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RESUMO
ABSTRACT
In the field of early childhood education in Brazil, there is significant progress as regards the
concepts of education, child, childhood; the care-education relationship, the place of play, the
fun and games, toys; family-school relationship, among others. However, in the field of
pedagogical practices and in the field of public policies observed a set of contradictions that
although seemingly insurmountable are directly related to how the Brazilian government is
making possible the early childhood education with an emphasis on expanding the supply of
vacancies in detriment of other essential factors such as the issue of quality of care and
effective investments in the initial training of early childhood professionals, either through
higher education or not. Given the above, it was decided to reflect on the care-educate play in
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Letras, Pedagogia, Especialização em Gestão Educacional, Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação/Unicamp. Diretor Educacional pela Secretaria Municipal de Educação de Campinas. E-
mail: joaoiacanga2@hotmail.com.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho pretende-se refletir sobre a (re)organização dos espaços e dos tempos
da educação infantil – creche, contexto no qual a tríade “cuidar/educar/brincar” constituem-se
foco da pesquisa, articulado ao ideário da pedagogia que privilegia o direito das crianças e
suas infâncias, das relações e experiências que se estabelecem entre as crianças e seus pares e
entre estas e os adultos nos tempos e espaços da escola, que mergulha nas intencionalidades
da educação nos jogos e brincadeiras infantis, na participação das crianças na construção do
conhecimento (FORMOSINHO et al, 2007, ROSSETTI-FERREIRA, OLIVEIRA, 2009).
O artigo ancora-se à teoria histórico-crítica, que valoriza a construção histórica do
homem e sua humanidade, que busca propiciar o diálogo e a participação ampla no processo 107
de construção do conhecimento, intencional e conscientemente para a transformação social
(SAVIANI, 2005; MARSIGLIA, 2011, 2013), logo, na valorização da formação dos
profissionais que atuam na Educação Infantil.
Traz como desafio a reflexão sobre elementos específicos presentes no campo das
experiências e relações entre as crianças entre si e entre os adultos, que processam a partir do
trabalho nas salas de referência, tendo o esforço e o cuidado de dialogar com esse “quadro de
experiências” 62 , com enfoque às produções de conhecimentos sobre as infâncias e da
problematização dos processos organizacionais do espaço-temporal com os bebês e crianças
bem pequenas no cotidiano institucional.
O contexto atual se apresenta sob a égide do capital e dos ideais do neoliberalismo,
realidade promotora de um exacerbado estímulo ao individualismo, ao consumo e ao
imediatismo. Conjectura que reflete nas relações de trabalho e fragiliza o processo de
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Chamo de quadro de experiências as relações que se estabelecem entre as crianças e os adultos permeados
pela organização dos espaços e tempos no cotidiano da instituição de ensino, que resultam em experiências de
produção de conhecimentos pelos sujeitos históricos.
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a
garantia de:
[...]
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos
de idade;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
[...]
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o
ensino fundamental, permitida à atuação em outros níveis de ensino somente quando
estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento do ensino;
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio. (grifos meu).
[...] dos cinco municípios, três optaram por atender somente a uma parcela da
demanda. Uma dessas prefeituras decidiu priorizar as famílias cujas mães
trabalhassem, outra optou pela qualidade, em vez de universalizar o atendimento, e a
última escolheu atender somente a pré-escola, ou seja, crianças de quatro a seis anos.
Vê-se, dessa forma, que há um divórcio entre as Leis que regulamentam a educação
Infantil e aquilo que acontece na realidade. Percebe-se um descompasso entre o tipo
de atendimento que se tem, o número de crianças que são atendidas, os profissionais
que lidam atualmente com tais crianças e os dizeres legais dessa modalidade.
(CARRIJO, 2012, p. 322).
O trabalho com bebês e crianças bem pequenas no tempo e no espaço escolar: olhar(es)
sobre a prática educativa
Que pedagogia(s) pode(m) nos auxiliar na apreensão dos sentidos sobre as infâncias e
as crianças pequenas no sentido de ressignificar o trabalho que se constrói nos espaços e
tempos da creche por diferentes sujeitos? Há outros campos da ciência humana que podem
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O termo “criança-adulto” aqui assume o sentido do duplo protagonismo envolvendo as crianças, as(os)
professoras(es) e auxiliares (agentes de educação infantil e monitoras(es) infantojuvenis, terminologias
utilizadas pela SME de Campinas/SP, no campo de experiências no cotidiano escolar, isto é, nos tempos e
espaços da creche. A inversão da utilização dos termos no feminino se dá pela presença maior do gênero
feminino que atua na educação infantil.
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O nome das professoras participantes da pesquisa foram alterados, assim como as escolas onde atuam, com a
finalidade de preservar a identidade. A pesquisa se deu em duas escolas de EI no município de Campinas/SP,
com objetivo de ilustrar a prática de profissionais que atuam com a faixa etária de 0 a 2 anos de idade.
As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que
sentem, pensam e agem de um jeito próprio desde que nascem. Nas interações que
estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que as
circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem,
compreender a si mesmas, as relações contraditórias que presenciam e, por meio
principalmente das brincadeiras, explicitam suas condições de vida e seus anseios e
desejos. O educador de crianças pequenas necessita desenvolver a capacidade de
observação e de reflexão sobre a prática, alimentadas por informações teóricas para
conhecer a criança.
Realizamos reuniões para discutirmos o que deu certo ou não, fazemos alguns
ajustes.
Sobre as interações entre as crianças, nas reuniões de TDC, podemos combinar entre
os colegas para que ocorram estes momentos.
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A Reunião de Setor é coordenada e dirigida pela professora da sala de regência, junto aos agentes de educação
infantil e monitores infantojuvenis ao menos uma vez por semana. O problema se dá em reunir os educadores do
período da tarde, já que esta reunião se dá no horário da professora. O pessoal do período contrário acompanha
as discussões, geralmente, pelo registro interno.
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Trabalho Docente Coletivo (TDC): espaço formativo que compreende reuniões pedagógicas da equipe escolar
para a construção, o acompanhamento e a avaliação do projeto político-pedagógico da Unidade Educacional e
para as atividades de interesse da Secretaria Municipal de Educação. Ocorre semanalmente, 02 horas/aula
consecutivas como parte integrante da jornada de trabalho docente. O objetivo principal visa à formação em
serviço desses profissionais, sob a coordenação do orientador pedagógico. (Cf. Lei nº 12987 de 28 de junho de
2007, Art 12, a).
A experiência da gestão com os monitores não é muito fácil. Mesmo com reunião de
setor para fazermos nossos ajustes e combinados, há alguns que não cumprem o que
combinamos e há também uma separação e comparação de um período com o outro
(Professora Leda).
Leda, em sua breve exposição sobre a relação com os demais atores, clarifica os
desafios constantes e diversos (“descumprimento de combinados”) que a faixa etária
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Conforme Sardi (2004, p. 112) “O termo infância indica, etimologicamente, aquele que está “sem voz”.
A descrição de saberes das crianças é tido como um trabalho “árduo, não linear” que
sinaliza posturas sérias e transparentes por parte de quem se utiliza desse instrumento de
sistematização dos avanços, vivências e construções culturais das crianças (cf. DINIZ et al.,
2014, p. 78). A autora, tecendo considerações sobre esse assunto, ressalta que:
[...] o trabalho de descrição de saberes das crianças é árduo, não linear. Isso é,
comporta idas e vindas, resistências, mas requer coragem, humildade, transparência
e seriedade profissional (e principalmente disposição, engajamento e
autoconhecimento, pois demanda tempo para análise, reflexão, crítica,
disponibilidade para sair do “comodismo”; pressupõe aprendizagem). (idem,
subidem)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio e a complexidade de tratar desse assunto, como foi exposto na abertura deste
trabalho, alargaram-se sobremodo. Quanto mais nos debruçamos sobre as condições em que
vêm se materializando a organização do trabalho com os bebês e as crianças bem pequenas
nos tempos e espaços da creche, mais cônscios nos tornamos da necessidade de maior
investimento na implementação das políticas públicas e da reinvenção das práticas com e
sobre as infâncias, por mais breve e condensado que tenha sido as condições que permearam a
realização deste trabalho.
As mais variadas produções no campo do conhecimento sobre as crianças e as
infâncias a que se oportunizou ao longo deste trabalho, e a participação de educadoras que
atuam com as crianças pela pesquisa, cooperaram grandemente com a compreensão e
apreensão sobre o trabalho e o sentido das infâncias e suas embricaduras (OLIVEIRA, 2011,
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