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paulo-o-que-ja-sabemos-sobre-o-crime
Publicado em NOVA ESCOLA 11 de Abril | 2023

Violência

Ataque em escola de São


Paulo: ações e desafios
depois do atentado
Após aluno de 13 anos matar professora na E.E. Thomázia
Montoro, rede estadual busca reforçar a prevenção
NOVA ESCOLA

Escola onde ocorreu o ataque fica na zona oeste de São Paulo. Foto: Secretaria
de Educação do Estado de São Paulo/Divulgação
Um aluno de 13 anos, armado com uma faca, realizou um atentado na E.E.
Thomázia Montoro (SP), na manhã de segunda-feira (27). A professora Elisabeth
Tenreiro, de 71 anos, foi alvo do adolescente, não resistiu aos ferimentos e
morreu. Outras cinco pessoas receberam atendimento e estão estáveis.
Em entrevista coletiva, representantes das secretarias de Educação e Segurança
Pública garantiram que psicólogos já iniciaram atendimentos à comunidade
escolar, que teve as aulas suspensas.
Além disso, foi anunciada a ampliação do programa Conviva, ação estadual com
o objetivo de identificar as vulnerabilidades de cada unidade escolar para a
implementação do Método de Melhoria de Convivência (MMC), atrelado a
“atividades proativas de segurança”.
Leia mais: Brasil registra nove ataques em escolas nos últimos nove meses
Conforme as autoridades, está em processo de cotação a contratação de
psicólogos e psicopedagogos, que irão realizar 150 mil horas de atendimento
presencial em toda a rede estadual.
O caso na EE Thomázia Montoro
De acordo com o Governo do Estado de São Paulo, um conflito envolvendo o
estudante ocorreu na última sexta-feira (24), quando ele proferiu ofensas
racistas contra outro aluno, o que deu início a uma discussão.
Por conta desse acontecimento, a diretora da unidade havia marcado uma
conversa com ele na manhã de segunda (27). O aluno havia sido transferido
recentemente de outra escola, localizada em Taboão da Serra (SP), por
episódios de violência. Ao apreender o celular do agressor, a polícia constatou
tweets de sua conta privada anunciando o ataque.
A professora Elisabeth Tenreiro, que morreu no ataque, era funcionária
aposentada do Instituto Adolfo Lutz, da Secretaria de Estado da Saúde, e
contribuiu ativamente com a instituição ao longo de quatro décadas de trabalho
na área de planejamento e desenvolvimento de atividades. Desde 2013, ela
atuava como professora da rede e, na EE Thomázia Montoro, dava aulas de
Ciências desde o início deste ano.
“Eu conversei com a família, que está em choque. Eles me pediram que tomasse
medidas para evitar novos ataques, e é isso que estamos focando”, conta
Renato Feder, secretário estadual de São Paulo. “A diretora me disse que
[Elisabeth] era uma mulher maravilhosa. Tinha chegado há pouco tempo, mas
já havia encantado os alunos. Podia se aposentar, mas não queria por amar a
profissão”, complementa.
Desafios e ações após o ataque
Mário Almeida, professor, psicólogo e gestor do Programa Conviva SP. Crédito:
Secretaria de Educação de São Paulo
Mário Almeida, professor, psicólogo e gestor do Programa Conviva SP, acredita
que o período de isolamento social causado pela pandemia trouxe ainda mais
desafios relacionados ao clima escolar, já que a distância dificultou a
aproximação entre escolas e estudantes.
“Ficamos presos dentro de casa, falando com pessoas que estavam longe da
gente [equipe escolar]. Em 2022, no retorno às aulas presenciais, tivemos um
boom de violência que não esperávamos ser tão forte”, opina o especialista,
que também menciona como desafio a atuação de grupos neonazistas no
estímulo a atentados.
Para ele, os ataques às escolas são “um sinal de que a sociedade está doente, e
a escola passa a ser um reflexo desta sociedade doente. [Porém], a escola passa
a ser responsabilizada por questões que também deveriam ser tratadas pelas
famílias e pela sociedade de forma geral.”
O gestor do programa elenca alguns pontos de atenção para a comunidade
escolar observar e, dessa forma, ter possibilidades para prevenir situações de
violência nas instituições:
Não considerar racismo, homofobia, transfobia e outros tipos de discriminação
como brincadeira do ambiente escolar;
Levar a sério situações de bullying e buscar não apenas atender vítimas, mas
orientar também agressores e as famílias;
Observar comportamentos de alunos que possam ser indicativos de questões
como depressão, automutilação (também conhecido como cutting) ou
distúrbios de ordem emocional.
“Se fizermos a prevenção dessas situações, prevenimos também casos maiores
de violência”, ressalta o especialista. Mario também reforça a importância da
gestão escolar buscar a origem dessas situações, que podem estar em
diferentes maneiras de preconceito.
Para a prevenção, Mário Almeida reforça que o Conviva SP envia para as
escolas da rede estadual, em comunicados internos, informes com protocolos
que indicam o que professores e gestores escolares devem fazer em casos de
violência. Conversas com os pais e famílias, acionamento do Conselho Tutelar,
abertura de Boletim de Ocorrência e pedido de reforço para a Polícia Militar são
alguns dos procedimentos indicados, de acordo com o gestor do programa.
“O Conviva pretende fortalecer as formações das equipes [após o atentado na
E.E. Thomazia Montoro]. Temos 300 pessoas nas diretorias de ensino do estado
de São Paulo, além de 500 professores-orientadores de convivência. O objetivo
é aumentar o número para 5 mil professores-orientadores e, além da formação
para os novos integrantes do programa, que incluirá temas como cultura de paz
e justiça restaurativa. O Conviva também trabalhará para reforçar sua atuação
junto à comunidade escolar para ajudá-la a identificar questões relacionadas à
saúde mental”, acrescenta Mário Almeida.
O gestor também menciona a importância do acolhimento após os ataques
para a comunidade escolar. No dia do atentado, o professor conduziu o
processo de acolhimento por meio de uma roda de conversa com a equipe
escolar, que passou a ser acompanhada nos dias seguintes por equipes da
Secretaria de Saúde em atendimentos individuais.
A importância da cultura de paz e da prevenção
“Há uma responsabilidade de toda a sociedade, de olharmos para crianças e
adolescentes para entender não apenas o que as escolas precisam fazer por
eles, mas também o papel das famílias e de todos nós”, afirma Ana Lígia
Scachetti, diretora-executiva na Associação Nova Escola em entrevista ao canal
CNN Brasil. A especialista menciona uma pesquisa realizada em agosto de 2022,
com mais de 5 mil professores, que indicou o aumento da violência nas escolas.
No levantamento, 8 em cada 10 educadores relataram ter presenciado
situações de violência nas escolas em que trabalham.
“Os professores também responderam que viram um aumento da violência
após o período da pandemia, de ensino remoto. É preciso lembrar que crianças
e adolescentes ficaram praticamente dois anos sem convivência social, sendo
que a escola é um ambiente que exige muito diálogo e colaboração. Se
determinados comportamentos não foram adequadamente trabalhados
[durante o isolamento], eles vão aflorar de um jeito inadequado na escola”,
complementa a especialista.
O trabalho preventivo é primordial para evitar novos casos de violência ,
destaca Ana Lígia. “Depois que eles aconteceram, nos resta pensar no
acolhimento da comunidade escolar, mas é preciso garantir que todo mundo
pense sobre maneiras de evitar [ ataques ] cotidianamente, para entender
como uma criança ou adolescente pode ser alguém que vai ter
comportamentos violentos – e o que deve ser feito a partir disso. Todo mundo
deve pensar sobre isso e ajudar a construir uma cultura de paz, tanto
individualmente quanto coletivamente, para que a escola seja um lugar que
construa uma convivência pacífica sadia entre todos”, acrescenta.

*Texto publicado em 27/03 e atualizado em 11/04/2023, com informações de


Paula Salas e Jonas Carvalho

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