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RESUMO
A literatura recorrente da educação, em particular a Educação de Jovens e Adultos, tem demonstrado um contexto
adverso, os quais estão inseridos os alunos desta modalidade de ensino, notadamente quanto à composição da
faixa etária, cuja tensão no ambiente de ensino tem gerado problema de baixo rendimento escola. A proposta do
trabalho foi identificar os principais fatores que determinam o baixo rendimento escolar dos alunos na Educação
de Jovens e Adultos nas escolas públicas municipais de Belém do Pará. Adotou-se como Metodologia, a Pesquisa
de Campo, que permitiu a aplicação do questionário à população de professores e de alunos de duas escolas
municipais, com abordagem no Método Dialético. Os dados analisados indicaram que os principais fatores que
determinam o baixo rendimento escolar dos alunos na EJA e no MOVA são: a Pouca freqüência do aluno,
chegam atrasados na aula, dificuldade de assimilação, concentração e de entendimento do conteúdo ensinado,
fruto do cansaço do trabalho, constantes conflitos entre os alunos, dada a faixa etária distinta, desequilibrando o
ambiente de ensino. A isto se adiciona a falta de articula da prática docente com as necessidades dos alunos, mais
a falta de formação especifica para lecionar. Constatamos ainda que os principais desafios e perspectivas, os quais
estão inseridos a EJA e do MOVA são de três ordens: o enfrentamento da questão do trabalho; a falta de
articulação entre a formação profissional docente e as demandas específicas dos jovens e adultos; e Ausência de
formação especifica para dar aulas aos jovens e adultos.
ABSTRACT
The applicant literature of education, particularly the Youth and Adult Education, has shown an adverse
environment, which students are part of this type of education, especially on the composition of age, whose
tension in the teaching environment has generated problem low-income school. The purpose of this study
was to identify the main factors that determine poor academic performance of students in the Youth and
Adult Education in the public schools of Belém do Pará. It was adopted as methodology, the Field Research,
which allowed the questionnaire to population of teachers and students from two public schools, with
approach in Dialectical Method. The analyzed data indicated that the main factors that determine poor
academic performance of students in adult education and MOVE are: Low frequency of student arrive late in
class, difficulty of assimilation, concentration and understanding of the content taught, the result of fatigue
work, constant conflicts among students, given the distinct age, unbalancing the learning environment. To
this is added the lack of structured teaching practice to the needs of students, plus the lack of specific training
to teach. We also acknowledge that major challenges and prospects, which are inserted the EJA and MOVA
are threefold: the confrontation of the work involved; the lack of coordination between teacher training and
the specific demands of young people and adults; Absence and training specific to teaching young people
and adults.
CONSIDERAÇÕES INICIAS...................................................................... 08
IV ± PERCURSO METODOLÓGICO....................................................... 65
V ± APRESENTAÇÃO DA PESQUISA...................................................... 68
5.1. RELATOS DOS ALFABETIZADORES E ALFABETIZADOS............ 68
5.1.1. Relatos dos Professores da EJA.......................................................... 68
5.1.2. Relatos dos Professores do MOVA..................................................... 77
5.1.3. Relatos dos alunos da EJA.................................................................. 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 96
REFERÊNCIAS............................................................................................. 99
APÊNDICES................................................................................................... 103
ϴ
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Brasil sempre foi marcado pela disparidade social, cuja uma das razões era o
analfabetismo que vitimava parte significativa da população adulta. Essa situação,
além de ser uma das causas da pobreza, impactava no desenvolvimento econômico do
país, em função da baixa qualidade dos recursos humanos brasileiros. Por conta disso,
era necessário empreender Campanhas e programas que contemplassem e
oportunizasse a educação aos adultos.
Um dos registros das primeiras manifestações para se educar a população
adulta foi no ano de 1930, quando o sistema público de educação elementar começou
a se consolidar. Naquele momento, o país passava por grandes transformações no
campo econômico, cuja base era o aumento da industrialização nas grandes
metrópoles que, em consequência, resultava também no aumento do fluxo
populacional.
Para tanto, em 1938 foi criado o Instituto Nacional de Estados Pedagógicos
(INEP), responsável pelo Fundo Nacional do Ensino Primário, ou educação primária,
incluindo o Ensino Supletivo para adultos e adolescentes.
Após a 2º guerra Mundial, 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU)
alertava os países para a urgência de integrar os povos visando paz e democracia,
exigindo que os governantes educassem as populações que ainda não tinham
ingressado na escola, com destaque aos jovens e Adultos. Anos depois, em 1947, foi
lançada a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), cuja
concepção era que, no primeiro momento, a alfabetização fosse realizada em três
meses e a formação do curso primário em dois períodos de sete meses. Depois
seguiria a etapa de ação em profundidade, voltada para a capacitação profissional e
ao desenvolvimento comunitário.
ϭϵ
Em seus primeiros anos a campanha teve resultados significativos sobre a
direção do Professor Lourenço Filho, renovando e ampliando os serviços existentes.
Naquele momento, especialistas em educação acreditavam que o analfabetismo era
tido como causa, e não a conseqüência da má situação econômica e pobreza pela qual
o país se encontrava. Por essa linha de raciocínio, o adulto analfabeto era visto como
marginal e incapaz de contribuir coma geração de riqueza para o país.
Esta concepção que relacionava educação com a economia mostra que naquele
período a educação aos adultos visava aspectos mercadológicos, já que a escola
servia para formar e qualificar a população para atender as indústrias nascentes no
Brasil, e não com a finalidade de desenvolver de modo integral o sujeito.
Por volta dos anos de 1950 o CEAA sofreu muitas críticas pelos especialistas
da área, visto que o aprendizado pedagógico era considerado superficial e inadequado
para a população adulta da época. Tal que o Ministério da Educação recomendava
método de ensino silábico e as lições partiam de palavras chave selecionadas e
organizadas de acordo com as suas características fonéticas.
A partir dos anos de 1960, o Brasil busca caminhos para mudar a realidade do
modo de se educar, quando foi instituído o Plano Nacional da Educação (PNE) como
a finalidade de desenvolver programa de alfabetização no Brasil. Este Plano teve a
frente o Educador Paulo Freire, o qual construiu os programas a partir dos
IXQGDPHQWRV GD HGXFDomR SRSXODU DQFRUDGD QD ³FRQVFLHQWL]DomR GRV 'LUHLWRV GH
&LGDGDQLD GD SRSXODomR´ RQGH UHFHEHX DSRLR GH HVWXGDQWHV VLQGLFDWRV H YiULRV
outros grupos de diversos setores sociais.
Com o golpe militar, em 1964, os movimentos de conscientização popular
foram interrompidos e seus líderes punidos, inclusive o cacife maior foi exilado, já
que não interessava ao regime ditatorial nenhum tipo de conscientização que
colocasse em risco o poder dos militares. Mesmo com a quebra do processo de
educação, o adulto analfabeto passou a ser concebido como um agente que capaz de
interagir com o meio, de raciocinar e solucionar possíveis problemas em seu
cotidiano. Bastava o educador saber trabalhar tais atributos dos educandos em sala de
aula.
ϮϬ
Para substituir o programa de educação de Freire, em 1970, os militares
lançaram o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), com a finalidade de
acabar com o analfabetismo no Brasil em apenas oito anos. Dentre suas premissas, o
MOBRAL buscava alfabetizar os adultos através de palavras-chave, retiradas do
cotidiano e das experiências de vida do próprio aluno. Para cumprir esse propósito, o
Ministério da Educação concedeu autonomia a essa modalidade ensino, cujo
financiamento contava com volume significativo de recursos.
Ao lado do MOBRAL foi criado o Programa de Educação Integrada (PEI), que
visava oportunizar a continuidade dos estudos aos recém alfabetizados, cujo pando de
fundo desse programa era atingir os analfabetos funcionais: pessoas que dominavam
com muita dificuldade a leitura, a escrita e, certamente, a produção textual. Muito
embora essa modalidade de ensino tivesse se expandido por todo território nacional, o
governo não conseguiu cumprir a meta estabelecida, pois essa política não conseguiu
abranger todas as pessoas analfabetas no país.
Cabe fazer uma análise sobre os fundamentos do MOBRAL que, embora
desenvolvido no governo militar, manteve como base a concepção de Paulo Freire na
educação dos adultos, já que foi valorizado o cotidiano e as experiências de vida do
próprio aluno no processo ensino aprendizagem. De certo, que isso significou avanço
na educação, pois os educadores passavam a ver os educando como sujeito dotado de
saber e de conhecimento, podendo ser peça fundamental na construção do próprio
aprendizado.
Em 1971 foi instituído o ensino Supletivo, onde essa modalidade recebeu
tratamento especial, pois ganhou estatuto legal no campo da educação, sendo
formalizado juridicamente na Lei n. 5.692/71, cujo art. 24 previa: que o supletivo
tinha que suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos, os quais não
tivessem concluído os estudos na idade correta. Nesse tipo de ensino, nota-se a
preocupação com o analfabetismo da população adulta, a qual contribuía para
engrossar as estatísticas da população sem estudo no Brasil.
Com o fim da ditadura militar em 1985 e a perspectiva da redemocratização do
país o acesso a educação foi colocado na agenda das autoridades da época, em função
Ϯϭ
das eleições as quais eram pleiteadas pela população e, para tal, o voto era necessário.
Para tal a própria legislação abriu precedente para que os analfabetos pudessem votar,
com a promulgação da Emenda Constitucional n. 25, de 15 de maio de 1985,
regulamentada pela Lei 7.332, de 1º de junho de 1985, embora o art. 14 da
&RQVWLWXLomR )HGHUDO GH GLJD TXH ³R YRWR VHMD DOJR IDFXOWDWLYR DRV FLGDGmRV
DQDOIDEHWRV´
Esse direito de voto representou símbolo de cidadania naquela época e, com
essa conquista, seguiu a necessidade de a população adulta adentrar na escola, com
vista a aprender a ler e a escrever. É justamente nesse contexto de democratização do
país e de conquistas sociais que o Brasil se volta para a população adulta e sem
escolaridade.
Para atender essa população, por volta do ano de 1985, foi criado a Fundação
Nacional de Educação de Jovens e Adultos ± a Fundação Educar. No governo José
Sarney essa Fundação, embora mais democrática, não contou com os mesmos
substanciais recursos do Mobral, o que dificultou a abrangência dessa modalidade de
ensino.
Em 1988 foi instituída a Educação de Jovens e Adultos (EJA), proposta na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em 1996, n. 9394/96. Essa modalidade de
ensino nada mais foi do que a retomada do movimento de alfabetização idealizado
por Paulo Freire em 1962. A EJA visava não apenas alcançar a alfabetização, mas
também tinha como meta oportunizar aos alunos o ingresso no ensino médio, como
forma de abranger o exercício da cidadania para alguns milhares de indivíduos que
constituíam essa população.
Tal que Medeiros (2005, p. 11) comenta:
Trata-se de milhões de jovens e adultos que, apesar de todos os esforços que vêm
se efetivando nas várias esferas de governos, ou não, continuam à margem da
escola ou dentro dela, porém sem aprender; ou se aprendem não sabem o que fazer
com o que aprenderam em seu processo de escolarização, como efeito da obrigação
de estudar conteúdos sem significação para suas vidas.
Grosso modo, o acesso a educação é fator fundamental para que o ser humano
possa realizar na vida, ainda mais quando estamos inseridos em uma sociedade de
consumo e que valoriza a posse de bens materiais. Compra quem tem posses! Outro
ponto que exige educação é a competitividade imposta pela sociedade capitalista, que
exige recursos humanos altamente qualificados. Enfim, isso, entre outras imposições
do regime vigente exige certo tempo de estudo, sob condição dos sem educação
ficarem excluídos do processo de produção de riqueza e da própria sociedade. Isso é
mais patente dentre a população de jovens e adultos, por representar a faixa etária que
mais pode contribuir com o desenvolvimento do País.
De fato, se por um lado, o acesso a educação pode ser considerado como
sinônimo de cidadania e desenvolvimento pessoal/humano, por outro, a educação
representa direito de acesso ao mercado, com vista a melhorara suas condições de
vida e de bem estar. No entanto, para essa realização, não basta apenas o jovem e o
adulto terem acesso a escola, mas que a educação seja plena, a ponto de o aprendiz se
tornar funcional, tendo um entendimento critico sobre a leitura e sobre o que vê.
Os sujeitos que compõe a EJA, mais que entender que o acesso ao
conhecimento escolar é uma questão de direito, são carentes de uma ação pedagógica
adequada com o perfil dessa clientela especial, em detrimento de uma metodologia
que apenas reproduza o que a grade curricular recomenda para o ensino regular. Para
esse atendimento, o educador tem que olhar de maneira diferente para os alunos da
EJA, despindo-se de ideias pré-concebidas e de preconceitos, os quais se tornam
fatores que dificultam o desempenho do trabalho pedagógico. Esses empecilhos são
resultados de o docente não dar o verdadeiro tratamento que a EJA merece, quanto as
especificidades dessa modalidade de ensino.
Ϯϱ
Estudos mostram que o homem tem dificuldade de se transformar ou de
modificar hábitos, costumes e tradição. No campo da educação essa peculiaridade
não é diferente, pois a própria formação docente, aliada a filosofia de vida e de
mundo, impede o educador a mudar ou agregar novos elementos na sua prática
docente, o que influencia no ensino e aprendizagem da EJA. Mais que aplicar
conteúdos, a partir da valorização do conhecimento prévio dos alunos, o sucesso da
EJA depende da isenção de um importante componente: O dialogo. Tanto que Paulo
Freire, (1992, p. 73-74) explica:
O que se pretende com o diálogo não é que o educando reconstitua todos os passos
dados até hoje na elaboração do saber científico e técnico. O que se pretende com o
diálogo é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível reação
com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor
compreendê-la, explicá-la e transformá-la.
Essa passagem supracitada mostra que o dialogo tem relação direta com a
problematização do próprio conteúdo e assuntos a serem aprendidos, de maneira a
serem contextualizado com a realidade dos educandos. Sem duvida esse método
freireano gera riquíssima discussão entre professor e aluno, tornando-se homens
críticos do contexto o qual fazem parte.
Pierro e Freitas (1993) consideram que a clientela da EJA seja formada por um
grupo bastante heterogêneo, no sentido de pontos de vistas distintos, visto chegam à
escola com uma gama de experiência e de conhecimentos, adquiridos ao longo da sua
trajetória de vida. Esses autores informam ainda que os alunos dessa modalidade de
ensino façam parte da classe de menor poder aquisitivo, como as donas de
casa/domésticas, operários da construção civil e das fábricas em geral. Enfim, são
jovens e/ou adultos que não concluíram o ensino fundamental de maneira regular ou
continuada.
Esses pensadores consideram ainda que o baixo desempenho da escola pública,
em particular na EJA, seja fruto dos conflitos oriundos das rotinas escolares. Para
reduzir esse empecilho, Pierro e Freitas (1993) prescrevem que a grande sacada é a
construção de um vínculo positivo na escola sendo que para isso, o educador deverá
considerar em seu projeto pedagógico as expectativas, gostos e modos dos alunos.
Ϯϲ
Isso, contudo, exige qualidades docentes, entre elas, a capacidade de solidarizar-se
com os educandos, disposição de encarar dificuldades no processo de ensino
aprendizagem e acreditar que todos são capazes de opinar e de aprender.
Latapí (1985, p. 182) é de opinião que o sucesso da EJA perpassa pelo aspecto
TXDOLWDWLYR GR SURILVVLRQDO GRFHQWH (QWHQGH TXH R ³2 (VWDGR DR FRQWUDWDU
professores, deveria saber reconhecer sua vocação, cujas características são o
entusiasmo pelo trabalho e o desejo de se empenhar em prol das pessoas. Esses
atributos, mais a habilidade pedagógica, garantiriam o prestigio docente junto ao
DOXQDGR´
Segundo pensamento de Rocha (2002), a EJA poderia ser potencializar a
partir da realidade dos educandos, cujo especial ingrediente para a boa aprendizagem
seria a promoção da motivação e o estimulo à curiosidade, despertando no alunado o
interesse e o entusiasmo pelos estudos. Trata-se, segundo o autor, do resgate da
autoestima dessa classe de alunos, uma vez que está atrasada em termos de tempo de
escolaridade, pois essa discrepância de saber, no geral, pode resultar em angústia e no
complexo de inferioridade, inviabilizando qualquer tipo de aprendizado.
Interessante são as ponderações de Freire (1985, p. 261) para com a EJA,
quanto ao ensino voltado para as massas populares. Para esse autor, o educador
deveria explorar dois aspectos principais dos alunos: a) O saber que já possuem,
aumentando sua potencialidade e b) A participação no processo de produção de
conhecimento, que ainda não possui. A lógica, segundo essas aquisições, é de que os
alunos deveriam compensar a sua defasagem de conhecimento, potencializando
àquilo que já concebiam.
Em outro estudo Freire (2006) trabalhou a assimetria de saberes, onde
desenvolveu um projeto de educação, o qual abrangia desde a infância até a educação
de adultos, cujo propósito foi fundamentar mudanças na formação docente. Trata-se
de técnicas educacionais, que pode ser aplicado em todos os graus da educação,
independente da faixa etária. O autor partiu do ponto de que os analfabetos eram
fortemente influenciados por suas falhas na escola e, para compreender essa relação,
mensurou a distinção entre as habilidades dos seres humanos e dos animais,
Ϯϳ
concluindo que: as cartilhas e os conteúdos, ao representar um conjunto de
sinalização gráfica, reduzem o analfabeto mais a condição de objeto do que sujeito
dos mesmos (FREIRE, 2006).
Gadotti (2006) se preocupou com as causas que levam os jovens e adultos a
retomar os estudos e constatou que o aumento da demanda por alfabetização é reflexo
das pressões do mundo do trabalho. Essa relação entre educação e trabalho exige a
LQVWLWXLomR GH XPD ³QRYD HVFROD´ YROWDGD SDUD DWHQGHU HVVD FOLHQWHOD HVSHFLDO TXH
visa ascensão de melhoria nas condições de vida. Acredita este autor que o mundo do
trabalho exige maior escolaridade.
Considera ainda que uma das motivações que levam os jovens e adultos irem à
escola é a sua expectativa quanto a sua melhora nas suas condições de vida, mediante
D SHUVSHFWLYD GH RFXSDomR GH HPSUHJR GH PDLRU UHPXQHUDomR $ILQDO ³R
analfabetismo é a expressão da pobreza, consequência inevitável de uma estrutura
social injusta. Logo, para eliminar o analfabetismo, se teria que eliminar sua causD´
(GADOTTI, 2006, p. 32).
Os alunos da EJA, inclusive, vivem um dilema que é, ao mesmo tempo,
conciliar trabalho e estudo, conforme o seguinte parecer de Abrantes et al. (2008, p.
15):
A entrada precoce no mercado de trabalho e o aumento das exigências de instrução
e domínio de habilidades no mundo do trabalho constituem os fatores principais a
direcionar os adolescentes e jovens para os cursos de suplência. Chegam, inclusive,
com mais expectativas que os adultos mais velhos de prolongar a escolaridade pelo
menos até o ensino médio para inserir-se no mercado de trabalho.
Essa interessante citação mostra que as pessoas são incompletas nos seus
afazeres e nas atividades profissionais, reflexo de uma educação incompleta. A EJA
cumpre esse papel de complementar as lacunas deixadas pela exclusão do ensino
regular.
Abrantes et al. (2008) discute também sobre o repertório cultural dos alunos da
EJA, constituído por uma cultura popular extremamente rico, embora outros nem
tanto, já que são produtos do que a mídia difunde. Essa cultura da qual se fala é
interessante observar que:
[...] Quando falamos em cultura estamos nos referindo ao conjunto de ações,
elaborações, construções, produções e manifestações de um grupo de pessoas, que
se dá por meio e através de múltiplas linguagens e pode ser identificado na forma
de falar, atuar, reagir, pensar e expressar de cada pessoa desse grupo.
Especificamente no caso dos alunos da EJA referimo-nos a uma cultura popular do
fazer, que se aprende fazendo e vendo fazer. Ela possui uma dimensão muito
pragmática, voltada para a ação, que gosta de se movimentar e fazer junto uma
construção marcadamente compartilhada e coletiva (ABRANTES et al., 2008, p.
16).
De acordo com essa passagem, os afazeres do dia a dia dos educandos podem
ser tomados como estratégia de objeto de ensino, valorizando seus saberes e
habilidades prévias, ancoradas na prática da atividade de trabalho. Tratam-se
experiências construídas ao longo da trajetória de vida não apenas no campo da
labuta, pois essa é a mais visível, mas em vários aspectos do cotidiano social, cujo
arcabouço empírico pode se tornar base vigorosa para enriquecer o trabalho
pedagógico docente na EJA. O educador, comprometido com a causa da EJA, pode
instrumentalizar e formalizar os conhecimentos trazidos pelos alunos, de modo a
retratar o conteúdo a ser ensinado.
De fato, Abrantes et al. (2008) sublinham que muitos dos conhecimentos que
fazem parte das atividades de trabalho dos alunos adultos refletem aquilo que a escola
ϯϭ
pretende ensinar. Esses estudiosos propõem a construção de problemas e que
expressem situações relacionadas ao cotidiano do aluno, restringindo as atividades
referentes a realidade do alunado da EJA.
A discussão e reflexão sobre a EJA reproduz a sua própria trajetória histórica,
refletindo duas dimensões bem visíveis, pois ora os autores fundamentam o assunto
pelo aspecto mercadológico, onde o acesso a essa modalidade ensino é visto com
meio de ingresso no mercado de trabalho ou ascensão de uma ocupação profissional.
A outra corrente de pensadores, tendo como expoente Paulo Freire, concebe a EJA
como plataforma para formar cidadãos com consciência de seus direitos, sendo
sujeitos livres e críticos do mundo que o cerca, fruto da valorização da experiência e
dos saberes prévios difusos, construídos ao longo da sua trajetória de vida, no
trabalho pedagógico docente.
O educando passa ser peça fundamental no processo ensino aprendizagem, pois
se torna ator central do processo de construção de conhecimentos e, por outro lado, o
educador se torna agente organizador, articulador, mediador, facilitador do trabalho
pedagógico.
Essa incompletude do ser humano de ser e de fazer levou Freire a dizer que a
educação nada mais é do que uma Teoria do Conhecimento posta em prática. Com
isto ele revelava não apenas a importância do conhecimento na educação, como
também salientava que a visão de conhecimento que o educador tem repercute
diretamente na sua prática pedagógica. Por esse motivo, que freire passa acreditar que
R³FRQKHFLPHQWRQDVFHGDDomR´RXVHMD
É agindo que homens se confrontam com a necessidade de aprender e constroem
conhecimento. Portanto, sendo próprio dos seres humanos agir no mundo, todas as
pessoas são dotadas de conhecimentos, e ninguém é vazio. Embora seja verdade
que as pessoas não conhecem de modo igual e que isto as torna diferentes umas das
outras, esta diferença não justifica nenhuma superioridade, já que sempre será
possível conhecer mais e melhor qualquer objeto do Conhecimento (BARRETO,
1998, p. 61).
ϯϰ
A análise desse trecho permite dizer que Freire considerava que: a) as pessoas
eram incompletas em seus saberes e fazeres e b) Esses mesmos conhecimentos e
saberes são distintos entre as pessoas. Logo, umas pessoas possuem mais
conhecimentos que as outras sobre dado objeto, fato, situação, assunto, etc. Isso
indica que, como o conhecimento não é padronizado entre os sujeitos, então também
o processo de ensino não deve ser padronizado entre os sujeitos, sob condição de os
resultados da educação, em particular da EJA, não surtir o efeito esperado.
No entanto, a praticidade desses ensinamentos tinha como obstáculo o próprio
modelo dominante de educar, o modelo autoritário, fundado em conteúdos pré-
elaborados e onde o professor era o centro dos conhecimentos, o qual não permitia
OLEHUGDGHGHSHQVDPHQWRDRVHGXFDQGRV3RULVVR)UHLUHDILUPDYDTXH³$HGXFDomR
autêntica não se faz de A para B sobre A, mas de A com B, mediatizados pelo
mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou
SRQWRVGHYLVWDVREUHHOH´%$55(72S
Para tanto, o diálogo mais que um instrumento do educador significa uma
exigência da natureza humana. Assim sendo, cabe ao educador não falar ao
educando, sobre sua visão de mundo ou lhe impor esta visão, mas dialogar com ele
sobre a sua visão e a dele. Sua tarefa não é falar, dissertar, mas problematizar a
realidade concreta do educando, problematizando-se ao mesmo tempo. Verifica-se,
nesse ponto, a relação dialética de Freire como ancora para a construção de novos
conhecimentos, fruto da participação efetiva dos educandos na prática de ensino
aprendizagem.
A apropriação do dialogo como estratégia de ensino se torna um componente
YLJRURVR GR TXH )UHLUH FKDPD GH ³3URIHVVRU SURJUHVVLVWD´ IRUPD R TXDO HQFRQWURX
para fazer frente ao professor reacionário e que é adepto a tradicional educação.
Freire considerava haver uma abissal diferença entre essas duas categorias de
professores quanto à compreensão de ensinar, se coerentes consigo mesmos, na
SUiWLFDGHHQVLQDUSRLV³$FRPSHWrQFLDFLHQWtILFDQHFHVViULDLQdispensável ao ato de
ensinar, jamais é entendida pelo professor progressista como algo neutro
ϯϱ
politicamente. Temos de nos indagar a favor de quem e de que se acha nossa
FRPSHWrQFLDFLHQWtILFDHWpFQLFD´%$55(72S
E Freire ainda continua comentando que:
[...] Ensinar, numa perspectiva progressista, não é a simples transmissão do
conhecimento em torno do conteúdo, transmissão que se faz muito mais através da
descrição do conceito do objeto a ser mecanicamente memorizada pelos alunos.
Ensinar, do ponto de vista progressista, não pode reduzir-se a um puro ensinar os
alunos a aprender através de uma operação em que o objeto do conhecimento fosse
o ato mesmo de aprender. Ensinar só é válido quando os educandos aprendem a
aprender ao apreender a razão de ser do objeto ou do conteúdo (BARRETO,
1998, p. 69).
As propostas de Freire não ficaram restritas apenas a uma escola para serem
colocadas em ação. Em 1960, Miguel Arraes, então Prefeito da Cidade de Recife,
mostrou-se interessado em ampliar a educação popular nas áreas mais pobres daquela
região. Para isto, foi criado o Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP),
tendo a frente vários intelectuais, entre eles Freire, incluindo as classes excluídas ao
apenas da educação, mas de seus direitos de cidadania. Esse movimento tinha caráter
autônomo e com cultura própria, sendo direcionada para a população de crianças,
adultos. Seus interlocutores trabalhavam o teatro popular, como forma de educar e de
conscientizar os envolvidos.
O trabalho de educação popular, a principio, era desenvolvido a partir do
Instituto de Ação Cultural (IDAC), criado por Freire e Elza (esposa), a qual tinha a
finalidade de assessorar práticas educativas relacionadas à educação popular. Esse
trabalho recebeu apoio das camadas populares, paróquias da igreja católica, as
Comunidades Eclesias de Base, influenciadas pela Teologia da Libertação.
ϯϳ
No entanto, durante esse processo, por volta dos anos de 1970, o trabalho de
alfabetização foi interpretado sob a denominação "Método Paulo Freire", onde foi
criada uma cartilha de alfabetização de adultos. Porém, Freire foi contra essa prática,
pois para ele essa cartilha consistia no ensino de mensagens prontas aos analfabetos
e, por isso, considerava que fundo de manipulação.
1DGHIHVDGRSURMHWRUHYROXFLRQiULRGHHGXFDomR³)UHLUHFRQWLQXRXDGHIHQGHU
a sua ideia de construir uma sociedade livre e justa, tendo a educação como
instrumento de sua construção no futuro. Acreditava em um processo educativo que
favorecesse a construção da personalidade democrática, o que exigia a abrangência
GD DOIDEHWL]DomR jV FODVVHV SRSXODUHV´ )(,726$ S $LQGD QDV
informações desse autor, Freire defendia a educação libertadora, forjada nas lutas e
no próprio processo de alfabetização dos sujeitos que se conscientizam de suas
necessidades, dificuldades e possibilidades, sendo capazes de provocar mudanças na
sua realidade social.
Como se observa o MCP se tornou um campo propicio para Freire realizar
suas primeiras experiências no campo da Educação dos Jovens e Adultos (EJA), cuja
alfabetização e educação envolviam um processo mais amplo, a conscientização.
De acordo com Barreto (1998), a alfabetização de adultos foi o campo da
educação privilegiado na prática teórica de Paulo Freire, pois não apenas em Recife,
mas em todo o Nordeste a quantidade de analfabetos era acentuada e as autoridades
da época ignoravam esta dura realidade. Como efeitos disso, os analfabetos eram
impedidos de votar, o que excluía parte considerável de brasileiros de um dos direitos
mais elementares de participação política, o que fragilizava a democracia brasileira.
Pelo visto, Freire apostava no voto popular para mudar a realidade social dos
excluídos, sendo a educação a ferramenta para superar o analfabetismo, em prol de
uma nação mais democrática. Assim sendo, a partir dos trabalhos iniciados em
Recife, Freire marcou definitivamente o seu pensamento na alfabetização na EJA,
permeado por elementos como: o diálogo, conhecimento e experiência prévios,
conscientização política e libertação. Barreto (1998) sintetiza alguns pontos
fundamentais da concepção de Freire sobre a EJA entre os quais:
ϯϴ
- Tomar a alfabetização como consequência de uma ordem social injusta e, portanto,
representa uma questão de natureza social e educacional;
- Compreender que o aprendizado da leitura e da escrita não pode ser feito como algo
paralelo à realidade concreta dos alfabetizandos;
-Tomar a alfabetização como prática de uma teoria do conhecimento; e
- Conceber a alfabetização como um ato criador.
Segundo Barreto (1998) na alfabetização proposta por Freire à análise da
realidade e o aprendizado da escrita formam uma unidade tal qual a teoria e a prática
são inseparáveis. Mostra ainda que, mesmo que os educandos aprendam a ler e
HVFUHYHU SRU H[HPSOR D SDODYUD ³PHVD´ PDV VH QmR IRU LQGDJDGR FRPR p TXH VH
produz este objeto, o aprendizado se torna desconectado do mundo. Freire
argumentava que não existem palavras no ar, a linguagem está absolutamente
conectada, dialeticamente ligada à realidade.
Verifica-se que, no geral, o diálogo problematizador de Freire tinha como base
assuntos do interesse dos aprendizes e que faziam parte da rotina do seu dia a dia,
onde os mesmo eram instigados a pensar. Nos estudos de Fiori (1987) a prática
dialógica de Freire era organizada a partir de 5 eixos, a saber:
a) Levantamento do universo vocabular dos grupos com que se ia trabalhar.
b) Seleção das palavras geradoras do universo vocabular pesquisado.
c) Criação de situações existenciais do grupo, situações que abrem possibilidade de
análise das questões pessoais, regionais, nacionais.
d) elaboração de fichas-roteiros.
e) Confecção das fichas com as famílias silábicas das palavras geradoras.
De acordo com Fiori (1987), o elemento que mais marcou a prática da
estratégia dialética de Freire foi às palavras geradoras de conhecimentos, cujo
procedimento consiste em: selecionar as palavras mais significativas e de preferência
expressões típicas/regionais e, partir de cada uma delas, constrói-se novas palavras,
de modo contextualizado com o mundo dos educandos. Afinal, Freire (1980)
defendia que as palavras geradoras devem e têm que nascer a partir da autonomia dos
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educandos, e não de uma seleção que efetuamos em nosso gabinete de trabalho, por
mais perfeita que o conteúdo seja do ponto de vista técnico.
Em síntese, a aquisição desse aprendizado permite dizer que a proposta de
educação de Freire traz muitas contribuições não apenas para a EJA, como também
para outras modalidades de ensino, visto que, no geral, a educação tradicional está
voltada para atender interesses das classes hegemônicas. Por outro lado, as classes
populares devem se libertar desse julgo, em busca de maior inclusão nos seus direitos
sociais. A educação de base freireana, ancorada no diálogo entre educador, educando
e objeto de estudo é a plataforma para se alcançar sujeitos educados e conscientes de
seus deveres e, em especial, dos seus direitos de cidadania.
Em outro trecho da LDB n. 9.394/96, em seu art. 1º essa Lei reforça que:
A educação para os jovens e adultos deva abranger processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições
de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais (BRASIL, 2001).
Mais que reparar essa divida para com a parcela da sociedade, o atendimento a
EJA depende de a LDB levar em conta as finalidades distintas dessa categoria de
ensino e, por isso, a mesa deve ser tratada em uma área especializada da Educação.
Isso, segundo Freire (1985) é possível, porque existe uma diversidade de paradigmas
dentro da própria alfabetização dos adultos.
Não é por acaso que dados da educação superior apontam que dos 1.698 cursos
de Pedagogia mantidos por 612 instituições nessa modalidade de ensino superior no
Brasil, apenas 15 delas oferecem 27 cursos com habilitação específica para o ensino
de Jovens e Adultos. Essa carência de habilitação para a EJA demonstra a falta de
investimentos e de valorização do profissional dessa modalidade de ensino.
Outra problemática que diz respeito à habilitação específica para a docência é a
questão que afeta a qualidade da educação de Jovens e Adultos, nas redes públicas de
ensino, e especialmente nas escolas do campo, e nos programas organizados por
movimentos, organizações sociais e igrejas, que ainda atuam na alfabetização de
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Jovens e Adultos. Trata-se do número expressivo de educadores não habilitados com
distintos níveis de escolaridade e que, por isso, trabalham em condições precárias de
fundamentação e de domínio dos conteúdos que ensina. Afinal, essa habilitação não é
só uma questão pedagógica, mas uma exigência jurídica da Lei nº 9.394/1996 da
LDB (BRASIL, 1996).
Descrever e/ou fazer uma analise critica da prática vivenciada pela EJA e algo
complexo, cujo um dos aspectos dessa dificuldade é o perfil dos educandos,
constituído por sujeitos de diversas faixas etárias, experiência e histórias distintas, os
quais foram excluídos da educação regular. Nesse sentido, estamos diante de um
grupo heterogêneo, indicando que os alunos desta modalidade de ensino não são
homogêneos nas suas perspectivas. Isto também exige distinção também na prática
docente, como forma de atender as necessidades das diversas categorias de alunos
inseridos na EJA.
A EJA representa um grupo heterogêneo não apenas pela idade, mas porque os
sujeitos têm especificidades, conhecimentos e culturas próprias. Para Velho (2003),
este conhecimento prévio de cada um pode ser o meio para a interação entre
diferentes indivíduos, proporcionando a todos os envolvidos a troca de informações
entre os diferentes grupos etários, incluindo também o professor. Mais que a
interação de conhecimento, este autor destaca que os alunos que chegam à escola são
sujeitos sócio-culturais, com um saber, uma cultura, e também com um projeto de
vida, mais amplo ou mais restrito, mais ou menos consciente, mas, por traz desta
perspectiva, sempre existente o fator experiência de cada um.
Se por um lado o alunado da EJA traz consigo conhecimentos, perspectiva e
projeto de vida, por outro, necessariamente entra em discussão a prática pedagógica,
já que durante o processo pode haver conflito entre o saber do aluno e o
conhecimento a ser ensinado pelo professor. A grosso modo, a prática pedagógica
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representa intenções conscientes, articuladas entre si, numa relação teoria e prática,
com vista a transformar e mudar algo no ambiente escolar.
Perrenoud (1993) discute a prática pedagógica por duas vertentes. A prática
repetitiva, a qual é fundada por lei estabelecida, pelo caráter mecânico e burocrático
que assume a atividade docente. A prática pedagógica reflexiva é marcada pela
presença da teoria e prática, a qual enfatiza o aspecto social dos sujeitos, além de
difundir a reflexão, a criação consciente da sua ação, que busca compreender a
realidade sobre onde os mesmos vão agir.
Gauthier et al (1998) consideram que a prática pedagógica seja algo complexo,
dado os diferentes acontecimentos que se desenrola na sala de aula. Para os autores,
essa complexidade é decorrente do fato de que nesses espaços ocorre um fluxo
contínuo de acontecimentos simultâneos, muitas das vezes influenciando pela
dinâmica empreendida pelo grupo etário da EJA. Nesse ambiente conflituoso, se
torna difícil o professor contar apenas com os saberes das ciências para conduzir sua
ação pedagógica.
3DUDDFRPRGDUFRQIOLWRV7DUGLISSUHVFUHYHTXH³RSURIHVVRUGHYH
considerar a sala de ensino como um espaço prático específico de produção, de
transformação e de mobilização de saberes e, portanto, de teorias, de conhecimentos e
de saber-ID]HU´ 3RU HVWH SULVPD D SUiWLFD SHGDJyJLFD GHYH VHU UHVXOWDGR GD
construção social e inserida na complexidade das diferentes situações da realidade
escolar, de modo específico na EJA.
Não podemos esquecer de que os iletrados, ou àqueles que não tiveram acesso
á educação no tempo normal, é fruto da predominância de classes hegemônicas que,
para se manter no poder, produz desigualdades de todos os tipos, sendo que a
negação a educação é o principal mecanismo para isso (CAVALCANTE;
FLORÊNCIO, 2013). Nesse caso, a EJA é produto da própria história das
desigualdades, tendo como marco a partir do colonialismo e que se cristalizou sob
diferentes formas da ação do capitalismo na sociedade vigente.
Daí nota-se a importância da educação libertadora, proposta por Paulo Freire,
no sentido de tomar a educação como mecanismo para superar e corrigir as
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disparidades sociais. Isto envolve outra questão: os objetivos da EJA. Barcelos (2012)
mostra que, tradicionalmente esta modalidade de ensino sempre foi voltada à formar
para o mercado de trabalho e a instrumentalização dos conteúdos escolares. A
educação deve ser mais abrangente, na perspectiva freireana, pautada na formação
aberta e na diversidade de contextos dos próprios alunos.
Por isso, Barcelos (2012) conclui que a melhora dos indicadores da EJA
perpassa por questões de ordem técnica e instrumental, cuja mudança estrutural
signifique: mudança das cargas horárias das disciplinas; dos processos avaliativos dos
conteúdos; da elaboração dos conteúdos, considerando a realidade dos educandos;
diminuição da quantidade dos trabalhos a serem feitos fora do horário das aulas; e
colocar aulas em dias alternados.
Nota-se que, até agora, não enveredamos pela questão docente, quanto a sua
qualificação no trabalho com os alunos da EJA. Estudos mostram que esta
modalidade de ensino tem como uma das características a presença de educador sem
qualificação especifica, ou seja, o professor leigo, como denomina Stahl (1996). Essa
autora argumenta que a formação e qualificação docente devem atender às exigências
da sociedade atual, em termos de conhecimentos, comportamentos e atitudes,
incluindo ai o professor leigo, como forma de solucionar a crise na educação
brasileira.
Outra questão que não pode deixar de ser cogitada é quanto o horário de
atendimento da EJA. Carvalho (2000) parte do pressuposto de que o ensino noturno é
direcionado para os sujeitos que trabalham no período diurno, fruto de ações
governamentais cristalizadas em instrumentos burocráticos, as quais derivam da
concepção de Estado vigente, correlacionada com os interesses das classes
dominantes. Ou seja, o próprio Estado, ao se colocar a serviço das classes elitizadas,
determina às condições de acesso a educação, conforme conveniências.
No aspecto acima, o ensino noturno é direcionada para àqueles que - primeiro,
serve as indústrias, empresas e comércios, despendendo energia física e intelectual
durante a jornada de trabalho. Esta mesma atividade é que leva o sujeito ir em busca
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de escolaridade, com finalidade de galgar melhor ocupação e renda, o que sintetiza o
aluno trabalhador.
O desempenho do aluno da noite pode ter explicação em vários elementos,
como: o aluno chega à Escola com fome, cansaço, sono, tem carência cultural, tem
compromissos com o trabalho e com a família. Trata-se de fatores externos ao aluno
que se manifestam no ambiente escolar. Também não podemos esquecer que o aluno
da EJA há tempo está sem estudar e, quando retoma os estudos, o mesmo tem
dificuldade de compreensão e de assimilação dos conteúdos ensinados.
Carvalho (2000) diz que o baixo desempenho do estudante da noite tem relação
direta com o fazer pedagógico, isto é, o educador deixa de estabelecer "ponte" entre o
conhecimento sistematizado da Escola e o conhecimento do cotidiano que o aluno
traz consigo, notadamente quanto aos diversos contextos de atividade de trabalho.
Além do uso do conhecimento prévio do aluno como estratégia no trabalho
pedagógico, este autor recomenda para o ensino noturno:
- Diminuição da jornada de cinco para quatro horas aulas, porém aumentando o ano
letivo.
- Curso de férias para os alunos em recuperação, matrícula progressiva e por
disciplina.
Ainda conforme o autor em questão, o aluno trabalhador aprende na prática,
especificamente através do salário mínimo, organização da categoria de trabalho,
greves, preços das mercadorias e saúde. Carvalho (2000) diz que a Escola faz vista
grossa para estas qualificações, já que o aluno da EJA é produtor da própria
existência, como efeito da aquisição de competências específicas.
Neste aspecto, entre em questão a formação e qualificação docente, o qual
possa contemplar os atributos dos alunos adultos na prática pedagógica. Trata-se de
um profissional que abrace competências e saberes necessários à prática com a
alfabetização ou aprendizagens fundamentais de adultos e jovens trabalhadores, onde
o mesmo deve assumir o papel de mediador no processo ensino aprendizagem. Para
atingirmos este propósito, acreditamos que seja necessária a construção da identidade
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do professor, cuja formação está além das paredes da escola, das abordagens técnicas
e metodológicas das práticas educativas.
Enfim, mais que colocar no centro das discussões a aluno e o educador no
espaço escolar noturno, acreditamos que a melhora dos indicadores da EJA depende
da construção de uma nova Escola; de modo a superar a disciplina, a rotina mecânica,
a formação desvalorizada docente, em prol de uma educação que contemple a
atividade extraclasse como um laboratório vivo de ensino, explorando elementos que
façam parte do cotidiano do aluno. É fundamental conhecer a realidade e os contextos
em que os alunos vivem, subsidiando o educador para que o mesmo possa reelaborar
conhecimentos, com a participação dos mesmos.
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IV ± PERCURSO METODOLÓGICO
Sim, que o desempenho do aluno tem relação com a prática docente, como
observou Paulo Freire (1992) e, por isso, que os conteúdos devem ser desenvolvidos
a partir do conhecimento prévio dos educandos, cujo principal componente neste
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processo é a inserção do Método Dialético. Além disso, os educadores têm que estar
comprometidos com uma prática educativa transformadora e libertadora de inspiração
freireana, em busca de uma alfabetização cidadã, participativa e autonomia, segundo
as criticas de Feitosa (2011).
No entanto outros educadores são positivistas quanto a influencias das praticas
docentes no sucesso de aprendizagem do aluno, pois a mesma atua no sentido de
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na pratica escolaU´ 352)(6625$ % (VVD SUiWLFD WHP PDLRU DSURYHLWDPHQWR QR
rendimento escolar se a aprendizagem for significativa na construção da autonomia
dos educandos, a partir de uma análise criteriosa da realidade vivenciada pelos
alunos, identificando problemas para encontrar possíveis soluções para a superação
dos mesmos; em detrimento apenas da aquisição da leitura e da escrita, como fruto da
memorização de letras e de palavras, segundo análise criteriosa de Paulo Freire
(BARRETO, 1998).
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Não existe discriminação contra o funcionamento da EJA e seus alunos. Temos
observado o respeito a esta clientela tanto por parte dos educadores, como por parte
dos coordenadores, técnicos e direção da escola. Ou seja, os educandos da EJA são
bem acolhidos em sala de aula.
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inicio da aplicação dos projetos e todos os meses a cada 15 dias, em conjunto com os
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GHPDQHLUD³SHULyGLFDRQGHDUHFLFODJHPHIRUPDomRFRQWLQXDGDWrPDILQDOLGDGHGH
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mais bem atender os alunos da EJA. Isso é realizado dentro da concepção de projetos,
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A formação continuada é importante, na media em que os educadores do
MOVA são constituídos por sujeitos sem formação acadêmica e/ou não tem
conhecimento especifico na educação, ou seja, são os professores leigos. Esta
formação pode adotar a proposta Pedagógica da LDBEN do parecer n. 11/00, Cap.
IX, que se funda nos princípios da contextualização e do reconhecimento das
identidades pessoais e das diversidades coletivas. A contextualização se refere aos
modos como os estudantes podem dispor de seu tempo e de seu espaço, levando em
conta a heterogeneidade do público (BRASIL, 2000).
Outro educador constatou que o maior sonho dos alunos que retomam os
HVWXGRV p ³DSUHQGHU D OHU H D HVFUHYHU´ 352)(6625$ % 9HULILFD-se que, nesse
ponto, os alunos adultos tomam o estudo como meio para alcança determinado
objetivo, como poder alcançar melhor ocupação de trabalho e de renda.
Por outro lado, alguns alfabetizadores entendem que os educandos não
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entre os alunos, em função da distinção da faixa etária e das experiências
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Podemos considerar que o embate de idéias no ambiente de ensino faz para do
MOVA, já que o grupo de alunos é composto por várias faixas de idade e, portanto,
possuem pontos de vista distintos. Por outro lado, o ingresso do aluno no MOVA,
assim como na EJA, certamente é marcado por perspectiva de aprendizagem, de
crescimento, de melhor oportunidade de trabalho e melhores condições de vida.
No entanto, para essas perspectivas se concretizarem, aguçar a curiosidade do
aluno é fundamental nesta questão, pois o educador deve estimular o querer aprender,
como fator de bom desempenho do educando, incentivando a busca de conhecimento.
Para tanto, o alfabetizador deve ir além da mera exploração de cartilhas e dos
conteúdos, já que os mesmos representam apenas um conjunto de sinalização gráfica
e sem sentido para o aprendiz, segundo o pensamento de Paulo Freire (2006).
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998.
FIORI, Ernani Maria. Prefácio. Pedagogia do Oprimido . 17. ed. Coleção O mundo,
hoje, vol. 21. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MELLO, Luiza. Escolas estaduais estão entre as mil piores notas. Jornal O Diário
do Pará. Belém, c. política, p. 4, 06 Ago. 2015.
MEDEIROS, Maria das Neves de. A educação de jovens e adultos como expressão
da educação popular: a contribuição do pensamento de Paulo Freire. São Paulo:
Contexto, 2005.
I. PERFIL SOCIOECONÔMICO
1. Nome:
2. Nível de escolaridade:
3. Tempo de magistério:
4. Tempo na EJA:
7) Qual o fator real (interno e/ou externo) que não permite o bom desempenho dos
alunos da EJA?
11) Descreva um(uns) relato(s) que despertou curiosidade perante os alunos da EJA?
12) Você percebe algum tipo de discriminação por parte de gestores em relação ao
funcionamento da EJA?
13) Que mensagem você daria aos futuros pedagogos que desejam trabalhar com a
EJA?
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APÊNDICE II - Questionário aplicado aos alunos da eja - 1 e 2 totalidade
I. PERFIL SOCIOECONÔMICO
1. Nome: ____________________________________________________________
2. Idade: ____________________________________________________________
3. Origem: ___________________________________________________________
4. Atividade Profissional: _______________________________________________
5. Residência: ________________________________________________________