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PUC-SP
MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2012
Gabriela Moccia de Oliveira Cruz
MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2012
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
_______________________________
_______________________________
_______________________________
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO
A competência de interesse local (CF, art. 30, I), por não ser explícita em
um rol taxativo, ou mesmo por não ter uma definição clara sobre critérios e limites,
tem se revelado de interpretação controversa. De todo modo, acreditamos que a
falta de definição é, por outro lado, uma forma de preservar a autonomia
municipal, já que dessa maneira pode-se lidar de modo mais flexível com os
interesses locais, que são mutáveis no tempo e no espaço.
Para alguns autores2 a expressão significa que deve haver o interesse local
para que o Município possa legislar de maneira suplementar, ou seja, não há que
se falar em suplemento de legislação federal ou estadual pelo Município quando a
2
É o caso, por exemplo, de Fernanda Dias Menezes de Almeida, que acredita que não há falar-se
em competência concorrente se não houver interesse local. Fernanda Dias Menezes de Almeida,
Competências na Constituição de 1988, p. 139.
11
3
Lesley Gasparini Leite e Ana Thereza Machado Junqueira defendem que em caso de
competência concorrente em matéria ambiental, a lei mais protetiva deve prevalecer. Lesley
Gasparini Leite e Ana Thereza Machado Junqueira, Política Municipal de Meio Ambiente, p. 29.
12
4
A competência legislativa suplementar que nos referimos pode ser própria ou imprópria. Própria
quando tratar de matérias que demandem especificamente a atuação legislativa (CF, art. 24), já a
competência legislativa suplementar imprópria advém da execução de algumas competências
materiais comuns (CF, art. 23) que demandam a produção de leis.
13
5
A respeito do princípio da Subsidiariedade tratam Miguel Carlos Madeiro, Princípio da
Subsidiariedade na Federação Brasileira, José Alfredo de Oliveira Baracho, O princípio da
Subsidiariedade: conceito e evolução, Raul Machado Horta, Federalismo e o Princípio da
Subsidiariedade e José Francisco Cunha Ferraz, O princípio da subsidiariedade no Estado Federal
Brasileiro de 1988.
15
CAPÍTULO 1 – Federação
1.1. Surgimento
6
Dalmo de Abreu Dallari discorre que “o estado federal é uma criação do século XVIII. Estado
federal corresponde a determinada forma de Estado, criados pelos norte-americanos no final do
século XVIII. As federações que alguns autores pretendem ver na antiguidade, na idade média, ou
nos primeiros séculos da Era Moderna, foram apenas alianças temporárias, com objetivos
limitados”. Dalmo de Abreu Dallari, O estado federal, p. 7.
7
Não podemos nos furtar de mencionar que, a despeito do resultado apresentado, qual seja, o
arranjo federativo - que é o que nos interessa para o desenvolvimento deste trabalho - o processo
para se chegar a isso foi longo, acalorado e tortuoso (a obra Os Federalistas evidencia que esse
arranjo surgiu no seio de uma sociedade cingida que apaziguou suas animosidades a fim de fazer
frente à ex-Colônia, aos demais países e às suas necessidades internas).
8
Alexander Hamilton, Os Artigos Federalistas, artigo n. I, apresentação, p. 96.
17
9
Janice Helena Ferreri, A Federação. In Por uma nova federação, coord. Celso Bastos, p.18.
10
Paulo Bonavides, Ciência e Política, p.143.
18
Dessa forma, concluímos que ambas são espécies do mesmo gênero, mas
a descentralização administrativa diverge da descentralização política, visto que
na primeira ocorre a criação de novos entes jurídicos, sem que surjam novas
pessoas políticas, como é o caso da segunda.
11
Paulo Lopo Saraiva, Federalismo regional, p.19.
12
Ibid., p. 13-15.
19
13
Luís Roberto Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p. 25
14
Moses Finley na sua obra Democracia moderna e antiga, explica a origem da palavra grega -
democracia. A segunda metade da palavra significa poder, ou governo, daí autocracia é o governo
de um homem só, aristocracia, governo pelos aristoi, os melhores, a elite; democracia, governo
pelo demos, o povo. Demos era uma palavra versátil, com diversos significados; entre eles, o de “o
povo como um todo” e “as pessoas comuns”. Moses Finley I, Democracia moderna e antiga, p.33.
15
James Madison, Os Artigos Federalistas, artigo n. X, p. 137.
20
Para esse autor federalista, a república ajusta a voz pública de modo que
os representantes do povo, chamados para essa tarefa depurariam e ampliariam a
opinião do povo. É nesse ponto que a Federação americana ganha fortes
contornos democráticos, ou seja, a possibilidade de um governo forte, mas ao
mesmo tempo descentralizado e representativo, e por isso mais próximo da
realidade dos cidadãos.
16
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileiro, p. 20-21.
21
para o federalismo cooperativo, que sugere uma atuação conjunta da União com
os estados.
17
Luís Roberto Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p.3.
18
Paulo Bonavides, Ciência e Política, p.136.
22
Entendemos adequada a visão dos autores, visto que com os dois outros
elementos de identificação (Constituição Federal e proibição de secessão),
buscam distinguir o Estado federal da Confederação (que não é forma de Estado).
19
Dalmo de Abreu Dallari, O estado federal, p.10-20.
20
Fernanda Dias Almeida de Menezes, Competências na Constituição de 1988, p. 10-16
21
Paulo Lopo Saraiva, Federalismo Regional, p.13.
23
25
Cabe reforçar que não há, contudo, uma relação de causa e efeito intransponível entre
Federação e democracia, como é o caso, por exemplo, da Bélgica.
26
Janice Helena Ferreri, A Federação. In Por uma nova federação, coord. Celso Bastos, p. 16.
25
27
Luís Roberto Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p.24.
26
28
Esther Bueno Soares. União, Estados e Municípios. In Por uma nova federação, coord. Celso
Bastos, p.81.
29
Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de 1988, p. 14.
27
Vale lembrar que a Constituição não se apresenta para outros autores que
tratam do tema como característica da federação. De todo modo, a importância da
Constituição para a federação é inegável, visto que é a base legal que garante a
união entre os entes federados.
30
Celso Ribeiro Bastos. A Federação e o Sistema Tributário. In Por uma nova federação, coord.
Celso Bastos, p.96.
31
Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de 1988, p. 12.
28
Na federação, por sua vez, o instrumento jurídico designado para ser base
legal da união entre os estados é a Constituição.
32
Dalmo de Abreu Dallari, O estado federal, p. 16
29
33
José Roberto Anselmo, O papel do Supremo Tribunal Federal na concretização do Federalismo
Brasileiro, f. 145.
30
34
João Camilo de Oliveira Torres. A formação do Federalismo no Brasil, p. 151.
35
Pontes de Miranda, Comentários à Constituição de 1967. Tomo III (arts. 1º - 7º).
31
de um Estado unitário, como foi o caso brasileiro, que seguiu seu próprio curso
histórico.
36
Manuel Correia Andrade e Sandra Maria Andrade, A Federação Brasileira: Uma análise
geopolítica e geosocial, p. 10-13.
37
Os municípios, apesar de terem encontrado algum espaço no Brasil Colônia, foram uma
implantação aos moldes de Portugal. Para José Afonso da Silva, “nas zonas de exploração
agrícola, floresceu uma organização municipal, que teve profunda influência no sistema de poderes
da colônia. O Senado da Câmara ou Câmara Municipal, constituiu-se no órgão do poder local. Era
composto de vários ‘oficiais’, à imitação do sistema de Portugal. Seus membros eram eleitos dentre
os ‘homens bons de terra’, que, na realidade, representavam os grandes proprietários rurais. Assim
foi na zonas açucareiras. Mas, nas zonas pastoris e mineradoras, essa organização municipal não
encontrou condições para prosperar, salvo no fim da colônia com a decadência da mineração e
32
maior estabilidade populacional”. José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional positivo, p.
72.
38
Celso Ribeiro Bastos, A Federação no Brasil, p.38-39.
33
Art. 167 – Em todas as cidades e vilas ora existentes e nas mais, que
para o futuro se criarem, haverá Câmaras, as quais competem o Governo
econômico e municipal das mesmas vilas e cidades.
Em suas palavras:
39
Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, p. 74.
40
A.C. Tavares Bastos, A província, p.21-22.
41
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileiro, p.31
35
42
José de Castro Nunes, Do Estado Federado e sua Organização Municipal, p.68.
36
Desse poder conferido aos estados, institui-se uma política entre estados e
União conhecida como política dos governadores, e entre estados e municípios a
figura do coronel por meio da política do coronelismo ganha destaque. A política
dos coronéis consiste basicamente em uma troca de favores: o município ganha
benefícios, caso o chefe local apoie os candidatos ao governo do estado. Victor
Nunes Leal ao estudar a figura do coronelismo, explica que:
43
Eugênio Franco Montoro. O município na Constituição Brasileira, p. 38-41.
44
José de Castro Nunes, Do Estado Federado e sua Organização Municipal, p. 122-124.
37
Manuel Correia Andrada alerta para mais uma questão relevante: esse
elevamento gracioso das províncias a entes federados aconteceu sem levar em
conta o nível de desenvolvimento econômico e cultural de cada uma delas47.
45
Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, p. 43.
46
Celso Ribeiro Bastos, A Federação no Brasil, p.29.
47
Manuel Correia de Andrade e Sandra Correia de Andrade, A Federação Brasileira: Uma análise
geopolítica e geosocial, p.48-49.
38
48
Constituição Alemã de 1910 e Constituição Austríaca de 1920.
49
O federalismo cooperativo pode ser identificado principalmente com as previsões dos artigos 140
e 177 da Constituição Federal de 1988.
50
Celso Ribeiro Bastos, Curso de Direito Constitucional, p.200.
40
51
Manuel Correia de Andrade e Sandra Maria Correia de Andrade alegam que “nesse período os
partidários da centralização procuravam fazer uma redivisão político territorial não só para diminuir
as diferenças de dimensão entre os vários Estados como também com a redefinição de fronteiras
provocar um arrefecimento dos sentimentos nativistas aos Estados”. Manuel Correria de Andrade e
Sandra Maria Correia de Andrade, A Federação Brasileira: Uma análise geopolítica e geosocial, p.
60.
52
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileiro, p.42.
41
53
Raul Machado Horta, A posição do município no direito constitucional federal brasileiro, p.113.
54
Para Gilberto Bercovici “a política durante o período democrático da Constituição de 1946
tornou-se mais abrangente do que até então fora. Com a extensão da cidadania e ampliação do
voto, embora os analfabetos continuassem a não votar, amplos setores inferiores das classes
medias e um contingente respeitável de trabalhadores, pela primeira vez, participaram do processo
político-eleitoral. Foi sob a vigência desta Constituição na década de 50, que a questão regional
ganhou importância no debate político nacional. A política estatal desenvolvida em regiões
problemas, como o Nordeste e a Amazônia, voltou-se no sentido de reduzir os desníveis existentes
entre as varias parte do país. Os vários órgãos criados (como a Superintendência do
desenvolvimento do Nordeste – SUDENE) tinham por função dinamizar as forças produtivas de
suas áreas de atuação e integrá-las ao sistema nacional”. Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado
Federal Brasileiro, p. 42-58.
42
No que diz respeito aos municípios, Celso Ribeiro Bastos56 acredita ter sido
esse o período de renascimento do municipalismo brasileiro onde a expressão
peculiar interesse passa a significar “tudo aquilo que fosse interesse predominante
do município”.
55
Luís Roberto Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p. 48.
56
Celso Ribeiro Bastos, A Federação no Brasil, p. 39.
57
Raul Machado Horta, A posição do município no direito constitucional federal brasileiro, p.11-46.
43
No entanto, a Constituição teve um período curto e por isso não foi possível
identificar avanços ou problemas oriundos da sua forma de organização.
58
Luís Roberto Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p. 49.
44
59
Assim defende Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileiro, p. 51 e Luís Roberto
Barroso, Direito Constitucional Brasileiro: o problema da Federação, p. 51.
45
Não exatamente como desejava Celso Ribeiro Bastos, mas com grande
evolução e ineditismo, a Constituição de 1988 modificou a posição do Município61
no arranjo federativo brasileiro, visto que a sua inclusão como parte integrante da
Federação, reconheceu a sua capacidade de auto-organização e a ampliação de
suas competências.
“Essa é uma tese equivocada, que parte de premissas que não podem
levar à conclusão pretendida. Não é porque uma entidade territorial tenha
autonomia político-constitucional que necessariamente integre o conceito
de entidade federativa. Nem o Município é essencial ao conceito de
federação brasileira. Não existe federação de Municípios. Existe
federação de Estados. Estes é que são essenciais ao conceito de
62
qualquer federação.”
60
Celso Ribeiro Bastos, A Federação no Brasil, p.45.
61
Como alertamos inicialmente, passaremos, daqui para diante, a utilizar letras maiúsculas para
nos referirmos ao entes federados de modo concreto (União, Estados e Municípios) em
consonância com o Texto Constitucional em vigor.
62
José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo, p. 474-640.
46
caso não é a de intervenção federal, mas estadual, o que, de acordo com o autor,
ratifica que os Municípios continuam a ser divisões político-administrativas dos
seus respectivos Estados-membros, e não da União. Para exemplificar, ele aponta
para a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios que
dependem de lei estadual (CF, art. 18, § 4º).63
Por fim, José Afonso da Silva ressalta que na Constituição Federal existem
onze ocorrências das expressões ‘unidade federada’ e ‘unidade da Federação’ (no
singular e no plural) referindo-se apenas aos Estados e Distrito Federal, nunca
envolvendo os Municípios (CF, arts. 34, II,IV e V, 45, § 1, 60, III, 85, II, 132, 159,
§, 2, 225, §, 1, III; ADCT, arts. 13, § 4, e 32, § 9)”.
Na mesma linha José de Castro Nunes defende “que seria absurdo supor
que cada Estado constituísse uma federação em miniatura de base comunal”64.
64
José de Castro Nunes, Do Estado Federado e sua Organização Municipal, p. 73.
65
Fernanda Dias Menezes de Almeida, As competências na Constituição de 1988, p. 96.
47
Não concordamos, porém, que tal decisão tenha sido para se resguardar de
uma secessão municipal. Ora, nem da secessão estadual, quando da elevação
das províncias a Estados-membros. A Federação brasileira, como argumentamos,
observa outro percurso histórico, nem bem os Municípios, assim como os Estados
tiveram soberania antes de terem autonomia. A formação da nossa forma
federativa encontrou fundamento da unidade para o múltiplo, ou seja, o movimento
sempre foi o de transferir poderes do centro para a periferia e por isso a secessão
não é um fantasma que ronda a nossa Federação, como rondou a Americana, por
exemplo. Não podemos desconsiderar essa peculiaridade, em favor de um
conceito rígido de federação que, como sabemos, é uma construção político-
social, de ordem institucional, que se adequou às particularidades do Brasil.
A Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha, por meio da ADI 3.549-5, que
questionava a possibilidade de o Estado de Goiás estabelecer regras para a
vocação sucessória dos cargos de prefeito e vice-prefeito em caso de dupla
vacância, em virtude da omissão de regra local, sustenta que:
Assim, concluímos que o Município, com a autonomia que lhe foi reservada,
participa de maneira efetiva não só para a consecução dos seus objetivos, mas
para a vontade da federação, integrando de modo essencial essa forma de Estado
adotada no Brasil após 1988.
66
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 427.463–9. Relator (a): Min. Carmem Lúcia Antunes
Rocha. Publicação: 31/10/2007.
49
67
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileiro, p. 58.
68
A repartição desses tributos está definida nos artigos 157, 154, 158 e 159 da Constituição
Federal de 1988.
50
Nesse sentido, Carmem Lúcia Antunes Rocha acredita que a nossa cultura
é mais municipalista do que estadualista e ressalva que:
70
Pinto Ferreira, Comentários à Constituição Brasileira, p. 249.
53
71
André Franco Montoro. A Indispensável reforma Política, passim.
72
Manuel Correria Andrade e Sandra Correia Andrade, A Federação Brasileira: Uma análise
geopolítica e geosocial, p. 12-20.
55
IDH baixo como o verificado no Congo, que atualmente enfrenta uma guerra
civil.73
E continua o autor:
73
De acordo com a Fundação SEADE, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, é uma medida
comparativa usada pela Organização das Nações Unidas – ONU, para classificar os países pelo
seu grau de "desenvolvimento humano" e para separar os países desenvolvidos (muito
alto desenvolvimento humano), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto)
e subdesenvolvidos (desenvolvimento humano baixo). A estatística é composta a partir de dados
de expectativa de vida ao nascer, educação e PIB (PPC) per capita (como um indicador do padrão
de vida). Fundação SEADE, sem página. Site da Fundação SEADE.
74
Celso Ribeiro Bastos, A Federação no Brasil, p. 37-38.
56
75
Pierre Joseph Proudhon, “El principio federativo”, p.64.
76
Sobre a municipalização e execução de políticas públicas pelos entes locais, Fernanda Henrique
Cupertino Alcântara defende que “o movimento de municipalização, tanto das responsabilidades
administrativas quanto da própria capacidade de geração de receita própria para atender às
demandas locais de fato, é hoje uma realidade incontestável. A descentralização tem sofrido
alternância pendular com a centralização no decorrer da história política brasileira e sempre foram
muitas as discussões acerca dos problemas e benefícios que ela proporciona. De um modo geral,
este artigo tentou demonstrar que frente às alternâncias no poder de perspectivas prós e contras à
descentralização, a municipalização do comando, dos projetos, das decisões e dos recursos é hoje
uma materialização desse longo processo. Os dados elencados demonstram meu argumento
acerca das implicações do processo de descentralização para as políticas públicas, principalmente
as de geração de renda. Discutir um tipo de política pública específica requer, não apenas o
conhecimento a respeito da estrutura e impactos de cada programa, como também o contexto no
qual esse foi inserido. Dessa forma, justifica-se a análise do desenvolvimento da administração e
57
implementação de programas deste tipo, tendo por referência as mudanças ocorridas, no que diz
respeito ao próprio conceito de município como unidade da federação, com suas
responsabilidades, atribuições e características”. Fernanda Henrique Cupertino Alcântara,
Municipalização e políticas públicas: a regulamentação como projeto e prática social como
resposta, p. 258-259.
77
Apesar da evolução do sistema educacional com a implantação do processo de municipalização,
Jean Mário Araújo Costa e Maria Couto Cunha, explicam após estudo de casos concretos que a
política de descentralização do ensino em Municípios pesquisados da Bahia, desenvolveu-se de
forma totalmente despojada da relação com o princípio cooperativo federativo, tornando-se uma
questão predominantemente política, econômica e financeira, que teve como consequência a
subordinação do órgão local frente aos demais entes. Jean Mario Araújo Costa e Maria Couto
Cunha, A Municipalização do ensino e o regime de colaboração: um estudo em dois municípios do
território do sisal do semiárido baiano. Jean Mário Araújo e Maria Couto Cunha, p. 20.
58
Uma parte relevante dos Municípios não gera receita própria e acabam por
se valer da receita do Fundo de Participação dos Municípios – FPM para arcar
com os gastos da sua estrutura política e administrativa, gerando uma
descompensação na receita de todos os Municípios.
78
José Murad Filho, Sobre a criação de novos municípios, sem página.
59
Vale ressaltar um dado interessante trazido pelo estudo: entre 1988 e 1996,
período que possibilitava a criação de novos Municípios com base em critérios
definidos por lei complementar de âmbito estadual, houve um boom de novos
Municípios. Na comparação com o ano de 1984, data anterior à promulgação da
Constituição Federal, o número de Municípios existentes no Brasil passou de
4.090 para 5.507 no ano 2000.
79
José Murad Filho, Sobre a criação de novos municípios, sem página.
80
Mônica de Melo. Plebiscito, Referendo e Iniciativa Popular: mecanismos constitucionais de
participação popular, p.162-163.
61
81
Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, p. 52-101.
82
Raul Machado Horta, A autonomia do Estado-Membro no Direito Constitucional Brasileiro. Belo
Horizonte, 1964, p. 49.
63
83
José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo, p. 479.
84
Ibid., p. 478.
64
85
Dalmo de Abreu Dallari, O estado federal, p.18-19.
86
José Roberto Anselmo, O papel do Supremo Tribunal Federal na concretização do Federalismo
Brasileiro, f. 168.
65
87
Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de 1988, p.113.
66
88
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal, p. 56.
67
89
Fernanda Dias Menezes de Almeida afirma que “pela análise sistemática dos parágrafos 24,
deve-se entender que os Estados continuam sendo titulares – e agora o distrito federal também o é
– de competência complementar e de competência supletiva. Na hipótese do parágrafo 2, Estados
e Distrito Federal exercerão competência complementar, i.e., poderão pormenorizar as normas
gerais, estabelecer as condições para sua aplicação. Na hipótese do parágrafo 3 e de competência
supletiva que se trata: na ausência de normas gerais da União, Estados e Distrito Federal suprirão
a falta, legislando para atender a suas peculiaridades”. Fernanda Dias Menezes de Almeida,
Competências na Constituição de 1988, p. 134-135.
90
Manuel Gonçalves Ferreira Filho explica que a competência concorrente cumulativa existe
sempre que não há limites prévios para o exercício da competência, por parte de um ente. A não
cumulativa é que propriamente estabelece a chamada repartição “vertical”. Manuel Gonçalves
Ferreira Filho, Comentários à Constituição Brasileira de 1988, p. 189.
68
O artigo 23, que trata das competências comuns, inclui os Estados no rol
dos entes federados que devem contribuir para a realização daquelas matérias e,
portanto, os Estados-membros são gozam também de competências comuns.
91
Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de 1988, p. 128 a 133.
70
exercício de sua competência supletiva (art. 24, § 3º), sendo que a edição
posterior pela União de normas gerais suspenderão a eficácia, onde houver
conflito com os preceitos gerais estaduais (art. 24, § 4º).
92
Fernanda Dias Menezes, Competências na Constituição de 1988, p.97.
72
93
José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional positivo, p. 478.
73
“Há dentro das correntes que combatem o Estado social, alguns autores
que consideram que a repartição de competências prevista na
Constituição de 1988, especialmente a dos artigos 23 e 24 “irracional”.
Para eles, a repartição deveria ser clara, com a eliminação das
competências concorrentes por alargarem a margem de irracionalidade.
Curiosamente, nos Estados Unidos, eterno exemplo utilizado pelos
críticos das competências comuns e concorrentes como modelo de
“racionalidade”, a possível ambigüidade da separação constitucional de
competências não é vista pelos americanos como um mal ou equivoco a
ser superado, tanto que eventuais reformas propostas nunca foram
94
superadas.”
94
Gilberto Bercovici, Dilemas do Estado Federal Brasileira, p. 61-68.
74
desejo estadual e federal de se manterem no poder, por meio dos votos dos
munícipes.
matéria, guardando atenção também para não contrariá-los. A regra do artigo 24,
assim como a determinação do artigo 30, II, da Constituição Federal, não relegam
a suplementação ao último lugar, e, portanto, “no que couber”, não está
relacionado “ao que sobrar”, mas sim, àquilo que compete ao ente local dispor em
matéria de competência legislativa concorrente, considerando a sua proximidade
do cidadão e as suas peculiaridades locais.
Portanto, não nos parece haver um problema crônico com o critério utilizado
pela repartição de competências, mas sim um desvirtuamento dessa sistemática
na prática.
95
Luiz Felipe D’ Ávila defende que “a reforma do Estado tem de começar pela área econômica.
Nenhum governador ou prefeito pode exercer suas obrigações constitucionais se ele não for
financeiramente independente da União. Através da legislação tributária, dos monopólios e das
estatais, o governo federal seqüestrou parte da autonomia econômica dos estados e municípios”.
Luiz Felipe D’ Ávila. A Federação Brasileira. In Por uma nova federação, coord. Celso Bastos, p.64.
76
96
Paulo Bonavides, Ciência e Política, p. 145.
97
Dalmo de Abreu Dallari sobre a questão alerta que, “um dado curioso e muito expressivo é que a
implantação do novo federalismo ocorreu sem mudança formal na Constituição, isso demonstra
não só a flexibilidade dos mecanismos constitucionais norte-americanos, mas revela também o
papel dinâmico e positivo da Suprema Corte, que através da reinterpretação dos dispositivos
constitucionais tem permitido a constante atualização das regras básicas de convivência, sem
necessidade do recurso a meios extralegais”. Dalmo de Abreu Dallari, O estado federal, p.47.
77
98
Fernanda Dias Menezes de Almeida. Competências na Constituição de 1988, op. cit., p. 97-99.
78
99
Outras decisões acerca do interesse local têm sido proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,
como o RE 610.221RG - Santa Catarina, relatado pela Min. Ellen Gracie, em 29/04/2010, que
estabeleceu em sede de Repercussão geral o interesse local para a definição do tempo máximo de
espera de clientes em filas de instituições bancárias e o ARE 640528 Agr. São Paulo – SP relatado
pelo Min. Luiz Fux, em 06/12/2011, que estabeleceu o interesse local em casos de serviços
públicos como o de transporte, segundo a ementa: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE IRREGULAR DE
PASSAGEIROS. LEI MUNICIPAL Nº 7.939/97. MATÉRIA REGULADA POR LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. SÚMULA 280 DO STF. 1. A controvérsia decidida à luz de
interpretação de lei local, revela incabível a insurgência recursal extraordinária para rediscussão da
matéria. (Súmula 280/STF: “Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário”.) 2.
Precedentes: AI 822.757-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, 08.04.2011, e AI
822.349/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 8.11.2010. 3. In casu, o acórdão recorrido
assentou: “TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS – LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE O
TRANSPORTE ALTERNATIVO POR VEÍCULOS DE PEQUENA CAPACIDADE – Alegação de
ilegalidade da proibição – Ausência de ofensa aos dispositivos constitucionais e legais invocados –
O Município tem competência constitucional para regular os serviços públicos de interesse
local. Preliminar de ilegitimidade passiva afastada” (grifos nossos).
100
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 427.463–9.
Relator (a): Min. Eros Grau. Julgamento: 14/03/2006.
79
101
José Roberto Anselmo, O papel do Supremo Tribunal Federal na concretização do Federalismo
brasileiro, f. 145.
80
102
Fernanda Dias Menezes de Almeida. Competências na Constituição de 1988, p. 113.
81
103
Luciana Temer Castelo Branco, Parecer CEPAM, n. 26.250 de 2006, Competência para queima
de palha de cana-de-açúcar.
83
104
Fernanda Dias Menezes de Almeida. Competências na Constituição de 1988, p. 139.
105
Concordamos com a autora que em algumas das matérias elencadas no artigo 24 da
Constituição Federal, não cabe ao município legislar suplementarmente, como é o caso, por
exemplo, do disposto no inciso X, que trata da criação, funcionamento e processo do juizado de
pequenas causas, isso porque o Município não tem Poder Judiciário, e desse modo organizar
serviços sobre essa matéria não estaria na sua esfera de competências, mas isso não está,
necessariamente, vinculado ao interesse local.
106
O exemplo utilizado pela autora é sobre a produção de leis municipais e estaduais que em prol
da saúde da população proibiram no início da década de 90 a venda de álcool combustível
adicionado de metanol, em razão dessa mistura ser prejudicial à saúde e ao meio ambiente.
Todavia, a autora alega que a União tem competência exclusiva para legislar sobre petróleo e por
isso, a despeito da preocupação dos Estados e Municípios, a lei federal deverá vigorar em
detrimento das outras. Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de
1988, p. 141-142.
107
Ibid, p. 126.
84
108
Gilmar Ferreira Mendes, Seminário sobre o Pacto Federativo Brasileiro, Fundação Prefeito Faria
Lima - CEPAM, 2011, sem página.
109
José Alfredo de Oliveira Baracho, O princípio da subsidiariedade: conceito e evolução, p. 51.
110
Miguel Carlos Madeiro, O princípio da Subsidiariedade e o Federalismo Brasileiro, f.152.
85
Em resumo, seria a regra de ouro sugerida por Celso Ribeiro Bastos: “nada
será exercido por um poder de nível superior, desde que possa ser cumprido pelo
inferior.” 111
Todavia, a decisão do ente local teria que respeitar os limites da sua própria
autonomia. No Brasil, identificamos esses limites na repartição de competências
111
Celso Ribeiro Bastos, A Federação brasileira, p. 2.
112
José Alfredo de Oliveira Baracho aponta que “a doutrina francesa destaca que é na organização
federal que o princípio encontra, sob o plano político, sua mais significativa expressão, sendo o
ponto crucial a repartição de competências”. José Alfredo de Oliveira Baracho, O princípio da
subsidiariedade conceito e evolução, p. 97.
86
113
José Francisco Cunha Ferraz, O princípio da subsidiariedade no Estado Federal Brasileiro de
1988, f. 120-122.
87
O que a Constituição não admite são leis federais, neste âmbito, que
esgotem a matéria, remanescendo aos Estados e Municípios preencher possíveis
espaços vazios deixados por essas leis. Esse tipo de norma não só pode como
deve ser extirpada do ordenamento jurídico por meio do controle de
constitucionalidade. Esse é o caso da Lei nº 8.666, de 1993 que, ao estabelecer
as normas gerais sobre licitações e contratos administrativos, praticamente
exauriu a matéria, não deixando espaço de atuação legislativa para os Estados e
muito menos para os Municípios.
114
Raul Machado Horta acredita que “no caso específico do federalismo brasileiro, dada a
preexistência da competência supletiva ou complementar, prevista nas Constituições Federais de
1934, 1946 e 1967, e da competência da legislação concorrente ou mista, adotada na Constituição
Federal de 1988, com explicitação enumerada de suas matérias, localizadas, as formas pretéritas
da competência supletiva ou complementar, e a forma contemporânea da legislação concorrente
ou mista, na área da repartição de competências da Federação, por equivalência da legislação
supletiva ou complementar, anteriormente, e da legislação concorrente, atualmente, com os
objetivos e finalidades do princípio da subsidiariedade, concluo pela desnecessidade, em tese, da
atividade do poder constituinte de revisão para introduzir no texto constitucional brasileiro o
princípio constitucional da subsidiariedade, considerando a equivalência entre o princípio e a
legislação concorrente, dotada de natureza subsidiária, complementar ou supletiva. O princípio da
subsidiariedade projetou-se na autonomia da subsidiariedade constitucional.
A Constituição Federal Brasileira, que dispensa emenda ou revisão para integrar no seu texto o
princípio equivalente da subsidiariedade por considerar suficiente a legislação concorrente ou
88
também é possível uma reforma para que se restabeleça, sem dúvidas, o princípio
da subsidiariedade na nossa organização federativa.
116
José Roberto Anselmo avalia o papel do Supremo Tribunal Federal na concretização do
federalismo brasileiro e destaca que “depois de promulgada a Constituição de 1988 ainda não
existia uma definição dos parâmetros que seriam adotados com relação à forma federativa, o que
reforça a tese da força interpretativa do Judiciário para conduzir a uma versão mais ou menos
centralizadora do Federalismo”. Para identificar a posição do Supremo Tribunal Federal após a
promulgação da Constituição, o autor analisou algumas decisões de casos concretos proferidas
pela Suprema Corte (ADI 280-5/MT Mato Grosso. Relator Min. Francisco Rezek, 1994. ADI
750/92/RJ, Rio de Janeiro. Relator Min. Octavio Galloti, 1992. ADI 2623, MC/ES, Espírito Santo.
Relator Min. Mauricio Correia, 2002. ADI 2752 MC/DF, Distrito Federal. Relator Min. Joaquim
Barbosa) e para os defensores da descentralização as suas conclusões não são as mais otimistas,
o autor demonstrou que a “o Supremo Tribunal Federal sob a justificativa da adoção do
Federalismo cooperativo, praticamente transformou a Federação Brasileira em um Estado
Unitário”. Além dessa justificativa, o autor identifica uma série de fatores que podem contribuir na
sua visão para a ocorrência desse fenômeno: “a) unidade do ordenamento jurídico nacional; b) a
técnica de divisão de competências sem o deferimento de um rol específico de competências
exclusivas para os Estados; c) o preenchimento do conteúdo dos assuntos que foram
expressamente atribuídos à União. Nesses casos observa-se que o STF sempre difere
competência à União, deixando de lado a competência legislativa do Estado, ou seja, a
interpretação adotada sempre atrai a matéria sub judice para uma das hipóteses descritas como
competência da União”. José Roberto Anselmo, O papel do Supremo Tribunal Federal na
concretização do Federalismo brasileiro, f. 161-171.
117
Como defendido por Ana Paula de Barcellos, o Judiciário ganha legitimidade pelos seguintes
motivos: a) o Judiciário, tendo em vista que foi criado pela própria Constituição, compõe o poder
político nacional da mesma forma que o Legislativo e o Executivo; b) os órgãos de cúpula do
Judiciário têm alto grau de representatividade, na medida em que são formados pela vontade do
Executivo e do Legislativo; c) os magistrados estão aptos a agir com independência, pois, para
tanto, gozam de prerrogativas asseguradas constitucionalmente; d) as atividades jurisdicionais,
além de públicas e motivadas, encontram fundamento e limites nas normas jurídicas; e) as
decisões judiciais, no mais das vezes, são passíveis de revisão por outros órgãos do Judiciário; f) o
processo jurisdicional, uma vez que garante às partes amplo contraditório, é mais participativo do
que qualquer outro processo público; g) os grupos minoritários “sempre terão acesso ao Judiciário
para a preservação de seus direitos”. Ana Paula de Barcellos, A eficácia jurídica dos princípios
constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana, p. 231-232.
90
Medida Cautelar na ADI 2.396/MS, que suspendeu lei estadual que proibia,
mediante certas restrições, a produção e comercialização do amianto:
118
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Medida Cautelar na ADI 2.396/MS. Relator (a): Min. Ellen
Gracie, 2001, p. 1-2.
91
119
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.937-7. Relator: Min.
Marco Aurélio de Mello, DJE n. 192, Publicação em 10/10/2008.
92
Americana e Cedral produziram, por meio de suas casas legislativas, leis que
proíbem, imediata ou progressivamente, a queimada da referida palha. Todavia,
os Municípios se viram diante de um problema: lei estadual121 já trata dessa
questão e dispõe sobre a eliminação progressiva, até 2031, da queima da cana-
de-açúcar no Estado de São Paulo.
121
Lei Estadual n° 11.241/02 (regulamentada pelo Decreto 47.700, de 11 de março de 2003).
96
124
Mariana Moreira. CEPAM. Parecer n. 25.880, de 13 de novembro de 2006. Competência para
queima de palha de cana-de-açúcar, p.1-2.
125
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei municipal de
Paulínia que proíbe a queima de palha de cana-de-açúcar e o uso do fogo em atividades agrícolas.
Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 126.780.0/8-00. Relator: Des. José Renato Nalini. São
Paulo, p.6.
100
126
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei municipal de
Paulínia que proíbe a queima de palha de cana-de-açúcar e o uso do fogo em atividades agrícolas.
Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 126.780.0/8-00. Relator: Des. José Renato Nalini. São
Paulo. Voto do Desembargador Marcus Andrade, p. 19.
101
Sob essa ótica é possível entender que a lei municipal obedeceu aos
exatos limites da legislação estadual, sem extrapolá-los, fixando, porém, prazo
que entendeu adequado ao interesse local, em atenção à qualidade de vida e ao
bem-estar dos seus munícipes. Respeitado o limite máximo estabelecido pela lei
paulista, os Municípios teriam autonomia para firmar os seus respectivos prazos,
que poderiam, dessa forma, variar de acordo com as necessidades locais
apresentadas.
No caso em tela, resta claro que a lei municipal é mais protetiva ao meio
ambiente do que a lei estadual. A decisão do TJ/SP que reconheceu a
constitucionalidade da lei do Município de Paulínia, foi atacada pelo Sindicato da
Indústria da Fabricação do Álcool do Estado de São Paulo – SIFAESP e Sindicato
da Indústria do Açúcar no Estado de São Paulo – SIAESP, por meio da Ação
Cautelar n° 2017, com pedido de liminar visando atribuir efeito ao RE 586.224,
julgada monocraticamente pelo Ministro Eros Grau, que suspendeu a decisão do
Tribunal paulista até o julgamento definitivo da questão, reconhecendo-a como de
repercussão geral.
127
Lesley Gasparini Leite e Ana Thereza Machado Junqueira, Política Municipal de Meio Ambiente,
p. 29.
103
arts. 24, VI e 30, I, da Constituição Federal, visto que a edição da citada lei
municipal não teria observado a competência legislativa estadual sobre meio
ambiente. A Ministra Ellen Gracie, por meio da Ação Cautelar n° 2316, concedeu
liminar e suspendeu mais essa decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo,
alegando o que segue:
128
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar em Ação Cautelar. Ação Cautelar n° 2316.
Relator (a): Min. Ellen Gracie. Julgamento: 31/03/2009. DJE – 065.
129
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cautelar com pedido de liminar. Ação Cautelar n°
2071. Relator: Min. Eros Grau. Julgamento: 10/11/2008. DJE-217.
130
O Ministério Público de São Paulo ajuizou Ação Civil Pública com o objetivo de impedir a
queima da palha de cana-de-açúcar na região de Jaú. Na ação, sustentou que a prática acarreta
danos ao meio ambiente. Em primeira instância, o pedido foi negado. O Tribunal de Justiça de São
Paulo manteve a sentença por entender que a queima da folhagem seca da cana-de-açúcar não é
proibida pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981) fixou diretrizes gerais de
proteção ao meio ambiente. Todavia, o Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ). Por meio do REsp 1.285.463, no dia 28/02/2012, a Segunda Turma do STJ julgou
procedente o recurso do Ministério Público de São Paulo e decidiu pela proibição da queima da
cana-de-açúcar no município de Jaú. A decisão do Relator Min. Humberto Martins se baseou no
princípio da precaução, consagrado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
que estabeleceu em casos de dúvida, a preferência pela defesa do meio ambiente.
104
o assunto de acordo com o Art. 24, VI, e não deixou espaço para que o Município
a suplementasse, vez que tratou de forma conclusiva sobre o assunto.
A essa linha nos perfilhamos e assim foi que em 2006 o Parecer CEPAM
nº 26.250, da Coordenadora da área Jurídica, Dra. Luciana Temer Castelo
Branco131, mormente baseada na decisão n° 129.132.0/3, do Tribunal de Justiça
de São Paulo, opinou pela constitucionalidade do projeto de lei de Piracicaba,
alegando o bem da vida como valor maior a ser protegido nesse caso.
131
Luciana Temer Castelo Branco, Parecer CEPAM n. 26.250, Competência para queima de palha
de cana-de-açúcar. Disponível em: www.cepam.sp.gov.br.
132
Cumpre informar que no período que fui parecerista do Centro de Estudos e Pesquisas –
CEPAM, mais especificamente no ano de 2008, por meio Parecer CEPAM nº 27.476, emiti uma
opinião contrária a essa aqui proferida, isto porque ainda não existia a época, objetivamente,
argumentos que viabilizassem a proibição da distribuição das sacolas plásticas.
106
133
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança. Mandado de Segurança nº
22.164/SP. Relator: Min. Celso de Mello. 1995, p. 23.
107
“(...) concedi a liminar. Isso, por não ser razoável uma abrupta mudança
do tipo de embalagem, sem assegurar certeza de fornecimento do novo
tipo para todo o comércio, sem que isso provocasse prejuízo à
população. Na verdade o prazo deveria ser mais longo. A liminar visou
assegurar o imediato interesse e ordem pública.
A lei em exame, embora singela, pode se concluir, objetiva a proteção do
meio ambiente. Com essa preocupação foi elaborada.
Pois bem, a Constituição Federal estabeleceu em seu art. 24, VI a
competência para legislar sobre a matéria, apenas à União, aos Estados
e ao Distrito Federal.
Por essa razão a Carta Estadual estabeleceu que é de competência do
Estado, concorrente com a união legislar sobre proteção ao meio
ambiente e controle da poluição (art. 74, IV) e sobre consumo (inciso V).
Em decorrência desses comandos, falece competência ao Município de
legislar a respeito de proteção ao meio ambiente.
(...) (o município) afirma não ter havido violação do art. 74, V da
Constituição Federal, que delega à União e aos Estados a competência
para legislar sobre produção e consumo (...) busca, então, travar um
debate sobre a ótica do interesse local, que dá ensejo a enormes
dissídios. Entretanto, alguns limites à interpretação do termo são
facilmente impostos. O interesse local é aquele que diz respeito às
necessidades imediatas do município. Algo essencial para a vida daquela
comuna.
O disciplinado pela norma em observação não se incluiu entre aquela
fundamentação para o município. Pode ser, e com isso se está de
acordo, de interesse geral. Na verdade, como está ressaltado no parecer
108
134
RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei municipal de
Paulínia que proíbe o uso de sacolas plásticas não-biodegradáveis nos supermercados e nos
estabelecimentos comerciais. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2004.007.00083. Rio de
Janeiro. p. 11-12.
109
135
SÃO PAULO. Câmara dos Vereadores. Justificativa para o Projeto de Lei n. 469/2007, que
proíbe o uso de sacolas plásticas em supermercados e estabelecimentos comerciais. Site
www.camara.sp.gov.br.
111
136
SÃO PAULO. Procuradoria da República. Ministério Público Federal de Marília. Inquérito civil
público nº 1.34.007.000022/2009-12. Marília – SP. 3 de fev. de 2009.
112
137
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei
municipal de Novo Hamburgo que proíbe o ingresso ou permanência de pessoas utilizando
capacete ou qualquer tipo de cobertura que oculte a face, nos estabelecimentos comerciais,
públicos ou abertos ao público. Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 70025237033. Relator:
Des.Francisco José Moesch. Rio Grande do Sul, 2008, p.4.
116
Com base no artigo 24, inc. XIV da Constituição Federal, podemos afirmar
que incide, no caso, a competência concorrente para legislar sobre proteção e
integração social das pessoas com deficiência entre União, Estados e Distrito
Federal. Assim, o Município legisla para suplementar a legislação federal ou
estadual, no que couber (CF, art. 30, II).
118
CONCLUSÃO
É o nosso frágil pacto federativo na prática que não dá lugar para bem-
sucedidas atuações descentralizadas do poder.
políticas de caráter nacional. Antes a premissa que dava o tom para a repartição
de competências entre União e Estados era a da não colaboração.
141
Como por exemplo, citamos a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 2.656 que julgou
os Estados incompetentes para decidirem sobre a proibição do amianto em seu território, visto que
se tratava de matéria constante do rol de competências exclusivas da União.
125
142
Alguns países que adotam o Estado Federal como forma de organização espacial do território e
tem nas suas Federações peculiaridades que variam de acordo com questões territoriais, sociais,
culturais e históricas: Suíça, Canadá, Alemanha, Áustria, Estados Unidos da América, Argentina,
dentre outros.
127
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p.200.
129
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cautelar com pedido de liminar que
julga de repercussão geral a atuacao municipal que proíbe a queima da palha da
cana-de-açúcar em municípios agrícolas. Ação Cautelar n° 2071. Relator: Min.
Eros Grau. Julgamento: 10/11/2008. DJE-217. Site do Supremo Tribunal Federal.
131
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