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Irrigação e

Drenagem

Prof.ª Alessandra Janaina Becker


Prof.ª Daniele Candido da Costa
Prof. Eduardo Santana Aires

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Alessandra Janaina Becker
Prof.ª Daniele Candido da Costa
Prof. Eduardo Santana Aires

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

B395i

Becker, Alessandra Janaina

Irrigação e drenagem. / Alessandra Janaina Becker; Daniele


Candido da Costa; Eduardo Santana Aires. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

185 p.; il.

ISBN 978-85-515-0489-5

1. Produtos agrícolas. - Brasil. I. Becker, Alessandra Janaina. II. Costa,


Daniele Candido da. III. Aires, Eduardo Santana. IV. Centro Universitário
Leonardo Da Vinci.

CDD 630

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico!

Seja bem-vindo ao Livro Didático Irrigação e Drenagem!

Compreender aspectos fundamentais dos sistemas de irrigação e drenagem


é essencial para um profissional da área. Com base em conhecimentos adquiridos
neste livro, será possível projetar, manejar e avaliar esses sistemas, lembrando que a
irrigação aplicada de forma correta permite o aumento da produtividade e da qualidade
dos produtos agrícolas. Ainda, reduz os riscos de perdas da produção ocasionados por
períodos de seca. A drenagem é a remoção do excesso de água e sais minerais do solo
para que esse possa ter uma boa aeração e salinidade. O resultado é o aumento da
produtividade, assim, aprofundá-la também é essencial. Esses são conhecimentos que
irão complementar sua formação profissional, que você estudará ao longo desse livro.

Na Unidade 1, veremos uma introdução sobre a irrigação. Estudaremos a


relação entre água, solo e planta, buscando entender como esses três interagem e se
impactam. Ainda, aprenderemos o armazenamento de água no solo e discutiremos o
uso de recursos hídricos nas atividades agrícolas.

Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os sistemas de irrigação. Aprenderemos


as aplicações e como elaborar um projeto de irrigação considerando as variáveis
técnicas, aspectos econômicos e ambientais. Veremos sobre irrigação localizada, de
aspersão, por superfície e como selecioná-las.

Por fim, na Unidade 3, estudaremos drenagem. Entendendo os principais


efeitos do excesso de água no solo, bem como dimensionar os sistemas de drenagem.
Iniciaremos tendo noções de drenagem, após, veremos os efeitos da drenagem no solo
e plantas e finalizaremos aprofundando sobre drenagem subterrânea e superficial.

Boa leitura!

Prof.ª Alessandra Janaina Becker


Prof.ª Daniele Candido da Costa
Prof. Eduardo Santana Aires
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

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os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

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apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

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verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

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dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À IRRIGAÇÃO...............................................................1

TÓPICO 1 - RELAÇÃO ÁGUA-SOLO-PLANTA.......................................................... 3


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 CARACTERÍSTICAS DO SOLO.............................................................................. 3
3 CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO.......................................................... 7
4 NECESSIDADE HÍDRICA DAS PLANTAS.............................................................. 9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 14
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 15

TÓPICO 2 - ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO..............................................17


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................17
2 ESTRUTURA E PROPRIEDADES ASSOCIADAS À ÁGUA....................................17
3 INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO...................................................................... 18
4 REDISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO SOLO...............................................................20
5 CAPACIDADE DE ÁGUA DISPONÍVEL................................................................ 21
5.1 TENSIÔMETRO..................................................................................................................... 22
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................23
AUTOATIVIDADE....................................................................................................24

TÓPICO 3 - RECURSOS HÍDRICOS NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS..................... 27


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 27
2 IRRIGAÇÃO NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS....................................................... 27
2.1 ESTRATÉGIAS DE MANEJO DA IRRIGAÇÃO.................................................................. 29
3 QUIMIGAÇÃO.......................................................................................................30
4 IMPACTOS AMBIENTAIS.....................................................................................32
5 USO RACIONAL DE ÁGUA...................................................................................34
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................... 37
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE....................................................................................................42
REFERÊNCIAS........................................................................................................45

UNIDADE 2 — SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO..............................................................49

TÓPICO 1 — IRRIGAÇÃO LOCALIZADA.................................................................. 51


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 51
2 GOTEJAMENTO...................................................................................................53
3 MICROASPERSÃO...............................................................................................53
3.1 MONTAGEM DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA............................................ 53
3.1.1 Rede de distribuição.................................................................................................. 54
4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO................................................................................ 57
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................59
AUTOATIVIDADE....................................................................................................60

TÓPICO 2 - IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO..............................................................63


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................63
2 CONVENCIONAL..................................................................................................64
2.1 MONTAGEM DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO...................................... 64
2.1.1 Escolha correta do aspersor.................................................................................... 65
2.1.2 Vazão do aspersor..................................................................................................... 66
2.1.3 Aplicação de água..................................................................................................... 66
2.1.4 Eficiência do sistema e aspersor e dimensionamento da linha lateral.........67
3 MECANIZADA...................................................................................................... 67
3.1 SISTEMA AUTOPROPELIDO...............................................................................................67
3.1.1 Montagem do sistema de irrigação mecanizada autopropelido....................68
3.1.2 Vantagens e desvantagens do sistema.............................................................. 69
3.2 SISTEMA PIVÔ CENTRAL.................................................................................................. 69
3.2.1 Montagem do sistema de irrigação mecanizada- pivô central..................... 69
3.2.2 Vantagens e desvantagens do sistema.............................................................. 70
3.3 DESLOCAMENTO LINEAR................................................................................................ 70
4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO.................................................................................71
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................... 72
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 73

TÓPICO 3 - IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE............................................................ 75


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 75
2 SULCOS............................................................................................................... 76
3 IRRIGAÇÃO POR FAIXAS.................................................................................... 77
4 IRRIGAÇÃO POR INUNDAÇÃO............................................................................78
4.1 IRRIGAÇÃO CONTÍNUA...................................................................................................... 78
4.2 IRRIGAÇÃO TEMPORÁRIA.................................................................................................79
5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO................................................................................ 79
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE....................................................................................................82

TÓPICO 4 - SELEÇÃO DO MÉTODO DE IRRIGAÇÃO.............................................85


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................85
2 ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE IRRIGAÇÃO..................................................88
3 AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO.......................................................89
4 EXEMPLOS DE PROJETOS.................................................................................90
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................93
RESUMO DO TÓPICO 4...........................................................................................99
AUTOATIVIDADE..................................................................................................100
REFERÊNCIAS......................................................................................................103

UNIDADE 3 — DRENAGEM................................................................................... 107

TÓPICO 1 — NOÇÕES DE DRENAGEM NA AGRICULTURA...................................109


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................109
2 MAPAS FREÁTICOS..........................................................................................109
2.1 POÇOS DE OBSERVAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO..................................................... 110
2.1.1 Leitura dos poços e equipamentos utilizados................................................... 112
2.2 PIEZÔMETROS................................................................................................................... 112
2.3 HIDROGRAMAS.................................................................................................................. 113
2.4 MAPAS DE ISOÍPSAS (ISOHYPSES).............................................................................. 113
2.5 MAPAS DE ISÓBATAS....................................................................................................... 114
2.6 MAPA DE VARIAÇÃO DE NÍVEL...................................................................................... 115
2.7 INTERPRETAÇÃO DOS MAPAS FREÁTICOS................................................................ 115
3 COEFICIENTES DE DRENAGEM.........................................................................117
3.1 COEFICIENTE DE DRENAGEM SUBTERRÂNEO...........................................................117
3.2 COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL.........................................................117
4 SISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERA........................................................... 118
4.1 POTENCIAL HÍDRICO......................................................................................................... 119
4.2 MOVIMENTO DA ÁGUA.................................................................................................... 120
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 126

TÓPICO 2 - EFEITOS DA DRENAGEM NO SOLO E PLANTAS.............................. 129


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 129
2 CARACTERÍSTICAS DO SOLO.......................................................................... 129
2.1 TEXTURA DO SOLOS........................................................................................................ 130
2.2 ESTRUTURA DO SOLO..................................................................................................... 131
2.3 CONSISTÊNCIA................................................................................................................. 133
2.4 POROSIDADE.................................................................................................................... 134
2.5 DENSIDADE DO SOLO..................................................................................................... 134
2.6 COMPACTAÇÃO DO SOLO.............................................................................................. 135
2.7 ESTABILIDADE DOS AGREGADOS................................................................................ 135
2.8 RESISTÊNCIA DO SOLO À PENETRAÇÃO................................................................... 135
3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA DRENAGEM AGRÍCOLA............................. 136
3.1 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA...................................................................................... 136
3.1.1 Método de permeâmetro de carga constante.................................................. 138
3.1.2 Método de permeâmetro de carga variável...................................................... 138
3.1.3 Método do poço ou furo do trado (Auger-Hole).............................................. 139
3.1.4 Método do poço seco.............................................................................................. 141
3.1.5 Permeâmetro de Guelph........................................................................................ 141
3.2 POROSIDADE DRENÁVEL.............................................................................................. 143
4 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE SOLO E PLANTAS..........................144
4.1 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE O SOLO..................................................... 144
4.1.1 Aeração do solo........................................................................................................ 145
4.1.2 Estrutura.................................................................................................................... 145
4.1.3 Textura....................................................................................................................... 146
4.1.4 Temperatura do solo............................................................................................... 146
4.2 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE AS PLANTAS.......................................... 146
4.2.1 Aeração.......................................................................................................................147
4.2.2 Nutrientes..................................................................................................................147
4.2.3 Temperatura............................................................................................................. 148
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................... 149
AUTOATIVIDADE..................................................................................................150

TÓPICO 3 - DRENAGEM SUBTERRÂNEA E DRENAGEM SUPERFICIAL............ 153


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 153
2 REGIMES DE DRENAGEM.................................................................................154
2.1 REGIME CONSTANTE OU PERMANENTE..................................................................... 154
2.2 REGIME VARIÁVEL OU NÃO PERMANENTE............................................................... 155
3 EQUAÇÕES DE DRENAGEM.............................................................................. 156
3.1 CÁLCULOS DE DRENAGEM SUPERFICIAL.................................................................. 156
3.1.1 Equação de Manning................................................................................................157
3.2 EQUAÇÕES DE CÁLCULO DE ESPAÇAMENTO ENTRE OS DRENOS.....................157
3.2.1 Fórmula de Donnan................................................................................................ 158
3.2.2 Fórmula de Hooghoudt......................................................................................... 158
3.2.3 Fórmula de Ernst.................................................................................................... 158
3.2.4 Fórmula de Glover-Gumn..................................................................................... 159
3.2.5 Fórmula de Boussinesq........................................................................................ 159
4 DRENAGEM SUBTERRÂNEA............................................................................ 159
5 DRENAGEM SUPERFICIAL...............................................................................160
5.1 SISTEMA NATURAL........................................................................................................... 160
5.2 SISTEMA EM CAMALHÃO................................................................................................ 161
5.3 SISTEMA INTERCEPTOR................................................................................................. 162
5.4 SISTEMAS COM DRENOS RASOS E PARALELOS..................................................... 162
5.5 ESPINHA DE PEIXE.......................................................................................................... 162
5.6 DUPLO PRINCIPAL........................................................................................................... 163
5.7 AGRUPAMENTO................................................................................................................ 163
5.8 SISTEMATIZAÇÃO DE ÁREAS........................................................................................ 163
5.9 TIPOS DE DRENOS........................................................................................................... 164
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 166
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................171
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 172
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 175
UNIDADE 1 -

INTRODUÇÃO À
IRRIGAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a relação água-solo-planta e seu impacto na irrigação;

• conhecer os parâmetros envolvidos no armazenamento de água no solo;

• conhecer as aplicações da irrigação nas atividades agrícolas;

• compreender os impactos ambientais causados pela irrigação e explorar o uso


racional da água.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – RELAÇÃO ÁGUA-SOLO-PLANTA


TÓPICO 2 – ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO
TÓPICO 3 – RECURSOS HÍDRICOS NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS

CHAMADA
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1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
RELAÇÃO ÁGUA-SOLO-PLANTA

1 INTRODUÇÃO
Segundo Farias et al. (2001), a imprevisibilidade das variações climáticas
confere à ocorrência de adversidades climáticas o principal fator de risco e de insucesso
nos cultivos agrícolas. De acordo com o autor, estresses abióticos, como a seca,
podem reduzir significativamente os rendimentos da lavoura. Sendo o déficit hídrico,
normalmente, o principal fator responsável por perdas na lavoura.

A água constitui 90% do peso da planta influenciando em praticamente todos


os processos fisiológicos e bioquímicos (CASAGRANDE et al., 2001). Além disso, a falta
de água pode afetar a eficiência do processo fotossintético, de forma direta e indireta. A
irrigação é uma prática agrícola que se vale de um conjunto de equipamentos e técnicas
para que não haja deficiência total ou parcial de água para as plantas.

O manejo da irrigação só será eficiente se considerar as relações entre solo-


água-planta, pois é indispensável conhecer a realidade local antes de definir as
técnicas e manejo a serem adotadas. Desta forma, iremos explorar essas relações e
seu impacto no decorrer deste Livro Didático. O manejo da irrigação depende de alguns
conhecimentos básicos. As técnicas que você verá ao longo deste livro são todas boas e
eficientes, mas devem ser definidas de acordo com as condições de cada produtor rural,
das características físicas do local (solo, clima e disponibilidade de água), da planta e da
capacidade de investimento.

Por isso, no Tópico 1, abordaremos as características do solo, a curva de retenção


de água no solo e a necessidade hídrica das plantas. O entendimento desses temas será
importante para darmos continuidade aos estudos de irrigação e drenagem.

2 CARACTERÍSTICAS DO SOLO
O solo é um componente importante na agricultura e um aliado na irrigação e
drenagem, pois funciona como um reservatório de água. Uma característica essencial
do solo é seu dinamismo, ou seja, ele está sempre em evolução. A intensidade dessas
mudanças depende do ambiente ao qual ele está inserido, incluindo também as
interferências antrópicas.

Quando falamos de solo, estamos nos referindo à camada externa e agricultável


da superfície terrestre (REICHARDT; TIMM, 2004). O solo é formado por corpos naturais,
composto por sólidos, líquidos e gases (SANTOS et al., 2018). A fração sólida é composta
3
por substâncias inorgânicas e materiais orgânicos. A fração líquida forma a solução
do solo, onde se encontram elementos químicos. E os gases que circulam entre as
partículas do solo formam a fração gasosa, sendo resultante de processos bioquímicos
como a respiração de raízes, microrganismos e da macrofauna. Na composição do solo,
tanto as partículas sólidas quanto os espaços vazios são importantes. Nestes espaços
vazios, ou poros, o ar e a água circulam e as raízes podem se desenvolver. Há uma
proporção ótima de espaço poroso e água no solo, sendo 25% cada. Proporções maiores
de água, ele está encharcado, se menor, ele estará seco. Solos com mais de 50% do
volume com sólidos têm maior propensão a compactação.

Os solos são examinados da superfície ao subsolo – de cima para baixo –


considerando cortes paralelos e organizados em horizontes e camadas. Esses são
diferenciados tomando-se por base o material que os formou e que sofrem transformações
ao longo do tempo sob influência de fatores como clima, organismos e relevo. Os horizontes
refletem os processos de formação do solo, então, como é possível identificar sua origem?
Tomando-se por base o intemperismo de rochas e outros sedimentos. Já as camadas
quase não são afetadas por esses processos e, em geral, mantém as características
do material de origem (PEREIRA et al., 2019). Nesse contexto, a água tem um papel na
translocação, adição ou remoção de materiais no interior do perfil do solo.

FIGURA 1 – HORIZONTES E CAMADAS DO SOLO

FONTE: <https://shutr.bz/3J4VydB>. Acesso em: 10 mar. 2022.

4
A subdivisão do solo em diferentes camadas e horizontes faz que cada um seja
analisado individualmente, e, assim, possamos projetar que tipo de manejo deve ser
adotado. Essa projeção é importante no manejo da irrigação, bem como nos outros
manejos das culturas.

A textura do solo tem efeitos diretos na irrigação das culturas. Isso acontece,
pois, essa característica influência também na taxa de infiltração de água, na aeração
do solo, na capacidade de retenção de água, na nutrição da planta, e nas forças de
aderência e coesão nas partículas do solo (ANTÔNIO, 2016). Observe que as proporções
das partículas areia, silte e argila (fração granulométrica) presentes no solo formam
a sua textura. Classifica-se o tamanho das partículas classificado da seguinte forma:
argila (< 0,002 mm); silte (0,002 – 0,05 mm); Areia fina (0,05 – 0,2 mm); areia grossa (0,2
– 2 mm). E as frações mais grosseiras do que a fração areia são: cascalho (2 – 20 mm);
calhau (20 – 200 mm); matacão (> 200 mm) (SANTOS et al., 2018; TEIXEIRA et al., 2017).

No triângulo textural, existem 13 classes de textura, com base nos valores de


argila, silte e areia é possível fazer a sua determinação (FIGURA 2).

FIGURA 2 – TRIANGULO TEXTURAL

FONTE: <https://shutr.bz/3MC8AS6>. Acesso em: 10 mar. 2022.

5
O termo franco, ou de textura franca, refere-se a uma mistura de partículas
de areia, silte e argila, que tem propriedades de cada uma em proporções semelhantes.
Isso não quer dizer que estejam presentes na mesma quantidade, já que essas classes
não se encontram no centro do triângulo. Uma porcentagem pequena de argila já é capaz
de dar ao solo propriedades argilosas, e pequenas quantidades de silte e areia afetam
pouco a sua composição – por exemplo, solos com apenas 26% de argila podem ser
considerados com textura franco-argiloso. Já, para ser classificado como areia-franca
ou franco-siltoso, precisa de ao menos 45% de areia ou 50% de silte, respectivamente.

INTERESSANTE
Os lados do triângulo textural representam uma escala de 0 a 100% de
areia, argila e silte. A interpretação da escala deve ser feita no sentido
das setas. E ao encontrar o ponto de encontro, obtém-se a classe
textural daquele solo. Para entender melhor como obter esse resultado,
aprofunde seus conhecimentos sobre o triangulo textural em: https://bit.
ly/35Qc6aP.

Com o objetivo de simplificar as análises com relação à textura, especialmente


no seu manejo, podemos agrupar os solos em três classes: textura arenosa (solos
leves), textura média (solos médios), textura argilosa (solos pesados). Então, qual a
relação desses conceitos com a irrigação? A classe do solo determina como será o
comportamento da água naquele ambiente.

Solos de textura arenosa possuem altos teores de areia e baixos teores de argila
o que faz que sejam permeáveis e leves. Têm baixa capacidade de retenção de água e
nutrientes e baixo teor de matéria orgânica.

O efeito disso é que a água infiltra com facilidade, mas não fica muito tempo
retida. Possuem poros maiores e as partículas de areia não possuem íons em superfície
fortes para resistir à força da gravidade e, assim, manter a água por muito tempo aderida
como nas argilas.

A vantagem é que são solos mais fáceis para serem preparados; a desvantagem
é que têm baixa capacidade de retenção de nutrientes e são altamente susceptíveis à
erosão. São solos que, se incorporados matéria orgânica, têm melhora na retenção de
água e nutrientes.

Os solos de textura média ou solos médios são caracterizados pelo equilíbrio


entre os teores de areia, silte e argila. Em geral, apresentam boa drenagem, boa
capacidade de retenção de água e nutrientes e são medianamente suscetíveis à erosão.
Essas características proporcionam a esses solos, adaptabilidade a todos os métodos
de irrigação implantados.

6
Já os solos de textura argilosa, ou solos pesados, possuem altos teores de argila,
baixa permeabilidade e alta capacidade de retenção de água e nutrientes. A força entre
as partículas desses solos são altas, dificultando a penetração das raízes e o uso de
implementos agrícolas, já que o solo fica aderido a eles com facilidade. Diferentemente
dos solos arenosos são mais resistentes à erosão, entretanto, são altamente susceptíveis
à compactação.

ATENÇÃO
Solos com partículas grosseiras possuem ótimas propriedades quanto à
permeabilidade e arejamento, porém, baixa capacidade de retenção de água
e nutrientes. Solos com partículas finas, têm boa ou satisfatória capacidade
de retenção, mas a permeabilidade e o arejamento reduzidos, o que pode
prejudicar o desenvolvimento das plantas.

3 CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO


A curva de retenção de água no solo é uma informação fundamental para o
manejo da irrigação. É um gráfico que relaciona a porcentagem de água retida com o
potencial matricial da água no solo que é a força de ligação entre as moléculas de água
e as partículas do solo. Quando se fala em tensão do solo, quanto maior o número, mais
seco o solo se encontra, por exemplo, solos com tensão de 20 kPa são mais secos do
que solos com tensão de 10 kPa. Fatores como o tamanho das partículas do solo, sua
forma e arranjo, afetam a retenção de água no solo.

7
FIGURA 3 – CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO (A – TEXTURA ARGILO-ARENOSA; B – TEXTURA
ARENOSA).

FONTE: Adaptada de Andrade Júnior et al. (2007)

E por que é importante conhecer essa curva? Para poder determinar a


capacidade de campo do solo, o ponto de murcha permanente e a disponibilidade total
de água no solo, variáveis importantes para o manejo de irrigação. A consequência de se
irrigar um solo sem saber dessas variáveis pode acarretar na aplicação de mais água do
que o solo é capaz de armazenar. A consequência é a percolação da água que se perde
abaixo da profundidade da raiz, pois a água abaixo da raiz é um desperdício. Lembre-se,
o cenário ideal é irrigar somente onde a raiz puder absorver.

Outra possível consequência é aplicar mais água no período noturno em solo


com pouca capacidade de armazenamento, como os arenosos, por exemplo. Nessa
situação, a água pode percolar durante a noite e assim a planta passará por estresse
hídrico durante o dia. Em ambas as situações relatadas, a implicação é a diminuição da
produtividade do cultivo.

Podemos determinar a curva de retenção de água no solo utilizando a câmara


de pressão de Richards, uma espécie de panela de pressão. Por meio dessa metodologia

8
é simulada uma determinada tensão na amostra de solo e posteriormente, por diferença
de peso, determina-se o conteúdo de água relacionada à tensão aplicada.

Existem dois pontos do gráfico que são os mais importantes de se conhecer:


o ponto de Capacidade de Campo (CC) e o Ponto de Murcha Permanente (PM),
exploraremos esses pontos no próximo tópico.

DICA
A determinação da curva de retenção depende de alguns passos que
vão desde a correta coleta da amostra, até a obtenção dos dados e
construção dos gráficos. O conhecimento desses pontos auxiliará no melhor
entendimento de como manejar a irrigação. Assim, entenda o passo a passo
para determinação da curva de retenção de água no solo em laboratório
acessando: https://bit.ly/367ub43.

4 NECESSIDADE HÍDRICA DAS PLANTAS


Sabemos que, de uma forma geral, seres vivos precisam de água, correto?
E as plantas também precisam de água, correto? As culturas consomem uma
grande quantidade de água para que possam completar seu ciclo de crescimento, e
aproximadamente 98% do volume consumido passa pela planta e chega até a atmosfera
em razão da transpiração.

A água flui continuamente através das plantas: entra pelas raízes e sai pelos
estômatos (transpiração). Assim, a transpiração faz que as plantas necessitem de
água disponível no solo. Entretanto, você já parou para pensar por que exatamente as
plantas precisam de água? Conforme destacado por Pimentel (2004) as funções da
água incluem:

• permitir a difusão de minerais, solutos celulares e gases, nas células e entre órgãos;
• reagente ou substrato para reações celulares como a fotólise da água, processo que
dá início a fotossíntese (Figura 4);
• fonte do oxigênio molecular existente na atmosfera (produzido na fotossíntese) e do
hidrogênio para redução do gás carbônico (CO2) a carboidrato;
• hidrólise de macromoléculas (amido em açúcares solúveis), importantes para
germinação de sementes e na respiração noturna (não há produção de carboidratos
pela fotossíntese à noite);
• manutenção da turgescência celular para sustentação das plantas herbáceas,
aumento do volume celular e consequente crescimento do vegetal, na abertura dos
estômatos e nos movimentos de folhas e flores.

9
FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DA FOTOSSÍNTESE

FONTE: <https://shutr.bz/3J12f0g>. Acesso em: 10 mar. 2022.

Assim, o déficit hídrico tem como efeito primário reduzir o potencial hídrico,
acarretando a desidratação celular e resistência hidráulica. Após, afeta a expansão celular,
atividades celulares e metabólicas, no fechamento estomático, inibição fotossintética,
causa abscisão foliar, entre outros efeitos. Como apresentado anteriormente, o excesso
de água no solo também é prejudicial às plantas. Esse excesso pode acontecer tanto
em ambientes encharcados quanto em solos compactados. O efeito negativo dessas
condições é a remoção do oxigênio do solo por lixiviação de nutrientes e aparecimento
de doenças.

Estudos comprovam que pode haver redução de rendimento mesmo em anos


climaticamente favoráveis, se o déficit hídrico ocorrer no período crítico, ou seja, da
pré-floração ao início do enchimento do grão. No caso do milho, durante o período
vegetativo, há redução do crescimento, em consequência do decréscimo da área foliar
e da biomassa. A soja possui dois períodos críticos bem definidos com relação à falta de
água: na semeadura a emergência e no enchimento dos grãos. Durante a germinação,
tanto a falta quanto o excesso têm efeitos negativos para a cultura. A deficiência hídrica
provoca alterações no comportamento vegetal cuja intensidade ou resistência vai
depender do genótipo, da duração, da severidade e do estádio de desenvolvimento da
planta (SANTOS; CARLESSO, 1998).

10
IMPORTANTE
Dificilmente a disponibilidade de água de um solo é exatamente a ótima para
uma cultura durante todo o seu ciclo. Pode variar de deficiente a excessivo,
de um dia para outro ou em intervalos curtos. Existe uma faixa de valores de
umidade que possibilita os rendimentos mais elevados para a maioria das
plantas cultivadas. O maior desafio é manejar a água no solo de maneira a
manter as condições dentro dessa faixa ótima.

A umidade relativa do ar também afeta a disponibilidade de água no solo, pois


ela determina o gradiente de pressão de vapor entre a cavidade estomática foliar e a
atmosfera. O efeito da baixa umidade é um amplo gradiente de pressão que, mesmo
quando há água no solo, impede a sua absorção. Quanto mais a planta transpirar, mais
ela irá demandar água. Em geral, a redistribuição de água nas raízes ocorre durante a
noite, pois é durante esse período que a demanda evaporativa das folhas é menor.

Para que a irrigação seja eficiente e não haja desperdício ou gastos elevados, é
essencial conhecer a necessidade hídrica do cultivo, pois cada espécie tem diferentes
necessidades e diferentes ambientes impõem diferentes necessidades.

Um ponto importante a ser observado é que a necessidade hídrica aumenta


à medida que as plantas crescem. Isso se deve ao incremento da taxa de respiração
pelas folhas. Para tal, calcula-se a quantidade de água que o cultivo precisa receber
diariamente, e esse valor é conhecido por meio do cálculo da evapotranspiração de cada
cultura (ETc). Para conhecer o valor é preciso ter acesso a dados climáticos fornecidos
por intermédio de estações meteorológicas.

A estação meteorológica é um conjunto de equipamentos que fornece dados


meteorológicos da região. Ela é capaz de informar dados pluviométricos, temperatura,
radiação solar, umidade relativa do ar, e velocidade e direção do vento.

É possível encontrar estações automáticas ou convencionais. Nas automáticas,


como o nome mesmo representa, os dados são coletados de forma automatizada, e
assim não há necessidade de se fazerem anotações diárias. Usa-se um registrador
de dados conhecido como Data logger para armazenar esses dados. As estações
convencionais precisam de uma pessoa coletando diariamente os dados.

Os principais fatores climáticos envolvidos na evapotranspiração são


temperatura, chuva e vento, pois influenciam na evaporação da água, na superfície
do solo e plantas, e na transpiração da água pelas plantas. E o que é exatamente a
evapotranspiração?

11
Evaporação, é o termo utilizado para explicar a passagem da água de líquida
para gasosa (considerando temperaturas abaixo do ponto de ebulição da água – 100 °C).
Quando temos a evaporação da água por meio de superfícies vivas como uma folha ou
a pele de um animal, chamamos de transpiração. Assim, quando esses dois processos
ocorrem em um mesmo momento, fala-se em evapotranspiração.

ATENÇÃO
As perdas de água por evapotranspiração, somada com a que se perde
para as camadas mais profundas do solo, devem ser repostas por meio
das regas.

Com base em medições da evapotranspiração potencial, pode-se calcular


a evapotranspiração da cultura e a necessidade de irrigação para uma cultura
multiplicando a evapotranspiração de referência por um coeficiente da cultura (Kc).
Idealmente, calcula-se o Kc tomando-se por base dois fatores – cultivo utilizado e local
de plantio –, porém, tabelas com valores aproximados também podem ser utilizadas.

O coeficiente da cultura (Kc) representa o efeito das características específicas


de cada cultura com relação às necessidades de água. Veja, na Tabela 1, um exemplo:

TABELA 1 – VALORES DE KC POR ESTÁDIO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALGUMAS CULTURAS

FONTE: Adaptada de Pereira (2014)

Evapotranspiração da cultura (ETc) é a quantidade de água que passa


para a atmosfera no estado de vapor uma determinada cultura e é determinada
pela multiplicação da ETo pelo Kc conforme a equação: ETc = ETo x Kc, onde: ETc =
evapotranspiração da cultura, em mm.dia-1; ETo = evapotranspiração de referência, em
mm.dia -1; e Kc = coeficiente da cultura, adimensional.

12
IMPORTANTE
É possível prever a produtividade de uma cultura utilizando as medidas de
evapotranspiração durante o ciclo da planta. Isso ocorre, pois há uma relação
entre evapotranspiração e acúmulo de massa seca na planta. Quanto maior
for a transpiração da planta, maior será a abertura dos estômatos, e, assim,
maior a entrada de CO2 na folha para realização da fotossíntese.

13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O solo deve ser manejado de acordo com suas características. Solos de textura
arenosa têm teores altos de areia e baixos de argila. Sendo, assim, permeáveis, porém
com baixa capacidade de retenção de água e nutrientes e de baixo teor de matéria
orgânica. Solos de textura argilosa possuem altos teores de argila e capacidade de
retenção de água e nutrientes, entretanto, baixa permeabilidade.

• A textura do solo tem efeitos diretos na irrigação das culturas. Isso acontece, pois
essa característica do solo influencia também na taxa de infiltração de água, na
aeração do solo, na capacidade de retenção de água, na nutrição da planta e nas
forças de aderência e coesão nas partículas do solo.

• As plantas precisam de água para permitir a difusão de minerais, solutos celulares


e gases, nas células entre órgãos. Auxilia nas reações celulares como a fotólise da
água, hidrólise de macromoléculas, germinação de sementes e manutenção da
turgescência celular.

• Tomando-se por base as medições da evapotranspiração potencial, pode-se calcular


a evapotranspiração real e a necessidade de irrigação para uma cultura multiplicando
o valor potencial por um coeficiente de cultura (Kc). O ideal seria calcular o coeficiente
considerando o cultivo utilizado e o local de plantio, mas podem ser usados valores
tabelados. O coeficiente da cultura (Kc) reflete o efeito das características específicas
de cada cultura sobre a sua necessidade de água.

14
AUTOATIVIDADE
1 Ter o conhecimento dos tamanhos das partículas do solo, ou seja, a textura do solo,
é essencial para entendermos qual o melhor manejo a ser efetuado naquele solo.
Essa propriedade do solo não é facilmente afetada, sendo, então, considerada uma
propriedade permanente do solo. Sobre as classes de textura dos solos, associe os
itens, utilizando o código a seguir:

I- Solos arenosos.
II- Solos argilosos.
III- Solos médios.

( ) Equilíbrio entre os teores de areia, silte e argila. Em geral, têm boa drenagem e
capacidade de retenção de água e nutrientes.
( ) Solos permeáveis e de baixo teor de matéria orgânica. Possuem baixa capacidade
de retenção de água e nutrientes.
( ) Solos que possuem baixa permeabilidade e alta capacidade de retenção de água e
nutrientes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I - III - II.
b) ( ) III - II - I.
c) ( ) I - II - III.
d) ( ) III - I - II.

2 O déficit hídrico reduz o potencial hídrico do solo e causa desidratação da célula,


provocando mudanças morfológicas e fisiológicas. Entretanto, o excesso de água
também é igualmente prejudicial. Provocando morte dos tecidos da raiz e redução
na absorção de nutrientes e água pela falta de energia. Sobre a razão pela qual o
excesso de água afeta o desenvolvimento da cultura, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Remoção do oxigênio do solo.


b) ( ) Remoção do gás carbônico do solo.
c) ( ) Excesso de oxigênio do solo.
d) ( ) Excesso de gás carbônico do solo.

3 A água é um elemento fundamental para a produção agrícola. Porém, alguns fatores


influenciam no consumo total e, consequentemente, na demanda hídrica das
culturas. Alguns são tipo de cultura, estágio de desenvolvimento, clima, tipo de solo
e cobertura do solo. Sobre o consumo de água pelas plantas, assinale a alternativa
CORRETA:

15
a) ( ) Resultante da evaporação.
b) ( ) Resultante da transpiração.
c) ( ) Resultante da evapotranspiração.
d) ( ) Resultante da respiração.

4 A evapotranspiração da cultura (ETc) é a quantidade de água que passa para a


atmosfera no estado de vapor uma determinada cultura, sendo determinada com
base na evapotranspiração de referência e do coeficiente da cultura. O resultado será
a necessidade hídrica da cultura. Considerando o contexto apresentado, disserte
sobre o porquê da necessidade de conhecer a demanda hídrica de cada planta.

5 De acordo com Pimentel (2004, p. 13), “A importância da água nos sistemas biológicos
é devida às propriedades físico-químicas únicas da sua molécula, como o alto valor
de calor específico e de vaporização, o que estabiliza a temperatura de um sistema,
como a biosfera, com a evaporação da água dos oceanos, permitindo a vida animal e
vegetal”. Considerando o contexto, disserte sobre as funções da água nas plantas.

FONTE: PIMENTEL, C. A relação da planta com a água. Seropédica: Edur, 2004.

16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO

1 INTRODUÇÃO
A forma como o solo absorve a água impacta diretamente no seu manejo. No
Tópico 1, vimos que os diferentes tipos de solo têm efeitos diferentes sob a absorção da
água. Agora iremos aprofundar alguns conceitos sobre armazenamento de água no solo
que serão importantes no entendimento do manejo de área irrigadas.

Entender o que acontece com a água que chega ao solo nos ajudará a
compreender a dinâmica da irrigação e como deve ser o seu manejo. A quantidade
de água no solo, ou sua umidade, tem influência na facilidade com que as plantas
absorverão a água. Portanto, nem toda água armazenada estará disponível para a
planta. Esse fenômeno acontece porque quanto mais seco o solo, maior as forças de
retenção e menos água disponível, dificultando a sua absorção.

Assim, para auxílio no entendimento desses fenômenos, no Tópico 2,


abordaremos a infiltração da água no solo, redistribuição de água e a capacidade de
água disponível do solo.

2 ESTRUTURA E PROPRIEDADES ASSOCIADAS À ÁGUA


A importância da água em tantos processos que acontecem no solo ocorre por
causa da sua estrutura molecular. A água é composta por um átomo de oxigênio (O) e
dois átomos de hidrogênio (H), sendo esses muito menores. Os elementos formam uma
ligação por covalência, visto que cada átomo de hidrogênio compartilha seu elétron com
o de oxigênio.

Uma propriedade essencial da água é a sua polaridade. Os átomos de hidrogênio


estão ligados ao oxigênio em um arranjo em forma de “V” formulando um ângulo de 105°.

Por essa razão, a água é considerada uma molécula assimétrica, e seus elétrons
orbitam mais tempo próximos ao oxigênio. Assim, as moléculas de água apresentam
polaridade, visto que as cargas não estão posicionadas de forma uniforme. Essa
característica, a da polaridade, é a explicação do porquê as moléculas de água são
atraídas por íons eletrostáticos e superfícies coloidais.

17
Alguns cátions de hidrogênio, sódio, potássio e cálcio, hidratam-se por meio da
sua atração pelo lado, onde se situa o oxigênio das moléculas de água. No solo, essas
propriedades da água fazem que as superfícies da argila (carregadas negativamente)
atraiam a água por meio do lado positivo do hidrogênio da molécula.

Outro fenômeno essencial são pontos de hidrogênio, conhecidos também como


ligação de hidrogênio. Quando uma molécula de água tem seu átomo de hidrogênio
atraído pelo oxigênio de outra molécula de água, ele forma uma ligação entre as duas
moléculas. As pontes de hidrogênio permitem que existam duas forças responsáveis
pela retenção e movimentação água pelo solo, conhecidas como coesão e adesão.
A coesão é a atração das moléculas umas pelas outras, já a adesão é a atração por
superfícies sólidas. Quando a molécula de água fica retida na superfície dos sólidos do
solo, usa-se o termo adsorção. Essas forças (adesão e coesão) permitem que os sólidos
do solo retenham água, e também permitem que haja plasticidade no solo.

A tensão superficial também influencia significativamente seu comportamento


no solo. Nas interfaces líquido-ar, a tensão superficial decorre do fato de as moléculas
de água terem uma maior atração entre si (coesão) do que pelo ar (BRADY; WEIL, 2009).
O resultado é que há uma força direcionada da superfície da água para o seu interior,
e isso acarreta o seu comportamento como se a superfície fosse coberta com uma
membrana elástica esticada. Essa tensão afeta o fenômeno da capilaridade. A tensão
superficial é um fator importante para o fenômeno da capilaridade, que determina como
a água é retida no solo.

3 INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO


A forma como a água entra no solo é chamada de infiltração. Inicialmente, o seu
valor é elevado e vai diminuindo com o tempo, sendo o valor constante quando o solo
se encontra saturado. A água chega ao solo trazida pela chuva, pelo degelo em regiões
frias ou pela irrigação, para ficar disponível para as plantas, deve infiltrar. Entretanto,
lembre-se de que, mesmo que a água chegue ao solo, não é garantido que ela irá
infiltrar. Essa água pode escoar ou evaporar-se, caso não entre facilmente no solo. A
infiltração é afetada pelo tipo de solo, declividade do terreno, cobertura vegetativa e
pelas características da precipitação. A velocidade de infiltração, ou taxa de infiltração,
depende da textura e da estrutura dos solos. Os solos mais argilosos ou arenosos com
partículas agregadas possuem poros maiores e, portanto, velocidades de infiltração
maiores.

ATENÇÃO
Quando o espaço poroso do solo está totalmente ocupado pela água, diz-
se que o solo está saturado.

18
Reichardt e Timm (2004) reforçam que a infiltração determina o balanço de
água na zona das raízes, e, assim, o seu conhecimento é essencial para um bom manejo
do solo e da água. Ainda segundo os autores, algumas implicações práticas decorrem
da infiltração. O comportamento do solo, quando seco durante uma chuva ou irrigação,
será de permitir a infiltração da água. Porém, com a diminuição da taxa de infiltração
ao longo do tempo, e em caso de intensificação das chuvas, parte da água escoa pela
superfície do solo. No caso de áreas irrigadas, cabe ao produtor o correto manejo da
irrigação para evitar esse escoamento e uma possível erosão do solo.

A textura e a estrutura do solo são características que influenciam a


movimentação da água, pois determinam a sua quantidade de macroporos. Vimos no
Tópico 1 que, nos solos de textura arenosa, a água infiltra com mais facilidade, em razão
da maior quantidade de macroporos. Diferente dos argilosos de textura fixa. Um ponto
de atenção é que solos argilosos bem estruturados também podem apresentar taxas de
infiltração altas, tanto quanto dos solos arenosos. A razão desse fato é a estabilidade dos
agregados, pois quanto maior a resistência dos agregados, maior a taxa de infiltração.
Conforme descrito por Santos e Pereira (2013), uma maior agregação e coesão das
partículas faz que o solo se torne mais poroso e isso favorece a infiltração, e a matéria
orgânica permite essa maior agregação.

Outro fator importante que influencia na infiltração é a cobertura do solo.


Imaginemos um gramado e uma rua asfaltada, a forma como a água escoa é diferente,
correto? O escoamento de uma área sem tanta impermeabilização do solo, será maior.
Além disso, a cobertura vegetal protege os agregados do impacto direto da água. Em
regiões topográficas planas ou relativamente planas, há maior absorção das águas
provenientes de precipitação, e, assim, um menor volume de escoamento superficial
(SANTOS; PEREIRA, 2013). Uma ladeira lisa perde mais água por escoamento do que
uma que é irregular por causa das variações microtopográficas causadas por torrões,
leves depressões ou outros obstáculos na superfície.

Destacam-se também, a umidade inicial do solo (quanto mais seco maior


a infiltração), a carga hidráulica (quanto maior a espessura da lâmina de água maior
a infiltração), a temperatura (quanto maior, maior a viscosidade da água e assim a
velocidade de infiltração pode aumentar) (CARVALHO; SILVA, 2006). A compactação do
solo pode reduzir a infiltração, já que reduz os macroporos do solo, e por outro lado, raízes
decompostas, caminhos feitos por animais, geram caminhos por onde a água pode se
movimentar. Com relação ao perfil típico de um solo durante a infiltração, podemos
destacar algumas zonas, sendo elas: zona de saturação, zona de transição, zona de
transmissão, zona de umedecimento e frente de umedecimento. A seguir, você verá o
detalhe do que acorre em cada etapa de acordo com o que foi descrito por Carvalho e
Silva (2006, p. 61, grifos nossos).

Zona de saturação: corresponde a uma camada de cerca de 1,5 cm

19
e, como sugere o nome, é uma zona em que o solo está saturado, isto
é, com um teor de umidade igual ao teor de umidade de saturação.
Zona de transição: é uma zona com espessura em torno de 5 cm,
cujo teor de umidade decresce rapidamente com a profundidade.
Zona de transmissão: é a região do perfil através da qual a água é
transmitida. Esta zona é caracterizada por uma pequena variação da
umidade em relação ao espaço e ao tempo.
Zona de umedecimento: é uma região caracterizada por uma
grande redução no teor de umidade com o aumento da profundidade.
Frente de umedecimento: compreende uma pequena região na
qual existe um grande gradiente hidráulico, havendo uma variação
bastante abrupta da umidade. A frente de umedecimento representa
o limite visível da movimentação de água no solo.

4 REDISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO SOLO


Já vimos a etapa de infiltração, agora iremos falar da redistribuição. Este
processo ocorre após o primeiro; algum tempo após o término de uma chuva ou de
uma irrigação, a infiltração – passagem de água através da superfície – é finalizada, e
parte da água que ocupava os macroporos continua a movimentar-se até zonas mais
profundas do perfil por um tempo variável. Inicia-se então a redistribuição.

A água continuará a se movimentar no perfil do solo, deixando os poros maiores,


onde o efeito da retenção capilar não é tão intenso, continuando a se redistribuir. A água
tende a se movimentar de locais onde possui mais energia (macroporos) para outros
pontos do perfil onde possui menor energia – microporos –, onde fica retida. Quanto
maior a diferença de energia, mais intenso tende a ser o movimento.

Lembre-se, a diferença na energia da água entre dois pontos do solo será


determinada pela intensidade da atração gravitacional e pela interação entre os poros
e a água (forças de adesão e coesão, que se expressam gerando os fenômenos da
capilaridade). Durante a redistribuição, a energia da água em diferentes pontos do
perfil do solo pode assumir valores muito próximos, com a atração gravitacional sendo
equilibrada pela retenção da água nos poros capilares. Se a diferença na energia da
água ao longo do perfil for pequena, o movimento se torna cada vez mais lento. Sobre
a velocidade inicial dessa redistribuição irá depender da profundidade da camada
molhada, da umidade da zona seca mais profunda e da condutividade hidráulica do
solo. Conforme apresentado por Reichardt e Timm (2016, p. 154).

Se a camada inicialmente molhada for pouco profunda e o solo da


parte inferior estiver mais seco, os gradientes de potencial serão
altos e a velocidade de redistribuição será́ também relativamente
alta. Por outro lado, se a camada inicialmente molhada for profunda e
se o solo abaixo estiver relativamente úmido, o gradiente de potencial
matricial será́ baixo e o processo de redistribuição será́ mais lento e
ocorre, principalmente, sob a influência da gravidade.

20
Ainda, aquela água que passou da zona radicular do solo vai alimentar e
recarregar o lençol freático. No meio urbano, é comum que a água nem chegue até esse
ponto, já que muitas áreas são impermeáveis, e, por esse motivo, ela escorre podendo
causar até enxurradas. Outro efeito no meio urbano é que há uma menor quantidade
infiltrando, sendo redistribuída e, consequentemente, chegando ao lençol freático, isso
significa também que rios podem reduzir significativamente seu volume.

5 CAPACIDADE DE ÁGUA DISPONÍVEL


A definição de capacidade de água disponível no solo é que é o conteúdo de
água entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente. Entender esse
conceito auxilia no planejamento do uso da terra. Assim, considerando a capacidade
total de armazenamento de água no solo, a parte que as plantas conseguem absorver é
chamada de CAD (capacidade de água disponível).

A CAD de um solo é definida por dois limites de umidade, o superior, chamado


de capacidade de campo (CC), e o inferior, chamado de ponto de murcha permanente
(PMP). Na CC, é a umidade máxima disponível para absorção pelas plantas, uma vez que
permanece retida e disponível. Isto ocorre, porque, neste momento, a força da gravidade
exercida para baixo através do peso entra em equilíbrio com as forças de capilaridade
dos poros, o que limita a percolação de água.

No PMP, a planta não consegue retirar água dos poros, pois o armazenamento é
tão pequeno que, mesmo gastando energia a alta tensão da água do solo, não permite
essa retirada. E mesmo que volte a ser irrigada, não será recuperada. Relembrando que
quando o solo está com todos os seus poros preenchidos com água, dizemos que ele
está saturado.

A CAD está ligada à proporção e distribuição de macroporos e microporos; dessa


forma, cada tipo de solo irá apresentar valores diferentes. Isso ocorre em virtude das
diferentes propriedades físicas de cada solo, tais como sua textura, os tipos de argila, a
densidade global, estrutura e teor de matéria orgânica.

Solos argilosos são mais estruturados e possuem uma maior quantidade de


microporos em relação a macroporos, e por isso sua CAD vai ser maior que a de solos
arenosos. Entretanto, as propriedades citadas anteriormente estão relacionadas entre
si, por exemplo: se a densidade global de um solo for muito alta, mesmo sendo mais
argiloso, pode apresentar uma CAD menor, o que mostra que todas as propriedades
estão relacionadas.

A estrutura do solo também afeta a CAD. Entende-se por estrutura o modo


como as partículas estão arranjadas umas em relação às outras. As partículas menores
ficam aderidas entre si por causa da ação de agentes cimentantes, formando, assim,

21
os agregados. Esta formação – os agregados – resulta em macroporos que melhoram
a permeabilidade do solo à água, sendo esta uma importante condição para a aeração
e a penetração das raízes. Podendo ser melhorada com a rotação de culturas, técnicas
conservacionistas de cultivo e incorporação de matéria orgânica.

5.1 TENSIÔMETRO
Acompanhar o nível de umidade no solo, especialmente na zona de atividade
das raízes, é importante para verificar também a efetividade das irrigações. E é possível
realizá-lo indiretamente, medindo a tensão em que a água se encontra retida no solo. As
medidas podem ser tanto superficiais quanto em profundidade, e, com base nela, você
consegue saber se o solo está seco e necessita de água, ou se já está úmido e você
deve cessar a irrigação.

No ano de 1922, o americano Willard Gardner, também considerado o pai da


física moderna do solo, criou uma ferramenta chamada de tensiômetro (Figura 5). Esse
aparelho é utilizado para medir a tensão com que a água está retida pelas partículas
do solo, ou seja, seu potencial matricial. É como se ele pudesse imitar a raiz de uma
planta. Em solos muito úmidos, a raiz não precisa fazer muita força para absorver água,
e o tensiômetro também não precisará, o que quer dizer que a tensão daquele solo é
baixa. E o contrário ocorre em solos secos, onde a tensão aumentará e o equipamento
irá indicar em seu visor essa maior tensão.

FIGURA 5 – TENSIÔMETRO

FONTE: <https://shutr.bz/3KDoDxj>. Acesso em: 10 mar. 2022.

Lembrando-se de que, no manejo da irrigação, é interessante que a planta


não gaste energia para realizar a absorção e, dessa forma, evitar possíveis quedas na
produtividade. Assim, deve-se procurar manter a umidade do solo sempre acima do
ponto onde não há gasto de energia, isto é, na água disponível.
22
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A velocidade de infiltração, ou taxa de infiltração, depende da textura e da estrutura


dos solos. Os solos mais argilosos ou arenosos com partículas agregadas possuem
poros maiores e, portanto, velocidades de infiltração maiores.

• Uma maior agregação e coesão das partículas faz que o solo se torne mais poroso, e
isso favorece a infiltração.

• A diferença na energia da água entre dois pontos do solo será determinada pela
intensidade da atração gravitacional e pela interação entre os poros e a água (forças
de adesão e coesão, que se expressam gerando os fenômenos da capilaridade).

• A capacidade de campo (CC) é a umidade máxima disponível para absorção pelas


plantas, uma vez que permanece retida e disponível. Isto ocorre, porque, neste
momento, a força da gravidade exercida para baixo, por meio do peso, entra em
equilíbrio com as forças de capilaridade dos poros, o que limita a percolação de água.
No ponto de murcha permanente (PMP), a planta não consegue retirar água dos
poros, pois o armazenamento é tão pequeno que mesmo gastando energia a alta
tensão da água do solo não permite essa retirada.

• A agregação resulta na formação de macroporos, que melhoram a permeabilidade do


solo à água, a condição para a aeração e a penetração das raízes.

23
AUTOATIVIDADE
1 A água nas células é essencial para que as reações bioquímicas ocorram e para assim
permitir que haja atividade metabólica celular. Assim, analisar os mecanismos que
controlam a entrada e saída da água na célula, ou seja, sua movimentação, permite
a compreensão do comportamento celular. Considerando a movimentação da água,
sobre o fenômeno que afeta na pressão nos vasos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Respiração.
b) ( ) Exsudação.
c) ( ) Transpiração.
d) ( ) Fotossíntese.

2 A água que chega ao solo em razão de chuvas, degelo ou mesmo pela irrigação,
para ficar disponível para as plantas, deve infiltrar. Assim, a infiltração é um fenômeno
muito importante para o manejo da área irrigada, e alguns fatores podem auxiliar ou
impedir que a água percorra o solo. Acerca da infiltração da água no solo, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) A velocidade de infiltração da água no solo depende da intensidade da chuva ou


da irrigação aplicada.
b) ( ) A velocidade de infiltração é afetada pelo tipo de solo da região.
c) ( ) O comportamento dos solos secos e úmidos quanto à infiltração é semelhante
quando irrigados.
d) ( ) Os diferentes tipos de solo possuem as mesmas taxas de infiltração de água.

3 O manejo ideal envolve compreender os fatores ligados ao solo e suas características,


como a maneira que ele se comporta ao absorver água. E é importante refletir sobre
quando, o quanto e como irrigar. Considerando o contexto apresentado, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Uma boa prática de manejo é aplicar a quantidade máxima requerida pela planta
duas vezes ao dia.
b) ( ) O excesso de água no solo é indicado, pois garante que não haja déficit hídrico
em nenhuma hipótese.
c) ( ) É primordial respeitar a fisiologia e necessidades hídricas da planta.
d) ( ) A irrigação deve ser realizada até haver um escoamento superficial significativo.

24
4 Reichardt e Timm (2006, p. 143) mencionam que “Denomina-se infiltração o processo
pelo qual a água entra no solo e perdura enquanto houver disponibilidade de água
em sua superfície. Esse processo é de grande importância prática, pois sua taxa (ou
velocidade), muitas vezes, determina o deflúvio superficial (runoff) ou enxurrada,
responsável pelo fenômeno da erosão durante precipitações pluviais”. Considerando
esse contexto, disserte sobre os fatores que afetam a infiltração do solo.

FONTE: REICHARDT, K.; TIMM, L. C. Água e sustentabilidade no sistema solo-planta-atmosfera.


Barueri: Manole, 2016. (Série Sustentabilidade).

5 A capacidade de água disponível no solo para as plantas é definida como o conteúdo


de água entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, e tem vasta
aplicação prática no planejamento do uso da terra. Disserte sobre o que é capacidade
de campo e ponto de murcha permanente.

25
26
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
RECURSOS HÍDRICOS NAS ATIVIDADES
AGRÍCOLAS

1 INTRODUÇÃO
O uso da irrigação é comum no nosso dia a dia, e não apenas no meio rural. Usa-
se nos gramados de campos de futebol e em condomínios residenciais (ANA, 2021).
E claro, também na produção de alimentos. Em geral, a irrigação no meio rural vem
acompanhada de outras tecnologias e práticas de manejo, e o conjunto dessas práticas
tem impactos no ambiente de produção.

A irrigação tem um peso na conservação do solo, mesmo assim, ainda é


comum encontrar sistemas de irrigação sem um projeto adequado ou que não leva em
consideração as necessidades da cultura.

Não adotar esses sistemas bem dimensionados gera desperdício de água,


impacto ambiental e não traz a produtividade esperada. Dessa forma, o manejo da
irrigação e do solo possibilita a utilização de áreas destinadas ao plantio sem degradar
os recursos.

Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a irrigação nas atividades agrícolas,


quimigação, impactos ambientais e uso racional de água.

2 IRRIGAÇÃO NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS


Como já visto nos tópicos anteriores, a água tem um papel essencial na fisiologia
das plantas. Assim, dentro na busca de maximizar a produtividade, manter a planta
hidratada é chave para ter retorno financeiro da produção. Nesse contexto, a irrigação é
um importante aliado do produtor rural.

A irrigação tem um papel importante para transformar a terra e a sociedade, visto


que viabiliza a produção confiável de alimentos. A principal razão é garantir a produção
mesmo quando não há garantia de chuvas, expandindo o período de produção ao longo
do ano.

O objetivo da prática de irrigação é fornecer água às culturas de forma a atender


às exigências hídricas durante todo seu ciclo. Espera-se que o resultado seja alta
produtividade e produto de boa qualidade.

27
Embora o consumo de água pela agricultura seja alto, um manejo mais racional
da pode levar à economia de grandes volumes. Estima-se que para produzir 1 kg de
batata (plantio até chegar ao consumidor) gasta-se 133 L de água e de arroz, 2.500 L.
Essas quantidades provam que o manejo racional é essencial.

Embora a irrigação seja uma decisão individual do produtor, a água é um


bem público e, para usá-la na propriedade em projetos de irrigação, é preciso pedir
autorização. A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo, e
é por meio dela que um órgão competente concede ao produtor o direito de seu uso.
Esse instrumento foi estabelecido como parte da Política Nacional de Recursos Hídricos
pelo Art. 5º da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Já em seu Art. 1º fundamenta os
seguintes pontos:

I – a água é um bem de domínio público;


II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos
é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
múltiplo das águas;
V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e
contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das
comunidades. (BRASIL, 1997, p. 1).

Antes que uma outorga seja emitida, é preciso que o órgão gestor conheça ou
estime a disponibilidade hídrica da bacia hídrica. Quando a emissão de outorga tem como
finalidade a irrigação informações como a disponibilidade Hídrica da bacia hidrográfica,
a demanda hídrica do empreendimento é fundamental na análise do pedido.

A análise na bacia leva em conta a disponibilidade hídrica que é o levamento


do volume de água disponível e como ele está distribuído; e a demanda por águas, por
exemplo, o número de usuários de água que existem, para que a usam e onde estão
localizadas.

E quem emite a outorga? Depende da localização e da natureza de cada


bacia ou corpo d’água. Nos casos de águas subterrâneas, rios, lagos reservatórios e
açudes são emitidas pelos Estados, considerando o local que tenha sua nascente e foz
dentro daquele território. À União compete rios e lagos que fazem divisa entre Estados
e outros países e as águas armazenadas em reservatórios ou açudes construídos ou
administrados pelo poder federal, sendo a outorga emitida pela Agência Nacional de
Águas (ANA).

28
DICA
A Agência Nacional de Águas (ANA) emite outorgas para rios, reservatórios,
lagos e lagoas sob o domínio da União, que são aqueles corpos de água
que passam por mais de um estado brasileiro ou por território estrangeiro.
Assista ao vídeo do canal ANA, no YouTube, que explica mais da Outorga de
Direito de Uso de Recursos Hídricos. Disponível em: https://bit.ly/3tNeo2r.

A cultura irrigada desempenha um papel cada vez mais importante para garantir
segurança alimentar, viabilizando escala de produção de alimentos, qualidade e os
padrões nutricionais que são mundialmente requeridos. Segundo Rodrigues, Domingues
e Christofidis (2017, p. 26), a “[…] agricultura irrigada induz, direta ou indiretamente,
maior aporte de técnicas, tecnologias, inovações, informações, conhecimento com
desenvolvimento de capacidades”. Segundo os autores, o uso de irrigação traz aumento
de produtividade das culturas, impacto social positivo, retorno financeiro, e aumenta o
respeito aos ecossistemas.

Gava et al. (2015) realizaram um estudo para identificar o impacto da falta de


água durante o ciclo da cultura da soja. Os autores chegaram à conclusão de que a soja
teve redução na sua produtividade causado pela redução da altura total das plantas,
o número de vagens por planta, além do número de grãos por planta e o peso de 100
grãos.

2.1 ESTRATÉGIAS DE MANEJO DA IRRIGAÇÃO


Algumas estratégias de manejo para aumentar a eficiência do uso da água na
irrigação podem ser adotadas. Podemos citar a irrigação sem déficit, como uma dessa
estratégias.

Segundo Camargo (2016, p. 16), “[…] o objetivo é aplicar uma quantidade de


água capaz de suprir totalmente o déficit hídrico e de proporcionar a máxima produção
por unidade de área, evitando perda de produtividade ou de qualidade do produto por
deficiência de água”. Como já comentado, deve-se ter muito cuidado, pois o excesso de
água afeta a aeração do solo, causa a lixiviação de nutrientes e aumenta a incidência
de doenças.

Já a irrigação com déficit tem busca o máximo de produtividade por volume de


água aplicada (CAMARGO, 2016). Visto que, se o consumo real de água pela cultura for
inferior à evapotranspiração da cultura, se reduz a percolação, os custos e a lixiviação.
Embora haja a redução da produtividade, há o aumento da eficiência produtiva.

29
Camargo (2016) também cita a irrigação com déficit aplicado por etapa, na qual
se busca aplicar uma quantidade de água que supre totalmente o déficit hídrico, mas
somente nas etapas fenológicas mais sensíveis ao estresse hídrico e que tem efeito
direto da produtividade das culturas.

Geralmente é na etapa de florescimento das culturas, mas é importante conhecer


a fisiologia de cada uma delas para identificar qual seria a etapa mais adequada. A
estratégia de irrigação com déficit é adotada nas outras etapas fenológicas.

O manejo de irrigação pode ser feito via solo ou via clima. Ou, ainda, um manejo
integrado, no qual a irrigação é baseada nas condições do clima e do solo.

De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR, 2019),


manejar a irrigação via solo significa tomar a decisão de irrigar observando a umidade
do solo. E via clima é realizado pela reposição da evapotranspiração diária da cultura ou
ainda pela soma do consumo de dias anteriores a data da última irrigação.

3 QUIMIGAÇÃO
A quimigação é a aplicação de produtos químicos nas culturas por meio da
água da irrigação, técnica compatível com vários sistemas de irrigação, em qualquer
fase de desenvolvimento das culturas, independentemente de sua altura ou do seu
espaçamento.

Em razão de a solução estar misturada à água de irrigação, a uniformidade de


aplicação dos produtos químicos mistura-se com a da aplicação da água, e, assim, é
necessário ter cautela na uniformidade de aplicação do produto (BRITO, 2022).

Nesse contexto, os sistemas pressurizados vêm sendo utilizados mais e mais,


já que auxiliam a manter o sistema uniforme. Tais sistemas podem auxiliar na aplicação
de fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas, bioinseticias, entre outros. Injeta-se
na tubulação principal ou lateral, sendo o ponto de aplicação o aspersor ou o emissor
utilizado.

A irrigação, principalmente quando associada à fertirrigação, é


provavelmente a prática agrícola que permite maior aumento de
produtividade na agricultura, inclusive viabilizando a produção de
frutas e de hortaliças em regiões com baixa disponibilidade hídrica
e, até mesmo, em solos arenosos e de pouca fertilidade. (SOUSA et
al., 2011, p. 24)

Podem ser utilizados diferentes métodos e equipamentos, porém, a qualidade


dos resultados depende do cálculo correto das taxas de injeção, quantidade de produto,
volume do tanque, dose do produto a ser aplicada na área irrigada, concentração do
produto na água de irrigação etc.

30
A correta manutenção e calibração do sistema também é algo a ser observado
periodicamente para que, assim, seu funcionamento esteja de acordo com os
parâmetros com os quais foi dimensionado. Por exemplo, se a vazão calculada é a
que está efetivamente sendo aplicada e/ou se a taxa de injeção calcula está sendo a
aplicada a campo.

Para que essa calibração seja realizada de forma correta, ela deve ser feita
no local onde será usado o produto, evitando usar apenas os dados do fabricante e
revendedores. Alguns pontos que devem ser conhecidos para tal, são: capacidade do
sistema de irrigação, capacidade do sistema injetor, tempo necessário para irrigar uma
determinada hora, quanto de produto será aplicado, qual o tipo da solução, qual a lâmina
de irrigação e, por fim, quantos hectares serão tratados.

Outro ponto importante a ser observado é a preparação da solução desejada.


Alguns produtos devem ser diluídos, portanto as características do produto devem
ser bem conhecidas. Tais como sua solubilidade, princípio ativo, densidade e/ou
concentração, limite de tolerância pelas culturas, entre outros.

Lembrando que a quantidade a ser aplicada depende da dose recomendada


pelo fabricante e a indicação do engenheiro agrônomo responsável pelo receituário
agronômico. Há possibilidade de a aplicação ser parcelada. Assim como os demais
insumos agrícolas, o tipo e a concentração da solução dependem das recomendações
estabelecidas para a cultura. O conhecimento do tempo e da área a ser irrigada são
informações importantes para o cálculo da quantidade de produto a ser injetado no
sistema.

As vantagens desse sistema incluem:

• redução do custo de aplicação: por causa da redução da mão de obra e do custo


operacional de máquinas;
• uniformidade de aplicação dos produtos: em geral, a distribuição dos produtos
químicos via água de irrigação é mais uniforme;
• redução dos riscos de contaminação do operador: o operador não mantém
contato com o produto distribuído;
• redução da compactação do solo: pois o tráfego de máquinas na lavoura é
eliminado;
• redução dos danos físicos às culturas: sem o tráfego de máquinas, não há quebra
de galhos, flores e a danificação de frutos;
• aplicação na profundidade desejada: controlando a lâmina de irrigação, é possível
incorporar produtos até a profundidade desejada.

As desvantagens são:

31
• custo inicial de infraestrutura do sistema;
• necessidade de mão de obra treinada para a operação do sistema;
• necessidade de conhecimentos técnicos com relação aos produtos, cálculo de
dosagens e épocas de aplicação, principalmente quando relacionados à fertirrigação;
• eventualmente pode haver o molhamento sem necessidade.

4 IMPACTOS AMBIENTAIS
O manejo adequado da irrigação não é independente do processo produtivo e
assim também compromisso com a manutenção da produtividade do cultivo e também
pelo uso eficiente da água, buscando minimizar impactos ambientais. As demandas
hídricas das plantas são supridas tanto pela chuva quanto irrigação.

No caso da irrigação, há garantia que haverá produção mesmo se não houver


chuva, e é possível também estender os meses de produção. Entretanto, essa prática
pode ser intensiva além de depender de energia e água, demandando, assim, cuidados.
Desse modo, a adoção da agricultura irrigada requer que sejam observados alguns
aspectos ambientais. Ignorar esses aspectos afeta negativamente a sustentabilidade
do ambiente.

No momento da elaboração do projeto de irrigação, deve-se quantificar esses


impactos e considerar medidas que os reduzam. Com o projeto em operação, também
deve-se continuar considerando esses aspectos ecológicos e realizando manutenções
periódicas para manter a eficiência do sistema, evitando, dessa forma, o desperdício de
água.

O uso de água de irrigação com teores elevados de sais pode acarretar a


deposição destes no solo, pois há evaporação da água e a deposição de sal na superfície
do solo. Os cálculos de evapotranspiração são bastante úteis para a recomendação da
necessidade de irrigação, porém, o seu uso, sem um manejo adequado e avaliação
da qualidade da água usada, pode ocasionar essa deposição e degradação de solos
cultivados.

Alguns parâmetros determinam a qualidade da água a ser utilizada para


irrigação, sendo a concentração de sais minerais um desses, tanto qualitativamente
quanto quantitativamente. Utilizamos no Brasil os mesmos critérios utilizados nos
Estados Unidos, com base em seis parâmetros básicos.

• Concentração total de sais solúveis, dada pela CE, por causa do


risco de tornar o solo salino.
• Proporção relativa de sódio (Na), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), dada
pela relação de adsorção de sódio (RAS), para evitar o risco de
alcalinização (alto pH no solo) ou sodificação (alto teor de Na no
solo).

32
• Concentração de elementos tóxicos às plantas.
• Concentração de bicarbonatos, pois estes tendem a precipitar o
Ca e o Mg, aumentando a proporção de Na.
• Aspectos sanitários.
• Aspectos de entupimento de emissores em sistemas de irrigação
localizada. (REICHART; TIMM, 2004, p. 11)

Ainda, a irrigação pode afetar poluindo as águas. Segundo Matthiensen (2017, p.


50), “[…] a agricultura é um dos principais contribuintes para a poluição difusa no meio
rural, mas as deposições no meio urbano também são contribuintes importantes para a
poluição não pontual".

A poluição da água gera um fenômeno chamado de eutrofização, no qual a


presença de compostos com nitrogênio e fósforo resultam na reprodução acelerada de
alguns organismos que já estão presentes no ambiente. Este processo ocorre por causa
de um desequilíbrio ambiental que pode ser temporário, mas durar dias ou meses. O
crescimento desregulado desses organismos pode gerar um prejuízo grande para as
comunidades que utilizam aqueles cursos d'água.

NOTA
Se falarmos de poluição da água, podemos classificá-las como pontuais e
não pontuais. Na pontual, a fonte é facilmente identificável e, normalmente,
a sua origem é uma única, como exemplo, podemos falar de um cano de
esgoto, ou um acidente num local específico. Na poluição difusa (ou não
pontual), já é mais difícil de identificar a origem da poluição, pois, como o
nome mesmo sugere, a origem é pulverizada.

E como a irrigação pode ter esses efeitos? A água aplicada acima da capacidade
de retenção do solo será lixiviada e poderá levar fertilizantes e agrotóxicos para os
reservatórios subterrâneos, causando poluição do lençol freático. E como mitigar esses
efeitos? Realizando com cautela os projetos de irrigação, esse item será explorado
futuramente no livro. É importante ressaltar que é possível aliar irrigação com proteção
do meio ambiente.

Nos itens a seguir, iremos detalhar alguns tipos de impactos ambientais que
podem ser causados pela irrigação, são eles: modificação do meio ambiente, salinização
do solo, contaminação dos recursos hídricos, consumo exagerado da disponibilidade
hídrica da região, consumo elevado de energia e problemas de saúde pública (BERNARDO,
2008).

• Modificação do meio ambiente: ocorre nos casos em que há aproveitamento de


várzeas inundadas para o uso de sistemas de irrigação por superfície (inundação
ou sulco). Uso de grandes áreas contínuas irrigadas e o cultivo intensivo podem

33
afetar condições naturais locais, acarretar a eliminação da vegetação nativa e,
consequentemente, alterar a microflora e fauna regionais, produção de peixes,
população de insetos e as condições de erosão e de sedimentação na bacia
hidrográfica.
• Salinização do solo: a salinização do solo pode tornar terras improdutivas, pois
afeta a germinação, a densidade e o desenvolvimento vegetativo das culturas, e, em
casos mais intensos, ocasiona a morte das plantas. Quanto mais eficiente a irrigação,
menor a lâmina de água aplicada e menor a quantidade de sal acumulada na área.
Quando não há lixiviação e drenagem, o sal pode se acumular na superfície do solo e
criar solos salinos.
• Contaminação dos recursos hídricos (rios e águas subterrâneas): se há
excesso de água no solo, a água que não é evapotranspirada pelas culturas pode
acabar retornando a rios e córregos. Isso ocorre por meio do escoamento superficial
ou subsuperficial indo para depósitos subterrâneos arrastando consigo sais solúveis,
fertilizantes, resíduos de defensivos, elementos tóxicos, sedimentos entre outros. As
chances de contaminação de mananciais e águas subterrâneas aumentam se há o
aumento das perdas por percolação e escoamento superficial.
• Consumo exagerado da disponibilidade hídrica da região: algumas bacias
apresentam falta de água em razão de terem sido implementados projetos sem a
prévia quantificação do volume de água disponível. Projetos mal dimensionados
ocasionam a falta de água para o consumo humano e animal. Além disso, nem toda
área irrigada é eficiente. O direito de uso da água implica usá-la de forma responsável
e adequada, o que nem sempre ocorre, e pode implicar no consumo exagerado.
• Consumo elevado de energia: a irrigação é uma das práticas utilizada na produção
agrícola que mais consome energia. Assim, naturalmente, projetos que melhorem a
eficiência da irrigação terão efeito na redução do consumo de energia.
• Problemas de saúde pública: áreas irrigadas podem acarretar a contaminação
durante a condução da irrigação, a contaminação da comunidade próxima à
área irrigada e a contaminação do usuário de produtos provenientes daquela
lavoura irrigada. No Brasil, existem relatos de problemas com a propagação da
esquistossomose, proliferação de mosquitos e verminoses. Portanto, a qualidade da
água da irrigação também é algo essencial a ser observado.

5 USO RACIONAL DE ÁGUA


Neste último subtópico, veremos a importância do uso racional de água. Ainda,
aqui compilamos alguns dos pontos discutidos ao longo da unidade. Muito falamos da
importância do manejo da irrigação, e, ele bem-feito, permite atender as exigências da
planta sem provocar deficiências ou excesso de água no solo. Pontos como: acompanhar
a umidade do solo, e determinar corretamente quando e como irrigar são essenciais. Por
isso, pode-se afirmar que o uso racional e o crescimento bem planejado da irrigação,
sem prejuízo para o meio ambiente, são viáveis.

34
A irrigação tem um impacto socioeconômico na agricultura, e, por isso, é tão
importante mitigar os impactos ambientais ao invés de extinguir o uso da irrigação.
O aumento da produtividade e da produção afeta diretamente o lucro do produtor e
do número de empregos na região. Embora seja uma tecnologia importante e muito
utilizada, principalmente nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, ainda há
grande desperdício de água. Há uma estimativa que mostra que considerando toda a
água captada para irrigação, as plantas acabam utilizando apenas 50%. Quando utilizada
irrigação por superfície, essas perdas chegam a ultrapassar 75%.

Além do correto dimensionamento e dos outros pontos discutidos ao longo


desta unidade, algumas outras estratégias podem ser adotadas para promover o uso
racional da água.

O mulching é uma prática de manejo que preconiza a cobertura do solo,


podendo ser realizado com filmes plásticos, resíduos orgânicos como palhada, é uma
prática recomendada para a economia de água, pois conserva a umidade do solo e
reduz a necessidade das regas. Essa prática reduz a perda por evaporação, minimiza
a ocorrência de plantas daninhas o que poderia causar cortes nas mangueiras de
gotejamento.

NOTA
O uso do mulching, ou cobertura do solo, vem sendo amplamente
utilizado na agricultura. Tem como efeito o aumento da temperatura do
solo, diminuição das perdas de água por evaporação, controlar as plantas
invasoras, facilita a colheita e a comercialização, uma vez que o produto é
mais limpo e sadio. Pode ser sintético (polietileno) ou orgânico (resíduos
vegetais de diferentes composições, por exemplo, casca de arroz, palhada
de milho, sorgo ou capim elefante).

O melhoramento genético também pode auxiliar nesse processo por meio do


desenvolvimento de cultivos mais resistentes ao estresse hídrico. Ainda, alguns estudos
estão indo na direção de reuso de água de esgoto tratada para irrigação de lavoura sem
busca de maior sustentabilidade do sistema.

Manutenções periódicas dos equipamentos também contribuem para esse uso


racional, já que evitam vazamentos e perda de água. Um sistema de irrigação exige
manutenções periódicas para que mantenha seu funcionamento de acordo com o que
foi projetado.

35
NOTA
A manutenção corretiva é um trabalho mais intenso na irrigação.
Caracteriza-se por ocorrer em sistemas que pararam de funcionar, seja
por problemas hidráulicos ou elétricos. Já a manutenção preventiva, de
acordo com o próprio nome, tem por objetivo prevenir problemas e gastos
maiores.

Considerando os demais custos na produção, em geral, a irrigação representa


um custo pequeno para o produtor que por vezes irriga em excesso, o que prejudica o
ambiente e as plantas.

O encharcamento de solos argilosos pode afetar a respiração e captação de


água e nutrientes por parte das raízes das plantas, afetando assim seu crescimento.
Além disso, solos muito úmidos propiciam o aparecimento de pragas e doenças.

Ao longo do livro você verá mais detalhes dos projetos de irrigação. Entretanto, é
importante que você já saiba que, muitas vezes, a fonte de água se encontra em uma posição
topográfica onde se faz necessário bombear a água. Assim, há além do gasto com água, o
gasto também com energia elétrica. Portanto, o uso racional da água impacta igualmente
no consumo de energia nos casos em que se utiliza esse sistema de bombeamento.

As maneiras de utilizar racionalmente a água passam por aumentar a eficiência


da irrigação. Como se faz isso? Com dimensionamento e manejo dos sistemas.

Algumas medidas foram relatas por Azevedo (2002) e estão descritas a seguir:

• utilizar aspersores próximos do dossel da planta;


• reduzir a angulação de jatos de água;
• uso de aspersores e espaçamentos que não ultrapassem a capacidade de infiltração do solo;
• irrigar durante a noite;
• irrigar sempre nas pressões recomendadas pelo técnico e/ou fabricante do material;
• irrigar de forma intermitente nas etapas fisiológicas quando a planta demanda menos
água;
• irrigar na quantidade que incorpore água na profundidade mais efetiva das raízes.

Assim, quando falamos em uso racional de água, podemos dizer que a soma
de medidas otimiza a eficiência do uso da água e mitigam os impactos negativos nos
recursos hídricos. O uso de maneira consciente, responsável e sustentável deve ser
sempre incentivado. Políticas públicas devem ser adotadas e cobradas das autoridades
responsáveis. A agricultura irrigada tem grande importância na alimentação da
população, pois garante produtividade e alimento de qualidade, porém, podem sim
causar impactos negativos ao meio ambiente, à qualidade do solo e água e à saúde
pública. Portanto, o uso racional e consciente é chave para solucionar essa questão.
36
LEITURA
COMPLEMENTAR
FORMAS DE USO MAIS EFICIENTE DA ÁGUA PELA AGRICULTURA

Deivison Santos
Marta Eichemberger Ummus

Observa-se atualmente aumento no consumo de água pelas grandes cidades e


indústrias. Na região Sudeste do Brasil, a crise de abastecimento de água tem imposto
o racionamento para milhares de pessoas. Tendo em vista que o setor agropecuário
utiliza 70% dos recursos hídricos disponíveis no país, faz-se necessário adotar medidas
que viabilizem o uso racional desse recurso indispensável para a manutenção da vida
na Terra.

No MATOPIBA, que é a nova fronteira agrícola do País, há uma grande oferta


hídrica na estação chuvosa, seguida por um período de seca que chega a durar 150
dias. Portanto, aprendendo com os erros cometidos em outras regiões e aplicando
tecnologias para a conservação, correto manejo e uso eficiente dos recursos hídricos,
é possível evitar crises de abastecimento e os conflitos decorrentes dessa condição.

Pensando em recursos hídricos no MATOPIBA, a Bacia do Rio Tocantins ocupa


43% da área, seguida da Bacia do Atlântico – trecho Norte/Nordeste, com 40%, e da
Bacia do Rio São Francisco, com 17%. Existem rios de significativa importância, como os
rios Araguaia, Tocantins, São Francisco, Parnaíba, Itapicuru, Mearim, Gurupi e Pindaré
(SANTOS; UMMUS, 2015).

Segundo a Secretaria Nacional de Irrigação, do Ministério da Integração


Nacional, o Tocantins é o estado que conta com a maior quantidade de solos aptos para
desenvolvimento da agricultura irrigada: mais de 4 milhões de hectares. Porém, nem
10% desse potencial para irrigação é utilizado.

O uso da água na agropecuária é feito por meio da irrigação e da dessedentação


animal, que estão entre os usos consuntivos previstos pela legislação. Existem novas
formas de cultivo que utilizam menos água e de forma mais eficiente, mas também
existem formas e tecnologias mais antigas, em que o problema é a sua adoção. Pode-
se dividir as tecnologias em dois eixos: as que economizam água; e as que favorecem a
sua infiltração no solo.

37
Tecnologias que economizam água

Neste caso, utiliza-se menos água para a produção de alimentos aumentando


a eficiência de uso da água (EUA). Pode-se considerar essa forma como “orientada pela
tecnologia”, porque o seu desenvolvimento acontece pelo avanço da pesquisa.

Na produção de sequeiro, são utilizadas plantas mais tolerantes ao estresse


hídrico, numa abordagem baseada no melhoramento de plantas e na biotecnologia
(incluindo organismos geneticamente modificados – OGMs). Diante das mudanças
climáticas globais e da competição pelos recursos naturais solo e água cada vez mais
acirrada, essas técnicas têm se desenvolvido rapidamente.

Outra maneira de economizar água é por meio da sua reutilização para atividades
que não exijam potabilidade. Em áreas urbanas e industriais, a adoção dessas medidas
vem aumentando nos últimos anos. As atividades agropecuárias também podem
estabelecer o uso mais consciente, como o tratamento de dejetos animais para a
produção de gás, energia e posterior reuso da água.

Em sistemas de produção irrigados, podem ser utilizadas técnicas de irrigação


deficitária, nas quais a demanda hídrica da planta não é plenamente atendida, mas
somente o mínimo economicamente viável.

O segredo é o manejo adequado do potencial de água no solo, utilizando


sensores capazes de identificar os limites estabelecidos como suas capacidades mínima
e máxima de retenção de água; ou medindo o fluxo de seiva das plantas, que monitora
a atividade estomática, relacionada às estruturas que regulam a evapotranspiração
e fazem parte do processo de fotossíntese. Essas técnicas devem estar sempre
associadas a tecnologias para monitoramento climático, provendo dados de ajustes
para as condições locais, permitindo manejos mais precisos.

Outra estratégia para usar menos água na produção irrigada é o uso de sistemas
mais eficientes em sua condução, como microaspersão e gotejamento, que têm eficiência
maior que 90%, ao invés de sistemas menos eficientes, como canhão autopropelido,
com eficiência menor que 80%. Essa estratégia, aliada aos corretos dimensionamentos,
monitoramento e manutenção do sistema, é muito eficaz em reduzir o volume de água
utilizado pela irrigação. Vale lembrar que a eficiência de um sistema de irrigação também
envolve a adequação de seu uso. Para isso, é preciso conhecer quando e como deve ser
feita a irrigação de salvamento, a irrigação suplementar e a irrigação plena.

Irrigação de salvamento

Ocorre em regiões em que a demanda hídrica da cultura é quase totalmente


atendida, necessitando da irrigação em razão da ocorrência de veranicos ou estiagens

38
de curta duração. Utiliza principalmente sistemas portáteis e móveis, como o canhão
autopropelido, por causa da maior praticidade e necessidade pontual.

Irrigação suplementar

Deve ser praticada em regiões em que a demanda hídrica da cultura é


parcialmente atendida, mas há necessidade de irrigar em razão da ocorrência de uma
estação seca bem definida e com maior duração. Nessa situação, é mais recomendado
utilizar sistemas fixos e de alta eficiência, como aspersão convencional, pivôs centrais
e lineares.

Irrigação plena

Ocorre em regiões áridas ou semiáridas, em que a demanda hídrica da cultura


nunca é atendida, necessitando da irrigação para garantir a produção. Essas regiões
são deficientes em recursos hídricos, exigindo sistemas mais eficientes na utilização de
água e energia, como os sistemas de irrigação localizada.

Tecnologias que favorecem a infiltração de água no solo

As tecnologias que favorecem a infiltração de água no solo aumentam o


volume de água disponível às plantas sem comprometer a recarga do aquífero. Pode-se
considerar que essas tecnologias são “orientadas pelo mercado e leis”, pois sua adoção
massiva ocorre após a aplicação de barreiras não tarifárias advindas de mercados mais
exigentes e com maior consciência ambiental ou de legislações.

Essas tecnologias são baseadas principalmente em práticas de conservação de


solo e água, que podem ser divididas em práticas edáficas, vegetativas e mecânicas. O
objetivo principal é evitar a erosão do solo, ao reduzir o impacto e a velocidade da água
sobre a superfície favorecendo sua infiltração, ao invés do escorrimento superficial.

Dentre as práticas vegetativas de conservação, destaca-se que é necessário


manter o solo protegido e com cobertura vegetal durante a maior parte do ano, utilizando
rotação de culturas ou plantas de cobertura, protegendo o solo por meio de suas raízes
e palhada após colheita ou dessecação.

Como práticas edáficas, o uso de calcário, de fertilizantes e o não revolvimento


do solo são boas alternativas. As práticas mecânicas envolvem o cultivo em linhas, a
sistematização da área e a construção de terraços. Todas as tecnologias supracitadas
evitam a degradação do solo, devolvendo parte dos nutrientes que foram extraídos
pelas plantas ou pelo manejo inadequado.

39
Existem também estruturas que favorecem a chamada “colheita de água”.
Isso pode ser realizado com a cobertura do solo ou com a construção de barragens
e drenagens subsuperficiais. Essa prática converte o solo em um grande sumidouro
de água, podendo ainda fazer a conexão dessas estruturas a reservatórios para
armazenamento hídrico. Na região do MATOPIBA, em que há ocorrência de chuvas
torrenciais, o uso de reservatórios é uma alternativa bastante interessante, já que a
água pode ser armazenada na estação chuvosa para ser utilizada na estação seca.

O grande desafio é a integração de todas as práticas conservacionistas


descritas. Um planejamento integrado e ambientalmente viável pode reduzir os
custos de produção a curto e longo prazos, assim como agregar valor aos produtos via
“certificações verdes”. O advento de novas tecnologias tende a facilitar o emprego dessas
práticas e a aumentar a eficiência na utilização dos recursos ambientais. Dessa forma, é
possível manter a utilização racional dos recursos hídricos, seja pelo setor agropecuário,
grande provedor de alimentos, empregos (até quando?) e serviços ambientais, seja
pelos setores urbano e industrial, provedores de mercado e serviços; e empregos e bens
de consumo, respectivamente.

FONTE: SANTOS, D.; UMMUS, M. E. Formas de uso mais eficiente da água pela agricultura. Fronteira
Agrícola. Informativo Técnico, Núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Agricultura, Brasília,
DF, n. 9, p. 1-3, nov. 2015. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/
doc/1039319/1/CNPASA2015fa9.pdf. Acesso em: 21 dez. 2021.

40
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A água é um bem público e, para usá-la na propriedade em projetos de irrigação, é


preciso pedir autorização.

• A cultura irrigada desempenha um papel cada vez mais importante para garantir
segurança alimentar, viabilizando escala de produção de alimentos, qualidade e os
padrões nutricionais que são mundialmente requeridos.

• A água aplicada acima da capacidade de retenção do solo será lixiviada e poderá levar
fertilizantes e agrotóxicos para os reservatórios subterrâneos, causando poluição do
lençol freático.

• A soma de medidas otimiza e promove o uso racional da água. Quando falamos de


manejo da irrigação, podemos: utilizar aspersores próximos do dossel da planta;
reduzir a angulação de jatos de água; usar aspersores e espaçamentos que não
ultrapassem a capacidade de infiltração do solo; irrigar durante a noite; irrigar sempre
nas pressões recomendadas pelo técnico e/u fabricante do material; irrigar de forma
intermitente nas etapas fisiológicas, quando a planta demanda menos água; irrigar
na quantidade que incorpore água na profundidade mais efetiva das raízes.

41
AUTOATIVIDADE
1 A poluição da água pode gerar um fenômeno que resulta na reprodução acelerada
de alguns organismos que já estão presentes no ambiente, sendo um processo
decorrente do desequilíbrio ambiental que pode durar dias ou meses. Sobre a
denominação desse fenômeno, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Trofização.
b) ( ) Nitrificação.
c) ( ) Desnitrificação.
d) ( ) Eutrofização.

2 Quando fertilizantes são injetados no sistema por meio da irrigação, a quimigação


é chamada especificamente de fertirrigação. Diversos produtores que praticam a
agricultura irrigada têm utilizado essa estratégia de aplicar água e produtos químicos
dissolvidos. Sobre a quimigação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) Auxilia na redução da compactação do solo, pois o tráfego de máquinas na lavoura


é eliminado.
( ) Evita o molhamento sem necessidade.
( ) Tem necessidade de mão de obra treinada para a operação do sistema.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - V.
b) ( ) V - V - F.
c) ( ) F - F - V.
d) ( ) F - V - F.

3 Quando falamos de manejo de irrigação, existem diferentes técnicas a serem


aplicadas, mas todas consideram o momento mais adequado de efetuar a irrigação,
dentro outros motivos para otimizar o uso da água. Sobre o uso da água para irrigação,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A reposição das reservas subterrâneas junto aos lençóis freáticos depende do uso
racional da água.
( ) Adotar um manejo adequado pode ocasionar a deposição de sais e a degradação de
solos cultivados.
( ) A água é um bem privado, ou seja, o proprietário do terreno ao possuir escritura,
automaticamente já outorga para uso da água.

42
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V - F - V
b) ( ) V - F - F.
c) ( ) F - F - V.
d) ( ) F - V - F.

4 Um dos grandes desafios da agricultura irrigada é produzir cada vez mais alimentos,
utilizando cada vez menos água. Nesse contexto, a irrigação torna-se essencial para
garantir a produtividade e rentabilidade dos produtores rurais, e ao mesmo tampo
diminuir o uso da água. Disserte sobre ao menos três manejos que contribuem para
o uso racional da água.

5 A quimigação pode ser realizada em todos os métodos de irrigação: superfície,


aspersão e localizada, sendo assim muito útil ao produtor. E os principais produtos
aplicáveis são fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas e nematicidas. Disserte
sobre duas vantagens do uso da quimigação.

43
44
REFERÊNCIAS
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irrigação: uso da água na agricultura irrigada / Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico. 2. ed. Brasília, DF: ANA, 2021. Disponível em:
https://biblioteca.ana.gov.br/asp/download.asp?codigo=148256&tipo_
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www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/56415/determinacao-da-
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AZEVEDO, J. A. de. Controle da irrigação para uso racional de água e de energia.


Comunicado Técnico nº 83. Planaltina, Ministério da Agricultura, Pecuária e
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INTERNACIONAL DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA IRRIGAÇÃO, 2.; SIMPÓSIO
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Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei n.
8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei n. 7.990, de 28 de dezembro de
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SENAR – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL. Irrigação: gestão e


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SOUSA, V. F. de et al. Irrigação e fertirrigação em fruteiras e hortaliças. Brasília,


DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2011.

TEIXEIRA, P. C. et al. Manual de métodos de análise de solo. Brasília, DF:


Embrapa, 2017. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/
publicacao/1085209/manual-de-metodos-de-analise-de-solo. Acesso em: 10 jan.
2022.

47
TRIÂNGULO Textural. [S. l.: s. n.], 2011. 1 vídeo (7 min.). Publicado pelo canal Khan
Academy Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1zDoeDmvdZQ.
Acesso em: 10 jan. 2022.

48
UNIDADE 2 —

SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os sistemas de irrigação;

• entender a aplicação dos diferentes sistemas de irrigação;

• apreender a elaborar projetos de irrigação, levando-se em consideração os aspectos


técnicos, econômicos e ambientais;

• avaliar a eficiência de sistemas de irrigação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


TÓPICO 2 – IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO
TÓPICO 3 – IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE
TÓPICO 4 – SELEÇÃO DO MÉTODO DE IRRIGAÇÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

49
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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50
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
IRRIGAÇÃO LOCALIZADA

1 INTRODUÇÃO
A irrigação consiste na aplicação de água para repor a transpirada pelos vegetais
e evaporada do solo, processo conhecido como evapotranspiração (HERNANDEZ, 2016).

Trata-se de uma técnica artificial ou não, que visa suprir a necessidade de água
pelas culturas, com aplicação no momento certo e na quantidade certa. Durante este
processo são atendidas as demandas do solo-planta-atmosfera. A irrigação é conhecida
e realizada desde os primórdios da humanidade, data-se seu início em 4.500 a.C. em
áreas áridas perto das margens dos grandes rios. Tem-se relato de sua utilização na
China e em outros lugares da Ásia (2.000 a.C.), e, posteriormente, no Egito e na Índia
(1.000 a.C.), e, somente em 500 d.C., seu uso em áreas úmidas. No Brasil, essa técnica
teve seu início na Fazenda Santa Cruz em 1589, na cidade do Rio de Janeiro, com o
pioneirismo religioso dos padres jesuítas, que, usufruindo da técnica, irrigavam suas
hortas (BERNARDO; SOARES; MANTOVANI, 2008).

Hoje o mundo necessita dos alimentos produzidos pela agricultura irrigada, e com
o exponencial crescimento da população, torna-se imprescindível o desenvolvimento
dos métodos existentes. Dentre os métodos de irrigação, compreendem-se: a irrigação
localizada, irrigação por aspersão, irrigação por superfície e irrigação por subsuperfície.

IMPORTANTE
O método de irrigação localizada consiste na aplicação de água em
área específica, ou seja, em uma parte que representa a área ocupada
pelas raízes das plantas, caso este molhamento seja superior, há uma
descaraterização do método cuja capacidade é de molhar uma área
mínima de 20% em solos úmidos e 33% em solos semiáridos (SANTOS et
al., 1997).

Na irrigação localizada, a aplicação de água é feita diretamente sob o solo, em


pequenas proporções e alta constância, mantendo-o próximo a sua capacidade de
campo. Este método é utilizado pelos produtores de culturas como hortaliças, fruteiras,
café, plantas ornamentais, culturas florestais economicamente expressivas, como a
seringueira, entre muitos outros exemplos.

51
Portanto, ao escolher este método, o profissional deve atentar para as vantagens,
desvantagens e sua aplicabilidade. Dentre as vantagens, destacam-se:

• melhor utilização do recurso hídrico: a lâmina d’água a ser aplicada sob o solo é
controlada, as perdas por evaporação são menores, não há escoamento superficial,
tampouco percolação, não irriga áreas desnecessárias e proporciona maior eficiência
da irrigação;
• ganhos produtivos: em geral, há uma maior produtividade em culturas que são
irrigadas por gotejamento, pois há uma uniformidade dos frutos cultivados sob este
sistema de irrigação;
• irrigação com a adubação: a irrigação localizada permite a diluição de adubos na
água de irrigação, denominada de fertirrigação, concentrando as raízes da cultura na
região denominada de bulbo;
• controle de plantas invasoras: esta água de irrigação não molha as plantas
invasoras e, consequentemente, suas sementes, obtendo-se um melhor controle;
• tratos culturais: com a irrigação localizada não há interferência quanto às demais
práticas requeridas pelas culturas como capinas, aplicação de defensivos agrícolas
ou colheita;
• topografi a: dentro dos métodos de irrigação, este é o que melhor se adapta as
diferentes declividades do terreno;
• controle da água salina: há maior concentração de água salina ao redor do bulbo
úmido e menor concentração na área ocupada pelas raízes;
• economia: tanto de mão de obra, pois trata-se de um sistema fixo e permite sua
reutilização em outras culturas ou em novas safras.

Dentre as desvantagens deste método de irrigação, segundo Bernardo, Soares,


Mantovani (2008), destacam-se:

• obstrução: neste sistema a água sai em pequenos orifícios que variam conforme o
tipo e o modelo dos emissores, portanto, é necessário que a água utilizada seja de
boa procedência, por isso, torna-se imprescindível a utilização de filtros. Uma vez os
emissores entupidos sua recuperação é baixa;
• distribuição radicular: em razão dê formação do bulbo molhado, as raízes das
plantas ficam menos fixas no solo, podendo ocasionar o tombamento da planta.

ATENÇÃO
Os tipos de irrigação localizada são por gotejamento e por microaspersão.

52
2 GOTEJAMENTO
O sistema de irrigação por gotejamento, possui menor capacidade de
molhamento, quando comparado ao sistema de irrigação por microaspersão. Os
emissores estão localizados na linha lateral, e a distribuição de água é em formato de
gota. Normalmente, os gotejadores são de baixa vazão (até 20 L h-1 a cada ponto –
emissor – de saída d’água) e com pressão de funcionamento de 5 a 10 mca (LEVIEN,
2004).

Este sistema é altamente indicado para lugares que possuam solos com altos
teores de argila (COELHO et al., 2017). No entanto, alguns gargalos são vistos neste
sistema, a exemplo, a suscetibilidade ao entupimento das saídas d’água e a necessidade
de mais gotejadores por planta. Portanto, ao optar por este sistema, o produtor deve
utilizar água limpa e possuir recursos financeiros que atenda as demandas da cultura a
ser irrigada.

3 MICROASPERSÃO
Os microaspersores surgiram para atender a demanda por emissores que
não entupissem tão facilmente. O sistema de irrigação por microaspersão possui
maior capacidade de molhamento quando comparado ao sistema de irrigação por
gotejamento, sendo altamente indicada para solos mais arenosos, mas com capacidade
de ser utilizado em solos muito argilosos. Os microaspersores, nome que recebem os
emissores do sistema de microaspersão, distribuem mais água e em pequena área
formando um círculo (3 a 7 m de diâmetro), com velocidade e capacidade de molhamento
alterável conforme a vazão (acima dos 40 L h-1) e a pressão de trabalho (10 a 20 mca)
(COELHO et al., 2017).

Esse sistema apesenta como vantagens as menores ocorrências de obstruções,


o molhamento ocorre de forma mais uniforme e proporciona, também, melhor controle
de sais. No entanto, apresenta como fator limitante maior custo de implantação,
necessitando de maior vazão e pressão de trabalho.

3.1 MONTAGEM DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


Os sistemas de irrigação têm sido frequentemente utilizados para a produção
agropecuária. No entanto, esses métodos não são sempre empregados de maneira
correta e coerente com as exigências e demandas das culturas e com sua necessidade.

Portanto, antes de instaurar um sistema de irrigação é necessário planejamento


e montagem adequada, para que, a execução do projeto de irrigação seja coerente com
a sua finalidade, proporcionando maiores ganhos produtivos.

53
A montagem do sistema de irrigação localizada é a mesma para estes tipos
de irrigação, mudando, apenas, o tipo de emissor a ser utilizado (gotejadores ou
microaspersores).

3.1.1 Rede de distribuição


As tubulações que recebem o nome de linhas laterais são aquelas que
abrigam os emissores que distribuirão a água para as culturas. Normalmente, são
constituídas por materiais flexíveis como o polietileno, ou por qualquer material que
suporte os emissores, podendo estas linhas serem enterradas ou niveladas à superfície
do solo. Independentemente da forma que se coloca estas fitas, os emissores devem
estar acima do solo, distanciados e direcionados conforme a exigência da cultura e a
formação do bulbo molhado (SANTOS et al., 1997).

As linhas laterais estão conectadas às linhas secundárias ou também


conhecidas como linhas de derivação. As linhas secundárias são normalmente
constituídas por materiais mais resistentes, podendo ser de cano de PVC (35, 50, 75
ou 100 mm) ou até por materiais menos resistentes como o polietileno (SANTOS et al.,
1997).

As linhas secundárias possuem uma válvula capaz de interromper a circulação


de água para as linhas laterais, através de um componente denominado registro.

A linha principal é aquela que se conecta à linha secundária, normalmente


constituídas de PVC localizada abaixo do solo. Na linha principal, tem-se os registros de
gaveta, também capaz de interromper o fluxo de água.

Como relatado anteriormente, a função dos emissores é controlar a quantidade


de água que é aplicada sob o solo. No sistema de irrigação por gotejamento, a saída de
água é em formato de gota e ocorre diretamente sob o solo. No sistema de irrigação
por aspersão, a água é aplicada em forma de chuva fina e sob área circular também
diretamente sob o solo.

Por isso, os emissores são divididos, conforme Levien (2004), em dois tipos: de
alta vazão e de baixa vazão.

• Emissores de alta vazão: constituído pelos difusores e microaspersores. As


características dos emissores de alta vazão são descritas a seguir:
o difusores: são estáticos, não se fazendo necessária muita manutenção

comparado aos microaspersores;


o microaspersores: instalados sobre um plástico, são conectados on-line à

tabulação lateral por intermédio de um microtubo, possuem movimento giratório,

54
do tipo bailarina, com raio de alcance de 1 a 3 m.
• Emissores de baixa vazão: constituído pelos gotejadores, mangueiras e fitas
porosas. As características dos emissores de baixa vazão são descritas a seguir:
o tipo labirinto: a água percorre um labirinto – este tipo possui sensibilidade baixa

quanto os fatores abióticos e aos que possam causar obstrução;


o tipo orifício: a água sai por meio de pequenos orifícios – este tipo possui

sensibilidade baixa quanto os fatores abióticos, no entanto, são sensíveis a


obstrução;
o tipo redemoinho: o local de emissão situa-se dentro de um redemoinho,

possuindo baixa sensibilidade quanto os fatores abióticos e a obstrução;


o autocompensante: com uma membrana flexível variável conforme a pressão

d’água existente, sendo altamente recomendável em terrenos com desnível, no


entanto, são sensíveis quanto à obstrução e aos fatores abióticos, inviabilizando
sua utilidade após certo período de tempo de uso;
o mangueira: são pouco espessas, apresentando perfurações espaçadas de

maneira uniforme, com baixas pressões, no entanto, possui muita sensibilidade


quanto à obstrução;
o fitas porosas: fabricada de material poroso, trabalham sob baixas pressões e

vazões, possuindo muita sensibilidade quanto à obstrução e aos fatores abióticos.

Sendo assim, estes gotejadores podem ser, conforme Esteves et al. (2012):

• on-line: quando os emissores são acoplados à fita de irrigação, da linha lateral, após
a sua perfuração;
• in-line: quando os emissores já estão acoplados à fita de irrigação, sem a necessidade
de sua perfuração pelo produtor ou profissional.

A vazão dos gotejadores pode ser calculada com base na seguinte expressão:
, em que temos:

• = representa a vazão dada em L h-1;


• = representa a constante do gotejador;
• = é a pressão d’água dada em mca;
• = representa a constante do gotejador.

O conjunto motobomba é aquele responsável por retirar da fonte hídrica


a água que será utilizada na irrigação. O seu funcionamento pode ser com base em
diferentes fontes como diesel, gasolina ou eletricidade. Esse conjunto é necessário, pois
a irrigação só funciona com pressão d’água e a bomba centrífuga é aquela capaz de
fornecer a pressão necessária para que o sistema funcione corretamente. O conjunto
motobomba deve ser capaz de bombear a água da fonte até a área a ser irrigação por
uma distância mínima de 10 m.

55
O cabeçal de controle situa-se após o conjunto motobomba e constitui-se
pelos medidores de vazão, injetor de fertilizantes, registros de gavetas ou válvulas de
controle, manômetros (medidor de pressão), sistema de controle de vazão e filtros,
conforme descrito por Bernardo, Soares e Mantovani (2008).

• Medidores de vazão: item dispensável em regiões cujo fornecimento de água seja


abundante e de baixo custo. Sua função é controlar o volume de água e auxiliar no
pleno funcionamento do sistema automatizado.
• Injetor de fertilizantes: é indispensável quando se utiliza a fertirrigação, que consiste
na aplicação de fertilizantes na água de irrigação, com fluxo de saída controlada
por registros. Sendo uma otimização na produção, pois aplica-se fertilizantes nas
plantas com maiores frequências e em menores proporções, acarretando um melhor
aproveitamento deste pela planta, por intermédio de utilização do que lhe é fornecido.
Deve-se atentar ao tipo de fertilizante utilizado, pois, quando ricos em fósforo (P), são
pouco solúveis e mesmo em formas solúveis pode ocorrer a sua precipitação, e, com
isso, problemas durante esta etapa.

Existem diferentes métodos para a inserção de fertilizantes no sistema, como


tanque de fertilizante, motobomba independente e sucção. Existe um cálculo capaz de
fornecer a eficiência de aplicação de um fertilizante no sistema e pode ser calculado,
utilizando-se a metodologia de Keller e Karmeli (1975): , em que temos:

• = refere-se ao volume total do tanque de fertilizante (L);


• = refere-se à quantidade de fertilizante que deve ser utilizada (kg/ha);
• = subárea que o sistema irriga por vez (ha);
• = concentração do fertilizante (kg/L).

O controle de vazão é utilizado principalmente em países cuja água e mão de


obra são fatores limitante a produção. Para países, como o Brasil, o custo inerente desta
etapa pode ser facilmente economizado, utilizando-se para controle de vazão registros,
mão de obra e emissores que funcionem com vazão constante.

Claro que a utilização de controle de vazão tem suas vantagens, e uma delas é a
formação de um sistema automatizado. No entanto, os custos deste investimento pode
ser uma grande desvantagem de sua aplicação.

A utilização de filtros de irrigação é uma medida necessária para evitar o


entupimento dos emissores e, com isso, problemas futuros.

Para a escolha correta, é necessário atentar-se para a propriedade da água que


será utilizada para a irrigação, e também, ao tipo de emissor, de modo que, as impurezas
de maior granulometria sejam bloqueadas.

56
Dinâmica semelhante pode ser vista quando se utiliza filtros de papel para coar
um café – a água saborizada sai, no entanto, os grânulos de café ficam retidos no papel
filtro. Existe uma gama de filtros que podem ser utilizadas na irrigação por gotejamento,
conforme especificado por Esteves et al. (2012).

• Filtros centrifugadores: a força centrífuga separa as impurezas.


• Filtros de tela: são telas capazes de filtrar as impurezas, podendo ser constituído
de diferentes materiais como plástico ou metal, de diferentes dimensões. A limpeza
deste filtro pode ser realizada de forma manual, como também, automatizada.
• Filtro de disco: a passagem de água ocorre entre discos plásticos com ranhuras.
• Filtros de areia: a passagem de água ocorre dentre as frações de areia, de
granulometria de 0,8 a 1,5 mm. No entanto, essas partículas não possuem a mesma
granulometria, e, portanto, devem apresentar um coeficiente de uniformidade de 1,2
a 1,5. Este tipo de filtragem tem um grande benefício, pois só deve ser trocado, após
anos de uso. No entanto, aconselha-se a troca anual da areia que fica dentro do filtro,
pois durante a sua lavagem há uma perda de areia, e, com isso, uma menor eficiência
deste tipo de filtro.

A escolha do filtro mais adequado deve ser feita baseada na qualidade da água
do local.

4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
Xavier, Costa e Costa (2006) demonstram o resultado de um levantamento
bibliográfico sobre o grau de eficiência dos métodos de irrigação nas culturas da banana,
coco, manga e uva.

Percebe-se que os resultados para gotejamento e microaspersão destacam-se


ao método por aspersão.

QUADRO 1 – CULTURAS SOB DIFERENTE SISTEMA DE IRRIGAÇÃO E SUA EFICIÊNCIA DESTE SISTEMA

Fonte: Xavier, Costa e Costa (2006, p. 227).

57
A irrigação por microaspersão pode ser utilizada na produção de fruteiras
como banana, coco, hortaliças como alface, rúcula, plantas ornamentais e muitas
outras culturas.

A irrigação por gotejamento pode ser aplicada para produção de abóbora,


alface, alho, batata, berinjela, brócolis, cebola, cenoura, feijão-vagem, folhosas em geral,
melancia, melão, morango e pimentão, batata-doce, beterraba, couve-flor, milho-doce,
pepino, repolho e tomate.

58
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O método de irrigação localizada é caracterizado pela aplicação de água em área


específica, ou seja, em uma parte que representa a área ocupada pelas raízes das
plantas, com capacidade de molhar uma área mínima de 20% em solos úmidos e 33%
em solos semiáridos. Ou seja, neste método a aplicação de água é feita diretamente
sob o solo, em pequenas proporções e alta constância, mantendo-o próximo a sua
capacidade de campo.

• Os benefícios da utilização desse método vão além de proporcionar a irrigação da


cultura, mas a melhor utilização do recurso hídrico, proporciona ganhos produtivos,
permite a fertirrigação, auxilia no controle de plantas invasoras, não interfere nas
práticas culturais adotadas durante o desenvolvimento da cultura (capinas, podas,
uso de defensivos agrícolas ou colheita), proporciona alta adaptabilidade topográfica,
controle da água salina e economia.

• A diferença entre os sistemas de irrigação localizada por gotejamento e microaspersão.


O sistema de irrigação localizada por gotejamento consiste na saída de água em
formato de gota, com baixa vazão e pressão de funcionamento. O sistema de irrigação
localizada por microaspersão possui maior capacidade de molhamento, e, quando
comparado ao gotejamento, sua característica é a distribuição da água em formato
circular com velocidade e capacidade de molhamento variável, conforme a vazão e a
pressão de trabalho.

• Os componentes necessários para montagem de um método de irrigação localizada,


são: tubulação de sucção, conjunto motobomba, registros de gaveta, filtro de areia,
injetor de fertilizantes, filtro de discos, linha principal, linha de derivação, linha lateral
e emissores.

59
AUTOATIVIDADE
1 O método de irrigação localizada consiste no emprego de água em área específica,
ou seja, em uma parte que representa a área ocupada pelas raízes das plantas, em
pequenas proporções e alta constância. Sobre a irrigação localizada, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) No método de controle de água e para sua correta utilização, deve-se considerar


o solo, clima, topografia e exigência da cultura.
b) ( ) No método de caracterização da água e para sua correta utilização, deve-se
considerar o solo, clima, topografia e exigência da cultura.
c) ( ) No método de aplicação de água sob o solo e para sua correta utilização, deve-
se considerar o solo, clima, topografia e exigência da cultura.
d) ( ) Essa nomenclatura foi extinta e, atualmente, denomina-se irrigação por
gotejamento e microaspersão.

2 Estima-se que no ano de 2050, a população mundial seja de 9,5 bilhões de pessoas,
e é claro que com este aumento exponencial surgem desafios. Entre estes desafios
está o de alimentar o mundo com qualidade, o que acarreta a busca por maiores
áreas de produção, necessidade de mais insumos e mão de obra, como também,
água para irrigar as áreas de cultivo. Com base no conhecimento adquirido sobre
irrigação, analise as afirmativas a seguir:

I- A utilização do método de irrigação localizada é capaz de atender todas as demandas


mundiais, dispensando-se a necessidade de investimento e, consequentemente,
custo com os demais tipos de irrigação.
II- Talvez esta preocupação seja desnecessária, pois todas as culturas podem ser
cultivadas em sistema de sequeiro como já é visto em áreas monocultoras de soja e
milho.
III- O método de irrigação localizada é importante e indispensável. Como todo método,
apresenta suas vantagens e desvantagens, entretanto, sua utilização nos permite ter
uma ampla variedade de frutas e hortaliças.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

60
3 O item mais essencial para pleno funcionamento do sistema de irrigação é o
planejamento e a disposição correta dos equipamentos. Para isso, entender quais
são os itens essenciais e dispensáveis em cada sistema torna-se imprescindível.
Em relação à montagem do sistema de irrigação localizada, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A utilização de filtros de irrigação é facultativa nesse sistema, pois se a água for de


boa qualidade não há necessidade de sua utilização. No entanto, quando utilizado,
evita o entupimento dos emissores por meio da filtragem das impurezas de maior
granulometria.
( ) A rede de distribuição constitui-se por medidores de vazão, filtros, injetor de
fertilizantes, registros de gavetas ou válvulas de controle, registros, manômetros e
sistema de controle de vazão.
( ) A função dos emissores é controlar a quantidade de água que é aplicada sob o solo;
existem dois tipos de emissores: gotejadores ou microaspersão.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A irrigação localizada caracteriza-se por aplicar água ao volume de solo ocupado


pelas raízes, esse tipo de irrigação permite o sucesso de cultivo em regiões áridas
e semiáridas. Isso ocorre, porque apresenta algumas características. Sabendo-se
disso, disserte sobre as características deste método de irrigação, abordando suas
vantagens e desvantagens.

5 Os emissores são os principais componentes de um sistema de irrigação. No sistema


de irrigação localizada por gotejamento, a água sai em formato de gota; já na irrigação
localizada por microaspersão, a água é aplicada na forma de chuva fina. Disserte
sobre os tipos de emissores abordando suas características.

61
62
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, abordaremos o método de irrigação por aspersão. Este sistema
é caracterizado pela saída de água em forma de jato, por meio de uma estrutura
denominada aspersor, formando uma quantidade expressiva de diminutas gotas de
água.

IMPORTANTE
É o sistema que melhor simula a chuva e possui seu funcionamento
coligado a um sistema de bomba e tubulação (BISCARO, 2009). As gotas
formam-se da passagem de água sob pressão por canais denominados
de tubulações ou aspersores (TESTEZLAF, 2017). O molhamento em
área total e a rapidez com que a água sai merece atenção por parte do
produtor, pois o excesso de saída de água pode causar problemas ao
desenvolvimento da cultura.

Para a instauração do sistema, o produtor deve se atentar para a distância


entre a fonte hídrica e o local de cultivo, tamanho da área, cultura a ser cultivada e
topografia do terreno (COELHO et al., 2017). O método de irrigação por aspersão abrange
diferentes sistemas, no entanto, cada um apresenta uma característica com vantagens
e desvantagens específicas. A vantagem deste método engloba a não necessidade de
sistematização do terreno, controle da lâmina de irrigação a ser aplicada, economia de
água, mão de obra, capacidade de fertirrigação e uso de defensivos agrícolas. Dentre as
desvantagens deste método, estão os custos elevados de instalação e manutenção e o
favorecimento do surgimento de doenças.

A irrigação por aspersão adequa-se a terrenos declivosos e a qualquer tipo de


solo, mas é afetado por fatores climáticos, como o vento. Esse método não necessita de
filtragem como o método localizada (MAROUELLI; SILVA; SILVA, 2017).

Constituem o método de irrigação por aspersão:

• sistema de irrigação por aspersão convencional: portátil, semiportátil e fixo;


• sistema de irrigação por aspersão mecanizado: autopropelido, pivô central e
deslocamento linear.

63
2 CONVENCIONAL
Como visto anteriormente, o método de irrigação por aspersão engloba o
sistema de irrigação convencional. Dependendo da forma como os equipamentos são
manejados a campo, este sistema pode ser classificado em: portátil, semiportátil e fixo.

• Sistema convencional portátil: neste tipo de sistema, os componentes que


constituem a irrigação são movimentados (deslocados) manualmente. É caracterizado
por ser um sistema de baixo custo, mas que demanda de bastante mão de obra.
• Sistema convencional semiportátil: neste tipo de sistema, há uma movimentação
manual das linhas laterais e dos aspersores, enquanto os demais componentes são
fixos.
• Sistema convencional fixo: neste sistema a área cultivada é coberta por tubulação,
permitindo o molhamento, sem a necessidade de mudança em sua posição. Há
diversas formas de se instalar as tubulações neste sistema, podendo ser enterradas,
deixando-se apenas os acessórios à mostra, ou, ainda, as tubulações podem estar
localizadas na superfície. Este tipo de sistema necessita de maior investimento, no
entanto, seu retorno com menores custos com mão de obra paga o que foi investido;
ele é utilizado também pelos produtores de hortaliças, que demandam de muito
trabalho e escassa mão de obra.

2.1 MONTAGEM DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO


Os principais componentes desse sistema são: conjunto motobomba,
tubulações, acessórios e aspersores.

• Conjunto motobomba: constituído por bomba centrífuga e motor acionador cujo


funcionamento é acionado por meio de combustíveis ou energia. Este conjunto é
capaz de captar a água de determinado reservatório (rios, lagos, açudes) incentivando
seu deslocamento até os aspersores. O dimensionamento do conjunto motobomba
deve ser pensado, baseando-se na vazão e pressão necessária para o funcionamento
deste sistema. A escolha correta deste conjunto também implica em menores custos
ao produtor.
• Tubulações: este conjunto é capaz de conduzir a água do conjunto motobomba
até a linha lateral. Recebe o nome de tubulação de recalque quando conduzem a
água do conjunto até a linha principal e o nome de tubulação de distribuição quando
conduzem a água da linha principal até os aspersores. Estas tubulações podem
ser constituídas por uma diversidade de materiais como PVC, aço, alumínio, ferro e
polietileno. As tubulações constituídas de metal possuem comprimento fixo de 6 m,
variando apenas o diâmetro e espessura conforme o material utilizado. No entanto,
toda a tubulação utilizada deve ser resistente à pressão e deve possuir encaixe fácil.

64
• Acessórios: constituem todos os componentes de ligação necessários para a fluidez
do sistema de irrigação. Estes componentes são: a bucha de redução para saída do
aspersor, cap macho e fêmea, cotovelos com 45° e 90°, derivação rosca e derivação
fêmea, curva de derivação e curva de nivelamento, registro de esfera, válvula de linha,
redução macho/fêmea, acoplamento rápido e válvula para aspersor e adaptadores.
• Aspersores: componente mais relevante do sistema e tem como finalidade a
pulverização da água em gotas finas. Para a escolha do aspersor, deve-se atentar
ao raio de alcance destes jatos, ou seja, para um bom molhamento, é necessário a
sobreposição dos jatos d’água. Como dito anteriormente, um dos principais gargalos
deste método são as condições climáticas, em especial, o vento, pois, quando
presente, tende a desviar a pulverização causando deriva de água, tirando o mérito
do sistema.

Há uma diversidade de aspersores no mercado, sendo classificado segundo


Biscaro (2009).

• Rotação: tipo estacionário ou rotativo. O rotativo, possui movimento de 360°, ou


setorial.
• Ângulo: o aspersor pode formar jatos ângulos de inclinação de 25°, 30° e 6°, quando
em pomares.
• Bocais de saída d’água: os bocais podem variar com diâmetro de 2 a 30 mm,
podendo ser providos de um ou mais bocais.
• Pressão: podendo ter pressão menor de 250 KPa, por isso classificados com baixa
pressão; pressão de 250 a 500 KPa, por isso classificado com média pressão; pressão
maior que 500 KPa, por isso classificado com alta pressão. Sendo de média pressão
os mais usuais neste sistema.
• Movimento: quando o aspersor gira no sentido contrário à água, denomina-se de
palheta.
• Dimensão: classificado em microaspersores, aspersores pequenos, aspersores
médios, aspersores grandes e canhões hidráulicos.

2.1.1 Escolha correta do aspersor


Para se escolher corretamente um aspersor, é necessário analisar seu custo,
qualidade, raio de alcance do jato d’água, número e ângulo de inclinação dos bocais e
a dimensão da área a ser irrigada. Este último aspecto é o mais importante, visto que
raios de alcance maiores dispensam a necessidade com mão de obra. Aspersores de
pequeno porte (raio de alcance de 6 a 12 m) são recomendados para áreas menores que
2 ha, aspersores de médio porte (raio de alcance de 12 a 30 m) são recomendados para
áreas de 2 a 10 ha e aspersores de grande porte (raio de alcance maior que 30 m) são
recomendados para áreas maiores que 10 ha.

65
O grau de pulverização do jato pode ser calculado por meio da seguinte
expressão, segundo Raposo (1994): , em que temos:

• = refere-se ao grau de pulverização do jato (adimensional);


• = pressão de serviço do aspersor (kPa);
• = diâmetro do maior bocal do aspersor (mm).

2.1.2 Vazão do aspersor


Esta vazão normalmente é obtida nos catálogos dos fabricantes. Aspersores
de pequena vazão possuem 1 m3 h-1, aspersores de médio porte de 1 m3 h-1 a 6 m3 h-1 e
aspersores de grande porte exibem vazão de 6 m3 h-1. Quando a vazão é desconhecida,
pode ser medida com auxílio de balde, proveta, mangueira flexível e cronômetro.
Interrompe-se o giro do aspersor conectando a mangueira no bocal do aspersor e o
outro lado da mangueira no balde. Para aspersores pequenos e médios a coleta deve
ser de pelo menos 20 L de água e o tempo deve ser anotado, não devendo ultrapassar
cinco segundos.

A vazão de um aspersor é calculada, segundo Marouelli, Silva e Silva (2017), da


seguinte maneira: , em que temos:

• = refere-se à vazão do aspersor (m3 ha-1);


• = volume de água coletada (L);
• = tempo de coleta (min).

2.1.3 Aplicação de água


Normalmente, os catálogos trazem a informação da intensidade de aplicação das
lâminas de água para diferentes pressões e espaçamento dos aspersores. A intensidade
de aplicação do jato d’água pode ser calculado, segundo Marouelli, Silva e Silva (2017), é
dada por meio da seguinte expressão: , em que temos:

• Ia= intensidade de aplicação de água (mm h-1);


• = vazão do aspersor (m3 h-1);
• = espaçamento entre os aspersores ao longo da lateral (m);
• =espaçamento entre linhas laterais (m).

66
2.1.4 Eficiência do sistema e aspersor e dimensionamento
da linha lateral
Quanto à eficiência do aspersor, este pode variar de 75% a 85% e pode ser
calculado, segundo Biscaro (2009), por meio da seguinte expressão: ,
em que temos:

• = eficiência do aspersor (%);


• = raio de cobertura (m);
• = carga hidráulica ou pressão (m).

Quanto ao dimensionamento da linha lateral, ,


em que temos:

• = perda de carga na linha lateral (m);


• = vazão da linha lateral (m3 s-1);
• = diâmetro interno da tubulação (m);
• = coeficiente do tipo da parede do tubo (adimensional);
• = comprimento da tubulação (m).

3 MECANIZADA
Este sistema serve para irrigar grandes áreas, melhorando a eficiência de
aproveitamento da água e proporcionando uma diminuição dos custos com mão de
obra. Para proporcionar mobilidade, o sistema de irrigação por aspersão mecanizado é
disposto sob sistema com rodas.

Os tipos de irrigação mecanizada são o sistema autopropelido, sistema pivô


central e sistema de deslocamento linear. Todos os sistemas possuem características
únicas, embora estejam dentro do mesmo método e são apresentadas a seguir:

3.1 SISTEMA AUTOPROPELIDO


Este sistema foi fundamentado para abranger áreas onde a irrigação
convencional é limitada pela necessidade excessiva de mão de obra, e a irrigação por
pivô central torna-se inviável pelo elevado custo de introdução. A característica principal
deste sistema é apresentar um aspersor denominado de canhão assegurado por um
veículo com rodas capaz de percorrer a área por ação hidráulica no mesmo momento
em que se aplica água.

67
A movimentação do sistema autopropelido dá-se por um carretel acionado por
um sistema de correias e uma turbina movida pela passagem de água sob pressão. Em
razão do deslocamento deste sistema, ele pode ser classificado em dois tipos:

• deslocamento por cabo de aço: em uma extremidade, posiciona-se o canhão, e,


na outra extremidade, o cabo de aço que deve estar esticado na faixa a ser molhada.
A mangueira é conectada ao hidrante. Deve-se então abrir o hidrante, e o movimento
da turbina (motobomba) é iniciado. Após a irrigação, o carreador pode ser trocado
para irrigar outras áreas. Este sistema é capaz de irrigar uma área de 400 m, limitada
apenas pelo comprimento da mangueira;
• deslocamento com mangueira: para este sistema, o deslocamento do aspersor
dá-se pela mangueira de 200 m de comprimento. A movimentação do aspersor dá-se
pelo recolhimento da mangueira, consequência da passagem de água pela turbina.

3.1.1 Montagem do sistema de irrigação mecanizada


autopropelido
O sistema mecanizado autopropelido é capaz de irrigar áreas com diferentes
formatos, declividade e sem exigência de mão de obra. A forma de aplicação de água
pelo canhão é setorial. Este sistema fundamenta-se, principalmente, em aspersor do
tipo canhão ou barra irrigadora, carretel enrolador, conjunto motobomba, mangueira,
sistema de engrenagens e turbinas e base do sistema de distribuição de água.

• Aspersor: pode conter um ou mais bocais, variável conforme a área a ser irrigada e
modelo. Pode ser utilizado uma barra irrigadora ao invés do canhão. A irrigação ocorre
por faixas.
• Carretel enrolador: é formado pelo conjunto motriz e carretel com mangueira de
polietileno, montados sobre o chassi com duas a seis rodas e acoplamento à barra de
tração do trator.
• Conjunto motobomba: consiste em uma turbina hidráulica e uma caixa de redução
de velocidade, que faz o enrolamento da mangueira no carretel estando o carro
irrigador na outra extremidade da mangueira.
• Mangueira: tem que suportar a pressão, precisar ser resistente a abrasão uma vez
que ela se desloca, e ser flexível, para enrolar e desenrolar no carretel, deve possuir
de 45 a 140 mm, com peso depende da espessura e comprimento variável podendo
chegar a 500 m.
• Sistema de engrenagens e turbinas: a força motora que gira o carretel é
constituída por uma turbina que é movida pela água, parte da água vai para o canhão
e a outra parte para a turbina e movimenta uma pá, que movimenta a rotação do
carretel enrolador. Depois de passar pela pá, localizadas na turbina, essa água vai
para o canhão hidráulico. A rapidez de recolhimento da mangueira, será conforme o
conjunto de engrenagens (polias e engrenagens).

68
• Base do sistema de distribuição de água: o carrinho onde o canhão está acoplado
é colocado distante do carretel enrolador, quando começa a operação, ele começa o
recolhimento da mangueira e como consequência a irrigação.
• Trator: responsável por esticar a mangueira.

3.1.2 Vantagens e desvantagens do sistema


O sistema mecanizado autopropelido apresenta como vantagens: um sistema
de baixo custo, há uma economia de mão de obra, há um criterioso molhamento da
lâmina d’água, e com isso, ganhos em produtividade.

Dentre as limitações deste sistema, pode-se citar: a sua sensibilidade aos fatores
climáticos, como o vento, não possui uma distribuição de água uniforme, a mangueira
possui um prazo curto de vida, há uma variação na velocidade de deslocamento, grande
impacto da gota sob as plantas e consumo de bastante energia.

3.2 SISTEMA PIVÔ CENTRAL


Este sistema é sustentado por uma torre em formato em A com rodas acopladas
ligadas a uma linha lateral propelida distanciadas do solo por alguns metros, com
capacidade de movimentar-se radialmente, com alinhamento das torres, a água chega
no ponto pivô, com capacidade de irrigar grandes áreas (FRIZZONE, 2018).

• Pivô central fixo: irriga uma determinada área, mas não pode ser deslocado.
• Pivô central rebocável: irriga a área, mas apresenta capacidade de ser deslocado,
com o auxílio de tratores, reduzindo custos para o produtor.

3.2.1 Montagem do sistema de irrigação mecanizada- pivô


central.
Este sistema fundamenta-se, principalmente, em: torre central, caixa de
controle, anel coletor, contator, emissores, tubulação de distribuição, torres móveis,
reguladores de pressão e conjunto motorredutor.

• Torre central: a estrutura do sistema é ancorada na torre central, possui base


quadrada, assemelha-se a uma pirâmide, pode ser fixa ou móvel. O material e sua
fixação no local de irrigação devem ser adequados em virtude de grande pressão
exercida pelo bombeamento de água na tubulação. Tal preocupação também deve
ser pensada no caso de pivô central rebocável.

69
• Caixa de controle: toda a automatização do sistema encontra-se na caixa de
controle, alocada na torre central, e, por isso, é revestida por material resistente as
variações climáticas existentes. Todas as funções podem ser controladas por este
sistema.
• Anel coletor: cabo de transferência de energia para as torres móveis.
• Contator: relacionado ao desalinhamento do anel coletor, quando há problemas
com o desvio de energia, o contator, percebe o contato elétrico, acionando a torre
para que desligue.
• Emissores: devem possuir uma grande eficiência (pouca pressão) para realizar
aplicação em uma determinada área.
• Tubulação de distribuição: local onde os aspersores estão inseridos, com medidas
que variam de diâmetro de 200 a 250 mm.
• Torre móvel: distribuídas na linha lateral, distanciadas entre 25 e 70 m.
• Reguladores de pressão: como os emissores, devem trabalhar com pressões
baixas, quanto maior a pressão, maior a vazão, sendo assim, dentro do sistema existe
uma variação de vazão. Isto não é interessante ao sistema, por isso a importância dos
reguladores de pressão para satisfazer a vazão dos emissores.
• Conjunto motorredutor: a movimentação das torres ocorre por acionamento
elétrico.

3.2.2 Vantagens e desvantagens do sistema


O sistema mecanizado pivô central apresenta como vantagens: a automatização
(por meio do controlador existente na torre), permite o acionamento e desligamento
do sistema remotamente, possui capacidade de aplicar lâminas constantes e de alta
frequência, uniformidade de aplicação de água, fácil de instalar e manusear, sendo de
baixo custo.

Dentre as limitações deste sistema, pode-se citar: taxa de aplicação de água


maior nos últimos emissores do que próximo do pivô, em razão da maior vazão, para
sua instalação é necessária área livre, é afetado pelas condições climáticas (vento),
há uma perda de área de aplicação e demonstra ser um sistema econômico quando
implementado em grandes áreas.

3.3 DESLOCAMENTO LINEAR


Este sistema é similar ao sistema de pivô central, diferenciando a forma de
deslocamento da linha lateral. O sistema apresenta torres que se deslocam na mesma
velocidade, a lâmina aplicada dá-se em consequência de velocidade do sistema,
diferente do pivô central, cuja torre mais longe do centro tem uma velocidade maior e
os emissores próximos do centro possuem uma vazão menor, e o fornecimento de água
dá-se por mangueiras flexíveis conectadas a canais ou tubulações.

70
Este sistema é indicado para áreas planas e retangulares, torna-se imprescindível
o alinhamento por sulco a fim de orientar as rodas do trator, há um deslocamento do
sistema para frente e para trás e a bomba de funcionamento acionada por motor a
combustão.

4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
O sistema de irrigação por aspersão convencional adequa-se a uma extensa
gama de culturas; este sistema é recomendado para pomares, pastagem, hortaliças e
muitos outros.

O sistema de irrigação por aspersão mecanizada autopropelido apresenta boa


flexibilidade, capacidade de irrigar áreas de diferentes dimensões, e se adequa a uma
extensa gama de culturas, este sistema é recomendado para culturas anuais como o
feijão, milho, soja, cana-de-açúcar etc., em pomares e cafezais e em pastagens.

Em relação ao sistema de irrigação por aspersão mecanizada autopropelido,


tem-se sucesso quando utilizado nas culturas da soja, milho, algodão, trigo, feijão, café,
entre outros.

Para o sistema de irrigação por aspersão mecanizada deslocamento linear,


recomenda-se sua utilização para culturas anuais e/ou rentáveis.

71
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O método de irrigação por aspersão é caracterizado pela saída de água em forma


de jato, simulando a chuva, por meio de um aspersor, formando uma quantidade
expressiva de diminutas gotas de água auxiliando no processo de irrigação das
culturas agrícolas.

• As vantagens do sistema de irrigação por aspersão englobam a não necessidade de


sistematização do terreno, controle da lâmina de irrigação a ser aplicada, economia
de água, mão de obra, capacidade de fertirrigação e uso de defensivos agrícolas.

• A divisão do sistema de irrigação por aspersão em convencional (portátil, semiportátil


e fixo) e mecanizada (autopropelido, pivô central e deslocamento linear).

• O sistema de irrigação convencional portátil caracteriza-se pelos elementos


que compõem este sistema serem movimentados manualmente; o sistema de
irrigação convencional semiportátil, pela movimentação manual das linhas laterais
e dos aspersores; o sistema convencional fixo, pelo molhamento da área sem a
movimentação de sua estrutura.

• O sistema de irrigação mecanizada autopropelido caracteriza-se por apresentar um


aspersor denominado de canhão assegurado por um veículo com rodas; o sistema
de irrigação mecanizada pivô central, pela distribuição de água radialmente; por fim,
o deslocamento linear, pelo deslocamento das torres na mesma velocidade e, neste
caso, a lâmina aplicada dá-se em virtude da velocidade do sistema.

• As principais características de cada um dos componentes de formação do sistema


de irrigação por aspersão são: conjunto motobomba, tubulações, acessórios e
aspersores.

72
AUTOATIVIDADE
1 O sistema de irrigação por aspersão é caracterizado pela saída de água em forma de
jato, por meio de uma estrutura denominada aspersor, formando uma quantidade
expressiva de diminutas gotas de água. Com base neste método, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) A irrigação por aspersão é uma derivação do método localizada.


b) ( ) A irrigação por aspersão é apenas utilizada para as grandes commodities
agrícolas.
c) ( ) A irrigação por aspersão é um método que engloba os sistemas convencional e
mecanizado.
d) ( ) A irrigação por aspersão é recente no Brasil, sendo muito difícil encontrar esta
forma de irrigação nos campos de produção.

2 O panorama da irrigação no Brasil evidencia que o método de irrigação por aspersão


é o mais utilizado seguido pelo pivô-central. Só no Estado de São Paulo, 53% da área
irrigada é com aspersão convencional, seguido por 25,3% com pivô-central. Com
base neste método, analise as afirmativas a seguir:

I- A escolha correta do aspersor depende do seu custo, qualidade, raio de alcance do


jato d’água, número e ângulo de inclinação dos bocais e a dimensão da área a ser
irrigada, sendo o raio de alcance do jato d’água o aspecto mais importante.
II- No sistema autopropelido a mangueira deve apresentar resistência à pressão e à
abrasão, flexibilidade e capacidade de ser enrolada e desenrolada.
III- As vantagens do sistema de aspersão convencional englobam o acionamento e
desligamento do sistema remotamente, possui capacidade de aplicar lâminas de
água constantes e de alta frequência além de uniformidade de aplicação de água.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 O método de irrigação por aspersão possui inúmeras vantagens, compreendendo


a economia de mão de obra, economia de água e controle da quantidade de água
aplicada sob o solo. Isso se deve, principalmente, às características deste método.
De acordo com sistema de irrigação por aspersão mecanizada, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

73
( ) O sistema de pivô central é dividido em pivô central fixo, quando irriga área específica
e pivô central rebocável quando instituído de capacidade de deslocamento.
( ) O carretel enrolador não é formado pelo conjunto motriz e carretel com mangueira
de polietileno.
( ) O sistema de deslocamento é indicado para áreas planas e retangulares.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 Basicamente, a irrigação por aspersão, dentre os sistemas existentes, é o que melhor


simula a chuva. No entanto, para que este método funcione em perfeita harmonia,
faz-se necessário o ajuste de seus mecanismos de funcionamento. Sabendo-se
disso, disserte sobre os mecanismos necessários para o pleno funcionamento de um
sistema de irrigação por aspersão.

5 O conceito de vazão na irrigação é bem simples, compreende na quantidade de água


que passa em um determinado orifício, levando-se em consideração o tempo de
passagem. Esta informação é essencial, pois nos fornece a vazão de trabalho dos
emissores. Calcule a vazão média de um aspersor de com bocais de 5,0 mm x 4,6
mm, operando em uma pressão de serviço de 45 mca, forneceu o seguinte teste de
vazão:

FONTE: Marouelli, Silva e Silva (2017, p. 50).

74
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE

1 INTRODUÇÃO
A irrigação por superfície, ou por gravidade, é um dos sistemas de irrigação mais
antigos da humanidade. Basicamente, a água escorre e cobre solo de forma permanente
ou temporária, usando a gravidade, para que a água seja infiltrada durante seu
escoamento (TESTEZLAF, 2017). Para isso, é preciso projetar e manejar corretamente a
área, visto que, se mal manejados, processos erosivos podem ocorrer trazendo prejuízos
ao produtor (LEVIEN, 2003).

A área deve ser nivelada com um declive de 0% a 0,8% para possibilitar a


condução da água. O solo deve ter uma velocidade de infiltração inferior a 25 mm h-1.
Por causa de baixa eficiência de irrigação a quantidade de água utilizada no sistema é
elevada (RODRIGUES et al., 2019).

Por vezes, possui baixa eficiência por ter inadequações no projeto hidráulico
do sistema e no seu manejo. É muito comum o produtor não respeitar as orientações
técnicas e, dessa forma, cometer erros na aplicação da lâmina de água (COSTA; SOUZA,
2006).

Os campos, normalmente, não possuem um nivelamento do terreno, o que leva


parte na área passar por estresse hídrico, e parte com excesso de água (SHARMA et
al., 2009). A avaliação do sistema de irrigação tem o objetivo de determinar a eficiência
da irrigação e se ela está sendo efetiva, tendo informações que permitem melhorar ou
corrigir o sistema, sobretudo visando a produção e a parte econômica (LIMA FILHO,
2015). É o principal método adotado pelos produtores rurais da Índia (SHARMA et al.,
2009). E dentre as maiores limitações da irrigação por superfície no continente asiático,
são os altos custos de infraestrutura (PANDEY, 2019).

Para a instalação deste método é necessário um planejamento eficiente de


drenagem, principalmente, por causa de chuvas ou por futuros possíveis erros de
aplicação da lâmina de irrigação. Outro planejamento essencial é o desvio hídrico
de algum rio que deverá ser feito para realizar a irrigação, que pode gerar impactos
negativos no fluxo do afluente que será utilizado, devendo, assim, ter um adequado
planejamento mantendo equilíbrio econômico e ambiental (RAI; SINGH, 2017).

75
ATENÇÃO
A irrigação por superfície tem sido utilizada em diferentes conformidades,
sendo classificada em irrigação por sulcos, faixas e por inundação.

2 SULCOS
A irrigação de superfície, utilizando sulcos, pode ser de forma parcial ou
temporária, em que a água é conduzida por meio de canais ou sulcos, dispostos
paralelamente à linha de plantio da cultura (FRIZZONE, 2017). Existem diferentes
configurações para a irrigação de sulcos: retilíneo com gradiente, em nível, em contorno,
corrugações, ziguezague e em dentes.

A água passa a infiltrar no solo de acordo com sua movimentação, e depende


do tempo em que ficará no sistema. No Brasil, esse tipo de irrigação, por exemplo, é
utilizado na cultura do tomate, sobretudo no tomate de mesa na região nordeste, por
ser um método com custo baixo. Porém é pouco utilizado no país em razão de alta
permeabilidade dos solos. O sistema também possui baixa eficiência de irrigação (<
50%), requerendo uma grande quantidade de água e planejamento (MAROUELLI; SILVA;
SILVA, 2012).

Solos arenosos que possuem elevadas taxas de infiltração e com declividade


acima de 2% não são recomendados para que seja implementado irrigação por sulcos.

Locais semiáridos, deve-se ser criteriosa a escolha desse tipo de irrigação, por
ser frequente a presença de solos rasos, com baixa capacidade de infiltração e alta taxa
de elevação (ZONTA et al., 2016). Quanto às culturas, a maioria delas permite esse tipo
de irrigação, sobretudo aquelas cultivadas de forma retilíneas como as olerícolas, milho,
batata, frutíferas, algodão etc. (FRIZZONE, 2017).

Scaloppi (2003) dispôs de certas vantagens que faz que a irrigação por sulco se
sobressaia das demais.

• no processo de implementação do sistema, a mão de obra necessária é baixa;


• possui um baixo custo anual (quando comparado a outros sistemas pressurizados);
• não necessita de bombas para condução da água, permitindo seu uso em áreas com
restrição de energia;
• pode ser adequado a diversas culturas.

76
Segundo Testezlaf (2017), os pontos negativos a serem apontados são:

• ocorre perdas de água decorrente do escoamento superficial dos sulcos abertos no


final que não são reaproveitadas;
• possui elevado potencial de erosão;
• o tráfego de máquinas é limitado;
• a instalação inicial é elevada pela preparação dos sulcos;
• em regiões propicias pode ocorrer acúmulo de sais entre os sulcos.

Estudos que relacionem o cultivo de milho em áreas irrigadas por sulcos,


podem contribuir para a adequada introdução dessa cultura na rotação com o arroz
irrigado nas áreas de várzea. Chaiben Neto (2019), em trabalho desenvolvido na safra
de milho 2017/2018, em áreas de arroz irrigado, observou que o número de grãos por
espiga e índice de colheita apresentaram diferença significativa para as lâminas de
irrigação, quando comparadas ao não irrigado. Para Gollo (2016), o uso da semeadura
em camalhões apresenta um melhor rendimento para a cultura do milho, quando
comparada com o cultivo convencional praticado nessas áreas.

3 IRRIGAÇÃO POR FAIXAS


Na irrigação por faixas, o terreno é dividido em partes retangulares e estreitas,
denominadas faixas (canteiros ou tabuleiros), separados por camalhões. Essas camalhões
são desenvolvidas de forma perpendicular ao nível do terreno, preferencialmente em
curvas de nível, tendo tamanho suficiente para contenção da água (LEVIEN, 2003).

A construção das faixas pode ser realizada em nível ou em gradiente, com


declividade ou sem, com o único intuito de fornecer uma distribuição de água mais
uniforme. As denominadas faixas são divididas por estruturas denominadas diques
(COSTA; SOUZA, 2006).

A inundação por faixa baseia-se na condução de água pela superfície por


tempo necessário e ideal para suprir as necessidades da cultura. As faixas podem
estar dispostas de forma longitudinal ou em nível, que são delimitadas pelos diques.
A declividade transversal tem que ser nula (SENAR, 2019). Longitudinalmente, deve
haver uma declividade, inferior a 1%, para direcionar o fluxo de água. A água é colocada
no sistema individualmente em cada faixa. Esse tipo de irrigação é mais indicado para
culturas com elevado grau de cobertura do solo como alfafa, pastagem ou pomares.
Esse sistema é eficiente em solos com média e baixa infiltração e de textura média. A
velocidade da água depende da vazão, do comprimento e largura da faixa, declividade
do terreno e ao movimento sob a cobertura vegetal presente (TESTEZLAF, 2017).

77
4 IRRIGAÇÃO POR INUNDAÇÃO
A inundação é uma prática de irrigação que dispõe de água alocada em um
terreno dividido em compartimentos, preferível que o terreno seja nivelado, chamado de
tabuleiros ou quadros de diversos tamanhos limitados por diques ou taipas (TESTEZLAF,
2017). As taipas, normalmente, são construídas em níveis, permitindo dessa forma
uniformidade na altura da lâmina de irrigação. Os tabuleiros podem ter de 1 a 40 hectares,
quando o solo é plano. As taipas podem ter de 1 a 1,5 m de base e de 0,3 a 0,6 m de altura
(ZAMBERLAN et al., 2014; GOMES, 2004).

Essa inundação pode ser feita de maneira temporária ou contínua. A água


acumula-se na superfície e infiltra no solo (TESTEZLAF, 2017). Esse método de irrigação
é indicado para solos que possuem capacidade restrita de infiltração. Esse método não
é recomendado para culturas que sejam sensíveis a solos saturados. Pode haver dois
tipos de irrigação por inundação: contínua e temporária (SENAR, 2019).

Esse sistema é muito utilizado na cultura de arroz. Tradicionalmente, os países


asiáticos realizam o cultivo de arroz por inundação. No Brasil a maior concentração
de arroz irrigado por inundação é nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina
e Tocantins (SOUSA; NASCENTE; DE FILIPPI, 2019). Nos últimos anos a irrigação por
inundação vem sendo muito criticada pela grande quantidade de água utilizada,
sendo necessário, pelo profissional responsável, ter intenso monitoramento na lâmina
de irrigação e cuidados com a perda de água e, consequentemente, com nutrientes
(ZAMBERLAN et al., 2014). Além disso, esse tipo de cultivo de arroz contribui para
emissão de gases de efeito estufa (SILVA, 2020).

As vantagens desse sistema são a reduzida utilização de mão de obra, pouca


perda de água por escoamento superficial e o manejo é facilitado; se bem conduzido, o
sistema é muito eficiente, controla plantas daninhas, possibilita utilizar irrigação em solo
com insuficiência de infiltração. Solos salinos podem ser corrigidos com uso da irrigação
por inundação (SENAR, 2019).

As limitações apresentadas por esse sistema são que ele está essencialmente
ligado ao tipo de cultura, somado a isso, a área fica limitada ao tráfego de máquinas,
principalmente, quando os tabuleiros possuem pequenas dimensões; há uma
considerável incidência de insetos pela presença da água. Solos que possuem alta taxa
de infiltração não são recomendados para se utilizar inundação (TESTEZLAF, 2017).

4.1 IRRIGAÇÃO CONTÍNUA


Este tipo de irrigação é utilizado, principalmente, para o cultivo do arroz. Ela
consiste no mantimento da lâmina d’água com uma vazão pequena, porém continua.

78
Os locais onde a água fica alocada neste sistema são chamados de tabuleiros;
mesmo a água alcançando o nível de irrigação desejado, continua-se a sua aplicação;
o excesso é removido pelos denominados vertedores e, quando necessário, se utiliza
este excesso para abastecimento dos demais tabuleiros existentes em uma área,
funcionando de maneira efetiva para melhoria do sistema de irrigação (LEVIEN, 2003).

Solos muito argilosos, com reduzida velocidade de infiltração, cujo lençol freático
esteja adjunto ao nível, são os mais desejados para a implementação da irrigação
contínua, pois, em situação diferente, há uma grande desvantagem, a infiltração da
água e menor eficiência do sistema de irrigação. É utilizada em áreas onde há grande
disponibilidade de água, e, nas quais, o arroz é cultivado em áreas de desnível, também
chamado de cultivo em terras altas (MEZZOMO, 2009).

4.2 IRRIGAÇÃO TEMPORÁRIA


Na irrigação temporária ou também chamada de intermitente, a lâmina de água
fica acumulada até ser drenada ou infiltrada no solo. A água deve cobrir o tabuleiro
de forma rápida sendo a água interrompida quando a lâmina necessária é atingida
(FRIZZONE, 2017).

A irrigação temporária, por sua vez, possui uma economia de 22 a 75% do volume
aplicado sob o sistema.

A irrigação temporária pode ocasionar uma maior incidência de plantas invasoras,


pois não existem barreiras que impeçam o seu surgimento, e estas, competem com a
cultura cultivada, competindo por espaço, água, luz, nutrientes, resultante em menores
produtividades. Por isso, é altamente recomendado, neste sistema, a utilização de
herbicidas com características residuais.

É encontrado na literatura os benefícios da utilização da irrigação temporária,


sendo capaz, por exemplo, de propiciar ganhos produtivos na produção de arroz, como
também proporcionar economia de uso da água e com isso maior eficiência quanto sua
utilização (MEZZOMO, 2009).

5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
A irrigação por superfície aproveita a chuva natural para alagar os campos de
produção. Não existe um método de irrigação melhor que o outro, para seleção de um
método mais adequado a uma produção agrícola, é necessário atentar-se às condições
do local como topografia, cultura cultivada e relevo.

79
A irrigação por superfície vem sendo utilizada mais comumente no Brasil, em
especial, nas culturas da cana-de-açúcar, arroz, milho, cebola, sendo culturas que
respondem bem a solos que são encharcados. Em contrapartida, a cultura do tomate,
uva, maçã e pera não respondem bem ao método superfície, pois não toleram solos
encharcados, sendo este ambiente susceptível ao surgimento de patógenos diminuindo
o seu valor comercial.

A irrigação por inundação é recomendada para as culturas do milho, várias


frutíferas, cebola e pastagens, por exemplo. A irrigação por sulco é recomendada a
vários tipos de cultura, principalmente, àqueles cultivadas em fileiras, dentre elas, feijão,
algodão, trigo, milho e batata. A irrigação por faixas é recomendada especialmente
para as culturas como alfafa e pastagem.

80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Para o sucesso do sistema de irrigação por superfície, é necessário que haja um


bom planejamento e manejamento da área, a fim de evitar futuros problemas como
erosão, trazendo prejuízos ao produtor. Por isso, a importância do projeto hidráulico,
do sistema e do manejo. Produtores que não respeitam as necessidades para a
instauração deste sistema acabam aplicando quantidades de lâmina d’água superiores
às requeridas por este sistema; por isso, a avaliação de inserção deste método por
profissional competente torna-se imprescindível para melhorar o desempenho do
sistema e corrigir eventuais problemas.

• A irrigação por superfície é classificada em irrigação por sulcos e por inundação. A


irrigação por sulco consiste na condução da água em canais ou sulcos, podendo
ser em diferentes configurações. Já a irrigação por faixas, o terreno é divido em
faixas, separadas por camalhões, de maneira que a água fique contida no espaço
determinado. Na irrigação por inundação, a água fica concentrada em compartimentos
do terreno limitada por diques. Esta inundação pode ser temporária ou contínua. A
contínua consiste na manutenção da lâmina de água em uma pequena vazão, já na
temporária, a água fica acumulada até o ponto de drenagem no solo.

• A aplicação de cada um dos métodos dá-se conforme as suas características e


necessidades. Como exemplo, pode-se citar que o sistema de irrigação por sulco
é pouco utilizado no Brasil, em razão de alta permeabilidade do solo. Já na Índia,
o método de irrigação por superfície é o principal, embora necessite de um custo
elevado de instalação. Portanto, este método enquadra-se em um dos menos
utilizados em nosso país, pois, possui baixa eficiência de aplicação, consequência do
não atendimento a dimensão e declividade do terreno necessárias ao emprego deste
método e tempo de aplicação de água excessivo, tornando-se grandes gargalos para
seu emprego.

81
AUTOATIVIDADE
1 O método de irrigação por superfície é conhecido desde a antiguidade, consiste
no cobrimento do solo por água de forma contínua ou temporária, apoiando-se na
gravidade e nas propriedades do solo para o funcionamento do método. Por isso,
são necessários um declive e uma velocidade de infiltração mínimos. Sobre o declive
necessário e a velocidade de infiltração, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) 0 a 2% e 23 mm h-1.
b) ( ) 0 a 0,08% e 24 mm h-1.
c) ( ) 1 a 0,08 e 24 mm h-1.
d) ( ) 0 a 0,07 a 24 mm h-1.

2 A irrigação por superfície consiste no cobrimento do solo de forma temporária ou


permanente. No entanto, para a instalação deste método, torna-se imprescindível
atentar-se à eficiência da drenagem e aos erros de aplicação da lâmina de irrigação.
Com base no conhecimento adquirido sobre irrigação por subsuperfície, analise as
afirmativas a seguir:

I- A irrigação por inundação é muito utilizada no cultivo de arroz.


II- A irrigação por faixas é indicada para culturas com elevado grau de cobertura do solo
como alfafa, pastagem e pomares.
III- No Brasil, a irrigação por sulco é muito utilizada em grandes culturas na região
nordeste, por ser um método de baixo custo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 O manejo correto da área associado a um bom planejamento de qual sistema de


irrigação deve ser implementado evita diversos problemas. Por isso, a avaliação de
inserção do método por profissional competente torna-se imprescindível. Em relação
à montagem do sistema de irrigação por superfície, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A irrigação por sulco apresenta como vantagens: a menor necessidade de mão de


obra, baixa perda por escoamento, manejo facilitado, eficiente e bom controle de
plantas daninhas.
( ) A irrigação contínua refere-se ao sistema o qual a lâmina de água fica acumulada
até ser drenada ou infiltrada no solo.

82
( ) A irrigação por inundação é indicada para solos que possuam capacidade restrita de
infiltração.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A irrigação por superfície utilizando-se sulcos é uma forma em que a água é conduzida
por canais e arranjada, paralelamente, à linha de plantio. Um dos principais benefícios
deste sistema está em menor necessidade de mão de obra, baixo custo ao ano, além
de adequar-se às diversas culturas. Sabendo-se disso, disserte sobre a configuração
deste sistema, bem como, abordando suas desvantagens.

5 O sistema de irrigação por superfície deve ser instaurado baseado em projeto, por
isso, o produtor deve seguir as orientações passadas pelo profissional capacitado
que conseguirá determinar o método mais adequado a sua necessidade. Para isso,
diferencie irrigação temporária de irrigação contínua.

83
84
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
SELEÇÃO DO MÉTODO DE IRRIGAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A irrigação é uma grande vantagem. Isso ocorre, porque possibilita uma produção
sem dependência do regime pluviométrico, proporciona maiores produtividades, permite
a produção em diferentes épocas, possibilita colheita programada conforme a demanda
de mercado e melhores preços, permite a realização de mais de uma safra da cultura, e
possibilita o desenvolvimento econômico social.

IMPORTANTE
Para se selecionar o método de irrigação mais adequado, algumas
características devem ser consideradas. São elas: solo (topografia,
características físicas do solo, salinidade), condições climáticas (velocidade
dos ventos, umidade, regime pluviométrico, variações climáticas), recurso
hídrico disponível (analisar a qualidade, custo da água e distância
da fonte a área a ser irrigada), cultura agrícola (cada cultura possui
sua exigência hídrica) e questões sociais e econômicas (mão de obra,
tecnologia disponível, demanda de mercado, capacidade de produção,
armazenamento e escoamento, entre outros).

Para se selecionar o método de irrigação mais apropriado para área que se


deseja irrigar, é necessário atentar-se para alguns fatores.

• Topografi a do terreno: quando o terreno é plano/retangular, qualquer método


empregado trará sucesso. Atenção especial deverá ser dada ao declive, pois este
limita o tipo de irrigação, em áreas irregulares; recomenda-se escolher entre o método
de irrigação localizada ou aspersão, por serem mais amoldáveis a esta condição.
• Mudança de característica do terreno: a mudança na característica do terreno
causada por erosões, voçorocas, construção de estrada, dificuldade de escoamento
superficial, são suportadas pelas irrigações por aspersão convencional e localizada.
Já para a irrigação mecanizada, mudanças nas características do terreno implicam
na ineficiência deste método.
• Tipo de solo: para solos que possuem grande capacidade de água disponível,
recomenda-se a irrigação por superfície, pois consiste na aplicação de grandes
proporções de água e em menor frequência. Dinâmica oposta é observada para solos
que possuem pequena capacidade de água disponível, necessitando de menores
proporções de água mas com alta frequência de aplicação. Por isso, recomenda-se
os métodos de irrigação por aspersão e localizada. Solos com conteúdo de obstrução
operam com pequena capacidade de água disponível, sendo inviáveis a utilização

85
de irrigação por superfície (sulcos). A textura do solo deve ser considerada, pois
afeta a disponibilidade de água. Solos arenosos ou muito argilosos possibilitam a
utilização do sistema de irrigação por aspersão convencional e localizada, desde que
apliquem água com menor frequência. Neste mesmo tipo de solo, perdas de água são
observadas quando utilizado o sistema de irrigação por superfície. Recomenda-se a
utilização de irrigação por inundação em solos muito argilosos. Solos que apresentam
textura média adequam-se a todos os métodos de irrigação. A textura de um solo
ideal é aquela que possui maior estrutura granular, apresentando, desta forma, maior
capacidade de armazenamento. A utilização do sistema de irrigação por superfície
torna-se inviável em solos desestruturados e com quantidade expressiva de areia. A
capacidade de infiltração de água é variável, conforme o método de irrigação: para a
irrigação por sulco, considera-se a vazão e declividade do terreno; já para a irrigação
por aspersão, considera-se para a determinação da faixa de aplicação de água ideal
o tamanho, capacidade e espaçamento entre os emissores. Sendo assim, para áreas
com baixa velocidade de infiltração, recomenda-se a irrigação por superfície; em
áreas declivosas e com baixa velocidade de infiltração, recomenda-se a irrigação por
aspersão convencional e microaspersão. A utilização de sistema mecanizado não é
recomendada em solos com menor velocidade de infiltração. No entanto, solos muito
arenosos implicam na implantação de sistemas de irrigação, devendo-se optar pelos
métodos de irrigação por aspersão ou localizada. Como regra, adota-se:
º solos com capacidade de infiltração inferior a 10 mm/h, recomenda-se a irrigação
por superfície;
º solos com capacidade de infiltração superior a 30 mm/h, recomenda-se a irrigação
localizada ou aspersão.

Quanto à aeração do solo, a quantidade de água aplicada deve ser compatível


a velocidade de infiltração. Solos localizados na mesma área, mas com propriedades
diferentes, recomenda-se a irrigação por aspersão e localizada, inviabilizando a
utilização de irrigação por superfície. Quando a diferença nas propriedades do solo não
é tão acentuada, a irrigação localizada e por aspersão atende à demanda da área. Nesta
situação, os métodos mecanizados não são adaptáveis. Quanto aos solos salinos, deve-
se evitar irrigação por sulcos, enquanto a irrigação por faixa demonstra surtir maior
efeito, pois possui a capacidade de lixiviar os sais, da mesma forma, os sistemas de
irrigação localizada, aspersão, pivô central e deslocamento linear, demonstram serem
bem-sucedidos quando utilizados em solos salinos.

• Cultura agrícola: as características agronômicas das culturas devem ser


consideradas, no que tange o desenvolvimento do sistema radicular, crescimento
vegetativo, valor de mercado e exigências quanto ao uso d’água. Para culturas
cultivadas em linhas, recomenda-se o sistema de irrigação por sulco, aspersão e
gotejamento. Para culturas semeadas a lanço, recomenda-se o sistema de irrigação
por faixa. Para frutíferas, recomenda-se a irrigação por aspersão, podendo ser utilizada,
a irrigação localizada. O desenvolvimento radicular dita a forma de aproveitamento de
volume de solo pelo vegetal com maior ou menor captação de água, plantas com

86
profundo sistema radicular necessitam de menos irrigação quando comparada a
culturas superficiais. Sendo assim, para plantas com sistema radicular profundo,
recomenda-se irrigação por superfície e plantas com sistema radicular superficial
recomenda-se a irrigação por aspersão e localizada. Culturas com expressivo
desenvolvimento vegetativo, necessitam de um método de irrigação capaz de aplicar
a água acima da vegetação. Por este motivo, sistemas portáteis dificultam esta
forma de irrigação, sendo mais apropriado o sistema de pivô central e deslocamento
linear. Apenas a irrigação por aspersão demonstra ser um gargalo na irrigação de
grandes culturas. As exigências quanto ao uso d’água variam de cultura para cultura,
plantas que necessitam de irrigação no estádio inicial, recomenda-se a irrigação por
aspersão, no entanto, este sistema é limitante quando utilizado em culturas sensíveis
ao molhamento próximo a fase de colheita. Exigências da cultura também devem
ser relevadas, pois, métodos de irrigação que proporcionam um grande molhamento
também podem acarretar o surgimento de doenças fitossanitárias, por isso atenção
deve ser dada ao uso de irrigação por aspersão, sendo preferível para culturas mais
sensíveis (algumas hortaliças e fruteiras), o sistema de irrigação por superfície e
gotejamento.
• Condições climáticas: o vento é uma das condições que mais interfere na irrigação,
principalmente, quando se trata da irrigação por aspersão podendo atuar diretamente
na eficiência deste método. A uniformidade de distribuição de água é menos
comprometida no sistema de irrigação mecanizada com o uso de autopropelido.
Dentre os sistemas que menos são influenciáveis pelo vento, destacam-se o pivô
central e o deslocamento linear, como também, sistemas de irrigação por superfície,
subterrânea e gotejamento. As condições de temperatura e umidade também são
importantes, em sistema de irrigação com altas temperaturas e baixa umidade relativa
do ar, deve-se tomar cuidado com o uso de aspersores. Nestas mesmas condições,
há grande transpiração dos vegetais e evaporação de água do solo, necessitando de
maiores aplicações de lâminas d’água. No sistema de irrigação por sulco e faixas essas
perdas de água são baixas e imperceptíveis em sistema de gotejamento, no entanto,
em irrigação por inundação e microaspersão são consideráveis. O investimento em
irrigação acompanha a escala de necessidade do local, quando as chuvas são bem
distribuídas e atendem a necessidade da produção, menor é o investimento neste
setor, optando-se por irrigação por superfície e aspersão, já em regiões áridas e
semiáridas, torna-se imprescindível produzir com a utilização de algum sistema de
irrigação. A irrigação pode ser uma aliada proteção das plantas contra a geada.
• Origem da água de irrigação: deve-se atentar à disponibilidade de água da região
associada a sua vazão e volume, devendo esta ser igual ou superior à necessidade
hídrica requerida pela cultura, considerando-se a eficácia do método de irrigação,
sendo preferível o sistema de irrigação por aspersão e localizada. A distribuição da
água deve ser feita respeitando-se a declividade do terreno, sendo preferível aquela
que respeita à gravidade. Água que contenha muitos materiais sólidos pode causar
entupimento dos emissores, e, com isso, prejudicar a irrigação. O método de irrigação
localizada é o mais sensível, já os métodos por aspersão e superfície são os menos
sensíveis. Quanto ao custo da água superficial, sua obtenção é fácil e de baixo custo,

87
enquanto a obtenção de água subterrânea é mais elevada e necessita de maiores
investimentos desde captação, distribuição e pessoas capacitadas em extraí-las da
fonte.
• Aspectos gerais: para a implementação de um dado sistema de irrigação, deve-se
atentar para os fatores sociais que incluem conceitos, pensamentos, capacidade de
se abrir ao novo por parte dos produtores, que por muitas vezes, limitam a introdução
de novas tecnologias que melhorariam a sua produção. Produtores que percebem
que as novas tecnologias vêm para acrescentar e melhorar, tendem a obter maiores
e melhores índices produtivos. Para produtores menos tecnificados, tem-se relatado
a utilização de irrigação por superfície e aspersão, em contrapartida, a irrigação
localizada e mecanizada ainda constituem um sistema de maior dificuldade de inserção
para o produtor. Quanto ao aspecto econômico, percebe-se que só há investimento
neste setor quando há um preço de mercado favorável da cultura, que justifique o
investimento ou a extrema necessidade de sua instauração. Portanto, culturas com
alto valor de mercado, tendem a serem produzidas com maiores investimentos nos
métodos de irrigação.

2 ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE IRRIGAÇÃO


Para elaborar um projeto de irrigação, independentemente do método, há
algumas recomendações.

• Dimensionar a área a ser irrigada (ha).


• Cultura a ser cultivada, considerando-se o espaçamento necessário à cultura e à
forma de cultivo.
• Fazer uma caracterização do tipo de solo do local, considerando-se: textura (argilosa,
arenosa ou franco-arenosa), granulometria (proporções de areia, silte e argila),
permeabilidade (quanto à infiltração de água).
• Caracterização do terreno quanto à sua topografia (considerando-se terreno planos,
intermediários e declivosos).
• Cálculo da precipitação (mm) com base em mensurações no local de instalação do
sistema.
• Tempo disponível para o funcionamento do sistema.
• Distância entre a fonte hídrica e a posição da bomba, para determinar a capacidade
deste em succionar a água da fonte.
• Calcular a distância com desnível do terreno, considerando-se o local de maior
altitude para o local onde está instalada a bomba.
• Fonte hídrica, entender de onde vem a água que será utilizada para a irrigação: Ex.:
origem superficial (lagos, rios etc.): vazão (q) em (L s-1 ou m3 h-1) ou origem superficial
(reservatórios): volume (V) (m³).

88
• Qual principal mecanismo de acionamento da bomba de irrigação (combustíveis,
elétrico, trator) e todas as características destes componentes, para sistemas mais
complexos, como de irrigação por aspersão, inserir todas as características da bomba
centrífuga (modelo, rotação, potência, vazão) e recalque).
• Método de irrigação que se deseja inserir na área, levando-se em consideração os
custos e tecnologia empregáveis conforme a área e a cultura a ser irrigada.
• Fazer uma planilha que contenha os dados altimétricos, quando preferível o sistema
de irrigação localizada inserir os dados da realização da curva de nível. Caso não seja
possível, fazer um croqui esboçando as características da área (dimensões, pontos
altimétricos, fonte hídrica, distância da fonte hídrica para o local de irrigação, entre
outros.).
• Informações de precipitação, evaporação do Tanque Classe A, evapotranspiração,
vento, temperatura, UR devem ser anotados.

Tomando-se por base os dados, inicia-se a elaboração do projeto.

• Cálculo da lâmina de água a ser aplicada no local: variável conforme a cultura agrícola
e o local de cultivo.
• Escolha do método mais apropriado: variável conforme a cultura agrícola, declividade
do terreno, dimensões da área de cultivo e disponibilidade hídrica.
• Cálculo do turno de rega: variável conforme a cultura agrícola, distribuição do sistema
radicular, resistência a seca e microporosidade do solo.
• Cálculo da vazão: variável conforme o tipo de equipamento, dimensão da área,
precipitação e horas trabalhadas.
• Dimensionamento das tubulações e acessórios: quando determinados conforme a
necessidade e competência, devem ser montados na área a ser irrigada.
• Conjunto motobomba: variável conforme a vazão, pressão e potência.
• Desenho do croqui: demonstrando as dimensões, bem como locais de inserção dos
componentes de irrigação como linha lateral, linha de derivação, emissores e outros
componentes do sistema.

Por último, faz-se o estudo econômico de aplicabilidade do projeto.

3 AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO


Não existe um método de irrigação perfeito que consiga atender todas as
demandas. Por isso, a escolha do sistema de irrigação baseia-se nas condições
econômicas atreladas às características de cada sistema (gotejamento, microaspersão,
convencional, mecanizada, sulco e inundação temporária/permanente), baseando-se
na sua recomendação e aplicabilidade.

Dentre os atributos relevantes nestes métodos, destacam-se a uniformidade


de aplicação, pois nem toda quantidade de água aplicada sob o solo consegue ser

89
aproveitada pelas plantas, sendo parte evaporada, outra percolada ou até mesmo
escoada. Para avaliar se o sistema está trabalhando conforme o mensurado no projeto,
é calculado coeficiente de uniformidade de distribuição da água e a eficiência de
aplicação (CUNHA et al., 2014).

As diferenças entres os coeficientes calculados devem-se à variação de fatores


que podem provocar alteração na vazão, sendo eles, o coeficiente de uniformidade
(CUC) de Christiansen (1942), o coeficiente de uniformidade estatístico (CUE) (WILCOX;
SWAILES, 1947) e o coeficiente de uniformidade de distribuição (CUD) (CRIDDLE et al.,
1956):

Cálculo do CUC (%): , em que:

• = coeficiente de uniformidade de Christiansen, em %;


• = vazão coletada em cada gotejador, em L h-1;
• = média das vazões coletadas de todos os gotejadores, em L h-1;
• = número de gotejadores analisados.

Cálculo do CUE: , em que:

• = coeficiente de uniformidade estatístico (%);


• = desvio-padrão dos valores de precipitação (L h-1);
• = média das vazões coletadas nos gotejadores na subárea (L h-1).

Cálculo do CUD: , em que:

• = coeficiente de uniformidade de distribuição (%);


• = média de 25% do total de gotejadores com as menores vazões (L h-1);
• = média das vazões coletadas nos gotejadores na subárea (L h-1).

Para o sistema de gotejamento uniforme, espera-se um CUC > 90% e um CUD


de 85-90%. Já no sistema de irrigação por aspersão, espera-se um valor de CUC > 90%;
CUD 84% e CUE de 95-100% (CUNHA et al., 2014).

4 EXEMPLOS DE PROJETOS

Os produtores procuram instalar um sistema de irrigação quando percebem
a sua necessidade, especialmente através do regime pluviométrico e necessidade
hídrica da cultura. Depender das chuvas não é tarefa simples, pois, caso não tenha
regularidade, todos o custo investido na produção pode ser perdido quando a cultura
é sensível ao déficit hídrico. Os dois princípios abordados são os pioneiros para a
construção de um projeto de irrigação. Para escrever um projeto de irrigação além da
caracterização edafoclimática e da cultura, torna-se imprescindível o estudo do solo

90
e dimensionamento dos componentes da irrigação, para posterior dimensionamento
hidráulico. Sabendo-se disso, a seguir, são dados dois exemplos simples de projetos de
irrigação por microaspersão em laranja e em alface.

Exemplo 1 – Sistema de irrigação localizada (microaspersão) em laranja

1. DADOS GERAIS
Município: Garanhuns/PE
Propriedade: Sitio Castainho
Proprietário: Francisco Almeida de Oliveira

2. SOLO
Topografia: suave ondulada Declividade: 7,7 %
Solo: apresenta textura franco-arenosa

3. CULTURA A IRRIGAR
Cultura = laranja Área = 1 ha.
Espaçamento entre plantas na linha (Sp) = 3,0 m
Espaçamento entre linhas de cultivo (SR) = 6,0 m
Espaçamento entre linhas laterais de irrigação (SL) = 6,0 m
Profundidade efetiva das raízes = 0,60 m

4. CLIMA
Evapotranspiração de referência (ETo) = 5,2 mm d. -1

5. DIMENSIONAMENTO
Uniformidade de emissão assumida para projeto (EU) = 90%
Grau de adequação da irrigação (AR) = 90%
Tipo de emissor = microaspersor fixo, com ângulo seco de 30°
Vazão do microaspersor a 15 m de carga de pressão = 31 L h-1
Diâmetro médio da área molhada pelo microaspersor = 3,0 m
Trajetória da água = 24°
Pressão de trabalho= 1,7 BAR

Exemplo 2 – Sistema de irrigação localizada (microaspersão) em alface

1. DADOS GERAIS
Município: Aquidauana/MS
Propriedade: Fazenda Alvelino Machado
Proprietário: Maria Aparecida Alvelino Machado

2. SOLO
Topografia: planície área de ecótono cerrado-pantanal
Declividade: até 20%
Solo: argissolo vermelho-distrófico

91
3. CULTURA A IRRIGAR
Cultura =alface
Área = 2 ha.
Espaçamento entre plantas na linha (Sp) = 30 cm
Espaçamento entre linhas de cultivo (SR) = 30 cm
Espaçamento entre linhas de irrigação nos canteiros (SL) = 1 m
Profundidade efetiva das raízes = 20 cm

4. CLIMA
Evapotranspiração de referência (ETo) = 2,13 mm d. -1

5. DIMENSIONAMENTO
Uniformidade de emissão assumida para projeto (EU) = 90%
Grau de adequação da irrigação (AR) = 90%
Tipo de emissor = ASPERSOR D-NET 8550
Vazão do microaspersor= 510 L h-1
Diâmetro médio da área molhada pelo microaspersor = 19 m
Trajetória da água = 24°
Pressão de trabalho= 2 a 3 BAR

ESTUDOS FUTUROS
Depois desta etapa, inicia-se a análise hidráulica, que você, acadêmico,
estudará adiante.

92
LEITURA
COMPLEMENTAR
PANORAMA DA EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA IRRIGADA NO SUDESTE DO BRASIL
ENTRE 2006 E 2017

César de Oliveira Ferreira Silva


Fernando Ferrari Putti
Rodrigo Lilla Manzione

Área irrigada no Brasil

A região Sudeste é a principal região irrigante do país, seguido pelas regiões Sul,
Nordeste, Centro-Oeste e Norte, com a maior área irrigada dos estados do Rio Grande
do Sul, Minas Gerais e São Paulo, representando, respectivamente, 20,4, 16,6 e 16,0%
da área irrigada total do país. O Gráfico 1 expõe a evolução da área irrigada ocupada por
cada método de irrigação no Brasil segundo os Censos Agropecuários de 2006 e 2017.
Observa-se que no Brasil ocorreu aumento em torno de 32% da área total irrigada entre
o Censo de 2006 e 2017.

Isso demonstra que a tecnologia e informação está cada vez mais chegando
ao campo. Além disso, a partir do levantamento, nota-se a preocupação com o uso
da água, pois uma das técnicas que mais se utiliza água é a pôr sulcos (eficiência em
torno de 50%), sendo a única que houve redução (52%). E um aumento de 376% no
uso do sistema localizada (eficiência de 95%), que é uma técnica de alta eficiência. O
método de irrigação por pivô central obteve um aumento de 60%, pois de acordo com
Albuquerque et al. (2020) o aumento está associado a expansão agrícola no cerrado e
a redução do custo para a instalação dos pivôs, e assim seu payback sendo menor e
maior retorno financeiro. Também no Censo foram levantando diversos outros métodos
de menor proporção de utilização que são considerados artesanais, todos incluídos em
“outros métodos”. Tais métodos são utilizados de forma regionais para atender alguma
demanda específica e são de maiorias de baixo custo e com eficiência baixa. Por isso,
seu uso se manteve praticamente inalterado.

93
GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA ÁREA IRRIGADA OCUPADA POR CADA MÉTODO DE IRRIGAÇÃO NO BRASIL
SEGUNDO OS CENSOS AGROPECUÁRIOS DE 2006 E 2017.

O Gráfico 2 apresenta a diferença de área irrigada total por estado entre os


levantamentos do Censo Agropecuário de 2006 e 2017.Destaca-se que nesse período o
estado de Minas Gerais teve a maior expansão no país, com 616 mil hectares irrigados a
mais de 2006 a 2017. Em São Paulo houve expansão de 321 mil hectares, Espírito Santo
155 mil hectares. Já o Rio de Janeiro teve uma retração de 32 mil hectares. Paulino
et al. (2011) destacam que no período 1995/6 – 2006 foi o estado de São Paulo que
teve a maior expansão (330milha), seguido por Minas Gerais (202milha) e Espírito Santo
(117milha).

Em geral, os estados de Goiás, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais
que apresentaram as maiores expansões em área absoluta. Os estados de SP e MG se
destacam esse aumento por estar próximo ao grande centro consumidores, os quais
destacam principalmente o cultivo de hortaliças (SCHERER et al.,2016). Também é notável
que o estado de São Paulo teve uma expansão dos pomares de citrus, devido ao avanço
do grenning, o manejo adequado de irrigação e fertirrigação proporcionam redução do
seu impacto e isso associado ao aumento da demanda, faz que se intensifique o uso da
irrigação (ERPEN et al., 2018).

GRÁFICO 2 – DIFERENÇA DE ÁREA IRRIGADA POR ESTADO SEGUNDO OS CENSOS AGROPECUÁRIOS DE


2006 E 2017

94
O estado de Minas Gerais está associado à sua consolidação como produtor
de café e ganhando destaque na produção de café especiais, em que a irrigação
se torna fundamental para reduzir os impactos do déficit hídrico e aumenta a
produtividade (GUIMARÃES; CASTRO JÚNIOR; ANDRADE, 2016). O estado de Goiás,
está se consolidando como polo produtor de grãos, desta forma o investimento em
sistema de irrigação por pivô central vem ganhando destaque, visto que a seu relevo
proporciona ter áreas maiores e assim otimizar a produção e reduzir os problemas de
déficit hídrico (PEREIRA JÚNIOR; FERREIRA; MIZIARA, 2017). No Estado de Minas Gerais,
o avanço também da instalação de sistema de irrigação por pivô central para o cultivo
do arroz teve um aumento substancial nos últimos, assim ocasionando o aumento da
área absoluta irrigada (MANKE et al.,2017).

O Gráfico 3 expõe a porcentagem de área irrigada no Brasil por cada método


de irrigação segundo o Censo Agropecuário de 2017. De toda área irrigada no Brasil
levantada pelo Censo em 2017, observa-se que ocorre uma distribuição pelo método
de irrigação assimétrica, em que os sistemas de pivô central e inundação (21%), sendo
os métodos de maior tecnificação. Enquanto os métodos de menor uso de tecnologia,
como molhação, sulcos e outros métodos (artesanais) são os de menor uso. Importante
destacar que o método de irrigação subsuperficial é uma técnica recente e ainda pouco
utilizado devido a seu custo. E também questões relacionadas a entupimento que gera
dúvidas e seu custo para resolver a problemática (BERNARDO et al., 2019). Um recorte
interessante é o do bioma Cerrado, que de acordo com Althoff e Rodrigues (2019), essa
região tem concentrado aproximadamente 80% de todos os pivôs centrais do Brasil.
Somente nessa região potencial de área irrigada chega aos 26.5 Mha.

O levantamento de 2017 mostra que a tendência apontada por Paulino et


al. (2011) de predominância da irrigação pressurizada no Brasil, em contrapartida ao
predomínio da irrigação de superfície (ou inundação) no restante do mundo, continua
sendo verificado, colocando o Brasil em destaque dentro da agricultura irrigada global.
O fato de a irrigação pressurizada ter eficiência maior que a por superfície (BERNARDO
et al., 2019) também é relevante para explicar a produtividade relevante da agricultura
no Brasil, que se aliada a melhores condições de financiamento pode tornar nosso
agronegócio mais competitivo em relação a outros países.

O Gráfico 4 expõe a porcentagem de destinação/tipo de uso da área irrigada no


Brasil por cada método de irrigação segundo o Censo Agropecuário de 2017.

Ao longo do Brasil, a área irrigada destinada à pecuária corresponde a 40%,


sendo o uso predominante no país. Em seguida há 22% destinada à produção de
lavouras temporárias, 17% para horticultura e floricultura, 16% para produção de lavouras
permanentes e como usos minoritários há irrigação para florestas plantadas e nativas e
produção de sementes, cada uma ocupando 2%da área irrigada do Brasil.

95
GRÁFICO 3 – PORCENTAGEM DE ÁREA IRRIGADA NO BRASIL POR CADA MÉTODO DE IRRIGAÇÃO SEGUN-
DO O CENSO AGROPECUÁRIO DE 2017

GRÁFICO 4 – PORCENTAGEM DE DESTINAÇÃO/TIPO DE USO DA ÁREA IRRIGADA NO BRASIL POR CADA


MÉTODO DE IRRIGAÇÃO SEGUNDO O CENSO AGROPECUÁRIO DE 2017

Área irrigada na região Sudeste

A região Sudeste, com 92,7 Mha (10,9% do território nacional), abriga 80,35
milhões de habitantes de acordo com o Censo 2010 (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010), que corresponde a 44% da população e responsável
por 55,2% do PIB brasileiro (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2010). A região Sudeste, de acordo com Christofidis (1999), tem 4,3 Mha aptos para
irrigação (sem várzea) e sua área irrigada total em 2017 foi de 2,65 Mha.
96
GRÁFICO 5 – EVOLUÇÃO DA ÁREA IRRIGADA OCUPADA POR CADA MÉTODO DE IRRIGAÇÃO NA REGIÃO
SUDESTE SEGUNDO OS CENSOS AGROPECUÁRIOS DE 2006 E 2017.

Na região Sudeste a irrigação por gotejamento é majoritária em área, com 25%


da área irrigada, seguida de forma acirrada pela irrigação por aspersão (24%) e por pivô
central (23%) (Gráfico 6).

A área irrigada na região Sudeste, segundo o Censo 2017, é destinada


majoritariamente para produção de lavouras temporárias (48%), para lavouras
permanentes (29%), horticultura e floricultura (14%) e pecuária (10%) (Gráfico 7).
Diferentemente do recorte nacional, no qual a pecuária é a maior destinação da área
irrigada (Gráfico 4), na região Sudeste há predomínio das lavouras temporárias como
destinação, sendo que o Estado de São Paulo se destaca pela rápida e forte expansão
da cana-de-açúcar.

De acordo com Rudorff et al. (2010), quase toda a mudança no uso da terra, para
a expansão da cana-de-açúcar no ano agrícola de 2008/09, ocorreu em pastagens e
terras de cultivo anual, sendo igualmente distribuídas em cada uma delas.

Também foi observado que durante a safra 2008, a área queimada de cana
de açúcar foi reduzida para 50% da área total colhida, em resposta a novos protocolos
que visavam eliminar a prática da queima da palha da cana de açúcar até 2014 para
áreas mecanizadas. Também destacamos que Paulino et al. (2011) consideram que
entre 1995/6 e 2006 a expansão da irrigação na região Sudeste foi bastante impactada
pelo aumento na aplicação de vinhaça, principalmente associada ao uso do sistema
autopropelido em áreas de cana-de-açúcar para produção de biocombustíveis.

97
GRÁFICO 6 – PORCENTAGEM DE ÁREA IRRIGADA NA REGIÃO SUDESTE POR CADA MÉTODO DE IRRIGAÇÃO
SEGUNDO O CENSO AGROPECUÁRIO DE 2017.

GRÁFICO 7 – PORCENTAGEM DE DESTINAÇÃO/TIPO DE USO DA ÁREA IRRIGADA NA REGIÃO SUDESTE


POR CADA MÉTODO DE IRRIGAÇÃO SEGUNDO O CENSO AGROPECUÁRIO DE 2017.

FONTE: Adaptada de SILVA, C. O. F.; PUTTI, F. F.; MANZIONE, R. L. Panorama da evolução da agricultura
irrigada no sudeste do Brasil entre 2006 e 2017. Irriga, Botucatu, v. 1, n. 3, p. 446-457, dezembro, 2021.
Disponível em: https://irriga.fca.unesp.br/index.php/irriga/article/view/4379/2998. Acesso em: 3 fev. 2022.

98
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Para escolher o método de irrigação mais adequado, deve atentar-se ao tipo de


solo (topografia, características físicas do solo, salinidade), condições climáticas
(velocidade dos ventos, umidade, regime pluviométrico, variações climáticas), recurso
hídrico disponível (analisar a qualidade, custo da água e distância da fonte a área a
ser irrigada), cultura agrícola (cada cultura possui sua exigência hídrica) e questões
sociais e econômicas (mão de obra, tecnologia disponível, demanda de mercado,
capacidade de produção, armazenamento e escoamento, entre outros).

• Os aspectos que interferem no aproveitamento da irrigação, por exemplo, a irrigação


por aspersão suporta características extremas do terreno, com declividade acentuada
até mesmo voçorocas, condições as quais há uma inviabilidade do sistema de
irrigação mecanizado. Entendeu-se que solos com grande capacidade de água
disponível adequa-se ao sistema de irrigação por superfície, em contrapartida, solos
que possuem pequena capacidade de água disponível, recomenda-se a utilização de
irrigação localizada.

• As características das culturas devem ser consideradas como o desenvolvimento do


sistema radicular, crescimento vegetativo, valor de mercado e exigências quanto ao
uso d’água. O excesso de vento prejudica a irrigação por aspersão devido à deriva das
gotas de chuva, proporcionando um menor molhamento. Os sistemas de pivô central
e deslocamento linear são os menos afetados pelo vento. Quanto à necessidade de
água, sua disponibilidade deve estar associada a sua vazão e volume, devendo ser
igual ou superior à necessidade hídrica requerida pela cultura.

• Produtores menos tecnificados ficam presos à utilização de irrigação por superfície


e aspersão. Quanto ao aspecto econômico, percebe-se que só há investimento
neste setor quando há um preço de mercado favorável da cultura, que justifique o
investimento ou a extrema necessidade de sua instauração.

• Para a elaboração de um projeto de irrigação é necessário dimensionar a área a ser


irrigada, realizar um estudo aprofundado das questões edafoclimáticas da região;
fazer a caracterização do solo; escolher a cultura a ser cultivar, bem como o estudo
de suas necessidades hídricas além do estudo topográfico do local.

99
AUTOATIVIDADE
1 A qualidade da água disponível na região associada a sua vazão e volume são quesitos
considerados para a eficiência de quaisquer métodos de irrigação empregado em
uma área de produção. Sobre a origem da água de irrigação, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Disponibilidade, necessidade hídrica da cultura, eficácia do método de irrigação


e distribuição respeitando a declividade do terreno, são fatores que devem ser
analisados antes de escolher um método de irrigação.
b) ( ) Disponibilidade, necessidade hídrica da cultura, eficácia do método de irrigação
e distribuição respeitando a declividade do terreno, são fatores que não devem ser
analisados antes de escolher um método de irrigação.
c) ( ) Disponibilidade, necessidade hídrica da cultura, eficácia do método de irrigação
e distribuição respeitando, são fatores que, dependendo da declividade do terreno,
devem ser analisados antes de escolher um método de irrigação.
d) ( ) Disponibilidade, necessidade hídrica da cultura, eficácia do método de irrigação
e distribuição respeitando a declividade do terreno, são fatores que os produtores ou
projetistas não devem se preocupar, afinal água é água.

2 Sabe-se que não existe um único método de irrigação que atenda às demandas de
todas as culturas existentes, no entanto, existe algo em comum acerca dos métodos
de irrigação, estes devem ser empregados com base em sua recomendação e
aplicabilidade. Com base na uniformidade da lâmina de água a ser aplicada sob o
solo, analise as afirmativas a seguir:

I- A uniformidade de aplicação é um dos parâmetros mais importantes, quando se trata


de projeto de irrigação, pois nem toda água que é aplica sob o solo consegue ser
aproveitada pelo sistema radicular das plantas.
II- Existem diferente formas de calcular os coeficientes de uniformidade CUC, CUD e
CUF.
III- No sistema de irrigação localizada por gotejamento, quanto à uniformidade, espera-
se um CUC maior que 90% e um CUD de até 90%.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

100
3 Fazer um projeto de irrigação vai muito além do dimensionamento do sistema, consiste
em diversas etapas anteriores a esta, que se caracterizam pelo estudo de diversos
fatores que contribuem para a eficiência dos métodos de irrigação existentes. Sobre o
planejamento de um projeto de irrigação, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Deve-se caracterizar o solo, escolher a cultura agrícola que será utilizada, fazer
um estudo aprofundado da topografia local e entender as necessidades hídricas da
cultura.
( ) O único problema do projeto de irrigação é sua limitação quanto ao tamanho da
área. Em áreas muito grandes (monocultoras) é inviável fazer um projeto, pois não
existe método que se aplique.
( ) É imprescindível fazer desenhos, conhecidos como croquis, das áreas a serem
irrigadas, pois fornecem um melhor posicionamento quanto às características do
local.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A irrigação é uma grande vantagem, isso ocorre, porque possibilita a produção sem
dependência do regime pluviométrico e proporciona ganhos produtivos. No entanto,
para que a inserção deste sistema seja vantajosa é necessário atentar-se para
alguns fatores. Cite ao menos dois fatores e disserte sobre estes de forma completa,
utilizando suas palavras.

5 Reginaldo, recém-formado em Agronomia, convida sua amiga Lau para com ele
desenvolver um aplicativo na área de irrigação. Lau que pensava em empreender,
vislumbrou a oportunidade de realizar um sonho, agora, no mundo digital. Antes de
dar início percebem que seria interessante pensar em alguns aspectos do aplicativo
como nome e qual conteúdo devem abordar, decidiram iniciar pelo tema “Seleção
do Método de Irrigação”. Disserte sobre o tema seleção do método de irrigação,
abordando seus aspectos, baseando-se na proposta dos amigos Reginaldo e Lau.

101
102
REFERÊNCIAS
BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, C. Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa:
UFV, 2008.

BISCARO, G. A. Sistemas de irrigação por aspersão. Dourados: UFGD, 2009.

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irrigado. Orientador: Adroaldo Dias Robaina. 2019. 57 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2019.

CHRISTIANSEN, J. E. Irrigation by sprinkling. Berkeley: California Agricultural


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COELHO, E. F. et al. Sistemas e manejo de irrigação de baixo custo para


agricultura familiar. 2. ed. Brasília: Embrapa, 2017.

COSTA, R. N. T.; SOUZA, F. D. Irrigação por superfície: gestão sustentável no baixo


Jaguaribe, Ceará. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 261-288, 2006.

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CUNHA, F. N. et al. Coeficientes de uniformidade em sistema de irrigação por


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Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/281020125_Coeficientes_
de_uniformidade_em_sistema_de_irrigacao_por_gotejamento. Acesso em: 3 fev.
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ESTEVES, B. dos S. et al. Irrigação por gotejamento. Colaboração: Dione Galvão da


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FRIZZONE, J. A. Seleção de sistemas de irrigação. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.


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103
GOLLO, E. A. Sistemas de implantação e irrigação por superfície para o cultivo
de milho em áreas de arroz irrigado. 2016. 60 f. Dissertação (Mestrado em
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GOMES, A. S. Arroz Irrigado: no sul do Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação


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HERNANDEZ, F. B. T. Definindo irrigação e onde irrigar. Blog Área de Hidráulica e


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106
UNIDADE 3 —

DRENAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o sistema planta-solo-atmosfera e sua relação com a drenagem


agrícola;

• entender os impactos do excesso de água sobre solo e as plantas;

• conhecer as equações aplicadas no dimensionamento de sistemas de drenagem;

• aprender os principais aspectos relacionados aos sistemas de drenagem subterrânea


e superficial.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – NOÇÕES DE DRENAGEM NA AGRICULTURA


TÓPICO 2 – EFEITOS DA DRENAGEM NO SOLO E NAS PLANTAS
TÓPICO 3 – DRENAGEM SUBTERRÂNEA E DRENAGEM SUPERFICIAL

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UNIDADE 3!

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108
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
NOÇÕES DE DRENAGEM NA AGRICULTURA

1 INTRODUÇÃO
A drenagem consiste no conjunto de operações destinadas a retirar o excesso
de umidade do solo para obter melhores condições agricultáveis aos terrenos a longo
prazo.

A produção agrícola está entre as principais atividade econômicas do país,


sendo a indústria de alimentos um setor de constante expansão afim de atender as
crescentes demandas e necessidades de mercado. Em vista disso, o aprimoramento
das técnicas agrícolas, como os sistemas de drenagem, é fundamental na garantia do
sucesso das plantações na agricultura.

A implementação dos sistemas de drenagem em solos encharcados tem


como vantagens a diminuição de processos erosivos, recuperação de áreas alagadas,
aumento da disponibilidade de áreas agricultáveis, incremento da produtividade e,
por último, prevenção da salinização de solos localizados em áreas de clima árido e
semiárido. Neste contexto, a compreensão do sistema solo-planta-atmosfera revela
os diferentes aspectos relacionados ao movimento da água cujo fluxo é determinado
pela diferença de potencial hídrico. Sua aplicação na agricultura pode auxiliar no
desenvolvimento de tecnologias de uso racional da água, projetos de conservação dos
solos e no melhoramento do manejo em plantios de diferentes espécies vegetais.

Muitos dos processos do sistema-solo-planta-atmosfera têm relação com a


capacidade de drenagem natural das áreas, pois os teores de saturação do solo implicam
diretamente sobre as taxas de absorção e transporte da água na planta. Dessa forma,
acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as principais noções de drenagem na agricultura
com base no estudo do comportamento do nível do lençol freático, dos coeficientes de
drenagem da água e as etapas do fluxo da água desde o solo, passando pelas plantas,
até a atmosfera.

2 MAPAS FREÁTICOS
O lençol freático pode ser definido como o limite entre a zona de saturação e
a zona de aeração, estando localizado logo acima da camada impermeável do solo.
Formam um reservatório de água subterrânea proveniente de precipitações que infiltram
ao longo dos solos pelos poros e interstícios cujo volume se altera de acordo com o
regime de chuvas e a porosidade do solo.

109
A profundidade do lençol freático também pode variar com a topografia e a
cobertura vegetal da área. As variações no nível do lençol freático podem ser medidas
e ilustradas por meio de curvas de nível, proporcionando a caracterização de redes de
fluxo de água subterrânea.

Do ponto de vista técnico, a profundidade ótima do lençol freático é aquela que


permite condições de aeração adequadas para o desenvolvimento das raízes.

De acordo com a profundidade, cada cultura se caracteriza por um grau de


tolerância de saturação específico. Baseado no grau de tolerância da planta e no nível
do lençol freático, determina-se o melhor custo/benefício em relação à necessidade de
investimento em drenagem e à máxima produtividade das culturas.

Os mapas freáticos são representações das curvas de nível do lençol freático


cujas informações auxiliam no diagnóstico de implantação de sistemas de drenagem.
Tomando-se por base o estudo das variações dos níveis da água, pode-se detectar
a direção do fluxo de água subterrâneo, gradiente hidráulico, regiões de elevação do
lençol freático, por fim, define-se as áreas com maior tendência ao encharcamento.

Os dados de comportamento da água nos lençóis freáticos são obtidos pela


implantação de poços de observação e piezômetros cujo conhecimento é posteriormente
utilizado para a confecção de hidrogramas. Como resultado final, podemos construir
mapas de isoípsas (isohypses), mapas de isóbatas e mapas de variação de nível. No
próximo subtópico detalharemos cada um destes procedimentos.

2.1 POÇOS DE OBSERVAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO


Os poços de observação, normalmente, são instalados sobre toda a área
do terreno estudado ou apenas em pontos específicos, tendo como finalidade
determinar a profundidade do lençol freático. Esses poços podem ser construídos
para acompanhamento provisório ou permanente; os de observação provisória são
construídos de maneira simples, utilizando um trado. Em seguida, aguarda-se a
estabilização do nível de água no interior do poço para realização da leitura.

Recomenda-se a instalação de estacas cotadas próximas a abertura de cada


poço. Em solos instáveis, é indicado incluir dentro do poço tubos de esgoto perfurados
com diâmetro de 50 mm para que as leituras não sejam perdidas em casos de
desmoronamento (Figura 1).

110
FIGURA 1 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DE UM POÇO DE OBSERVAÇÃO

FONTE: A autora

Os poços de observação permanente requerem um maior trabalho na sua


confecção. Nesse modelo, é instalado um tubo de PVC perfurado por todo o comprimento
do poço. Após, são preenchidos os espaços ao redor do tubo com material poroso (brita
ou cascalho). Na parte superior do poço, recomenda-se construir um anel de concreto
para evitar a entrada de água. Por último, o tubo pode ser coberto com uma tampa
perfurada para manter as trocas de ar entre o tubo e o meio. Nos dois casos, o diâmetro
do tubo recomentado não deve ser menor que 5 cm e as perfurações devem ter entre
2 e 3 mm de diâmetro.

A profundidade do poço tem como fator limitante a camada impermeável da


zona saturada, pois maiores aprofundamentos podem alcançar regiões de aquíferos
ou até mesmo o lençol freático. Como regra geral, é recomendável utilizar como base
a profundidade do sistema radicular ou da camada de oxirredução dos vegetais, mais
um metro. Adicionalmente, existem duas maneiras para comprovar o funcionamento
correto do poço: a primeira consiste em retirar toda a água e esperar a recuperação do
nível inicial; a segunda, construir um segundo poço ao lado para comparação dos níveis
de água.

111
2.1.1 Leitura dos poços e equipamentos utilizados
As leituras dos dados obtidos nos poços podem ser realizadas diariamente,
semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, dependendo do objetivo do produtor
agrícola. Por exemplo, para avaliação do desempenho de sistemas de drenagem
subterrâneas as leituras são realizadas diariamente. Em terrenos irrigados, a análise do
comportamento do lençol freático dos dados é feita de forma mensal, tomando-se, por
base, o ciclo da planta, ou somente após um ano do ciclo completo da cultura.

Os equipamentos são utilizados para medir a profundidade do lençol freático


em relação ao topo do poço, o que permite obter a profundidade do lençol em relação
à superfície do terreno. O equipamento mais comumente utilizado para a realização
dessas leituras é nada mais que um peso atrelado junto à ponta de uma trena ou fita
métrica. A medição é realizada abaixando o peso até este tocar o nível da superfície da
água, o qual é geralmente percebido pela emissão de um som característico.

2.2 PIEZÔMETROS
Os piezômetros são equipamentos de baixo custo formados por tubos de PVC
com a extremidade perfurada, instalados em determinadas profundidades do solo para
avaliação da carga hidrostática (Figura 2). Estima o nível do lençol freático pela pressão
hidrostática por intermédio da soma da carga de elevação mais a carga de pressão no
ponto de instalação, resultando em valores de carga total. Além disso, pode ser utilizado
para determinação da poropressão ou pressão neutra e da condutividade hidráulica do
solo.

FIGURA 2 – ESQUEMA DE UM PIEZÔMETRO

FONTE: A autora

112
Esses dispositivos são inseridos no solo de modo que a extremidade furada
fique em contato direto com a camada cuja carga hidrostática se quer determinar.

Os diâmetros do tubo devem ser de 3 a 20 cm e a profundidade do estrato


perfurada deve corresponder a, no mínimo, um metro. Após instalado, é feito o
procedimento de estabilização do nível da água no interior. O nível alcançado pela água
dentro do piezômetro é definido como carga piezométrica.

2.3 HIDROGRAMAS
Hidrogramas são gráficos produzidos com base em variações da vazão do nível
da água em função do tempo. São representados pelas hidrógrafas ou curvas de nível
freático. São elaboradas com base nos dados adquiridos dos poços de observação
(hidrógrafas freáticas) ou com os dados gerados pelos piezômetros (hidrógrafas
piezométricas). Os hidrogramas podem auxiliar nas seguintes investigações:

• determinação dos períodos de elevação do lençol freático até a zona radicular;


• velocidade de elevação rebaixamento do nível freático;
• variações dos níveis descarga e recarga em aquíferos em relação à precipitação,
irrigação, cheias de rios, entre outros;
• análise do comportamento do nível freático a longo prazo.

É importante lembrar que o hidrograma reflete a resposta dos lençóis freáticos e


bacias hidrográficas de acordo com seus aspectos fisiográficos que controlam a relação
entre a chuva e o escoamento. Em adição, os hidrogramas podem ser estimados por
dois métodos: hidrograma unitário e hidrograma unitário sintético.

2.4 MAPAS DE ISOÍPSAS (ISOHYPSES)


Também denominado como mapa de fluxo do lençol, o mapa de isoípsas informa
a direção do fluxo do lençol freático. A confecção do mapa de isoípsas é obtida pela
subtração da cota de profundidade do lençol freático pela cota de superfície, resultando
nas cotas de nível freático. Interpolando as cotas de nível, traçam-se as curvas de nível
do lençol freático.

O mapa é finalizado traçando as linhas de fluxo que cruzam perpendicularmente


as curvas de isoípsas. As curvas de nível são denominadas de isoípsas.

As medidas de cota do lençol freático são obtidas segundo as leituras realizadas


em poços de observação ou em piezômetros.

113
A escala do mapa é de livre escolha do aluno, porém, em projetos básicos ou
que necessitem muitos detalhes é sugerido o uso de escalas de 1:2.000, 5.000, 10.000
ou 1:25.000, com isolinhas de 0,20, 0,50 ou 1,00 m.

2.5 MAPAS DE ISÓBATAS


O mapa de isóbatas, também chamado de mapas de isoprofundidade, reúnem
curvas do lençol freático de mesma profundidade.

A profundidade do lençol freático é resultante da diferença entre a cota de


superfície do solo e a cota do lençol freático. Também pode ser ilustrada traçando a
intersecção das linhas de fluxo do lençol freático com as cotas de superfície do terreno,
quando sobrepostas; as curvas de nível são denominadas de isóbatas.

Este tipo de mapa é bastante utilizado para terrenos com grandes problemas de
drenagem subterrânea (Figura 3)

FIGURA 3 – EXEMPLO DE UM MAPA DE ISOBATAS

FONTE: A autora

Neste estilo de mapa, as isóbatas são usualmente representadas por linhas


equidistantes verticalmente, sempre em múltiplos de um valor previamente calculado,
tomando-se por base os dados de profundidade do lençol. Também podem ser
classificadas como curvas de nível negativas encontradas em relevo subaquático.

114
2.6 MAPA DE VARIAÇÃO DE NÍVEL
O mapa de variação de nível nada mais é do que a sobreposição de mapas de
uma mesma área, mas de duas épocas distintas. Neste estilo de mapa, marca-se as
variações existentes nos pontos de intersecção entre as curvas de nível. Em seguida,
traça-se uma curva para unir os pontos de mesma variação. Pode ser ilustrado tomando-
se por base mapas de isoípsas ou de isóbatas, sendo a metodologia de construção do
mapa a mesma para ambos os casos (Figura 4).

FIGURA 4 – EXEMPLO DE UM MAPA DE VARIAÇÃO DE NÍVEL

FONTE: A autora

Ferramentas de geoprocessamento e programas de código aberto como o


QGis têm sido empregados no tratamento e interpolação de dados para a produção de
mapas freáticos. Diante disso, a cartografia digital é aplicada na captação, organização
e desenho desses mapas, permitindo a correção de distorções e ajuste de escalas em
mapas de linhas de isoípsas e de isobátas, bem como mapas com sobreposição, como
os mapas de variação de nível.

2.7 INTERPRETAÇÃO DOS MAPAS FREÁTICOS


Ao longo desse tópico nós aprenderemos as principais metodologias para a
obtenção dos dados de curvas de nível do lençol freático e como aplicá-las na construção
de mapas. Contudo, é imprescindível que você também saiba como interpretar os

115
elementos contidos nos mapas freáticos. A Figura 5 mostra um mapa de isoípsas, em
que as linhas de fluxo são representadas pelas linhas de maior espessura. Os números à
direta indicam as cotas (em metros) de cada curva de nível do lençol freático.

FIGURA 5 – MAPA DE ISOÍPSAS

FONTE: A autora

Com base nessas informações, sabemos que as linhas de fluxo identificam


a direção da instalação dos drenos. Observando o mapa, conclui-se que os drenos
deverão ser instalados na direção horizontal, porque seguem a mesma direção do fluxo
de movimento subterrâneo da água do terreno.

Linhas isoípsas e isóbatas são equipotenciais e identificam as linhas de


contorno do lençol. Todas as linhas perpendiculares ou normais a elas são definidas
como linhas de corrente e se referem à direção do fluxo subterrâneo. As linhas de
corrente caracterizam-se por serem traçadas sobre uma massa fluída, cuja velocidade
de direção do fluxo é tangencial a elas. Curvas equipotenciais ilustradas perto de rios
apontam se a corrente funciona como um dreno ou se existem cargas provenientes de
aquíferos,

Mapas representados com curvas de níveis bem espaçadas sinalizam áreas com
gradientes hidráulicos fracos e de alta permeabilidade. Em contrapartida, curvas de nível
mais estreitas referem-se a terrenos com gradientes fortes e pouca permeabilidade.

Por fim, locais com grandes variações dos níveis freáticos evidenciam áreas
de carga, enquanto as pequenas variações determinam áreas de descarga. Podem ser
identificadas a partir da origem das linhas de fluxo ou por curvas de nível concêntricas.

116
3 COEFICIENTES DE DRENAGEM
Os coeficientes de drenagem descrevem a taxa de remoção do excesso de água
do solo dentro de um determinado limite de tempo com o propósito de evitar processos
erosivos e garantir proteção para as plantas. É expressa em razão da altura da lâmina da
água por dia (mm/dia ou cm/dia), sendo bastante utilizado em cálculos de espaçamento
entre os drenos.

Para ambos os coeficientes o tipo de solo e as taxas de precipitação descrevem


a capacidade de retenção da água e o grau de saturação do solo estudado. Para o
dimensionamento de dispositivos de drenagem, primeiramente, estima-se a chuva de
projeto, isto é, uma sequência de precipitações prováveis de provocar a elevação do
lençol freático na área de instalação dos drenos. Essa análise é feita por modelos de
transformação chuva-vazão, determinando-se o volume de infiltração da área. Com isso,
conseguimos estabelecer critérios de drenagem em períodos chuvosos, favorecendo
na metodologia de drenagem a ser empregada.

3.1 COEFICIENTE DE DRENAGEM SUBTERRÂNEO


O coeficiente de drenagem subterrânea é relativamente menor em relação
à drenagem superficial, pois o fluxo de água em drenos subterrâneos é mais lento e
homogêneo quando comparado aos drenos superficiais. Essas diferenças se mantêm,
independente da origem do excesso de água, além das distintas características
existentes entre o escoamento superficial e o fluxo de água subterrâneo.

Os cálculos de coeficiente de drenagem subterrânea dependem do conhecimento


das informações do solo, do clima e das condições de irrigação ou chuva. A seguir,
descrevemos a fórmula do coeficiente de drenagem subterrânea em solos de fluxo não
permanente: , sendo q o coeficiente de drenagem (L.T-1), ΔH (ho-ht) se
refere ao rebaixamento do lençol freático (L), f é a porosidade drenável (adimensional) e
t o tempo de rebaixamento (T).

3.2 COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL


O escoamento superficial refere-se à quantidade de água precipitada que escoa
livremente na superfície do solo, por ação da gravidade, das áreas mais altas para as
mais baixas.

Nesse sentido, o coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de Runnof


é descrito como a razão entre o volume de água escoado superficialmente e o volume
de água precipitado. Pode ser aplicado em situações de chuvas isoladas ou para chuvas
que ocorram em um curto intervalo de tempo: .

117
O coeficiente de escoamento depende de diversos fatores como o tipo e
textura do solo, a taxa de cobertura vegetal, o grau de saturação do solo e a declividade
geral da bacia. No dimensionamento de drenos coletores de escoamento superficial,
primeiramente, calcula-se a vazão de escoamento, sempre considerando a intensidade
da chuva em mm.h-1.

Os métodos geralmente utilizados para quantificação do escoamento superficial são:

• método racional;
• método de MacMath;
• regionalização de vazão.

4 SISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERA
O sistema solo-planta-atmosfera (SSPA) é o conjunto de processos
interdependentes influenciados por fatores físicos, químicos e biológicos, e que tem
como força motriz o movimento da água.

Entre os processos que compõem esses sistemas, podemos citar as etapas


do ciclo hidrológico, como a evaporação, transpiração, taxa de absorção de água pelas
raízes, entre outros (Figura 6). A dinâmica da água no solo, na planta e na atmosfera é
determinada pela diferença de potencial hídrico do solo. A água é um líquido essencial
para a produção vegetal, atuando em diversos mecanismos bioquímicos e fisiológicos
dos vegetais.

FIGURA 6 – MOVIMENTO DA ÁGUA NO SOLO-PLANTA-ATMOSFERA

FONTE: A autora

118
Durante o seu desenvolvimento, as plantas consomem menos de 5% da água
que é absorvida, sendo a maior parte retida no solo ou difundida para a atmosfera. O
consumo de água das plantas refere-se à perda de água por evapotranspiração. Os
solos formam verdadeiros reservatórios de armazenamento de água, porém, o alto
volume de chuvas pode gerar perdas por escoamento superficial, erosão do solo ou
percolação profunda.

4.1 POTENCIAL HÍDRICO


O potencial hídrico (Ψw) é a propriedade que controla o fluxo de água nos
sistemas cujo movimento ocorre dos pontos de maior potencial para os pontos de menor
potencial, ou seja, pela diferença de potencial entre dois pontos. Essa propriedade
é uma medida de energia, expressa em unidade de pressão. Os valores de potencial
hídrico podem ser comparados entre as três fases da água (líquido, sólido e gasoso).
Assim, o potencial hídrico refere-se ao potencial químico da água (µ0), comparado ao
potencial químico da água pura (µ0w), em pressão atmosférica e mesma temperatura.
O potencial hídrico nas células, normalmente, é negativo, pois convencionou-se que o
potencial químico da água tem o valor igual a zero.

O potencial hídrico pode ser representado pelos seguintes componentes:


Ψw = Ψs + Ψp + Ψm + Ψg. Os termos Ψs, Ψp, Ψm, Ψg referem-se ao soluto ou osmótico,
pressão, potencial mátrico ou força da superfície e gravidade, respectivamente.
Esses fatores podem atuar sobre a energia livre da água, influenciando na elevação
ou redução do potencial hídrico.

Dentro da célula podemos simplificar a equação: Ψw = Ψs + Ψp. Neste caso, os


componentes gravitacionais (Ψg) e mátrico (Ψm) são considerados desprezíveis dentro
da célula vegetal. O potencial de pressão positivo (Ψp) dentro da célula vegetal é também
denominado de potencial de turgência. Um potencial de turgência positivo é importante
para o crescimento da planta para a manutenção da rigidez e forma dos tecidos das
plantas. Valores de pressão são negativos em condições de plasmólise.

A seguir, vamos resolver um exercício envolvendo o potencial hídrico.

Duas células A e B, em contato, apresentam os seguintes potenciais:

• Célula A: Ψs = - 0,3 MPa e Ψp = 0,2 Mpa


• Célula B: Ψs = - 0,8 MPA e Ψp = 0,5 Mpa

Calcule a diferença de transporte d’água: baseado na equação dos componentes


do potencial hídrico dentro da célula (Ψw = Ψs, + Ψp), temos:

119
• Célula A: Ψw = - 0,3 + 0,2 => Ψw = - 0,1 MPa
• Célula B: Ψw = - 0,8 + 0,5 => Ψw = - 0,3 Mpa

Como ΨwA > ΨwB, a direção do fluxo de água é de A para B.

4.2 MOVIMENTO DA ÁGUA


Como mencionamos anteriormente, o solo é um reservatório natural de água
para as plantas. O conteúdo de água dos solos está vinculado às características
estruturais e de composição destas superfícies. Os solos de textura arenosa são
facilmente drenados, por causa da presença de partículas relativamente grandes que
permitem a passagem direta da água entre os poros. Os solos de textura argilosa são
compostos por grãos pequenos que se agrupam em camadas sobrepostas contendo
reduzidos espaços intersticiais, onde a água não drena facilmente e acaba retida.

Assim, a porosidade do solo determina a capacidade de retenção da água e é


encontrada no solo sob três diferentes formas, cuja distribuição é ilustrada na Figura 7.

• Água higroscópica: forma uma camada de solvatação ao redor das partículas, onde
se fixa por adsorção, movimentando-se no estado de vapor. Nesse caso, o potencial
hídrico da espécie vegetal é maior que o do solo, resultando em um estado de seca
fisiológica na planta.
• Água capilar: a água é parcialmente retida por capilaridade no solo em razão da
tensão superficial, formando uma película em torno dos grãos e nos espaços capilares.
• Água gravitacional: águas de solos encharcados, onde os poros se encontram
cheios de água sem capacidade para reter mais água. Diminuem significativamente
o nível de aeração.

FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA

FONTE: A autora

120
Diante disso, o conceito de capacidade de campo (CC) é definido pelo conteúdo
de água retido no solo após saturação e drenagem do excesso por gravidade. Verifica-
se uma maior capacidade de campo em solos argilosos e solos com alto conteúdo de
húmus. Por outro lado, o ponto de murcha permanente (PMP) refere-se às condições
muito secas que reduzem o potencial hídrico forma tão drástica, a ponto de não haver
água disponível no solo para absorção pelas plantas que permanecem murchas, pois
não conseguem manter a turgência das células.

O movimento da água dentro do SSPA inclui desde o fluxo do solo para as


raízes, a absorção pelas raízes, o transporte das raízes até os caules e folhas via xilema,
evaporação da água pelos espaços intercelulares das folhas, difusão do vapor de água
pela abertura dos estômatos e/ou pela cutícula e seu movimento final, da atmosfera
externa da folha para a atmosfera externa do ambiente. O fluxo da água no SSPA segue
um potencial hídrico decrescente (Figura 8).

FIGURA 8 – VALORES DE POTENCIAL HÍDRICO DA PLANTA

FONTE: A autora

As plantas absorvem a água do solo por meio do sistema radicular, o qual


apresenta pelos radiculares ou absorventes que maximizam a área de absorção da
água e dos nutrientes (Figura 9). O transporte de água do solo para o vegetal acontece
predominantemente por fluxo de massa, e em menor parte por difusão. Dentro das
células vegetais a água pode se movimentar por três vias distintas: via apoplasto, via
simplasto e via transmembranar. Já o transporte de água da raiz para as partes aéreas
121
ocorre via xilema por meio de uma diferença de pressão entre as raízes e as folhas.
Essa diferença de pressão acontece pela redução do potencial mátrico (Ψm,) junto à
superfície das raízes, fazendo que a água se mova a favor do gradiente de pressão. O
gradiente de pressão da água é diretamente afetado pelo potencial osmótico (ΨP) e pelo
potencial de pressão ou turgência (+ΨT). À proporção que o movimento de água no solo
depende do potencial mátrico (Ψm,) e da condutividade hidráulica do solo.

FIGURA 9 – ESQUEMA DE SEÇÃO TRANSVERSAL DE UMA RAIZ, DEMONSTRANDO O MOVIMENTO DA


ÁGUA DA RAIZ ATÉ O XILEMA

FONTE: Reichardt (2016, p. 58)

A perda de água pelas plantas ocorre, sobretudo, pelos seguintes processos:

• transpiração: perda de água na forma de vapor pela superfície da planta;


• evaporação: perda de água na forma de vapor pela superfície do solo;
• evapotranspiração: soma da transpiração com a evaporação. Em sistemas de
cultura esse termo é designado como uso consuntivo.

O fluxo da água entre as raízes e as folhas pode ocorrer por dois modos distintos,
via xilema por meio da geração de pressão positiva na raiz, ou por pressão negativa
criada pelas folhas.

122
A transpiração é um processo essencial na absorção de CO2 pelas folhas, no
transporte de íons para as partes aéreas e no controle de temperatura, o qual é controlado
pela abertura e fechamento dos estômatos. Os fatores que afetam essa atividade são
o balanço de vapor d’água entre a superfície da folha e a atmosfera, temperatura,
umidade relativa do ar, vento e a disponibilidade hídrica do solo. Além disso, é o principal
processo de geração de gradientes de pressão no SSPA. A força determinante da perda
de água por transpiração é a diferença na concentração de vapor entre a folha e o ar,
sendo essa diferença denominada como déficit de vapor d’água. Outro fator de controle
da perda de água por transpiração e a resistência estomática (difusão pelos estômatos)
e a resistência da camada de ar limítrofe (espessura da folha).

A perda de água para atmosfera gera um gradiente negativo que estimula a


absorção e o fluxo de água a partir das raízes. Por isso, mesmo em condições de boa
saturação do solo, caso a umidade do ar esteja baixa, os estômatos fecham aumentando
o potencial hídrico nas folhas, por consequência, diminui as taxas de absorção, bem
como a atividade de fotossíntese. Durante a transpiração, desenvolve-se um gradiente
de pressão negativo no xilema.

Por outro lado, durante a noite, em baixas temperaturas ou durante o fechamento


dos estômatos, a pressão da seiva bruta do xilema fica positiva, fenômeno este denominado
como pressão radicular, provocando a exsudação da seiva pelos hidatódios das folhas.
Este processo conhecido como gutação é mais comum em plantas de pequeno porte,
especialmente durante as primeiras horas do dia. Segundo a teoria da adesão-coesão, a
água do xilema forma uma fase líquida da raiz até a folha, sem intervalos.

A maioria dos processos citados ao longo do texto relacionados ao movimento


da água ocorrem simultaneamente, por isso em termos de cultivo é importante se
considerar o balanço hídrico de todos esses processos.

O balanço hídrico nada mais é que o somatório das quantidades de água que
entram e saem de uma área do solo em dado intervalo de tempo. Do ponto de vista
agrícola, o balanço hídrico tem um papel decisivo na definição das condições hídricas
sob as quais uma cultura se desenvolveu ou está se desenvolvendo em cada um dos
seus estádios fenológicos.

Para a agricultura, a compreensão do ciclo hídrico dentro do SSPA auxilia na


aplicação de tecnologias de uso racional da água. Objetivam o aproveitamento das
águas por meio da construção de sistemas de captação específicos, de forma a evitar
desperdícios e não prejudicar a capacidade de recarga dos lençóis freáticos. Além disso,
com base nesses conhecimentos, é possível aprender a melhor forma de manejo do
solo para garantir taxas de infiltração e processos de drenagem adequados para cada
cultura a ser desenvolvida.

123
IMPORTANTE
As plantas CAM e C4, em condições de suprimento de água adequado,
apresentam maior eficiência no uso de água (massa seca de planta
produzida/massa de água consumida pela irrigação e chuvas) do que
as plantas C3, pois podem manter os estômatos mais fechados, com a
assimilação de CO2 constante, sem perder água.

124
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As flutuações dos níveis do lençol freático podem ser representadas por meio de
mapas freáticos cujas informações são obtidas por intermédio da construção de
poços de observação e piezômetros.

• Os coeficientes de drenagem descrevem as taxas de remoção da água dos terrenos


em função do tipo de solo e das taxas de precipitação, diferenciando-se em coeficiente
de drenagem subterrâneo e o coeficiente de escoamento superficial.

• A água é um componente essencial para o bom desempenho das atividades


metabólicas dos vegetais, sendo os solos considerados verdadeiros reservatórios
líquidos para as plantas. Essas relações formam uma dinâmica de fluxo d’água
denominado solo-planta-atmosfera que é determinado pela diferença de potencial
hídrico do solo.

• As plantas absorvem a água do solo por meio dos pelos absorventes presentes nas
raízes, transportando essa água para o caule e folhas via xilema, sendo posteriormente
perdida por evapotranspiração.

125
AUTOATIVIDADE
1 Hidrogramas são gráficos produzidos com base em variações do nível do lençol
freático em função do tempo, sendo representados pelas hidrógrafas. São elaboradas
com base nos dados adquiridos dos poços de observação ou nos piezômetros. Sobre
os hidrogramas, analise as afirmativas a seguir:

I- Os hidrogramas podem auxiliar na determinação dos períodos de elevação do lençol


freático até a zona radicular e na velocidade de elevação rebaixamento do nível
freático.
II- Mapas representados com curvas de níveis bem espaçadas indicam áreas com
gradientes hidráulicos fracos e de alta permeabilidade, enquanto curvas de nível
mais estreitas indicam gradientes fortes e pouca permeabilidade.
III- O mapa de isoípsas ou de isoprofundidade relaciona as curvas do lençol freático de
mesma profundidade.
IV- As medidas de cota do lençol freático são obtidas segundo as leituras realizadas em
poços de observação ou em piezômetros

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
b) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

2 Os solos formam verdadeiros reservatórios de armazenamento d’água, garantindo


teores de umidade suficientes para a absorção pelas plantas. Contudo, uma parte
dessa água pode acabar percolando até o lençol freático ou simplesmente escoar
pela superfície até corpos d’água próximos, nem chegando a infiltrar no solo. Nesses
processos, o movimento da água se relaciona diretamente com os coeficientes de
drenagem do solo. Dentro desse contexto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Em condições de excesso de chuvas, o coeficiente de drenagem pode ser


descrito pela relação com a porosidade drenável, a variação de altura do lençol
freático e o tempo de rebaixamento deste último.
b) ( ) O coeficiente de drenagem subterrânea tem fluxo mais lento e homogêneo, mas
não difere do coeficiente superficial.
c) ( ) O volume de chuvas não é considerado um parâmetro importante no
dimensionamento de drenos de escoamento superficial.
d) ( ) coeficiente de escoamento superficial é descrito como a razão entre o volume
de água precipitado e o volume de água escoado superficialmente.

126
3 Os coeficientes de drenagem relacionam-se com as taxas de remoção do excesso
de água do solo dentro de um determinado limite de tempo. Essa capacidade é
determinada pelas características da vegetação, volume de precipitação e tipo de
solo. Com isso, é possível estimar a capacidade de retenção e infiltração do solo
para o dimensionamento dos dispositivos de drenagem em períodos secos de chuva
intensa. Considerando as relações entre os coeficientes de drenagem com as taxas
de transporte da água subterrânea e sob superfície, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O coeficiente de drenagem subterrânea é relativamente maior em relação à


drenagem superficial.
b) ( ) O escoamento superficial refere-se à razão entre o volume de água precipitado
superficialmente sobre volume de água escoado.
c) ( ) O fluxo de água em drenos subterrâneos é mais lento e homogêneo quando
comparado aos drenos superficiais.
d) ( ) Os regimes de chuva não influenciam diretamente sobre os coeficientes de
drenagem.

4 Os mapas freáticos são utilizados para a representação das curvas de nível do


lençol freático, sendo indicados por linhas isoípsas e isóbatas. De maneira geral, os
dados do lençol freático são obtidos por diferentes metodologias, como por poços
de observação ou piezômetros. Disserte sobre como são realizados cada um desses
procedimentos.

5 O sistema solo-planta-atmosfera é regido pelo ciclo da água. A água tem grande


importância na manutenção fisiológica e no crescimento das plantas, resultando
em maior produtividade para as culturas agrícolas. Nesse contexto, uma planta de
milho adulta, pesando cerca de 2 kg retira em torno de 204 L de água durante o seu
ciclo hídrico, porém, desse volume total, somente 1,87 L é fixado pela planta. Neste
contexto, disserte sobre o movimento da água do solo e nas plantas.

127
128
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
EFEITOS DA DRENAGEM NO SOLO E PLANTAS

1 INTRODUÇÃO
Dentro dos sistemas de produção agrícola, o conhecimento das características
do solo é o passo inicial para a escolha das melhores áreas de implantação das culturas
a serem produzidas. Os solos são divididos de acordo com a fração de agregados que
os compõem. Isso acontece, pois esses elementos definem o comportamento destes
solos frente a interações físico-químicas, atividade biológica, eventos climáticos e a
manipulação pelo homem.

O movimento da água altera-se conforme o tipo de solo, por exemplo, solos


arenosos possuem uma maior taxa de infiltração por causa do maior tamanho das
partículas e do espaçamento entre os grãos, resultando em uma menor retenção de água
nesses espaços. Em contrapartida, solos muito compactados tendem a acumular água,
principalmente em casos de intensa precipitação excessiva, facilitando a ocorrência de
processos erosivos nessas áreas e prejudicando o desenvolvimento e crescimentos das
plantas.

O excesso de água no solo traz enormes perdas para a agricultura, pois impede
o estabelecimento dos cultivos, dificulta o manejo dos solos, prejudica a aplicação de
insumos e dificulta a manipulação de máquinas agrícola. Além disso, diversos processos
fisiológicos, como o transporte de nutrientes e a respiração são alterados, gerando
impactos negativos para o crescimento das espécies vegetais e perdas de produtividade.
Dessa forma, acadêmico, no Tópico 2, iremos aprender os principais efeitos da drenagem
no solo e nas plantas.

2 CARACTERÍSTICAS DO SOLO
O solo são meios dinâmicos onde ocorrem sucessivas interações entre plantas,
animais, microrganismos, matéria orgânica, ar e água. Essas interações são responsáveis
por criar dinâmicas físicas, químicas e biológicas que determinam diretamente e
indiretamente as características do solo e garantem um ambiente favorável ao
desenvolvimento de espécies de plantas e animais.

Para a agricultura, o conhecimento destes fatores são fundamentais na garantia


do sucesso das plantações.

129
Muitas práticas agrícolas envolvem o uso das características físicas do solo, por
exemplo, textura e estrutura, para determinação do comportamento destes frente ao
manejo de diferentes culturas.

Assim, estabelece-se o melhor uso do solo, aumentando a fertilidade, o tempo


de vida útil e a rentabilidade, à proporção que auxilia na elaboração de diagnósticos
de degradação. Servindo para diminuir efeitos negativos ligados a processos erosivos
ou compactação. Na drenagem agrícola, as características do solo são aplicadas na
determinação da capacidade de drenagem dos terrenos e no dimensionamento dos
drenos.

As características do solo definem a aparência do ambiente, sendo bastante


perceptíveis a olho nu e tato, conferindo os aspectos morfológicos do solo. Entre as
principais características morfológicas podemos citar a textura, estrutura, consistência,
agregação, densidade, porosidade, resistência e permeabilidade.

2.1 TEXTURA DO SOLOS


A textura dos solos diz respeito à proporção relativa das partículas de argila, silte
e areia existentes no solo. Os solos são formados por partículas de diferentes tamanhos
agrupadas em frações, conforme ilustrado na Tabela 1. Assim, solos apresentam
diferentes classificações de acordo com as proporções de silte, argila e areia.

Fragmentos grosseiros, como cascalhos, seixos e matacões, ou seja, partículas


maiores do que 2 mm de diâmetro, não são considerados parte do solo, enquanto
partículas menores de 2 mm, tal como as areias, silte e argila, caracterizam a composição
textural.

A textura do solo é uma propriedade considerada permanente e que define suas


as habilidades de retenção e perda de água.

As frações do solo podem ser separadas por meio do peneiramento do solo.


Este procedimento atua desagregando os fragmentos maiores em partículas menor
diâmetro, até que atinjam cerca de 0,05 mm.

Em seguida, aplica-se o método de sedimentação, o qual envolve a mensuração


da velocidade de decantação das partículas de diferentes tamanhos. Os solos também
se classificam em classe textural segundo o triângulo de classificação (Figura 10).

130
FIGURA 10 – TRIÂNGULO DE CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL DOS SOLOS

FONTE: Lemos e Santos (1996, p. 13)

O triângulo de classificação textural é utilizado para a determinação das classes


texturais após a avaliação das porcentagens das frações de areia, silte e argila por
granulometria. Esta classificação auxilia no preparo do solo para plantio e na aderência de
implementos agrícolas. Para facilitar o entendimento, podemos simplificar as diferentes
classes do triângulo em três classes de textura: solos de textura arenosa (solos leves),
solos de textura média e solos de textura argilosa (solos pesados).

Os solos arenosos apresentam teores de cerca de 70% de areia em sua


composição. São caracterizados por uma alta permeabilidade e baixa capacidade de
retenção, facilitando a infiltração da água. Solos médios possuem um equilíbrio nos
teores de argila, silte e areia, refletindo em uma boa capacidade de drenagem e retenção
de água e nutrientes. Por último, os solos de textura argilosa apresentam teores de argila
acima de 35% e se constituem pela baixa permeabilidade e alta capacidade de retenção
de água e nutrientes. Por causa disso, necessitam de trabalho de mecanização para
facilitar a penetração das raízes das plantas no solo e são mais suscetíveis a processos
de compactação.

2.2 ESTRUTURA DO SOLO


A estrutura do solo descreve a orientação, arranjo e organização das partículas.
Os solos são formados por diferentes tipos ou unidades estruturais chamadas de
agregados (ou peds). Estes agregados nada mais são que agrupamentos de partículas
de silte, argila, areia e matéria orgânica. A intensidade de adesão das partículas é
fortemente influenciada por processos físico-químicos, como:

131
• taxas de umedecimento e secagem;
• expansão e contração das partículas;
• penetração e expansão das raízes;
• congelamento e derretimento;
• escavações de animais;
• atividade humana e de máquinas agrícolas.

Esses fatores determinam a intensidade de atração das partículas que compõem


os agregados em fracas ou fortes. A desintegração, estabilização e formação de novos
agregados é um processo contínuo e varia com o meio.

De maneira geral, os agregados se organizam seguindo uma hierarquia,


no qual macroagregados (0,25 a 5 mm de diâmetro), relativamente grandes, são
constituídos por microagregados menores (2 a 250 µm de diâmetro), estes últimos por
submicroagregados, e assim sucessivamente. Agregados menores são mais estáveis
comparado aos de maior tamanho. Os solos podem exibir diferentes unidades estruturais
ao longo do perfil de acordo com a composição das partículas. O tamanho, tipo e forma
de arranjo dos agregados determinam a estrutura do solo, que se divide em cinco tipos:
granular, angular, laminar, prismática e em blocos (Figura 11).

FIGURA 11 – ESTRUTURAS DO SOLO

132
FONTE: Brady e Ray (2013, p. 117)

A estrutura do solo influencia na disposição dos poros nos espaços dentro e


entre os agregados. Esse padrão de distribuição interfere no movimento da água e na
disponibilidade de nutrientes, no enraizamento das plantas e atividades biológicas,
atuando de forma direta nas taxas de drenagem do solo.

IMPORTANTE
Solos de textura argilosa e com alto teor de umidade são bastante
suscetíveis a danos estruturais, por causa da maior tendência a destruição
dos agregados e formação de lama quando expostos a pressões
mecânicas. Isso reflete em péssimas condições físicas do solo para plantio.
Dessa forma, é preciso planejar a melhor época de preparação do solo,
conforme os teores de umidade do terreno.

2.3 CONSISTÊNCIA
A consistência do solo está relacionada às forças de adesão e coesão das
partículas que compõem o solo. É uma propriedade resultante da correlação entre
textura, estrutura e umidade do solo. Adicionalmente, caracteriza-se pela resistência
do terreno a deformação e ruptura. A determinação da consistência é baseada no
teor de umidade da área. Em solos secos, é estimada pelo grau de dureza, em solos
úmidos, caracteriza-se pela friabilidade do solo e nos solos molhados é determinada
pela plasticidade e pegajosidade do solo.

Os diferentes estados de umidade podem ser observados pela simples


manipulação do solo. Por exemplo, se, ao pegarmos um fragmento ou torrão de solo
úmido, ele se desfaz facilmente sob uma leve pressão entre os dedos indicador e polegar,
consideramos como friável; se se desfaz moderadamente, mas com determinada

133
resistência, consideramos como firme; se não se desfaz sob pressão entre os dedos,
mas somente por pressão entre as mãos, consideramos como muito firmes.

Os limites de consistência do solo determinam os melhores momentos para a


realização de procedimentos agrícolas como semeadura, preparo de terraços ou covas,
emprego de máquinas ou implementos agrícolas e colheita do plantio.

2.4 POROSIDADE
Corresponde aos espaços de ar ou índice de vazios existentes entre os agregados
de partículas do solo. A porosidade interfere nas atividades de aeração, movimento e
retenção da água, resistência do solo a penetração e no enraizamento das plantas.

Estruturalmente, a porosidade pode ser categorizada em duas classes, micro


e macroporosidade. A microporosidade relaciona-se aos poros que retêm água, e a
macroporosidade, aos poros por onde ocorre movimentação de água.

O tamanho dos poros é bastante variável, sendo constituído por arranjos de


espaços de tamanhos maiores ou menores, tornando o material mais ou menos denso,
respectivamente. Neste sentido, podemos afirmar que a porosidade é inversamente
proporcional à densidade, em que a maior quantidade de poros reflete em uma menor
densidade do solo.

2.5 DENSIDADE DO SOLO


A densidade do solo (ds) é entendida como a relação entre a quantidade de
massa de solo seco e seu volume, incluindo os poros preenchidos com ar e água. A
densidade (ds) eleva-se em função do aumento da profundidade (H) e do volume total
do solo (Vt), e diminui com a redução da umidade, sendo utilizado como indicador do
grau de compactação do solo.

A densidade das partículas (dp) corresponde à quantidade de massa de solo


seco por unidade de volume sólido. Esta propriedade é variável conforme a constituição
do solo, porém difere relativamente pouco entre os tipos de solo. Por exemplo, argissolos
possuem uma densidade de dp = 2,650 Kg.m-3 e os nitossolos tem uma densidade dp =
2,760 Kg.m-3, demostrando o quão pequeno é diferença desses valores.

134
2.6 COMPACTAÇÃO DO SOLO
É a tensão aplicada sobre a estrutura física do solo forçando a agregação
das partículas, que como consequência, diminuem o volume ocupado. Em geral,
solos arenosos possuem baixo grau de compactação em razão de sua estrutura ser
formada por um maior arranjo de partículas grandes e macroporos. Os solos argilosos
são basicamente compostos por microporos e possuem maior possibilidade de arranjo
entre as partículas. Relacionado algumas características temos que: quanto maior a
densidade do solo, maior é o nível de compactação e menor é a porosidade total.

As principais consequências da compactação são a redução da porosidade


total, baixa capacidade de aeração, menor área de desenvolvimento para as raízes e
intensificação de processos erosivos.

2.7 ESTABILIDADE DOS AGREGADOS


Caracteriza-se pela resistência do solo à desagregação quando submetido a
forças mecânicas externas (manejo, precipitação) ou internas (compressão, contração).
Solos com agregados estáveis constituem superfícies bem estruturadas e compostas
por poros de tamanhos significativamente grandes. Quanto maior a concentração de
nutrientes no solo, maior a estabilidade dos agregados.

As principais forças mecânicas envolvidas na formação dos agregados são a


atividade dos animais, processos de contração e expansão do solo e o desenvolvimento
das raízes. Por outro lado, fatores como teores de argila, concentração de matéria orgânica
e a intensidade e forma de preparo do solo interferem na construção dos agregados.
Como já mencionamos anteriormente, a forma e a intensidade dos agregados atuam
sobre a penetração e distribuição das raízes nos solos.

2.8 RESISTÊNCIA DO SOLO À PENETRAÇÃO


Essa propriedade física diz respeito à força que as raízes das plantas exercem
no solo. Quanto maior a força aplicada pelas raízes, maior a probabilidade de ocorrência
de deformações em diâmetro e comprimento das raízes. A resistência do solo é um
dos principais indicadores de compactação dos solos. Solos compactados restringem
os espaços disponíveis para o desenvolvimento radicular, bem como para o fluxo de
ar, água e nutrientes nessa camada. Consequentemente, afetando a capacidade de
germinação das sementes, o tempo de desenvolvimento das plantas e a produtividade
das culturas, resultando em um aumento no custo com combustível e operações de
manejo e recuperação do solo.

135
A resistência do solo à penetração pode ser avaliada através do uso de medidores
de compactação do solo, conhecidos como penetrômetro. O plantio direto é uma técnica
que quando realizada grosseiramente aumenta a resistência do solo a penetração.
Elevação do teor de umidade, rotação de culturas, adubação verde e mobilização dos
solos com arado e escarificador podem diminuir a resistência a penetração, pois rompem
de forma mecânica as camadas compactadas, contribuindo para a agregação do solo.

3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA DRENAGEM AGRÍCOLA


Iniciamos o tópico conferindo as principais características dos solos e a maneira
que elas se relacionam para conferir as propriedades necessárias para a estruturação
dos solos. Com base nas características do solo, conseguimos classificá-los segundo
a textura e o tipo. A caracterização dos solos em classes facilitou a quantificação das
potencialidades e limitações de cada terreno e qual a melhor forma de manejá-lo dentro
da produção agrícola.

Algumas particularidades importantes dentro das características do solo


relacionam-se com o potencial de infiltração, retenção e escoamento da água no solo.
Esses fatores estão diretamente associados à capacidade de drenagem natural dos
terrenos.

Havendo acúmulo de água por precipitação ou variação do lençol freático, a


adição de drenos artificias permite o melhor uso dessas terras para a recuperação e
estabelecimento de culturas. Cada tipo de solo se diferencia no sistema de drenagem
adequado a ser implantado em razão do movimento da água.

Dessa forma, levando-se em consideração as características do solo, excesso


de umidade e movimento da água, podemos determinar os principais fatores que podem
influenciar na eficiência e custo da drenagem agrícola.

3.1 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA


A condutividade hidráulica (ou constante de proporcionalidade) expressa a
habilidade de deslocamento da água no solo em todos os sentidos e direções, tanto em
condições de saturação, quanto em condições de não saturação.

Com base na Lei de Darcy, podemos afirmar que o movimento de água em um solo
saturado é diretamente proporcional a carga hidráulica e inversamente proporcional à
coluna do solo. A condutividade hidráulica é relativa ao coeficiente de proporcionalidade
da equação de Darcy.

136
Os principais fatores que se relacionam intrinsecamente com essa propriedade
são:

• viscosidade da água;
• distribuição do tamanho dos poros;
• disposição granulométrica;
• índice de vazios;
• rugosidade das partículas minerais;
• grau de saturação do solo.

Os valores de condutividade hidráulica (KO) variam de acordo com o tipo de


solo, por exemplo, solos argilosos possuem uma condutividade significativamente baixa
quando comparados a solos de areia bem distribuída.

A condutividade é uma das principais propriedades físicas envolvidas na


determinação da capacidade de drenagem dos solos, sendo de grande importância no
dimensionamento de drenos.

Existem diversos métodos de determinação da condutividade hidráulica em


função da umidade do solo e que se diferenciam em diretos ou indiretos, cada um com
um nível de precisão distinto e elaborados para atender condições específicas em que
nenhum outro método é passível de ser aplicado. Os métodos indiretos relacionam a
condutividade hidráulica com algumas propriedades físicas do solo, entre elas podemos
citar a porosidade drenável, textura, densidade do solo e a distribuição do tamanho dos
poros, entre outros. Os métodos diretos determinam a condutividade hidráulica com
base em técnicas em laboratório ou no campo.

Ensaios laboratoriais podem utilizar amostras em estado natural ou amostras


fragmentadas. Contudo, amostras fragmentadas podem gerar resultados não confiáveis,
enquanto amostras naturais coletadas em cilindro próprio fornecem dados mais
precisos para os cálculos de espaçamento de drenos. Em tese, ensaios laboratoriais não
fornecem valores exatos de condutividade hidráulica, pois trabalham com uma menor
área representativa do solo e não reproduzem as condições naturais do ambiente
amostrado, resultando em alterações nas características de textura e consistência do
solo.

A seguir, iremos descrever alguns métodos diretos frequentemente utilizados


na determinação da condutividade hidráulica.

137
3.1.1 Método de permeâmetro de carga constante
O ensaio de carga constante é indicado para solos com elevada permeabilidade
(solos arenosos). Essa análise foi desenvolvida para estimar a condutividade hidráulica
de solos saturados por meio da condução das amostras em um sistema previamente
montado, utilizando-se um frasco de Mariotte ou um tubo de vidro transparente. O
método consiste em manter uma carga hidráulica constante enquanto é medido o
volume da solução, isto é, a vazão (Q), a ser drenado em função do tempo. A massa de
água é determinada pelo uso de balança digital e o tempo é registrado com o auxílio de
um cronometro.

A condutividade hidráulica é estimada pela seguinte equação: , em


que K é a condutividade hidráulica (cm/s), Q é a vazão ou volume d’água coletado (cm3),
L é altura da amostra do solo no permeâmetro (cm) e A é a área de seção transversal do
cilindro contendo a amostra (cm2).

3.1.2 Método de permeâmetro de carga variável


O teste é utilizado para determinar a condutividade hidráulica em solos cujo
coeficiente de permeabilidade é consideravelmente baixo (solos argilosos). As amostras
são colocadas em um dispositivo composto por um tubo de vidro transparente
posicionado em um módulo de encaixe. Neste tubo, são delimitados dois pontos
definidos como h1 e h2. A água de um piezômetro percola até a saturação do corpo
de prova. Realiza-se a leitura inicial da altura da carga hidráulica (h1) no tempo 0. Em
seguida, permite-se que a água flua novamente pela amostra até atingir o menisco
referente ao ponto h2, de tal modo que a diferença de carga final no momento t = t2
seja h2. O intervalo de tempo gasto para o deslocamento da água no tubo é registrado
utilizando-se um cronômetro.

A vazão da água em qualquer tempo t pode ser calculada pela fórmula:


, cujo sinal negativo (-a) sinaliza redução de altura com o aumento
do tempo.

Integrando a fórmula anterior, temos: .

Resolvendo a integral e evidenciando a condutividade hidráulica (k), formamos

a seguinte equação final: , em que L é a altura do corpo de prova (cm), A


é a secção transversal do corpo de prova (cm2), ho é carga hidráulica (cm), no tempo t0,
h1 é a carga hidráulica (cm) no tempo t e t (t1 - t0) é o intervalo de tempo para o nível de
água passar de ho para h1 (cm).

Os métodos de permeâmetro de carga constante e permeâmetro de carga


variável são testes realizados em laboratório.

138
Acadêmico, a partir de agora, iremos descrever os procedimentos utilizados
para estimar a condutividade hidráulica em campo.

3.1.3 Método do poço ou furo do trado (Auger-Hole)


O teste do método do poço é adequado para avaliação da condutividade
hidráulica em solos não estratificados (solos homogêneos) ou em solos altamente
estratificados, na presença de lençol freático próximo a superfície do terreno.

Propicia a obtenção dos valores de condutividade hidráulica da camada do


solo que se estende desde a superfície do lençol freático até a profundidade final do
furo do poço. Leva-se em consideração que não é possível estimar esses valores em
cada camada separadamente. O teste não exige equipamentos sofisticados, sendo
considerado prático, rápido e de baixo custo.

Na Figura 12, encontramos um esquema representativo deste equipamento.

FIGURA 12 – ESQUEMA ILUSTRANDO O POÇO OU FURO DO TRADO (AUGER-HOLE)

FONTE: A autora

139
O teste só se inicia após a execução dos procedimentos de análise do perfil
do solo (espessura, profundidade, distribuição e textura) e da profundidade do lençol
freático. Com base nestes dados são definidos os locais de condução do teste e a
profundidade total do furo no solo. Os próximos passos que envolvem essa metodologia
são:

• abertura dos poços de observação até que o nível do lençol freático seja ultrapassado.
A profundidade do furo depende da camada da qual se quer calcular a condutividade
hidráulica. Todo esse processo é efetuado utilizando-se um trado;
• em seguida, instala-se os equipamentos de medição e espera-se em torno de 24
horas para que ocorra a estabilização do lençol freático no interior do poço;
• após o reestabelecimento do nível do lençol freático, mede-se a altura inicial da
lâmina da água e a quase totalidade desta água é drenada por meio de uma bomba
manual;
• por fim, mede-se ascensão do nível do lençol freático em função do tempo. A altura
pode ser mensurada utilizando-se uma boia fixada em um suporte contendo uma
trena de aço ou uma fita lisa – para os intervalos de tempo, utiliza-se um cronometro;
• a quantidade de testes a serem realizados depende da extensão do terreno e da
similaridade entre as propriedades das camadas do solo, além da conformidade dos
resultados.

A relação entre o acréscimo de altura (ΔH) com o acréscimo de tempo (ΔT) é


aproximadamente linear no período inicial do teste, tornando-se, posteriormente,
aleatória. Logo, o limite de confiabilidade deste método pode ser descrito como: Yn = 3/4Y,
em que Yn se refere à primeira leitura da distância entre a superfície freática e o nível de
água dentro do poço e Y0 sinaliza a última leitura efetuada.

ATENÇÃO
Vejamos algumas regras práticas.
• o espelho da água no fundo do poço deve ser da ordem de 5 a 10 vezes
o seu diâmetro (40 a 80 cm);
• deve-se iniciar o teste com uma lâmina de fundo de 5 cm;
• os intervalos de tempo devem ser constantes (5, 10, 15, 20, 25 segundos
etc.);
• o raio (r) do poço deve ficar entre 3 e 7 cm;
• a distância entre o nível freático e o fundo do poço (H) deve ser de no
mínimo 20 cm e no máximo 200 cm;
• o teste é finalizado quando os valores de distância das leituras começam
a se tornar muito próximos, ou seja, quando atingem 3/4 da leitura
inicial (Yn >3/4 Yo).

140
Os cálculos de condutividade hidráulica pelo método de poço seguem a equação
de Ernst, apresentando variações de acordo com as características da camada do solo.

Solos homogêneos e com camada impermeável muito abaixo do fundo do poço:

, em que H é a distância entre o nível do lençol freático e o

fundo do poço (cm), r é o raio do poço (cm), Y é relativo ao intervalo de medição da


distância do nível de água do poço ao nível do lençol freático (cm), ΔY é a variação do
nível de água no poço (Yn - Yo) (cm) e Δt é o intervalo de tempo mesurados em função
da altura (s).

Solos homogêneos com a camada de fundo sobre a camada impermeável:


.

Solos heterogêneos com duas camadas – nesta técnica são realizadas a


escavação de dois poços em duas camadas distintas, resultando em dois valores de
condutividade (k1 e k2): .

3.1.4 Método do poço seco


O método do poço seco segue a mesma metodologia aplicada no teste do poço ou
furo do trado (Auger-Hole), mas em casos de ausência de lençol freático. Diferentemente
da maioria dos testes, essa técnica não leva em consideração as características do solo,
pois assume que são constantes, e que o solo é homogêneo e poroso.

Neste caso, adiciona-se continuamente água no poço, mantendo uma coluna


constante, abaixo da qual ocorre infiltração da água no solo. Quando as taxas de
infiltração se tornam constantes, ocorre a saturação do solo, permitindo a avaliação da
condutividade hidráulica.

Infelizmente, o teste apresenta resultados muito variáveis, além de utilizar


grandes volumes de água, sendo usualmente utilizado para fins de pesquisa, do que
necessariamente em projetos de drenagem.

3.1.5 Permeâmetro de Guelph


O permeâmetro de Guelph foi desenvolvido por Reynolds e Elrick (1983), na
Universidade de Guelph, no Canadá. O permeâmetro é formado por um conjunto de
tubos transparentes e graduados, tendo como principal elemento o frasco de Mariotte
que mantém uma carga constante de água no meio poroso. Além da condutividade
hidráulica, permite a medição do potencial matricial de fluxo e do parâmetro da extensão
capilar macroscópica (α). O esquema deste equipamento está ilustrado na Figura 13.

141
O permeâmetro de Guelph é um aparelho portátil montado no local designado
para a amostragem. Após a montagem é aberto um orifício com um trado (de 30 a 50
cm de profundidade), onde, posteriormente, será injetado água, a fim de manter a carga
constante. Em seguida, o nível da água no fundo do trado se estabiliza (carga hidráulica
constante) formando um bulbo de saturação de água no solo, denominado bulbo de
saturação. O bulbo formado é estável e sua forma depende das características do
solo. Os resultados do permeâmetro de Guelph são interpretados aplicando a seguinte
fórmula: , em que Q é a vazão do regime permanente (L3T-1),

H é altura da água constante no furo de sondagem (L), a é o diâmetro do orifício aberto


pelo trado no solo, α é estimado por avaliação visual in situ de acordo com a Tabela 1 e
C é o fator de forma (depende da relação H/a e do tipo de solo).

TABELA 1 – VALORES DE α DE ACORDO COM A GRANULOMETRIA DO SOLO

FONTE: Adaptada de Soto (1999).

A utilização deste aparelho é vantajosa por sua rapidez, facilidade de uso e pela
obtenção de resultados estaticamente confiáveis (Figura 13).

FIGURA 13 – ESQUEMA DO PERMEÂMETRO DE GUELPH DEMONSTRANDO A ÁREA SATURADA DO BULBO

FONTE: A autora

142
O permeâmetro de Guelph é um dos principais métodos utilizados para avaliação
da condutividade hidráulica em solos não-saturados, ou seja, solos com condição de
umidade abaixo do teor de saturação. Nessa condição, é possível avaliar a condutividade
hidráulica saturada e não-saturada, deduzidos a partir das zonas de saturação formadas
pelo bulbo ao redor do furo de sondagem.

3.2 POROSIDADE DRENÁVEL


A porosidade total (P) representa a fração do solo que não é ocupada por
constituintes sólidos. Formam espaços preenchidos por ar, sendo inversamente
proporcional ao conteúdo de umidade do solo, ou seja, à medida que aumenta o teor
de umidade, diminui o percentual de gases no solo. A porosidade total influencia a
capacidade de retenção de água no solo, aeração e o enraizamento das plantas.

A porosidade drenável (µ) ou água drenável caracteriza o volume de poros de


um solo que não consegue reter água contra a força da gravidade. Logo, a porosidade
drenável é a quantidade de água drenada quando o teor de umidade cai de um estado
de saturação para uma condição de equilíbrio. A quantidade de poros drenáveis pode
diferir de acordo com o tipo de solo, onde solos argilosos compactados possuem de
1 a 2%, solos estruturados variam de 4 a 8% e solos de areia fina tem de 15 a 20% de
porosidade drenável.

A porosidade drenável é responsável pela drenagem e aeração dos solos,


sendo vital para o manejo e estudo de fluxos hidráulicos. O método de determinação da
porosidade drenável em campo envolve o rebaixamento do lençol freático e da lâmina
da água, sendo considerado uma técnica bastante complexa, demorada e dispendiosa.
As análises em laboratório baseiam-se na teoria da capilaridade, em que as amostras
de solo são saturadas, pesadas e colocadas em funis com placa porosa para serem
submetidos a tensões de 6 a 10 KPa até atingirem a condição de equilíbrio. Depois
de atingida esta condição, as amostras são retiradas do funil para serem novamente
pesadas. Tendo o volume das amostras e os pesos correspondentes à saturação e às
sucções, calcula-se a porosidade drenável segundo a fórmula de Queiroz (1995): µ = θs
– θcc, em que µ significa a porosidade drenável (cm cm-3), θs é a umidade, base volume,
da saturação e θcc é a umidade, base volume na capacidade de campo (cm cm-3).

Também podemos estimar a porosidade drenável em função da condutividade


hidráulica por meio da equação de van Beers: , em que µ indica a porosidade
drenável em % e Ks é a condutividade hidráulica do solo saturado (cm d-1).

Por último, temos o cálculo da porosidade drenável pelo método de Taylor (1959):
, em que fn(Z) é a porosidade drenável do perfil do solo, à profundidade
Z, em relação à superfície (cm3 cm-3), V é o volume (cm3) de água drenado do perfil,
quando o lençol freático passa em Zn-1 a Zn, A é a área de secção da coluna do solo

143
drenado (cm2), Zn é a profundidade final do lençol freático (cm) e Zn-1 é a profundidade
inicial do lençol freático (cm).

4 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE SOLO E PLANTAS


O excesso de água no solo, geralmente, é consequência de elevadas taxas de
precipitação, topografia desfavorável, drenagem natural lenta ou inexistente e projetos
de irrigação mal dimensionados. Como resultado, a água preenche a maioria dos poros
do solo, antes preenchidos com ar. Cada cultura apresenta uma faixa ideal de umidade
para se desenvolver.

Logo, o aumento da retenção de água acima dessa capacidade diminui as taxas


de oxigenação das plantas junto à zona radicular. Essa condição induz as plantas ao
estresse hídrico, pois prejudica os mecanismos bioquímicos e fisiológicos das plantas,
levando à redução no desenvolvimento, e posterior perda de produtividade.

Contudo, não somente as plantas sofrem impactos por causa do excesso


de umidade como também o próprio solo, os quais podem passar por situações de
assoreamento, erosão e lixiviação de nutrientes.

Dessa maneira, diferentes etapas da produção são prejudicadas, desde a


semeadura que podem necessitar de replantio até a colheita. Além disso, o próprio
agricultor é impedido de chegar até a sua lavoura nesta situação, dificultando o trabalho
manual e do maquinário. Nesse contexto, estudaremos separadamente os principais
efeitos desse excesso de água sobre os solos e plantas.

4.1 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE O SOLO


Os solos constituem uma superfície fundamental dentro do manejo agrícola,
pois é a partir dele que acontece todas das etapas de desenvolvimento das plantas e
a grande parte do ciclo hidrológico. O acúmulo de água pode afetar negativamente as
propriedades do solo, tornando essas áreas impróprias para a agricultura. O emprego
de sistemas de drenagem em solos encharcados oferece diversas vantagens para o
melhor uso das terras.

Estudos de condição e suscetibilidade do solo ao encharcamento são


fundamentais para o cálculo de espaçamento entre os drenos e para a definição do
calendário de cultivo das espécies vegetais. Assim, é importante conhecer as principais
propriedades do solo que podem ser afetadas por esse alto teor de umidade.

144
4.1.1 Aeração do solo
A aeração é o processo responsável pela troca de gases entre a atmosfera e
o solo. O acúmulo de água tende a ocupar os espaços porosos do solo, impedindo a
troca gasosa, bem como a difusão e o fluxo de massas. Esse mecanismo diminui a
oxigenação do solo, promovendo a formação de gases fitotóxicos, como o gás sulfídrico
e o gás metano, a partir de organismos que utilizam o nitrato como substrato na
ausência de oxigênio. O déficit de oxigênio impossibilita o desenvolvimento das raízes
e a sobrevivência de microrganismos aeróbicos. Consequentemente, ocorre diminuição
nos processos de nitrificação e desnitrificação dos compostos nitrogenados e redução
da fixação de nitrogênio no solo.

Solos aerados possuem superfícies mais brandas e melhores propriedades de


infiltração. No geral, os solos são considerados bem oxidados quando a concentração
de O2 se encontra acima de 80%, pois a atividade de organismos aeróbicos é suficiente
e estável.

Na agricultura, existem diversas técnicas utilizadas para a aeração do solo,


algumas sugerem abordagens radicais como a remoção total da cobertura com
problemas de oxigenação e posterior restabelecimento. Enquanto outras empregam
métodos mais tradicionais e baratos como o uso de espigão, tampão e aeração líquida.
É interessante notar que muitas dessas técnicas envolvem intensa perturbação e
revolvimento do solo.

4.1.2 Estrutura
O excesso de água preenche os espaços porosos entre as partículas resultando
em um meio saturado. Quanto mais saturado for o solo, menores serão as forças de
coesão, ocasionado uma menor resistência dessas áreas à compressão. Em casos de
intenso tráfego de máquinas ou de animais, ocorre um aumento da aplicação de forças
verticais, levando a significativas mudanças estruturais por causa da compactação do
terreno pelo aumento da densidade do solo.

Tais alterações levam aos seguintes impactos:

• menor permeabilidade do solo;


• diminuição nas trocas gasosas entre solo-atmosfera;
• baixo crescimento radicular das espécies vegetais.

145
4.1.3 Textura
A textura do solo é uma propriedade diretamente relacionada à composição
granulométrica (proporção de argila, silte e areia) e à disposição dos poros no solo,
pois, como mencionado anteriormente, esta propriedade define as competências de
permeabilidade e de retenção de água e nutrientes dos terrenos.

Solos com predomínio de silte e argila tendem a apresentar problemas de


drenagem, pois possuem uma grande capacidade de deposição dessas partículas
em períodos chuvosos, gerando problemas de lixiviação e maior perda de água
por evaporação. Em oposição, solos que possuem teores de argila entre 30 e 35%,
classificados como de textura média, apresentam uma boa capacidade de drenagem
natural e de retenção de água e nutrientes.

4.1.4 Temperatura do solo


De maneira geral, solos bastante úmidos tem uma menor condutividade
térmica e capacidade calorífica, sendo necessário maior quantidade de calor para o
seu aquecimento. Esse menor fluxo de calor é proporcional à redução do gradiente de
temperatura do solo. Baixas temperaturas reduzem os percentuais de decomposição da
matéria orgânica, afetando a disponibilidade de nutrientes para as plantas.

A drenagem artificial permite o aumento da temperatura do solo, garantindo a


germinação e a colheita dentro do prazo estimado para cada espécie cultivada.

4.2 EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA SOBRE AS PLANTAS


Como discutido anteriormente, a alta concentração de água acumulada nos
solos resulta em diversos prejuízos dentro do planejamento agrícola dos plantios. Isso
ocorre, porque as plantas apresentam níveis ideais de tolerância específicos a umidade.
Longos períodos de exposição em condições de excesso de umidade trazem efeitos
deletérios, muitas vezes, irreversíveis de serem recuperados.

Uma das principais características dos solos encharcados ou mal drenados


está na redução ou ausência de aeração e na diminuição da temperatura, sendo
caracterizados como os principais fatores cuja variação pode ser altamente prejudicial
às plantas, sobretudo aquelas em estádio inicial de desenvolvimento.

146
4.2.1 Aeração
A ausência de oxigênio junto às raízes implica em alterações metabólicas e
estruturais desde as folhas até as raízes dos vegetais. Quando expostos por longos
períodos nessas condições, estas alterações podem se tornar irreversíveis levando
a problemas de: crescimento limitado das raízes e partes aéreas, desbalanceamento
hormonal, curvatura e acamamento do caule, epinastia, senescência, clorose e
enrolamento das folhas. Em adição, algumas plantas têm o comportamento de modificar
o padrão de alocação de biomassa do caule e folhas para as raízes. Contudo, esta é uma
estratégia comum de espécies vegetais submetidas a longos períodos de alagamento.
Em contrapartida, as plantas também possuem alguns mecanismos comportamentais
e fisiológicos contra a falta de oxigênio, tais como: redução da atividade fotossintética,
fechamento dos estômatos, crescimento de raízes adventícias e diminuição do
transporte de açúcares.

Em alguns casos, a elevação nos níveis de gás carbônico e o aumento da


atividade dos microrganismos anaeróbicos favorecem a liberação e a produção de
formas potencialmente tóxicas. Entre os principais elementos tóxicos encontrados
estão o cromo, arsênico, manganês e enxofre. Mecanismos anaeróbicos produzem
quantidades consideráveis de etileno, ácido sulfúrico, óxido nitroso, metano, entre outros
ácidos orgânicos voláteis. Esses compostos não apenas prejudicam o crescimento das
plantas como impactam o ambiente como um todo, podendo acumular ao longo da
cadeia alimentar.

Algumas espécies de plantas são consideravelmente tolerantes a solos


inundados e pouco aerados. Como é o caso do arroz, capim panasco, mirtilo, cipreste e
as gramíneas forrageiras pertencentes ao grupo Panicum sp.

No sentido oposto, temos a beterraba-açucareira, a aveia, o pêssego e o trigo


como exemplos de vegetais extremamente sensíveis a situações de aeração deficiente.
Portanto, é importante ressaltar que as respostas adaptativas, bem como os impactos do
excesso de água no solo, variam de acordo com a espécie, estágio de desenvolvimento
e tempo de encharcamento do solo. Em vista disso, conhecer o grau de tolerância
das culturas ao acúmulo de água facilita a escolha da melhor época para o plantio e o
manejo correto dos solos em casos de precipitação intensa.

4.2.2 Nutrientes
Outro fator associado à carência de oxigênio está relacionado à absorção de
água e nutrientes. Isso ocorre, porque, em solos mal drenados, verifica-se a redução da
disponibilidade de nutrientes e a diminuição da permeabilidade da membrana celular
das raízes, dificultando a assimilação de nutrientes e água. Como resultado, as plantas
podem murchar ou desidratar, além de apresentar sintomas de carência nutricional.

147
Além disso, o oxigênio é responsável pelo potencial de oxirredução do solo,
garantindo o equilíbrio do sistema redox de diferentes elementos (carbono, ferro
manganês, enxofre, nitrogênio). Dessa maneira, muitos elementos essenciais se tornam
disponíveis para absorção por meio de reações envolvendo a presença de oxigênio.

4.2.3 Temperatura
Outro fator prejudicial para as plantas está nas mudanças de temperatura
ocasionadas pela baixa condução térmica dos solos encharcados. As plantas apresentam
temperaturas ótimas de crescimento cuja faixa ideal varia de acordo com a espécie
vegetal. Baixas temperaturas interferem nos processos de decomposição orgânica, na
disponibilidade de nutrientes e no tempo de germinação das sementes.

A umidade excessiva do solo também facilita o desenvolvimento de agentes


patogênicos, favorecendo o aparecimento de doenças, pragas e fungos. Plantas que
já se encontram debilitadas pela baixa aeração, temperatura e deficiência nutricional
tornam-se extremamente suscetíveis ao estabelecimento de doenças, comprometendo
a plantação como um todo.

148
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os solos são compostos por diferentes texturas, que dizem respeito à proporção
relativa das partículas de argila, silte e areia existentes no solo se são agrupados em
diferentes tamanhos.

• Os valores de condutividade hidráulica (KO) variam de acordo com o tipo de solo,


por exemplo, solos argilosos possuem uma condutividade significativamente baixa
quando comparado a solos de areia bem distribuída.

• O excesso de água no solo traz enormes perdas para a produção agrícola, pois impede
o estabelecimento dos cultivos, dificulta o manejo dos solos e prejudica a aplicação
de insumos.

• O aumento da umidade do solo reduz a capacidade de aeração, a disponibilidade de


nutrientes e a temperatura dos solos, resultando em redução no desenvolvimento
das plantas, principalmente em estádios iniciais.

149
AUTOATIVIDADE
1 Na agricultura, as características do solo são parâmetros importantes para o
estabelecimento das culturas, influenciando na fertilidade, tempo de vida útil do
solo e na rentabilidade, à proporção que evita prejuízos causados por erosão ou
compactação. Na drenagem agrícola, as características do solo são aplicadas na
determinação da capacidade de drenagem dos terrenos e no dimensionamento dos
drenos. A partir desse conhecimento, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) A textura do solo é considerada uma propriedade permanente, porém, não tem


influência direta na capacidade de retenção e perda de água nos solos.
( ) A consistência do solo está relacionada às forças de adesão e coesão das partículas
e se caracteriza pela resistência do terreno a deformação e ruptura.
( ) A estrutura do solo define o padrão de distribuição dos poros no solo, atuando sobre
movimento da água, na disponibilidade de nutrientes e no enraizamento das plantas.
( ) O plantio direto é uma técnica que quando realizada grosseiramente diminui a
resistência do solo à penetração.

Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V - F - F.
b) ( ) F - V - V - F.
c) ( ) F - V - V - V.
d) ( ) V - F - F - V.

2 A condutividade hidráulica consiste na habilidade de deslocamento da água no solo,


tanto em condições de saturação quanto em condições de não saturação, sendo
baseada na Lei de Darcy. De maneira geral, a condutividade hidráulica relaciona-
se com o tipo de solo, sendo considerada uma das principais propriedades físicas
no dimensionamento de drenos para sistemas de drenagem. Sobre a condutividade
hidráulica, analise as afirmativas a seguir:

I- O permeâmetro de Guelph é considerado como um método pouco indicado para uso,


pois é de difícil manejo, oneroso e não gera dados confiáveis.
II- A viscosidade da água, índice de vazios e o grau de saturação do solo são alguns dos
fatores que influenciam na condutividade hidráulica.
III- Solo argilosos possuem uma condutividade hidráulica significativamente baixa
quando comparado a solos de areia bem distribuída.

150
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 As respostas aos impactos do excesso de água no solo sobre as plantas variam de


acordo com a espécie, estágio de desenvolvimento e tempo de encharcamento do solo.
Nesse contexto, longos períodos de exposição a esta condição resultam em prejuízos
considerados irreversíveis de serem recuperados em termos de produtividade. Sobre
os efeitos do excesso de água nas plantas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A beterraba-açucareira, a aveia, o pêssego e o trigo são espécies vegetais


consideravelmente tolerantes a situações de aeração deficiente.
b) ( ) Baixas temperaturas resultam em problemas de acamamento do caule,
epinastia, clorose e enrolamento das folhas.
c) ( ) Em solos mal drenados, a redução na assimilação de nutrientes ocorre pela
redução da permeabilidade da membrana celular do caule.
d) ( ) Panicum sp é uma espécie bastante tolerante a solos inundados e com baixa
aeração.

4 A porosidade é uma característica do solo que varia de acordo com a textura e o


tamanho das partículas, pois formam espaços preenchidos por ar ou umidade do
solo. Em vista disso, a porosidade total influencia na capacidade de retenção da
água no solo, aeração e o enraizamento pelas plantas. Com base nessa informação,
disserte sobre de que forma a porosidade influencia na capacidade de retenção e
fluxo da água no solo

5 Solos encharcados ou mal drenados geralmente caracterizam-se por problemas de


oxigenação e de condução térmica, constituindo os principais fatores prejudiciais ao
desenvolvimento das plantas, sobretudo aquelas em fase inicial de desenvolvimento.
Nesse sentido, disserte sobre de que forma a aeração e a temperatura influenciam no
desenvolvimento dos vegetais em condições de excesso de água no solo.

151
152
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
DRENAGEM SUBTERRÂNEA E DRENAGEM
SUPERFICIAL

1 INTRODUÇÃO
Nós tópicos anteriores, discutimos sobre o papel das propriedades físicas do
solo na capacidade de retenção e transporte da água ao longo de suas camadas. Com
isso, aprendemos porque e como os solos e as plantas são impactadas pela elevação do
teor de umidade. Também, com base na interação dessas características, conseguimos
determinar a melhor forma de se manejar os terrenos de acordo com a época do ano,
tipo de solo e a espécie vegetal a ser cultivada. Diferentes tipos de solos têm respostas
distintas ao excesso de água, logo o método de drenagem também pode ser variável e
adaptado a condição do local.

Os sistemas de drenagem são classificados em drenagem superficial e


subterrânea cujas diferenças se relacionam diretamente com o local onde é realizada a
interceptação e redirecionamento do fluxo de água. Enquanto, na drenagem superficial a
remoção do excesso de água se dá junto à camada superficial, na drenagem subterrânea
essa remoção é realizada em camadas mais profundas, por exemplo, na zona radicular
das plantas. Desse modo, o método a ser aplicado depende muito do objetivo proposto
e diagnóstico do problema da área a ser trabalhada.

Quando a drenagem natural não é suficiente para a remoção do excesso de


umidade do solo, pode-se fazer a implementação de sistemas de drenagem artificial.
Nesse contexto, existem diferentes tipos de sistemas que variam, principalmente, na
disposição dos drenos, atendendo a diferentes características do solo e podendo ser
utilizados tanto sozinhos como em conjunto, com base no tamanho e padrão estrutural
do terreno. Porém, a construção dos projetos de drenagem depende da aplicação dos
cálculos de dimensionamento e espaçamento dos drenos por causa dos diferentes
regimes de drenagem.

Neste tópico, analisaremos como a intensidade das chuvas afetam a direção e


o fluxo de água, em virtude da elevação ou rebaixamento do lençol freático, e quais as
equações são indicadas para aplicação nestas diferentes circunstâncias. Acadêmico,
no Tópico 3, no abordaremos os regimes de drenagem, as equações de drenagem e os
sistemas de drenagem superficial e subterrânea.

153
2 REGIMES DE DRENAGEM
Os cálculos de espaçamento entre os drenos têm como base o movimento
de escoamento da água no solo durante diferentes condições de regime de chuvas,
diferenciando-se em duas situações. No primeiro caso, considera-se o movimento
quando não existe variação do valor potencial total em dado ponto, sendo definido como
regime permanente. Já na segunda situação, considera-se o movimento quando ocorre
variação do valor potencial total com o tempo, sendo então, denominado, como regime
não permanente.

Dessa forma, podemos dizer que o regime de escoamento em direção aos


drenos é classificado em permanente ou variável, enquanto a direção do fluxo para os
drenos é do tipo horizontal, vertical e radial.

2.1 REGIME CONSTANTE OU PERMANENTE


No regime constante, o lençol freático permanece inalterado durante eventos
de precipitação. Isso ocorre, porque a quantidade de água que entra no solo é igual a
quantidade que é absorvida pelas plantas, evaporada ou eliminada por descarga (água
que é retirada pelos drenos). Este regime é característico de áreas com chuvas de baixa
intensidade, mas de longa duração (Figura 14).

FIGURA 14 – ESQUEMA DE UM REGIME CONSTANTE DO LENÇOL FREÁTICO

FONTE: A autora

154
Nessa situação, temos como critério específico a recarga (q) que o sistema deve
drenar permanentemente para manter o lençol em uma altura mínima (h) constante.
Dessa forma, o regime permanente caracteriza-se pela invariabilidade do sistema com
relação ao tempo e uma variabilidade com respeito à posição. Por exemplo, pode ser
aplicado em condições que exijam realizar a drenagem de uma determinada lâmina
da água diariamente. Para isso, empregamos a equação de Hooghoudt, descrita no
próximo subtópico.

2.2 REGIME VARIÁVEL OU NÃO PERMANENTE


No regime variável, o processo de drenagem não é capaz de remover o excesso
da água durante períodos chuvosos. Como resultado, ocorre a elevação do lençol
freático, e a capacidade de drenagem é reestabelecida após as chuvas, levando ao
rebaixamento do lençol. Este regime é bastante comum em locais com chuvas de alta
intensidade e curta duração, como nas regiões de clima úmido e subúmido do país
(Figura 15).

FIGURA 15 – ESQUEMA DE UM REGIME VARIÁVEL DO LENÇOL FREÁTICO

FONTE: A autora

Define como critério a altura (m) do nível do lençol freático antes e após o
rebaixamento (h0 e ht) e o tempo de rebaixamento (dias). Logo, os potenciais variam com
o tempo e a posição. Neste caso, utilizamos a equação de Glover-Dumm para calcular o
espaçamento entre os drenos, a qual é descrita no próximo subtópico.

155
3 EQUAÇÕES DE DRENAGEM
O manejo incorreto de projetos de drenagem agrícola pode provocar inúmeros
prejuízos ambientais, econômicos e produtivos. Além disso, o dimensionamento correto
desses sistemas propicia maior rentabilidade e qualidade de vida aos produtores do
campo.

Por isso, acadêmico, é importante que dentro da sua formação como engenheiro
agrônomo aprenda a aplicação das principais equações utilizadas para determinação da
vazão e o dimensionamento dos drenos de acordo com as condições de escoamento da
água e pelas características do solo.

3.1 CÁLCULOS DE DRENAGEM SUPERFICIAL


A drenagem superficial é definida a partir da descarga máxima de escoamento
da água aplicando-se a fórmula de Mulvaney (1951): , em que Q corresponde
à vazão de descarga máxima (em m /s), C é o coeficiente de deslocamento (unidade
3

adimensional), I é a intensidade máxima de precipitação no local (mm/h) e A indica a


área da bacia (ha).

O valor de intensidade das chuvas (I) é calculado pela equação a seguir:


, em que P a precipitação diária máxima (mm) e Tc o tempo de
concentração (em minutos). Já o tempo de concentração (Tc) é indicado pela fórmula:
, em que L se refere ao comprimento percorrido pela água (m)
e H é a diferença de altura entre o ponto mais distante em relação ao ponto de saída da
bacia (m).

Para determinação do coeficiente de escoamento (C), é preciso que o profissional


tenha conhecimento sobre a declividade do terreno, a textura do solo e a cultura agrícola
já estabelecida ou a ser cultivada na área. Com essas informações, é possível consultar
o valor adimensional C na Tabela 2.

156
TABELA 2 – VALORES DE REFERÊNCIA DO COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL (C), COM BASE NA
DECLIVIDADE, TIPO DE SOLO E ESPÉCIE CULTIVADA

FONTE: Adaptada de Batista et al. (2002).

Tomando-se por base os dados da Tabela 2, podemos concluir que a


declividade é o principal fator determinando do coeficiente de escoamento superficial
independentemente do tipo de solo.

3.1.1 Equação de Manning


A equação de Manning é utilizada para o dimensionamento de sistemas com
drenos tubulares ou canais de escoamento permanentemente uniforme.

É determinado a vazão de descarga máxima (Q), sendo desprezado o escoamento


superficial: , em que n indica o coeficiente de rugosidade do
material utilizado no dreno, R é o raio hidráulico, S é a declividade do dreno e A se refere
à área do dreno (m2).

3.2 EQUAÇÕES DE CÁLCULO DE ESPAÇAMENTO ENTRE OS


DRENOS
O cálculo de espaçamento entre os drenos depende do conhecimento sobre
as características do perfil do solo a ser drenado e o regime de chuvas, uma vez que
existem diversas fórmulas que podem ser empregadas para essa finalidade. Essas
equações se dividem em regime ou fluxo de chuvas permanente ou variável.

• Fluxo permannte: Donnan (fluxo horizontal), Hooghoudt (fluxo horizontal e radial) e


Ernst (fluxo vertical, horizontal e radial).
• Fluxo variável: Glover-Dumn (fluxo horizontal) e Boussinesq (fluxo horizontal).

157
3.2.1 Fórmula de Donnan
A fórmula de Donnan foi desenvolvida com base em sistemas de irrigação e é
empregada em condições de fluxo horizontal, regime permanente com lençol freático
constante, solos de características homogêneas e sistemas de drenos paralelos:
, em que L o espaçamento entre os drenos (m), K a condutividade
hidráulica (m/dia), B a altura do lençol freático no ponto médio entre os drenos (m), D
a distância entre a superfície da água no dreno e na barreira (m) e R o coeficiente de
drenagem (m/dia).

Em condições de solos rasos em que os tubos de drenagem se encontrem sobre


a camada impermeável a fórmula é modificada: .

3.2.2 Fórmula de Hooghoudt


Neste caso, são exigidas as mesmas características propostas para a fórmula
de Donnan, com inclusão do fluxo contínuo radial: , em que h
indica a altura do lençol freático no ponto médio entre os drenos (m).

A fórmula pode ser aplicada em sistemas de drenagem subterrânea com drenos


do tipo aberto ou tubulares.

3.2.3 Fórmula de Ernst


A equação de Ernst foi elaborada para ser aplicada em solos que contenham
dois ou mais horizontes cuja fórmula de Hooghoudt não possa ser utilizada.

Essa fórmula assume como princípio geral a divisão das perdas de carga
hidráulica durante o fluxo de água vertical, horizontal, e radial em três componentes:
h = hh + hv + hr, em que h representa a perda total de carga hidráulica e hh, hv e hr
correspondem às variáveis de perda de carga hidráulica por causa dos fluxos de água
horizontal, vertical e radial, respectivamente. Todos os componentes da equação são
expressos em metros.

Assim, podemos representar esta fórmula completa do seguinte modo:


, em que Dv implica na espessura da
camada do solo onde ocorre fluxo vertical (m), Kv corresponde a condutividade hidráulica
da camada do solo com fluxo vertical (m/dia), Kr indica a condutividade hidráulica da
camada do solo em que existe fluxo radial (m/dia), Dr determina a espessura da camada
do solo com fluxo radial (m), α corresponde ao fator geométrico para o fluxo radial (4,2)
e p é o perímetro molhado do dreno (m).

158
3.2.4 Fórmula de Glover-Gumn
Além do fluxo variável horizontal, está fórmula inclui as propriedades de
porosidade drenável e o tempo de rebaixamento do lençol freático até uma profundidade
fixa cujo valor é predeterminado: , em que t significa o tempo de
drenagem, V a porosidade drenável, ho a altura máxima pré-fixada para o lençol freático,
ht a altura assumida para o lençol freático e d é a profundidade do estrato equivalente.

Esta fórmula é indicada para condições em que não existe equilíbrio constante
entre a recarga e descarga de água no solo promovendo oscilação frequente do lençol
freático.

3.2.5 Fórmula de Boussinesq


Esta fórmula é recomendada em situações de fluxo variável horizontal e de
máximo aproveitamento da profundidade real do solo a ser drenado. Seu uso é bastante
aproximado a fórmula de Glover-Gumn, porém sem fluxo radial: .

Maiores profundidades podem gerar um maior espaçamento entre os drenos,


porém com um custo adicional.

4 DRENAGEM SUBTERRÂNEA
A drenagem subterrânea tem como finalidade remover o excesso de água da
camada do solo onde se desenvolvem as raízes das plantas, garantindo níveis adequados
de oxigenação nesse local. Esse método permite regular a umidade do solo, retirar o
excesso de sais em solos de regiões áridas e semiáridas e rebaixar ou manter o lençol
freático em níveis mais profundos. Para melhor diagnóstico e instalação de projetos de
drenagem subterrânea, é preciso ter informações sobre a direção de escoamento do
lençol freático e o gradiente hidráulico. Além disso, esse método de drenagem é dividido
em dois diferentes sistemas:

• sistema de alívio, o qual é formado por drenos dispostos em paralelo à direção do


fluxo de água;
• sistema de interceptação, em que os drenos são organizados perpendicularmente
à direção do fluxo.

A escolha do sistema de drenagem mais adequado pode ser baseada na


aplicação de metodologias diretas, por exemplo, pela instalação de poços de observação
para identificação da profundidade do lençol freático, por meio de equações empíricas
ou por meio de teorias de drenagem. Tomando-se por base essas ferramentas, é possível
obter informações sobre o tipo de solo, volume de água a ser drenada, posição do lençol

159
freático e profundidade do solo. Esses dados serão posteriormente utilizados para o
dimensionado da profundidade e espaçamento entre os drenos.

Os drenos que compõem o sistema de drenagem subterrânea podem ser


classificados de acordo com a função em quatro categorias: lateral, coletor, principal e
emissário. Os drenos laterais têm função de retirar o excesso de água acumulada nos
poros drenáveis, auxiliando no controle do lençol freático. Drenos coletores captam as
águas provenientes dos drenos laterais e os conduzem até os drenos principais, que, por
sua vez, transportam para o emissário. O descarte da água para fora da área cultivada
pode ser feito de forma direta pelo dreno principal, porém em projetos que possuam
drenos emissários; estes últimos são responsáveis por realizar essa função final.

5 DRENAGEM SUPERFICIAL
O sistema de drenagem superficial é o método empregado para a retirada
do excesso de água sobre solos de superfície planas, tendo como objetivo reduzir a
velocidade de escoamento superficial e as perdas por erosão hídrica. Esse sistema se
baseia no processo de drenagem natural cuja metodologia busca seguir os parâmetros
topográficos naturais do terreno.

Tem como princípio captar e escoar o excesso de água precipitadas proveniente


de solos mais elevados por meio de planos de sistematização do terreno. Em áreas de
declive, a drenagem inclui os valores máximos de descarga.

Os principais sistemas de drenagem superficial são do tipo natural, em camalhão


ou terraços, interceptor, drenos rasos e paralelos, espinha de peixe, duplo principal,
agrupamento e por sistematização do terreno. Configurações semelhantes também
podem ser utilizadas em sistemas de drenagem subterrânea.

5.1 SISTEMA NATURAL


O sistema natural consiste no aproveitamento das condições típicas de
drenagem do terreno. Em muitos casos, não existe a necessidade de interferência
humana, porém em algumas áreas do solo podem ser necessário a abertura de valas
que ajudem no fluxo de água (Figura 16).

160
FIGURA 16 – ILUSTRAÇÃO DE UM SISTEMA DE DRENAGEM NATURAL

FONTE: A autora

Esse método se fundamenta no aproveitamento de áreas com depressões


relativamente grandes e profundas, interconectando-as por meio da instalação de
drenos rasos para que conduzam a água para pontos de saída natural do terreno.
É indicado o uso de drenos rasos e com faces laterais pouco inclinadas para não
comprometer as práticas agrícolas

5.2 SISTEMA EM CAMALHÃO


O sistema de camalhão, ou de sulcos (Figura 17), é recomendado para terrenos
úmidos com pouca declividade ou com solos argilosos pouco permeáveis. Neste
modelo, são construídos terraços ou sulcos largos e organizados em sequência, onde
cada ponto de intersecção contém depressões que funcionam como drenos.

FIGURA 17 – EXEMPLO DE UMA CAMALHOERIA UTILIZADA NA CONSTRUÇÃO DOS SULCOSSISTEMA DE


CAMALHÃO

FONTE: <https://shutr.bz/3wieuSE>. Acesso em: 18 mar. 2022.

161
Segundo dados técnicos, os solos que apresentam uma taxa de drenagem
relativamente alta podem conter camalhões de altura máxima entre 15 e 50 cm e largura
de até 300 m. Solos com drenagem média a largura recomendada pode variar de 15 a 30
m. Já nos solos com drenagem lenta e muito lenta, esses valores podem variar de 10 a
20 m e 6 a 12 m, respectivamente. O comprimento dos sulcos não deve ser muito longo,
pois podem ocasionar excesso de umidade nas cabeceiras.

5.3 SISTEMA INTERCEPTOR


O delineamento deste projeto consiste na construção de canais ou drenos junto
à base das encostas para interceptar e conduzir o fluxo de águas oriundas da elevação
do lençol freático ou do escoamento superficial. O propósito desse modelo é captar as
águas em excesso vindas das regiões mais altas para as regiões mais baixas do terreno,
evitando, assim, o acúmulo de água nos pontos mais baixos.

Em geral, os canais são construídos em seção transversal trapezoidal, com


profundidades que variam de 1,5 a 2 m. É considerada bastante eficiente para áreas
baixas que apresentem alto teor de umidade, como observado para várzeas próximas a
encostas (Figura 18 - item a).

5.4 SISTEMAS COM DRENOS RASOS E PARALELOS


Essa estratégia, geralmente, é implementada em solos planos, pouco
permeáveis e que possuam depressões rasas. São construídas valetas ou canais rasos,
todos em paralelo e na direção perpendicular a declividade do terreno, de forma que no
final fiquem organizados ao longo das linhas de plantio. A profundidade das valetas pode
atingir entre 15 e 50 m.

O espaçamento entre os drenos vai depender diretamente da posição que serão


instalados e da quantidade de depressões existentes no terreno (Figura 18 – item b).

5.5 ESPINHA DE PEIXE


Este tipo de drenagem, normalmente, é utilizada em terrenos formados por
depressões estreitas. Drenos coletores são colocados nos locais contendo depressões,
em seguida são instalados os drenos laterais perfurados formando uma linha lateral. Os
drenos laterais coletam a água e conduzem até o dreno coletor, garantindo um sistema
de drenagem dupla.

Esse tipo de método é bastante empregado em sistemas de drenagens


construídos em campos de futebol (Figura 18 – item c).

162
5.6 DUPLO PRINCIPAL
Indicadas para terrenos que apresentam depressões largas. Segue o mesmo
princípio da drenagem espinha de peixe, porém com modificações (Figura 18 – item d).

Diferente do sistema espinha de peixe que é formado por apenas um dreno


coletor, no sistema duplo principal, teremos dois drenos coletores ligados a um conjunto
duplo de drenos laterais.

5.7 AGRUPAMENTO
Agrupamento, ou sistema composto, é quando são instalados diferentes tipos
de sistemas de drenagem em um único terreno. Muitas vezes, são feitas combinações
conforme cada parte do terreno, ajustando conforme a característica ou necessidade do
ponto escolhido. Dessa forma, podemos ter terrenos em que algumas partes acontece
a construção de sistemas do tipo camalhão, enquanto em outras se utilize o método
espinha de peixe, em conjunto, ainda podemos manter áreas com as características
naturais de drenagem.

5.8 SISTEMATIZAÇÃO DE ÁREAS


Consiste no processo de uniformização de superfícies planas por meio de
cortes das elevações e aterro das depressões rasas, tornando a superfície do solo mais
uniforme. Muitas vezes, a sistematização é realizada para melhorar o aproveitamento de
drenagem natural do terreno.

De modo geral, a construção de todos os sistemas irá necessitar de certo grau


de correção do terreno, principalmente na correção de pequenas depressões. Assim,
é comum a aplicação da sistematização antes da instalação de outro tipo de sistema,
conforme se pode verificar na Figura 18.

163
FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE DRENAGEM: A) SISTEMA INTERCEPTOR; B)
SISTEMA DE DRENOS RASOS E PARALELOS; C) ESPINHA DE PEIXE; D) DUPLO PRINCIPAL; E) AGRUPAMENTO

FONTE: A autora

Como podemos perceber, a escolha do sistema de drenagem se relaciona


diretamente às características estruturais dos solos.

5.9 TIPOS DE DRENOS


Um sistema de drenagem pode ser constituído por drenos do tipo aberto ou
canais de terra, fechados ou subterrâneos e do tipo torpedo ou dreno-toupeira.

Os drenos abertos nada mais são que os canais ou valetas construídas tanto
para drenagem superficial quanto para drenagem subterrânea (Figura 19). Têm como
função a coleta e transporte, tendo capacidade de conduzir grandes vazões de água.
Esses tipos de dreno têm como vantagem o baixo custo de construção, fácil manutenção
e permitem a visualização das condições de funcionamento.

Por outro lado, possuem algumas desvantagens relacionadas a ocupação de


grandes áreas, risco de desmoronamento, alto custo de manutenção e dificultam o
tráfego de máquinas agrícolas.

164
FIGURA 19 – IMAGEM DE UM DRENO DO TIPO ABERTO

FONTE: <https://shutr.bz/3N2TEfR>. Acesso em: 18 mar. 2022.

Os drenos fechados são formados por condutos que possuem perfurações ou


aberturas livres, sendo instaladas embaixo da superfície do solo. Esses drenos formam
galerias que coletam e conduzem por gravidade a água subterrânea até o ponto de
descarga. São construídos com materiais como: britas, bambu, tijolos perfurados,
telhas, concreto e tubos de PVC. Têm como vantagem a menor ocupação de espaço,
porém possuem um maior custo de implantação. Por fim, os drenos do tipo torpedo
são construídos em subsuperfície em profundidades que variam de 50 a 70 cm. Como
não apresentam revestimento, sua vida útil é relativamente curta (cerca de um ano).
Os sistemas de drenagem podem ser compostos por apenas um tipo de dreno ou por
uma combinação de ambos os tipos, dependendo da topografia do terreno, tipo de solo,
espécie cultivada e o custo da implantação.

ATENÇÃO
Durante o dimensionamento dos drenos, é necessário levar em
consideração as seguintes características:

• largura do fundo do dreno;


• inclinação do talude;
• profundidade;
• vazão (varia de acordo com o material do tubo).
• velocidade (velocidades menores que 0,3 m/s causam assoreamento
dos drenos por sedimentação de materiais sólidos. Velocidades
maiores 0,9 m/s podem gerar erosão dos drenos.

165
LEITURA
COMPLEMENTAR
SOFTWARE PARA CÁLCULO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA DIÁRIA
PELO MÉTODO DE PENMAN-MONTEITH

J. C. Q. Mariano
F. B. T. Hernandez
G. O. Santos
A. H. C. Teixeira

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar um software que automatiza e


simplifica o cálculo da Evapotranspiração de Referência diária pelo método PENMAN-
MONTEITH de forma a facilitar e padronizar a obtenção direta dos dados para o manejo
da irrigação. O cálculo da evapotranspiração exige um alto nível de abstração em suas
etapas e um conhecimento técnico mais específico. O software pode ser usado como
uma ferramenta de auxílio para pesquisa e extensão desenvolverem seus trabalhos. O
usuário tem a possibilidade de calcular a evapotranspiração diária individualmente ou
em lote.

Palavras-chave: Aplicativo; Manejo da irrigação; Climatologia.

INTRODUÇÃO

A evapotranspiração é a forma pela qual a água da superfície terrestre passa


para a atmosfera no estado de vapor, tendo papel importantíssimo no ciclo hidrológico
em termos globais. Esse processo envolve a evaporação da água de superfícies de
água livre (rios, lagos, represas, oceano, etc), dos solos e da vegetação úmida (que foi
interceptada durante uma chuva) e a transpiração dos vegetais.

Para suprir essa perda de água das plantas para atmosfera é necessário repor
esta água ao solo a fim de garantir um bom desenvolvimento das culturas, de forma
natural (chuva) ou artificial (irrigação).

Entre os métodos disponíveis para se determinar a evapotranspiração de


referência, base para se estimar a evapotranspiração das culturas, a UNESP Ilha Solteira
através da Área de Hidráulica e Irrigação utiliza o método Penman-Monteith (ETo-PM)
(ALLEN, 1998), também a equação utilizada no software proposto.

166
De acordo Santos, Hernandez e Rossetti (2010) a estimativa da
evapotranspiração de referência pelo método de Penman-Monteith, permite ao
irrigante determinar o quanto e quando irrigar sua cultura, possibilitando assim fazer
o uso racional da água. A UNESP Ilha Solteira disponibiliza gratuitamente as variáveis
agroclimáticas diárias coletadas na região noroeste paulista de agosto de 1991 através
do canal CLIMA que pode ser acessado pela URL http://clima.feis.unesp.br, incluindo a
estimativa da evapotranspiração de referência.

Assim, este artigo tem como objetivo divulgar e colocar a disposição dos
interessados um software capaz realizar a estimativa da evapotranspiração de referência
pelo método de Penman-Monteith, em valores diários ou em lote, automatizando e
otimizando este trabalho.

DESCRIÇÃO DO ASSUNTO

O software foi desenvolvido para automatizar o processo da estimativa da


evapotranspiração de referência FAO pelo método de Penman-Monteith (Equação 1),
com a possibilidade de cálculo individual (Figura 1) ou em lote (Figura 2). Na opção
individual, o usuário adiciona os dados manualmente e em lote é possível importar um
arquivo já existente ou informar os dados linha a linha em uma espécie de grid.

Para efetuar o cálculo da evapotranspiração é necessário informar uma


quantidade mínima de fatores de localização e dados climáticos, como: latitude (graus,
radianos), altitude (metros), data, temperatura do ar mínima e máxima, umidade relativa
do ar mínima e máxima, velocidade do vento, altura do anemômetro, radiação global,
radiação líquida, fluxo de calor e pressão atmosférica

(1)

Onde:

• ETo = Evapotranspiração de referência (mm.dia-1) (Allen et al, 1998);


• Rw= Radiação líquida (MJ.m2.dia-1);
• G = Densidade do fluxo de calor do solo (MJ.m2.dia-1); T = Temperatura média do ar
(ºC);
• u2= Velocidade média do vento à altura de 2 m (m.s-1);
• es= Pressão do vapor de saturação (KPa);
• ea= Pressão atual do vapor de água (KPa);
• ∆ = Declive da curva da pressão do vapor (KPa.ºC-1);
• γ = Constante psicrométrica (KPa.ºC-1).

167
O software foi desenvolvido utilizando a linguagem de programação C#, também
escrito como C# ou C Sharp (em português lê-se "cê charp"), é uma linguagem de
programação orientada a objetos, desenvolvida pela Microsoft como parte da plataforma
.NET. A sua sintaxe orientada a objetos foi baseada no C++ mas inclui muitas influências
de outras linguagens de programação, como Object Pascal e Java e o requisito mínimo
para se instalar o software é um computador com Sistema Operacional Windows XP ou
superior e NET Framework 4.

Figura 1. Processamento individual.

Figura 2. Processamento em lote.

168
O tipo de processamento pode ser escolhido no canto superior direito onde se
tem um combobox com as opções “Individual” ou “Lote”. No processamento Individual
o usuário tem a opção de escolher a unidade de medida das variáveis agroclimáticas
antes de se iniciar o cálculo da evapotranspiração de referência.

Por padrão caso o usuário não escolha nenhuma unidade de medida adota-
se: temperatura máxima (ºC), temperatura mínima (ºC), umidade máxima (%), umidade
mínima (%), velocidade do vento (m/s), altura do anemômetro (metros), radiação global
(MJ.m2.dia-1), radiação líquida (MJ.m2.dia-1), fluxo de calor e pressão atmsoférica (KPa).

Se por um acaso o usuário escolher outro tipo de unidade de medida o sistema


automaticamente converte as unidades para as que foram citadas anteriormente, antes
de efetuar o cálculo da evapotranspiração. Independente do tipo de processamento dos
dados é fundamental o usuário informar a data.

O processamento em lote é possível estimar a evapotranspiração em um


período superior há um dia. Neste modo temos um sub-menu que é possível realizar as
operações citadas a seguir:

• Inserir Linha: insere uma linha no grid para que o usuário possa informar as variáveis
agroclimáticas.
• Excluir Linha: exclui uma determinada linha selecionada no grid
• Setar Unidade de Medida: este item abre ao usuário um formulário para que ele
escolha a unidade de medida de cada variável agroclimática representado na Figura
3.
• Importar Arquivo: opção que permite o usuário escolher um determinado arquivo
contendo os dados agroclimáticos.
• Limpar Linhas da Grid: limpa todas as linhas contidas na grid.

Figura 3. Formulário Unidade de Medida.

169
Esta ferramenta tem como alvo principal os pequenos produtores que muitas
das vezes sentem-se carentes por falta de conhecimento técnico para efetuar o manejo
correto de suas culturas. Com está ferramenta, o produtor poderá simplificar o processo
da estimativa da evapotranspiração informando apenas os dados agroclimáticos e o
software que fará todos os procedimentos cabíveis auxiliando na tomada de decisão
correta de quando e quanto irrigar, racionalizando o uso da água. Para o meio científico
padronização de processos, para título de comparação entre outros métodos de
evapotranspiração.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O software proposto é mais uma ferramenta para o manejo da agricultura


irrigada, extremamente útil para usuários de locais que disponham de informações
climáticas, mas não da evapotranspiração de referência, e que poderá ser obtida de
forma simplificada possibilitando o uso adequado da água para irrigação.

FONTE: MARIANO, J. C. M. et al. Software para cálculo da evapotranspiração de referência diária pelo mé-
todo de Penman-Monteith. In: CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM, 21., 2011, Petrolina.
Anais [...]. Brasília, DF: ABID, 2011. p. 1-6. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
item/49551/1/HeribertoCongresso-Irrigacao-2011.pdf. Acesso: 14 fev. 2022.

170
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os regimes de drenagem dependem do comportamento do lençol freático em função


do volume de chuvas, sendo classificados em permanente ou variável.

• Existem diferentes equações que podem ser utilizadas para calcular a drenagem
superficial e o espaçamento entre os drenos, variando de acordo com o regime de
drenagem do solo.

• Os sistemas drenagem superficial pode ser classificada em natural, camalhão,


interceptor, drenos rasos e paralelos, espinha de peixe, duplo principal, agrupamento
e por sistematização.

• Os sistemas de drenagem são classificados em drenagem superficial e subterrânea


cujas diferenças se relacionam diretamente com o local onde é realizada a
interceptação e redirecionamento do fluxo de água.

171
AUTOATIVIDADE
1 As taxas de escoamento e de infiltração da água no solo podem ser influenciadas
pela intensidade das chuvas, caracterizando o comportamento do lençol freático,
segundo diferentes regimes de drenagem. Sobre os regimes de drenagem da água,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O regime de escoamento em direção aos drenos é classificado em fluxos do tipo


horizontal, vertical e radial.
b) ( ) No regime variável, o processo de drenagem é capaz de remover o excesso da
água durante períodos chuvosos, não ocorrendo a elevação do lençol freático.
c) ( ) No regime permanente, a quantidade de água que entra no solo é igual à
quantidade que é absorvida pelas plantas, evaporada ou retirada pelos drenos,
mantendo o lençol freático inalterado durante a ocorrência de chuvas.
d) ( ) A equação de Hooghoudt pode ser aplicada para calcular o espaçamento entre
os drenos em situações de regime permanente.

2 As equações de drenagem têm por finalidade o correto dimensionamento das taxas


de escoamento e espaçamento entre os drenos, sendo adaptadas para serem
aplicadas em diferentes situações. Com base nas fórmulas de drenagem, associe os
itens, utilizado os códigos a seguir:

I- Equação de Donnan.
II- Equação de Manning.
III- Equação de Boussinesq.

( ) Esta equação é utilizada para o dimensionamento de sistemas com drenos tubulares


ou canais de escoamento permanentemente uniforme.
( ) Esta equação é utilizada em condições de fluxo horizontal, regime permanente com
lençol freático constante, solos de características homogêneas e sistemas de drenos
paralelos.
( ) Esta fórmula é utilizada em condições de fluxo variável horizontal e de máximo
aproveitamento da profundidade real do solo a ser drenado.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) III - I - II.
b) ( ) II - I - III.
c) ( ) I - II - III.
d) ( ) II - III - I.

172
3 A drenagem superficial caracteriza-se por possuir diferentes tipos de sistemas de
acordo com as características de fluxo d’água e a morfologia do solo, resultando
em diferentes arranjos dos drenos, os quais incluem desde o espaçamento até a
distribuição dos drenos no solo. De acordo com os sistemas de drenagem superficial,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) O sistema interceptor é utilizado em terrenos formados por depressões estreitas,


onde os drenos coletores são colocados nos locais contendo depressões e em
seguida são instalados os drenos laterais perfurados formando uma linha lateral.
( ) O sistema espinha de peixe tem como propósito a captação das águas provenientes
das regiões mais altas para as regiões mais baixas do terreno.
( ) O sistema em camalhões é construído na forma de terraços ou sulcos largos,
organizados em sequência, onde cada ponto de intersecção contém depressões que
funcionam como drenos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V - F.
b) ( ) F - V - F.
c) ( ) F - F - V.
d) ( ) V - F - V.

4 A drenagem subterrânea tem como finalidade remover o excesso de água da camada


do solo onde se desenvolvem as raízes das plantas, garantindo níveis adequados de
oxigenação nesse local. Os drenos que compõem o sistema de drenagem subterrânea
podem ser classificados de acordo com a função em quatro categorias. Descreva
como é feito o arranjo destes drenos e a relação do fluxo de água entre eles.

5 Os sistemas de drenagem são classificados em drenagem superficial e subterrânea


cujas diferenças se relacionam diretamente com o local onde é realizada a
interceptação e redirecionamento do fluxo de água, sendo o primeiro direcionado
para a remoção do excesso de água se dá junto à camada superficial e o segundo
na remoção junto às camadas mais profundas, por exemplo, na zona radicular das
plantas. De maneira sucinta, explique as principais diferenças entre sistemas de
drenagem superficial e sistemas de drenagem subterrânea.

173
174
REFERÊNCIAS
BATISTA, M. J. et al. Drenagem como instrumento de dessalinização e prevenção
da salinização de solos. 2. ed. Brasília, DF: Codevasf, 2002.

BRADY, N. C.; RAY, R. W. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3. ed.


Porto Alegre: Bookman Editora, 2013.

LEMOS, R. C. de; SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de solo no


campo. 3. ed. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – Centro Nacional de
Pesquisa de Solos, 1996. 83 p.

MARIANO, J. C. M. et al. Software para cálculo da evapotranspiração de referência


diária pelo método de Penman-Monteith. In: CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO
E DRENAGEM, 21., 2011, Petrolina. Anais [...]. Brasília, DF: ABID, 2011. p. 1-6.
Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/49551/1/
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MULVANEY, T. J. On the use of self-registering rain and flood gauges in making


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18-32. (v. 4, part 2). Disponível em: https://digitalcollections.tcd.ie/concern/parent/
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REICHARDT, K.; TIMM, L. C. Solo, planta e atmosfera: conceitos, processos e


aplicações. 3. ed. Barureri: Editora Manole, 2016.

REYNOLDS, W. D; ELRICK, D. E. A reexamination of the constant head well


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