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HIDROLOGIA APLICADA

Professora: Ana Luiza Ferreira Campos Maragno

Unidade 5 – Evaporação e Evapotranspiração

1 Introdução
O conhecimento da perda d’água de uma superfície natural é de grande importância
para diversos profissionais: meteorologistas, agrônomos, hidrologistas, botânicos, etc.
Todos estão interessados em conhecer a taxa pela qual a água deixa uma determinada
superfície sob forma de vapor para se incorporar à atmosfera.

2 Definição
Evaporação: é o conjunto de fenômenos de natureza física que transformam em vapor a
água da superfície do solo, a dos cursos d’água, lagos, reservatórios de acumulação e
mares.
Esse processo pode ser expresso matematicamente por:

Tal que:
E – taxa de evaporação
dm – massa que passa para o estado de vapor num intervalo de tempo (dt).

Sólido Æ líquido Æ vapor

A mudança de estado sólido ou líquido para gasoso corresponde a um aumento da


energia das partículas da substância.

Nos sólidos cada partícula tem oscilação de muito pequena amplitude em volta de uma
posição média quase permanente.

Nos líquidos a energia cinética média das partículas é maior do que nos sólidos, mas
uma partícula que se liberta PE logo capturada pelas partículas vizinhas.

Nos gases a energia cinética á ainda maior e suficiente para libertá-las umas das outras

Com o escape das partículas de água para a atmosfera dá-se o fenômeno inverso:
partículas de água da fase gasosa, que existem na atmosfera, chocam-se com a
superfície do corpo evaporante e são capturadas por ele.

A evaporação mantém-se até se atingir o estado de equilíbrio, que corresponde à


saturação do ar em vapor d’ água.
Saturação: Estado de equilíbrio Æ o número de partículas de água que escapam do
corpo evaporante é igual ao nº de partículas na fase gasosa que são capturadas pelo
corpo, no mesmo intervalo de tempo.

Condições básicas para ocorrência da evaporação:

- Fonte de energia: radiação solar

- Existência de um gradiente de concentração de vapor: uma diferença entre a pressão


de saturação do vapor à temperatura da superfície e a pressão de vapor do ar
atmosférico.

3 Influências meteorológicas

3.1 Temperatura da superfície

A variação da intensidade da radiação solar recebida na superfície produz uma variação


na temperatura da superfície, modificando a energia cinética das moléculas. A altas
temperaturas mais moléculas escapam da superfície, devido à sua energia cinética.

3.2 Temperatura e umidade do ar

A temperatura e umidade do ar condicionam a pressão de vapor do mesmo, agindo no


gradiente de vapor entre a superfície e o ar vizinho.

3.3 Vento

O vento modifica a camada de ar vizinho a superfície, substituindo uma camada muitas


vezes saturada por uma com menor teor de vapor d’água.

3.4 Outros

- Pressão atmosférica
- Tamanho da superfície evaporante
- Umidade do solo
- Composição e textura do solo

4 Terminologia

4.1 Evaporação potencial

Capacidade de evaporação ás condições ambientais

4.2 Transpiração

Perda d’água devido as atividades físicas e fisiológicas dos vegetais (através dos
estômatos).
4.3 Evapotranspiração

Evaporação do solo + transpiração das plantas

4.3.1 Evapotranspiração potencial

Evapotranspiração de uma superfície natural, tal que:

- Esteja totalmente coberta


- O teor de umidade esteja próximo a capacidade do campo

4.3.2 Evapotranspiração rela ou atual

Perda d’água nas condições reinantes (atmosféricas e de umidade do solo).

5 Determinação da evaporação evapotranspiração

5.1 Métodos de estimativa

5.1.1 Método aerodinâmico

Lei de Dalton

Tal que:

E = Evaporação
C = Função de parâmetros meteorológicos
es = pressão de saturação à temperatura da superfície
e = pressão de vapor do ar

Das várias equações encontradas em livros sobre evaporação, apresentam-se a seguir


duas:

Tal que:

U2 = velocidade do vento obtida a 2m acima da superfície evaporante

e2 = pressão do vapor do ar a 2m de altura acima da superfície


5.1.2 Método do balanço energético

Tal que:

R1 – radiação líquida por unidade de área e tempo


Fc – fluxo de calor para o interior do solo
Qs – fluxo Ed calor sensível para a atmosfera
LE – fluxo de calor latente (quantidade de energia gasta na evaporação)

R1 LE Qs

Figura 1 – termos do balanço de energia

5.1.3 Métodos combinados

A) Método de Penman

Tal que:

Ep – Evapotranspiração
R1 – Radiação evaporante do ar a sombra
∆ – tangente à curava de pressão de saturação do vapor, Figura 2
Ea – Poder evaporante do ar a sombra
γ – Constante psicométrica
T (°C)
Curva de saturação

es (mmHg)

B) Método de Penman – Bavel (Simplificação do método de Penman)

Van Bavel propôs uma simplificação do método, construindo um monograma


simples (Figura 3), para a determinação da evapotranspiração potencial diária (ET)
partindo apenas de:

n/N – Razão de insolação, n é a insolação média e N a insolação máxima (Tabela 1)

RA - Radiação que chega no topo da atmosfera, expressa em milímetros de


evaporação equivalentes (Tabela 2)

t – Temperatura média diária do ar (°C)

Tabela 1 – Valores de N – Duração máxima de insolação diária em horas, nos vários


meses do ano e latitudes de 10 graus sul e 30 graus sul. Valores correspondentes ao
15º dia de cada mês

Lat. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
10° 12,6 12,4 12,1 11,9 11,7 11,5 11,6 11,8 12,0 12,3 12,6 12,7
12° 12,7 12,5 12,2 11,8 11,8 11,4 11,5 11,7 12,0 12,4 12,7 12,8
14° 12,8 12,8 12,2 11,8 11,5 11,8 11,4 11,6 12,0 12,4 12,8 12,9
16° 13,0 12,7 12,2 11,7 11,4 11,2 11,2 11,6 12,0 12,4 12,9 13,1
18° 13,1 12,7 12,2 11,7 11,8 11,1 11,1 11,5 12,0 12,5 13,0 13,2
20° 13,2 12,8 12,2 11,6 11,2 10,9 11,0 11,4 12,0 12,5 13,2 13,3
22° 13,4 12,8 12,2 11,8 11,1 10,8 10,9 11,8 12,0 12,6 13,2 13,5
24° 13,5 12,9 12,8 11,5 10,9 10,7 10,8 11,2 11,9 12,6 13,3 13,6
26° 13,6 12,9 12,8 11,5 10,8 10,5 10,7 11,2 11,9 12,7 13,4 13,8
28° 13,7 13,0 12,3 11,4 10,7 10,4 10,6 11,1 11,9 12,8 13,5 13,8
30° 13,9 18,1 12,3 11,4 10,3 10,3 10,4 11,0 11,9 12,6 13,6 14,1
Tabela 2 – Radiação solar recebida na ausência da atmosfera, em milímetros de
evaporação equivalente, no 15º dia de cada mês, para latitudes de 10º sul a 30º sul.

Lat. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
10° 15,6 15,6 14,8 13,6 12,2 11,6 11,9 13,0 14,4 15,2 15,5 15,6
12° 15,9 15,6 14,7 13,4 11,8 11,2 11,6 12,8 14,2 15,2 15,7 15,8
14° 16,1 15,7 14,6 13,1 11,5 10,8 11,2 12,5 14,2 15,3 15,9 16,0
16° 16,2 15,8 14,5 12,8 11,2 10,4 10,8 12,2 14,0 15,3 16,0 16,2
18° 16,4 15,8 14,4 12,6 10,9 10,0 10,5 11,9 13,8 15,3 16,2 16,5
20° 16,6 15,8 14,2 12,2 10,4 9,6 10,1 11,6 13,6 15,2 16,3 16,7
22° 16,8 15,8 14,0 11,9 10,0 9,2 9,7 11,2 13,4 15,2 16,4 16,8
24° 16,8 15,8 13,8 11,6 9,6 8,8 9,3 10,9 13,2 15,2 16,4 17,0
26° 16,9 15,7 13,6 11,2 9,2 8,4 8,8 10,6 12,9 15,1 16,5 17,2
28° 17,0 15,6 13,4 10,9 8,8 7,8 8,4 10,2 12,6 15,0 16,6 17,3
30° 17,0 15,6 13,2 10,5 8,4 7,4 8,0 9,8 12,4 14,8 16,6 17,4

Figura 3 – Nomograma para calcular a evaporação potencial segundo Penman-Bavel

Uso do monograma:

- Procurar na Tabela 2 o valor da radiação que chega no topo da atmosfera (mm), para o
dia considerado
- Obter na Tabela 1 a insolação máxima. Obter a razão de insolação
- Unindo-se os pontos relativos aos valores de Ra e n/N obtém-se um valor de referencia
na reta do centro do monograma. Unindo-se esse valor ao valor da temperatura média
diária, obtém-se, na escala à direita, o valor da ET do dia considerado.
C) Método de Thornthwaite

Tal que:

t = temperatura média mensal (ºC)


I = índice de calor

A equação de Thornthwaite é bastante complexa para uso prático, mas pode ser aplicada
com o uso do Nomograma (Figura 4).

Uso do nomograma:

- Une-se o valor da temperatura média anual (T) com o ponto de convergência (C).
- Com a temperatura média mensal determina-se a evapotranspiração potencial para
cada mês (Ep).

Tal que:

Fator de correção – ajusta os valores obtidos ao comprimento do dia e ao número de


dias do mês (Tabela 3).

Tabela 3 – Fatores de correção da evapotranspiração potencial mensal, dada pelo


nomograma de Thornthwaite para ajustá-la ao número de dias do mês e a duração do
brilho solar diário, nos vários meses do ano e latitude entre 15 graus norte e 37 graus
sul.

Lat. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
15ºN 0,97 0,91 1,03 1,03 1,11 1,008 1,12 1,08 1,02 1,01 0,95 0,97
10ºN 1,00 0,91 1,03 1,03 1,08 1,05 1,08 1,07 1,02 1,02 0,98 0,99
5ºN 1,02 0,93 1,03 1,02 1,06 1,03 1,06 1,05 1,01 1,03 0,99 1,02
Eq 1,04 0,94 1,04 1,01 1,04 1,01 1,04 1,04 1,01 1,04 1,01 1,04
5ºS 1,06 0,95 1,04 1,00 1,02 0,99 1,02 1,03 1,00 1,05 1,03 1,05
10ºS 1,08 0,97 1,05 0,99 1,01 0,96 1,00 1,01 1,00 1,06 1,05 1,10
15ºS 1,12 0,98 1,05 0,98 0,98 0,94 0,97 1,00 1,00 1,07 1,07 1,12
20ºS 1,14 1,00 1,05 0,97 0,96 0,91 0,95 0,99 1,00 1,08 1,09 1,15
22ºS 1,14 1,00 1,05 0,97 0,95 0,90 0,94 0,99 1,00 1,09 1,10 1,16

23ºS 1,15 1,00 1,05 0,97 0,95 0,89 0,94 0,98 1,00 1,09 1,10 1,17
24ºS 1,16 1,01 1,05 0,96 0,94 0,89 0,93 0,98 1,00 1,10 1,11 1,17
25ºS 1,17 1,01 1,05 0,96 0,94 0,88 0,93 0,98 1,00 1,10 1,11 1,18
26ºS 1,17 1,01 1,05 0,96 0,94 0,87 0,92 0,98 1,00 1,10 1,11 1,18
27ºS 1,18 1,02 1,05 0,96 0,93 0,87 0,92 0,97 1,00 1,11 1,12 1,19

28ºS 1,19 1,02 1,06 0,95 0,93 0,86 0,91 0,97 1,00 1,11 1,13 1,20
29ºS 1.19 1,03 1,06 0,95 0,92 0,86 0,90 0,96 1,00 1,12 1,13 1,20
30ºS 1,20 1,03 1,06 0,95 0,92 0,85 0,90 0,96 1,00 1,12 1,14 1,21
31ºS 1,20 1,03 1,06 0,95 0,91 0,84 0,89 0,96 1,00 1,12 1,14 1,22
32ºS 1,21 1,03 1,06 0,95 0,91 0,84 0,89 0,95 1,00 1,12 1,15 1,23

33ºS 1,22 1,04 1,06 0,94 0,90 0,83 0,88 0,95 1,00 1,13 1,16 1,23
34ºS 1,22 1,04 1,06 0,94 0,89 0,82 0,87 0,84 1,00 1,13 1,16 1,24
35ºS 1,23 1,04 1,06 0,94 0,89 0,82 0,87 0,94 1,00 1,13 1,17 1,25
36ºS 1,24 1,04 1,06 0,94 0,88 0,81 0,86 0,94 1,00 1,13 1,17 1,26
37ºS 1,25 1,05 1,06 0,94 0,88 0,80 0,86 0,93 1,00 1,14 1,18 1,27

Figura 4 – Nomograma para cálculo de evapotranspiração potencial mensal, não


ajustada, pela fórmula de Thornthwaite.
D) Método de Blaney e Criddle

Tal que:

Ep – Evapotranspiração potencial mensal (mm)


t – temperatura média mensal (ºC)
T – temperatura média anual (ºC)
p – porcentagem de horas diurnas do mês sobre o total de horas diurnas do ano
(tabelado)
K – coeficiente que é função da planta cultivada (Tabela 4)

Tabela 4 – Coeficiente K

Período de Coeficientes de evapotranspiração “K”


Culturas
crescimento (meses) Litoral Zona Árida
Algodão 0,60 0,65
7
Arroz 1,00 1,20
3-4
Batata 0,65 0,75
3
Cereais menores 0,75 0,85
3
Feijão 0,60 0,70
3
Milho 0,75 0,85
4
Pastos 0,75 0,85
-
Citrus 0,50 0,85
-
Cenoura 0,60 -
3
Tomate 0,70 -
4
Hortaliças 0,60 -

5.2 Métodos de medida

- Evaporímetro ordinário

Recipiente cilíndrico de eixo vertical.

No Brasil o mais usado é tanque Æ classe A, com diâmetro de 1,22m e altura 25,4cm

Abaixamento do nível de água (h)

Sendo que:

V – volume de água que se evapora


A – área da secção reta do recipiente

As indicações fornecidas pelos evaporímetros são afetadas pelas formas e dimensões


dos aparelhos, assim como pela disposição dos mesmos (submersos parcialmente na
água, parcialmente enterrados no solo, etc) e por outros fatores como:
- formação da película de poeira
- perda de água devido a pássaros que venham se banhar no recipiente
- efeito de sombreamento ocasionado por dispositivos de proteção contra pássaros.

Assim, utiliza-se de coeficientes, que no caso do evaporímetro classe A:

- Evapotranspirômetro ( método do balanço hídrico – Figura 5)

Solo
local
Areia Grossa 10cm
Cascalho 10cm

Coleta o
excesso

Figura 5 – Esquema do evapotranspirômetro

De posse dos dados de drenagem (medidas diariamente), dos dados de precipitação e


irrigação, calcula-se a evaporação potencial do período:

Sendo que:

E – Evaporação (Evapotranspiração)
P – Precipitação do período
I – Irrigação do período
D – drenagem do período
A – Área do tanque
6 Exercícios

1.

Latitude 18°

t PENMAN - BAVEL THORNTHWAITE


Dias Inso-
média E
do Mês lação Ep Ep Ep Fator
mensal N Ra n/N real
mês (n) diária mensal mensal Corr.
(ºC)
31 1 25,0 10,2
28 2 23,2 9,6
31 3 23,0 9,2
30 4 21,0 9,0
31 5 18,0 8,7
30 6 16,0 8,3
31 7 16,5 7,5
31 8 17,0 7,8
30 9 21,0 9,3
31 10 22,6 9,1
30 11 23,0 9,4
31 12 24,6 9,8
Σ 250,9

2. Determine a necessidade de irrigação em uma cultura onde ocorreu uma única chuva
crítica, isto é, uma chuva com intensidade igual a máxima provável de duração 30
minutos. Considere como necessidade de irrigação a diferença entre o volume infiltrado
e a evapotranspiração potencial.

Foram levantados os seguintes dados na bacia:

- temperatura média anual: 21°C


- temperatura média mensal: 24ºC
- latitude média: 26° Sul
- mês em estudo: novembro
- em 10 anos de dados foram observados, para a duração de 30 minutos:
Média = 40mm/h
Desvio Padrão = 15mm/h

O solo apresenta os seguintes parâmetros da equação de Horton:

f0 = 60mm/h
fc = 20mm/h
k = 0,011 min-1

Tempo decorrência da chuva: 4 anos.

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