Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MARTINS
Construindo Uma Educação de Qualidade
Rua: Napoleão Moura, nº 479, São Francisco - Nova Russas/CE - CEP: 62200-000
CNPJ: 06.045.289/0001-41 INEP: 23090642
E-mail: zilmar.semec@hotmail.com
Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente
vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A falácia Amazônica. A misteriosa falácia
Negra.
Hermeneutas deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se
complicaria.
-- Os hermeneutas estão chegando!
-- Xi, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hemeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases
ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada
pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter
um sentido oculto.
-- Alô...
-- O que é que você quer dizer com isso?... Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
-- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto. Plúmbeo devia ser o barulho que o corpo faz ao
cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no
dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato
exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um som lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no
ouvido das mulheres:
--- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas...Ah, algumas defenestravam. Também podia ser algo contra pragas
e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria assim defenestradores profissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes
termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações. Devo tê-la usado uma ou outra vez, como em:
-- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada era a palavra exata.
Um dia finalmente procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração"
vem do francês defenestration. Substantivo feminino, ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Acabou a minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos
dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar
alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido
a tempo. [...]
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada
para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e
sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada. [...]
Em outra ocasião, uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta
para cima e balbucia:
-- Fui defenestrado… Alguém comenta:
-- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta
crônica. Se ela sair é porque resisti.
Luís Fernando Veríssimo.
GLOSSÁRIO
1. Depois de descobrir o real significado de defenestração, o narrador continua fascinado pela palavra porque
A) fica imaginando as razões da existência de tal palavra.
B) não vê utilidade na palavra na língua portuguesa.
C) pensou na possibilidade do significado real.
D) remete a uma ação impraticada em nossa cultura.
A decadência do Ocidente
O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com ela, para alegria de toda a família. O filho
mais moço, inclusive, nunca tinha visto uma galinha viva de perto. Já tinha até um nome para ela – Margarete
– e planos para adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha seria, obviamente, comida.
-- Comida?!
-- Sim, senhor.
-- Mas se come ela?
-- Ué. Você está cansado de comer galinha.
-- Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?
-- Claro.
Na verdade, o guri gostava muito de peito, de coxa e de asas, mas nunca tinha ligado as partes do animal.
Ainda mais aquele animal vivo ali no meio do apartamento.
O doutor disse que queria comer uma galinha ao molho pardo. A empregada sabia como se preparava aquilo?
A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois veio a
mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo.
-- A empregada não sabe fazer?
-- Não só não sabe fazer, como quase desmaiou quando eu disse que precisava cortar o pescoço da galinha.
Nunca cortou um pescoço de galinha.
-- Era o cúmulo! Então a mulher que cortasse o pescoço da galinha.
-- Eu?! Não mesmo!
O doutor lembrou-se de uma velha empregada de sua mãe. A Dona Noca.
-- A Dona Noca já morreu – disse a mulher.
-- O quê?!
-- Há dez anos.
-- Não é possível! A última galinha ao molho pardo que eu comi foi feita por ela.
-- Então faz mais de 10 anos que você não come galinha ao molho pardo.
Alguém no edifício se disporia a degolar a galinha. Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém se
animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o Rogerinho do 701, que fazia coisas inomináveis com gatos. Somos uma
civilização de frouxos! – sentenciou o doutor. Foi para o poço do edifício e repetiu:
-- Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida!E a Margarete só olhando.
VERÍSSIMO, Luís Fernando.
3. A palavra destacada no trecho “A empregada sabia como se preparava aquilo?” (linha 13-14) se refere
A) à civilização de frouxos.
B) à galinha ao molho pardo.
C) à receita de Dona Noca.
D) ao pescoço da galinha.
A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na
lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a
desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou-a parar. A velhinha
parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
-- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva
nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo
e respondeu:
-- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para
examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à
velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba,
dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou
parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era
mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas às vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
-- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra
burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
-- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
-- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a
ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
-- O senhor promete que não “espaia”? – quis saber a velhinha.
-- Juro – respondeu o fiscal.
-- É lambreta.
Stanislaw Ponte Preta.
4. O fato que deu início a esta narrativa foi
A) a velhinha passar todos os dias pela fronteira montada em uma lambreta.
B) a velhinha passar todo dia pela fronteira carregando um saco na lambreta.
C) o fiscal, desconfiado, mandar a velhinha parar para saber o que havia no saco.
D) o fiscal esvaziar o saco e confirmar que a velhinha só carregava areia.
Leia o texto.
Leia o texto.
Feias, sujas e imbatíveis
As baratas estão na Terra há mais de 200 milhões de anos, sobrevivem tanto no deserto como nos pólos e
podem ficar até 30 dias sem comer. Vai encarar?
Férias, sol e praia são alguns dos bons motivos para comemorar a chegada do verão e achar que essa é a
melhor estação do ano. E realmente seria, se não fosse por um único detalhe: as baratas. Assim como nós, elas
também ficam bem animadas com o calor. Aproveitam a aceleração de seus processos bioquímicos para se
reproduzirem mais rápido e, claro, para passearem livremente por todos os cômodos de nossas casas.
Nessa época do ano, as chances de dar de cara com a visitante indesejada, ao acordar durante a noite para
beber água ou ir ao banheiro, são três vezes maiores.
Revista Galileu. Rio de Janeiro: Globo, Nº 151, Fev. 2004, p.26.Fragmento.
9. A palavra destacada no trecho: “O lugar tinha comida simples, tradicional, lugar pequeno [...]” (linha 2)
foi utilizada para substituir a palavra
A) balcão.
B) Itália.
C) restaurante.
D) salão.
Observe a imagem abaixo.
GABARITO
QUESTÃO CORRELAÇÃO GABARITO
(DCRC - EF35LP04) (SPAECE – D02)
01 A
(DCRC - EF04LP25) (SPAECE – D05)
02 D
03 (DCRC - (EF08LP15/ EF07LP13) (SPAECE – B
D14)
(DCRC – (EF67LP29) (SPAECE – D11)
04 A
(DCRC - EF35LP09) (SPAECE – D10)
05 A
(DCRC - (EF69LP05) (SPAECE – D20)
06 C
(DCRC - EF35LP05) (SPAECE – D03)
07 A