do cinto de segurança nas vítimas.
➯ Indireto: Ocorre transferência de energia cinética, através da parede abdominal, para os
órgãos internos, lesando-os. Ex. colisão do abdômen contra painel, volante, agressões, choque
de objetos contra o abdômen em atividade esportivas, queda de desníveis, etc.

SINAIS E SINTOMAS:

 Dor abdominal devido ao trauma direto ou pela irritação peritoneal;


 Rigidez do abdômen (“abdômen em tábua”);
 Palidez, sudorese fria, pulso rápido e fino ou ausente, cianose de extremidades, hipotensão
arterial (sinais de choque hipovolêmico!!);
 Fratura de costelas inferiores, equimoses, hematomas, ferimentos na parede do abdômen;
 Abdômen escavado, como se estivesse vazio (sinal de lesão do diafragma, com migração das
vísceras do abdômen para o tórax);
 Lesões penetrantes são mais evidentes; logo, facilmente identificáveis. Em alguns casos, essas
lesões estão em locais menos visíveis (dorso, nas nádegas ou na transição do tórax com o
abdômen);
 Evisceração;
EXAME FÍSICO:

 Sequência sistemática: inspeção, ausculta, percussão e palpação;


 Avaliação pélvica (instabilidade, sangramentos, hematomas, deformidade...);
 Avaliação uretral, perineal, retal, vaginal e glútea (lesões, equimose, lacerações,
sangramento...);

Atendimento pré-hospitalar:

Medidas a serem tomadas pelos socorristas para minimizar os danos do estado de choque em
decorrência do trauma abdominal:

 Desobstruir as vias aéreas permitindo boa ventilação.


 Ministrar oxigênio a 12 ou 15 litros por minuto.
 Elevar os membros inferiores.
 Aquecer a vítima evitando a hipotermia, que agrava o estado de choque.
 Controlar hemorragias externas de ferimentos ou imobilizar fraturas de ossos longos da
maneira mais rápida possível, sem retardar o transporte, para minimizar perdas adicionais de
sangue.
 Em caso de evisceração, limpar essas vísceras de detritos grosseiros com soro fisiológico e
cobri-as com plástico esterilizado próprio ou com compressas úmidas a fim de isolá-las do
meio ambiente. Em hipótese alguma, tentar reintroduzir as vísceras no abdômen, porque o
sangramento pode agravar ou causar o extravasamento de fezes.
 Em casos de objetos que penetrem no abdômen, nunca retirá-los. Cortá-los, se necessário, e
proteger para que não se movam durante o transporte.

Diagnóstico:

 FAST/USG abdominal – exame de triagem padrão realizado em pacientes traumatizados e


envolve avaliações do flanco direito, flanco esquerdo e pelve, para procurar por líquido livre
intraperitoneal.
 Lavagem Peritoneal Diagnóstica (LPD) – É realizada uma pequena incisão onde o líquido
peritoneal é aspirado com uma seringa. Se forem obtidas amostras de sangue, matéria
fecal, bile, urina ou líquido intestinal, o resultado é positivo, e é realizada uma
laparotomia. Caso não for obtido dessa forma, é introduzido 1 L de solução salina e após
ser drenado naturalmente, obter amostras para análise laboratorial.
 Tomografia Computadorizada - O ideal é que o exame seja feito com contraste para a
perfeita visualização dos órgãos. Buscar líquidos ou hemorragias dentro ou fora dos órgãos
na cavidade abdominal.

Corte transversal

Tratamento:

 Não operatório - O paciente deve permanecer em observação clínica e, dependendo do


potencial para instabilidade hemodinâmica, deverá ficar em ambiente de terapia intensiva
com monitorização contínua dos sinais vitais. Neste período, o paciente deve estar em
repouso absoluto no leito, o exame físico deve ser repetido.
 Tratamento cirúrgico - Os pacientes com sinais de irritação peritoneal, instabilidade
hemodinâmica ou sangramento retal após ferimentos penetrantes, por arma branca ou arma de
fogo do tronco devem ser encaminhados para exploração cirúrgica imediata. Os pacientes
com instrumentos empalados no abdômen devem ser submetidos à laparotomia exploradora
para a retirada do mesmo sob visão direta.

Referências:

 https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/348/349
 https://www.scielo.br/j/abcd/a/cnz77y9mxghfmfcjmgh8wdg/?lang=pt
 https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/trauma-fechado/27212#
 http://revista.universo.edu.br/index.php?
journal=1UNICARECIFE2&page=article&op=viewArticle&path%5B%5D=6968#
 https://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340458761cap_16_trauma_abdome.pdf
 https://www.cepeti.com.br/arq/materialCientifico/cepeti-11-c760fff2.pdf
 http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/2550
 PHTLS (9ª edição): Capítulo 11 - Trauma Abdominal

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