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APOSTILA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

Professor: José Geraldo Sobrinho 2º ANO

Romantismo no Brasil: A publicação de Suspiros poéticos e saudades, de


Gonçalves de Magalhães, em 1836, foi considerada o marco
primeira geração inicial do Romantismo brasileiro.

A construção de uma identidade literária para o país


recém-independente foi o esforço que orientou os
escritores e poetas da primeira geração romântica.
Símbolos nacionais como o índio e a natureza exuberante
foram cantados em verso e prosa para mostrar o Brasil a
brasileiros e estrangeiros.

Romantismo no Brasil: o discurso da


nacionalidade
Araújo Porto Alegre
A chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808
marcou o início de um período de transformações na cidade do
Rio de Janeiro, então capital da colônia, e na vida cultural do
país.
Na primeira metade do século XIX, o Brasil recebeu
A poesia indianista da primeira geração
várias missões estrangeiras integradas por cientistas e romântica
artistas, dos quais se destacaram Auguste de Saint-Hilaire,
professor do Museu de História Natural de Paris, e Carl O clima de nacionalismo propiciado pela
Friedrich von Martius, naturalista austríaco. Independência do Brasil inspirou os poetas da primeira
As missões estrangeiras foram importantes para a geração romântica a buscar o registro e a divulgação de uma
formação de uma identidade nacional porque proporcionaram identidade nacional. O espírito que animou essa geração de
aos escritores registros da natureza e dos costumes escritores a criar uma literatura brasileira foi resumido por
brasileiros. Além disso, trouxeram para o ambiente cultural do Gonçalves de Magalhães da seguinte forma: “Cada povo tem
país ideias liberais e nacionalistas que circulavam na Europa e sua literatura própria, como cada homem seu caráter particular,
que influenciaram nossos intelectuais. cada árvore seu fruto específico”.
Com a Proclamação da Independência política Os poetas da primeira geração romântica elegeram o
brasileira, em 1822, era preciso conquistar a independência índio como símbolo nacional para divulgar valores e
cultural do país em relação às culturas europeias. princípios que pretendiam apresentar aos leitores, assim como,
Para consolidar a ideia de uma nação brasileira, os na Europa, a figura do cavaleiro medieval foi usada com o
intelectuais desse período procuraram criar referências mesmo fim pelos escritores daquele continente.
concretas, escolhendo o índio e a natureza exuberante como
Símbolos para marcar a identidade nacional. O professor Antônio Candido ressalta que, durante
Os escritores da primeira geração romântica assumiram o Romantismo, a figura do índio
a missão de apresentar, para brasileiros e estrangeiros, a face
do novo país independente. se tornou imagem ideal e permitiu a identificação do brasileiro
Em 1836 surgiu a revista Nitheroy, publicada por com o sonho de originalidade e de passado honroso, além de
contribuir para reforçar o sentimento de unidade nacional,
jovens escritores brasileiros que viviam na França. Na epígrafe
sendo, como era, algo acima da particularidade de cada região
da revista, lia-se: “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil”. O desejo [...]. O indianismo proporcionou deste modo um antepassado
de construir uma consciência do Brasil como nação mítico, que lisonjeava por causa das virtudes convencionais
independente e de valorizar a cultura local guiaram os que lhe eram arbitrariamente atribuídas, inclusive pela
autores dessa publicação, entre eles Gonçalves de Magalhães assimilação ao cavaleiro medieval, tão em voga na literatura
e Araújo Porto Alegre. romântica.

CANDIDO, Antonio. O Romantismo no Brasil.


São Paulo: Humanitas, 2002. p. 89. (Fragmento).
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Revista Nitheroy Gonçalves de Araújo Porto


Magalhães Alegre
APOSTILA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA
Professor: José Geraldo Sobrinho 2º ANO

Observe a pintura e leia o texto a seguir.


Gonçalves Dias
Estudou direito na
Universidade de
Coimbra, em Portugal,
onde leu os textos
românticos de Almeida
Garrett e de Alexandre
Herculano. Essas
influências literárias
foram importantes
para o seu
desenvolvimento como
MEIRELLES, Victor. Moema. 1866. Óleo sobre tela, 129 × 190 cm. Museu de Arte de poeta romântico.
São Paulo Assis Chateaubriand – Masp, São Paulo, SP. Na obra de
Gonçalves Dias
Nessa obra de Victor Meirelles vemos a índia Moema, aparecem os grandes
personagem da conhecida história das aventuras de Diogo temas românticos:
Álvares, o Caramuru, entre os índios brasileiros. Segundo a natureza, pátria e religião.
narrativa, Moema morre ao tentar seguir a nado a Suas principais obras são: Primeiros cantos (1846),
embarcação em que Diogo Álvares retornava a Portugal. Segundos cantos (1848), As sextilhas do frei Antão (1848) e
Na pintura, observamos a figura da índia em destaque e, ao Últimos cantos (1851). Escreveu também algumas peças de
fundo, a floresta. Assim, dois elementos centrais da teatro, sendo Leonor de Mendonça (1847) a mais conhecida.
construção da identidade nacional empreendida pelos Os versos indianistas são a parte mais importante da
primeiros românticos brasileiros aparecem aqui: a figura do obra de Gonçalves Dias. Neles é construída uma imagem
nativo e a natureza da terra. Um crítico da época chamou a heroica e nobre do índio brasileiro. Destacam-se os poemas
atenção para o fato de que essa pintura retrata bem o ideal “Os timbiras”, “Canto do piaga”, “Deprecação” e “I-Juca
de seu tempo ao idealizar a figura da índia morta, que, ao Pirama”. O domínio do ritmo nesses poemas contribuiu para a
contrário do que se espera de um corpo devolvido pelas popularidade da poesia indianista, o que ajudou no empenho
águas, aparece bela e em uma posição que lhe concede dos poetas da primeira geração em divulgar a versão
nobreza e tragicidade. romântica dos símbolos nacionais.
Nos poemas indianistas, as características dos
CATÁLOGO do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
Coordenação geral: Luiz Marques. São Paulo: Ed. Prêmio, 1998. indígenas são sempre positivas e enaltecedoras: bravura,
Disponível em: <http://www.masp.art.br/servicoeducativo/ honra, lealdade.
assessoriaaoprofessor-ago06.php>. Acesso em: 15 out. 2010.

Observe, nos versos a seguir, a caracterização


Além de símbolo nacional, os românticos idealizavam
positiva do índio, própria da poesia indianista da
o índio como homem livre e ainda intocado pelos males da
civilização e da vida em sociedade. A definição de “bom primeira geração romântica.
selvagem”, dada pelo filósofo francês Jean-Jacques
Canção do Tamoio
Rousseau, influenciou fortemente essa idealização do
indígena. Segundo Rousseau, o homem nasce bom e é a I
sociedade que o corrompe. O índio, de acordo com essa visão, Não chores, meu filho;
viveria ainda em estágio anterior à corrupção das sociedades Não chores, que a vida
É luta renhida:
modernas. Viver é lutar.
Formalmente, os versos indianistas são marcados pelo A vida é combate,
controle da métrica e pela escolha das rimas. Um recurso Que os fracos abate,
formal usado nessa poesia para aproximar o leitor dos Que os fortes, os bravos
costumes indígenas é fazer com que o ritmo do poema se Só pode exaltar.
assemelhe ao toque ritual dos tambores, usados nas II
cerimônias desses povos. Um dia vivemos!
Outro recurso de linguagem usado pelos poetas é uma O homem que é forte
delicada caracterização da natureza brasileira, espaço no Não teme da morte;
Só teme fugir;
qual se desenvolvem os acontecimentos narrados nos poemas No arco que entesa
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indianistas. Tem certa uma presa,


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Quer seja tapuia,


Condor ou tapir.
APOSTILA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA
Professor: José Geraldo Sobrinho 2º ANO
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V
E, pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

DIAS, Gonçalves. Poesias completas. v. II.


Rio de Janeiro: Científica, 1965. p. 139-142.

Renhida: disputada; sangrenta.


Tapir: anta.
Porvir: futuro.
Não cures da vida: não te
ocupes (não cuides) da vida.
Fragueiro: impetuoso;
incansável.

FONTE:
Página

ABAURRE, Maria Luiza M.


Literatura : tempos, leitores e leituras, volume
único / Maria Luiza M. Abaurre, Marcela Pontara. – 2ª.
ed. – São Paulo : Moderna, 2010.

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