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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS PARA ESTIMAR A EVAPOTRANSPIRAÇÃO

POTENCIAL EM DUAS LOCALIDADES DE MINAS GERAIS

Iulo Pessotti Moro, Bruno Camata Andreon, Lunalda Aparecida Vaz Pola,
Cassia dos Santos Azevedo, Roberto Avelino Cecílio, Sidney Sara Zanetti

Universidade Federal do Espírito Santo/Programa de pós-graduação em Ciências Florestais, Avenida


Governador Lindemberg, 316, Centro - 29550-000 – Jerônimo Monteiro-ES, Brasil,
iulo.floresta@gmail.com, brunocamata@gmail.com, lunaldapola@gmail.com,
cassiasantosa@outlook.com, roberto.cecilio@ufes.br, sidney.zanetti@ufes.br.

Resumo
Os fatores climáticos afetam diretamente a evapotranspiração, influenciando a disponibilidade hídrica
para os cultivos agrícolas e florestais. Por vezes, o cálculo da evapotranspiração demanda diversas
variáveis meteorológicas, sendo necessário que se adequem métodos com o menor número possível
de variáveis e igualmente eficientes para determinada localidade, devido às limitações existentes na
disponibilidade de dados. Com isso, o objetivo deste trabalho foi comparar diferentes métodos de
estimativa de evapotranspiração para duas localidades de Minas Gerais e comparar com o padrão FAO
Penman-Monteith. Assim, foi possível correlacionar as estimativas encontradas pelos métodos de
Priestley-Taylor, Hargreaves-Samani, Thornthwaite e Camargo com o de Penman-Monteith.
Estimativas mais adequadas foram obtidas para os métodos de Priestley-Taylor e Hargreaves-Samani.
Palavras-chave: Penman-Monteith. Hargreaves-Samani. Thornthwaite. Priestley-Taylor.

Área do Conhecimento: Engenharia agronômica – Engenharia Florestal

Introdução

A disponibilidade de água influencia diretamente na produtividade agrícola e florestal, permitindo o


desenvolvimento pleno das culturas quando presente em níveis adequados. Portanto, é necessário
entender a dinâmica da água de acordo com as condições climáticas, em especial o comportamento
temporal da evapotranspiração. De acordo com Allen et al. (2006), a evapotranspiração é a combinação
de dois processos distintos, a evaporação da água na superfície do solo e a transpiração das plantas
através dos estômatos.
A Evapotranspiração Potencial (ETP) caracteriza o poder evaporativo da atmosfera em um
determinado local e época do ano, levando em consideração apenas os elementos meteorológicos
reinantes (temperatura e umidade do ar, velocidade do vento e saldo de radiação). O método de
estimativa da ETP denominado Penman-Monteith-FAO é reconhecido como o mais preciso para
determinação deste elemento. Este método considera fatores físicos do fenômeno de evaporação e
incorpora explicitamente parâmetros fisiológicos e aerodinâmicos (ALLEN et al., 1998).
A desvantagem do uso de Penman-Monteith-FAO está na ampla necessidade de dados
meteorológicos medidos para seu cálculo. Desta forma, a investigação da aplicabilidade de métodos
para estimativa da ETP que demandem menor quantidade de dados climáticos é necessária para
aplicação em regiões onde não há a disponibilidade de todos os dados meteorológicos necessários.
Com isso, este trabalho teve como objetivo comparar valores diários da ETP calculada pelo método
de Penman-Monteith-FAO, com os valores estimados, empregando-se métodos baseados na medição
única da temperatura do ar e na radiação solar, para as condições dos municípios de Três Marias e
Formiga, em Minas Gerais.

Metodologia

Os dados meteorológicos necessários para execução deste trabalho foram obtidos de duas
estações meteorológicas automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizadas nos
municípios de Três Marias (latitude 18º12’03’’ S e longitude 45º27’35’’ O, a 931 metros de altitude) e
Formiga (latitude 20º27’18’’ S e longitude 45º27’14’’ O, a 878 metros de altitude), compreendendo o

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período de 01 janeiro a 31 de dezembro de 2021. Os dados meteorológicos diários utilizados na
presente pesquisa foram: temperatura média, máxima e mínima (ºC); umidade relativa média, máxima
e mínima (%); temperatura do ponto de orvalho média, máxima e mínima (ºC); pressão média, máxima
e mínima (hPa); velocidade do vento (m s-1) e radiação global (kJ m-2).
A classificação climática de Köppen, para Três Marias, é o Aw (zona tropical com inverno seco)
(ALVARES et al., 2013), a temperatura média anual fica compreendida entre 21,1 a 26,0 °C, a
precipitação média acumulada anual é de 1.041 mm, com predominância de chuvas no verão. Em
Formiga, o clima é o Cwa (zona subtropical úmida com inverno seco e verão chuvoso (ALVARES et al.,
2013), com temperatura média anual compreendida entre 17,8 a 22,8 °C, a precipitação média
acumulada anual é de 1.266 mm, com predominância de chuvas no verão.
A ETP foi estimada por meio dos métodos de Penman-Monteith FAO 56 (ALLEN et al., 1998),
considerado o padrão de referência, Thornthwaite, Hargreaves-Samani, Camargo e Priestley-Taylor. O
método de Penman-Monteith FAO 56 foi utilizado para testar a estimativa de ETP obtida com os outros
métodos para realizar a comparação, objeto de estudo deste trabalho.
O método Penman-Monteith FAO 56 é sintetizado na Equação 1 (ALLEN et al., 1998).
900
0,408 ∆ (𝑆𝑟 −𝐺)+ 𝛾 𝑇 +273 𝑢2 (𝑒𝑠 −𝑒𝑎 )
𝑚
𝐸𝑇𝑃 = (1)
∆+ 𝛾 (1+0,34 𝑢2 )

Em que: 𝐸𝑇𝑃 – evapotranspiração potencial (mm dia-1); ∆ - inclinação da curva de pressão de saturação
do vapor d’água (kPa ºC-1); 𝑆𝑟 – saldo de radiação (MJ m -2 dia-1); 𝐺 – fluxo de calor no solo (MJ m -2 dia-
1); 𝛾 – constante psicrométrica (0,063 kPa ºC-1); 𝑇 – temperatura média diária (ºC); 𝑢 – velocidade do
𝑚 2
vento medida a 2 metros da superfície (m s-1); 𝑒𝑠 – pressão de saturação do vapor d’água (kPa); e 𝑒𝑎 –
pressão real do vapor d’água (kPa).

Para o método de Thornthwaite (1948), utilizou-se a Equação 2 para temperaturas entre 0 ºC e 26,5
ºC e a Equação 3 para temperaturas acima de 26,5 ºC:
𝑇𝑚 𝑎
𝐸𝑇𝑃 = 16 (10 ) (2)
𝐼

𝐸𝑇𝑃 = −0,43 𝑇𝑚2 + 32,24 𝑇𝑚 − 415,85 (3)

Em que: 𝐸𝑇𝑃 – evapotranspiração potencial (mm dia-1); 𝐼 – índice de calor (calculado com as médias
normais); 𝑎 – coeficiente local empírico.

O método de Priestley-Taylor (1972), dado pela Equação 4, é uma simplificação da equação de


Penman (1948), onde é abordado somente o termo adiabático, multiplicado por um coeficiente que
representa em termos percentuais a contribuição média do termo aerodinâmico da equação de
Penman.
𝑆𝑟 −𝐺
𝐸𝑇𝑃 = 1,26 𝑊 (4)
𝜆𝐸

Em que: 𝑊 – ajuste de acordo com a temperatura do ar; 𝑆𝑟 – saldo de radiação (MJ m -2 dia-1); 𝐺 – fluxo
de calor no solo (0,03 𝑆𝑟 ); 𝜆𝐸 – calor latente de evaporação da água (2,45 MJ kg-1).

Hargreaves & Samani (1985), calculado através da Equação 5:

𝐸𝑇𝑃 = 0,0023 𝑄0 (𝑇𝑚á𝑥 − 𝑇𝑚í𝑛 )0,5 (17,8 + 𝑇𝑚 ) (5)

Em que: 𝑄0 – irradiância solar extraterrestre (mm dia -1); 𝑇𝑚á𝑥 – temperatura máxima diária (ºC); 𝑇𝑚í𝑛 –
temperatura mínima diária (ºC).

Por fim, o método de Camargo, estimado através da Equação 6:

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𝐸𝑇𝑃 = 0,01 𝑄0 𝑇𝑚 (6)

A avaliação dos métodos foi feita pela comparação dos valores de ETP obtidos pelo método padrão
Penman-Monteith-FAO com aqueles obtidos pelos outros quatro métodos, Thornthwaite, Priestley-
Taylor, Hargreaves-Samani e Camargo.
A comparação foi feita por meio de: (a) equação de regressão linear (Y = aX + b), em que Y é a
evapotranspiração obtida pelo método padrão de Penman-Monteith e X é a evapotranspiração obtida
pelo método avaliado; (b) raiz do quadrado médio do erro (RQME), dado pela Equação 7; e (c)
percentual de tendências (PBIAS), dado pela Equação 8.

𝑅𝑄𝑀𝐸 = √(𝑁 −1 ∑𝑁 2
𝑖=1(𝑃𝑖 − 𝑂𝑖 ) ) (7)

∑𝑁
𝑖=1(𝑃𝑖 − 𝑂𝑖 )
𝑃𝐵𝐼𝐴𝑆 = ∑𝑁
(8)
𝑖=1 𝑂𝑖

Em que: 𝑅𝑄𝑀𝐸 – raiz do quadrado médio do erro (mm dia-1); 𝑃𝐵𝐼𝐴𝑆 – tendências (mm dia-1); 𝑁 –
número de observações; 𝑃𝑖 – valores estimados de ETP (mm dia-1); 𝑂𝑖 – valores de ETP pelo método
Penman-Monteith (mm dia-1).

Resultados

A evapotranspiração diária, calculada para a comparação entre os métodos, e as médias anuais,


são apresentadas na Tabela 1 para o município de Três Marias - MG e na Tabela 2 para o município
de Formiga - MG.

Tabela 1 - Valores anuais de evapotranspiração potencial para o município de Três Marias, calculados a partir de
valores diários
Penman- Priestley- Hargreaves-
Thornthwaite Camargo
Monteith Taylor Samani
Média (mm dia-1) 4,47 4,17 2,90 4,13 3,05
Mediana (mm dia-1) 4,34 4,19 2,84 4,10 3,28
Mínimo (mm dia-1) 1,20 1,54 1,11 2,21 1,63
Máximo (mm dia-1) 7,91 7,17 5,13 6,24 4,31
Desvio padrão (mm dia-1) 1,23 1,28 0,87 0,92 0,73
Coeficiente de variação (%) 27,51 30,61 30,02 22,27 23,89
Fonte: os autores.

Tabela 2 - Valores anuais de evapotranspiração potencial para o município de Formiga, calculados a partir de
valores diários

Penman- Priestley- Hargreaves-


Thornthwaite Camargo
Monteith Taylor Samani
Média (mm dia-1) 4,03 4,00 2,80 4,23 2,95
Mediana (mm dia-1) 4,03 3,89 2,79 4,24 3,24
Mínimo (mm dia-1) 1,24 1,44 0,70 1,94 1,25
Máximo (mm dia-1) 6,90 7,29 4,88 6,32 4,38
Desvio padrão (mm dia-1) 1,25 1,37 0,93 0,97 0,83
Coeficiente de variação (%) 30,90 34,24 33,16 22,93 28,01
Fonte: os autores.

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A Figura 1 apresenta os resultados do ajuste de regressão linear dos métodos avaliados
comparados com o método padrão Penman-Monteith para o munícipio de Três Marias – MG, e a Figura
2 para o município de Formiga – MG.

Figura 1 - Equação de regressão linear e coeficiente de determinação para o município de Três Marias – MG

Fonte: os autores.

Figura 2 - Equação de regressão linear e coeficiente de determinação para o município de Formiga – MG

Fonte: os autores.

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A Tabela 3 apresenta os resultados das estatísticas utilizadas para a comparação entre os métodos.

Tabela 3 - Avaliação dos métodos de cálculo da evapotranspiração de referência comparando com o método
padrão de Penman-Monteith para as duas localidades de Minas Gerais
Três Marias - MG Formiga - MG
Penman-Monteith Penman-Monteith
R² RQME PBIAS R² RQME PBIAS
(mm dia-1) (mm dia-1) (mm dia-1) (mm dia-1)
Priestley-Taylor 0,536 0,966 -0,067 0,792 0,626 -0,007
Thornthwaite 0,458 1,813 -0,351 0,618 1,449 -0,305
Hargreaves-Samani 0,493 0,942 -0,077 0,768 0,643 0,049
Camargo 0,242 1,788 -0,319 0,471 1,413 -0,269
Fonte: os autores.

Discussão

A evapotranspiração potencial (ETP) foi calculada pelos métodos de Penman-Monteith padrão FAO,
adotado como o método de referência, e comparado com métodos baseados principalmente na
radiação solar e temperatura, como o de Priestley-Taylor (1972) e Thornthwaite (1948) e mistos como
os de Hargreaves & Samani (1985) e Camargo.
Os métodos de Priestley-Taylor e de Hargreaves-Samani para o município de Formiga foram os que
tiveram o melhor ajuste do coeficiente de determinação na equação de regressão linear, dentre os
métodos e localidades avaliadas (Figuras 2 e 3), chegando a valores próximos dos encontrados por
Alencar et al. (2011) para o município de Montes Claros - MG. Resultados demonstrando desempenhos
semelhantes foram obtidos para o REQM (Tabela 3).
Os menores valores de REQM foram encontrados para os métodos de Priestley-Taylor e
Hargreaves-Samani, para o município de Formiga, enquanto que, para o município de Três Marias,
foram um pouco maiores, estando próximos a intervalos de valores encontrados por outros autores
(Tabela 3), (ALENCAR; SEDIYAMA; MANTOVANI, 2015; ALENCAR et al., 2011).

Conclusão

A partir da análise da raiz do quadrado médio do erro foi possível observar como os demais métodos
se ajustam ao modelo de Penman-Monteith. Obtendo-se os melhores resultados para os métodos de
Hargreaves-Samani e Priestley-Taylor.
Somente o coeficiente de determinação não é um bom indicador para avaliar a eficiência dos demais
métodos, pois uma estimativa precisa pode ter uma variância pequena e ter um erro quadrático médio
grande.
Portanto, é necessário que se avalie o desempenho dos métodos através de outras análises
estatísticas, por exemplo, índice de confiança “c” para avaliar a concordância entre os demais métodos
com o de Penman-Monteith.

Referências

ALENCAR, L. P. de; SEDIYAMA, G. C.; MANTOVANI, E. C. Estimativa da evapotranspiração de


referência (ET0 PADRÃO FAO), para Minas Gerais, na ausência de alguns dados climáticos. Revista
Engenharia Agrícola, v. 35, n. 1, p. 39-50, 2015.

ALENCAR, L. P. de; SEDIYAMA, G. C.; WANDERLEY, H. S.; ALMEIDA, T. S.; DELGADO, R. C.


Avaliação de métodos de estimativa de evapotranspiração de referência para três localidades do
norte de Minas Gerais. Engenharia na Agricultura, v. 19, n. 5, p. 437-449, 2011.

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computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. (FAO. Irrigation and Drainage Paper, 56).
Disponível em: https://www.fao.org/3/x0490e/x0490e00.htm. Acesso em: 07 jul. 2022.

ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Evapotranspiración del cultivo: guías para la
determinación de los requerimentos de agua de los cultivos. Roma: Organización de las Naciones
Unidas para la Agricultura y la Alimentación. 2006. 323 p.

ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.; GONÇALVES, J. L. DE M.; SPAROVEK, G.


Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, n. 6, p. 711-728,
2013.

HARGREAVES, G. H.; SAMANI, Z. A. Reference crop evapotranspiration from temperature. Applied


Engineering Agriculture, v. 1, n. 2, p. 96-99, 1985.

PENMAN, H. L. Natural evaporation from open water, bare soil and grass. Proceedings of the Royal
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PRIESTLEY, C. H. B.; TAYLOR, R. J. On the assessment of surface heat flux and evaporation using
large-scale parameters. Monthly Weather Review, v. 100, p. 81-92, 1972.

THORNTHWAITE, C. W. Na approach toward a rational classification of climate. Geographycal


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